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Incurável

Celso Rennó Lima

Em seu primeiro encontro com o Outro, consequência da


incidência de um significante, o sujeito tem de lidar com um
incurável, que não se subjetiva, que não permite que desejo e
percepção coincidam. Ponto de opacidade e de silêncio, nos diz
Lacan, que indica o lugar onde poderá se edificar a determinação
significante capaz de escrever o fenômeno sintomático, na
esperança de se “curar” a diferença que se instala na contingência
deste primeiro encontro.

O sintoma é o sinal de que alguma coisa não anda, pois há


uma dessemelhança definida como incurável, que se coloca como
uma pedra no caminho do sujeito e se explicita no fato de que
homens e mulheres estão privados do elemento que poderia
propiciar a escritura da relação sexual.

É o incurável que promove o sintoma como única


possibilidade de fazer laço, ao mesmo tempo em que permite uma
leitura, uma vez que ele participa de uma escritura, função da
letra. O sintoma é uma verdade mentirosa sobre este incurável,
sobre a relação sexual que não existe. É por isso que Lacan pode
dizer que é o sintoma que nós colocamos neste lugar da
impossibilidade da relação sexual, constitui-se, talvez, no único
Outro que existe.
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Há, portanto, um incurável sobre o qual o sintoma se apóia e


vai construir seu envelope formal. Incurável que se instala no
ponto em que a presença do singular, do recusado e recalcado
pelo sujeito vai se manifestar sob a forma de um mal-estar,
presença de um excesso que não foi absorvido no processo de
identificação, como disse Freud. É este processo de busca de uma
identidade entre o que se deseja e o que se encontra que foi
definido como pulsão. Em outras palavras a pulsão é o que se
apresenta com seu caráter incurável, rebelde e refratário ao laço
social, convocando o sintoma como uma forma de inscrever, de
fazer coincidir o que insiste como marcas da singularidade do
sujeito e de suas fixações.

O sintoma, assim como a cena da fantasia, nada mais é do


que envelope da pulsão, modalidades de seu exercício, formas que
o sujeito busca para apreender um objeto, no campo do Outro,
que lhe sirva de parceiro.

Este objeto “pequeno a”, se define a partir dos orifícios do


corpo e marcam o ponto por onde o sentido não se deixa
apreender nas malhas do discurso. É o pequeno “a” que apresenta
o incurável em torno do qual a pulsão faz seu circuito desenhando
uma escritura que situa a repetição do sintoma.
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Lacan nos diz que “O Outro é uma matriz com duas


entradas”1. O objeto pequeno “a” constitui uma destas entradas. E
a outra é o Um do significante. Desfazer a presença deste Outro é
fundamental para que o sujeito possa se livrar das diretrizes que
determinam a fixação do circuito pulsional e o faz mola da
repetição sintomática.

O sintoma, por comportar um efeito de sentido, sofre a ação


da interpretação. O seu valor de gozo é antinômico ao sentido, só
se deixando apreender pelo equívoco, dai se deduz a função da
letra. A redução do sintoma à letra é uma forma de renovar o
estatuto do simbólico, resumindo a pulsão à função de furo.

Por isso, a interpretação do analista pode apontar o incurável


e esclarecer o circuito que delimita o objeto velado pela
interpretação que o inconsciente fez do encontro traumático com
o Outro sexo.

Este objeto, desde o congelamento do sentido na fantasia,


passa a ser uma constante, nos dizendo de um ponto de incurável
denunciado na atividade pulsional. Ora, a pulsão é sua força real
ao mesmo tempo em que denuncia o limite do sintoma à ação do
simbólico. O resto que escapa, foge, retorna sob a forma de mal-
estar e relança o vetor pulsional sempre na direção determinada
pelo imperativo do supereu. Desfazer este circuito, devolvendo ao

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Lacan, J. “RSI”, Lição de 21/01/1975. Inédito
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objeto sua característica de ser qualquer um, mobilizando o seu


valor de gozo é um dos objetivos de uma análise.

Neste seu objetivo, a estratégia da qual se utiliza a


psicanálise consiste em oferecer, a quem a busca como solução, a
possibilidade de que esta cena se repita na transferência ao
instalar, no ponto de não saber, um sujeito suposto saber da
significação de seu sofrimento. Esta estratégia se utiliza do fato de
que o inconsciente ex-siste e sua e-xistência ex-sistência se
sustenta, exatamente no fato da inexistência da relação sexual e
que a sexualidade só se representa no inconsciente pela pulsão.

Utilizando-se do objeto pequeno ‘a’ enquanto agalma pode-


se ter entrada ao Outro, fazendo possível a construção desta cena
fundamental, a partir mesmo da determinação de uma constante
através da qual o sujeito se relacione ao real do gozo. Balizada
por esta construção, uma interpretação pode operar separando S1
do S2 e criar um intervalo deixando transparecer a dessemelhança
entre o que se chamou de “A Coisa” e o seu “atributo”. Este é o
momento em que acontece a produção de um significante que
pode indexar a falta, um nome que estabelece novos rumos e
fazendo intervir a letra como borda do real.

O amor, resposta ao real da não relação sexual, sustenta o


trabalho da transferência nesta relação ao Outro do saber, e se
esvazia pela ação da interpretação que desfaz o mistério da
diferença sexual. Este é o momento em que se abre, para cada
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sujeito, uma nova relação ao saber a partir do consentimento com


seu modo próprio de gozo.

Esta passagem estabelece uma nova aliança com a pulsão.


Nova aliança que só pode acontecer pela revitalização da marca
do Nome próprio propiciando um “saber aí fazer com o sintoma”,
uma das fórmulas possíveis da liberdade.

Assim o incurável, o resto que persiste passa, após o


trabalho que leva ao consentimento com o inconsciente, do mais-
de-gozar ao estatuto de causa. Desta forma o desencontro entre
“esses dois investimentos”, como nos diz Freud, podem se
colocar numa posição de trabalho para que a “coincidência entre
ambas” produza uma nova aliança pulsional. Ou seja, uma aliança
onde o resto não se apaga nem se cura, mas persiste como
vivificação do objeto-resto não mortificado pela palavra.

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