Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
EDITORA UFMG
Diretor Wander Melo Miranda
Vice-Diretora Silvana Cóser
CONSELHO EDITORIAL
Wander Melo Miranda (presidente)
Carlos Antônio Leite Brandão
Juarez Rocha Guimarães
Márcio Gomes Soares
Maria das Graças Santa Bárbara
Maria Helena Damasceno e Silva Megale
Paulo Sérgio Lacerda Beirão
Silvana Cóser
Visão Mundial
Oficina de Imagens
Salesianos
ENFRENTAMENTO À
VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTO-JUVENIL
Expansão do PAIR em Minas Gerais
1ª reimpressão
Belo Horizonte
Editora UFMG
2008
Inclui referências.
ISBN: 978-85-7041-691-9
CDD: 362.76
CDU: 364
_______________________________________________________________________
Elaborada pela Central de Controle de Qualidade da Catalogação da Biblioteca
Universitária da UFMG
EDITORA UFMG
Av. Antônio Carlos, 6627 | Ala direita da Biblioteca Central | Térreo
Campus Pampulha | CEP 31270-901 | Belo Horizonte/MG
Tel. (31)3409-4650 | Fax (31)3409-4768
www.editora.ufmg.br | editora@ufmg.br
Disponível no Portal
http://pair.ledes.net – link Estados/Produtos
Belo Horizonte, março de 2008
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
PREFÁCIOS
Carmen Oliveira 12
INTRODUÇÃO 18
Parte I
FUNDAMENTOS
AÇÃO EDUCATIVA
Princípios Norteadores do Processo de Capacitação/Formação
Maria Amélia Gomes de Castro Giovanetti 87
Parte III
INTERVENÇÃO
Carmen Oliveira
Subsecretaria de Promoção dos Direitos
da Criança e do Adolescente
Nota
1
Ao mencionarmos “educadores”, nos referimos aos agentes os quais, ao atuarem
em sua realidade local, seja nos Conselhos Tutelares, nos Conselhos Municipais
dos Direitos da Criança e do Adolescente, nos Postos de Saúde, nas escolas, nas
Unidades de Assistência Social, no Judiciário, no Ministério Público, no Legisla-
tivo, dentre outros órgãos governamentais, desenvolveram uma ação educativa
ao abordarem junto à comunidade local o tema do enfrentamento à violência
sexual infanto-juvenil.
FUNDAMENTOS
Considerações finais
Notas
1
“Pai” ou “Padrasto” – Os termos estão entre aspas devido ao fato de estes
personagens familiares não conseguirem se reconhecer, ainda, no lugar de uma
paternidade protetora e responsável, confundindo-se na indiscriminação de
funções e atributos que devem ser delimitados para se constituir uma identidade
familiar.
2
Diagnóstico realizado pelo Centro de Estudos sobre Criminalidade e Segurança
Pública - CRISP/UFMG, no período de janeiro a maio de 2007, nos municípios
de Itaobim, Teófilo Otoni e Uberaba.
3
Programa Sentinela – Programa Nacional de Enfrentamento à Exploração e ao
Abuso Sexual Infanto-Juvenil, desenvolvido em vários municípios brasileiros.
Referências
BOTH, Elizabeth. Família e rede social. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 2. ed. São Paulo:
[s.n.], 2000.
SLUZKI, Carlos E. A rede social na prática sistêmica. São Paulo: Casa do Psicó-
logo, 1997.
Introdução
abertos para todos os cidadãos que desejam tomar parte nos obje-
tivos da deliberação.
Isso justifica, inclusive, o entendimento do enfrentamento à
exploração e violência sexual contra crianças e adolescentes como
uma questão de direito: neste caso, crianças e adolescentes, não mais
como objetos de tutela ou elementos pertencentes a sujeitos que
atingiram uma determinada maioridade civil acordada, passam a
ser sujeitos de direitos; tal questão, reposicionada a partir da noção
dos direitos humanos, torna o combate a essa exploração e a essa
violência como uma questão não restrita apenas a uma esfera espe-
cífica de sujeitos e/ou seleta de especialistas, mas também a todos
os cidadãos que, como participantes de argumentações públicas,
tomam o combate contra a violência e a exploração sexual infanto-
juvenil como um problema público, e compartilham, portanto,
a responsabilidade de acordar e garantir o exercício dos direitos
humanos das crianças e adolescentes.
Nesse sentido, estudos já realizados (Henriques; Braga; Mafra,
2004; Mafra, 2006; Toro; Werneck, 2004) apontam que, na comple-
xidade da sociedade contemporânea, tanto os embates coletivos
pela garantia ao direito quanto a busca pelo exercício do direito
conquistado interligam-se com um esforço convocatório, no sentido
de chamar os cidadãos para atuarem em deliberações públicas. Tal
processo pode ser compreendido como mobilização social.
Considerações finais
Notas
1
Além do eixo Mobilização e Articulação, há ainda outros cinco eixos que compõem
o Plano: 1) Análise da Situação; 2) Defesa e Responsabilização; 3) Atendimento;
4) Prevenção; e 5) Protagonismo Infanto-Juvenil.
2
Segundo Habermas, “os que agem comunicativamente encontram-se numa
situação que eles mesmos ajudam a constituir através de suas interpretações
negociadas cooperativamente, distinguindo-se dos atores que visam o sucesso
e que se observam mutuamente como algo que aparece no mundo objetivo”
(1997: 92).
3
A partir de Cohen (1997) entendemos que a noção de uma democracia deliberativa
está enraizada no ideal intuitivo de uma associação democrática, na qual a justifi-
cação dos termos e das condições de associação efetua-se através da argumentação
pública e do intercâmbio racional entre cidadãos iguais.
Referências
AÇÃO EDUCATIVA
Princípios norteadores do
processo de capacitação/formação
Estímulo à autonomia
Respeito
O princípio do respeito confere um sentido à ação educativa, na
medida em que ele se torna um “sinal de alerta” para compreender
as diferenças de ritmos e de intensidade da participação de cada
pessoa, grupo e/ou comunidade.
Transmitimos informações, proporcionamos tempo e espaço
para a participação de cada cidadão, de cada comunidade. Porém,
não detemos o poder de imprimir, no outro, o nosso próprio ritmo,
a nossa intensidade de envolvimento no processo participativo.
O princípio do respeito é um referencial claro para a convivência
humana, marcada por relações de conflito.
Esperança
O princípio da esperança é aquele que está sempre nos lembrando
da importância de se conceber a “história como possibilidade”.
Segundo Paulo Freire, “mudar é difícil, mas é possível!”
Conceber a história como possibilidade nos ajuda a superar
a postura fatalista, determinista, marcada pela desistência. Além
disso, desperta a nossa memória e nossa imaginação para buscarmos
soluções para as questões pessoais e sociais que nos rodeiam.
Ao longo do processo de capacitação/formação, convidamos
os Educadores a cultivarem esses princípios que, aliados a outros
tantos infinitos princípios humanos, possam conferir sentido a uma
prática educativa que se delineia no contexto da Educação Popular.
Uma prática que nos motiva a viver a condição humana.
Finalmente, o eixo da dimensão metodológica tem por objetivo
assegurar ao processo de capacitação/formação o seu tom prático e
de coerência entre teoria e prática. Portanto, se em nossos referenciais
teóricos explicitamos que nossa concepção de capacitação/formação
é entendida como “processo de formação humana, visando ao
Considerações finais
Notas
1
Equipe de Formadores responsável pela capacitação/formação dos Educadores
nos três municípios (Teófilo Otoni, Uberaba e Itaobim). Composição da equipe:
professores e técnicos das três Universidades (UFMG, UFTM e UFVJM),
profissionais da área da Saúde, Educação, Assistência Social, Cultura e Esportes
e representantes da sociedade civil, indicados pelos três municípios. São eles:
Andréa Francisca dos Passos, Bethânia Ferreira Goulart Cunha, Carla Oliveira
Referências
FREIRE, Ana Maria Araújo. Notas. In: FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança. Um
reencontro com a Pedagogia dos oprimidos. 13. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2006.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 24. ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 2000a.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
Primeiras palavras
Gosto de ser homem, de ser gente porque, como tal, percebo afinal
que a construção de minha presença no mundo, que não se faz
no isolamento, isenta da influência das forças sociais, que não se
compreende fora da tensão entre o que herdo geneticamente e o
que herdo social, cultural e historicamente, tem muito a ver comigo
mesmo. (1996: 53)
Quem nunca ouviu dizer que “os jovens são o futuro do país?”
Quase todo mundo, não é verdade? Porém a afirmativa merece
uma reflexão: se os jovens são o futuro do país, qual é o seu papel
Considerações finais
Antagonistas ou protagonistas?
“Tu me dizes, eu esqueço.
Tu me ensinas, eu lembro.
Tu me envolves, eu aprendo.”
Benjamim Franklin
Notas
1
Coordenado pela ONG Oficina de Imagens Comunicação e Educação, o projeto
JITE – Jovens Interagindo – formou, entre os anos de 2003 e 2006, 45 jovens de
Belo Horizonte e região Metropolitana em direitos e cidadania para a utilização
dos mecanismos de comunicação no trabalho de mobilização social.
2
A Oficina de Imagens é uma instituição sem fins lucrativos, fundada em 1998
por um grupo de comunicadores e educadores. A ONG desenvolve, a partir das
técnicas e linguagens da comunicação, métodos pedagógicos escolares e não-
escolares, para a formação de jovens, educadores e líderes sociais como sujeitos
críticos, cidadãos conscientes e atuantes em suas comunidades por meio do uso
dos meios de comunicação.
3
Aqui fica o agradecimento a todos que colaboraram para qualificar a nossa par-
ticipação.
4
A linha do tempo é um mecanismo criado pela ONG Oficina de Imagens com o
objetivo de fazer com que os jovens do JITE se situassem no projeto, em relação
à metodologia e aos objetivos do trabalho.
5
Agradecemos as contribuições de Elizabeth Gomes Vieira, membro da Oficina de
Imagens e representante da região sudeste no Comitê Nacional de Enfrentamento
à Violência Sexual Infanto-Juvenil na construção deste tópico do texto.
6
Nos encontros de adesão e sensibilização, por exemplo, utilizamos a técnica
da videocabine, por meio da qual adolescentes e jovens deram depoimentos e
nos apresentaram o contexto e a realidade local, a partir de sua perspectiva. A
videocabine é uma técnica de entrevista livre e direta por meio da qual é possível
mapear posições pessoais sobre temas diversos. Neste caso específico, os temas
postos em diálogo foram protagonismo, sexualidade e participação.
7
Trata-se do Projeto Juventude em Ação.
Referências
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 20. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
(Coleção Literária)
ANÁLISE DA SITUAÇÃO
DIAGNÓSTICO DE
UBERABA, TEÓFILO OTONI E ITAOBIM
Caracterização, visibilidade
e localização do fenômeno1
Introdução
Uberaba
O município de Uberaba, juntamente com o de Uberlândia,
destaca-se como um dos pólos econômicos principais da região do
Triângulo Mineiro e do Estado e conta, segundo estimativa do IBGE
de 2005, com uma população de 280.060 habitantes.
Uberaba possui uma economia bastante diversificada. Os setores
de atividade mais importantes são o agropecuário, o industrial e
de comércio, bem como o de serviço. Este dinamismo econômico
propiciou o desenvolvimento do turismo de negócio na cidade,
que ganha visibilidade e expressão na festa anual agropecuária,
reunindo os maiores criadores e comerciantes de gado do Brasil.
Tal acontecimento, entretanto, é fator de risco do ponto de vista
da exploração sexual. Também fator de risco permanente, porém
sazonal, é o plantio e colheita de cana-de-açúcar que vêm sofrendo
um forte crescimento no município e em seu entorno, em razão do
movimento migratório de homens solteiros para a região.
Teófilo Otoni
O município de Teófilo Otoni, junto com Malacacheta e Nanuque,
destacam-se como os principais pólos econômicos da região do Vale
do Mucuri. Conta, segundo estimativa do IBGE de 2005, com uma
população de 127.818 habitantes.
Em razão do baixo índice de desenvolvimento do Vale do Jequi-
tinhonha e do Vale do Mucuri, a cidade acabou se tornando uma
referência no comércio regional, atraindo moradores das cidades
vizinhas. Em 2000, 39,8% da população residente em Teófilo Otoni
era considerada pobre. Em 2001, a grande maioria da população de
Teófilo Otoni recebia até 3 salários mínimos (cerca de 78%).
Teófilo Otoni situa-se na BR-116, a Rio-Bahia, e também na con-
fluência com outras rodovias estaduais e federais. Este fato constitui
fator de risco permanente com relação à violência sexual, sobretudo
exploração sexual e tráfico comercial de pessoas, principalmente
de meninas adolescentes. Outros fatores de risco são as feiras de
negócio de pedras e os garimpos situados nas proximidades do
município concentrando homens e dinheiro.
Houve notável mudança no nível educacional da população
jovem de Teófilo Otoni entre os anos de 1991 e 2000. Destacam-se
principalmente a redução da taxa de analfabetismo e o grande
aumento da porcentagem de jovens com freqüência escolar, prin-
cipalmente entre 15 e 17 anos.12 Em 2006, segundo estimativa do
Itaobim
Itaobim localiza-se na microrregião de Pedra Azul e na mesor-
região do Vale do Jequitinhonha. A sua população, segundo esti-
mativa do IBGE em 2005, é de 21.843 habitantes. A BR-116 corta
o município. Como vimos, isto constitui fator de risco permanente
quanto ao fenômeno da exploração sexual infanto-juvenil, uma vez
que os agentes exploradores, em sua maioria, são caminhoneiros e
é nos postos de gasolina e suas imediações, localizados ao longo
da rodovia, que se concentram as prostitutas e os prostíbulos camu-
flados em restaurantes e hotéis. Cidades próximas a Itaobim, como
Ponto dos Volantes, Medina e Comercinho, também são “conhecidas”
pelo problema. A dimensão da regionalização do fenômeno da
exploração contra crianças e adolescentes na mesorregião do Vale
do Jequitinhonha foi identificada no estudo “Projeto 18 de Maio”,
do Programa Pólos de Cidadania (2006).
De acordo com o Atlas de desenvolvimento humano no Brasil, em
2000, 64,4% da população residente em Itaobim era considerada
pobre. Um dos maiores problemas de Itaobim é a carência de fonte
de renda no município, o que implica a falta de emprego para a
população em geral. Boa parte desta população vive de recursos
Visibilidade do fenômeno em
Uberaba, Teófilo Otoni e Itaobim/MG
Uberaba
Foram identificados 55 casos de violência sexual contra crianças
e adolescentes registrados em Uberaba em 2006, por estas duas
instituições, dos quais 41 de abuso sexual e 14 de exploração sexual
e drogadição feminina.
Abuso sexual
A imensa maioria das vítimas de abuso sexual (83%) é do sexo
feminino. A maioria das vítimas (59%) tinha menos de 10 anos
na época dos fatos. A imensa maioria (95%) dos seus agressores
Exploração sexual
Em relação ao perfil das vítimas de exploração sexual, conside-
ramos a hipótese de que as crianças e adolescentes, principalmente
do sexo feminino que possuem algum envolvimento com drogas,
podem estar também sendo exploradas sexualmente. Neste sentido,
coletamos dados referentes a meninas envolvidas em drogadição.
Verificamos que as vítimas de exploração encontram-se igualmente
Teófilo Otoni
Abuso sexual
Foram identificados, a partir de coleta de informação nos Con-
selhos Tutelares Norte e Sul de Teófilo Otoni, 9 casos de abuso sexual
em 2006, a maioria (7) com vítima de sexo feminino. A maioria das
vítimas (6) tinham, à epoca do fato, até 11 anos de idade. Em todos
os casos em que foi possível obter a informação, o agressor era do
sexo masculino. Quanto à relação entre vítima e agressor, a maioria
era de pessoas próximas da vítima: padrastos (3), vizinhos (2) e tio
(1), ou não foi possível obter a informação (3). Os denunciantes
identificados nos registros foram: família, Polícia Militar, Polícia
Rodoviária Federal, escola estadual, Sentinela, Emater, Delegacia de
Polícia Civil. Os encaminhamentos realizados e registrados foram:
Creche Ninho, Promotoria, Sentinela, Delegacia de Polícia.
Exploração sexual
Foram identificados apenas três casos de exploração sexual. As
vítimas, do sexo feminino, tinham 13 e 15 anos respectivamente, e
em um caso não foi possível obter a informação. Em dois casos o
agressor era do sexo masculino e o terceiro sem informação. Em
apenas um caso foi possível saber a relação entre vítima e agressor,
de apadrinhamento. Os denunciantes foram o Disque Direitos
Humanos, tio e um caso sem informação. Quanto ao encaminha-
mento dado, em apenas um caso este ficou registrado: Delegacia
de Polícia.
Itaobim
A partir da coleta realizada no Conselho Tutelar foram identi-
ficados um caso de exploração sexual e 8 de abuso sexual em que
todas as vítimas eram do sexo feminino e a maioria tinha entre 11
e 13 anos. Todos os agressores eram do sexo masculino, e a relação
entre estes e as vítimas era de proximidade. Daqueles em que foi
possível saber o grau da relação, metade deles eram familares
(pai, padrasto e irmão) e metade de conhecidos. Em todos os casos
também em que foi possível obter a informação, o denunciante era
da família. Não há registro sobre que encaminhamentos foram
dados aos casos.
Localização do fenômeno
Uberaba
Abuso sexual
Os dados obtidos no Conselho Tutelar e no CREAS indicaram
que as ocorrências de abuso se dão, em sua maioria, nas próprias
residências das vítimas. Esta também é a percepção da rede que
afirma que tais residências, na maior parte das vezes, localizam-se
em bairros periféricos de baixa renda. A sobreposição dos locais
de moradia (obtidos nos registros) das vítimas de abuso sexual no
mapa de vulnerabilidade social revela que boa parte delas reside
na região leste da cidade, que pode ser caracterizada por vulnera-
bilidade social média, alta e muito alta. A localização desses pontos
vem ao encontro da percepção dos atores da rede. Os bairros mais
citados pelos integrantes da rede como um todo foram: Gameleira,
Vila Esperança, Abadia, Boa Vista, Santa Maria, Jardim Planalto,
Ponte Alta e Residencial 2000. A zona rural apareceu como local
de incidência, contudo, sem especificação dos distritos, lugarejos
ou fazendas.
Exploração sexual
As informações obtidas nos registros do CT e do CREAS, na
Polícia Militar, em campo e em entrevistas indicam que a exploração
sexual em Uberaba concentra-se nos locais próximos às BRs 050 e
262, nas avenidas Fernando Costa, São Lourenço e, principalmente,
na avenida Marcos Xerém.
Os pontos de prostituição seguem ao longo da região sudeste
do território, coincidindo com as áreas de alta e muito alta vulne-
rabilidade social (ver Mapa 1 em anexo). Tais pontos coincidem
Teófilo Otoni
Abuso sexual
Também em Teófilo Otoni, os locais de moradia (obtidos nos
poucos registros) das vítimas de abuso sexual foram plotados no
mapa situando-se em locais de média e alta vulnerabilidade social.
No mesmo sentido, a rede em Teófilo Otoni identificou os bairros
pobres e a zona rural do município como aqueles que concentram
o maior número de ocorrências do abuso sexual.
Exploração sexual
Os pontos de exploração sexual concentram-se na região Central
da cidade e nas proximidades do cruzamento da BR-116 com a
MG-217 (naturalmente, regiões de baixa vulnerabilidade social: ver
Mapa 2 em anexo). No centro, estes pontos seguem ao longo da rua
Francisco Sá, avenida Alfredo Sá, Praça da CEMIG (região conhecida
historicamente como ponto boêmio e de prostituição da cidade),
Praça Tiradentes e imediações, em alguns bares, lanchonetes
(algumas com casas ao fundo, cujos quartos são alugados para
fins de prostituição). A praça próxima ao Batalhão da PMMG e da
BR-418 também foi indicada como local onde as “meninas fazem
ponto”.22
Na percepção da rede, o local de procedência de meninas explo-
radas sexualmente concentra a população mais carente da cidade,
Itaobim
Considerações finais
Notas
1
Este texto foi elaborado a partir de pesquisa que resultou nos relatórios técnicos
do Diagnóstico do PAIR/MG, nos municípios de Uberaba, Teófilo Otoni e Itaobim.
Participaram da sua elaboração: CRISP/UFMG – pesquisadores: Klarissa Silva
(elaboração dos protocolos de pesquisa, levantamento de dados secundários e
de campo, análise de entrevista, elaboração do relatório, divulgação dos resulta-
dos), Cristiane Torisu (análise de entrevista, elaboração do relatório), Frederico
Marinho (elaboração dos protocolos de pesquisa, levantamento bibliográfico e de
dados secundários, elaboração do relatório, divulgação de resultados), Bráulio
Silva (georeferenciamento, índice de vulnerabilidade social), Keli de Andrade
(análise de entrevista, elaboração do relatório). Estagiários: Analice Mateus, Lívia
de Oliveira, Mateus Reno. Programa Pólos de Cidadania/UFMG – pesquisadora:
Marisa Lacerda (elaboração dos protocolos de pesquisa, levantamento de dados
de campo, análise de entrevista, divulgação dos resultados). Estagiária: Hanna
Fux. Em Uberaba, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro – professoras:
Helena Hemiko Iwamoto e Sybelle de Souza Castro Miranzi (elaboração dos
protocolos de pesquisa, mobilização da rede local, levantamento de dados de
campo, divulgação dos resultados). Estagiárias: Fernanda Gonçalves, Michele
Araújo, Letícia Apolinário e Tarin Kamikabeya. Em Teófilo Otoni, da Universidade
Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – professor: Ricardo Silvestre da
Silva (levantamento de dados de campo). Estagiária: Ana Luiza Cunha. Da Facul-
dade Doctum – aluno: Heverton Leite. Em Itaobim, da IESFATO – Patrike Chaves
(levantamento de dados de campo).
2
Tal como a Comissão Parlamentar sobre a Prostituição Infantil do Norte de Minas
Gerais, realizada pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais, em 1995.
3
Para mais detalhes sobre os relatórios do Diagnóstico PAIR/MG nos municípios
de Uberaba, Teófilo Otoni e Itaobim, visitar o site do CRISP (www.crisp.ufmg.
br), onde constam também mais informações acerca de pesquisas sobre violência,
criminalidade, segurança pública e direitos humanos, dentre outros assuntos.
4
Nossos agradecimentos à Pró-Reitoria de Extensão da UFMG: Ângela Dalben –
Pró-Reitora; Paula Vianna – Pró-Reitora Adjunta; à equipe de Coordenação do
PAIR/MG, da Pró-Reitoria de Extensão: Edite Cunha, Eduardo Moreira e Lucas
Schettini; ao Coordenador Geral do CRISP: Claudio Chaves Beato Filho; à equi-
pe do CRISP, pelo apoio e sugestões. Em especial: em Uberaba, Marcos Genari;
em Itaobim, Glaziane e Lia; em Teófilo Otoni, os inspetores da Polícia Rodoviária
Federal, Ricardo, Urlênio e Hans Nick. A todos os entrevistados, atores da rede
de enfrentamento ao fenômeno da violência sexual infanto-juvenil e de proteção
aos direitos da criança e do adolescente dos três municípios, principalmente aos
Conselheiros Tutelares (e ao CREAS de Uberaba) que permitiram o acesso e coleta
dos dados registrados.
5
Para analisarmos os dados coletados, utilizamos softwares adequados a cada
metodologia. Para a análise de conteúdo das entrevistas estruturadas e dos grupos
focais, usamos o NUDIST, versão 6.0. Para a tabulação das respostas dos ques-
tionários, usamos o SPSS, versão 14.0. Por último, para georeferenciar os pontos
de prostituição, de drogaditos, as sedes das instituições componentes da rede e
demais informações mapeadas, usamos o MAPINFO, versão 6.5. Desta forma,
garantimos a confiabilidade das análises aqui empreendidas e, conseqüentemente,
dos resultados aqui encontrados.
6
Esse indicador é resultado da metodologia utilizada pela Fundação SEADE do
estado de São Paulo para a construção do Índice Paulista de Vulnerabilidade
Social. Ele parte de dois pressupostos. Primeiro, de que as múltiplas dimensões
da pobreza precisam ser consideradas e, assim, buscou-se agregar aos indicadores
de renda outros referentes à escolaridade e ao ciclo de vida familiar. Segundo,
de que a segregação espacial, fenômeno presente nos centros urbanos, contribui
decisivamente para a permanência dos padrões de desigualdade social. Isso levou
à utilização de um método de identificação de áreas de acordo com os graus
de vulnerabilidade de sua população residente, gerando um instrumento de
definição de áreas prioritárias para o direcionamento de políticas públicas. Para
tanto, entendeu-se que os resultados precisavam ser fortemente detalhados do
ponto de vista espacial, de forma a permitir o desenho de ações locais focalizadas,
especialmente por parte do poder público municipal.
7
Ver Fundação João Pinheiro, Atlas do desenvolvimento humano no Brasil, 2000.
8
Fonte: SIA/SUS – 2003.
9
As informações utilizadas para a construção do Índice de Vulnerabilidade Social
no município mineiro de Uberaba são provenientes do Censo Demográfico – 2000,
detalhadas por setor censitário. Adotou-se um Sistema de Informação Geográfica
(SIG), para que os setores censitários urbanos fossem tratados e representados
em cartografias temáticas. (Fonte: IBGE – 2000/CRISP-UFMG.)
10
Fonte: Polícia Militar de Minas Gerais – tratamento CRISP-UFMG.
11
Fonte: Polícia Civil de Minas Gerais/ CRISP-UFMG.
12
Fonte: Atlas do desenvolvimento humano no Brasil. Fundação João Pinheiro/PNUD/
IBGE.
13
Fonte: IBGE (2006). Ensino/Matrículas/Docentes/Rede Escolar.
14
Fonte: Polícia Civil de Minas Gerais/ CRISP-UFMG.
15
Fonte: IBGE (2006). Ensino/Matrículas/Docentes/Rede Escolar.
16
O IDH é calculado a partir de outros três índices – o IDH-Educação, o IDH-Renda
e o IDH-Longevidade.
17
Ver Sistema Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Infanto-Juvenil
0800-99-0500/ABRAPIA (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à
Infância e Adolescência). A partir de 2006, a mudança do número do telefone para
Referências
Anexos
DIAGNÓSTICO DE
UBERABA, TEÓFILO OTONI E ITAOBIM
A rede de proteção1
Introdução
Funcionamento da rede
Uberaba
Em Uberaba, comarca de entrância especial,3 a notificação dos
casos de abuso e exploração sexual é centralizada no Conselho
Tutelar. Mesmo quando a denúncia é feita diretamente ao Minis-
tério Público ou ao Juizado da Infância e Juventude ou, ainda, a
outros órgãos, esta é encaminhada ao Conselho Tutelar para que
os procedimentos iniciais sejam cumpridos. O fluxo de encami-
nhamento criminal inicia-se no Conselho Tutelar. Este repassa a
denúncia à Promotoria da Infância e Juventude (Ministério Pú-
blico) que encaminha o caso à Polícia Civil (invertendo, pois, a
Teófilo Otoni
A comarca de Teófilo Otoni é de segunda entrância e, por isso,
conta com Promotoria e Vara da Infância e Juventude. Tais órgãos
da Justiça são dotados de profissionais como psicólogos e assistentes
sociais. Quando as denúncias de casos de abuso e exploração sexuais
infanto-juvenis são remetidas a esses órgãos, o encaminhamento
civil é feito para o Programa Sentinela (para seu acompanhamento
e monitoramento), para a Casa Ninho (que procede ao atendimento
e abrigo) ou para a APJ (Aprender Produzir Juntos, entidade
filantrópica cujo objetivo é ensinar ofícios aos jovens). Não raro os
atendidos pela Casa Ninho são também encaminhados à APJ.
Em geral, o encaminhamento criminal inicia-se com as denúncias
remetidas aos Conselhos Tutelares Norte e Sul para lá serem notifi-
cadas. Entretanto, não raro os casos chegam diretamente à Delegacia
que o repassa ao Programa Sentinela enquanto procede às investi-
gações. Também não é incomum que o Ministério Público, por meio
da Promotoria da Infância e Juventude, faça a notificação e inicie a
ação a ser apreciada e julgada pelo Juiz da Vara Criminal. Assim,
nestes casos, a notificação não é registrada no Conselho Tutelar.
No diagrama das interações, salienta-se a comunicação entre o
CT e outras instituições realizada somente via papel (a que mais
nos chama atenção é a dos Conselhos Tutelares com o Programa
Sentinela). O contato dos Conselhos Tutelares com o Juizado e, espe-
cialmente, com a Vara Criminal foi muito baixo. Nestes casos, como
Itaobim
Itaobim pertence à Comarca de Medina, de primeira entrância,
constituída de uma Vara Única. O fluxo de encaminhamento civil e
criminal neste município apresenta característica singular, visto que,
em geral, é feito diretamente por uma ONG específica – a Casa da
Juventude, entidade mais atuante no município quanto à violência
contra criança e adolescente –, à Vara Única da Comarca de Medina.
Recebida a comunicação da violação, o juiz encaminha o caso para
o Ministério Público, com sede também em Medina, para oferecer
denúncia e, em seguida, dar início à instrução criminal e julgamento
do caso. Tal procedimento também é revelado no diagrama de
interação da rede que mostra o quão intenso é o contato desta ONG
com a Vara e com o Ministério Público, e a escassez deste mesmo
contato com o Conselho Tutelar (ver Fluxograma Conselho Tutelar
de Itaobim, em anexo).
A partir do cotejamento das descrições teórica e real dos fluxos
de procedimento da rede de enfrentamento nos três municípios em
estudo, observa-se que a realidade enseja adaptações e aplicações
diferenciadas da proposição ideal. Tais adaptações são decorrentes
de fatores como as características de cada município (tamanho,
estrutura jurisdicional, complexidade da rede etc.) e as caracterís-
ticas do fenômeno (dificuldade de denúncia e de caracterização,
dentre outros).
Mesmo considerando que as decisões no fluxo de funcionamento
são tomadas de acordo com cada caso, ressalta-se que estas não se
institucionalizaram tornando-se procedimentos de rotina aplicáveis
Comentários finais
Notas
1
Este texto foi elaborado a partir de pesquisa que resultou nos relatórios técnicos
do Diagnóstico do PAIR/MG, nos municípios de Uberaba, Teófilo Otoni e
Itaobim. Participaram da sua elaboração: CRISP/UFMG – pesquisadores: Klarissa
Almeida Silva (elaboração dos protocolos de pesquisa, levantamento de dados
secundários e de campo, análise de entrevista, elaboração do relatório, divulgação
dos resultados), Cristiane Torisu (análise de entrevista, elaboração do relatório),
Frederico Marinho (elaboração dos protocolos de pesquisa, levantamento
bibliográfico e de dados secundários, elaboração do relatório, divulgação de
resultados), Bráulio Silva (georeferenciamento, índice de vulnerabilidade social),
Keli de Andrade (análise de entrevista, elaboração do relatório). Estagiários:
Analice Mateus, Lívia de Oliveira, Mateus Reno. Programa Pólos de Cidadania/
UFMG – pesquisadora: Marisa Lacerda (elaboração dos protocolos de pesquisa,
levantamento de dados de campo, análise de entrevista, divulgação dos resultados).
Estagiária: Hanna Fux. Em Uberaba, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro
– professoras: Helena Iwamoto e Sybelle de Souza Castro Miranzi (elaboração
dos protocolos de pesquisa, mobilização da rede local, levantamento de dados
de campo, divulgação dos resultados). Estagiárias: Fernanda Gonçalves, Michele
Araújo, Letícia Apolinário e Tarin Kamikabeya. Em Teófilo Otoni, da Universidade
Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – professor: Ricardo Silvestre da
Silva (levantamento de dados de campo). Estagiária: Ana Luiza Cunha. Da
Faculdade Doctum – aluno: Heverton Leite. Em Itaobim, da IESFATO – Patrike
Chaves (levantamento de dados de campo).
2
“Art. 86 - A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á
através de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais,
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.”
3
As comarcas são unidades de organização do Poder Judiciário estadual compostas
por um ou mais municípios em área contínua, sempre que possível. Cada comarca
tem que ter, no mínimo, 18.000 habitantes e 13.000 eleitores, além de movimento
forense anual de no mínimo 400 feitos judiciários. Entrâncias são formas de
classificação das comarcas, que são definidas segundo tamanho populacional,
principalmente. As de primeira entrância são aquelas com um ou dois juízes.
As de segunda entrância são as com mais de dois juízes e com menos de 250.000
habitantes, possuindo, portanto, duas ou mais Varas. As de entrância especial são,
por exclusão, aquelas com mais de 250.000 habitantes. (Fonte: Lei Complementar
do Estado de Minas Gerais n. 59/2001.)
Referências
BOURDIEU, P. Espaço social e poder simbólico. In: ____. Choses dites. Paris: Les
Éditions de Minuit, 1987. p. 147-166.
SIPIA/MJ. www.mj.gov.br/sipia
Anexos
Notificação
Família / População
Instituições / ONGs Denúncia
Encaminhamento
Conselho Tutelar
Delegacias criminal
MP
SOS-Criança
Encaminhamento
JIJ
civil
Ministério
Público • Famílias
• Abrigos provisórios
• Programas e projetos socioculturais
• Profissionalização / esporte / lazer/
saúde e educação
Vara criminal
• Outras alternativas
Fluxo de encaminhamento
Fonte - LEAL, jul. 1999.
Legenda
Rotina Operacional Nível de Interação
RD Rotina Diária MB Muito Baixa
RS Rotina Semanal B Baixa
RQ Rotina Quinzenal M Média
RM Rotina Mensal A Alta
RT Rotina Trimestral MA Muito Alta
RST Rotina Semestral
SP Sem Periodicidade
Legenda
Rotina Operacional Nível de Interação
RD Rotina Diária MB Muito Baixa
RS Rotina Semanal B Baixa
RQ Rotina Quinzenal M Média
RM Rotina Mensal A Alta
RT Rotina Trimestral MA Muito Alta
RST Rotina Semestral
SP Sem Periodicidade
Legenda
Rotina Operacional Nível de Interação
RD Rotina Diária MB Muito Baixa
RS Rotina Semanal B Baixa
RQ Rotina Quinzenal M Média
RM Rotina Mensal A Alta
RT Rotina Trimestral MA Muito Alta
RST Rotina Semestral
SP Sem Periodicidade
Legenda
Rotina Operacional Nível de Interação
RD Rotina Diária MB Muito Baixa
RS Rotina Semanal B Baixa
RQ Rotina Quinzenal M Média
RM Rotina Mensal A Alta
RT Rotina Trimestral MA Muito Alta
RST Rotina Semestral
SP Sem Periodicidade
Introdução
Contextualizando o fenômeno da
violência sexual infanto-juvenil
Considerações finais
outro lado, uma presença estatal cada vez mais centrada no persona-
lismo político, esvaziando o seu caráter público e universalizante.
Seria uma grande pretensão querer indicar aqui uma fórmula
capaz de acabar com este tipo de violência, mas certamente po-
demos afirmar que este caminho passa pela construção de relações
sociais mais justas e eqüitativas, onde todos os cidadãos tenham
acesso às condições básicas23 para sua reprodução. Deste modo,
no extremo teremos as condições reais e efetivas para responder a
esta problemática de maneira eficaz e não precisaremos conviver
com a impunidade e a reincidência desta violação de direitos
fundamentais, sem que tenhamos as condições adequadas para o
seu efetivo enfrentamento.
Finalmente, cabe ressaltar que a idéia deste esforço reflexivo
é oferecer algumas contribuições que possam suscitar outras
discussões sobre a temática da violência sexual contra crianças e
adolescentes e também em relação a esta política setorial. Por isso
não devemos entender as idéias aqui colocadas como algo rígido,
mas ao contrário como uma tentativa de apreender a complexidade
na dinâmica complexa das relações sociais.
Assim, pretendemos ver na região do Vale do Mucuri o fortaleci-
mento das políticas sociais, de uma forma geral, e ainda contribuir
com o protagonismo infanto-juvenil no processo de elaboração de
políticas públicas destinadas a este segmento populacional, além de
buscar realizar um efetivo enfrentamento da violência sexual contra
as crianças e adolescentes neste importante território mineiro.
Notas
1
O Vale do Mucuri é formado pelas Microrregiões de Nanuque e Teófilo Otoni,
que compreende 23 municípios e uma população de aproximadamente 400 mil
pessoas. (Cf. ALMG, 2007 e o Atlas do desenvolvimento humano do Brasil, 2000.)
2
Sobre esta questão é interessante conferir o Plano Nacional de Enfrentamento
à Violência Sexual Infanto-Juvenil, que foi elaborado em 2000, e é atualmente
a referência para o estabelecimento de políticas públicas nesta área em todo o
território nacional.
3
Para um panorama sobre o ensino superior no Brasil, ver MINTO, 2006. Para uma
discussão mais contemporânea sobre educação e seus desafios a partir do quadro
neoliberal ver LIMA, 2006.
4
O Serviço Social é uma profissão regulamentada pela Lei Federal 8.662/93, está
inserida na divisão sociotécnica do trabalho e tem como matéria-prima para o
desenvolvimento de sua atividade profissional as expressões da questão social.
(Cf. IAMAMOTTO; CARVALHO, 1982.)
5
A região do Vale do Mucuri é atravessada pela Rodovia Federal BR-116, também
conhecida como Rio-Bahia, e pela Rodovia Estadual BR-418, conhecida como a
Rodovia do Boi. Estas estradas são movimentadas, o que transforma toda esta
região em um corredor de passagem para o Sul da Bahia, o nordeste do Brasil
e norte do Espírito Santo, propiciando por diversas razões principalmente a
exploração sexual contra crianças e adolescentes.
6
O PAIR é o Programa de Ações Integradas Referenciais de Enfrentamento à Vio-
lência Sexual contra Crianças e Adolescentes, que teve início em 2002 nos estados
de Roraima, Amazonas, Acre, Mato Grosso do Sul e Bahia. No Ceará, Maranhão e
Minas Gerais, o PAIR iniciou em 2005 e, em 2006, as cidades de Uberaba, Itaobim
e Teófilo Otoni passaram também a receber ações deste programa. Sobre o PAIR,
ver SEDH, 2006.
7
Esta pesquisa ainda encontra-se em desenvolvimento e tem como objetivo central
realizar um diagnóstico sobre a exploração sexual contra crianças e adolescentes
na Microrregião de Teófilo Otoni, que possibilite vislumbrar o quadro geral desta
problemática na Mesorregião do Vale do Jequitinhonha/Mucuri. Vale destacar que
as reflexões contidas neste texto não expressam o resultado final desta pesquisa,
uma vez que a mesma ainda não foi concluída, mas que o seu desenvolvimento,
até o momento, permitiu uma interessante aproximação com o fenômeno da
violência sexual infanto-juvenil na região, e também o conhecimento sobre a rede
de serviços.
8
Sobre a discussão da questão social, ver TEMPORALIS, 2001.
9
Para uma breve problematização sobre a constituição de políticas sociais no Brasil,
ver RIZOTTI, 2001.
10
O populismo sempre esteve presente na história política brasileira e também no
processo de formulação das políticas sociais, como um elemento garantidor de
legitimidade institucional e reprodução de relações conservadoras. Sobre esta
temática, ver FERREIRA, 2001; e LEAL, 1997.
11
Estas são questões muito complexas que envolvem diversas determinações, e que
não serão tratadas aqui por não se consistirem em temas centrais desta reflexão.
Todavia, torna-se importante apontá-las como elementos que contribuem com
o entendimento das políticas sociais no Brasil e sua configuração. Sobre o neoli-
beralismo no Brasil e na América Latina, ver SOARES, 2002 e SADER; GENTILI,
1995. Vale a pena conferir também a interessante discussão que MONTAñO
(2000) faz sobre a transferência de responsabilidades estatais para a sociedade
civil. Sobre a temática da “reforma” do Estado, ver BRESSER PEREIRA, 1998; e
sobre a contra-reforma do Estado brasileiro, ver BERHING, 2003.
12
Podemos considerar a Constituição de 1988 como um importante marco contem-
porâneo para compreendermos a organização das políticas sociais brasileiras na
atualidade, pois representou a incorporação de demandas de vários segmentos
populacionais, historicamente excluídos, na institucionalidade estatal. Entretanto
devemos entender este processo, atravessado por projetos políticos distintos que,
em muitos casos, representou um avanço jurídico formal, mas não implementado
plenamente na realidade social.
13
Lei Federal 8.069 de 13 de julho de 1990. O ECA pode ser considerado como
resultado de ampla mobilização social de setores da sociedade civil organizada,
ligados principalmente aos direitos da criança e do adolescente, que substituiu
o antigo Código de Menores e tem como principal avanço o ingresso da criança
e do adolescente brasileiro, enquanto sujeitos de direitos, e o status de política
social que esta política passa a assumir. Sobre a discussão do ECA e o Código de
Menores, ver SILVA, 2005.
14
Esta concepção altera a dinâmica das políticas sociais brasileiras, que passam a
se organizarem a partir de uma lógica ”democrático-participativa”, em que os
conselhos paritários transformam-se em espaços privilegiados de formulação,
planejamento, execução, gestão e avaliação das políticas sociais públicas, em todas
as esferas de governo. Sobre gestão democrática, ver BITTAR; COELHO, 1997.
15
De acordo com o artigo 17 do ECA, a violência sexual pode ser considerada
como “atos que violam a integridade física, moral ou psicológica da criança e do
adolescente, com finalidade sexual”.
16
Não é o objetivo deste texto categorizar e tipificar de forma aprofundada os tipos
de violência contra crianças e adolescentes, mas apenas apresentar uma breve
diferenciação entre abuso e violência sexual, de modo que possamos compreender
a natureza das mesmas.
17
O debate sobre criança e adolescente deve ocorrer articulado com a discussão
sobre família, por isso essa temática pode ser discutida a partir de CARVALHO,
1995.
18
Mortalidade infantil consiste no óbito de crianças durante o seu primeiro ano
de vida e é a base para calcular a taxa de mortalidade observada durante um
determinado período de tempo, normalmente um ano, referida ao número de
nascidos vivos do mesmo período.
19
Isto quer dizer que, em 2000, o salário mínimo que vigorava era de R$151,00, e a
renda per capita média desta população era de R$100,00.
20
Apesar de existir emblemática defesa governamental em torno dos programas
de transferência de renda, conhecido como “bolsas”, o que podemos perceber é
que esta estratégia é parcial e se pauta em critérios extremamente rígidos que, em
muitos casos, se tornam verdadeiras armadilhas de pobreza. Sobre esta discussão
ver SILVA, 2001 e 2007.
21
Não estamos afirmando que a violência sexual contra crianças e adolescentes é
uma exclusividade das famílias pobres, mas que a vulnerabilidade provocada
pela carência material coloca esta questão em uma posição muito mais dramática,
pois a exploração sexual transforma-se, em muitos casos, em uma oportunidade
de acesso a bens materiais, enquanto que o abuso intrafamiliar incorpora-se na
cultura familiar, em que estão presentes nesta relação um sentimento de perten-
cimento e apoderamento do provedor da criança e do adolescente, difícil de ser
alterada.
22
De acordo com o Atlas do desenvolvimento humano no Brasil, em 2000, a cidade brasi-
leira com o melhor IDH era São Caetano do Sul, em São Paulo, com um índice de
0,919, e o pior estava em Manari, em Pernambuco, com um índice de 0,467. Sobre
um panorama da exclusão social, ver PONCHMANN; AMORIM, 2003.
23
PEREIRA (2000) realiza uma interessante discussão sobre os mínimos e básicos
sociais.
Referências
LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1997.
RIZOTTI, Maria Luiza Amaral. Estado e sociedade civil na história das políticas
sociais brasileiras. Londrina: [s.n.], 2001. (Mimeo.)
INTERVENÇÃO
Desafios do planejamento
Objetivos
Metodologia
Marco conceitual
Partindo do princípio de que “(...) conhecer a realidade é con-
dição de sua transformação” (Oliveira; Oliveira, 1999: 19) e de que,
no referente à violência sexual infanto-juvenil, é fundamental cons-
truir a compreensão para que se possa intervir adequadamente, a
capacitação/formação dos educadores que atuam no atendimento,
proteção e promoção de crianças, adolescentes e famílias dos muni-
cípios de Teófilo Otoni, Uberaba e Itaobim, para o enfrentamento ao
fenômeno no âmbito do PAIR, foi concebida de modo a promover,
Famílias
Considerando que o trabalho com as famílias representa um ele-
mento fundamental para o êxito do enfrentamento, esta temática foi
tratada de modo especial no processo de formação dos educadores
de atendimento, proteção e promoção das crianças e adolescentes
vítimas ou sob risco de violência sexual, por meio da realização
de uma exposição dialogada inicial – Famílias: compreendendo os
papéis das famílias em relação à violência sexual infanto-juvenil –
seguida, tal como previsto na proposta do curso, de GTs nos quais
os participantes tiveram a oportunidade de trocar experiências
acerca das ações de intervenção realizadas junto às famílias e das
especificidades deste trabalho.
A delicadeza que reveste o trabalho junto às famílias de crianças e
adolescentes vítimas ou sob risco de violência sexual infanto-juvenil,
a necessidade de que este trabalho seja realizado pela mobilização de
diferentes atores, instituições e segmentos da sociedade, e a neces-
sidade de contribuir para a consolidação de um conceito de família
mais adequado à dinâmica social da contemporaneidade, de modo a
favorecer a intervenção junto aos diferentes modelos de organização
familiar ora existentes, foram algumas das principais conclusões a
que os participantes chegaram nesta etapa do trabalho.
Para além destas conclusões, é necessário, ainda, ressaltar o fato
de ter emergido deste processo uma nova sensibilidade, uma vez
que se instaurou, entre os participantes, o reconhecimento de que
Trabalho em rede
Focando o objetivo geral do PAIR, qual seja, promover a arti-
culação dos educadores e a integração das ações de enfrentamento
à violência sexual infanto-juvenil, a temática do trabalho em rede
também mereceu destaque no curso, através de uma atividade espe-
cífica: exposição dialogada, sob o título “Rede de proteção integral:
conceito de rede, princípios do trabalho em rede e fluxo da rede”.
Por meio desta atividade, os participantes tiveram acesso a
noções básicas acerca do trabalho em rede, bem como do para-
digma que o sustenta – complexidade –, e puderam perceber as
possibilidades que se abrem às políticas e ações de caráter social,
quando seus promotores, organizados em rede, conseguem dar
uma orientação mais precisa e coesa às suas ações, ampliando a
positividade de seus resultados.
A compreensão da importância do trabalho em rede, por um
lado, e a de que o pleno conhecimento da rede local consiste em
um elemento fundamental para sua promoção, por outro, instaurou
entre os participantes a necessidade de avançar no conhecimento
da potencialidade local, de maneira que a rede de atendimento,
proteção e promoção de crianças, adolescentes e famílias, no
contexto da violência sexual infanto-juvenil, possa ser fortalecida
com a presença e articulação de todos os atores municipais. Esta
necessidade, por sua vez, assumiu a forma de demanda por maior
Marco Legal
Embora já fosse de conhecimento dos educadores, participantes
do curso, o atendimento, a proteção e a promoção de crianças, ado-
lescentes e famílias, a existência de um consistente substrato legal
que dá sustentação às ações de enfrentamento à violência sexual
infanto-juvenil foi também um dos temas focados no processo de
capacitação/formação. O trabalho realizado em torno desta temá-
tica foi feito através da exposição dialogada “Doutrina da Proteção
Integral e garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente”,
quando os participantes puderam ter mais informações acerca
da legislação que regulamenta os assuntos referidos à infância e
adolescência, de um modo geral, e dos crimes de violência sexual
infanto-juvenil especificamente.
Tratou-se, nos três municípios em que a capacitação/formação foi
executada, de um rico momento em que os participantes puderam
ampliar a compreensão acerca do Marco Legal do PAIR, esclarecer
dúvidas surgidas em seu trabalho cotidiano e trocar experiências
e informações acerca dos limites e possibilidades da legislação em
face à realidade de cada contexto local.
O reforço à compreensão, até então embrionária, da impor-
tância de que as ações de enfrentamento tenham por sustentação o
amparo jurídico-legal de profissionais e instituições dotadas desta
prerrogativa foi o principal resultado desta reflexão. Com isto, mais
uma vez, ficou explícita a necessidade de articulação efetiva entre
todos os atores, instituições e órgãos que atuam no atendimento,
proteção e promoção de crianças, adolescentes e famílias, como
meio de potencializar os recursos humanos e materiais existentes
no município para o enfrentamento ao fenômeno, para que, além
Apresentações artístico-culturais
Um último aspecto que consideramos importante ressaltar foi a
inclusão, em diferentes momentos do curso de formação/capacitação
realizado nos três municípios, de apresentações artístico-culturais
Oficinas temáticas
Oficina de planejamento
Considerações finais
No que se refere à execução da proposta do curso de capacitação/
formação dos educadores municipais que atuam no atendimento,
proteção e promoção de crianças, adolescentes e famílias sob risco
ou situação de violência sexual infanto-juvenil, alguns aspectos
mostraram-se bastante relevantes, sendo importante recuperá-los
aqui. Dentre estes aspectos destacamos, inicialmente, a opção
por constituir a equipe formadora com técnicos especializados no
trabalho com a temática, em diferentes áreas e com educadores
municipais que atuam diretamente com o atendimento às crianças,
adolescentes e famílias. Tratou-se no nosso entendimento de uma
importante estratégia que nos permitiu ampliar a compreensão
da realidade de cada localidade, as possibilidades de diálogo com
os(as) participantes das ações formativas e, ainda, criar referências
profissionais locais e regionais de enfrentamento à violência sexual
infanto-juvenil.
Notas
1
Equipe - Seminário de Metodologias de Capacitação: Paula C. de M. Cambraia,
Edite da Penha Cunha, Eduardo Moreira da Silva (PROEX/UFMG), Elizabeth
Vieira Gomes (Oficina de Imagens), Kátia Liliane Alves Canguçu (Coordenadora
do PEAS, na Secretaria Estadual de Educação), Vanessa Henriques Pinto
(Coordenadora do PEAS, na Secretaria Estadual de Saúde), Sandra Maria Amorim
(Escola de Conselhos - UFMS), Paulo Henrique Faleiros e Célia Carvalho Nahas
(AMAS/PAIR/BH), Maria Amélia Gomes de Castro Giovanetti (FAE/UFMG),
Maria Umbelina Caiafa Salgado (FAE/UFMG).
Equipe - Curso de Formadores: Edite da Penha Cunha, Eduardo Moreira da Silva
(PROEX/UFMG), Prof. Ricardo Silva (UFVJM) e Profª Helena Hemiko Iwamoto
(UFTM), Profª Maria Amélia Gomes de Castro Giovanetti (FAE/UFMG), Profª
Joana Vargas (CRISP/UFMG), Marisa Lacerda (POLOS/UFMG), Glaziane Silva
(Prefeitura Municipal de Itaobim), Sandra Otoni (Prefeitura Municipal de Teófilo
Otoni), Flávia Santana da Silva (CMDH/CAVIV - Secretaria Municipal Adjunta
de Direitos de Cidadania da PBH), Mary Cristina (Coordenadora da República
Maria Maria), Kleber Queiroz (Judiciário), Profª Tânea Aretuza (CP/UFMG),
Profª Geovânia Santos (UNIPEL), Profª Geralda Luiza de Miranda (DCP/UFMG),
Nívia Mônica da Silva (Promotoria da Infância e da Juventude de BH), Maria das
Graças Bibas (Ministério Desenvolvimento Social), Rosiléia Wille (Ministério da
Educação), Thereza Delamare (Ministério da Saúde), Eleonora Schettini (PROEX/
NUPASS/UFMG), Profª Maria Thereza Nunes Fonseca (Prefeitura Municipal de
Belo Horizonte), Rodrigo Correa e Jozeli Rosa de Souza (Oficina de Imagens).
2
Termo que, na educação, é entendido como uma forma de organizar o trabalho
didático na qual alguns temas são integrados nas áreas convencionais de modo a
estarem presentes em todas elas. O conceito de transversalidade surgiu no contexto
dos movimentos de renovação pedagógica, quando os teóricos conceberam que
é necessário redefinir o que se entende por aprendizagem e repensar também
os conteúdos que se ensinam aos educandos. A transversalidade diz respeito à
compreensão dos diferentes objetos de conhecimento, possibilitando a referência a
sistemas construídos na realidade dos educandos. (MENEZES; SANTOS, 2002)
3
Ver princípios norteadores do processo de capacitação/formação no texto de Maria
Amélia Gomes de Castro Giovanetti, neste volume.
4
Equipe de Formadores responsável pela Capacitação/Formação dos Educadores
nos três municípios (Teófilo Otoni, Uberaba e Itaobim). Composição da equipe:
Professores e técnicos das três Universidades (UFMG, UFTM e UFVJM),
profissionais da área da Saúde, Educação, Assistência Social, Cultura e Esportes,
e representantes da sociedade civil, indicados pelos três municípios. São eles:
Andréa Francisca dos Passos, Bethânia Ferreira Goulart Cunha, Carla Oliveira
Cardoso, Cibele A. Chapadeiro C. Sales, Cláudia Gomes da Silva, Cristina Pinto
Cunha, Eduardo Moreira da Silva, Eliana Baracho A. Reis, Fabiana Silva Almeida,
Fabiana Silva de Oliveira, Geovânia Lúcia dos Santos, Glaziane Aparecida Silva,
Helena Hemiko Iwamoto, Helga Yuri Silva Okano Andrade, Jacira de Moura
Sander, José Joesso Alves Pereira, Jozeli Rosa de Souza, Marcos Genari Mariano,
Mário Alfredo S. Miranzi, Miriam de F. Amorim Corrêa, Nádia Maria Carvalho
O. Martins, Pedro Paulo V. de Macedo, Ricardo Silvestre da Silva, Rita Lúcia de
C. Oliveira, Rodrigo Francisco Corrêa de Oliveira, Sandra Ottoni Bamberg, Tânia
Aretuza, Wallysson Mardem V. Macedo, Zélia de Oliveira Barbosa.
5
Como cada município teve autonomia para definir o desenho do curso a ser exe-
cutado, a apresentação da rede local foi um dos itens cujos formato e momento de
realização variou entre os municípios. Contudo, independente do momento/for-
mato, a dinâmica do trabalho e seus principais resultados podem ser considerados
para os três municípios, uma vez que apresentaram bastantes aproximações.
Referências
OLIVEIRA, Rosiska Darcy de; OLIVEIRA, Miguel Darcy de. Pesquisa social e
ação educativa: conhecer a realidade para poder transformá-la. In: BRANDÃO,
Carlos Rodrigues (Org.). Pesquisa participante. São Paulo: Brasiliense, 1999.
p. 17-33.
SOUZA, João Valdir de. Igreja, escola, comunidade: elementos para a história cul-
tural do município de Turmalina. Montes Claros: Unimontes/Editora, 2004.
Planejamento:
3º) Planejar a ação de
PLANO OPERATIVO LOCAL (POL)
enfrentamento
• Diretrizes
Planos Operativos
• Objetivos/Metas
Locais (POL)
• Ações/Cronograma
231
12/11/2008 10:31:03
3_VIOLENCIA_SEXUAL_parte_3.indd 232
232
TEMÁTICA:
FORMADORES RESPONSÁVEIS :
EN F R EN TAMENT O À V IOLÊNCIA SEX UAL INFA NTO -JU VENIL | Parte III
EMENTA:
13:30 Metodologia e
resultados do Diagnóstico de 13:30 Marco legal 14:00 O enfrentamento e a
Itaobim e Teófilo Otoni Doutrina de Proteção Integral prevenção da violência sexual
15:00 Apresentação da e garantia dos Direitos da na saúde 13:30 Definindo proposta de
síntese dos debates acerca Criança e do Adolescente 15:00 O enfrentamento e a capacitação/formação dos
do diagnóstico realizados 15:30 Café prevenção da violência sexual municípios
nos municípios nos dias 16 15:45 Debates na educação 16:00 Café
Tarde a 19 de maio, comentários 16:45 Sistematizando as 16:00 Debates 16:15 Plenária – Apresentação
dos representantes dos idéias do dia para a proposta 16:30 Café das propostas de cada equipe
municípios de formação no município 17:00 Sistematizando as idéias 17:30 Encaminhamentos e
15:30 Café 17:15 Debates do dia para a proposta de avaliação
15:45 Debates 17:45 Avaliação e registro formação no município 18:00 Encerramento
17:00 Avaliação do dia 17:30 Avaliação e registro do dia
17:15 Registro do dia 18:00 Encerramento 18:00 Encerramento
17:30 Encerramento
233
12/11/2008 10:31:03
3_VIOLENCIA_SEXUAL_parte_3.indd 234
234
11/06 12/06 13/06 14/06
EN F R EN TAMENT O À V IOLÊNCIA SEX UAL INFA NTO -JU VENIL | Parte III
8:30 Abertura 8:30 Oficina de 8:30 Oficina de Planejamento 9:00 Trabalho em equipes por
9:00 Introdução: Resgate do Planejamento municípios:
processo de Capacitação/ A) Fechamento da proposta
Formação (Abril e Maio) para o curso para educadores
Idéias-força da proposta de (julho/07) a partir da revisão da
formação proposta de capacitação/formação
Manhã 9:45 CAFÉ dos municípios apresentada na
10:00 Equipes Temáticas * (Ementa Plenária do dia 24/05
e o seu desenvolvimento) 10:00 CAFÉ
10:15 B) Proposta Oficinas Temáticas
para educadores (agosto/07)
11:45 Plenária
12:00 Encerramento
* Equipes Temáticas: I – Marco Conceitual; II – Políticas Públicas; III – O enfrentamento e a prevenção da violência sexual na Saúde; IV – O enfrentamento e a pre-
venção da violência sexual na Educação; V – O enfrentamento e a prevenção da violência sexual na Assistência Social; VI – Famílias; VII – Protagonismo Juvenil.
Pa u l a C a m b ra i a d e M e ndo n ç a Vi an n a
M a ra Va s c o n c elo s
Va n e s s a H e n ri q u es Pi n to
M i gu i r T e re s i n h a V. Do n o so
J a n e t e Ri c as
A SAÚDE E AS AÇÕES DE ENFRENTAMENTO À
VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Introdução
Discorrer sobre a contribuição da saúde no enfrentamento à
violência contra crianças e adolescentes é um tema desafiante.
Os dados estatísticos brasileiros apontam que 39% das crianças
de 0 a 6 anos vivem em famílias com rendimento mensal per capita
de até ½ salário mínimo, enquanto 52% das crianças de 0 a 3 anos
vivem em famílias consideradas pobres. No censo demográfico
de 2000, a população na faixa etária de 10 a 19 anos corresponde a
21% da nossa população e cerca de 26 mil jovens perdem a vida em
acidentes, suicídios, violência e doenças relacionadas à gravidez e
a outros males (Escorel, 1999; Brasil, 2005).
Esses dados demonstram que crianças de segmentos socioeco-
nômicos menos favorecidos são mais vulneráveis a situações de
violência desde o nascimento ou até mesmo antes dele.
3_VIOLENCIA_SEXUAL_parte_3.indd 235 12/11/2008 10:31:03
236 EN F R EN TAMENT O À V IOLÊNCIA SEX UAL INFA NTO -JU VENIL | Parte III
Considerações finais
Nota
1
A pediatria é a especialidade médica destinada à infância; a hebeatria é especia-
lidade que se ocupa do ciclo de vida da adolescência.
Referências
ABRAPIA. Maus-tratos contra crianças e adolescentes: proteção e prevenção; guia
de orientação para educadores. 2. ed. Petrópolis: Autores Associados, 1997.
ALLASIO, D.; FISCHER, H. Torture versus Child abuse: What’s the Difference?
Clinical Pediatrics, v. 37, n. 4, p. 269-271, abr. 1998.
HETLER, J.; GREENES, D. S. Can the Initial History Predict Whether a Child
with a Geed Injury Has Been Abused? Pediatrics, v. 111, n. 3, mar. 2003.
A EDUCAÇÃO E O ENFRENTAMENTO
DA VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTO-JUVENIL
Ângulos de um problema
Considerações finais
Referências
Educar/trans-formar
Educar para trans-formar
Trans-formar para educar
Educar para se trans-formar
Trans-formar(se) para educar
Educar-se trans-formando
Trans-formar(se) educando
Educar a quem?
Trans-formar a quem?
Educar o quê?
Trans-formar o quê?
Educar o homem
Trans-formar o mundo do homem
Notas
1
Uma questão levantada nas discussões e que foi apontada por educadores(as) dos
três municípios como estratégia positiva para a proteção de crianças e adolescentes,
sobretudo dos mais vulneráveis em relação à violência sexual infanto-juvenil,
é a extensão da jornada escolar por meio da oferta e realização de atividades
no contraturno com diversificação dos espaços/ações socioeducativas para este
público.
2
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) institui a obrigatoriedade dos profis-
sionais das áreas da educação e da saúde de notificarem (comunicar oficialmente
aos órgãos competentes) os casos – suspeitos ou confirmados – de maus-tratos
em geral.
Referências
ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: Livros
Técnicos e Científicos Editora, 1981.
FALEIROS, Vicente de Paula; FALEIROS, Eva Silveira. Escola que protege: enfren-
tando a violência contra crianças e adolescentes. Brasília: Ministério da Educação/
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2007.
FREIRE, Paulo. De falar ao educando, a falar a ele e com ele; de ouvir o edu-
cando a ser ouvido por ele. In: ____. Professora sim, tia não! - Cartas a quem ousa
ensinar. São Paulo: Olho d’água, 1998.
Considerações finais
Este texto tratou da natureza e do formato das ações de inter-
venção da política de Assistência Social para a promoção e proteção
dos direitos de crianças e adolescentes em situações de violência, a
partir do arcabouço legal instituído após a promulgação da Cons-
tituição de 1988. Inicialmente, discutiu-se como a pobreza tem sido
compreendida na política de Assistência Social. O objetivo foi indicar
sua multidimensionalidade, característica que, aliada ao caráter
complexo e multicausal da violência contra crianças e adolescentes,
exige um tipo bem específico de intervenção nas redes de relações
familiares: uma intervenção de natureza psicossocial na família, tra-
tada no segundo tópico. Vimos que a intervenção psicossocial deve
estar estruturada de forma a permitir a participação da família na
definição, construção e desenvolvimento das estratégias e atividades,
recursos e benefícios que são a eles ofertados. Em seguida, que as
tecnologias utilizadas em cada ação devem ser variadas, flexíveis
e dinâmicas de forma a possibilitar um atendimento individuali-
zado, personalizado. A efetividade dessas ações, por outro lado,
depende fortemente de ações de outras áreas de políticas sociais
ou de outros órgãos, o que remete para a importância de criação e
recriação permanente de estratégias e rotinas intersetoriais ou em
rede. A gravidade e a urgência das situações de violência contra
crianças e adolescentes exigem que essas ações estejam fortemente
regidas pelos princípios da responsabilidade técnica e da busca de
responsabilização dos pais, responsáveis ou outros membros da
família que violam, por ação ou omissão, seus direitos. Foram apre-
sentadas, por fim, sugestões de estruturação de ações para famílias
em situação de violação dos direitos das crianças e adolescentes,
destacando seu objetivo, as estratégias que podem ser utilizadas;
as características das equipes técnicas; e o perfil das famílias cujas
crianças e adolescentes estão mais expostas à violência e que en-
contram mais dificuldades para sua superação.
Notas
1
Parte da argumentação aqui desenvolvida constitui o relatório denominado
“Concepção dos CREAS: um estudo sobre a natureza e o formato das ações
de proteção especial de média complexidade”, um dos resultados do convênio
estabelecido, em 2006, entre a Secretaria de Desenvolvimento Social e Desporto
do Estado de Minas Gerais (SEDESE), o Núcleo de Apoio à Política de Assistência
Social (NUPASS) e o Projeto Democracia Participativa (PRODEP) do Departamento
de Ciência Política (DCP) da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da
Universidade Federal de Minas Gerais (FAFICH/UFMG). Cabe salientar a
contribuição fornecida por convênio para as reflexões desenvolvidas no processo
de formação dos educadores do PAIR, especialmente quanto às possibilidades
de atuação preventiva e protetiva dos CRAS e dos CREAS no enfrentamento à
violência sexual infanto-juvenil.
2
A grande maioria das sugestões apresentadas foi colhida em entrevistas com
gestores e técnicos dos programas e serviços desenvolvidos e/ou executados
pela Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social, especialmente o Serviço
de Orientação, Apoio e Proteção Sociofamiliar (SOSF), o Serviço Sentinela e os
Programas Abordagem, Liberdade Assistida e Prestação de Serviços à Comu-
nidade. A todos, nossos agradecimentos. A responsabilidade pelos argumentos
desenvolvidos é nossa.
Referências
CONTRIBUIÇÃO DO DIREITO
PARA O ENFRENTAMENTO À
VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTO-JUVENIL
Medidas protetivas
Estupro
Art. 213. Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência
ou grave ameaça:
pena - reclusão de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
Assédio sexual
Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem
ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição
de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de
emprego, cargo ou função.
Pena - detenção de 1 (um) a 2 (dois) anos.
Corrupção de menores
Art. 218 - Corromper ou facilitar a corrupção de pessoa maior de 14
(quatorze) e menor de 18 (dezoito) anos, com ela praticando ato de
libidinagem, ou induzindo-a a praticá-lo ou presenciá-lo:
Pena - reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
Favorecimento da prostituição
Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição, facilitá-la ou im-
pedir que alguém a abandone:
Pena - reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
§ 1º Se ocorre qualquer das hipótese do § 1º do artigo anterior:
Pena - reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos.
§ 2º Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça
ou fraude:
Pena - reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, além da pena corres-
pondente à violência.
§ 3º Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também
multa.
Casa de prostituição
Art 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, casa de prosti-
tuição ou lugar destinado a encontros para fim libidinoso, haja,
ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou
gerente:
Pena - reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Rufianismo
Art. 230. Tirar proveito da prostituição alheia, participando direta-
mente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte,
por quem a exerça:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 1º Se ocorre qualquer das hipóteses do § 1º do art. 227:
Pena - reclusão de 3 (três) a 6 (seis) anos, além da multa.
§ 2º Se há emprego de violência ou grave ameaça:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, além da multa e sem
prejuízo da pena correspondente à violência.
Considerações finais
Notas
1
“Art. 227 - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação,
à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de
toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.”
2
Política de caráter universal, estrutural, destinada à garantia dos direitos funda-
mentais da pessoa, de suas necessidades básicas (saúde, alimentação, educação,
convivência familiar, cultura, recreação).
3
Política de caráter supletivo, emancipador, transitório, destinada àqueles que
estão em estado de necessidade, seja por situação econômica ou por alguma
vulnerabilidade.
4
Política voltada para aqueles que se encontram em situação de risco social e pessoal
(vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade, opressão).
5
Política direcionada para a defesa jurídico-social dos direitos da criança e do
adolescente.
6
Segundo o Dicionário Houaiss, o termo significa: propensão para a luxúria, sensuali-
dade exagerada; lubricidade caráter do que está marcado pela sensualidade ou do
que produz a propensão para a sensualidade (HOUAISS, A. Disponível em: <http://
houaiss.uol.com.br/busca.jhtm>. Último acesso em: 27de dezembro de 2007.)
Referências
BRASIL. Código penal. Organização dos textos, notas remissivas e índices por
Luiz Flávio Gomes. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.
ELUF, Luiza Nagib. Crimes contra os costumes e assédio sexual. São Paulo: Manda-
mentos, 1999.
JESUS, Damásio E. de. Direito penal. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. 1 v. Parte
geral.
JESUS, Damásio E. de. Direito penal. 14. ed. São Paulo, Saraiva, 1999. 3 v. Parte
especial: Dos crimes contra a propriedade material e dos crimes contra a paz
pública.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 7. ed. São Paulo: Atlas, 1997.
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Prática de processo penal. 18. ed. São
Paulo: Saraiva, 1996.
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 13. ed. São Paulo:
Saraiva, 1992.
1
PLANEJANDO A AÇÃO EM REDE
Introdução
A importância do planejamento
Fases do planejamento
O processo de planejamento tem um ciclo de vida próprio,
expresso em fases específicas, que se entrelaçam continuamente.
Neste sentido, as fases estão descritas a seguir separadamente, para
uma melhor compreensão de suas características, mas elas estão
intimamente relacionadas e muitas vezes acontecem concomitan-
temente. Na fase da reflexão são reconhecidas as necessidades e/ou
problemas que se quer alterar, busca-se as causas e os efeitos a eles
relacionados, pensa-se em alternativas possíveis para a superação
das condições atuais.
Na fase da decisão, definem-se quais são as causas mais signifi-
cativas e que merecem uma intervenção planejada e sistemática, da
qual resulta o documento que expressa as decisões. A fase da ação
é aquela em que se executam as ações planejadas, adequando-as
conforme determinar o seu acompanhamento.
À fase da revisão correspondem os momentos em que se verifica
se as ações desenvolvidas conseguiram atingir os objetivos pro-
postos e em que medida isso ocorreu, possibilitando a correção dos
erros numa nova intervenção. É, portanto, a fase da avaliação.
Mais uma vez, é bom que se diga que, embora apresentadas de
forma seqüencial, estas fases não são lineares, distanciadas entre si.
Pelo contrário, elas se entrelaçam permanentemente.
Plano
Projeto
Elementos do planejamento
Perguntas Elementos
Quem pretende enfrentar o problema? Apresentação
Qual o problema que se apresenta e em que circunstâncias? Diagnóstico
Por que enfrentá-lo e qual alternativa é a melhor possível
Justificativa
para se alterar a situação atual?
Para que mudanças mais amplas esta solução pode contribuir? Finalidade
O que quero alcançar no âmbito mais abrangente e Objetivos –
no mais específico? Geral e Específicos
Para quem se destinam as ações? Público-alvo
Quanto quero fazer e para quantos? Metas
Como fazer para alcançar o que quero?/Quais atividades/ações
Metodologia
a serem desenvolvidas?
Quando acontecerão as ações? Cronograma
Que efeitos espero obter com o desenvolvimento das atividades? Produtos
Com o que fazer as ações e de quanto preciso para realizá-las? Recursos
Como saber se as ações estão dando certo ou não? Monitoramento
Como saber se o que era pretendido foi alcançado? Avaliação
Apresentação
A apresentação ou introdução deve oferecer as principais infor-
mações sobre o plano, destacando seu objetivo geral, o público-alvo,
a área de abrangência, o histórico que levou à sua elaboração, as
instituições parceiras e os compromissos que sustentaram a elabo-
ração e vão orientar sua execução.
Diagnóstico
Esta é a parte do plano que apresenta a realidade que se pretende
alterar, ou seja, os problemas sociais que são percebidos ou as
demandas que são apresentadas pela sociedade. Também conhecido
como avaliação ex-ante, o diagnóstico faz uma análise do fenômeno
que será objeto da intervenção, assim como dos ambientes externo
e interno das instituições que têm alguma ação relacionada ao
fenômeno.
Na análise externa deve-se descrever e analisar o problema que
determinou a elaboração do plano a partir de dados (estatísticas,
documentos, entrevistas, observações registradas, pesquisas, outros).
Denúncias de maus-
Recursos humanos Atendimento tratos no atendimento
pouco preparados precário às crianças dos profissionais
e adolescentes
em situação de
Sobreposição de
Pouca integração violência sexual
algumas ações e/ou
institucional
inexistência de outras
Precariedade Atendimento
da infra-estrutura inadequado
Justificativa
A justificativa articula o problema apresentado no diagnóstico
com a proposta de solução que os planejadores entendem ser a
melhor ou a possível no contexto analisado. Assim, deve ser descrita
a solução considerada mais plausível e explicado o porquê de ela
ter sido escolhida. Neste momento são apontadas as diretrizes, ou
seja, a direção que se quer dar às ações que serão executadas.
Considerando os ambientes externo e interno, deve-se fazer uma
análise dos fatores que podem afetar (positiva e negativamente) o
desenvolvimento do plano. Na justificativa também são apresen-
tados os atores sociais e políticos que são considerados relevantes
para o desenvolvimento do plano e o papel que eles terão, princi-
palmente no caso de parcerias.
A escolha de alternativas de solução para o problema não é
fácil. No processo de decisão, pode-se definir por aquela que terá
maior impacto, pelas mais convenientes e realistas, por aquelas de
melhor resultado com menor custo, enfim, esses e muitos outros
determinantes que devem ser negociados e pactuados entre aqueles
que participam da elaboração do plano.
É importante apontar que alguns métodos de planejamento
determinam que o diagnóstico e a justificativa não devem ser apre-
sentados em separado, mas sim seqüencialmente, uma vez que são
Princípios
Princípios (ou fundamentos) são o conjunto de referências ou
parâmetros que expressam os principais valores que vão sustentar
todas as decisões relacionadas com o plano, seja na sua elaboração,
seja na sua execução e avaliação. O Plano Nacional de Enfrenta-
mento da Violência Sexual Infanto-Juvenil, por exemplo, sustenta-se
nos princípios da
Finalidade
É o efeito ou transformação social que justifica o desenvolvimento
do plano e com o qual ele pode contribuir, mas que sozinho não
poderá alcançar. Por exemplo, um plano municipal de enfrentamento
da violência sexual pode contribuir para reduzir a violência de modo
geral praticada contra crianças e adolescentes num determinado
município. No entanto, é muito pouco provável que reduza todos
os tipos de violência.
Objetivos
São os resultados a serem obtidos com a implantação do plano.
Eles definem aonde se quer chegar, isto é, estabelecem o futuro
desejado e, a partir deles, se determina o que se espera do plano
(suas metas). Um cuidado importante na formulação dos objetivos
é que eles possam ser aferidos, ou seja, que eles possam ser verifi-
cados, medidos futuramente, o que significa que eles não devem ser
abstratos e devem ser enunciados de forma clara, precisa e realista.
Um outro cuidado é expressá-los no tempo verbal infinitivo.
Há dois níveis de expressão dos objetivos: geral e específicos.
a) Geral
Também chamado central ou superior, é o enunciado que orienta
de maneira geral o desempenho de um plano e deve ser formulado
em termos de mudanças esperadas na situação geral da população
ou grupo a quem se destinam as ações. Ele tem relação direta com
o problema identificado e que é o foco central do plano. O Plano
Nacional tem como objetivo geral “estabelecer um conjunto de ações
articuladas que permita a intervenção técnico-política e financeira
para o enfrentamento da violência sexual contra crianças e adoles-
centes” (Brasil, 2001: 14).
b) Específicos
Também denominados intermediários ou inferiores, são desa-
gregações do objetivo geral, e, portanto, menos abrangentes, mas
complementares entre si, pois o seu alcance deve possibilitar a rea-
lização do objetivo geral. Os objetivos específicos são estabelecidos
observando-se as causas do problema, ou seja, eles expressam o que
se pretende alcançar para solucioná-las. Parte-se do pressuposto
de que, ao se resolverem as causas que sustentam o problema, ele
também deverá ser solucionado. A partir dos objetivos específicos
é que se organizarão as ações e se determinarão os resultados espe-
rados. No caso do plano, os objetivos indicam os eixos estratégicos
que orientarão as ações propostas.
O Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-
Juvenil, por exemplo, apresenta os seguintes objetivos específicos:
Finalidade
Contribuir para assegurar a proteção integral à criança
e ao adolescente em situação ou risco de violência sexual.
Objetivo geral
Estabelecer um conjunto de ações articuladas que permita a
intervenção técnico-política e financeira para o enfrentamento
da violência sexual contra crianças e adolescentes.
Objetivos específicos
• Realizar investigação científica.
• Garantir o atendimento especializado.
• Promover ações de prevenção, articulação e mobilização.
• Fortalecer o sistema de defesa e de responsabilização.
• Fortalecer o protagonismo infanto-juvenil.
Objetivo geral
(Plano)
Objetivo Objetivo
específico específico
Objetivo
específico
Figura a
Exemplo:
Objetivo geral
Objetivo geral
(Projeto)
(Programa)
Objetivo geral Envolver crianças
Fortalecer o
(Plano) e adolescentes no
protagonismo
monitoramento e
infanto-juvenil
avaliação do POL
Envolver crianças
Fortalecer o
e adolescentes no Objetivo
protagonismo
monitoramento e específico
infanto-juvenil
avaliação do POL
Figura b
Metas
Indicam a cobertura do plano e estão diretamente relacionadas
aos objetivos, apontando o nível de transformação esperado. Para
isto, devem ser realistas, precisas, verificáveis, ou seja, devem ser
detalhadas com relação à quantidade, qualidade e tempo (quantos
da população que sofre com o problema serão beneficiados, qual a
mudança esperada e em que período de tempo). As metas contri-
buem para que futuramente se possa medir o êxito do plano.
As metas darão, também, as dimensões dos recursos humanos,
materiais e financeiros necessários à execução das ações, bem como
Atividades/ações
Este é o elemento do plano em que se relacionam e se descrevem
as ações e os procedimentos necessários para que sejam gerados os
produtos. Seu detalhamento dá origem à metodologia, ou seja, à
explicação de como se pretende executar as ações visando alcançar
os objetivos propostos, o modo como se pretende desenvolver
cada eixo de ação, dimensionando o escopo do plano, os prazos
necessários, a seqüência das ações, seus responsáveis, inclusive
evidenciando as parcerias. A disposição dessas atividades num
quadro temporal – o cronograma – contribui não só para melhor
organizá-las, mas também realizar o acompanhamento da sua
execução. O cronograma de atividades, portanto, é um quadro que
apresenta as atividades localizadas no tempo e pode ser detalhado
em semanas, quinzenas, meses ou anos, de acordo com as especi-
ficidades do plano.
Um exemplo de atividade é a realização de cursos ou de oficinas
para capacitação de recursos humanos.
Exemplo de cronograma:
Período (meses)
Atividade
1° 2° 3° 4° 5° 6° 7° 8° 9° 10º 11º 12º
Preparação
X
do curso
Preparação de
X
material didático
Divulgação
X X
e inscrição
Realização
X X X X X X
do curso
...
...
Monitoramento do
X X X X X X X X X X X
plano
Avaliação
X X X
do plano
Produtos
São os resultados concretos das atividades/ações. Eles são esta-
belecidos, portanto, a partir de cada atividade programada e devem
ser quantificáveis, realistas e alcançáveis. Exemplo de produto: um
curso realizado ao final de seis meses.
O planejamento da avaliação
A avaliação é uma ação tão importante que deve ser prevista
durante o processo de planejamento, integrando o documento
que o expressa (seja um plano, um programa ou um projeto). Um
primeiro aspecto a ser tratado quanto à avaliação é seu próprio
Monitoramento
Entende-se por monitoramento a análise e verificação contínuas
da implementação das ações previstas no documento de plane-
jamento e seus efeitos ou produtos. O monitoramento confronta
as atividades realizadas com o que foi programado, por meio da
coleta e sistematização de informações que compõem o conjunto
de indicadores construídos. Relaciona-se, portanto, com os aspectos
operacionais do plano, ou seja, registra as atividades desenvolvidas,
controla o cumprimento das ações, o uso eficaz dos recursos, o
tempo das realizações (tempo, qualidade, custos), verifica se os
beneficiários são os previstos e se a cobertura proposta está sendo
atingida, dentre outros.
O monitoramento é um componente importante do plano e,
portanto, deve ser planejado concomitantemente a ele. Sua exe-
cução se dá a partir da implementação do plano e é um importante
instrumento para o fornecimento de informações e sugestões para
a tomada de decisão gerencial, permitindo ajustar o que foi progra-
mado, uma vez que constata o que acontece durante a execução. As
fontes de informação para o monitoramento devem ser definidas
antecipadamente (exemplo: atas de reuniões, listas de presença,
documentos distribuídos, síntese de opiniões, informes, relatórios,
outras), em conformidade com os indicadores estabelecidos e que
serão acompanhados.
O planejamento do monitoramento é um processo que se inicia
com a definição dos aspectos que são estratégicos para o desem-
penho do plano e que podem comprometer seus resultados. A partir
daí, define-se o que se quer com este acompanhamento.
Para realizar o monitoramento é necessário elaborar indicadores
que serão acompanhados, definir os responsáveis pela coleta das
informações, quais as fontes dessas informações, qual a periodici-
dade com que serão coletadas, que instrumentos e técnicas serão
Indicadores
Indicadores são “instrumentos de medição válidos, destinados
a estabelecer as alterações, o resultado e o impacto de uma ativi-
dade, projeto ou programa” (CIENES/OEA, em Filgueiras, 1997).
São fatores ou conjunto de fatores ou variáveis que expressam
determinadas condições que possam ser objetivamente identifi-
cadas e verificáveis, usados na fixação dos objetivos e na avaliação;
sua evolução e desenvolvimento permitem planejar, acompanhar e
avaliar a execução das ações.
Há diversos indicadores já utilizados na medição de deter-
minados aspectos da realidade, como taxa de mortalidade infantil,
índice de desenvolvimento humano, mas a definição dos indica-
dores que serão utilizados para monitorar e avaliar o plano deve
ser realizada por aqueles que elaboram e atuarão no plano, com
base na análise das mudanças desejadas. A partir daí definem-se
os parâmetros e padrões (que se expressarão quantitativa e quali-
tativamente) que permitem a comparação entre níveis, situações,
momentos, condições etc.
Pode-se dizer que os indicadores são os critérios que permitirão
mostrar o sucesso de um plano, programa ou projeto. Para isto, eles
devem ser medidos antes da sua implantação, servindo como um
dos parâmetros de análise, de modo que se possa posteriormente
saber se as alterações ocorridas são decorrentes das ações realizadas
O documento do plano
7. Objetivos
8. Metas
9. Atividades/ações
10. Prazos e responsáveis
11. Monitoramento e avaliação
12. Referências bibliográficas
13. Anexos
Cuidados na redação
Considerações finais
Nota
1
A versão original deste texto, com o título “Elaboração de projetos sociais”, tem
sido utilizada como apoio às Oficinas de Elaboração de Projetos Sociais, realizadas
pelo NUPASS/UFMG desde 2000. Seu aprimoramento tem se dado a partir de
contribuições valiosas de Edite da Penha Cunha, Maria Elisa Neves Pena e Marilia
Barcellos Guimarães. Nesta versão, a ênfase foi dada ao processo de elaboração de
planos, de modo a apoiar a elaboração dos Planos Municipais de Enfrentamento
da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes.
Referências
SOUZA, Maria Rosária de. Gestão de Projetos Sociais. In: PROJETO GESTORES
SOCIAIS. Textos de apoio. São Paulo: Capacitação Solidária, 1998.
VOS, Rob. Hacia un sistema de indicadores sociales. Washington - DC: Indes, [s.d.].
Serie de Documentos de Trabajo I-2. (Mimeo.)
Anexo
Proposta de matriz de planejamento – PAIR
Eixo: ___________________________________________________________
Objetivo Geral: __________________________________________________
Indicadores
Objetivos Indicadores Atividades/ Prazos/
Metas de atividades/
específicos de objetivos Ações Responsáveis
ações
1.1 1.1 1.1
1 1 1 1.2 1.2 1.2
... ... ...
2.1 2.1 2.1
2 2 2 2.2 2.2 2.2
... ... ...
3.1 3.1 3.1
3 3 3 3.2 3.2 3.2
... ...
Introdução
Considerações finais
A assessoria técnica da expansão do PAIR/MG esteve atenta
à tensão presente entre a autonomia dos assessorados que se
pretendia cultivar e o direcionamento da ação que a equipe
de assessores pretendeu imprimir em cada município; buscou
potencializar ao máximo as ações já realizadas e que poderiam
ser aperfeiçoadas. Desta forma, a ação da assessoria da expansão
do PAIR/MG possibilitou trocar idéias, compartilhar experiências,
sugerir novas perspectivas de ação, viabilizar a ampliação e o
aprofundamento das relações interinstitucionais, bem como o
conhecimento sobre o fenômeno e as ações desenvolvidas. Dessa
forma, contribuiu significativamente para socializar informações,
rever e redimensionar ações previstas.
Em relação à capacidade de a assessoria criar condições de
sustentabilidade da metodologia do PAIR, nos municípios, e inovar
Notas
1
O Plano Nacional de Extensão Universitária, publicado pelo MEC/SESU, em 1999,
foi formulado pelo Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas
Brasileiras (FORPROEX). Este é composto exclusivamente de representantes de
instituições públicas de ensino superior e vem definindo diretrizes conceituais e
políticas para a extensão universitária pública brasileira.
2
A CPI das ONGs foi criada em outubro de 2006 “destinada a investigar a transfe-
rência de recursos do Orçamento da União, entre 2003 e 2006, para organizações
não-governamentais (ONGs) e organizações da sociedade civil de interesse público
(OSCIPs) (...)” (INFORME SERGIPE, disponível em: <http://www.informesergipe.
com.br>. Último acesso em: 20 de fevereiro de 2008).
3
Sobre a emergência da assessoria governamental nos Estados Unidos da América,
ver DALE; URWICK, 1971.
4
“O SIPIA é um sistema nacional de registro e tratamento de informação criado
para subsidiar a adoção de decisões governamentais sobre políticas para crianças
e adolescentes, garantindo-lhes acesso à cidadania.” (Site do Ministério da Justiça.
Disponível em: <http://www.mj.gov.br/sipia/>. Último acesso em: 20 de fevereiro
de 2008)
Referências
FERRAREZI, Elisabete. O novo marco legal do Terceiro Setor no Brasil. In: III
ENCUENTRO DE LA RED LATINOAMERICANA Y DEL CARIBE DE LA
SOCIEDAD INTERNACIONAL DE INVESTIGACIÓN DEL TERCER SECTOR
(ISTR). Perspectivas Latinoamericanas sobre el Tercer Sector. Buenos Aires,
Argentina, 12-14 de setembro de 2001. Disponível em: <http://www.rits.org.
br/legislacao_teste/download/novo_marco.zip>. Último acesso em: 26 de maio
de 2007.
SILVA, Maria das Graças Martins da. Extensão: a face social da universidade?
Campo Grande: UFMS, 2000.
Janete Ricas
É médica pediátrica, mestre e doutora em Pediatria e professora do
Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG.
Kleber Queiroz
É bacharel em Direito pela PUC/Minas e pós-graduando em Direito Público.
É servidor público do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.
Mara Vasconcelos
É cirurgiã-dentista, mestre em Educação e doutora em Odontologia Social.
É professora do Departamento de Odontologia Social e Preventiva da
Faculdade de Odontologia da UFMG.
Rennan Mafra
É relações públicas, consultor e mestre em Comunicação Social pela
UFMG. Atualmente é professor do Departamento de Comunicação Social
da UFMG, doutorando em Comunicação Social pela mesma Universidade
e coordenador de Comunicação do Programa Pólos de Cidadania, da
Faculdade de Direito da UFMG. É co-autor de Comunicação e estratégias de
mobilização social, e autor do volume Entre o espetáculo, a festa e a argumentação:
mídia, comunicação estratégica e mobilização social.
Walter Ude
É professor adjunto da Faculdade de Educação – FAE/UFMG e membro do
Núcleo de Estudos do Pensamento Complexo – NEPPCOM.