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RESUMO
O presente artigo é resultado de um trabalho cujo objetivo foi realizar um levantamento e
vivenciar práticas corporais de matriz africana que contribuam para o desenvolvimento de
processos educativos inter-étnicos . Assim, a partir de literaturas sobre as desiguais relações
inter-étnicas no Brasil e a Lei 10.639/2003 que institui a obrigatoriedade do Ensino de
História e Cultura Africana e Afro-Brasileira, intervenção foram realizadas em uma escola
estadual localizada na cidade de São Carlos com jogos de origem africana, vivenciados com
crianças do 3º ano. Construímos inspirados na metodologia fenomenológica, os seguintes
resultados: fortalecimento da auto-estima, mudança na percepção de África e
consequentemente de seus descendentes auxiliando na construção dos processos
identitários.
Introdução
holocausto, a questão racial ganha espaço para discussão, na década de 1950 ampliou-se
então a discussão em solo brasileiro.
Neste período Florestan Fernandes, Roger Bastide entre outros pesquisadores da
área de Ciências Sociais desenvolveram projetos de estudo, financiado pela Unesco
(Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura), propiciando uma
guinada nas discussões sobre relações raciais.
Em meio estes intempéries, foi (e ainda é) muito difícil para sociedade brasileira
admitir que é uma sociedade racista. Assumir isto implicaria em criação de políticas
afirmativas voltadas a esta população, mas, após o regime militar (dec. 80), houve grandes
publicações e denúncias de diversos grupos identitários como, por exemplo: homossexuais,
mulheres, negros, classes populares, etc.
Segundo Gomes citada em Silva (1997), em seu artigo no livro “O Pensamento
Negro em Educação no Brasil”, nos indica cinco contribuições importantíssimas para um
pensar negro na sociedade brasileira:
1ª. Denúncia de que a escola reproduz e repete o racismo presente na sociedade;
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2ª. Contribuição dos negros para o pensamento educacional brasileiro com ênfase no
processo de resistência negra;
3ª. Centralidade da cultura;
4ª. Consideração de que existem diferentes identidades;
5ª. Repensar a estrutura excludente da escola e a denuncia de que tal estrutura precisa ser
reconstruída para garantir não só o direito de acesso à educação, como também a
permanência e o êxito dos alunos de diferentes pertencimentos étnicos-raciais e níveis
socioeconômicos.
As contribuições citadas foram pensadas como indicativos de ações efetivas e não
meros adendos, e vem sendo significativa no processo de um novo pensar em educação na
sociedade brasileira.
Para uma compreensão contextualizada do termo raça segue destaque:
se entende por raça construção social forjada nas tensas relações entre brancos e
negros, muitas vezes simuladas como harmoniosas nada tendo a ver com o
conceito biológico de raça cunhado no século XVIII e hoje sobejamente
superado. Cabe esclarecer que o termo raça é utilizado com freqüência nas
relações sociais brasileiras, para informar como determinadas características
físicas como cor de pele, tipo de cabelo, entre outras, influenciam, interferem e
até mesmo determina o destino e o lugar social dos sujeitos no interior da
sociedade brasileira. (BRASIL, 2004, p 12).
O jogo, elemento utilizado como meio neste trabalho para o auxílio nos processos
educativos para desenvolvimento das relações inter-étnica, é apontado por Prista, Tembe e
Edmundo (1992) como uma manifestação tão antiga quanto o próprio ser humano. A
humanidade sempre jogou, e uma análise cuidadosa permite constatar que são muitas as
funções do jogo, o que lhe atribui um estatuto privilegiado nos aspectos de preparação para
a vida.
O jogo possui múltiplas funções, ele pode ser comunicação e interiorização de
norma e conveniência, diversificação dialética de tensões e distensões comportamentais,
pode ser usado para libertação ou adestramento do corpo (PRISTA; TEMBE; EDMUNDO,
1992).
Para a utilização deste recurso (jogo), foi realizado um levantamento, análise e
seleção de práticas corporais africanas e afro-brasileiras, as mesmas foram desenvolvidas e
vivenciadas através de jogos, brincadeiras, danças, cantos e contos africanos e afro-
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brasileiros com crianças do 3º. ano do ensino fundamental de uma escola estadual da cidade
de São Carlos, interior de São Paulo.
Realizar o levantamento não foi uma tarefa fácil, pois no âmbito da Educação Física
e da cultura corporal, existem poucas produções que enaltecem, valorizam e de certa forma
contribuem para uma educação anti-racista que fuja a capoeira e dança afro. E mesmo estas
duas possibilidades de trabalhos, pouco são desenvolvidas como conteúdo disciplinar nos
cursos de Licenciatura em Educação Física do Brasil e consequentemente dificilmente são
desenvolvidas de modo contextualizado no âmbito no componente curricular Educação
Física na Educação Básica.
1
A eugenia é uma ação que visa o melhoramento genético da raça humana, utilizando-se para tanto de
esterilização de deficientes, exames pré-nupciais e proibição de casamento consangüíneos. (BRASIL, 1997,
p.19)
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2
Ciência que se ocupa com o estudo e cultivo de condições que tendem a melhorar as qualidades físicas e
morais de gerações futuras. Que visa ao melhoramento da raça. Fonte: dicionário Michaelis UOL.
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Discussão esta que no âmbito das relações raciais já estão sobejamente superadas
com a lei 10.639, mais uma conquista do movimento negro brasileiro. Em março de 2003, a
lei 10.639/03 – MEC que altera a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) estabelece as Diretrizes
Curriculares para a implementação da mesma que institui a obrigatoriedade do ensino da
História da África e dos africanos no currículo escolar de ensino fundamental e médio. Essa
decisão resgata historicamente a contribuição dos negros na construção e formação da
sociedade brasileira. (BRASIL, 2004).
Procedimentos Metodológicos
Depois de pré-estruturado, o projeto foi apresentado à direção, coordenação e
professores(as) da escola onde foi desenvolvido e vivenciado o projeto. Juntamente ao
projeto, foi apresentada a Lei 10.639/2003, que institui a obrigatoriedade do ensino da
História e Cultura Africana e Afro-Brasileira no currículo escolar de ensino fundamental, e
médio e do Parecer 003/2004 que institui Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação
das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
africana.
A direção, coordenação e professora de Educação Física da escola autorizaram a
realização da intervenção e pesquisa, bem como as crianças do 3º. Ano e seus responsáveis,
através de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinados, com o compromisso de
não divulgação dos nomes dos participantes e da escola, seguindo também demais preceitos
éticos.
Foram utilizadas dez aulas durante um trimestre letivo em aulas regulares do
componente curricular Educação Física de uma turma do 3º. ano, cedidas pela Professora
de Educação Física e pela Diretora de Escola Estadual da cidade de São Carlos, interior do
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Pra mim é um tipo de uma floresta onde ficam os animais. É um lugar legal e um
pouco grande e um pouco deserto com uns animais tipo, canguru, onça, etc. também é um
lugar bacana que fica livre pela natureza. Marcio B.
não existem só negros, existe também brancos, o meu professor falava quando a gente
terminava as brincadeiras ele falava de onde vem a brincadeira e como chama, eu adorei
todas. (FELÍCIO, 2006).
Considerações Finais
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Com base nos dados, consideramos que as crianças tiveram outra percepção de
África e conseqüentemente outra percepção de negro(a) e cultura negra. Esta mudança de
percepção reflete na formação da identidade da criança, neste projeto não posso afirmar que
em dez aulas modifiquei a identidade das pessoas envolvidas, mas certamente, contribui
para um despertar, com um novo olhar de si e do outro.
Consideramos também que a lei 10.639/2003, que institui a obrigatoriedade do
ensino da História da África e dos Africanos no currículo escolar de ensino fundamental e
médio e do parecer 003/2004 que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para
Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-
Brasileira e Africana, foram compreendidas e iniciadas, uma vez que as discussões e
atividades desenvolvidas nessa pesquisa propiciaram abordar, ainda que de forma inicial, o
que a citada lei e parecer preconizam.
Esperamos, no sentido Freireano indicado no neologismo esperançar, ou seja, do
verbo, da ação de homens e mulheres, de ir ao encontro e lutar pela transformação
(FREIRE, 1994) das atuais relações inter-étnicas.
Referências
CAVALLEIRO, Eliane. Do silêncio do lar ao silêncio escolar. São Paulo: Contexto, 2000,
110p.
FERAUD, Marie. Contos africanos. Trad. Antonio Manuel Couto Viana. Lisboa/São
Paulo: Verbo, 1997.
KOLYNIAK FILHO, Carol. Educação física: uma introdução. São Paulo: EDUC, 1998.