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LEMBRANÇAS, ESPERANÇA E SUICIDIO EM “CARTA A UMA

SENHORITA EM PARIS”

Fernando Soares Ferreira de Santana1

Esta análise literária foi realizada como proposta de trabalho para a disciplina
Teoria Literária II do curso Licenciatura em Letras, ministrada pela Profa. Dra. Walnice
de Matos Vilalva para a Universidade do Estado de Mato Grosso, campus universitário
de Tangará da Serra – MT. O objeto de estudo será o conto “Carta a uma senhorita em
Paris” escrito por Julio Florencio Cortázar, catalogado por Flávio Moreira da Costa e
traduzido por Remy Gorga Filho. A problematização do conto girará em torno das
possíveis metáforas que existem no mesmo.

Na estrutura do conto, são encontradas várias marcas literárias que são


importantes para melhor entendimento do contexto em que o conto se passa. Este conto
pertence à modernidade, pois o narrador vai cuidar do apartamento de sua amiga. O
apartamento é algo moderno, pois com o crescimento populacional houve a necessidade
de se aproveitar melhor os espaços, criando assim espaços habitacionais mais
compactos. Outra característica da modernidade é a quantidade de personagens, que no
conto são apenas três: O narrador (o escritor da carta), Andrée (a quem a carta é
destinada) e Sara (a empregada de Andrée). Esta narrativa também é polissêmica: ela
abre espaço para várias interpretações.

O personagem inicia a carta chamando o destinatário diretamente pelo nome,


isso mostra que existe uma certa intimidade entre ambos. O protagonista estava ali para
cuidar do apartamento enquanto sua amiga Andrée viajava a Paris. O apartamento fica
em “calle suipacha”, Buenos Aires. Tudo aconteceria normalmente no decorrer do
conto, porém o leitor é surpreendido com um acontecimento estranho: “[...] fiz as malas,
avisei sua criada que viria instalar-me, e subi de elevador. Precisamente entre o primeiro
e o segundo andar, senti que ia vomitar um coelhinho. ” (CORTÁZAR, p. 572).

Isto causa um estranhamento, que intriga no leitor e até mesmo nos faz pensar se
realmente foi essa a frase que foi lida. Este elemento estranho no conto, é chamado na

1
Acadêmico do 3º Semestre de Letras da Universidade do Estado de Mato Grosso, campus
universitário de Tangará da Serra.
literatura de insólito, que seria algo fora do normal: algo entre o maravilhoso e o
fantástico. Assim como qualquer animal, os coelhos brincavam e se alimentavam, mas
eles dormiam pela manhã, em um armário o qual o narrador os trancava.

O conto está predominantemente em primeira pessoa. Esse tipo de narrador


possui apenas o ponto de vista de quem narra, não contendo no conto, por exemplo, a
visão da empregada Sara sobre a situação ou até mesmo a de Andrée. Esse narrador
também não tem conhecimento de todos os eventos que ocorrem durante o conto. Desde
o começo, o conto é escrito em forma de carta, o protagonista está a todo momento se
dirigindo a apenas um personagem: o destinatário.

A narrativa em primeira pessoa também é carregada de características


emocionais que vem daquele que narra, isso é observado quando a princípio o
protagonista tem o desejo de matar um coelho, mas sua relação com aqueles animais o
impede de assim fazer: “...o coelhinho era branquíssimo e acho que mais lindo do que
os outros. Não me olhava, somente bulia e estava contente, o que era o mais horrível
modo de olhar[...] Compreendi que não podia mata-lo. ” (CORTÁZAR, p.574). O conto
está repleto destas sensações do narrador.

Esse tipo de personagem possui uma visão limitada do que ocorre, trazendo um
certo suspense para a obra. Neste conto o narrador está contando algo que já havia
acontecido, algo que ficou no passado, portanto ele tem todo o conhecimento, mas
somente do seu ponto de vista, na história que está narrando.

Ao vermos o trecho em que o protagonista revela a Andrée que vomita


coelhinhos, logo vemos que a narrativa pertence um gênero literário intitulado
“literatura fantástica”. Isso se deve ao fato de que todo texto produzido neste ramo da
literatura estará se referindo a algo fora da realidade, a algo que não encontramos na
realidade convencional. O protagonista simplesmente vomita coelhos e convive com
isso, até certo ponto, como se fosse algo não muito importante.

O narrador tem um certo incomodo em ficar no apartamento de sua amiga, ele


não consegue ficar à vontade em um espaço cheio de marcas pessoais. Andrée, através
do ponto de vista do narrador, se mostra ser alguém muito organizada e que
provavelmente trabalhe ou goste de livros em línguas estrangeiras:

“Para mim é duro entrar em um ambiente onde alguém que vive


confortavelmente dispôs tudo como uma reiteração de sua alma, aqui os
livros (de um lado em espanhol, do outro em francês e inglês), ali os
almofadões verdes, neste exato lugar da mesinha, o cinzeiro de cristal que se
parece com uma bolha de sabão, e sempre um perfume, um som, um crescer
de plantas, uma fotografia do amigo morto” (CORTÁZAR, p.571).

Ele descreve a casa como “tranquila sala festejada de sol”, ou seja, era um
ambiente com muitas janelas. O autor vai criando uma imagem em nossa cabeça,
detalhando o ambiente.

Sara era a criada da casa e seu receio era de que ela suspeitasse de algo e
descobrisse seu segredo, então ele toma todas as precauções para que ela não perceba os
coelhos que ele guarda no armário de seu quarto. Ele encara essa situação como um
dever e uma tristeza, pois vai apagando todos os rastros deixados pelos animais, porém
isto vai saindo do seu controle no decorrer do conto.

Ele nunca contou a ninguém que vomitava coelhos e isto era difícil pois sempre
acontecia quando ele estava sozinho. Na carta ele confessa a Andrée: “Nunca lhe
contara antes, não acredite que por deslealdade, mas naturalmente a gente não vai ficar
explicando a todos que, de quando em quando, vomita um coelhinho”. (CORTÁZAR, p.
572).

A partir de um momento no conto, vemos que aquilo vai se tornando uma


responsabilidade muito grande para o protagonista. Ele começa a deixar de sair com
amigos por causa dos coelhos:

“Agora me chamam ao telefone, são os amigos que se inquietam com minhas


noites recolhidas, é Luis que me convida a caminhar ou Jorge que reservou
entrada para um concerto. Quase não me atrevo a dizer-lhes que não, invento
prolongadas e ineficazes histórias de má saúde, de traduções atrasadas, de
evasão. ” (CORTÁZAR, p. 576).

No decorrer do conto vamos acompanhando a rotina e assim que seguimos essa


lógica, vamos nos acostumando e vemos que aquilo é um cotidiano na vida do
personagem: algo que a princípio era totalmente estranho e incomum se torna apenas
um contratempo. Mas este contratempo vai se agravando na medida em que mais
coelhos vão surgindo da garganta do personagem: “Rasgaram as cortinas, os forros das
cadeiras, a moldura do autorretrato de Augusto Torres, encheram de pelos o tapete e
também gritaram [...] gritavam como eu não acredito que gritem os coelhos. ”
(CORTÁZAR, p. 577).

O narrador reclama de um vazio no final e ele não estava mais se importando


com nada, nem com a bagunça dos coelhos nem com a empregada, até que no último
trecho o narrador profere o seguinte: “Não acho que seja difícil juntar 11 coelhinhos
salpicados sobre os paralelepípedos, talvez nem os notem, tarefados com o outro corpo
que convém levar logo, antes que passem os primeiros colegiais. ” (CORTÁZAR, p.
578).

Provavelmente, quando Andrée recebesse a carta, o narrador dela já estaria


morto. Neste grande impacto do fim, percebemos que ali estava sendo narrada a vida de
um suicida, a carta na verdade se tratava de uma confissão. Os problemas que vieram
dos coelhos fizeram com que o narrador desistisse de tudo.

Estes coelhos poderiam representar lembranças, que estravam em conflito com o


eu lírico. Ao mesmo tempo que ele queria esquecer tentando mata-las, ele também as
alimentava dando esperança, que seria o trevo, porém no final ele percebe que
continuaria naquela situação de indecisão e concluiu que um fim aquilo seria a solução
para seus problemas internos.

Todos temos o desconhecido dentro de nós, é uma característica do homem: os


segredos. Quando estes segredos eram vomitados eles se tornavam um problema à
medida em que ia crescendo e aumentando. O personagem tinha ternura e algumas
vezes queria assassinar estes sentimentos. Como ele percebeu que aquele conflito
interno continuaria e que ele não poderia reviver seus antigos sentimentos, resolveu tirar
a própria vida.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

CORTÁZAR, Julio. Carta a uma senhorita em Paris. In: COSTA, Flávio Moreira da.
(Org.). Os Melhores contos fantásticos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. p. 571-
578.

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