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Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL

Em 23 de dezembro de 2016.

Processo nº: 48500.005911/2016-94.

Assunto: Abertura de Consulta Pública – Análise da


regulamentação da continuidade do fornecimento
de energia elétrica, com enfoque sobre a avaliação
dos custos relacionados à confiabilidade do
serviço de distribuição.

I. DO OBJETIVO

1. Esta Nota Técnica tem como objetivo iniciar uma análise sobre a incorporação do custo da
interrupção na regulação da qualidade do serviço de distribuição de energia elétrica, no âmbito da revisão da
regulamentação da continuidade do fornecimento na distribuição de energia elétrica. Trata-se da Atividade 29
da Agenda Regulatória da ANEEL para 2016-2018.

II. DOS FATOS

2. Em 17 de abril de 1978, o DNAEE emitiu a Portaria n° 46, que estabeleceu as disposições


relativas à continuidade do serviço a serem observadas pelos concessionários de serviço público de energia
elétrica no fornecimento de energia a seus consumidores.

3. Em 28 de janeiro de 2000, a ANEEL emitiu a Resolução n° 024, que revogou a Portaria n°


46/1978 e incorporou as atualizações necessárias e as disposições constantes dos Contratos de Concessão.

4. Em 31 de dezembro de 2008, foi publicada a primeira versão do Módulo 8 dos Procedimento


de Distribuição - PRODIST, que incorporou as disposições trazidas pela RES 024/2000, posteriormente
revogada.

5. A Agenda Regulatória da ANEEL para o biênio 2016-2018, aprovada pela Portaria n°


4.036/2016, prevê discussão com a sociedade acerca da avaliação dos custos relacionados à confiabilidade
do serviço de distribuição. Trata-se da atividade 29, com previsão de abertura de Consulta Pública no 2°
semestre de 2016.

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

48554.002679/2016-00
Fl. 2 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

III. DA ANÁLISE

6. Conforme consta da Seção anterior, a regulamentação da continuidade do fornecimento na


distribuição de energia elétrica possui 3 grandes marcos. Desde a publicação da primeira versão do Módulo 8
do PRODIST, foram estabelecidas algumas mudanças relevantes do regulamento, mas sempre no sentido de
aperfeiçoar os procedimentos e metodologias vigentes.

7. Assim, pretende-se iniciar uma discussão ampla sobre a regulamentação vigente da


continuidade do fornecimento, com vistas a identificar todos os aprimoramentos necessários. Considera-se
que o primeiro passo foi dado com a realização da contratação de consultoria especializada para estudar os
custos relacionados às interrupções de energia elétrica e suas implicações na regulação. Em 2015, o
consórcio formado pelas empresas Sinapsis Inovação em Energia S/S Ltda., Mercados de Energia
Consultoria Ltda. e Mercados Energéticos Consultores S.A. foi contratado1 para realizar o referido estudo, que
compreendia a entrega dos seguintes relatórios2:

Relatório 1: Fundamentos conceituais, pesquisa bibliográfica e avaliação crítica dos


principais estudos publicados sobre o assunto;
Relatório 2: Proposta de metodologia de pesquisa a ser aplicada às unidades consumidoras
do Brasil para a definição dos custos associados às interrupções;
Relatório 3.a: Definição da função de custo da interrupção da energia elétrica para os
consumidores utilizando-se modelos econométricos;
Relatório 3.b: Definição da função de custo da interrupção da energia elétrica para
consumidores utilizando-se os resultados de outras pesquisas realizadas no Brasil e exterior,
adequando-as à realidade brasileira;
Relatório 4: Definição da função de custos relacionados à melhoria da confiabilidade do
sistema de distribuição;
Relatório 5: Avaliação das estratégias de regulação necessárias para a minimização dos
custos de interrupção nos sistemas de distribuição.

8. Com base nos produtos entregues, entende-se que é possível iniciar então a discussão com
a sociedade sobre a revisão da regulamentação. As subseções a seguir estão organizadas com a mesma
estruturação do trabalho recebido da consultoria. Considerando que o objetivo da contratação da consultoria
foi obter a visão de especialistas sobre o assunto e que o trabalho expressa unicamente a opinião dos
consultores, nas subseções seguintes a SRD também apresenta seu posicionamento sobre os principais
pontos do trabalho recebido – que em muito converge com a dos consultores. Adicionalmente, de forma a
facilitar a discussão sobre o tema no âmbito da consulta pública, são elencados alguns questionamentos ao
final da apresentação dos produtos.

1 Contrato n° 107/2015, processo n° 48500.000054/2013-93.

2 Os relatórios estão disponíveis na página da Consulta Pública.


* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 3 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

9. Por fim, destaca-se que a consulta pública recomendada nesta Nota Técnica é apenas a
primeira de outras interações que a ANEEL terá com a sociedade antes de proceder qualquer mudança no
regulamento.

III.1 CONTEXTO

III.1.1 REGULAÇÃO DA QUALIDADE DO SERVIÇO NO BRASIL

10. Com a edição da Portaria DNAEE n° 046/78, que estabeleceu um conjunto de indicadores e
padrões, o setor elétrico brasileiro iniciou o processo de quantificação do desempenho das distribuidoras em
relação à continuidade do serviço prestado. Todavia, até o final da década de 90 essa norma não estava
plenamente implantada em todo país.

11. A Portaria DNAEE n° 046/78 não estabeleceu nenhum tipo de punição pelo não cumprimento
dos padrões propostos. A única obrigação imposta às distribuidoras foi a determinação de que adequassem o
padrão de atendimento nas áreas onde os indicadores fossem violados em um prazo de 180 dias. O DNAEE
celebrou convênio com a ELETROBRÁS para coleta e divulgação destes indicadores.

12. Visando padronizar a forma de apurar, tratar e informar os dados relativos à continuidade do
serviço, em 27 de janeiro de 2000 a ANEEL editou a Resolução n° 024, que incorporou todos os avanços dos
regulamentos e contratos assinados anteriormente. A partir da data de publicação desta resolução, as
empresas passaram a enviar os dados de forma oficial para a Agência. A Resolução n° 024/2000 estabeleceu
ainda os limites máximos admitidos para os indicadores, definindo penalização sob forma de multa, para
indicadores coletivos, e compensações aos consumidores, para indicadores individuais.

13. Com a aprovação do PRODIST em 2008, as disposições relativas à continuidade contidas na


Resolução nº 024/2000 passaram a integrar o Módulo 8 desse procedimento. Com a primeira revisão do
PRODIST, aprovada em 15 de dezembro de 2009, essa resolução foi revogada, de forma que a continuidade
do serviço passou a ser contemplada em um único regulamento.

14. São avaliados os indicadores coletivos – DEC e FEC – e individuais – DIC, FIC, DMIC e
DICRI. O DEC (Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora) indica o número de horas
que, em média, as unidades consumidoras de determinado conjunto ficaram sem energia elétrica durante um
determinado período: mensal, trimestral ou anual. Já o FEC (Frequência Equivalente de Interrupção por
Unidade Consumidora), de maneira análoga, indica quantas vezes, em média, as unidades consumidoras de
determinado conjunto sofreram interrupção.

15. Os indicadores coletivos têm como objetivo uma avaliação ampla da continuidade. São
apurados para conjuntos de unidades consumidoras de cada distribuidora, que podem ser agrupados para
avaliar, além da própria distribuidora, municípios, estados, regiões e o Brasil.

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 4 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

16. Os indicadores individuais DIC (Duração de Interrupção Individual por Unidade Consumidora)
e FIC (Frequência de Interrupção Individual por Unidade Consumidora) indicam, respectivamente, a
quantidade de horas que o consumidor ficou sem energia elétrica e a quantidade de interrupções que o
consumidor experimentou no período de apuração (mensal, trimestral ou anual). Já o DMIC (Duração Máxima
de Interrupção Contínua por Unidade Consumidora) indica o número de horas da maior interrupção
experimentada pelo consumidor no período de apuração (nesse caso, mensal). O DICRI (Duração da
Interrupção Individual Ocorrida em Dia Crítico por Unidade Consumidora) apura a duração das interrupções
ocorridas em dias cuja quantidade de ocorrências emergenciais seja muito acima da média – Dia Crítico.

17. Em linhas gerais, os modelos de regulação da continuidade do fornecimento podem ser


classificados em três:

 Publicação do desempenho (método indireto);


 Padrões (limites máximos de desempenho);
 Esquemas de incentivo.

18. Os dois primeiros métodos já são adotados pela ANEEL desde o ano de 2000. A partir do 3°
ciclo de revisões tarifárias, foi incorporado ao Fator X das tarifas um esquema de incentivo à qualidade da
energia elétrica. Esse mecanismo é aplicado desde os reajustes de abril de 2013, e atua diretamente na
receita da distribuidora.

19. De acordo com referências internacionais, a determinação dos padrões (limites) de qualidade
pode ser realizada de acordo com as seguintes possibilidades:

 Evolução de níveis históricos;


 Benchmarking com outras regiões;
 Determinação pelos custos da qualidade.

20. A ANEEL adota, desde a primeira versão da Resolução nº 024/2000, um método de


benchmarking para a definição dos padrões de qualidade a serem seguidos pelas distribuidoras. De forma
resumida, os limites dos conjuntos de unidades consumidoras de cada distribuidora são estabelecidos de
acordo com o desempenho verificado (histórico) em conjuntos semelhantes, seguindo a premissa de que
conjuntos considerados semelhantes devem apresentar desempenhos também semelhantes. O
benchmarking se baseia em uma técnica estatística de formação de agrupamentos, que permite identificar
conjuntos com características homogêneas.

21. Os limites dos indicadores coletivos (por conjunto de unidades consumidoras) são utilizados
como referência para os limites dos indicadores individuais. A ANEEL revisou os limites dos indicadores
individuais, de forma que, desde 2010, os valores de compensação ao consumidor por violação dos
indicadores individuais são mais abrangentes, em contrapartida à extinção da multa por violação dos
indicadores coletivos em 2009.

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 5 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

III.1.2 REGULAÇÃO DA QUALIDADE DO SERVIÇO EM OUTROS PAÍSES3

22. Conforme citado, internacionalmente observam-se diversos esquemas para incentivar a


melhoria da qualidade de maneira condizente com o valor tarifário. Observa-se também que a qualidade do
serviço não é depende somente do regime de regulação e competição adotado no país, mas de uma série de
fatores. De maneira geral, nota-se que três ferramentas são utilizadas para o acompanhamento e melhoria da
qualidade do fornecimento:

 Definição e acompanhamento de indicadores de qualidade;


 Definição de nível de qualidade coletiva adequada;
 Garantia de qualidade individual e compensações caso esta não seja oferecida.

23. Sobre a formulação da estratégia para definição destas três ferramentas, não se pode afirmar
que há uma solução única ou mais eficiente, entretanto há estratégias amplamente adotadas.

24. Por exemplo, muitos países adotam SAIDI e SAIFI como indicadores coletivos de qualidade do
fornecimento4, normalmente aplicáveis a toda a área de concessão/distribuição. Em relação aos indicadores
individuais, há tanto o uso de indicadores agregados como indicadores por interrupção. As Tabelas 1 e 2
exemplificam uma análise com 13 países5.

Tabela 1: Indicadores Coletivos e limites.


Indicador Coletivo utilizado? Qtd. Países % Países
Duração Equivalente da Interrupção 11 100%
Frequência Equivalente da Interrupção 7 64%
Análise realizada para: Qtd. Países % Países
Toda a área de concessão 9 82%
Sub-regiões da área de concessão 2 18%

3 Estaseção apresenta apenas um resumo da regulação de outros países. Para maior aprofundamento, recomenda-se a leitura do
6th CEER Benchmarking Report on the Quality of Electricity and Gas Supply 2016.

4 Os indicadores SAIDI e SAIFI são análogos, respectivamente ao DEC e ao FEC.

5 Conforme apresentado na seção 4.5 do Relatório 1 do trabalho sobre a avaliação dos custos relacionados às interrupções de
energia elétrica e suas implicações na regulação. Os relatórios do trabalho estão disponíveis na página da Consulta Pública.
* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 6 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

Tabela 2: Indicadores Individuais e limites.


Indicador individual utilizado? Qtd Países % Países
Duração da interrupção 13 100%
Frequência da interrupção 7 54%
Limite definido? Qtd Países % Países
Indicador acumulado 7 54%
Interrupção 5 38%
Indicador acumulado e por interrupção 1 8%
Nível de desagregação do limite? Qtd Países % Países
Nível de tensão e Localização geográfica 5 38%
Nível de tensão 4 31%
Nenhum 2 15%
Interrupções severas ou normais 1 8%
Topologia e tecnologia das redes 1 8%

25. As políticas de incentivos e penalidades normalmente usam como linha de base o limite
regulatório do indicador. Os valores de incentivos e penalidades podem ter limitações financeiras. As políticas
de incentivo visam melhorar a qualidade observada na rede sem penalizar os consumidores, conforme
exibido na Tabela 33.

Tabela 3: Política de incentivo via tarifa.


Elementos considerados no incentivo? Qtd Países % Países
Dif. entre apurado e limite do ind. col. 8 73%
Dif. entre apurado e limite da ENF 3 27%
Tem limite para o valor financeiro do incentivo? Qtd Países % Países
Sim 8 73%
Tem margem de tolerância nos limites? Qtd Países % Países
Sim 3 27%

26. Os limites dos indicadores podem ser definidos em relação a questões sociais: podem ser
definidos de maneira equânime entre todos os consumidores, podem considerar tipos de classes ou de
localização (rural/urbano).

27. Em outros países, não foi identificado o uso do valor de indicador de qualidade coletiva para se
estabelecer o indicador de qualidade individual. Em relação aos valores econômicos das compensações,
observa-se que são significativos (na ordem de US$100,00), porém apenas para os casos que realmente
fogem do esperado (12h no Reino Unido por interrupção, 20h na Austrália ao longo do ano, 12h na Suécia). A
Tabela 4 apresenta informações sobre as políticas aplicadas em compensações aos consumidores.

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 7 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

Tabela 4: Política de compensações aos consumidores (garantias básicas).


Indicador individual utilizado? Qtd Países % Países
Duração da interrupção 13 100%
Frequência da interrupção 7 54%
Limite definido? Qtd Países % Países
Indicador acumulado 7 54%
Interrupção 5 38%
Indicador acumulado e por interrupção 1 8%
Nível de desagregação do limite? Qtd Países % Países
Nível de tensão e Localização geográfica 5 38%
Nível de tensão 4 31%
Nenhum 2 15%
Interrupções severas ou normais 1 8%
Topologia e tecnologia das redes 1 8%

28. A prioridade de melhora de um ou de outro indicador (duração ou frequência, por exemplo)


pode ser escolhida para espelhar o desejado pela sociedade. Por exemplo, no Reino Unido o indicador de
duração é preferido ao de frequência, havendo, portanto, um incentivo maior para a concessionária
(qualidade coletiva) aos ganhos auferidos em relação à duração.

29. Em relação à aplicação de pesquisas de custos de interrupção nos instrumentos de regulação


da qualidade do serviço, observou-se que são poucos os países que utilizam diretamente a relação entre
custo da energia não distribuída e melhoria da qualidade. Um exemplo é o caso da Noruega.

30. A definição de métodos para definir os indicadores depende das particularidades de cada país.
O método de definição dos indicadores não costuma ser assunto principal na publicação dos indicadores de
qualidade coletivos e individuais observados na prática internacional.

III.1.3 JUSTIFICATIVA PARA A UTILIZAÇÃO DO CUSTO DA INTERRUPÇÃO NA REGULAÇÃO

31. A técnica de estabelecimento dos limites para os indicadores dos conjuntos de unidades
consumidoras por meio de benchmarking com outros conjuntos é utilizada quando não é possível estabelecer
precisamente os valores assumidos pelas variáveis de um determinado problema. A aplicação dessa
metodologia permite ao órgão regulador superar uma desvantagem natural decorrente da grande assimetria
de informações em relação às distribuidoras, maximizando o uso dos recursos disponíveis pelas mesmas.
Além disso, o estabelecimento de limites por comparação é adequado em segmentos considerados
monopólios naturais, uma vez que permite a emulação de um ambiente concorrencial que objetiva a melhoria
da qualidade do serviço das empresas.

32. Entretanto, alguns pontos requerem atenção na aplicação do modelo de benchmarking. A


concorrência simulada por esse modelo é fortemente dependente de seus próprios parâmetros. Podem-se,
por exemplo, obter limites mais ou menos exigentes ao se variar o referencial adotado para definir limites
(benchmark). Adicionalmente, o ajuste do mecanismo de compensação aos consumidores é primordial para a
efetividade do cumprimento dos limites pelas distribuidoras.

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 8 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

33. Já com relação às interrupções, podem-se citar os seguintes custos associados aos
consumidores:

 Impactos econômicos diretos: custos de reinício de processos, danos a equipamentos,


perda de produção ou desperdício de material, custos diretos associados com vidas e
saúde humana;
 Impactos sociais diretos: perdas no tempo de lazer, inconveniência devido à falta de
transporte, temperaturas desconfortáveis em ambientes internos e danos pessoais ou
mortes;
 Impactos indiretos: desobediência civil e pilhagem durante blackouts extensos, custos
legais e de seguros, mudanças na programação e planos de negócios.

34. Esses impactos se caracterizam por serem de curto prazo, ou seja, se manifestam durante ou
logo após a interrupção. Ações de longo prazo devem ser tomadas para reduzir ou evitar os custos de futuros
desligamentos.

35. A duração das interrupções está intimamente ligada à gestão e aos procedimentos adotados
pelas distribuidoras na operação e manutenção das redes, e também às facilidades existentes para se
recuperar um sistema após cada interrupção (veículos, comunicação, qualificação do pessoal, localização de
equipes, possibilidade de recomposição/automação etc.). Já a frequência das interrupções caracteriza a
fragilidade do sistema frente ao meio ambiente (causas externas) e a degradação do sistema por
envelhecimento e/ou falta de manutenção adequada.

36. Ações para minimizar a frequência e a duração das interrupções são contabilizadas como
custos para a melhoria da confiabilidade. No âmbito da regulação da distribuição, esses custos podem ser
definidos como custos de investimentos no sistema de distribuição ou custos operacionais. Ambos fazem
parte da receita requerida da distribuidora, e são pagos pelos consumidores nas tarifas.

37. O ideal para os consumidores é que o fornecimento de energia elétrica seja ininterrupto, com
os sistemas de distribuição sempre disponíveis. Entretanto, garantir a continuidade a estes níveis não é
técnica nem economicamente factível. Deve-se então buscar uma solução eficiente, que minimize os custos
totais. Nesse caso, a função de custo total é obtida através da soma da função dos custos com as
interrupções (mensuração dos impactos negativos aos consumidores – decrescentes com a confiabilidade do
sistema) com a função dos custos para se evitar uma interrupção (ações que gerem custos operacionais e/ou
investimentos nos sistemas de distribuição – ambos crescentes com a confiabilidade do sistema).

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 9 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

III.1.4 CUSTO DA INTERRUPÇÃO NO BRASIL E EM OUTROS PAÍSES6

38. Apesar da relativa relevância, considera-se que no Brasil não há muitos estudos sobre o
assunto, principalmente de âmbito nacional. A Tabela 5 apresenta um resumo dos valores de custo da
interrupção na literatura brasileira.

Tabela 5: Valores de custo da interrupção (em CEND) segundo literatura brasileira.


Referência Descrição Custo da Interrupção
Gomes e Schilling (1997) Eletropaulo - 5 horas 1,39US$/kWhint.
Gomes e Schilling (1997) Eletropaulo - 3 Minutos 1,98US$/kWh int.
Schilling e Marangon (1992) Residenciais 1,11 US$/kWh int.
Schilling e Marangon (1992) Comerciais e Industriais (Valor máximo) 4,76 US$/kWh int.
Magalhães et al. (2001) Residenciais DAP 0,83 US$/kWh int.
Magalhães et al. (2001) Residenciais Custos diretos 0,96 US$/kWh int.
Magalhães et al. (2001) Custo médio de São Paulo 1,20 US$/kWh int.
Hideki et al. (2001) Consumidores AT e MT em São Paulo 1,64 US$/kWh int.
Cyrillo et al.(2009) Residenciais - DAP de acordo com cenário 2,18 R$/mês
Cyrillo (2011) DAP - corrigindo pelo consumo médio 10,00 R$/kWh int.
Acréscimo na tarifa para melhoria da qualidade
Cyrillo (2011) 1,15 R$/MWh
de acordo com o cenário proposto

36. Da mesma forma, é possível apresentar alguns valores encontrados em referências


internacionais. As Erro! Fonte de referência não encontrada.1 e 2 apresentam um resumo com os valores
de custo da interrupção em estudos internacionais (citados no eixo das abcissas). As figuras permitem uma
comparação dos valores obtidos, os quais foram convertidos em moeda brasileira (Real).

6Resumo da seção 4.3 do Relatório 1 do trabalho sobre a avaliação dos custos relacionados às interrupções de energia elétrica e
suas implicações na regulação, realizado pela Mercados Energia, Mercados Energéticos Consultores e Sinapsis Inovação em
Energia no âmbito da contratação da ANEEL com recursos do Banco Mundial. Os relatórios do trabalho estão disponíveis na página
da Consulta Pública.

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Reais Ano 2015 Reais Ano 2015

50.00
100.00
150.00
200.00
250.00
300.00
350.00
400.00

0.00
20.00
40.00
80.00
100.00
120.00
140.00
160.00

0.00
60.00
Piaszeck et al (2010), Alemania -
Manufactura y Minería (min)
1.84 Carlsson and Martinsson
1.47
Piaszeck et al (2010), Alemania - (2007), Suecia
Producto total (min)
4.24
Reckon LLP (2012), Reino Unido - Ind. Kariuki and Allan (1996), Reino
Manufacturera
4.54 5.78
Unido
London Economics (2013), Reino Unido
6.36

Mediana, 40.90
Média, 45.78
- Industria y comercio

Mediana, 36.45
Bertazzi et al (2005), Italia
de Nooij et al (2007), Holanda - Ind. 7.86
6.69 (DAP)
Manufacturera
CNE (2012), Chile - Comercio SIC 10.43 Sullivan et al (2009), Estados
10.27
Unidos
Praktiknjo et al (2010), Alemania -
Industria
10.56
Accent (2008), Reino Unido:
CNE (2012), Chile - Comercio SING
14.51
14.67 todas…

Média, 63.94
Leahy and Tol (2010), Irlanda - Industria 17.68 Sullivan et al (2015), Estados
15.55
Unidos
CNE (2012), Chile - Minería SIC 23.49
London Economics (2013), UK
CNE (2012), Chile - Industria SING 32.46 33.56
(mínimo)
CNE (2012), Chile - Minería SING 37.45 Bertazzi et al (2005), Italia
36.45

(R$/kWh).
de Nooij et al (2007), Holanda - (DAA)
Transporte
44.34
Bertazzi et al (2005), Italia - Empresas Piaszec et al (2013), Alemania
(DAP)
47.04 36.85
(mínimo)
Fl. 10 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

CNE (2012), Chile - Industria SIC 54.75


Leahy and Tol (2010), Irlanda - CNE (2012), Chile 60.79
Comercial
61.64
Sullivan et al (2015), Estados Unidos. London Economics (2013), UK
Med. y grandes industrias
67.39 60.92
(máximo)
Piaszeck et al (2010), Alemania -
Producto total (máximo)
66.55
Praktiknjo et al (2010), Alemania - Accent (2004), Reino Unido 63.40
Comercio, Ss. y Transp.
68.14
Piaszeck et al (2010), Alemania -
Manufactura y Minería (max)
76.08 Piaszec et al (2013), Alemania
84.65
London Economics (2013), Reino Unido (máximo)
- Peq. y med. empresas (min)
149.85
London Economics (2013), Reino Unido Accent (2008), Reino Unido:
177.09 116.42
- Peq. y med. empresas (max) LPN
Bliem (2009), Austria 199.76
Bertazzi et al (2005), Italia - Empresas
Bliem (2009), Austria 138.24
(DAA)
351.56

Figura 2: Custo das Interrupções de uma hora para Usuários Não Residenciais (R$/kWh).

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Figura 1: Resultados internacionais - Custo das Interrupções de uma hora para Usuários Residenciais
Fl. 11 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

39. A Tabela 66 ilustra os valores de Energia Não Distribuída em alguns países europeus.

Tabela 6: Valor da Energia Não Distribuída em alguns países europeus.


País Valor da Energia Não Distribuída
Não Programada
Residencial: 10,8 €/kWh
Itália
Comercial: 21,6 €/kWh
Industrial: 8,25 – 5,75 €/kWh
Comércio/Serviços
Não Programada: 12,38 €/kWh Programada: 8,50 €/kWh
Rural
Não Programada: 1,88 €/kWh Programada: 1,25 €/kWh
Residencial
Noruega
Não Programada: 1,00 €/kWh Programada: 0,88 €/kWh
Serviço Público
Não Programada: 1,63 €/kWh Programada: 1,25 €/kWh
Indústria de Energia Intensiva
Não Programada: 1,63 €/kWh Programada: 1,38€/kWh
Não Programada
Portugal
Todos os consumidores: 1,5 €/kWh
Urbano
Não Programada: 12,00 €/kWh Programada: 8,60 €/kWh
Suburbano
Suécia
Não Programada: 8,80 €/kWh Programada: 6,30 €/kWh
Rural
Não Programada: 7,40 €/kWh Programada: 5,20 €/kWh
Fonte: Fumagalli, Schiavo, e Delestre (2007) reeditadas em (Kagan et al., 2015).

40. Do ponto de vista de aplicação dos custos de interrupção à regulação, dentre a vasta
literatura, cabe destacar o recente estudo realizado na Grã-Bretanha sob encomenda da Ofgem7, regulador
de energia elétrica do Reino Unido. Os valores de custo de interrupção foram utilizados como base para
definição de prioridades para o atual ciclo de revisões tarifárias, ajudando a definir questões relacionadas à
diminuição de frequência ou tempo máximo de interrupção, plano de investimentos futuros, etc.

7 Em 2013 a consultora London Economics apresentou estimações do custo de interrupção (value of loss load) na Grã-Bretanha
para as classes residencial, industrial e comercial, bem como para pequenas e médias empresas. Esse estudo se baseou em
pesquisa de campo com distintas classes de usuários, os quais responderam a perguntas relacionadas a um estudo do tipo
“experimento de escolha”. Nesse experimento, oferece-se aos usuários um conjunto de alternativas ou cardápio de qualidade de
serviço a partir do qual é possível identificar suas preferências e assim obter uma avaliação econômica relacionada com a
disponibilidade a pagar ou se aceita uma compensação associada às mudanças na qualidade do serviço.

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 12 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

III.2 AVALIAÇÃO DOS CUSTOS RELACIONADOS ÀS INTERRUPÇÕES DE ENERGIA ELÉTRICA

III.2.1 Custo da Interrupção e custo social da energia não distribuída

41. O conceito de custo da interrupção de energia elétrica é utilizado na literatura internacional,


genericamente, para definir e agrupar os custos econômicos que afetam a sociedade, resultantes de uma
interrupção de fornecimento.

42. O custo da interrupção (CI), na sua definição usual, representa o prejuízo de um usuário
resultante da interrupção de fornecimento sem prévio aviso, quantificado unitariamente por R$/kWh
interrompido.

43. A cada modalidade de consumidor afetado por uma interrupção está associado um valor do
prejuízo que ela lhe causa. Assim, o custo de interrupção de energia em uma indústria têxtil é diferente do de
um grande comércio ou de uma residência. Por esse motivo, nas pesquisas sobre esse tema, os custos da
interrupção são publicados agregados por tipos de consumidores e por atributos relacionados com a
interrupção (horário da interrupção, tempo de interrupção, estação do ano, etc.). Estes valores agregados
também são conhecidos como “funções de custos dos consumidores”.

44. O conceito de energia não suprida (ENS), na sua definição usual, indica a energia que deixou
de ser consumida em decorrência de uma interrupção. O custo social da energia não suprida (CENS) é a
monetarização dos custos diretos e indiretos para toda a sociedade decorrentes da energia não suprida. Este
valor diverge do custo da energia não faturada pela distribuidora. O valor do CENS pode agregar o custo da
interrupção de diversos agentes de maneira a representar a sociedade como um todo, dentro de uma área de
concessão, representando o valor médio do custo da interrupção em R$/MWh.

45. Em relação aos custos incorridos em decorrência de uma interrupção de fornecimento, a


literatura distingue dois tipos de custos de interrupção associados aos usuários afetados: diretos e indiretos.

46. Os custos diretos são aqueles que ocorrem durante o corte, normalmente identificados como
os custos para os consumidores, devido à interrupção de sua atividade normal de produção ou de consumo
direto, como por exemplo: perda de produção, perda de bem-estar, retomada do processo de produção,
deterioração de matéria prima.

47. Os custos indiretos são os incorridos pelos usuários quando há compra equipamentos ou
execução de instalações para adequar o nível de confiabilidade desejado. Neste caso está a compra de
geradores de emergência, nobreaks, geração de cópias de segurança de documentos e dados, entre outros.

48. Os custos totais para os usuários afetados são a soma dos custos diretos e indiretos.

49. Há outros custos associados às repercussões na sociedade de uma interrupção do serviço de


energia, como por exemplo, uma interrupção na rede que alimenta o Metrô, que não só afeta os usuários
deste serviço como também a produção nos estabelecimentos industriais ou comerciais a quem os mesmos
prestam serviço.
* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 13 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

50. O custo de uma interrupção de energia para a sociedade é a soma dos prejuízos diretos e
indiretos dos usuários, adicionada aos custos do impacto nos outros setores afetados, que produzem efeitos
negativos.

51. A quantificação do custo de interrupção (CI) e também do custo da energia não suprida
(CENS) são importantes para a otimização de planejamento dos investimentos na rede e no desenho de
esquemas tarifários.

52. A seguir, são aprestadas análises seguindo a estruturação do citado trabalho da consultoria.
Com objetivo de estimular a discussão no âmbito da consulta pública, também são elencados alguns
questionamentos ao final da apresentação dos produtos.

III.2.2 Produto 1 – Fundamentos conceituais, pesquisa bibliográfica e avaliação crítica dos principais
estudos publicados sobre o custo da interrupção

53. O primeiro relatório apresentou os principais conceitos relacionados com o custo da


interrupção, levantando a bibliografia sobre o assunto, a aplicação em alguns países e uma análise em
relação aos métodos para quantificação do custo da qualidade. Também foram expostos valores de custo da
interrupção em alguns países e concessionárias brasileiras.

54. De forma resumida, os principais aspectos apresentados no relatório já foram exibidos na


Seção III.1 desta Nota Técnica.

III.2.3 Produto 2 – Proposta de metodologia de pesquisa a ser aplicada às unidades consumidoras do


Brasil para a definição dos custos associados às interrupções

55. Neste segundo relatório foram apresentadas as principais formas de se obter o custo da
interrupção ou o custo social da energia não suprida através de métodos diretos, ou seja, por meio de
pesquisas com os consumidores. São discutidos os fundamentos conceituais sobre o tema, os principais
pontos relacionados com pesquisas de custo da interrupção, análise de questionamentos e exemplos de
aplicação.

56. O relatório sugere que, de maneira geral, alguns aspectos podem servir de base para
definição de uma pesquisa de custo da interrupção:

1. Definição das diretrizes relacionadas com a melhoria e acompanhamento da qualidade


do fornecimento da energia elétrica;

2. Metodologia de pesquisa considerando: formação da equipe multidisciplinar,


consolidação do universo a ser amostrado; desenvolvimento de instrumento básico,
realização de grupo focos, questionário piloto, aplicação em campo e cálculo do custo da
interrupção e de valor da energia não suprida;

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 14 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

3. Segmentação mínima em três tipos de consumidores: residenciais, não-residenciais de


pequeno e médio porte (comerciais e industriais do grupo B), não-residenciais de grande
porte (comerciais e industriais do grupo A). O grupo outros clientes devem ter seus custos
estimados através de métodos indiretos;

4. Levantamento do custo da interrupção por regiões do país;

5. A aplicação do “questionário em campo”, ou seja, desenvolvimento do instrumento de


coleta para ser aplicado em entrevistas pessoais ou em workshops (grandes consumidores);

57. Em termos da amostra, estimou-se cerca de 24,5 mil entrevistas, sendo 18 mil para clientes
residenciais, 6 mil para clientes de pequeno e médio porte e 500 entrevistas para clientes de grande porte.
Além disso estima-se em, no mínimo, 50 entrevistas de questionário piloto por região e ao menos três grupos
focos por região (um por segmento). Todas as pesquisas são realizadas em áreas urbanas. Nesses termos,
estima-se que a pesquisa custe entre R$ 1,0 e 1,5 milhões.

58. Como alternativa para reduzir esse custo, pode-se avaliar uso do questionário IASC para
obtenção do custo da interrupção para clientes residenciais. Todavia, deve ser feito o procedimento completo
para levantamento do custo da interrupção.

59. Nesse ponto, o relatório apontou aspectos de convergência e possíveis conflitos na utilização
do questionário do IASC para obtenção do custo da interrupção para consumidores residenciais. Deve-se
notar que o IASC é realizado anualmente e que a necessidade de uma pesquisa de custo da interrupção é,
segundo a experiência internacional, de uma por ciclo tarifário.

III.2.3.1 Pontos para Discussão

60. A SRD reconhece os benefícios decorrentes de uma pesquisa sobre o custo da interrupção,
mas entende que a complexidade que a caracteriza, associada ao dispêndio estimado em até R$ 1,5 milhão,
a torna pouco atrativa. Além disso, não se visualiza viabilidade para utilização da estrutura do prêmio IASC.

61. Entende-se que talvez seja interessante fazer uma pesquisa no futuro, de forma a refinar as
estimativas de custo da interrupção disponíveis. Mas no estágio atual, em que se discutem ainda os primeiros
resultados de custo da interrupção por métodos econométricos, a pesquisa não é necessária. De toda forma,
os resultados desse produto podem nortear iniciativas dos agentes interessados em avançar nessa atividade.

62. Nesse contexto, e com vistas a enriquecer o debate, espera-se que sejam avaliadas as
seguintes questões quanto aos resultados do produto 2.

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 15 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

1. Qual a periodicidade adequada para a realização de pesquisas sobre o custo da


interrupção?
2. Qual a melhor abrangência para a realização dessas pesquisas: em nível
nacional ou por área de concessão/permissão?
3. A ANEEL deve incentivar ou exigir que as distribuidoras realizem pesquisas
dessa natureza em suas áreas de concessão/permissão?
4. Existem outros aspectos fundamentais para realização de pesquisas sobre o
custo da interrupção que não foram considerados no trabalho da consultoria?

III.2.4 Produto 3 – Definição da função de custo da interrupção da energia elétrica para os


consumidores

63. Este produto está dividido em 2 relatórios:

 Relatório 3a: Definição da função de custo da interrupção da energia elétrica para os


consumidores utilizando-se modelos econométricos; e
 Relatório 3b: Definição da função de custo da interrupção da energia elétrica para
consumidores utilizando-se os resultados de outras pesquisas realizadas no Brasil e
exterior, adequando-as à realidade brasileira.

III.2.4.1 Produto 3a – Definição da função de custo da interrupção da energia elétrica para os consumidores
utilizando-se modelos econométricos

64. No relatório 3a, estimou-se o Custo da Energia não Suprida (CENS) para as classes
industrial, comercial, Poder Público, e residencial, com base no custo de oportunidade (métodos indiretos). As
abordagens foram baseadas no valor adicionado perdido e na perda do ócio.

65. A metodologia empregada tem fundamento na literatura internacional, porém, pelas


características próprias do Brasil - ampla extensão territorial, significativas diferenças regionais numa série de
variáveis como densidade populacional, nível de renda, condições climáticas, nível de atividade econômica -
alguns resultados podem parecer inicialmente contra intuitivos. Nesse contexto, o estudo foi aprofundado
para considerar questões como a determinação do custo das interrupções em função ao momento do dia, da
classe do dia (útil ou final de semana), e considerando a probabilidade de ocorrência das interrupções.

66. Particularmente, foram desenvolvidas curvas de valor de ócio horário e diário, com base nos
padrões de consumo residencial, disponibilidade de equipamentos elétricos, além da inclusão das curvas de
carga dos setores analisados. No que diz respeito ao método do Valor Adicionado, também foram construídas
curvas de carga com base na quantidade de empresas em operação em cada hora do dia, diferenciando
assim o dia útil do final de semana. Em ambas as categorias (residencial e não residencial) foram alocadas
probabilidades de ocorrências que possibilitaram calcular valores esperados das interrupções.

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 16 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

67. Um ponto de destaque é que pela dimensão do país foi preciso realizar ajustes na energia
consumida de forma a levar em conta diferenças regionais importantes. A metodologia empregada para o
setor residencial foi baseada no consumo médio por unidade consumidora.

68. Os valores estimados, que são apresentados nas Figura 3 e 4 e nas Tabelas 7 e 8, são
consistentes com a realidade do país. Por exemplo, o maior CENS total para o setor industrial está na região
onde o produto por unidade consumidora é maior, enquanto para o Poder Público o maior CENS total está no
Distrito Federal.

CENS não programada CENS programada

Figura 3: Custo Energia não Suprida por Estado (milhões de Reais).

Figura 4: Custo Energia não Suprida Total por Região (milhões de Reais).

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 17 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

Tabela 7: Custo Unitário das Interrupções não programadas por região e setor (R$/kWh).

Tabela 8: Custo Unitário das Interrupções programadas por região e setor (R$/kWh).

III.2.4.1.1 Pontos para discussão

69. Espera-se que sejam avaliadas as seguintes questões quanto aos resultados do produto 3a.

1. Os valores de Custo da Energia Não Suprida (em R$ e R$/kWh) estimados pela


consultoria estão adequados e aderentes às realidades nacional e regional?
2. A relação de 13% entre o custo da interrupção programada em relação à não
programada é o mais adequado? Existem melhores referências para essa relação?
3. A consultoria adotou a simplificação de que uma interrupção gera perda de 100%
do ócio. Existe abordagem diferente? Como ela pode ser implementada?
4. Qual a periodicidade e metodologia adequadas para atualizar os valores
apresentados pela consultoria?
5. É possível segregar os valores por área de concessão/permissão?

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 18 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

III.2.4.2 Produto 3b – Definição da função de custo da interrupção da energia elétrica para consumidores
utilizando-se os resultados de outras pesquisas realizadas no Brasil e exterior, adequando-as à realidade
brasileira

70. A experiência internacional sugere a utilização de pesquisas de custo da interrupção ou de


dados macroeconômicos para a quantificação do custo da energia não suprida em cada região ou País.

71. De acordo com a consultoria, não é possível se definir um valor exato ou confiável para o custo
da energia não suprida utilizando-se dados de pesquisas externas. Tal valor só deve ser usado como
comparativo quando não há dados de pesquisas internas. O Relatório 3a oferece custos das interrupções
para diferentes regiões do Brasil e valores agregados do custo da energia não suprida para o país, sendo
hoje o melhor valor para tal comparação, não sendo apropriado a utilização de valores da pesquisa
internacional.

72. A utilização de dados da função de custo da interrupção obtidos de pesquisas anteriores


também não é recomendada. A comparação entre os resultados da pesquisa de Massaud et al. (1994) e de
Sullivan et al. (2015) evidencia uma diferença de comportamento de custos da interrupção entre clientes
industriais, comerciais, pequenos e médios e grandes consumidores.

73. Por outro lado, entende-se que é possível se utilizar de outros resultados, no Brasil ou em
outros países, para, ao menos, verificar a consistência dos resultados obtidos. O simples confrontamento dos
resultados do Relatório 3a com os resultados apresentados no item III.1.4 pode não ser viável. Ao mesmo
tempo, a utilização de outros estudos8 relativizando-se as diferenças mais relevantes entre os mesmos (por
exemplo, câmbio e PIB) pode ser útil para, por exemplo, servir de base para valores teto ou piso em estudos
nacionais.

III.2.4.2.1 Pontos para discussão

74. Espera-se que sejam avaliadas as seguintes questões quanto aos resultados do produto 3b.

1. A consultoria concluiu que não é possível definir um valor para o custo da


interrupção no Brasil tendo como referência os dados de outras pesquisas. Existe
alguma abordagem que leve a outra conclusão? Ou seja, é possível definir um
valor (ou referenciais) de custo da interrupção no Brasil com base em dados de
pesquisas externas ou nas anteriormente feitas no país?

III.2.5 Produto 4 – Definição da função de custos relacionados à melhoria da confiabilidade do sistema de


distribuição.

75. Este relatório aborda duas formas de se quantificar o custo de melhoria da confiabilidade:
abordagem econométrica e abordagem por métodos de engenharia.

8Por exemplo, aplicando-se alguns parâmetros brasileiros na “calculadora de custos de interrupções” disponibilizada pelo
Departamento de Energia dos EUA, em http://www.icecalculator.com/.

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 19 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

76. A abordagem econométrica relaciona parâmetros que expressam a confiabilidade, como por
exemplo DEC, FEC, END, com insumos agregados que impactam nesses resultados, tais como investimentos
realizados (CAPEX) e custos operacionais (OPEX), corrigidos ou parametrizados por fatores como a extensão
da rede, o mercado, as características área de atuação, as condições socioambientais, dentre outros.

77. A análise econométrica permite relacionar o custo necessário para melhorar o patamar de
confiabilidade, sem detalhar as ações ou as providências necessárias para atingir tal melhora.

78. Por outro lado, a abordagem por meio de modelos de engenharia visa verificar quais
providências seriam possíveis de serem adotadas para a melhoria de qualidade e, com base na adoção das
providências custeadas, permite criar a relação entre melhoria da qualidade e seu custo correspondente.

79. Os métodos econométricos são preferidos quando há limitações dos dados e informações de
redes e custos, ou quando as empresas não estão maduras o suficiente para propor melhorias de qualidade
com base em dados concretos. Nesse contexto, o regulador pode não querer entrar em detalhes sobre o
negócio da distribuidora, focando apenas nos resultados.

80. Quando há informações públicas ou auditáveis sobre as redes distribuição e os custos para
prestação do serviço, os métodos de engenharia podem ser utilizados. Por fim, simulações computacionais
para a confiabilidade da rede podem ser utilizadas como ferramentas para proposição de planos de melhoria
da confiabilidade.

81. Observa-se que os métodos de engenharia podem considerar desde um nível muito detalhado
de informações, tal como a simulação da qualidade para um cliente, até o uso de níveis de informações
totalmente agregadas, tal como o método econométrico. Em todas as abordagens há a necessidade de algum
tipo de informação e, quanto mais informação, maior a possibilidade de precisão dos resultados e das
soluções, mas que pode envolver também maior demanda de trabalho ou detalhamento.

III.2.5.1 Abordagem econométrica

82. A análise para a determinação dos custos de melhora na confiabilidade dos sistemas elétricos
por métodos econométricos foi desenvolvida em duas etapas: na primeira etapa foi apurada a eficiência das
diferentes empresas considerando a qualidade e as perdas como insumos da fronteira de eficiência; na
segunda etapa foi desenvolvido um modelo que possibilita determinar o custo marginal de atingir um nível de
qualidade específico acima do valor de qualidade da fronteira de eficiência. Portanto, na segunda etapa a
análise consiste em determinar o custo incremental de transladar a fronteira de eficiência que leva em conta a
qualidade do serviço.

Etapa 1: Análise de Eficiência

83. A análise de eficiência foi desenvolvida com base na metodologia de análise de Fronteiras
Estocásticas de Produção (SFA). Esses modelos possibilitam a estimação de custos ou produção através de
uma modelagem econométrica que pressupõe que o termo de erro inclui uma componente específica de
ineficiência. Seguindo a metodologia de Coelle e Perelman (1999), a especificação funcional adotada foi uma
função de distância e o algoritmo econométrico para determinar os coeficientes dessa função foi o de Battese
e Coelli, em que o termo de erro é variante ao longo do tempo

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 20 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

84. Os modelos de fronteira estocástica são especificados com a seguinte forma funcional:

85. Variável de qualidade. O peso da qualidade na fronteira de eficiência foi de 10%.

86. Produtos:

 Rede;
 Unidades Consumidoras;
 Energia.

87. Insumos:

 Custos Operacionais (Opex) e Custos Operacionais ajustados pelo índice salarial;


 Custos de Capital (Capex);
 Perdas de Energia; e
 Qualidade do serviço.

88. Com referência às variáveis ambientais, no estudo foi desenvolvida uma análise de
Componentes Principais pela qual foram determinadas três dimensões de variáveis de complexidade
ambiental: Ruralidade, Clima e Acesso e Servidão. Das três dimensões só foi considerada a ruralidade, pois
as demais não foram significativas estatisticamente.

89. Os parâmetros calculados apresentaram os sinais corretos do ponto de vista do bom senso
econômico, uma vez que os produtos (rede, unidades consumidoras e energia distribuída) tiveram sinais
negativos e foi constatado que eles são muito significativos estatisticamente. O produto com maior coeficiente
é: unidades consumidoras.

90. Quanto aos insumos, todos apresentaram sinais positivos e significativos e aquele com maior
peso na explicação da qualidade é o Capex (coeficiente de 0,57). O Opex e as Perdas apresentam
coeficientes bem menores e muito semelhante entre si (0,18 e 0,15 respectivamente).

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 21 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

91. A metodologia de fronteira de eficiência conseguiu a abertura do termo de erro em duas


componentes, uma de ineficiência e uma aleatória. Da análise fica evidente que quase a totalidade do erro é
devido à ineficiência.

92. No que diz respeito aos resultados obtidos, os escores de eficiência fazem sentido econômico,
pois as empresas que resultaram ineficientes são as que apresentam condições de custos, Capex ou Perdas,
aderentes a ditos escores.

93. A estimação das fronteiras estocásticas para o estudo foi realizada partindo de uma função de
distância multi-insumo e multi-produto (Coelle e Perelman, 1999):

94. Conforme a função de Cobb-Douglas, a relação paramétrica tem seguinte forma:

95. Os coeficientes da fronteira estocástica foram apurados a partir de um modelo de dados painel
de 462 observações, o qual está composto por 42 distribuidoras com informação anual para 11 anos. O
método empregado para essa estimação foi o de Battese e Coelli, os softwares usados foram o Stata e o
Limdep. Tomou-se o ano de 2013 como eficiência base para as empresas.

96. Foram desenvolvidos cinco modelos para a fronteira estocástica:

 Modelo Qualidade baseada na Energia Não Suprida e Capex sem Obrigações Especiais;
 Modelo Qualidade baseada na Energia Não Suprida e Capex com Obrigações Especiais;
 Modelo Qualidade baseada no desempenho do DEC e Capex sem Obrigações
Especiais;
 Modelo Qualidade baseada no desempenho do DEC e Capex com Obrigações
Especiais;
 Modelo FEC.

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 22 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

Tabela 9: Resultados alcançados.

97. Exemplo de fronteira para um dos modelos:

90,000

80,000 CEMIG
CELPA
ELETROPAULO
70,000 LIGHT
COELBA

60,000
COPEL
ENS (MWh)

50,000
CELESC
CELPE

40,000
AMPLA

CEEE CPFL PAULISTA


AES SUL
30,000 RGE
CEMAT

ELEKTRO
PIRATININGA ESCELSA
20,000 BANDEIRANTE
CEB COELCE
ENE. PARAÍBA
COSERN
BOA VISTA CELTINS
10,000 ENE. SERGIPE
ELETROACRE

SULGIPE CAIUA
JOAO CESA JAGUARI
0

Figura 5: Fronteira estocástica de qualidade em 2013. Modelo Qualidade baseada na Energia Não Suprida e
Capex sem Obrigações Especiais.

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 23 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

Etapa 2: Custo marginal de atingir um nível de qualidade acima do valor da fronteira de eficiência

98. Com base nos parâmetros apurados para a Fronteira Estocástica, foi determinado o valor da
qualidade eficiente, que está associada com o nível de ENS de fronteira.

99. Considerando que a ENS média não apresenta variações significativas, a ENS para cada uma
das empresas é apurada com a seguinte fórmula:

Onde:
= energia não suprida para a empresa i;
= proporção da ENS de empresa i em relação à média;
= ENS média para todas as empresas consideradas e para todos os anos da amostra.

100. Uma vez apurada a ENS de fronteira e consequentemente a qualidade ótima para cada uma
das empresas analisadas, foi desenvolvido um mecanismo de procura de solução matemática (Solver), que
consiste em analisar os efeitos de uma determinada variação da ENS de 2% e 5%. Assim, é estabelecido um
nível de ENS objetivo que resulta menor ao nível de fronteira para a empresa analisada.

101. Uma forma de obter esse valor de ENS objetivo é com modificações nos custos operacionais
(Opex) ou nas despesas de capital (Capex), sendo que o impacto dessas modificações nos custos na ENS é
estabelecido pelos coeficientes da regressão obtidos da etapa 1. Considerando esses coeficientes, é aplicado
um mecanismo de resolução de equações (Solver) que identifica a variação nos custos (Opex ou Capex) que
possibilitam obter o valor da qualidade objetivo.

102. A análise foi desenvolvida para as 12 empresas mais eficientes ou de melhores níveis de
qualidade, essas empresas são CFLO, COPEL, COELCE, CELTINS, EMG, CEMIG, EDEVP, Sulgipe, EPB,
COELBA, CPFL Santa Cruz e CEMAT. As outras empresas foram desconsideradas da análise em virtude dos
seus valores de qualidade estarem em outro patamar, indicando que o custo de atingir a fronteira resulta fora
da escala razoável. Os resultados são apresentados na Tabela 10.

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 24 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

Tabela 10: Resultados do custo da melhoria por modelo e por região.

III.2.5.2 Abordagem por métodos de engenharia.

103. De maneira geral, modelos de engenharia partem do princípio de que por meio de dados de
taxa de falhas dos equipamentos, da disposição da rede elétrica e da distribuição dos consumidores é
possível calcular a quantidade de eventos na rede, os tempos relacionados com a solução do problema e o
número de consumidores afetados e, portanto, DEC e FEC resultantes. Com proposições de alteração da
configuração de rede, da instalação de novos equipamentos haveria mudança da taxa de falha e
consequentemente de indicadores de DEC e FEC, que podem ser calculados e associados a um custo
relacionados com esta melhoria.

104. A confiabilidade esperada pode ser calculada por meio de métodos determinísticos ou de
simulações e probabilidades. A vantagem do uso de simulação é poder tornar o modelo mais apto a resolver
cada especificidade levantada: pode-se criar modelos para gerar ocorrências de acordo com a distribuição
observada no dia-a-dia, para alocação e atuação de turmas de reparo, para a atuação da proteção, para a
presença de vegetação e mudanças de padrões de rede, etc.

105. Em um contexto geral, modelos de simulação devem ser capazes de descrever a realidade
por meio de entradas e saídas. A simulação de uma rede em situação tal como observada no campo deve
resultar nos indicadores observados de DEC e FEC. Como tais indicadores são publicados por conjuntos, é
esperado utilizar como comparação de resultados os valores obtidos por conjuntos elétricos.

106. No relatório apresentado pela consultoria, são apresentados exemplos de aplicações de


ferramentas e metodologias distintas, com soluções também diferentes. A qualidade dos resultados é tão boa
quanto os modelos e, principalmente, os dados utilizados. Isso dificulta a aplicação pelo regulador, mas, por
outro lado, torna esses modelos mais vantajosos para as empresas de distribuição – que, de uma forma ou
outra, utilizam essas técnicas no planejamento e na avaliação de soluções para a melhoria da qualidade.

107. Os resultados de estimação do custo da melhoria por métodos de engenharia apontam para
as seguintes conclusões:

 É possível simular uma rede e obter dados de acordo com a realidade observada em
campo;
* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 25 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

 Com uma obra exclusiva de aumento da confiabilidade (instalação de religadores,


alocados de maneira otimizada) é possível obter custo marginal não maior que 5,00 R$/kWh
em uma rede típica de distribuidora urbana, estando na faixa de 1,00 R$/kWh para DEC na
ordem de 10 h/ano (partindo de DEC 16h/ano);
 Observa-se então que quaisquer outras obras, para serem justificadas como critérios de
melhoria da confiabilidade, devem apresentar o custo marginal da confiabilidade menor ou
igual a tal valor.

III.2.5.3 Comparação entre a abordagem econométrica e por método de engenharia.

108. Inicialmente, cabe uma discussão sobre qual modelo dos apresentados na abordagem
econométrica seria o mais adequado. Entende-se que sempre há argumentos a favor e contra cada um dos
modelos, mas é razoável supor que o Capex deve ser calculado considerando-se todas as obras realizadas –
independentemente de sua classificação contábil-regulatória como Obrigações Especiais. Assim, sugere-se
que os modelos DEC e ENS com Obrigações Especiais sejam os mais adequados para análise.

109. A abordagem econométrica determinou o custo marginal de melhorar a qualidade


considerando que a empresa está na fronteira de eficiência. A metodologia foi aplicada por região, mas ao
nível nacional os resultados indicam que melhorar a qualidade reduzindo um 5% a ENS da fronteira tem um
custo que fica no intervalo de R$45,8 – R$186,4 por kWh (kWh não suprido). A abordagem por métodos de
engenharia aponta que a melhoria de confiabilidade tem valores menores, na faixa de 5,00 R$/kWh.

110. Apesar da diferença ser muito grande, considera-se que de certa forma os resultados foram
os esperados na medida de que os resultados do modelo econométrico ficaram superiores aos dos modelos
de engenharia. Isso decorre de diversos fatores, como:

 A modelagem por métodos de engenharia classifica explicitamente as ações de melhoria


da confiabilidade que podem trazer maior retorno para a melhoria da qualidade.
 Ainda, a modelagem por métodos de engenharia é focada em locais com grande
potencial de melhoria na qualidade, enquanto a abordagem econométrica é geral.
 A abordagem econométrica é “refém” dos dados simulados. Assim, se há um cenário
com muito investimento em expansão e pouco investimento/gastos de O&M com qualidade,
é esperado que o modelo gradue cada melhoria de qualidade a um custo muito elevado.
 A grande diferença de eficiência entre as empresas, proveniente dos dados e modelos
utilizados, faz com que os custos para a melhoria da qualidade sejam bastante elevados,
principalmente para as mais ineficientes. Visto de outra forma: aplicar recursos para
melhoria da qualidade em empresas ineficientes é um desperdício.

III.2.5.4 Pontos para discussão

111. A SRD entende que os resultados com a abordagem econométrica ficaram mais distantes dos
valores estimados de custo da interrupção e parecem estar mais distantes da realidade do setor. Por outro
lado, a estimação por métodos de engenharia é mais complexa e dependente de quantidade elevada de

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 26 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

dados, o que limita sua atualização posterior pelo regulador. Nesse contexto, busca-se uma abordagem que
seja simplificada e mais precisa.

112. Tendo esse objetivo como referência, espera-se que sejam avaliadas as seguintes questões
quanto aos resultados do produto 4.

1. Os resultados da abordagem econométrica estão adequados e aderentes à


realidade do setor de distribuição brasileiro?
2. Qual dos modelos avaliados apresentou o resultado mais adequado?
3. Existe outra abordagem econométrica mais adequada para definição do custo da
melhoria?
4. A abordagem econométrica apontou que diversas empresas estão atuando longe
da fronteira de eficiência, dificultando a estimação do custo da melhoria. Qual
metodologia pode ser utilizada para estimar o custo da melhoria nessas empresas?
5. Os resultados da abordagem por métodos de engenharia estão adequados e
aderentes à realidade do setor de distribuição brasileiro?
6. Os resultados de custo da melhoria com base na abordagem econométrica são
significativamente diferentes do alcançados com métodos de engenharia. O
método econométrico é mais simples e de fácil atualização. Qual dos dois é o mais
adequado para ser usado como referência nas alterações na regulação da
qualidade?
7. A ANEEL deve incentivar ou exigir que as distribuidoras estimem o custo da
melhoria em suas áreas de concessão/permissão?

III.2.6 Produto 5 – Avaliação das estratégias de regulação necessárias para a minimização dos custos
de interrupção nos sistemas de distribuição.

113. Os objetivos desse produto são:

 Consolidar estudo que defina a função de custo total da confiabilidade no sistema de


distribuição de energia elétrica (funções de custo de interrupção a
consumidores/acessantes e funções de custo de melhoria da confiabilidade no sistema de
distribuição).
 Produzir documento que sintetize a metodologia de cálculo das funções de custo total da
confiabilidade no sistema de distribuição de energia elétrica, a sua aplicação, obtenção e
atualização.

III.2.6.1 Inclusão do CENS no Fator Xq – Incentivo tarifário à melhoria da qualidade do serviço.

114. A consultoria propôs uma metodologia que inclui o Custo da Energia Não Suprida (CENS) no
arcabouço regulatório do serviço de distribuição de energia elétrica. A metodologia consiste em substituir o
* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 27 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

incentivo atual para a melhoria na qualidade por um esquema que considera os custos sociais da má
qualidade.

115. O esquema proposto consiste na execução dos seguintes passos:

 Determinação da produtividade média da indústria;


 Ajuste no componente Pd do fator X: Inclusão do custo social da qualidade na
determinação da Produtividade Total dos Fatores (PTF), o que resulta na PTF Plus;
 Determinação do ajuste do valor da parcela B;
 Determinação do fator Xq: Produto entre valor ajustado da parcela B e a PTF Plus
normalizada.

116. Nesse esquema, as empresas que apresentam valores de PTF plus positivos, ou seja, são
produtivas e eficientes na gestão de seus negócios e apresentam maior qualidade na prestação dos serviços,
podem ter incrementos na tarifa. No caso contrário, as empresas ineficientes e com baixa qualidade
experimentam reduções das tarifas.

III.2.6.1.1 Exemplo de aplicação do esquema proposto

117. A determinação da PTF da indústria é realizada por meio da aplicação da metodologia do


índice de Tornqvist de Produtividade Total dos Fatores. O insumo considerado é o Totex, que representa o
resultado da soma dos Custos Operacionais com os Custos de Capital. O produto é a energia faturada para
cada um dos níveis de tensão.

118. O custo social da qualidade é calculado com base na transgressão do indicador DEC e no
Custo da Energia não Suprida definido no produto 3a. Utiliza-se a média dos valores calculados para os anos
2003 a 2012.

119. A inclusão do custo da qualidade na estimação da PTF (resultando na PTF Plus) gera uma
queda da PTF média da indústria, que passa de 1,68% para 0,21%. A Figura 6 apresenta os resultados da
PTF Plus normalizada.

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 28 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

Figura 6: Resultados.

120. O valor de +1 indica que a empresa teria um incremento de 100% no fator Xq, enquanto o
valor -1 representa que esse fator seria levado a zero.

III.2.6.2 Qualidade individual – Alteração nas compensações

121. Os principais pontos propostos são referentes aos valores pagos aos clientes, a definição da
meta de qualidade individual e a quantidade de compensações que a distribuidora deve pagar. São
apresentadas três propostas, considerando os diversos aspectos relacionados com a qualidade individual.

 Proposta 1: Fórmula para a utilização do custo da energia não suprida para a definição
das compensações;
 Proposta 2: Metodologia para compensação por interrupção;
 Proposta 3: Metodologia utilizando o valor agregado (DIC e FIC) com valor de
compensação mínima elevado.

122. Antes da apresentação das propostas, expõe-se o possível impacto da vinculação dos
indicadores individuais de continuidade com os coletivos no incentivo regulatório à melhoria qualidade do
serviço.

III.2.6.2.1 Vinculação da qualidade individual com a coletiva

123. A Figura 7 apresenta o gráfico da quantidade de consumidores impactados por tempo de


interrupção acumulado no mês.

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 29 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

Figura 7: atuação pretendida pelo regulador - deslocamento no DEC e diminuição dos clientes baixa
qualidade no atendimento, procurando normalizar a curva (ou reduzir a cauda).

124. A intervenção do regulador em relação a qualidade do serviço visa por um lado reduzir o DEC
e por outro garantir que a cauda da curva seja reduzida, garantindo um atendimento normal a todos os
clientes e, portanto, evitando que a distribuidora deliberadamente atenda de maneira pior alguns
consumidores. Assim, os consumidores que percebem baixa qualidade recebem a compensação por terem
pago por um serviço e não recebido na qualidade adequada.

125. Todavia, devido à correlação do indicador individual (DIC) com o coletivo (DEC) e ao peso
das compensações, a distribuidora tem o incentivo de prestar um serviço de maior qualidade nos conjuntos
com maior número de consumidores. Ocorre que, conforme pode ser observado na Figura 7, a maior parte
dos consumidores percebe uma quantidade menor de horas interrompidas. Como resultado, a distribuidora
pode não priorizar os consumidores com maiores quantidades de horas interrompidas, ou seja, que percebem
um serviço de pior qualidade.

III.2.6.2.2 Proposta 1: Inclusão da CENS na definição das compensações.

126. Propõe-se alteração na fórmula atual de cálculo das compensações:

Onde:

Fator k = DIC/DEC;
CENS = Custo da Energia não Suprida da região de atuação da concessionária e tipo de consumidor;
TTI = Tempo total de interrupção acima do máximo permitido.

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 30 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

127. Por exemplo, para um consumidor cujo consumo médio mensal seja 150kWh, cuja qualidade
recebida ultrapassa em 3 horas o máximo permitido, e a relação entre a sua qualidade e a média da
concessionária é 1,5, então, considerando que o CENS seja R$15,7 /kWh, a compensação será:

III.2.6.2.3 Proposta 2: Compensação por interrupção.

III.2.6.2.3.1 Compensação por duração dos eventos.

128. Com o intuito de contornar os problemas evidenciados na seção anterior, apresenta-se uma
nova proposta para orientar a definição de padrões de qualidade individual e, consequentemente, permitir que
apenas os consumidores submetidos a níveis críticos de qualidade de fornecimento sejam elegíveis ao
recebimento de compensações com valores significativos e que reflitam ressarcimento pelos transtornos
causados.

129. Os conceitos que orientam a proposta são:

1) Segmento de mercado:

 Urbano-BT (BT_U);
 Rural-BT (BT_R);
 Urbano-MT (MT_U);
 Rural-MT (MT_R);
 AT (AT).

2) Classes de consumo de um segmento de mercado:

 Residencial
 Comercial
 Industrial
 Outros.

3) Qualidade individual do fornecimento de energia elétrica:

 Duração de cada interrupção;


 Frequência de interrupções anuais.

4) Nível mínimo de qualidade de serviço individual;


* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 31 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

5) Limite de Duração de Interrupção (𝐿𝐼𝑀𝐷𝑈𝑅);


6) Limite Anual de Frequência de Interrupção (𝐿𝐼𝑀𝐹𝑅𝐸);
7) Valor mínimo para a duração de interrupções (𝑉𝐴𝐿𝐿𝐼𝑀−𝐹𝑅𝐸);
8) Valor mínimo de compensação.

130. Valor da compensação:

III.2.6.2.3.2 Compensação pela frequência dos eventos.

131. Os valores de de FRQL e Kei. são sugeridos apenas a execução do estudo de caso.

Tabela 11: valores de FRQL e Kei (valores sugeridos para a execução do estudo de caso).

132. Sugestão de valores mínimos de compensação por classe. Destaque-se que esses valores
são sugeridos apenas a execução do estudo de caso.

Tabela 12: Valores mínimos de compensação por classe (valores sugeridos para a execução do estudo de
caso).

III.2.6.2.4 Proposta 3: Metodologia utilizando o valor agregado (DIC e FIC) com valor de compensação
mínima elevado.

133. O modelo se baseia na análise de percentis de consumidores afetados por DIC e FIC acima
de determinado valor. A análise foi feita para algumas distribuidoras nos anos de 2007 e 2008 e para uma
distribuidora no ano de 2013.

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 32 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

134. O fundamento da proposta é avaliar a relação entre DIC ou FIC limite e o percentual de
clientes que ficariam nessa situação. Definida essa relação é estabelecido um multiplicador do EUSD,
chamado de fator “kei”, que corresponde ao custo da energia não suprida para dado tipo de cliente. Nessa
metodologia, extingue-se a compensação pela transgressão do DMIC. Pode-se avaliar também a definição
dos indicadores DIC e FIC para redes aéreas e subterrâneas.

135. Formulação:

Tabela 13: Formulação da compensação.

136. Em relação ao cálculo do fator kei, ele serve para equalizar o EUSD com o custo da ENS.
Pode-se utilizar diretamente o valor da energia consumida e então multiplicar a energia não suprida
(ENSmédia), tal como apresentado na primeira metodologia.

137. A metodologia proposta também considera 4 tipos de clientes: separados em urbanos (URB)
e rurais (NURB) e em média tensão (MT) e baixa tensão (BT). Assim, pode-se calcular o valor do limite de
DIC e FIC para cada tipo de consumidor.

138. Simulam-se duas abordagens para definição dos indicadores metas e do valor do kei. A
primeira considera a operação das distribuidoras. Observou-se que o percentil 97 representa melhor a
operação dentro de dispersão normal da distribuidora. Assim, se calcula valores de keis compatíveis com o
valor total de compensações em níveis comparáveis ao do PRODIST.

Tabela 14: Valores de kei.

III.2.6.3 Pontos para discussão

139. A SRD entende que os resultados de custo da interrupção e custo da melhoria


(especialmente pela abordagem por métodos de engenharia) apresentados pela consultoria são as melhores
referências disponíveis atualmente e que eles podem ser usados para a subsidiar alterações na regulação da
qualidade, tanto no incentivo tarifário quanto nas compensações aos consumidores.

140. Com relação aos indicadores coletivos, DEC e FEC, ao se confrontar as conclusões dos
relatórios 3 e 4, este último com relação aos modelos de engenharia, percebe-se que há espaço para a
melhora dos indicadores. Conclusões semelhantes são facilmente obtidas quando se realizam algumas
análises simples, como: comparação de desempenho de distribuidoras com áreas de concessão parecidas,
avaliação do desempenho dos indicadores Brasil excluindo-se as empresas que mais pioraram, apuração do
indicador DEC Brasil ajustando-se o desempenho das empresas que pioraram para que não piorem no
período, etc.
* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 33 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

141. Assim, uma possibilidade de aproveitamento dos resultados do relatório 4 é assumir que os
valores de DEC eficientes, resultado do modelo econométrico, são limites superiores para o desempenho das
concessionárias. A Tabela a seguir apresenta os valores para os modelos DEC com e sem obrigações
especiais.

Tabela 15: Comparação DEC Eficiente e DEC “Meta”.

142. Não se apresentaram propostas nesta Nota Técnica sobre novas metodologias para a
definição de limites/padrões para os indicadores DEC e FEC. No entanto, a depender da forma que evoluirão
os limites dos indicadores individuais, uma possibilidade futura é se alterar o enfoque atual dos conjuntos
elétricos, para uma abordagem por distribuidora. Também é possível evoluir no futuro para o estabelecimento
não de limites para os indicadores coletivos, mas sim de valores desejáveis (aproximando-se do conceito de
“meta”). Entende-se que não há opção única nesse caso, trata-se de uma questão de escolha – se por um
lado a abordagem por distribuidora poderia simplificar o procedimento de acompanhamento e
estabelecimento desses limites, por outro haveria perda de informação sobre localidades dentro da área de
concessão.

143. Em que pese ser importante que a sociedade já reflita sobre o assunto, sugere-se que esse
ponto seja aprofundado em CP/AP futura. Afinal, essa decisão dependerá da escolha a ser feita sobre os
limites para os indicadores individuais.

144. Sobre a regulamentação para os indicadores individuais, entende-se que há espaço para
melhoria na definição dos limites dos indicadores. Partindo-se da premissa de que os indicadores coletivos
servem para avaliar o desempenho da distribuidora e os individuais para evitar que os consumidores sejam
mal servidos – conforme ilustra a Figura 7, talvez os limites desses indicadores devessem ser mais
associados ao custo da interrupção e ao conceito de valores máximos toleráveis pelos consumidores do que
ao desempenho da distribuidora ou mesmo das características da rede – como acontece hoje, com a
associação dos limites individuais aos limites dos conjuntos.

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 34 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

145. A ideia apresentada traria, de alguma forma, a necessidade de uma grande uniformização
dos limites dos consumidores entre as concessionárias. Obviamente essa uniformização não significaria a
adoção de limites iguais para as unidades consumidoras, como é feito por exemplo em países bem menores
e mais homogêneos que o Brasil (como o Reino Unido).

146. Uma desvantagem da implantação dessa ideia seria o impacto que haveria nas
compensações das distribuidoras, pois haveria bastante alteração nessa transição. Por outro lado, isso pode
não ser um grande problema. As Figuras a seguir apresentam a distribuição de unidades consumidoras do
Brasil (concessionárias e permissionárias) por faixa de limites dos indicadores de continuidade individual
(mensal e anual) para unidades consumidoras de baixa tensão urbanas9, que representam cerca de 70% das
compensações pagas no país.

Percentual de consumidores por limite DIC Mensal


100%
95%
90%
85%
80%
75%
70%
65%
60%
55%
50%
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
5,43

15,68
4
4,11
4,23
4,35
4,47
4,59
4,71
4,83
4,95
5,07
5,19
5,31

5,55
5,67
5,79
5,91
6,03
6,15
6,27
6,47
6,87
7,26
7,66
8,05
8,45
8,85
9,24
9,64
10,04
10,73
11,72
12,71
13,7
14,69

17,17
19,15
21,13
23,11
25,09
26,08

Figura 8: Percentual de unidades consumidoras de baixa tensão urbana por limite de DIC Mensal.

9 Para se construir as figuras, classificou-se todos os conjuntos do Brasil por faixa de limites DEC e FEC do ano de 2016,
totalizando-se as unidades consumidoras desses conjuntos para cada limite. Assume-se que o valor percentual das unidades
consumidoras do país mantém a proporção com relação aos de baixa tensão urbana.

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 35 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

Percentual de consumidores por limite DIC Anual


100%
95%
90%
85%
80%
75%
70%
65%
60%
55%
50%
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
21,73

62,74
16
16,47
16,95
17,43
17,91
18,38
18,86
19,34
19,82
20,3
20,77
21,25

22,21
22,69
23,16
23,64
24,12
24,6
25,08
25,89
27,48
29,06
30,65
32,23
33,82
35,4
36,99
38,57
40,16
42,93
46,89
50,86
54,82
58,78

68,68
76,61
84,53
92,46
100,38
104,34
Figura 9: Percentual de unidades consumidoras de baixa tensão urbana por limite de DIC Anual.

Percentual de consumidores por limite FIC Mensal


100%
95%
90%
85%
80%
75%
70%
65%
60%
55%
50%
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
3,17

6,26
3,3
2,8
2,86
2,92
2,98
3,05
3,11

3,23

3,36
3,42
3,48
3,55
3,61
3,67
3,73
3,8
3,86
3,92
3,99
4,11
4,35
4,59
4,83
5,07
5,3
5,54
5,78
6,02

6,67
7,27
7,86
8,46
9,05
9,65
10,54
11,73
12,92
14,11
15,3
15,89

Figura 10: Percentual de unidades consumidoras de baixa tensão urbana por limite de FIC Mensal.

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 36 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

Percentual de consumidores por limite FIC Anual


100%
95%
90%
85%
80%
75%
70%
65%
60%
55%
50%
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
11,95

22,18

63,59
15,7
11,2
11,45
11,7

12,2
12,45
12,7
12,95
13,2
13,45
13,7
13,95
14,2
14,45
14,7
14,95
15,2
15,45

15,96
16,47
17,42
18,37
19,32
20,28
21,23

23,13
24,08
25,04
26,7
29,08
31,46
33,84
36,22
38,6
42,17
46,93
51,69
56,45
61,21
Figura 11: Percentual de unidades consumidoras de baixa tensão urbana por limite de FIC Anual.

147. Das figuras apresentadas, percebe-se que já há grande uniformidade nos limites dos
indicadores individuais no país, e seria possível, sem grandes impactos, agrupar os limites individuais em
faixas. Por exemplo, 50% das unidades consumidoras do país possuem limites mensais para o DIC entre 4 e
5 horas, e 90% até 6,5 horas. Ademais, deve-se considerar que anualmente tem havido uma uniformização
dos limites, ou seja, o cenário para 2020 será ainda mais uniforme.

148. Assim, uma possibilidade a ser analisada é o estabelecimento de limites com base no custo
das interrupções por classe de consumo. Por exemplo, com base nos custos apresentados na Tabela 7, seria
possível estabelecer três tipos de limite: (i) industrial, poder público e rural; (ii) comercial e residencial; e (iii)
baixa renda e serviço público. Essas três classes poderiam, por exemplo, ser divididas em cinco zonas de
acordo com a característica de atendimento: (i) subterrâneo; (ii) urbano denso; (iii) urbano disperso; (iv) rural e
(v) difícil acesso. Com essa proposta ilustrativa existiriam, portanto, apenas 15 faixas de limites para os
indicadores DIC e FIC.

149. Dados os limites individuais, há ainda que se avaliar a regra de compensação às unidades
consumidoras quando da violação dos limites. Existem diversas formas de se definir tal regras, e entende-se
que a decisão passa por um compromisso entre simplicidade e precisão (no sentido de se aproximar mais do
real ressarcimento ao consumidor). Entende-se que há espaço, e talvez até necessidade, de simplificação da
regra existente10.
10Destaca-se que a SRD já está elaborando estudo sobre a possibilidade de alteração da regra atual de pagamento pelo Encargo
de Uso do Sistema de Distribuição EUSD para a componente Fio-B da TUSD. Trata-se, porém, de uma possibilidade de alteração
simples do mecanismo de compensação, com enfoque de curto prazo e sem propósito de aprimoramento estruturante do
mecanismo de compensação. Por essa razão, na presente consulta pública, sugere-se que as contribuições foquem em propostas
de melhorias metodológicas no regulamento.
* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 37 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

150. O último aspecto que deve ser analisado diz respeito a um problema na sinalização da
regulamentação atual. Uma vez que o incentivo existente é financeiro, a distribuidora programa as prioridades
de atendimento às ocorrências com base na compensação a ser paga. Isso tem levado a tempos de
atendimentos excessivamente elevados às ocorrências que envolvem poucos consumidores – há casos de
ocorrências nos ramais de ligação com prazo de atendimento superior a uma semana.

151. Apesar de ter havido forte atuação da fiscalização da ANEEL para tentar coibir tal prática,
entende-se que o regulamento pode ser ajustado para que o incentivo não leve a essa situação. Dentre as
possibilidades, pode-se adotar, por exemplo, regras de compensação com crescimento exponencial em
função da quantidade de horas interrompidas e a criação de um indicador específico para o monitoramento
desses casos – como por exemplo um indicador que apure a quantidade de consumidores com duração de
interrupções maiores que 24 horas no mês – associado à previsão de multa.

152. Espera-se que sejam considerados nas contribuições à Consulta Pública aspectos relativos à
viabilidade de implantação das alterações propostas (especialmente quanto à simplicidade) e a efetividade
quanto aos resultados desejados.

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 38 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

1. Os resultados do trabalho da consultoria oferecem elementos suficientes para


alteração das regras atuais de regulação da qualidade do serviço de distribuição?
2. As propostas apresentas pela consultoria são aplicáveis às concessionárias e
permissionárias? Devem ser regras distintas para concessionárias e
permissionárias?
3. A proposta de alteração do incentivo tarifário à melhoria da qualidade da
prestação do serviço está adequada? Existe metodologia mais adequada à
proposta pela consultoria?
4. Deve-se extinguir a compensação pela transgressão trimestral e anual dos
indicadores individuais?
5. Qual a melhor abordagem para as compensações, por evento ou por
transgressão de indicadores?
6. Qual das 3 propostas de alteração nas regras de compensação apresentadas
pela consultoria é mais adequada e aderente a realidade do setor de distribuição
brasileiro?
7. Além das 3 propostas apresentadas, como podem ser incorporados os valores
estimados de custo da interrupção e da melhoria na regulação da qualidade? Qual
o desempenho esperado das distribuidoras à luz do custo da interrupção e da
melhoria da qualidade?
8. Tendo em vista a proposta 2 de alteração nas regras de compensação, é o
momento de abandonar a compensação pela transgressão dos indicadores DIC,
FIC e DMIC?
9. A instituição de compensação com crescimento exponencial em função da
quantidade de horas interrompidas é adequada evitar que qualquer consumidor
esteja sujeito a interrupção de duração excessiva? Qual a metodologia mais
adequada para atender esse objetivo? Qual indicador poderia ser criado para
acompanhar as interrupções de duração excessiva?
10. Caso se entenda que a proposta 2 de compensação por duração e frequência
dos eventos, qual a melhor metodologia para definição dos parâmetros C min, kei,
IV. DO FUNDAMENTO LEGAL
k12, DurL e FRQL?

153. Essa análise encontra fundamentação principalmente na Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de


1995, nos Contratos de Concessão e de Permissão de Distribuição de Energia Elétrica, nos Procedimentos
de Regulação Tarifária (PRORET) e Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico
Nacional (PRODIST).

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.
Fl. 39 da Nota Técnica n° 0173/2016-SRD/ANEEL, de 23/12/2016.

V. DA CONCLUSÃO

154. Esta Nota Técnica apresentou resultados do trabalho de consultoria contratada pela ANEEL
(consórcio formado pelas empresas Sinapsis Inovação em Energia S/S Ltda., Mercados de Energia
Consultoria Ltda. e Mercados Energéticos Consultores S.A.). O objetivo do estudo foi a avaliação dos custos
relacionados às interrupções de energia elétrica, com levantamento de pontos para nortear a discussão em
torno de alterações na atual regulamentação da continuidade do fornecimento na distribuição de energia
elétrica.

155. Como base no que foi exposto, entende-se que os custos de interrupções e de melhoria da
qualidade da prestação do serviço estimados pela consultoria constituem valiosa referência para
aprimoramento das normas relativas a esse tema. Nesse contexto, entende-se que é o momento de iniciar a
discussão com a sociedade e com os agentes interessados sobre o aprimoramento da regulamentação da
continuidade.

156. Novamente, destaca-se que esta Consulta Pública é a primeira oportunidade de discussão do
assunto. Outras interações ocorrerão para que se consiga aprimorar a regulamentação existente.

VI. DA RECOMENDAÇÃO

157. Recomenda-se submissão da presente Nota Técnica em Consulta Pública com prazo para
contribuições até 03 de abril de 2017, com o objetivo de ouvir a sociedade e os agentes interessados sobre
alterações na regulamentação da continuidade do fornecimento na distribuição de energia elétrica.

MARCOS VENICIUS LEITE VASCONCELOS LEONARDO MENDONÇA OLIVEIRA DE QUEIROZ


Especialista em Regulação Especialista em Regulação

De acordo:

HUGO LAMIN
Superintendente de Regulação dos Serviços de Distribuição - Substituto

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

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