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FACULDADE DE PSICOLOGIA
DOUTORAMENTO EM PSICOLOGIA
2014
ii
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE PSICOLOGIA
DOUTORAMENTO EM PSICOLOGIA
Tese orientada pela Prof.ª Drª Luísa Barros, especialmente elaborada para a
obtenção do grau de doutor em Psicologia da Saúde
2014
iv
Esta investigação foi apoiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia,
À Margarida e ao João,
Ao longo deste projeto foi-me possível usufruir dos seus profundos conhecimentos,
disponibilidade.
João Lobato, o meu agradecimento por terem facilitado o acesso às crianças e pais,
integrando este projeto como uma das parcerias entre a ESTeSL e a Câmara
i
O meu especial agradecimento à Professora Doutora Rosário Ramos, pelo
recebido.
minha cunhada, aos meus amigos Nuno Medeiros, David Tavares e Teresa Denis
pela sua constante solidariedade e à Isabel Pinto que, para além da sua presença
prévio.
do que noutros, agradeço ao Jorge pela forma como compensou estas limitações.
ii
RESUMO
iii
atribuição parental de autoeficácia e a perceção de controlo estão correlacionadas
entre si, e apresentam correlações negativas com a preocupação parental com o
peso.
O segundo estudo, exploratório, e com recurso a análise de conteúdo, teve
como objetivo identificar as significações parentais relacionadas com a
alimentação infantil. Foram entrevistados 26 pais, selecionados intencionalmente
da amostra do primeiro estudo. Os pais consideraram as suas ações como um
determinante importante da alimentação saudável da criança, embora muitos
refiram também as preferências alimentares inatas da criança. Os pais
identificaram consequências físicas e psicológicas de uma alimentação e peso
saudáveis. As barreiras a uma alimentação saudável mais referidas foram as
influências de outros familiares, o marketing e o contexto socioeconómico. Para
promover a alimentação saudável da criança os pais referiram tanto estratégias
adequadas como inadequadas. Muitos dos pais consideraram que os
comportamentos alimentares dos filhos resultam da coordenação da vontade
parental com outros determinantes alimentares ou com outros objetivos parentais.
Das conclusões do presente trabalho salienta-se a importância das variáveis
psicológicas, e em particular das variáveis cognitivas parentais, na determinação
dos comportamentos alimentares saudáveis da criança, as quais deverão ser
integradas em intervenções futuras.
iv
ABSTRACT
v
In the second study, an exploratory methodology was used to identify parental
significations about child feeding. Twenty six parents were chosen from the first
study, using a criterion-based selection. The parents were interviewed, and
content analysis was carried-out. Parents identified physical and psychological
consequences of healthy dieting and weighting. The most referred barriers to child
healthy eating were the influence of other family members, marketing, and socio-
economic context. Parents tend to use both appropriate and inadequate strategies
to promote healthy eating. Many parents express the belief that parental dietary
goals need to be coordinated with other parenting aims or with other
determinants of child eating behavior.
The present work highlights the importance of psychological determinants,
particularly parental cognitive characteristics, in determining children healthy
eating behaviors, which should be integrated in future interventions.
vi
ÍNDICE
Página
Agradecimentos……………………………………………………………………………………………….. i
Resumo……………………………………………………………………………………………………………. iii
Abstract…………………………………………………………………………………………………………… v
Índice………………………………………………………………………………………………………………. vii
Abreviaturas………………………………………………………………………………………………......... xi
1. INTRODUÇÃO………………………………………………………………………………………….. 1
2.5. Conclusões…………………………………………………………………………………….……... 61
vii
ÍNDICE
Página
3. METODOLOGIA……………………………………………………………………………………….. 67
3.1.1. Amostra…………………………………………………………………………………………… 68
3.1.2. Procedimento………………………………………………………………………………..…. 69
4. RESULTADOS………………………………………………………………………………………….. 113
5.2. Determinantes e fatores correlatos dos hábitos alimentares das crianças.. 189
viii
ÍNDICE
Página
6. CONCLUSÕES…………………………………………………………………………………………... 213
Anexos……………………………………………………………………………………………………………… 272
ix
x
LISTA DE ABREVIATURAS
Abreviaturas Significados
P Percentil
xi
LISTA DE ABREVIATURAS
Abreviaturas Significados
xii
ÍNDICE DE TABELAS
Pág.
Tabela 2.1 - Comportamentos alimentares das crianças e jovens - valores globais e para
Portugal (HBSC 2009-2010) ……………...…………………………………………………… 15
Tabela 2.2 - Síntese de estudos relativos à preocupação parental com o excesso de peso
da criança…………………………………………………………………………………………………… 50
Tabela 2.3 - Síntese de estudos sobre barreiras percecionadas pelos pais a uma
alimentação saudável da criança ………………………………………………………................ 57
Tabela 3.3 - Descrição dos critérios de diagnóstico do estado nutricional para crianças…… 75
Tabela 3.8 - Grupos de pais entrevistados em função do IMC e dos hábitos alimentares da
criança………………………………………………………………………………………………………... 105
Tabela 4.6 - Variedade alimentar (valores para o período de uma semana)……………………… 120
Tabela 4.7 - Estatísticas descritivas dos hábitos alimentares (score total)………………………... 120
Tabela 4.8 - Frequências absolutas e relativas das categorias do estado nutricional das
crianças………………………………………………………………………………………………………. 122
Tabela 4.9 - Estatísticas descritivas das preferências alimentares das crianças……………….... 123
Tabela 4.10 - Tempo de visionamento de televisão nos dias úteis e ao fim-de-semana………... 124
xiii
ÍNDICE DE TABELAS
Pág.
Tabela 4.14 - Perceção parental de peso por categoria de IMC da criança…………………………... 129
Tabela 4.15 - Perceção parental de peso nas categorias correta e incorreta………………………... 129
Tabela 4.19 - Valores do teste t para comparação dos hábitos alimentares nas categorias de
perceção parental de peso da criança…………………………………………………………… 135
Tabela 4.20 - Modelo de regressão linear (método forward) dos hábitos alimentares………… 137
Tabela 4.21 - Valores centrais do conhecimento nutricional parental nas duas categorias de
idade do adulto………………………………………………………………………………………….... 138
Tabela 4.22 - Valores centrais do conhecimento nutricional nas categorias de escolaridade.. 138
Tabela 4.25 - Valores dos testes de associação da perceção parental de peso com as
variáveis sociodemográficas………………………………………………………………………… 143
Tabela 4.27 - Perceção parental de peso por preocupação parental com o peso da
criança………..................................................................................................................................... 144
Tabela 4.28 - Valores centrais da atribuição de controlo nos dois grupos de perceção
parental de peso………………………………………………………………………………………….. 145
Tabela 4.29 - Valores dos testes de correlação entre preocupação parental, atribuição
parental de autoeficácia e de controlo………………………………………………………….. 146
xiv
ÍNDICE DE TABELAS
Pág.
Tabela 4.33 - Definições das categorias relativas às significações parentais sobre o grau de
influência dos pais nas preferências alimentares da criança………………………….. 158
Tabela 4.37 - Definições das categorias relativas aos modelos parentais explicativos do
desenvolvimento dos comportamentos alimentares saudáveis da criança……... 172
Tabela 6.1 - Estádios de prontidão parental para a mudança dos hábitos alimentares da
criança com excesso de peso………………………………..………………………………………. 221
xv
xvi
ÍNDICE DE FIGURAS
Pag.
Figura 1.1 - Percentagens de população mundial e por zona geográfica com IMC≥ 30.00
kg/m2 (obesidade) em 2008………………………………….................................................... 3
xvii
xviii
1.
INTRODUÇÃO
Obesidade infantil
___________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
2
___________________________________________________________________ INTRODUÇÃO
Portugal 22,3
20,4
Oeste Pacífico 6,8
5,1
Mediterrâneo oriental 24,5
13
Europa 23,1
20,4
Sudeste asiático 3,7 Mulheres
1,7
Américas 29,5 Homens
23,5
Africa 11,1
5,3
Global 14
10
0 5 10 15 20 25 30 35 %
Figura 1.1. Percentagens de população mundial e por zona geográfica com IMC≥ 30.00 kg/m 2
(obesidade) em 2008. Fonte: World Health Statistics 2012 - OMS 2012 (http://www.who.int/healthinfo)
A nível global (OMS, 2012) cerca de 15% de mulheres e 10% dos homens são
obesos (figura 1.1). Consta-se que Portugal apresenta valores de prevalência de
obesidade semelhantes aos da Europa, mas superiores aos valores mundiais. A
Europa é a segunda zona geográfica com maior percentagem de adultos obesos,
cujos valores só são suplantados no continente americano.
Comparando dois estudos de prevalência de obesidade e excesso de peso
em amostras representativas da população adulta portuguesa entre os 18 e os 64
anos (do Carmo et al., 2007; Sardinha et al., 2010), cujos resultados se apresentam
na tabela 1.1, verifica-se que entre 2003-2005 e 2008-2009 houve um aumento da
percentagem de pessoas com obesidade e excesso de peso nos dois sexos. No
estudo mais recente, as prevalências combinadas de obesidade e excesso de peso
são superiores a 50% da população: 66.6% nos homens e 57.9% em mulheres.
3
___________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Tabela 1.1.
Evolução da prevalência de excesso de peso e obesidade na população portuguesa adulta
Excesso de peso (%) Obesidade (%)
1
do Carmo et al., 2007
2
Sardinha et al., 2012
A obesidade na idade adulta é um risco para a saúde dada a sua forte ligação
a doenças crónicas graves. A OMS estima que a nível mundial 2,8 milhões de
pessoas morrem como resultado da obesidade e excesso de peso, e que estes
fatores de risco são responsáveis por 2,3% dos DALY1 mundiais (OMS, n.d.).
As comorbilidades da obesidade são múltiplas. O risco de sofrer de
hipertensão, Diabetes tipo 2, Dislipidémia e outras doenças metabólicas, doenças
coronárias, doenças da vesícula biliar e Apneia de Sono é bastante superior nas
pessoas obesas. Outras patologias apresentam uma associação não tão forte mas
significativa com a obesidade: alguns tipos de cancro, doenças do fígado e outras
patologias gastrointestinais, perturbações músculo-esqueléticas, alterações
endócrinas e problemas respiratórios (OMS, 1997a, 2000, 2003a).
Em termos das consequências sociais da obesidade, os adultos obesos tendem a
ter menos anos de escolaridade, frequentar escolas e exercer atividades
profissionais menos prestigiadas, a ter salários mais baixos que os não obesos com
as mesmas funções e a serem-lhes atribuídas características negativas pelos
empregadores (De Jong & Kreck, 1986; Gortmaker, Must, Perrin, Sobol & Dietz,
1993; Sonne-Holm & Sorensen, 1986; OMS, 2000; Pingitore, Dugoni, Tindale &
Spring, 1994; Rothblum, Brand, Miller & Oetjen, 1990). Esta descriminação ocorre
também na área da saúde, em que muitos profissionais têm expectativas negativas
relativamente aos resultados do aconselhamento de pessoas obesas (Evans, 1995),
associando-as a características negativas como hostilidade, comunicação
desonesta e má higiene pessoal (Klein, Najman, Kohrman & Munro, 1982).
1
Disability-adjusted life year (DALY) - número de anos perdidos devido a doença, incapacidade e morte
4
___________________________________________________________________ INTRODUÇÃO
2
Custo direto da obesidade- o custo à sociedade resultante da diversificação de recursos para diagnosticar e tratar
doenças diretamente relacionadas com a obesidade, bem como do custo do tratamento só da obesidade (incluindo
os custos dos cuidados de saúde aos doentes e seus familiares e o custo dos prestadores de serviços).
3 Custo indiretos da obesidade – Perda de benefícios económicos e de bem-estar para os outros membros da
sociedade, pela redução dos bens e serviços produzidos (i.e. o impacto da qualidade de vida reduzida do indivíduo
obeso no potencial produtivo disponível para o resto da sociedade). Estes custos são geralmente avaliados pelas
perdas de produtividade devidas ao absentismo no trabalho, a reforma por incapacidade e a morte prematura.
5
___________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
6
___________________________________________________________________ INTRODUÇÃO
7
___________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
8
___________________________________________________________________ INTRODUÇÃO
9
___________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
10
2.
DETERMINANTES DO
COMPORTAMENTO
ALIMENTAR INFANTIL
infantil
Objetivos do estudo
___________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
12
___________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
13
___________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
14
___________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Tabela 2.1.
Comportamentos alimentares das crianças e jovens - HBSC 2009-2010
11 anos 13 anos 15 anos
15
___________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Barbash & Cleveland, 1997; Yngve et al., 2005). No relatório mais recente do
Health Behavior in School-aged Children (Currie et al.,2012) com dados recolhidos
entre 2009 e 2010 em 37 países europeus, EUA e Canadá, são apresentados os
valores globais para três comportamentos alimentares (i.e., ingestão de pequeno
almoço, consumo de fruta e de refrigerantes) assim como os dados recolhidos em
Portugal, com crianças e jovens entre os 11 e os 15 anos (tabela 2.1). A
percentagem de crianças e jovens que, a nível global, apresentam valores
adequados nos três comportamentos alimentares considerados é inferior ao
desejável, havendo um agravamento significativo com a idade. Os dados do
relatório confirmam que para além da idade, o sexo e o rendimento familiar
influenciam a adoção destes comportamentos. O número de crianças e jovens
portugueses que ingere diariamente o pequeno-almoço é claramente superior à da
maioria dos países, sendo unicamente suplantada pelas crianças holandesas. A
ingestão de fruta é ligeiramente superior à média dos outros países nos grupos
etários dos 13 e dos 15 anos. Relativamente aos restantes comportamentos os
resultados nacionais são menos favoráveis. Para a ingestão de refrigerantes, as
crianças portuguesas apresentam valores próximos do valor global, podendo-se
afirmar que a partir dos 13 anos cerca de 25% das crianças bebe diariamente
refrigerantes.
A relação do IMC com os comportamentos alimentares referidos parece ser
mais clara do que com a ingestão calórica. No momento atual este facto é ainda
difícil de explicar.
16
___________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Uma das primeiras propostas integradoras foi feita por Contento e Michela
(1999), que a partir de uma vasta revisão de literatura propuseram um modelo
que envolve múltiplos determinantes do comportamento alimentar infantil e
propõe alguns processos de interação entre eles (figura 2.1).
17
___________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Figura 2.1. Processos de influência das escolhas alimentares das crianças e adolescentes (Contento &
Michela, 1999).
18
___________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
19
___________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
diretamente, mas que a afetam. A sua influência provém do sistema social alargado
em que a criança se insere (e.g., condições de trabalho dos pais).
O último nível, o macrossistema, também ele determinado e determinante
dos sistemas anteriores, consiste na organização das instituições sociais e das
ideologias existentes na sociedade em que a criança se insere, que se traduzem,
por exemplo, na legislação ou no apoio do estado a programas de promoção da
alimentação saudável.
De acordo com este modelo (Bronfenbrenner & Ceci, 1994) o
desenvolvimento da criança resulta: i) da interação dos fatores dentro de cada
sistema e entre os diferentes sistemas entre si (e.g., políticas de trabalho que
influenciam o tempo disponível dos pais que por sua vez podem influenciar a
maior ou menor exposição da criança a alimentos saudáveis e consequentemente
as suas preferências alimentares); ii) da influência da própria criança nos
determinantes mais próximos (e.g., comportamentos parentais) e também nos
mais distantes (e.g., a utilização crescente da internet pelas crianças determina o
aumento da publicidade alimentar nos sites mais visitados pelas crianças).
É com base no modelo ecológico que surgem duas teorias de referência,
uma proposta por Story e outra por Davinson e Birch, criadas a partir de uma
análise exaustiva da evidência empírica. Os modelos não diferem
significativamente, sendo que ambos propõem vários níveis de determinantes que
interagem entre si. Estes modelos facultam essencialmente um quadro organizador
dos múltiplos determinantes do comportamento alimentar.
O modelo de Story (Story, Kaphingst, Robinson-O’Brien & Glanz, 2008;
Story, Neumark-Sztainer & French, 2002) propõe a organização dos determinantes
do comportamento alimentar em quatro níveis de influência do adolescente:
intrapessoal, interpessoal, comunitário e social.
O modelo proposto por Davinson e Birch (2001) propõe três níveis que
integram os determinantes do IMC da criança. Na medida em que os
comportamentos alimentares e a atividade física/sedentarismo são variáveis
proximais do IMC, muitos dos fatores que incluídos neste modelo são
determinantes dos comportamentos alimentares.
Num primeiro nível os autores integram as características da criança (e.g.,
sexo, idade) que interatuam com os determinantes familiares, que constituem o
20
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25
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26
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4
Os estudos têm focado essencialmente a influência genética na sensibilidade ao sabor amargo,
especificamente a dois componentes que se encontram nos alimentos ácidos: 6-n-propil-tio-uracilo
(PROP) e fenil-tio-carbamida (PTC), presente nos vegetais e frutas. Os indivíduos com menor
sensibilidade ao amargo terão dois alelos recessivos enquanto que os com maior sensibilidade têm dois
alelos dominantes.
27
___________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
quais tendem a ter aversão pelos vegetais mais amargos (Drewnoswki & Rock,
1995;Kendra & Tepper, 2006).
Apesar da influência genética no início de vida, o papel da família e da
escola é determinante na evolução das preferências alimentares. Já antes do
nascimento, a exposição a um determinado alimento aumenta a preferência por
esse mesmo alimento. A dieta da mãe durante os últimos meses de gravidez e no
período de aleitamento refletem-se no líquido amniótico que a criança ingere e no
leite materno, levando a criança a manifestar maior preferência pelos alimentos
mais ingeridos pela mãe (Birch, 1999; Cook & Fields, 2011; Menella, Jagnow &
Beauchamp, 2001; Skinner et al., 2002). A amamentação (vs. Alimentação artificial)
leva a que a criança desde cedo seja exposta a uma maior variedade de sabores, o
que gera reações neofóbicas menos intensas (Sullivan & Birch, 1994).
Concomitantemente, a ausência de exposição a alimentos doces no início de vida
gera uma redução da preferência inata por este sabor (Beaucham & Moran, 1982).
O efeito da exposição nas preferências alimentares e na neofobia continua ao longo
da infância. As crianças pré-escolares, quando expostas aos sabores doces e
salgados, aumentam a preferência por estes sabores, potenciando assim as
preferências geneticamente determinadas (Sullivan & Birch, 1990). Ainda nesta
idade as crianças aumentam a sua preferência por vegetais após exposição
repetida (Anzman-Frasca et al., 2012), mesmo quando são expostas a pequenas
quantidades de vegetais de que não gostam (Lakkakula et al., 2010). Também a
aversão ao amargo pode ser rapidamente invertida pela repetição deste sabor
(Rosenstein & Oster, 1988; Steiner, 1979).
De um modo geral poderá afirmar-se que, em crianças de 5 anos, a
exposição aos alimentos explica cerca de 30% das preferências (Birch, 1979b). Não
se deve também esquecer que as próprias preferências da criança podem servir de
orientação para os pais na escolha dos alimentos que servem aos filhos,
aumentando a exposição e consequentemente a preferência por esses mesmos
alimentos (Holsten et al., 2012).
Para além da exposição, a modelagem é um dos fatores ambientais que
influi na neofobia e nas preferências alimentares. Vários estudos confirmam a
semelhança entre as preferências dos pais e dos filhos (Cathey & Gaylord,
2004;Savage, Fisher, & Birch, 2007; Scaglioni, Salvioni, & Galimberti, 2008).
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___________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
29
___________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
2002; Birch et al., 1982; Galloway et al., 2006), dando-se o efeito contrário quando
a ingestão do alimento é associada à atenção do adulto ou a interações agradáveis
(Birch, Zimmerman & Hind, 1980). As preferências alimentares também podem ser
alteradas por associação a características do contexto que não exclusivamente
interpessoais, como por exemplo a imagem de marca. Numa investigação com
crianças entre os 3 e os 5 anos concluiu-se que estas preferiam o sabor de batatas
fritas, hambúrgueres, nugets de frango e cenouras anãs quando apresentadas em
embalagens da McDonalds em comparação com os mesmos alimentos em
embalagens simples (Robinson, Borzekowski, Matheson & Kraemer, 2007).
Podendo as preferências alimentares ser influenciadas pela intervenção
parental, torna-se importante perceber se aquelas influenciam o comportamento
alimentar da criança. Desde os anos 70 que um extenso corpo de investigação
confirma esta relação. A preferência por alimentos com elevado teor de gordura
está correlacionada com a ingestão de gordura e com a adiposidade (i.e., prega do
tricípede) em crianças pré-escolares (Fisher & Birch, 1995) e também em crianças
mais velhas (Rickets, 1997). A preferência por fruta e vegetais está também
correlacionada com o consumo destes alimentos em crianças em idade escolar
(Resnicow et al., 1997). Pelo contrário a associação entre a preferência e consumo
de alimentos doces parece não ser tão evidente (Lanfer, 2012), o que poderá ser
justificado por serem alimentos sobre os quais muitos pais exercerão um maior
controlo e restrição.
Em contrapartida, a relação entre preferências alimentares e o IMC da
criança não é evidente. Apesar de Lanfer e colaboradores (2012) identificarem
uma relação entre o IMC de crianças em idades escolar e a preferência por
alimentos ricos em açúcar e gordura (Lanfer et al., 2012), outros estudos não
identificam nenhuma relação do IMC da criança com a preferência por alimentos
ricos em gordura, glícidos e proteínas (Fieldstone et al., 1997), nem com a
preferência por frutas e vegetais (Hill, Wardle & Cook, 2009).
Embora a influência das preferências alimentares sobre o comportamento
alimentar pareça ser evidente, a maioria dos estudos foca-se em crianças em idade
escolar, em que a autonomia de decisão alimentar é superior à das crianças pré-
escolares. Por esta razão é importante confirmar esta relação em crianças mais
novas.
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6
Estas duas dimensões aparecem referidas na bibliografia ou associadas a diferentes termos. Responsividade surge
também como “narturance”, centração na criança, aceitação, cuidado (care) e empatia. A exigência surge também
designada como controlo firme e democracia (Sleddens et al., 2011).
36
___________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Dent & Flay,1996; Maccoby &Martin, 1983; Steinberg, Mounts, Lamborn &
Dornbusch, 1991).
EXIGÊNCIA
PERMISSIVO ORIENTADOR
-Caloroso, aceitante -Envolvido, cuidadoso, refletido e com boa
37
___________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
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___________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
autoritário em oposição aos estilos permissivo e não envolvido (Hoerr et al., 2009;
Hughes, 2005, 2008; Overa & Power, 2009; Wake, Nicholson, Hardy & Smith,
2007). Este resultado é expetável nestas idades em que os pais conseguem
controlar mais eficazmente o que as crianças comem, num período em que estas
têm ainda uma baixa autonomia de decisão (Blissett, 2011).
No entanto não devem ser ignorados os trabalhos que não encontram
diferenças quanto aos estilos parentais nos diferentes grupos de IMC e hábitos
alimentares. Em crianças entre os 24 e os 59 meses, Blissett e Haycraf (2008) não
encontraram diferenças significativas de IMC nas crianças filhas de pais
orientadores, autoritários e permissivos. Também Agras, Hammer, McNicholas e
Kraemer (2004) não encontraram relação entre o estilo parental autoritário e o
risco de obesidade, num estudo longitudinal com 150 crianças que foram
acompanhadas desde o nascimento até aos 9 anos e meio. A mesma ausência de
relação foi encontrada para o consumo de fruta e vegetais num estudo com cerca
de 4500 crianças de quatro países europeus (De Bourdeaudhuij et al., 2008). Os
resultados dos dois últimos estudos apresentam a limitação de só avaliarem os
pais relativamente ao estilo parental autoritário, sendo que o grupo de
comparação poderá incluir pais com diferentes estilos, limitando as conclusões.
A classificação nos quatro estilos parentais de acordo com a tipologia
proposta por Baumrind (i.e., orientador, autoritário, permissivo e não envolvido)
implica que pais com características razoavelmente diferentes nas dimensões base
(i.e., responsividade e exigência) possam ser classificados no mesmo estilo
parental. Por exemplo, um pai com um valor elevado de exigência e médio de
responsividade pode ser classificado no estilo orientador juntamente com um pai
com um nível médio de exigência e elevado de responsividade. Poucos estudos têm
considerado as relações entre o IMC e hábitos alimentares da criança e estas
dimensões base (em vez dos estilos parentais) (Kim et al., 2008; Ludrosky, 2005,
citados por Sleddens et al., 2011). Não é conhecido nenhum estudo que foque estas
relações em crianças pré-escolares. Kim e colaboradores estudaram a relação de
duas dimensões parentais (nurturing e controlo, que são geralmente associadas
respetivamente às dimensões de responsividade e exigência), em crianças do 1º ao
4º ano de escolaridade, salientando-se que de um modo geral o consumo calórico
estava inversamente relacionado com a responsividade materna.
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7
O DHKS - Diet Health Knowledge Survey - é um seguimento do Continuing Survey of Food Intakes by
Individual (CSFII) da USDA.
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Para o presente trabalho optou-se pela designação de perceção parental de peso da criança por ser a
tradução da terminologia mais utilizada na literatura de língua inglesa (parental percetion of child´s
weight).
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novas9 têm mais probabilidade de ter o peso subavaliado pelos pais (Carnell,
Edwards, Croker, Boniface & Wardle, 2000; Eckstein et al., 2006; Fisher, Fraser &
Alexander, 2006; Maynard, Galuska, Blanck & Serdula, 2003; Rich et al., 2005; Wald
et al., 2007), outros estudos não sustentam esta conclusão (Cochran, Neal, Cottrell
& Ice, 2012; He & Evans, 2007).
Poucos estudos relacionam o nível educacional dos pais com a perceção
parental de peso. Baughcum e coalaboradores (2000) identificaram que o nível
educacional baixo da mãe estava associado a uma maior distorção do peso da
criança. À conclusão contrária chegaram Genovesi e colaboradores (2005) que
realizaram um estudo semelhante com famílias italianas. É de salientar os
resultados do estudo de Garrett-Wright (2011) com pré-escolares, que identificam
a relação entre a avaliação correta de peso da criança com o grau de literacia de
saúde, mas não com o nível educacional.
Alguns autores apontam para que a habituação dos pais a um padrão de
peso infantil superior ao normal promoveria uma noção errada de “normalidade”
dos filhos com excesso de peso. Mães que vivem em zonas onde a prevalência do
excesso de peso é elevada tendem a maior subavaliação do peso dos seus filhos
(Binkin, Spinelli, Baglio & Lamberti, 2011). Também o peso da criança à nascença
bem como um ganho de peso rápido no início da infância estão associados à
subavaliação parental do peso dos filhos (Chaparro, Langellier, Kim & Whaley,
2011; Manios, Moschonis, Grammatikaki, Anastasiadou & Liarigkovinos, 2010).
Num estudo com pais de crianças entre os 6 e os 8 anos (Parkinson et al.,
2011) o perímetro da cintura e as pregas corporais estavam associados a uma
perceção de peso mais correta do que o IMC da criança. Este resultado indica que
uma maior “visibilidade” da obesidade poderá facilitar uma perceção mais correta.
Alguns estudos têm abordado a possível influência do processo de
comunicação entre os profissionais de saúde e os pais na distorção parental de
peso. Os pais de crianças pré-escolares que referem que o excesso de peso não foi
abordado nas consultas de pediatria têm maior probabilidade de distorcer o peso
da criança (Hernandez, Cheng & Serwint, 2010). Contudo este resultado é pouco
9 Rich et al. (2005) sugerem que a subavaliação parental de peso ocorra mais frequentemente
quando a criança tem menos de quatro anos, Eckstein et al. (2006) identificaram os seis anos
como ponto de corte e Fisher et al. (2006) os oito anos.
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correta, implicando que alguns destes pais estão preocupados com o peso da
criança apesar de o avaliarem como normal.
Por outro lado também se verifica que nem todos os pais que têm uma
perceção correta do excesso de peso do filho estão preocupados com o problema.
Num estudo com mães de crianças e jovens entre os 2 e os 20 anos que recorreram
a uma clínica para tratamento de peso, identificou-se que todas consideravam que
o filho tinha excesso de peso, mas 70% não estavam preocupadas com o peso da
criança/jovem (Watkins, Clark, Foster, Welch & Kasa-Vubu, 2007).
A diversidade dos resultados apresentados parece refletir um processo
cognitivo mais complexo, que não se limita a uma relação direta entre perceção
parental de peso e preocupação e onde intervirão outras variáveis.
Relativamente à relação entre a perceção parental de peso e os estilos de
vida da criança, existem poucos estudos e com resultados discordantes. Dois
estudos de Manios e colaboradores identificaram que os filhos das mães que
subavaliavam o peso tinham dietas mais calóricas (Manios et al., 2010) e menos de
3 horas/semana de atividade física (Manios et al., 2011), o que está de acordo com
a relação esperada. Num estudo com uma metodologia muito semelhante realizado
com crianças finlandesas de 7 anos foram obtidos resultados exatamente opostos:
os pais que subavaliavam o peso tinham maior probabilidade de ter filhos com
melhores hábitos alimentares e mais atividade física, do que os filhos de pais que
tinham uma perceção correta (Vanhala, Keinänen-Kiukaanniemi, Kaikkonen,
Laitinen & Korpelainen, 2011). Um outro estudo, com crianças entre os 6 e os 8
anos com excesso de peso, não identificou diferenças entre os pais relativamente
ao encorajamento para o consumo de alimentos saudáveis ou para a prática do
exercício físico entre as mães que avaliavam corretamente e as que subavaliavam o
peso (Parkinson et al., 2011).
Os resultados das intervenções que visam promover uma perceção parental
correta e o seu impacto nos estilos de vida da criança são também interessantes
para clarificar a relação entre a perceção parental de peso e os hábitos alimentares
dos filhos. Fitzgibbon e Beech (2009) reviram várias investigações, a maioria em
contexto escolar, cujos resultados apontam para que a informação aos pais sobre o
IMC elevado da criança tem como consequência uma perceção mais adequada e
alterações em outros comportamentos de saúde mas não gera, por si só, mudanças
47
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Concluindo, é evidente que a maioria dos pais de crianças com excesso de peso
subavalia o peso da criança. Um dos aspetos que poderá fomentar esta distorção na
avaliação do peso é a comunicação entre profissionais de saúde e pais,
possivelmente influenciada pelo facto destes dois grupos terem quadros de
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referência diferentes no que se refere ao excesso de peso. Embora para alguns pais
a perceção correta do excesso de peso do seu filho gere maior preocupação, esta
relação não se verifica de um modo sistemático, fazendo supor que a relação entre
perceção de excesso de peso e a preocupação parental será mediada por outros
fatores.
A informação isolada sobre o IMC da criança não gera alterações nos
comportamentos alimentares da criança podendo gerar até algumas
consequências negativas para a criança. Contudo, se esta informação for
acompanhada de aconselhamento, em especial sobre estratégias que os pais devam
utilizar para promover mudança de comportamentos alimentares da criança,
poderá produzir resultados positivos.
Preocupação parental
49
___________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Tabela 2.2.
Síntese de estudos relativos à preocupação parental com o excesso de peso da criança
Pais de crianças com excesso de
Nº e idade das crianças com excesso de
Estudo peso que estão preocupados
peso
com o peso atual da criança
Eckstein et al. (2006) 230 crianças e jovens dos 2 aos 17 anos 30%
Campbell, Williams, 324 crianças de 4 anos 83%
Hampton & Wake (2006)
Crawford,Timperio,Telford 291 crianças de 5-6 anos 71%
& Salmon (2005) 919 crianças 10-12 anos 43%
Lampard, Byrne, Zubrick 347 crianças entre os 6 e os 13 anos 82% (Pais de crianças obesas)
&Davis (2008)
18% (Pais de crianças pré-
obesas)
Wake, Salmon, Walters, 3174 crianças do ensino básico 58% (Pais de crianças obesas)
Wright & Hesketh (2002)
19% (Pais de crianças pré-
obesas)
50
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preditor da preocupação reflete, mais uma vez, que a preocupação dos pais com o
peso é mais frequente quando os pais percecionam, para além do peso, outro tipo
de problemas na criança. A possibilidade das mães com excesso ou preocupadas
com o seu próprio peso terem mais probabilidade de estar preocupadas com o
excesso de peso do filho foi confirmada por outros estudos (Campbell, Williams,
Hampton & Wake, 2006; Carnell et al., 2006; Faith et al., 2004), podendo indicar
que uma perceção aumentada de risco de obesidade da criança pode desencadear
maior preocupação parental.
O impacto da preocupação nos comportamentos parentais é uma área de
estudo fundamental, na medida em que é necessário clarificar se a preocupação
dos pais tem efeitos positivos ou negativos nos comportamentos relacionados com
a alimentação da criança. Contudo, esta questão tem sido puco abordada. Num
estudo comparativo entre crianças caucasianas e afroamericanas dos 9 aos 15 anos
conclui-se que, independentemente da etnia, os pais de filhos com excesso de peso
recorriam mais a estratégias de controlo, mas dentro deste grupo quem as
utilizava menos eram os pais que estavam preocupados com o peso da criança
(Polfuss & Frenn, 2012). Num estudo com 1500 crianças numa amostra
estratificada da pré-primária, 2º, 4º 5º, 7º e 9º ano, Moore e colaboradores (2011)
identificaram que os pais mais preocupados limitavam mais o tempo de
visionamento de televisão e tomavam medidas para melhorar a dieta da criança e a
frequência de atividade física. Outros estudos confirmam a relação entre a
preocupação e a utilização de práticas restritivas (Keller et al., 2013; MacFarlane,
Crawford & Worseley, 2010; Weber et al., 2010). Embora a maioria destas
estratégias possa ser vista como positiva, o facto de os pais relatarem que tomaram
medidas para a mudança alimentar não garante uma efetiva melhoria da dieta da
criança. Por outro lado, as práticas de controlo parental estão associadas a uma
menor capacidade de autorregulação alimentar da criança (John & Birch, 1994).
Alguns estudos encontram relações entre a ingestão da criança e a
preocupação parental. O estudo de Costa (2010), no qual foi feita uma avaliação
nutricional detalhada, confirma que os filhos dos pais preocupados têm um
consumo energético menor em comparação com as outras crianças. Também no
estudo de MacFarlane e colaboradores (2010) os filhos de pais preocupados
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Tabela 2.3.
Síntese de estudos sobre barreiras percecionadas pelos pais a uma alimentação saudável da criança
Estudo /origem Metodologia Barreiras percecionadas pelos pais à alimentação saudável
da criança
Dwyer, Needham, Entrevistas em grupo Intrapessoais: preferências alimentares da criança;
Simpson & com mães de crianças Interpessoais: diferentes perspetivas e práticas de outros
Heeney, 2008 de 2 a 5 anos. familiares ou adultos, influência do jardim-de-infância e
falta de tempo dos pais.
Origem: Canadá Ambiente físico: acessibilidade de alimentos saudáveis e
crianças com necessidade de dietas especiais.
Hoerr, Utech & Entrevistas em grupo a Oposição aos alimentos servidos, controlo da criança nas
Ruth, 2005 pais de crianças de 3-5 decisões alimentares, falta de tempo, custo dos alimentos.
anos de nível
Origem: EUA socioeconómico baixo
Hesketh, Waters, Entrevistas de grupo Propriedades organoléticas agradáveis dos alimentos não
Green, Salmon & com pais de crianças saudáveis, oferta alimentar não saudável nas escolas, pares,
Williams, 2005 de 7-8 e 10-11 anos número crescente de estabelecimentos de fast-food,
publicidade e embalagem atrativa dos alimentos menos
Origem: Austrália saudáveis.
Andrade, 2007 Entrevistas individuais 7-12 meses: Ingestão insuficiente, falta de informação
a pais de crianças entre nutricional, distrações durante as refeições e neofobia
Origem : Portugal os 7 meses e os 12 13-23 meses: Preferências alimentares, recusa de
anos alimentos, comportamento à mesa e falta de informação
nutricional.
2-5 anos: comportamento à mesa, preferências
alimentares, falta de informação nutricional
6-9 anos: Preferências alimentares, recusa de alimentos,
comportamento à mesa e omissão de refeições
10-12 anos: Preferências alimentares, influências dos pares,
recusa de alimentos e comportamentos à mesa
Hart, Herriot, Pais de crianças entre Pais de nível socioeconómico alto: escola, pares, influência
Bishop & Truby, os 7 e os 12 anos de de irmãos e outros familiares, preferências alimentares das
2003 nível socioeconómico crianças, custo e falta de tempo
baixo e alto
Pais de nível socioeconómico baixo: influência de irmãos e
Origem: outros familiares, falta de informação nutricional,
Inglaterra preferências alimentares das crianças, custo e falta de
tempo
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falta de tempo dos pais, o custo de uma alimentação saudável e a oferta pouco
saudável de alimentos na escola10.
A falta de tempo, resultante em grande parte das condições de trabalho dos
pais, surge referido na tabela 2.3 e é também abordada noutros estudos (Blake,
2009, 2011; Brown, Broomb, Nicholson & Bittman, 2010; Devine et al., 2006; Jabs
et al., 2007).
Curiosamente a publicidade só é referida num estudo, bem como a
acessibilidade a estabelecimentos de fast-food (apesar de todos os estudos
apresentados terem sido realizados em meio citadino).
A falta de conhecimento nutricional é pouco mencionado e parece perder
importância nos níveis socioeconómicos mais altos (Hart et al., 2003) e conforme a
criança vai crescendo (Andrade, 2007). Pelo contrário, a influência negativa dos
pares parece ser mais sentida pelos pais das crianças mais velhas (de um modo
geral a partir dos sete anos). Para além da idade da criança, o nível socioeconómico
dos pais parece gerar diferenças nas barreiras que são vistas como problemáticas.
Por exemplo, no estudo de Hart e colaboradores a influência dos pares é visto
como barreira pelos pais de nível socioeconómico mais elevado mas é considerado
como um facilitador da alimentação saudável pelos pais de nível mais baixo.
Steinsbekk, Ødegård & Wichstrøm (2011) estudaram a importância das
barreiras emocionais (i.e., desconforto ou culpa sentida pelos pais por restringirem
comportamentos alimentares e sedentários das crianças). Tendo analisado o
impacto de várias variáveis (barreiras emocionais, autoeficácia parental, norma
subjetiva e atitudes), só as barreiras emocionais estavam (inversamente)
correlacionadas com a perda de peso de crianças durante os follow-up (6 meses e
2 anos após o final do tratamento). Embora não sejam conhecidos mais estudos
que abordem a questão das barreiras emocionais, estas poderão estar diretamente
relacionadas com o estilo parental (i.e., os pais com estilo indulgente serão
provavelmente aqueles que vivenciam mais as barreiras emocionais relacionadas
com as restrições impostas à criança).
10
A oferta de alimentos pouco saudáveis nas cantinas escolares não corresponde à realidade das escolas
oficiais portuguesas. Contudo, as características organoléticas menos agradáveis dos alimentos
oferecidos nas escolas portuguesas criam também problemas nutricionais (Figueira, 2012).
58
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2.5. Conclusões
61
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66
3.
METODOLOGIA
Metodologia quantitativa
Metodologia qualitativa
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3.1.1. Amostra
11
A Zona Norte do concelho de Loures é constituída pelas freguesias de Bucelas, Lousa, Fanhões, São Julião do Tojal, Santo
Antão do Tojal, Loures, Frielas e Santo António dos Cavaleiros. A área total ronda os 132,46 Km2 e em 2001 tinha cerca de
82500 habitantes. (Anexo A)
68
__________________________________________________________________________ METODOLOGIA
3.1.2. Procedimento
12
Para simplificação, são designados por pais todos os adultos da amostra.
69
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70
__________________________________________________________________________ METODOLOGIA
Tabela 3.1
Número de crianças participantes por agrupamento escolar e jardim-de-infância
Agrupamento escolar/jardim-de-infância N
Agrupamento de Escolas de Bucelas 18
Vila de Rei 2
Bucelas 13
Chamboeira 3
Agrupamento de Escolas de Loures 68
À-das-Lebre 7
Loures 16
Lousa 13
Montemor 5
Casaínhos 8
Salemas 6
Cabeço de Montachique 4
À-dos-Cãos 9
Agrupamento de Escolas João Villaret 58
Pintéus 3
Frielas 11
Fanqueiro 30
Manjoeira 5
Zambujal 9
Agrupamento de Escolas General 35
Humberto Delgado
Total 223
71
___________________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
13
Material disponibilizado pela da Área Científica de Dietética e Nutrição da ESTeSL
72
__________________________________________________________________________ METODOLOGIA
Tabela 3.2
Variáveis e instrumentos de avaliação do estudo
IMC / estado nutricional da criança Avaliação do peso e altura corporal / critérios do CDC (2002)
para diagnóstico do estado nutricional da criança
73
___________________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Não existe uma medida perfeita para a avaliação da gordura corporal. Para
além dos métodos indiretos de avaliação de composição corporal (e.g., Pesagem
hidrostática, Densitometria Radiológica de Dupla Energia-DXA), existem métodos
duplamente indiretos (i.e., validados pelos métodos diretos): a bioimpedância e a
antropometria. Esta última inclui perímetros corporais (e.g., perímetros da cintura
e da anca) e medidas de pregas cutâneas (e.g., do braço e do tronco). O IMC14 é uma
medida da proporção massa–estatura, que embora não permita estimar a
quantidade de massa gorda e massa magra do indivíduo, tem sido considerado um
indicador da gordura corporal em crianças (Bellizzi & Dietz, 1999; Frelut, 2001;
Lobstein, Baur & Uauy, 2004). As comparações do IMC infantil com medidas menos
indiretas de composição/gordura corporal apresentam correlações entre os 0.50 e
0.85 (Himes & Dietz, 1994; Pietrobelli et al., 1998), com maior probabilidade de
algumas crianças com excesso de gordura corporal serem classificadas como tendo
peso normal do que o inverso (Lazaruz, Baur, Webb, & Blyth, 1996; Sardinha,
Going, Teixeira & Lohman, 1999).
O IMC permite a utilização de critérios de diagnóstico do estado nutricional
da criança (e.g., baixo peso, peso normal, pré-obesidade e obesidade). O IMC da
criança altera-se substancialmente ao longo da infância (obesity rebound), pelo que
14
O cálculo do IMC é feito através da fórmula: IMC = peso / altura 2
74
__________________________________________________________________________ METODOLOGIA
Tabela 3.3
Descrição dos critérios de diagnóstico do estado nutricional para crianças
International Obesity Centre for Disease NHANES/WHO
Task Force (IOTF) Control and Prevention
(CDC)
DEFINIÇÃO DO
ESTADO
NUTRICIONAL
Baixo peso <18,5 kg/m2 <P5 IMC/idade ≤ -2 DP*
Pré-obesidade ≥25 kg/m2 ≥P85 IMC/idade ≥ 1DP* a
Obesidade ≥30 kg/m2 ≥P95 IMC/idade ≥ +2DP* b
*Desvio padrão da mediana da amostra de referência
aDefine o ponto de corte para pré-obesidade + obesidade; equivale ao P85 e ao IMC de 25kg/m2 na idade adulta
bCorresponde ao P97 e ao IMC=30kg/m2 aos 19 anos
75
___________________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
76
__________________________________________________________________________ METODOLOGIA
Tabela 3.4
Comparação da prevalência de excesso de peso e obesidade usando diferentes critérios de diagnóstico
(Fonte: Flegal e al., 2001)
6-8 anos 12-14 anos
77
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Hábitos alimentares
78
__________________________________________________________________________ METODOLOGIA
Tabela 3.5
Métodos de avaliação da dieta
Registos Registo pelo indivíduo, logo a seguir à Melhor forma de obter Registos tendem a
Alimentares ingestão, de tudo o que come e bebe e informação quantitativa subestimar a ingestão
respetivas quantidades, durante um período fidedigna dos alimentos real ao que acresce o
específico de dias (3-4). Deve ser seguido de ingeridos durante o efeito reativo do
entrevista para clarificar os registos feitos e período de registo. autoregisto.
identificar esquecimentos. A taxa de adesão é baixa.
Foram já utilizados autoregistos alimentares Com crianças a
por crianças, utilizando imagens e em forma informação recolhida é
de pergunta fechada (i.e., a criança assinala mais limitada.
a figura correspondente ao grupo de
alimentos que ingeriu), mas não permitem
uma informação tão aprofundada como em
adultos.
79
___________________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Frequência É pedido aos sujeitos que relatem a Adequa-se à recolha de A informação sobre o
alimentar frequência com que ingerem um ou informação sobre a dieta modo de confeção ou a
mais tipos de alimentos. Para estimar o habitual do sujeito e também combinação dos
valor nutricional pode incorporar para avaliar alterações de alimentos às refeições é
questões sobre as porções ingeridas. dieta. A recolha e o limitada.
processamento de dados são O cálculo da ingestão
simplificados em relação aos nutricional é geralmente
restantes métodos. sobrestimado.
Métodos Consistem em questionários com listas Permite, de forma rápida, Não permite a avaliação
breves de de alimentos em que o respondente avaliar de um modo geral a da ingestão diária de
avaliação assinala em resposta fechada a dieta do indivíduo ou a sua nutrientes. Os estudos de
dietética frequência de ingestão ou somente se ingestão de alimentos correlação com outros
consome ou não. A quantidade de específicos (ex.: alimentos métodos de avaliação
alimentos sobre a qual o sujeito é ricos em gordura). podem ser específicos
inquirido pode ser variada (e.g.: entre Adequa-se a situações em para uma população mas
13 a 100 ou mais). Pode incidir sobre que se pretende uma não para outra com
outros comportamentos alimentares avaliação de parte da dieta diferentes padrões
que não a ingestão de alimentos ou em que não seja alimentares.
específicos (ex.: número de refeições necessário a fiabilidade
diárias). Apresenta correlações quantitativa de nutrientes
satisfatórias com outros métodos de ingeridos. Adequa-se
avaliação dietética. também à avaliação de
mudanças de dieta.
É especialmente indicado
para triagens de um número
elevado de sujeitos e para a
sua classificação em grupos
de risco diferenciado.
80
__________________________________________________________________________ METODOLOGIA
Históricos Método que avalia a ingestão alimentar Permite a avaliação do A extensão do período
da dieta em que são focadas muitas padrão das refeições e da avaliado implica o
características das refeições e dos ingestão alimentar por um aumento dos efeitos da
alimentos habitualmente consumidos, período longo, assim como o subjetividade dos
para além da frequência e quantidade modo de confeção e a respondentes. É um
ingerida. Abrangem um período de associação de alimentos. método pouco
avaliação geralmente superior aos Permite também a avaliação estandardizado e que
outros métodos. de comportamentos exige profissionais
relevantes para a dieta (e.g., treinados.
retirar a pele ao frango).
Atendendo aos objetivos deste trabalho, ficou claro que não se pretendia a
determinação de nutrientes ingeridos, pelo que não seriam necessários
instrumentos que recolhessem informação nutricional muito detalhada. Teve-se
também como critério optar um instrumento de preenchimento simples e rápido,
visto que os pais tinham de responder a um número alargado de questionários.
Assim, foram excluídos os métodos de registo alimentar, frequência alimentar e
24-hour recall. Os dois últimos métodos exigiam também uma formação
aprofundada por parte dos avaliadores, bem como a presença de todos os pais nos
jardins-de-infância para a avaliação, o que reduziria drasticamente a taxa de
adesão. A mais-valia informacional dos históricos de dieta não era relevante para
os objetivos da avaliação, apresentando este método os inconvenientes já referidos
anteriormente.
Optou-se pelos métodos breves de avaliação dietética, pois a perda de
informação que implicam em relação aos restantes não representava um
inconveniente relevante para o presente estudo, são de aplicação mais fácil e
permitem a introdução de outros comportamentos alimentares para além da
frequência de ingestão de alimentos (e.g., número de refeições e variedade
alimentar). Paralelamente apresentam boas correlações com outros métodos de
avaliação dietética (Beresford et al., 1992; Connor et al., 1992; Kinlay, Heller &
81
___________________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Halliday, 1991; Kristal, Abrams et al., 1990; Kristal, Shatuck & Henry, 1990;
Trieber et al. 1990).
Existem bastantes questionários breves de avaliação dietética, na sua
maioria extensos, que avaliam diferentes aspetos, como (a) a ingestão de um
nutriente (e.g., Morin, Herrmann, Ammann, Uebelhart & Rizzoli, 2005) ou de
alimentos específicos como frutas, vegetais (e.g., Thompsom, Subar, Smith et al.,
2002) ou gorduras (e.g., Coates e tal., 1995), (b) a eficácia de intervenções,
geralmente incidindo somente sobre os comportamentos alvo dessas mesmas
intervenções (e.g., Kristal et al., 1998; California Department of Health Services and
the Public Health Institute, 2005) (c) ou comportamentos de ingestão ou
preparação (e,g., opção por produtos magros, remoção da gordura da carne e da
pele das aves), geralmente relacionados com a ingestão de gordura, como o Eating
behaviors Questionnaire (Kristal et al., 1990), cujas últimas versões incorporam já
questões sobre ingestão de outros nutrientes e também comportamentos de
ingestão emocional e consumo compulsivo de snacks.
A informação sobre os hábitos alimentares de crianças pré-escolares é
normalmente recolhida junto dos pais (Burrows, Martin & Collins, 2010; Falcão-
Gomes, Coelho & Schmitz, 2006; Thopmson & Byers, 1994). Optámos por esta
alternativa pois antes dos 7-8 anos as crianças têm dificuldade em se lembrarem
do que comeram, cooperam pouco nos inquéritos alimentares e desconhecem
alguns dos alimentos sobre os quais são inquiridos (Baxter, Thompson, Litaker,
Frye & Guinn, 2002; Livingstone & Robson, 2000; Pereira, Fisberg, Brasil, Abreu,
Pacheco & Vasconcelos, 1997).
No presente estudo, a avaliação dos hábitos alimentares tinha como
objetivo diferenciar os comportamentos alimentares das crianças da amostra com
base em critérios gerais orientadores de uma alimentação saudável infantil, não
visando quantificar a ingestão de nutrientes ou de alimentos específicos. Por outro
lado, a inexistência de questionários breves e adaptados às necessidades
alimentares de crianças pré-escolares criou a necessidade de construir um
questionário específico para este estudo.
Os documentos de referência para a definição de uma alimentação saudável,
tanto os nacionais da DGS (Nunes & Breda, 2005) como os internacionais (USDA,
2008; 2011), incluem os seguintes critérios: mínimo de seis refeições diárias,
82
__________________________________________________________________________ METODOLOGIA
83
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15
Os valores do Alpha de Cronbach do questionário, obtidos com os resultados do estudo prévio,
foram: 0,67 para o grupo de questões relativa à frequência de refeições diárias, 0,62 para a
frequência de ingestão de alimentos específicos, 0.,81 para a variedade alimentar e 0,74 para o
resultado global.
84
__________________________________________________________________________ METODOLOGIA
Preferências Alimentares
85
___________________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
16 Alimento a ingerir raramente – alimento ou um conjunto de alimentos que as crianças de 5/6 anos não
devem comer ou então comer com pouca frequência. São alimentos que de uma forma geral apresentam
desvantagens para a saúde da criança.
Alimento a ingerir com frequência média - alimento ou um conjunto de alimentos que as crianças de 5/6 anos
podem comer com alguma moderação. Pode ser um alimento que deve fazer parte da dieta da criança mas que
não deve ser consumido muitas vezes por dia / semana.
Alimento a ingerir frequentemente – Alimento cujo consumo apresenta essencialmente vantagens para a
saúde da criança e cuja quantidade ideal a ser consumida é maior do que os alimentos da categoria anterior.
86
__________________________________________________________________________ METODOLOGIA
Tabela 3.6
Avaliação das preferências alimentares - classificação dos alimentos de acordo com a frequência ideal
de ingestão
Alimentos a ingerir frequentemente Vegetais cozinhados, leite simples, maçã, peixe branco,
carne branca, sopa de vegetais, cerais matinais sem
adição de açúcar, queijos que não queijo fresco,
vegetais consumidos crus, sumo de laranja e água.
Alimentos a ingerir com frequência média Arroz, massas, pão, queijo fresco, batatas cozidas ou
em puré, sumo de laranja, feijões, iogurtes, banana,
carne vermelha e ovos.
Alimentos a ingerir raramente Cereais matinais doces com adição de açúcar, batatas
fritas, leite com chocolate ou outros sabores doces,
atum em lata, gelados, chocolate, refrigerantes, fruta
em calda, bolachas, gomas e piza.
87
___________________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
fotografia numa das caixas, consoante gostasse muito (caixa com símbolos verdes -
), gostasse assim-assim (caixa com símbolos laranjas - ) ou não gostasse (caixa
com símbolos vermelhos - ). Caso a criança não conhecesse o alimento passava-
se à fotografia seguinte.
A cotação das respostas apresenta-se no Anexo D. Os valores mais elevados
indicam preferências alimentares mais saudáveis.
No estudo prévio foi avaliada a validade convergente do instrumento
através da correlação das respostas das crianças com as dos pais, de acordo com
estudos anteriores sobre preferências alimentares infantis (Skinner et al., 2002).
Após a avaliação das preferências das crianças na ausência dos pais, foi pedido ao
pai/mãe que classificasse as preferências alimentares do filho utilizando a mesma
metodologia. Obteve-se um coeficiente de correlação elevado de 0.82 (p<0.001)
entre as respostas dos pais e das crianças.
A metodologia de avaliação das preferências alimentares descrita foi já
utilizada posteriormente em outros estudos com crianças pré-escolares e escolares
(Pataco, 2013; Viveiros, 2012),
17
Na aplicação do Child-Rearing Practices Q-sort a/o mãe/pai tem de distribuir 99 cartões com
afirmações que descrevem atitudes e valores parentais por 9 categorias em função da sua maior ou
menor concordância com a afirmação.
88
__________________________________________________________________________ METODOLOGIA
outros (Aunola, Stattin & Nurmi, 2000; Glasgow, Dornbusch, Troyer, Steinberg &
Ritter, 1997).
No presente estudo a metodologia de observação e codificação de
interações não se adequava à dimensão da amostra. O preenchimento dos
questionários pelos filhos era inviável, por razões óbvias. Assim optou-se pela
metodologia de questionário a ser preenchido pelos próprios pais. Destes, foram
analisados os questionários mais utilizados em estudos relacionados com os
comportamentos alimentares infantis: o Child Feeding Questionnaire (Birch et al.,
2001), o Parenting Feeding Questionnaire – PFQ 1 (Baugham et al, 2001), o
Parenting Practices Questionnaire (Robinson, Mandleco, Olsen & Hart, 1995), o
Parenting Scale (Arnold, O'Leary, Wolff & Acker, 1993) e o o Caregiver’s Feeding
Style Questionnaire (Hughes, Power, Fisher, Mueller, & Nicklas , 2005).
O Child Feeding Questionnaire avalia práticas parentais (utilização de
pressão para comer, restrição alimentar e controlo sobre comportamentos
alimentares) e perceções parentais (responsabilidade percebida, perceção do peso
da criança, perceção do próprio peso, preocupação com o peso da criança). Estas
sete subescalas são suportadas pela análise factorial, apresentando todas elas
valores de consistência interna superiores a 0,70. Para os objetivos do presente
estudo este questionário apresentava uma limitação: permite somente avaliar em
que medida os pais apresentam características do estilo autoritativo (orientador),
inviabilizando a identificação de outros estilos parentais.
O Parenting Feeding Questionnaire – PFQ é destinado a pais de crianças
entre os 2 e os 5 anos. Inclui questões sobre controlo parental nas quantidades de
alimentos ingeridas, estruturação das interações durante as refeições, utilização da
comida para alterar comportamentos da criança, utilização diária de biberão,
preocupação com o peso da criança e com as quantidades de alimentos ingeridas.
Depois de realizada a análise fatorial os itens foram agrupados em oito fatores. A
consistência interna dos itens de cada fator é baixa. Esta foi uma das razões que
levou a abandono deste questionário, acrescendo ainda o facto de que alguns das
questões remetiam para um período bastante anterior aos 5 anos (e.g., utilização
do biberão, introdução de dieta sólida), o que diminui a fidedignidade das
respostas. Foram também identificados algumas dificuldades de compreensão de
algumas perguntas (Jain et al. 2005), tendo sido posteriormente construído uma
89
___________________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
segunda forma do questionário – PFQ 2 (Powers, 2005), que contudo revelou uma
qualidade psicométrica ainda mais baixa que a do PFQ 1.
O Parenting Practices Questionnaire é constituído por 62 itens, adequados a
pais de crianças pré-escolares e de primeiro ciclo, que avaliam a utilização de três
dos estilos propostos por Baumrind (i.e., autoritativo, autoritário e permissivo).
Outro exemplo e o Parenting Scale, um questionário de origem clínica, é
constituído por 30 itens que avaliam práticas disciplinares disfuncionais dos pais,
permitindo identificar três estilos disciplinares: 1) laxismo, 2) hiper-reactividade,
3) verbosidade (Arnold, O'Leary, Wolff & Acker, 1993). Estes dois questionários
não são específicos para o comportamento alimentar da criança.
18
As normas de cotação do Caregiver’s Feeding Style Questionnaire pode ser consultada em:
https://www.bcm.edu/research/centers/childrens-nutrition-research-center/faculty/Scoring.pdf
90
__________________________________________________________________________ METODOLOGIA
19
No pré-teste do questionário traduzido os valores do Alpha de Cronbach foram de 0,81 (escala de
responsividade) e 0,88 (escala de exigência).
91
___________________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
rótulos). Por outro lado, algumas mães com níveis razoáveis de conhecimento
nutricional geral têm poucos conhecimentos específicos relativos à alimentação
infantil (Walker, Conn, Davies & Moore, 2007).
Um outro problema reside na fraca validação psicométrica da maioria dos
instrumentos utilizados nos trabalhos de investigação (Axelson & Brinberg, 1992;
Sapp & Jensen,1997; Wardle, Parmenter & Waller, 2000). Muitos autores
constroem questionários não validados e específicos para a investigação que
realizam, focando somente os aspetos do conhecimento nutricional que são
abordados no seu trabalho (e.g., consumo de vegetais e fruta).
Como ponto de partida para a pesquisa de um instrumento que avaliasse o
conhecimento nutricional parental definiram-se cinco critérios orientadores:
1. Utilização de um instrumento devidamente validado.
2. A avaliação do conhecimento nutricional dos pais deveria ser feita de uma
forma abrangente, tanto numa perspetiva pragmática (e.g., composição de
uma refeição saudável) como numa perspetiva mais teórica (e.g., principais
nutrientes de alimentos ingeridos).
3. O questionário deveria ter um nível médio de exigência, para permitir
diferenciar conhecimentos de uma população que na sua maioria recebeu já
informação nutricional básica.
4. Algumas questões do questionário deveriam referenciar-se especificamente
à alimentação infantil.
5. Ser um questionário de aplicação rápida, pelas razões apresentadas
anteriormente.
Da pesquisa realizada sobre questionários que avaliassem o conhecimento
nutricional foram seleccionados três que apresentavam estudos de validação: o
Nutrition Knowledge Test (Sapp & Jensen, 1997), o Nutrition Knowledge
Questionnaire (Parmenter & Wardle, 1999) e o General Nutrition Knowledge
Questionnaire for Adults (Gibson, Wardle & Watts, 1998)
O Nutrion Knowledge Test é um questionário de fácil aplicação, com 23 itens
de escolha dicotómica (e.g., O que tem mais fibra: sumo de laranja – maçã), que
incidem sobre o conhecimento da presença de nutrientes em alimentos comuns.
Este teste foi excluído por apresentar uma fiabilidade bastante baixa no estudo de
92
__________________________________________________________________________ METODOLOGIA
validação (Sapp et al., 1997) e por não focar nenhuma informação especificamente
relacionada com a alimentação infantil.
O Nutrition Knowledge Questionnaire apresenta boas qualidades
psicométricas (Parmenter & Wardle, 1999) e cobre várias áreas de conhecimento
nutricional: recomendações dos especialistas sobre alimentação saudável,
conteúdo nutricional dos alimentos, escolhas alimentares do dia-a-dia e relações
entre dieta e doença. Este questionário foi já aplicado em diversos estudos com
amostras de grande dimensão (Parmenter, Waller & Wardle, 2000; Wardle et al.,
2000) mas não apresenta questões específicas à alimentação infantil. Depois de
discutido com especialistas de Bioquímica Alimentar e de Psicologia da Saúde
identificou-se um nível de exigência de conhecimentos nutricionais
excessivamente elevado para a população portuguesa.
93
___________________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
94
__________________________________________________________________________ METODOLOGIA
20
No estudo prévio o valor do Alpha de Cronbach (0,69) indicou uma consistência interna razoável.
95
___________________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
21
O ponto médio foi calculado com a fórmula estatística correspondente: M = (X1+X2)/2, em que X1 é
o valor mais baixo e X2 o valor mais alto do intervalo considerado.
96
__________________________________________________________________________ METODOLOGIA
97
___________________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
categoria Quase sempre até 1 à categoria nunca) e calculou-se a média das duas
respostas. Depois, tendo sido obtidas médias que são valores fracionários, estas
foram recodificadas em novas categorias da seguinte forma: valor 5 – quase
sempre; valores entre 4 e 4,5 – bastantes vezes; entre 3 e 3,5 - às vezes; entre 1,5 e
2,5 - poucas vezes e o valor um 1 foi recodificado como nunca.
Perceção Parental do Peso da Criança. A avaliação desta dimensão tem sido feita
por quatro métodos: entrevista presencial (Huang e al., 2007; Maynard, 2003) ou
telefónica (Anjali, 2001; Boutelle et al., 2004), identificação de silhuetas
(Warschburger & Kröller, 2009; Intagliata et al., 2008; Edmunds, 2005; Contento,
Basch & Zybert, 2003), escala analógica visual (Etelson et al., 2003) e por pergunta
em questionário (Baughcum, Chamberlain, Deeks, Powers & Whitaker, 2000;
Carnell, Edwards, Croker, boniface & Wardle, 2005; Goodman, Hinden &
Khandelwal, 2000; He & Evans, 2007; Moore, Harris & Bradlyn, 2011; Rhea,
DeLago, Arscott-Mills, Mehata & Krisko, 2005). Optou-se por esta última pela
adequação ao estudo e pela sua fácil e já ampla aplicação.
Assim, para avaliar a perceção parental de peso foi utilizada a pergunta
fechada utilizada em outros estudos (Chaparro, Langellier, Kim & Whaley, 2011;
Grimmet, Croker, Carnell & Wardle, 2008): “Considero que o meu/minha filho(a),
para a sua idade e altura, tem”, sendo dadas três alternativas de resposta - peso a
menos, peso normal e peso a mais. Estas três alternativas de resposta já foram
utilizadas em estudos anteriores (Jackson, Strauss, Lee & Hunter, 1990; Young-
Hyman, 2000).
A partir da comparação das respostas parentais com o IMC das crianças foi
possível classificar dicotomicamente a perceção parental de peso (i.e.,
correcta/incorrecta) e também em relação ao tipo de avaliação feita pelos pais
(sobreavaliação, subavaliação e avaliação correta do peso da criança).
98
__________________________________________________________________________ METODOLOGIA
99
___________________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
100
__________________________________________________________________________ METODOLOGIA
Na tabela 3.7 apresenta-se uma síntese dos métodos de análise dos dados
para cada objetivo.
Tabela 3.7
Síntese dos objetivos e metodologia de análise de dados
101
___________________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
22 Este método não-hierárquico, para variáveis numéricas ou binárias, transfere cada indivíduo para o agrupamento cujo
centróide se encontra a menor distancia, com base no score final do questionário/instrumento de avaliação.
23 Este processo de agrupamento tenta assegurar que os casos agrupados sejam de facto casos próximos, segundo um
critério de incremento baseado no aumento da soma de quadrados, o algoritmo de Ward (fixado em 3 grupos) e a distância
euclidiana ao quadrado.
102
__________________________________________________________________________ METODOLOGIA
24 Para a escolha do método de seleção de variáveis foram analisados os três métodos sequenciais de seleção de variáveis
(i.e., forward, backward e stepwise) com os seguintes passos (Maroco, 2007): identificar quais as variáveis que são deixadas
de fora pelos três métodos em simultâneo. Eliminar estas variáveis da análise e fazer o ajustamento de um modelo mais
parcimonioso, com as restantes variáveis. O método forward foi selecionado com base no valor R 2 ajustado e através da
variância residual, em comparação com os restantes métodos.
25
A introdução de variáveis indicadoras (dummy) consiste em introduzir no modelo de regressão variáveis dicotómicas, uma
por cada categoria das variáveis ordinais. Permite analisar quais as categorias da variável que contribuem efetivamente na
predição da variável dependente (Maroco, 2007). O procedimento de introdução das variáveis indicadoras foi aplicado às
variáveis: Dimensão do Controlo parental, Estilo Parental, Autoeficácia e Preocupação com o peso.
103
___________________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
valor total fiável relativo aos hábitos alimentares. Para ultrapassar esta limitação,
procedeu-se à imputação de dados utilizando a técnica SRPI – Similar Response
Patern Imputation.26
Tomou-se o nível de significancia de 0,05 como referencia para todos os
testes estatísticos.
O tratamento estatístico foi realizado atraves do programa SPSS versoes 19
e 20.
3.2.1. Amostra
26
Com esta tecnica e atribuída uma resposta em falta num determinado item a um indivíduo, utilizando a resposta que e
dada por outro indivíduo que apresenta um perfil identico em outros itens em que existe resposta em ambos (i.e., matching).
Nem sempre e possível completar totalmente os dados em falta, por nao se encontrarem indivíduos com perfil de resposta
compatível com o que tem dados em falta. Por esta razao a amostra final para a analise de clusters ficou com 200 casos
depois da imputaçao.
104
__________________________________________________________________________ METODOLOGIA
Tabela 3.8
Grupos de pais entrevistados em função do IMC e dos hábitos alimentares da
criança
Número de pais
Grupos por IMC da criança
Pais de crianças obesas e pré-obesas 10
Pais de crianças com peso normal 16
Grupos por hábitos alimentares da criança
Pais de crianças com os melhores hábitos alimentares 11
Pais de crianças com os piores hábitos alimentares 7
3.2.2. Procedimento
105
___________________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Entrevista
106
__________________________________________________________________________ METODOLOGIA
Tabela 3.9
Temas da entrevista
Tema Definição do tema
Determinantes da alimentação saudável Fatores que os pais consideram influenciarem os
da criança comportamentos alimentares saudáveis da criança
107
___________________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Heeney, 2008). Estão também pouco estudadas as crenças que os pais têm
relativamente às preferências alimentares (Casey & Rozin, 1989). Assim será
relevante conhecer as significações parentais sobre os determinantes das
preferências alimentares e o modo como os pais vêm a possibilidade de
influenciarem as mesmas.
As consequências percebidas de um comportamento de saúde influenciam
as decisões relacionadas com esse comportamento (Leventhall et al., 1984;
Prochaska, Norcross & Diclemente, 1994). Assim incluiu-se esta temática, na
medida em que as significações sobre as consequências podem estar associadas à
motivação parental para promover comportamentos alimentares saudáveis do
filho.
As barreiras a um determinado comportamento e as estratégias disponíveis
para as confrontar são dois aspetos que, de acordo com o modelo da cognição
social (Bandura, 1986), são importantes para a perceção de autoeficácia. Com a
inclusão deste tema na entrevista não se pretendeu fazer uma avaliação do grau de
autoeficácia parental, já realizada no estudo quantitativo. Teve-se, sim, como
objetivo identificar as principais barreiras que os pais identificam e as estratégias
que utilizam quando se confrontam com dificuldades na implementação de uma
alimentação saudável do filho.
A exploração do último tema - modelos parentais explicativos do
desenvolvimento dos comportamentos alimentares saudáveis da criança - visa
aprofundar o modo como os pais compreendem o processo da aquisição de
comportamentos alimentares infantis. Face aos múltiplos determinantes e
barreiras, confrontando-se com informação nutricional diversa, com a realidade do
seu dia-a-dia, com os seus objetivos como pais e também com diferentes
perspetivas de qual o seu papel na determinação dos hábitos alimentares das
crianças, considerou-se importante perceber como coordenam os pais todos estes
dados. A identificação de diferentes tipos de modelos explicativos, a verificar-se,
poderia ser uma grelha de partida para abordagens diferenciadas de acordo com o
tipo de modelo parental.
Optou-se por entrevistas individuais (vs. grupos de discussão) por
permitirem uma expressão mais livre e espontânea por parte dos pais (em
particular para os pais de crianças com excesso de peso ou piores hábitos
108
__________________________________________________________________________ METODOLOGIA
alimentares) e também por ser uma metodologia que permitia maior flexibilidade
na marcação das entrevistas de acordo com as disponibilidades dos pais,
facilitando a participação a um maior número de sujeitos.
A opção pela entrevista semiestruturada teve em conta várias
considerações. Tal como a entrevista não estruturada é um método adequado à
exploração de perceções e opiniões dos entrevistados sobre temas complexos, mas
em relação a esta apresenta a vantagem de permitir uma abordagem padronizada
de temas pré definidos através do guião da entrevista, facilitando assim a
comparação de conteúdos. Considerámos igualmente esta metodologia mais
adequada do que a de entrevista estruturada pois permite utilizar questões de
aprofundamento (probing) que facilitam a recolha de toda a informação
necessária, a clarificação de conteúdos, a exploração de aspetos que se revelem
interessantes das verbalizações dos entrevistados e atenuam o efeito de
desejabilidade social que é mais forte em temas, como a alimentação infantil, sobre
os quais a maioria dos pais tem informação sobre os padrões socialmente
valorizados (Barribal, 1994).
As perguntas foram elaboradas tendo em consideração os critérios de
clareza necessários a uma entrevista (Foddy, 1996). O guião inicial da entrevista
foi revisto por duas psicólogas com experiência no contacto e entrevista com pais
no contexto de investigação em psicologia pediátrica, foi realizado um pré-teste a
três pais, sendo a versão final apresentada na tabela 3.10. Em todas as entrevistas
foi seguido este guião tendo-se recorrido a questões de aprofundamento.
109
Tabela 3.10
Guião da entrevista - Perguntas e objetivos
PERGUNTAS OBJECTIVOS
1 – O que é para si uma alimentação saudável para o seu filho? - Conhecer o conceito de alimentação saudável dos pais, para estabelecer uma base
comum de entendimento concetual entre o entrevistado e o entrevistador.
2 – Acha possível ter a certeza do que é a alimentação ideal para o seu filho de modo a promover - Identificar crenças /perceções dos pais relativas à possibilidade de conhecimento do que é
o máximo de bem-estar físico e psicológico? Se sim, como? Se não, Porquê? uma alimentação saudável e as suas implicações no processo parental relacionado com a
alimentação da criança.
3 - Como acaba por se decidir sobre o que deve fazer quando é confrontado(a) com novas
informações, diferentes do seu ponto de vista?
4 – Quais são as implicações de uma alimentação saudável para o seu filho, agora e no futuro? - Identificação das crenças/perceções parentais relativamente às vantagens (e
desvantagens) de uma alimentação saudável, a curto e ao longo prazo
5 - O que acha que influencia o que o seu filho come? De que modo pode influenciar estes - Identificação dos determinantes percecionados pelos pais
fatores?
- Identificação do papel atribuído às preferências alimentares como determinante do
comportamento alimentar da criança
7 – Qual o papel das preferências alimentares? Os pais podem influenciar as preferências
- Identificar as crenças/perceções dos pais sobre o processo de influência parental nos
alimentares? Se sim, como? Se não, Porquê? determinantes alimentares e em particular nas preferências alimentares
13 - O que a ajudaria a conseguir que a criança comesse mais vezes aquilo que acha melhor para
ela?
28
Na pergunta 14 as seguintes estratégias foram verbalizadas uma a uma, sendo os pais inquiridos sobre a sua utilização e eficácia na mudança dos comportamentos alimentares da criança.
1 - Ter alimentos saudáveis à disposição e/ou de fácil acesso; 2 - Dificultar a acessibilidade/exposição a alimentos não saudáveis (ex.: esconder, não ter em casa, não dar à criança); 3 – Dar várias vezes o alimento
à criança, para ela se habituar; 4 - Fazer refeições atrativas (cor e aspeto); 5 - Preparação dos alimentos de modo a facilitar a ingestão (ex.: reduzir a puré, adicionar outras coisas de que ele/a gosta);
6 - Adicionar açúcar/sal aos alimentos; 7 – Dar os alimentos à boca; 8 - Planear refeições; 9 - Fazer brincadeiras associadas ao alimento/refeição; 10 - Premiar a ingestão do alimento dando-lhe outros alimentos
de que a criança gosta; 11 – Explicar à criança porque deve comer certos alimentos e outros não; 12 - Deixar a criança escolher entre opções saudáveis; 13 - Deixar a criança decidir o que come entre opções
saudáveis e não saudáveis; 14 - Deixar a criança decidir quando come; 15 - Deixar a criança decidir a quantidade que come; 16 - Permitir que a criança que colabore nas decisões de compras alimentares;
17 - Tomar decisões em família sobre alimentação (ex: mudança de horas de refeições, decisões sobre o tipo de alimentos); 18 - Negociar com a criança; 19 - Proibir de comer os alimentos que acha
inadequados; 20 - Castigar, quando a criança não come aquilo que quer que ela coma; 21 - Insistir verbalmente para ela comer; 22 - Criar regras; 23 – Repreender/ralhar; 24 – Comer o mesmo que quer que
a criança coma, para que sirva de modelo; 25 – Tentar que outras pessoas (ex: outros familiares ou amigos) convençam a criança a comer o alimento; 26 - Procurar informação (ex: Consultar um profissional
de saúde; internet; livros); 27 – Não fazer nada: 28 – Tenta distrair a criança (ex.: comer a ver tv, brincar enquanto come)
29
As estratégias parentais utilizadas para a pergunta 14 foram baseadas num trabalho anterior da autora (Andrade, 2012) sobre autoeficácia parental na mudança de comportamentos alimentares em crianças
dos 2 aos 12 anos.
111
___________________________________________ DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
30 Para efeito deste estudo considera-se a frase como um conjunto de palavras seguidas que constitui um enunciado de
sentido completo capaz de transmitir uma ideia. Pode ser constituída por um ou mais períodos seguidos.
31 Cada frase atribuída a uma categoria foi quantificada como uma unidade, independentemente de já terem sido registadas
112
4.
RESULTADOS
Caracterização da amostra
Determinantes e fatores correlatos do
comportamento alimentar infantil
Significações parentais relacionadas com a
alimentação infantil
113
__________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Tabela 4.1
Caracterização sociodemográfica específica às crianças
N % N %
Sexo Tempo de gestação
Feminino 118 51,1% De termo 214 92,6%
Masculino 113 48,9% Prematuro 13 5,6%
Problemas de saúde com duração superior a 6 meses Leve (36-32 semanas) 10 4,3%
Não 203 87,9% Moderado (31-28 semanas) 2 0,9%
Sim 18 7,8% Extremo (<28 semanas) 1 0,4%
Respiratórias e/ou alérgicas 11 4,8% NR 4 2,6%
Oftalmológicos ou Auditivas 3 1,3% Restrições alimentares
Cardiovasculares 3 1,3% Sem restrições 221 95,7%
Outras 2 0,9% Exclusão de carne ou carne de porco 5 2,2%
NR 10 4,3% Dieta baixa em colesterol 1 0,4%
NR 4 1,7%
NR – não responderam
114
____________________________________________________________________________RESULTADOS
115
__________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Tabela 4.2
Caracterização sociodemográfica da família
116
____________________________________________________________________________RESULTADOS
Tabela 4.3
Frequência de refeições durante os dias de semana
N %a N %a N %a N %b
117
__________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Tabela 4.4
Frequência de refeições durante o fim-de-semana
N %a N %a N %a N %b
118
____________________________________________________________________________RESULTADOS
Tabela 4.5
Frequência de ingestão de alimentos
Frequência de ingestão de alimentos NR
Inadequada Adequada
N %a N %a N %b
a Percentagem sobre o total de casos válidos. b Percentagem sobre o total de casos da amostra.
D Ingestão inadequada por défice E Ingestão inadequada por excesso
119
__________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Tabela 4.6
Variedade alimentar (valores para o período de uma semana)
Mais de 5
1 variedade 2-3 variedades 4-5 variedades NR
variedades
N %a N %a N %a N %a N %b
Cereais e
alimentos à 38 18,1% 103 49% 52 24,8% 17 8,1% 21 9,1%
base de cereais
a Percentagem sobre o total de casos válidos. b Percentagem sobre o total de casos da amostra
Tabela 4.7
Estatísticas descritivas dos hábitos alimentares (score total)
N Min Max Média DP
200 45 78 65,18 6,08
32
Para a substituição dos missing cases foi feita a imputação de dados utilizando a técnica SRPI – Similar
Response Patern Imputation
120
____________________________________________________________________________RESULTADOS
IMC da criança
Tabela 4.8
Frequências absolutas e relativas das categorias do estado nutricional das crianças
N %
Pré obesidade
36 17,4
Obesidade
38 18,4
Total
207 100,0
Mais de metade das crianças tem peso normal sendo que 35,8% apresenta
excesso de peso (i.e., pré obesidade e obesidade).
33
Neste capítulo e nos seguintes os termos estado nutricional e IMC serão utilizadas de forma
indistinta
122
____________________________________________________________________________RESULTADOS
Tabela 4.9
Estatísticas descritivas das preferências alimentares das crianças
N 220
Min -23,5
Max 46,5
Média 5,53
DP 9,64
Percentis
25 -,50
50 6,25
75 12,50
123
__________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Tabela 4.10
Tempo de visionamento de televisão nos dias úteis e ao fim-de-semana
Dias úteis Fim-de-semana
N % N %
Tempo de visionamento de
TV
0 horas 7 3,1% 2 0,9%
1-2 horas 159 70,7% 68 30,2%
3-4 horas 52 23,1% 106 47,2%
5-6 horas 5 2,2% 37 16,4%
mais de 6 horas 2 0,9% 12 5,3%
Durante os dias úteis a maioria das crianças vê 1 a 2 horas de televisão por dia,
enquanto aos fins-de-semana a maioria vê entre 3 a 4 horas diárias.
Concomitantemente, só 3,1% das crianças visionam cinco ou mais horas diárias de
televisão durante os dias úteis e 21,7% vê o mesmo número de horas ao fim de
semana.
124
____________________________________________________________________________RESULTADOS
Tabela 4.11
Tempo médio semanal de visionamento de televisão
N %
5 -10 horas 6 2,6%
10,5-20 horas 156 69,6%
20,5-30 horas 52 21,2%
30,5-50 horas 4 1,7%
40,5-50 horas 6 2,6%
Total 224 100%
Estilos parentais
125
__________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Tabela 4.12
Estatísticas descritivas das dimensões parentais
Exigência Responsividade
N 224 224
Mínimo 1,53 0,66
Máximo 4,74 1,59
Média 2,77 1,05
DP 0,55 0,15
40,0% 36,3%
35,0%
30,5%
30,0%
25,0%
20,0% 17,9%
15,2%
15,0%
10,0%
N=68 N=34 N=81 N=40
5,0%
0,0%
Autoritário Orientador Permissivo Não Envolvido
Estilo Parental Alimentar
126
____________________________________________________________________________RESULTADOS
Conhecimento nutricional
Tabela 4.13
Estatísticas descritivas do conhecimento nutricional
N 219
Mínimo 7
Máximo 44
Média 30,12
DP 6,69
Percentis
25 25
50 31
75 35
127
__________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
128
____________________________________________________________________________RESULTADOS
peso a mais, para a idade e altura da criança), relativos a cada uma das categorias
de IMC da criança.
Tabela 4.14
Perceção parental de peso por categoria de IMC da criança
N % N % N % N %
Verifica-se que enquanto a totalidade dos pais das crianças com baixo peso
sobreavalia o peso da criança, a maioria dos pais de crianças pré-obesas (97,2%) e
obesas (88,9%) subavaliam o peso do seu filho. O mesmo já não acontece com os
pais das crianças normoponderais, dos quais só 23,7% têm uma perceção errada
do estado nutricional da criança.
Tabela 4.15
Perceção parental de peso nas categorias correta e incorreta
N %
Perceção incorreta de peso 100 51,3%
Subestimação 86 44,1%
Sobrestimação 14 7,2%
Perceção correta de peso 95 48,7%
Tabela 4.16
Preocupação parental, atribuições parentais de autoeficácia e de controlo
N % N % N %
A maioria dos pais tem uma atribuição de autoeficácia elevada (tabela 4.16). Esta
tendência traduz-se pela categoria quase sempre ser a mais escolhida e ainda pelo
facto de 77,5% dos pais responder que se sente quase sempre ou bastantes vezes
capaz de fazer com que o filho tenha uma alimentação saudável. Apenas 3%
respondem poucas vezes e nenhum pai responde nunca.
130
____________________________________________________________________________RESULTADOS
Observou-se (tabela 4.16) uma tendência para valores elevados, sendo que 78%
dos pais afirma que controla quase sempre ou bastantes vezes o que a criança come,
embora 18% dos pais considera que só às vezes consegue exercer este controlo.
131
__________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Tabela 4.17
Teste de independência dos hábitos alimentares em relação ao sexo da criança
Teste de Levena para
igualdade de variâncias Teste t para igualdade de médias
P Diferença entre
F p t gl
bilateral as médias
Variâncias iguais
,669 ,414 ,101 193 ,920 -,088
assumidas
Variâncias iguais
,813 192,778 ,919 -,088
não assumidas
Tabela 4.18
Correlações entre o tempo de visionamento de televisão e os hábitos alimentares
rs p
34
Para este teste foram consideradas as quatro categorias de autoeficácia parental com frequências
superiores a zero (Quase sempre; Bastantes vezes; às vezes; Poucas vezes).
134
____________________________________________________________________________RESULTADOS
Tabela 4.19
Valores do teste t para comparação dos hábitos alimentares nas categorias de perceção parental de
peso da criança (Correto/Incorreto)
Teste de Levena para
igualdade de variâncias Teste t para igualdade de médias
P Diferença entre
F p t gl médias
bilateral
Figura 4.5. Síntese das relações entre os hábitos alimentares e as variáveis parentais
136
____________________________________________________________________________RESULTADOS
Tabela 4.20
Modelo de regressão linear (método forward) dos hábitos alimentares
B
Erro padrão
Variável β (coeficientes t P(t)
de β
standardizados)
137
__________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Tabela 4.21
Valores centrais do conhecimento nutricional parental das duas categorias de idade do adulto
Idade do adulto N Valor central do conhecimento nutricional
18-34 anos 97 93,94
35-54 anos 112 114,58
Total 209
Tabela 4.22
Valores centrais do conhecimento nutricional nas categorias de escolaridade
Total 222
138
____________________________________________________________________________RESULTADOS
Tabela 4.23
Valores centrais do conhecimento nutricional nas categorias profissionais do adulto
Outros 32 64,84
Total 206
35
Dado a existência de algumas categorias profissionais com frequências absolutas baixas, as dez categorias
profissionais propostas no CPP/2010 foram agrupadas em sete, conforme referido no capítulo 3
139
__________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
140
____________________________________________________________________________RESULTADOS
Tabela 4.24
Valores centrais de conhecimento nutricional das categorias da atribuição de controlo parental
N Valor central
Atribuição de controlo parental
Quase sempre 32 122,72
Total 206 -
Figura 4.6. Síntese das relações entre o conhecimento nutricional e variáveis parentais
141
__________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
142
____________________________________________________________________________RESULTADOS
Tabela 4.25
Valores dos testes de associação da perceção parental de peso com as variáveis sociodemográficas
Variáveis demográficas 2 p
Sexo da criança 0,021 1,000
Idade parental 0,549 0,553
Escolaridade parental 0,510 0,775
Profissão parental 4,366 0,627
Tabela 4.26
Grupos de cruzamento entre a perceção parental de peso e o conhecimento nutricional
Correta Incorreta
N (%) N (%)
143
__________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Tabela 4.27
Perceção parental de peso por preocupação parental com o peso da criança
Perceção parental de peso
Preocupação parental Correta Incorreta
N(%) N(%)
144
____________________________________________________________________________RESULTADOS
Tabela 4.28
Valores centrais da atribuição de controlo nos dois grupos de perceção parental de peso
N Valor central da
atribuição de controlo
Correcta 91 103,18
Perceção parental de peso
Incorrecta
99 87,15
Total 190
Tabela 4.29
Valores dos testes de correlação entre preocupação parental, atribuição parental de autoeficácia e de
controlo
Preocupação com o Atribuição de
peso Autoeficácia
Preocupação com o peso Coeficiente de
- -0,248**
1
correlação
Sig. (2-tailed) - 0,000
N - 225
Atribuição de controlo Coeficiente de
-0,208* 0,434**
parental correlação1
Sig. (2-tailed) 0,002 0,000
N 224 223
1
Correlação de Spearmen; **p< 0,005; * p<0,05
146
____________________________________________________________________________RESULTADOS
100%
20
90% 26,7
34,6
80%
70%
60% Melhores hábitos alimentares
57,1 Hábitos alimentares médios
50%
60
40% 52,3 Piores hábitos alimentares
30%
20%
22,9
10% 13,1 13,3
0%
Peso normal Pré-obesidade Obesidade
147
__________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Não se observou uma associação significativa entre sexo da criança e o IMC (2=
0,370, p= 0,831). As correlações do IMC com a idade parental36 (rs =0,006;
p=0,933) e com a escolaridade parental (rs=-0,036; p=0,594) são fracas e não
significativas. Não se verificou uma associação significativa entre o IMC e a origem
geográfica (2=2,843;p= 0,584) 37.
36
Idade parental nas oito categorias iniciais
37
Com a origem geográfica em três categorias: portuguesa, Africana e outra
148
____________________________________________________________________________RESULTADOS
149
__________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Tabela 4.30
Caracterização sociodemográfica dos pais entrevistados e respetivos filhos
Caracterização da criança
Sexo N
Feminino 11
Masculino 15
Restrição alimentar
Não 25
Sim 1
Caracterização dos entrevistados
Parentesco do entrevistado com a criança N
Mãe
23
Pai 2
Outro 1
Idade do adulto
25-34 15
35-44 11
Anos de escolaridade do adulto
5-9 anos 7
10-12 anos 11
Mais de 12 anos 8
Origem dos avós
Portuguesa ou predominante portuguesa 22
Africana ou predominante africana 3
Profissão /Ocupação do entrevistado
Quadros superiores e dirigentes 1
Especialistas intelectuais e científicos 5
Técnicos e profissionais de nível intermédio 3
Pessoal administrativo e similares 6
Pessoal de serviços e vendedores 1
Operários e artífices 1
Operadores de instalações e máquinas e trabalhadores da montagem 2
Trabalhadores não qualificados 9
150
____________________________________________________________________________RESULTADOS
151
_____________________________________________________________________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Tabela 4.31
Definições das categorias relativas às significações parentais sobre determinantes da alimentação saudável da criança
TEMA: DETERMINANTES DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL DA CRIANÇA
Preferências Preferências ou aversões por determinados alimentos ou grupo "Há coisas que já nascem connosco, que já são uma referência. Há coisas que eles não experimentam, olham, não
alimentares põe sequer à boca e dizem que não gostam, há coisas que nunca provaram e que dizem que gostam."
de alimentos, intrínsecas à criança.
inatas/intrínsecas
"Eu, em relação ao meu filho, sinto alguma dificuldade em fazê-lo experimentar algumas coisas. Ele tem uma
à criança
resistência muito grande àquilo que não conhece. E por isso demorei muito a introduzir algumas frutas porque ele
se recusava simplesmente a experimentar, e pronto"
"Acho que vai da própria criança, há crianças que não gostam de chocolates, outras que não gostam de leite ou de
iogurtes. Às vezes os pais insistem para eles comerem e eles não comem."
"Eu acho que a alimentação saudável era a gente dar de tudo um bocadinho no dia-a-dia, só que infelizmente eles
não querem. A minha B. não gosta de alface, o P. não gosta de couves, a B. não gosta de leite, o P. não gosta de
batatas cozidas."
Outros Fatores orgânicos e psicológicos considerados como intrínsecos "Ele tem tendência para fazer muitas amigdalites. Quando começa já sei: “ lá vamos nós, não vai comer nada“, e
não consigo que ele coma nada de jeito. Isto é frequente"
à criança (e.g., doença, capacidades cognitivas para
compreender, personalidade). "Porque a gente também tem de compreender que ele agora tem uma idade que não percebe certas coisas, e que
depois com o desenvolvimento, ele vai perceber, vai ter outros conhecimentos, vai-se alimentando melhor."
"Se for uma criança que tenha um bom raciocínio, ajuda um bocadinho, basta falar com ele, ou vê qualquer coisa
na televisão que ele consiga perceber que facilita as coisas aos pais, é normal. Agora se for uma criança com pouco
raciocínio, claro que as coisas são mais complicadas, lá vai entrar naquela história das coisas de que ela gosta e as
birras que vai fazer à volta disso"
“Há crianças mais difíceis, algumas usam as refeições para contrariar, ou para fazer braço de ferro com os pais. É
mesmo deles e depois mantêm a mesma teimosia de que não querem isto ou aquilo. Há miúdos que com isto
acabam sempre por comer a mesma coisa, tipo hambúrguer todos os dias. ”
152
_____________________________________________________________________________________________________________________________________R ESULTADOS
Determinantes adquiridos
Culturais/Exposição Alimentação influenciada pela passagem geracional de "Se calhar as pessoas que estão mais próximas de nós, e aquilo que elas nos passaram, influenciam o que nós damos
aos nossos filhos."
hábitos e tradições alimentares, através do contacto
com a família alargada ou com outros agentes de "As crianças que se transformam em adultos normalmente levam os hábitos que têm de casa. É importante ter esta
alimentação equilibrado por causa disto. Eles ganham autonomia mas existe uma base que se conserva"
socialização. Inclui a influência da exposição aos
"
alimentos desde que não seja referida como um modo
"Isso depende dos pais, e principalmente de quem cozinha, da pessoa que cozinha. Do que gostam ou não gostam,
intencional por parte dos pais para a promoção de
vai dos pais, não tem nada a ver com a televisão nem com eles próprios. Quem cozinha está habituada a comer
comportamentos alimentares específicos. aquilo, e normalmente fazem porque acham que é melhor."
Parentais Comportamentos intencionais dos pais para "Também vai dos pais incentivarem a comer certos alimentos, de os servirem ou levarem a criança a comer menos."
promoverem/modificarem certos comportamentos
"Acho que o exemplo tem de vir sempre de casa. Nós não podemos dizer «Não faças» e depois sermos os primeiros
alimentares. A influência parental é referida de um a fazer."
modo geral ou mencionando estratégias parentais
"Ele é extremamente olfativo, cheira tudo, qualquer coisa mete no nariz para ver como cheira, e a cozinha para ele, a
específicas. Inclui a exposição intencional a preparação dos alimentos é uma coisa fascinante, portanto de nós queremos que ele coma é “vem fazer o jantar”, o
estar a mexer, a fazer, a amassar, fica motivado e gosta de provar"
determinados alimentos.
"Eu costumo perguntar “como é que se sentem depois de comerem aquilo que se calhar não faz tão bem?” Acho que
eles acabam por valorizar aquilo que o pai e a mãe dizem.
"Ouço as pessoas queixarem-se que não é possível fazer porque não têm tempo. Eu não, porque tento arranjar
sempre tempo para que tenham uma alimentação saudável. Mesmo quando estava a trabalhar, às vezes já eram 5
da manhã e já estava a fazer comidinha, para ficar tudo pronto. Eu acho que depende das pessoas e da forma como
encaram a saúde dos filhos, o bem-estar dos filhos."
"Eu agora comecei a criar regras e resulta porque ela já não come tanto aos lanches."
"Temos de ter um diálogo com eles, para que os filhos quando podem escolher o que comem pensem «espera lá,
que os meus pais não querem que eu coma assim» ".
"Os pais têm de estar atentos ao que a criança gosta mas ir-lhe dando outros alimentos para eles se habituarem."
153
_____________________________________________________________________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Modelagem A motivação para comer determinados "Se comermos e eles nos virem a comer pode resultar. Depois há aquela expectativa de provarem e até resulta!"
alimentos e recusar outros é influenciada pela
"Devem dar o exemplo, porque uma coisa é comerem de forma variada e darem o exemplo e outra é dizerem aos miúdos para
imitação dos pais, dos pares ou de outros comerem isto ou aquilo quando eles só comem o que não devem."
modelos.
"Ela tinha experimentado o kiwi e não gostou, e depois começou, os irmãos pegam e comem, e ela lá começou a interessar-
se."
"Ele vai a casa dos colegas e vê-os a comer coisas diferentes e depois vem para casa e diz para eu fazer igual."
Publicidade Alimentação determinada e influenciada pelo Eles às vezes insistem tanto e a publicidade é tanta que nós acabamos por deixá-los comer."
marketing e publicidade. Inclui referências da
"A publicidade influencia pela negativa, eu acho que eles deviam influenciar para as coisas que eles deviam comer: as sopas,
impotência dos pais face aos pedidos dos os legumes, as frutas, entre outras, mas não há publicidade para isso!"
alimentos publicitados.
"Reclames que ele presta mais atenção, que chamam mais à atenção, há aqueles bonecos, depois querem tudo desses
bonecos de que gostam. Isso já tem muito a ver com o marketing da televisão, que sempre teve muito peso nisto."
Refeições na escola Os hábitos alimentares adquiridos na escola Às vezes não é nada fácil. Na escola é mais fácil. Ele quando está na escolinha tem as suas ementas e, desde que veio para aqui
(escola), ele nunca teve problemas em comer o que lhe dão".
influenciam a alimentação infantil ao longo do
tempo. Inclui referências ao fato de na escola "A escola tenta ajudar também, impondo pratos, eles todos os dias têm um prato diferente e têm de ser muito criativos para
fazer pratos diferentes todos os dias. Ao irem impondo determinados pratos vão ajudando. Não se trata de obrigar, trata-se
as crianças serem obrigadas (não terem
de adequar."
alternativas) a comer alimentos saudáveis
"Ele vai ganhando gostos diferentes. Atualmente não gosta muito de fruta, espero que com o tempo ele passe a gostar mais e
como um determinante de alimentação
não coma só maçãs, que ele desde que anda aqui (escola) já come outras frutas. Em casa é sempre mais difícil que ele coma
saudável. fruta."
1 2
154
___________________________________________________________________________RESULTADOS
Outros inatos 6
Refeições escola 7
Modelagem 8
Publicidade 9
Culturais 11
Parentais 17
0 5 10 15 20
Unidades de registo
Figura 4.8. Categorias das significações parentais relativas aos determinantes de uma alimentação
saudável da criança – frequências absolutas das unidades de registo por categoria.
Nota. Total = 71 de unidades de registo
155
__________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Tabela 4.32
Definições das categorias relativas às significações parentais sobre os determinantes das preferências alimentares da
criança
Determinantes inatos Preferências alimentares "Eu acho que isso é um bocado difícil, a criança tem
sempre a sua vontade própria, não é? Pode-se
vistas como sendo
adaptar ao alimento, pode ingeri-lo de vez em
determinadas por fatores quando, mas não quer dizer que passe a gostar."
genéticos e/ou intrínsecos
"Quer dizer, nós podemos tentar e incutir neles essa
à criança. ideia de comerem menos doces ou mais vegetais
mas é difícil, porque às vezes já vai mesmo deles."
Determinantes adquiridos
156
___________________________________________________________________________RESULTADOS
Exposição a alimentos Preferências são adquiridas "Eles gostarem ou não tem tudo a ver com os
hábitos que se incutem e com aquilo que estão
através da exposição
habituados a comer em casa."
repetida de alimentos.
"Se estiverem expostas aos alimentos, as crianças
vão gostar, vão querer aquilo."
157
__________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Inatos 8
Exposição a alimentos 18
Estratégias parentais 8
Modelagem 8
0 5 10 15 20
unidades de registo
Figura 4.9. Categoria das significações parentais relativas aos determinantes das preferências
alimentares das crianças - frequências absolutas das unidades de registo por categoria
Nota. total = 42 unidades de registo
Tabela 4.33
Definições das categorias relativas às significações parentais sobre o grau de influência dos pais nas
preferências alimentares da criança
Categorias Definição Exemplos de unidades de registo
Predomínio da Pais consideram ter influência e Eu acho que sim, a gente consegue. Eu acho que,
nestas idades, a gente ainda consegue manobrar
influência serem o fator determinante das
as preferências. Tento explicar que aquilo faz
parental preferências alimentares dos bem."
filhos. Inclui também os pais
"Eu acho que sim, somos nós que cozinhamos.
que se veem como capazes de Pode-se influenciar na maneira de confecionar, na
maneira de apresentar. Há pratos engraçados,
ultrapassar eficazmente os
contar histórias, há sempre aquelas artimanhas
problemas criados pelas que se podem utilizar para eles comerem
alimentos que gostam menos."
preferências alimentares da
criança.
158
___________________________________________________________________________RESULTADOS
Influência parental limitada A influência parental nem "Tento que ele coma um bocadinho de
sempre tem resultados tudo, mas eu talvez faça mais aquilo
que ele gosta do que aquilo que ele
diretos nas preferências
não gosta."
alimentares da criança,
conjugando-se com outros "Há coisas que eles não comem
mesmo, mas outras se insistirmos eles
determinantes.
acabam por aceitar"
Pais referem que não têm "O que se influencia é eles comerem
Impossibilidade de influência controlo sobre as sem criar grandes confusões ou não,
parental agora as preferências acho que não. Já
preferências alimentares.
vai da pessoa e quando eles não
gostam, já não se faz nada deles."
Impossibilidade de influência
1
parental
0 2 4 6 8 10
Unidades de registo
159
__________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Tabela 4.34
Definições das categorias relativas às significações parentais sobre as consequências da alimentação e
peso saudáveis
Feedback O peso saudável evita situações de "Se elas forem obesas vão para a escola, eles
gozam uns com os outros e aí vai influenciar o
social feedback social negativo ou facilita a
estado psicológico."
integração social da criança.
"Principalmente em rapazes, se houver
diminuição física para fazer determinadas
atividades, haverá uma dificuldade de
integração."
Desempenho Uma alimentação saudável favorece "Se não comer coisas essenciais que lhe
escolar e façam bem, não tem capacidade de fazer os
um melhor rendimento escolar,
concentração trabalhos que lhe competem."
concentração e atenção.
"E depois também a capacidade de
aprendizagem do aluno, a alimentação
também tem muita importância. Porque não
é só o sono que é importante, mas também o
que comem fornece os nutrientes necessários
para conseguirem que o cérebro funcione de
forma mais produtiva."
160
___________________________________________________________________________RESULTADOS
Bem-estar A alimentação/peso saudável favorece "Se ela tiver um peso adequado, acho que ela
se vai sentir muito mais feliz ao longo da vida."
psicológico o bem-estar psicológico no geral,
incluindo também implicações mais "Se tiver uma alimentação mais variada, mais
saudável, vai ajudar a ter uma vida mais ativa,
específicos como a felicidade, a
vai ter mais vontade de pintar e isso, porque
motivação e a autoconfiança. aquilo que a gente come também influencia as
nossas atividades."
161
__________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Evitamento de Alimentação saudável como forma de Desde muito cedo, as crianças vão construindo as
suas reservas de determinados nutrientes
ingestão evitar a ingestão insuficiente de
essenciais ao organismo a partir da alimentação
nutricional nutrientes, o qual torna mais fácil à que elas fazem e vão mantendo essas reservas, ao
longo da vida."
insuficiente criança atingir os objetivos valorizados
pelos pais. São nomeados nutrientes ou "Uma criança mais ativa se calhar precisa de mais
alimentos energéticos do que uma não tão ativa,
funções / características destes.
por exemplo o caso do meu filho, ele é uma
criança que come muito, em quantidade, mas a
gente olha para ele e até nem diz. Porque é uma
criança que também queima muitas calorias. Ele
tem muita energia."
Energia e Alimentação saudável referida como "Tem de ter energia durante o dia todo e se não
comer coisas essenciais que lhe façam bem, ela
agilidade fornecedora de energia necessária para a
também não anda com muita vontade de brincar e
motora atividade motora, e/ou o peso normal interagir no jardim-de-infância."
referido como facilitador da agilidade e
"Uma criança que pese mais do que aquilo que
resistência nas atividades motoras. devia, não é uma criança, não vou dizer tão feliz,
mas não é uma criança que se consiga movimentar
bem. Não consegue correr tão bem como os
outros, a brincar queixa-se um bocadinho."
162
___________________________________________________________________________RESULTADOS
Crescimento Alimentação/peso saudável visto como "Acima de tudo é dar-lhe alimentos que a
ajudem a crescer."
promotor do crescimento e
desenvolvimento físico da criança. "A alimentação saudável é para que eles não
tenham problemas de crescimento"
Outras Alimentação/peso saudável como forma de "Porque se a criança não tiver uma alimentação
adequada e como deve ser, ou passar fome, a
evitar que a criança passe fome, emagreça
criança não tem forças, começa a emagrecer,
e/ou seja vítima de contaminação começa a não ter vocação para fazer nada…."
alimentar.
"Sim, isto a nível de alimentação… o que nós
comemos, hoje em dia, tudo leva químicos. E isto
vai afetar a criança."
Feedback social 8
Desempenho escolar 17
Hábitos alim futuros 24
Bem-estar psicológico 9
Saúde física 49
Evitamento da doença 37
Evitamento de ing. nutricional insuf. 24
Energia/agilidade 23
Crecimento 21
Outras físicas 8
0 10 20 30 40 50 60
164
___________________________________________________________________________RESULTADOS
Tabela 4.35
Definições das categorias relativas às significações parentais relacionadas com autoeficácia/barreiras a uma
alimentação saudável
Contexto Limitações económicas e/ou "Acho que é sobretudo o ser caro, porque um quilo de
socioeconómico características dos locais de venda carne não é igual a um quilo de peixe. Os legumes, por
exemplo, às vezes não é fácil encontrar as coisas mais
que dificultam a promoção de uma
apropriadas."
alimentação saudável da criança.
Inclui também as dificuldades "Hoje em dia, com a situação que se está a viver, é um
bocadinho complicado ter essa variedade. E então ai já
geradas pelas condições de trabalho
vai influenciar negativamente a alimentação deles. Vai
dos pais. haver aquele determinante - escolher esta ou aquela
fruta porque é mais económica - acaba tudo por
influenciar."
Frequência / Omissão de refeições ou substituição "Porque ele às vezes come bolachas já em cima das
tipo de de refeições por snacks ou alimentos refeições e depois quando chega à mesa não tem fome."
refeições
de saciação rápida.
"Às vezes a gente quer que ela coma o jantar e ela diz
que não quer jantar, quer um prato de Cerelac ou de
Nestum. A gente sabe que o prato de Nestum ou
Cerelac é uma refeição mais para o lanche, mas às vezes
a gente cede só para ela não ir para a cama sem nada no
estômago, como é costume."
Influências Barreiras relacionadas com a "Para quem queira seguir um determinado regime
externas publicidade e marketing ou com a começa a ser mais complicado para os pais, porque
basta um colega trazer não sei o quê e ele diz logo
influência atual de outras pessoas
‹‹porque o outro traz sempre, e come sempre, e eu
que não os pais, como avós, irmãos e não››”.
pares da criança.
"Digamos, há coisas que a publicidade diz que a gente
tem de lhes mostrar que não é bem assim. Mas acho
que cada vez temos mais dificuldade em provar, as
coisas são tão bem feitas que às vezes é complicado."
165
__________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Preferências Preferência da criança por alimentos "A gente também não pode estar a obrigar sempre, não
alimentares não saudáveis, aversão por alimentos é que não deva, mas se a gente andar sempre a obrigar,
ele quando chegar ao ponto de ser ele a escolher que
saudáveis ou por experimentar
aquilo é que faz bem, ele diz que já está farto, e não
alimentos novos. quer."
Pressão Efeito aversivo para os pais da "Ela tem de comer a quantidade que ela come, que ela
exercida pela insistência da criança em quer. Se eu forçar ela vai gritar e é pior. Ela come e
criança depois diz que não quer mais e não come."
comportamentos alimentares que
consideram inadequados. 38 "Acho que, falando por mim, vem de cansaço, vem de
uma certa dificuldade em resistir à pressão que a
publicidade faz, e os miúdos saem connosco ao
supermercado, querem metade dos corredores, porque
o amigo tem, porque há muitas ofertas, tudo tem
brinde, tudo tem brinquedo."
Emoções Dificuldade parental em concretizar "As emoções acabam sempre por influenciar. Se calhar,
parentais ações que promovam uma se estiver mais chateada tento fazer uma coisa mais
simples e mais rápida para não me estar a chatear, sem
alimentação saudável devido a
dúvida que isso às vezes acontece."
estados emocionais negativos dos
pais (ex.: stress, ambivalência). "Às vezes fico triste, fico aborrecida com ela, fico com
um nó no estômago porque ralho com ela e não gosto
que ela fique assim porque fica triste e enfim. Eu gosto
que a minha refeição seja uma refeição calma e
sossegada"
38
Quando, na verbalização, a pressão da criança é associada às preferências alimentares foi classificada
na subcategoria Preferências Alimentares
166
___________________________________________________________________________RESULTADOS
Frequência/tipo de refeições 3
Preferências alimentares 10
Emoções parentais 11
Pressão da criança 11
Contexto socioeconómico 12
Influências externas 15
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Figura 4.12. Categorias das significações parentais relativas às barreiras a uma alimentação
infantil saudável - frequências das unidades de registos por categoria - frequências das
unidades de registos por categoria
Nota. total = 62 unidades de registo
167
__________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Tabela 4.36
Definições das categorias relativas às significações parentais relacionadas com autoeficácia/estratégias
"A sopa se for toda passada já sei que levanta menos problemas,
por isso eu passo mesmo que seja só para ele."
Autogestão da Deixar a criança escolher as "Quando ele quer mais, a gente dá, mesmo que ele não vá comer,
criança quantidades ingeridas ou entre se ele não comer tudo, como já comeu, não faz mal."
alternativas saudáveis.
"Eu acho que sim, dentro da alimentação, se houver coisas que a
criança não gosta e prefira outras que também sejam saudáveis,
porque não adaptar? Eu acho que temos de ter em consideração
as características da criança. Acho que é importante porque senão
depois ela vai ganhar aversão ao comer."
Estratégias coercivas Proibir, castigar, insistir "Não resulta com os mais velhos, mas nestas idades eu uso
verbalmente, criar regras e/ou castigos: ‹‹Se não comes, não sais da mesa, não vais ver televisão,
não vais para aqui nem para ali….››. São as técnicas habituais que
repreender.
todos os pais praticam, é normal.”
"Em casa, tenho uma rotina. Se não comerem não têm as mesmas
recompensas do que se comerem"
Estratégias de Fazer brincadeiras nas Hoje em dia, uma mãe para lhe dar de comer, para conseguir que
condicionamento refeições ou associadas ao ele coma, tem de brincar com ele."
positivo
alimento. Reforçar a ingestão
"Se ela estiver a fazer fita, a fazer uma birra para não comer, sou
de alimentos saudáveis. capaz de mudar a disposição, de forma a que ela fique mais feliz
para comer."
168
___________________________________________________________________________RESULTADOS
Influências externas Modelagem e persuasão de terceiros "Ainda assim, a pessoa que melhor lhe dá a volta é o
(familiares ou outros). irmão mais velho, que consegue levar a experimentar
isto ou aquilo."
Acessibilidade Reduzir o acesso da criança a alimentos "A fruta está sempre em cima de mesa e acho que é
não saudáveis e/ou facilitar o acesso a importante porque mais facilmente ele vai buscar um
iogurte ou uma peça de frutas do que um pacote de
alimentos saudáveis.
bolachas, que não está tão acessível."
169
__________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Planear refeições 6
Condiciona mento positivo 6
Procura de informação 8
Alteração das refeições 8
Estratégias coercivas 10
Acessibilidade 12
Influências externas 16
Autogestão da criança 20
Dar informação à criança 32
0 5 10 15 20 25 30 35
171
________________________________________________________________________________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Tabela 4.37
Definições das categorias relativas aos modelos parentais explicativos do desenvolvimento dos comportamentos alimentares saudáveis da criança
Categorias Definição Exemplos de unidades de registo
Centração em Os pais só conseguem que a criança tenha uma "Eu não consigo nada a não ser aos fins-de-semana. Ele passa mais tempo com os avós do que com os pais e
fatores alimentação saudável quando os determinantes os avós acabam por fazer todas as vontades ao menino, porque acham que o menino não pode chorar nem
externos fazer birra. Passa mais tempo com os avós e são esses os hábitos alimentares que ele aprende."
externos aos pais e à criança são favoráveis. Os fatores
externos explicam os comportamentos menos "Com o marketing acho que se torna muito difícil. Aquilo que nós compramos, também não controlamos o
saudáveis. que possui ou como é tratado!"
Centração na criança
Características A probabilidade dos pais conseguirem que a criança "É assim, se ela gosta come, se não gosta não come".
psicológicas da tenha uma alimentação saudável está inversamente
criança "Birras, ela faz muitas birras sempre que não quer comer e no supermercado quando quer que a gente lhe
relacionada com as reações negativas desta às
compre coisas. Quando ela faz isso já sei que não consigo nada."
propostas alimentares dos pais. Estas reações das
crianças dependem de características intrínsecas como "Ele ainda não percebe a vantagem de comer isto ou aquilo. Quando for mais velho já vai perceber."
Negação ou não A ausência de ações parentais para o controlo da "Sim, porque se a gente não controlar então eles comem só porcarias, porque hoje em dia se vir, aliás, se os
reconhecimento alimentação da criança resulta em comportamentos deixarem, eles só comem porcarias. As batatas fritas, as gomas…"
da capacidade de
alimentares errados da criança. Integra a perceção de " Às refeições eu sirvo o prato e digo: podes comer. Porque se eu a deixo comer, ela come o que ela quer,
autorregulação da
criança que as opções autónomas da criança são sempre não porque ela come muito, só para quando está cheia"
saudáveis.
172
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________R ESULTADOS
Valorização da O controlo exaustivo sobre o que a criança come não é "Não, eu com o D. acho que não é preciso nós andarmos sempre em cima, a nível de alimentação, não sinto
capacidade necessário pois a criança tem capacidade para se necessidade de controlar constantemente. Ele chega a um ponto que ele próprio já está habituado a dizer:
Para, não como mais, estou satisfeito. Ele próprio já está habituado."
de autorregular, em termos de quantidade e/ou qualidade
autorregulação dos alimentos ingeridos.
alimentar da
criança
Presença Uma condição indispensável para que os pais promovam "Quando está connosco é fácil, agora se não estiver sempre connosco, é um bocadinho complicado porque a
parental uma alimentação saudável é estarem presentes quando a gente não pode estar ali sempre em cima, se ela estiver em algum lado a gente não pode dizer «come isto e
aquilo», a gente não sabe se eles fazem ou deixam de fazer."
criança ingere alimentos. Nas situações em que estão
ausentes perdem a sua capacidade de influência.
Eficácia das Os pais podem conseguir que a criança tenha uma "Às vezes, a maior dificuldade é o que fazer, tentar variar um bocadinho mas torna-se complicado. Eu,
pessoalmente, acho que nós, mães, temos muito em que pensar, e há sempre isto e aquilo, mas tudo se
estratégias alimentação saudável na medida em que têm formas
consegue."
parentais eficazes para impor a sua vontade à criança e/ou
"Está claro que para os pais que têm crianças mais difíceis é mais complicado conseguirem que eles comam
ultrapassar as barreiras a uma alimentação saudável.
bem, mas há sempre outras formas de lá chegar."
"Eu em casa lido bem com ele, na rua quando começa a fazer birras e as pessoas começam a olhar para nós,
aí já acabo por ceder"
173
________________________________________________________________________________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
Autorregulação Os pais podem conseguir que a criança tenha uma "Está claro que se pode controlar muito mais: falar com a educadora sobre o que ele comeu, perguntar-lhe a
parental alimentação saudável na medida em que têm estratégias ele, eu devia fazer isso mas não tenho esse hábito."
Necessidade de As ações e estratégias parentais podem ter efeitos "Quanto mais se fecha e mais se controla, maior é o estrago."
equilíbrio nas negativos, que se sobrepõem aos positivos, tais como
"Não o vou forçar a comer uma coisa que ele não quer. A criança sente-se, começa a ficar aborrecida"
ações parentais agravar o estado emocional da criança, reforçar a
preferência por alimentos proibidos ou a aversão por "Se elas comessem só o que nós queríamos provavelmente não provavam de tudo e ficariam com a
alimentos saudáveis. expectativa de saber como seria comer aquilo que até, se provassem, poderiam nem gostar!"
Direito da Mesmo que as escolhas alimentares da criança não sejam "Eu também como aquilo de que gosto e sei que às vezes não como assim coisas tão boas como devia, mas
criança à livre inteiramente saudáveis, deve ser dada oportunidade à acho que isso faz parte. Faz parte podermos comer o chocolatinho e é uma questão de satisfação e de prazer
e de fazermos as nossas vontades de vez em quando."
escolha de criança de escolher, explorar e/ou experimentar prazer na
alimentos alimentação. "Ela pode comer, mas de forma controlada. Às vezes dou-lhe esse espaço, dou-lhe corda mas não a dou
toda. É a tal coisa das bolachas. Ela é doida por bolachas. Ela agora quer comer bolachas e eu deixo mas, em
vez de ser a quantidade que ela quer, controlo e pode comer duas, mais não."
"Eu às vezes pergunto o que ele quer para o jantar, ele diz e eu faço. É importante para ele sentir que
também tem um papel nas decisões"
174
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________R ESULTADOS
Coordenação de Os pais conseguem que a criança tenha uma alimentação "Depende da condição de cada um. Se eu não tivesse a ajuda do meu marido e do meu filho que também
determinantes saudável na medida em que coordenam a sua vontade está a trabalhar, eu não conseguia dar-lhe uma alimentação como deve ser. Se fosse eu sózinha, eu não
conseguia."
pessoal relativamente à alimentação da criança com outros
determinantes alimentares (e.g., controlo indireto para não "Seria ótimo eles comerem só o que nós queríamos, mas penso que é um bocadinho impossível porque há
sempre o fator pessoal, preferencial da criança e temos de ter isso em conta."
gerar reações negativas; concentrar a ação em casa para
compensar a possibilidade limitada de intervenção na "Como mãe galinha digo que gostaria de controlar tudo o que ele come mas se calhar é preferível que não.
Acho que ele não ia gostar que eu estivesse sempre a controlar, eu não faço isso! Quer dizer, faço-o
escola; adaptação da exigência dos objetivos parentais ao
indiretamente mas não o controlo a esse nível, e o pai também não."
grau de colaboração do resto da família).
Impossibilidade A alimentação da criança não deve ser totalmente "Não é bom ele comer só o que eu acho certo, porque o meu Universo é um Universo muito pequenino e
de dominada pela vontade dos pais porque é impossível o eu está-lo a limitar ao meu Universo acho que não é minimamente bom."
conhecimento conhecimento absoluto sobre qual a alimentação ideal para "Acho que está cada vez mais complicado saber se nós realmente fazemos as melhores coisas. Quando falo
absoluto a criança, ou porque não existe um só conceito de nos vegetarianos, é um bocado por isso, porque se calhar eles estão certos…eu acho que isto é tudo muito
complicado."
alimentação ideal (ex.: vegetarianismo, alimentação como
padrão específico à cultura do indivíduo).
175
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Diferenças entre as significações dos pais com filhos com excesso de peso e
pais com filhos com peso normal.
176
___________________________________________________________________________RESULTADOS
pais das crianças com excesso de peso (EP) o determinante mais referido foram as
preferências alimentares, as quais são o determinante menos referido pelos PN.
Assim, enquanto os EP estão mais centradas num determinante que consideram
mais difícil de mudar (i.e., preferências alimentares), os PN dão mais relevância à
influência parental e a fatores culturais que são, muitas vezes, mediados pelos pais
(e.g., "Se calhar as pessoas que estão mais próximas de nós, e aquilo que elas nos
passaram, influenciam o que nós damos aos nossos filhos.").
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Diferenças entre as significações dos pais com filhos com melhores hábitos
alimentares e pais com filhos com piores hábitos alimentares
178
___________________________________________________________________________RESULTADOS
179
___________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
180
5.
DISCUSSÃO DE
RESULTADOS
A discussão dos resultados está organizada em função dos temas centrais sobre o
qual incide o presente trabalho. Será feita a discussão dos resultados relativos aos
fatores correlatos e preditores dos hábitos alimentares. Em seguida serão
abordados os resultados referentes ao conhecimento nutricional dos pais e à
perceção parental de peso. Serão ainda discutidas as relações entre três das
variáveis cognitivas parentais: preocupação, atribuições de controlo e de
autoeficácia parental. Segue-se a discussão dos resultados relativos à relação do
IMC com as variáveis em estudo. Por fim, serão analisadas as principais conclusões
relativas ao estudo das significações parentais relacionadas com a alimentação da
criança. Previamente, e iniciando o capítulo, será feita uma breve análise dos
resultados descritivos da amostra.
Características da criança
182
__________________________________________________________________DISCUSSÃO DE RESULTADOS
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Características parentais
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186
__________________________________________________________________DISCUSSÃO DE RESULTADOS
Verificou-se que um pouco mais de metade dos pais avaliados tem uma
perceção errada do peso da criança, sendo que 44,1% subestiam o peso e 7,2%
incorrem no erro de sobrestimação do peso do filho. Estes valores integram-se na
amplitude de percentagens da maioria dos estudos nacionais e internacionais (i.e.,
45 a 98% de pais distorce o peso do filho), sendo que na maioria dos estudos esta
percentagem é superior a 50% (Aparício, Cunha, Duarte & Pereira, 2011; Gomes,
Espanca, Gato & Miranda, 2010; Macedos, Festas & Vieira, 2011Parry, Netuveli,
Parry & Saxena, 2008; Towns & D’Auria, 2009).
As conclusões do presente estudo confirmam que a grande maioria dos pais
que têm filhos obesos (88,9%) ou com excesso de peso (97,2%) subavaliam o peso
da criança, o que está de acordo com a generalidade dos estudos nacionais e
estrangeiros (Aparício et al., , 2011; Doolen, Alpert & Miller, 2009; Fitzgibbon &
Beech, 2009; Gomes et al., 2010; Parry et al., , 2008; Towns et al.,, 2009)
187
___________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
A quase totalidade dos pais situa-se entre as categorias que indicam níveis
médios e elevados de autoeficácia. Só 3% dos pais se situou nas duas categorias de
menor autoeficácia. A avaliação da autoeficácia em pais de crianças de cinco anos é
bastante relevante, pois este é um período de desenvolvimento em que claramente
há uma redução da autoeficácia parental relacionada com a alimentação dos filhos
(Campbell, Hesketh, Silverii & Abbott, 2010; Hesketh & Campbell, 2007), o que
está de acordo com o progressivo ganho de autonomia das crianças.
Muitos dos estudos que focam a autoeficácia parental para gerar mudanças
na alimentação da criança são qualitativos e/ou focam-se mais na identificação de
barreiras a uma alimentação saudável. Por esta razão são poucos os dados
disponíveis para comparação. Campbell e colaboradores (2010) encontram
resultados semelhante de autoeficácia em pais de crianças de cinco anos. Taveras,
Mitchell & Gortmaker (2012) encontraram valores mais baixos de autoeficácia
parental, mas numa amostra com uma maior amplitude etária das crianças (2-12
anos) e focando a autoeficácia relativa à mudança de uma maior variedade de
comportamentos (alimentação, televisão, atividade física).
A maioria dos pais tem uma atribuição elevada de controlo sobre o que a
criança come. Setenta e oito por cento dos pais considera que controla quase
sempre e Bastantes vezes. Só 4% dos pais consideram que controla Poucas vezes ou
Nunca. Identificou-se que os pais têm uma atribuição de maior controlo nas
situações de ingestão em casa do que fora de casa. Apesar das estratégias que os
pais utlizam para controlar a alimentação da criança serem muito abordadas na
literatura, a atribuição parental de controlo sobre a alimentação da criança tem
sido alvo de poucos estudos. O único estudo conhecido que apresenta resultados
descritivos é o de Kersey, Lipton, Quinn e Lantos (2010), que aponta para valores
inferiores aos do presente estudo (52% dos pais considerava controlar bastante,
37% um pouco e 5% nada), o que em parte se pode justificar pela facto da
avaliação ser feita em relação ao controlo do peso e não só da alimentação.
188
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192
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anteriores (Agras et al., 2004; Lopes-Dicastillo et al, 2010), alguns pais estão mais
preocupados com a subalimentação do que com a ingestão excessiva, mesmo
quando os filhos têm excesso de peso. É natural que estes pais exerçam controlo
para que a criança coma alimentos e, principalmente, quantidades desadequadas, o
que pode diminuir os valores de correlação entre controlo e a qualidade dos
hábitos alimentares. Os objetivos parentais do controlo devem ser considerados
em estudos futuros.
194
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196
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conhecimento nutricional em adultos (Hansbro et al., 1997; Tate & Clade, 1990;
Whichelow & Prevost, 1996).
Enquanto a relação entre a escolaridade e profissão e o conhecimento
nutricional é facilmente compreendida, a relação com a idade é menos clara.
Alguns autores (Parmenter et al., 2000) relacionam este dado com o fato de as
pessoas de meia-idade terem uma perceção de vulnerabilidade à doença superior
aos jovens adultos estando, por isso, mais centrados e interessados em assuntos
relacionados com a saúde. Este é um resultado que necessita de maior
esclarecimento, mas que aponta para que, para além dos pais de níveis socio
educacionais mais baixos, serão os pais mais novos que poderão retirar maior
benefício da informação nutricional.
Como foi anteriormente referido, a maioria dos pais cujos filhos têm excesso
de peso subavaliam o peso da criança, o que não acontece com os pais de crianças
com peso normal. Este resultado está de acordo com a maioria dos estudos
nacionais e estrangeiros (Aparício, Cunha, Duarte & Pereira, 2011; Doolen, Alpert
& Miller, 2009; Fitzgibbon & Beech, 2009; Gomes, Espanca, Gato & Miranda, 2010;
Parry, Netuveli, Parry & Saxena, 2008; Towns & D’Auria, 2009). Embora não
existam estudos que clarifiquem o processo de distorção de peso, os resultados de
Jones e colaboradores (2011) identificam as razões que as mães consideram
estarem subjacentes à dificuldade de reconhecimento do excesso de peso: os meios
de comunicação social são a principal fonte de informação sobre o excesso de peso,
contudo os pais atribuem-lhes pouca credibilidade; relativização das categorias do
estado nutricional infantil, na medida em que são feitas com base em estatísticas
(vistas como pouco fiáveis); mensagens conflituantes dos profissionais de saúde
durante a 1ª infância (centração no ganho de peso) e em fases posteriores
(centração no evitamento do excesso de peso); diversidade das formas corporais
entre as crianças e a constante mudança corporal ao longo do desenvolvimento; a
criança usar roupas que são vendidas para a sua idade; a atenção dos pais ao
excesso de peso poder levar a perturbações do comportamento alimentar; os pais
197
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criança, mesmo para os pais que não se apresentem preocupados com o excesso de
peso da criança.
Um outro resultado relevante é que a autoeficácia parental e a atribuição de
controlo estão positivamente correlacionadas. Era expetável que estas duas
características cognitivas se relacionassem na medida em que a capacidade de
controlar o que a criança come (i.e., evitar que coma quantidades ou tipos
alimentos menos adequados e conseguir que coma as quantidades e alimentos
desejados) será um recurso importante para os pais considerarem que são capazes
de levar a cabo mudanças na alimentação da criança (i.e., autoeficácia). Contudo, e
porque não se trata de uma correlação linear perfeita (rs=0,434), estes dados
confirmam a diferenciação destes dois conceitos.
Salienta-se a relevância que a atribuição de controlo parental assume,
tratando-se de uma característica cognitiva parental pouco estudada e que se
apresenta relacionada com melhores comportamentos alimentares da criança, com
maior conhecimento nutricional e autoeficácia dos pais e com uma perceção
parental mais correta do peso da criança.
200
__________________________________________________________________DISCUSSÃO DE RESULTADOS
lado, algumas das crianças com excesso de peso podem já ter sido alvo de
mudanças alimentares introduzidas pelos pais, quando da avaliação. Esta
possibilidade pode também ser uma explicação para o facto constatado no nosso
estudo, no qual a percentagem de crianças com piores hábitos alimentares é
inferior no grupo de crianças obesas em comparação com o grupo de pré-obesas.
As mudanças alimentares introduzidas intencionalmente pelos pais devem ser
controladas em estudos futuros.
A complexidade dos hábitos alimentares que envolvem frequência
eregularidade de refeições, outras situações de ingestão alimentar, quantidades
ingeridas, frequência e variedade alimentar torna difícil a avaliação abrangente de
todos estes fatores. No presente estudo optou-se por uma avaliação da qualidade
global dos hábitos alimentares, em que se incluiu o número de refeições, a
variedade alimentar e a frequência de alguns alimentos, o que poderá ter
dificultado a identificação de uma relação com o IMC. A dificuldade e diversidade
de métodos e instrumentos para a avaliação dos hábitos alimentares foi uma das
limitações para este trabalho.
É também possível que a obesity rebound39, que leva a que as crianças de 5-6
anos se encontrem num período de mudança no processo de acumulação de
gordura corporal, interfira na relação entre a dieta e o IMC da criança.
O estado da arte em relação a este tema mostra a necessidade de mais
estudos longitudinais que permitam perceber a influência dos hábitos alimentares
no período pré-escolar no peso futuro da criança. Por outro lado, é importante
compreender as razões subjacentes à ausência de relação entre o IMC e a ingestão
alimentar da criança, identificada num número muito sifgnificativo de estudos,
embora este não seja um objetivo primordial de estudo da Psicologia da Saúde.
39
Após um rápido aumento da gordura corporal durante o primeiro ano de vida, segue-se um declínio,
em média, até aos 5-6 anos, idade em que se inicia um aumento de gordura corporal (adiposity
rebound) que continua pela adolescência e idade adulta. Consequentemente, as crianças pré-escolares
encontram-se num período de mudança no processo de acumulação de gordura corporal.
201
___________________________________________DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR INFANTIL
202
__________________________________________________________________DISCUSSÃO DE RESULTADOS
Um aspeto relevante neste estudo é o facto dos pais de crianças com o IMC
elevado não estarem mais preocupados do que os pais que têm filhos com um IMC
normal. Embora este resultado seja semelhante ao de um estudo anterior (Etelson,
Brand, Patrick & Shirali, 2003), a bibliografia existente aponta para que haverá
alguma variabilidade no grau de preocupação que os pais têm com o peso da
criança.
Vários fatores podem estar na base do resultado encontrado. Como já
vimos, a maior parte dos pais de filhos com excesso de peso consideram que a
criança tem peso normal, o que gerará níveis mais baixos de preocupação em
alguns destes pais.
Por outro lado, e com base em alguns dos modelos cognitivos (Becker &
Rosenstock, 1984; Leventhall,Nerenz & Steele,1984), a identificação de que a
criança tem excesso de peso não leva obrigatoriamente a uma preocupação
parental significativa, a qual será também determinada pelas crenças parentais
associadas ao excesso de peso (e.g., gravidade, consequências, evolução,
vulnerabilidade a ameaças para a saúde).
Na medida em que foi pedido aos pais para avaliarem a sua preocupação
com o peso, não podemos deixar de considerar que alguns pais estejam a
manifestar a sua preocupação com a criança ter peso a menos, e não com o excesso
de peso. De acordo com esta hipótese, Agras e colaboradores (2004) identificaram
uma correlação positiva entre o IMC da criança e a preocupação parental com a
magreza, o mesmo não se verificando para a preocupação com o excesso de peso.
Também os nossos resultados relativos às significações parentais reforçam esta
possibilidade.
Assim, para estudos futuros é importante que o tipo de preocupação seja
controlado (i.e., com a magreza e/ou com o excesso de peso). Serão de particular
interesse os estudos qualitativos para uma melhor compreensão dos processos
que levam os pais a diferentes níveis de preocupação com o peso.
203
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40
Este dado deve ser contextualizado tendo em conta a boa qualidade nutricional das refeições que são
servidas nos jardins-de-infância.
204
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6.
CONCLUSÕES
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_________________________________________________________________________CONCLUSÕES
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_________________________________________________________________________CONCLUSÕES
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_________________________________________________________________________CONCLUSÕES
em termos da qualidade dos seus hábitos alimentares. Por outro lado, o estudo da
relação entre hábitos e preferências alimentares deverá ser feita a partir da
preferência e consumo de alimentos específicos.
219
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220
_________________________________________________________________________CONCLUSÕES
Tabela 6.1.
Estádios de prontidão parental para a mudança dos hábitos alimentares da criança com excesso de peso
Estádio de
Caraterísticas Resultados orientadores
prontidão
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226
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