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Camila Aparecida Braga Oliveira; Helena Miranda Mollo; Virgínia Albuquerque de

Castro Buarque (orgs). Caderno de resumos & Anais do 5º. Seminário Nacional de
História da Historiografia: biografia & história intelectual. Ouro Preto: EdUFOP,
2011.(ISBN: 978-85-288-0275-7)

1898 COMO PARADIGMA PARA A HISTÓRIA LATINO-AMERICANA


Daiana Pereira Neto∗

1898 é um ano considerado como um momento de mudanças históricas


importantes, sobretudo em relação ao continente americano. Primeiramente como
devemos recordar que é o ano da emergência de uma nova potência mundial: os Estados
Unidos da América, que despontam no cenário internacional após vencerem a guerra
contra a Espanha. A Guerra Hispano-Americana de 1898, além de dar destaque a nova
potência, marca o fim do império ultramarino espanhol, uma vez que Cuba torna-se
independente e Porto Rico e Filipinas passam a ser protetorados norte-americanos.
A emergência dos Estados Unidos como “protetor” do continente abre um novo
leque de alternativas a intelectualidade latino-americana, que passa a enxergá-los como
novo inimigo comum. A perspectiva em relação antiga a metrópole também se
modifica, e a Espanha passa paulatinamente a ser vista como a antiga pátria mãe.
Em 1998, quando do centenário de 1898, foi organizado uma coletânea de textos
sobre o assunto, organizada por Leopoldo Zea, o que por si só demonstra a importância
do assunto para a América Hispânica. Diversas abordagens são adotadas para analisar a
influência do ano na intelectualidade latino-americana. Para exemplificar essa
modificação tomemos o pensamento de Miguel Rojas. Ao ler A Era dos Extremos, de
Eric Hobsbawm, o autor discordou profundamente da afirmação do mesmo de que o
século XX se iniciou com a 1ª Guerra Mundial, ou seja, nada de mais importante
aconteceu nos anos que precederam esse acontecimento. Tal afirmação ignora a
Revolução Mexicana e por certo 1898. Para a América Latina “o breve século XX"
inicia-se com 1898 (MIX, 2000).
O que faremos a seguir é apresentar o conflito, que funcionou como um divisor
de águas na história do continente americano e a influência do mesmo na obra de Rubén
Darío e José Enrique Rodó.

A Guerra entre Espanha e Estados Unidos


Mestranda em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Sob orientação da professora
Drª Beatriz Helena Domingues. Contato: daianapneto@hotmail.com

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Camila Aparecida Braga Oliveira; Helena Miranda Mollo; Virgínia Albuquerque de
Castro Buarque (orgs). Caderno de resumos & Anais do 5º. Seminário Nacional de
História da Historiografia: biografia & história intelectual. Ouro Preto: EdUFOP,
2011.(ISBN: 978-85-288-0275-7)

Concordo com Carlos Altamirano ao afirmar que para compreender os textos


intelectualmente, não basta compreendê-los relacionando-os exclusivamente ao seu
contexto é também necessário prestar a atenção aos elementos intrínsecos da mesma,
desta maneira, conhecer o contexto de produção da obra e seus autores contribui
irremediavelmente para o conhecimento da mesma (ALTAMIRANO, 2007: 9-17).
Recorro então a uma historização do conflito. Uma série de fatores justificam, ou
tentam explicar, as posições norte-americanas no fim do século XIX.
A guerra de 1898 foi deflagrada entre os dois países em razão de divergências
em relação ao destino de Cuba. Desde 1895 estava estabelecida em Cuba uma rebelião
contra o julgo espanhol. Os nacionalistas cubanos estabeleceram uma junta de apoio nos
Estados Unidos, a fim de conquistar a simpatia para a sua causa e arrecadar fundos e
armas. O governo americano lidou com a situação com extrema cautela, buscando
resolver as questões diplomaticamente, já que parte da população norte-americana era
favorável a causa cubana (FARIAS, 2008).
As relações com a Espanha iniciaram-se com duas comunicações diplomáticas.
A primeira, em 26 de junho de 1897, alertava a Espanha que o país daria tempo
suficiente para que a mesma pacificasse a ilha, mas que não ficariam parados por muito
tempo e que não admitiriam medidas de extrema violência contra os revoltosos. Posição
que foi reiterada em setembro do mesmo ano (FARIAS, 2008).
É também um momento delicado internamente para a Espanha, ano da “peseta
enferma”, período de motins motivados pelo aumento dos preços de produtos
destinados a subsistência da população. Para Fernando Marroyo, a subversão
generalizada, motivada pelas dificuldades de se viver no próprio país, preocuparam
muito mais o governo do que as perdas no Império ultramarino (MARROYO, 2000).
Acontecimentos em 1898 mudariam o contexto de relações pacíficas entre
Espanha e EUA. O maior deles foi a explosão do encouraçado norte-americano Maine,
que explodiu no porto de Havana matando 260 norte-americanos. Foram abertas
investigações para denominar as causas do incidente. Porém a comoção popular norte-
americana aumentou, exigindo a tomada de posição do governo, e requerendo medidas
de guerra contra a Espanha. O resultado da investigação de que o encouraçado
provavelmente foi destruído por uma mina submarina, só vieram a tona em março, no
entanto, a opinião pública já havia se convencido da culpa da Espanha. Havia ainda o

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fato de estarem em época eleitoral o que levaria os votos para a oposição, neste caso
para os democratas, já que o presidente neste momento é McKinley.
Para os Estados Unidos para se evitar a guerra somente seria aceita a declaração
da independência cubana e o fim dos conflitos com os revoltosos, porém, para a
Espanha estava fora de cogitação declarar a independência da Ilha: foi oferecido
autonomia, não independência. Para tentar evitar um conflito com os norte-americanos a
Espanha procurou o apoio das potências européias. A reunião dos embaixadores com o
presidente americano foi considerada como uma posição de não interferência no
conflito (FARIAS, 2008).
Em 19 de abril de 1898 o Congresso Americano reconheceu a independência de
Cuba, exigindo a retirada da Espanha da Ilha e dando autorização a presidência, se
necessário, a utilizar o exército americano, para que essa sansão fosse garantida.
Através da Emenda Teller o Congresso ainda garantia a não interferência jurídica na
ilha, a não ser para sua pacificação, deixando ao povo o governo da mesma. Sabendo
dessas resoluções a Espanha declarou guerra em 23 de abril.
Se no início das hostilidades as intenções norte-americanas eram apenas libertar
a ilha de Cuba do governo espanhol, ao fim do conflito suas exigências para o acordo de
paz incluíam a retirada da Espanha de Porto Rico e das Filipinas no mar do Pacífico. A
Espanha, encurralada, aceitou as condições do acordo em Paris no dia 10 de dezembro
de 1898.
A guerra trouxe mudanças significativas para a política externa dos Estados
Unidos: expulsaram a Espanha do continente, fazendo valer a Doutrina Monroe, e ainda
fincaram uma bandeira na Ásia. Assim, o país saiu de seu papel de não interferir nos
assuntos europeus e se afirmou como uma das novas potências mundiais.

A Intelectualidade Latino Americana: A Geração de 1898


Além de 1898 representar uma vitória para os Estados Unidos, significou
também o fim do decadente colonialismo espanhol. Como enfatiza Maria Helena
Capelato, 1898 produziu mudanças recíprocas, tanto aos olhos dos antes colonizados
ibero-americanos, quanto dos espanhóis, surgindo daí o conceito hispanidad, pleno de
significado ideológico. O Desastre, com D maiúsculo, teve um impacto muito negativo
dentre as camadas mais conservadoras da sociedade espanhola que o tomaram como

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uma mancha na história militar do país. A derrota na guerra de Cuba foi responsável por
uma crise de identidade, que se integrou também a um âmbito mais geral dentro do
mundo europeu, que sofreu uma revisão de valores produzida por importantes
mudanças econômicas e sociais relacionadas aos processos de industrialização,
urbanização acelerada e a emergência de conflitos entre a burguesia e o operariado
(CAPELATO, 2003).
1898 não significou, por completo, a independência dos colonizados da
metrópole. Este momento abriu uma ponte de diálogo entre os intelectuais de ambos os
lados do Atlântico destacando-se na América Rubén Darío e José Enrique Rodó, que em
finais do século XIX questionavam a expansão do modelo utilitarista dos Estados
Unidos em detrimento da cultura rica e espiritualizada da herança latina, base da cultura
ibérica.
Essa valorização da cultura latina veio somada a negatividade dada a cultura
anglo-americana, traduzida pela metáfora de Caliban. Esse personagem neste primeiro
momento encarna a figura dos Estados Unidos da América: a criatura bestial e ignorante
que marcha sobre o continente.
Rubén Darío foi um dos primeiros a erguer a voz e conclamar a união dos latinos
contra o inimigo comum, que atacava a latinidade. Segundo Adja Durão, os contos de
Rubén Darío são pródigos na crítica da sociedade, por que questiona em pontos
essenciais, os valores da civilização capitalista em fins do século XIX e início do XX.
Sua crítica a massificação é comparável a de Nietzsche, e esta pode ser percebida em El
pájaro Azul ( 1886), Arte y Hielo (1888) e El Rey Burgués (1887). Contos que precedem
1898, mas que já vislumbram a crítica a uma sociedade massificada e marcada pelo
avanço do capitalismo (DURÃO, 1996).
O artigo de Darío intitulado “El Triunfo de Calibán” é uma explosão de idéias
provenientes dos acontecimentos de 1898. Nele vemos a expressão da idealidade da
herança latina, da defesa da antiga metrópole colonizadora e da necessidade de união
dos latino-americanos contra o inimigo comum: o utilitarismo dos calibans do Norte.
Para melhor visualização destes pontos, analisemos o texto. Já nas primeiras
linhas vemos a valorização da herança latina quando Darío afirma:

No, no puedo, no quiero estar de parte de esos búfalos de dientes de plata. Son
enemíos mios, son los aborrecedores de la sangre latina, son los Bárbaros. Así

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se estremece hoy todo noble corazón. Así protesta todo digno hombre que algo
conserve de la leche de la loba. (DARÍO, 1898)

Nessas curtas linhas podemos ver a indignação contra os norte-americanos vistos


como inimigos e, pior, como destruidores da cultura latina, como os “bárbaros” que
invadem novamente Roma para destruir sua herança (DARÍO, 1898).
O autor destaca a participação de Saenz Peña no Congresso Panamericano de
1898, onde o futuro presidente da República da Argentina, discursou em favor da
cultura latina, o que para Darío “demonstró em su própria casa “al piel roja que hay
quienes velan em nuestras repúblicas por la asechanza de la boca del bárbaro” (DARÍO,
1898). Destaca também o discurso de Paul Groussac em Buenos Aires, reconhecendo
no intelectual franco-argentino um porta-voz do ideal latino- americano em favor da
herança ibérica, no livro De La Plata Al Niágara de 1897, “Viva España con honra!” é a
frase que impera. Em terceiro lugar destaca o papel de Tanassi, italiano que na visão de
Darío demonstra o fervor do sangue latino (DARÍO, 1898).
Esses três homens representam para Darío, as três grandes nações de raça latina,
Argentina, França e Itália. Conclama, assim, uma união entre esses povos, que essa
união deixasse de ser apenas uma utopia, para que juntos pudessem vencer o inimigo
que vinha do Norte. Para o autor esse vigor cosmopolita ajudaria a “vigorizar la selva
própria”, ou seja, a defender os países também em sua individualidade contra os
tentáculos do novo país imperialista.
Um trecho que demonstra bem as incertezas e contradições que varriam a
mentalidade destes latino-americanos do início do século, ao mesmo tempo em que
amedrontados, eram encantados pelos gigantes do norte, vale transcrevê-lo:

Em uma manhã fria e úmida cheguei pela primeira vez ao imenso país dos
Estados Unidos (...) espremido entre a imensidão de Long Sland e a silhueta de
Staten Island, a beleza tentava, segundo o poeta, ao lápis, já que não, por falta
de sol, à máquina fotográfica. (MONTEIRO, 2010: 171)

De modo menos encantado do que neste texto de 1894, citado por Pedro Meira
Monteiro, Darío mostra-se menos deslumbrado com a “selva de pedra” norte-americana.
A terra de Caliban tornou-se aqui algo mais amedrontador ao ideário espiritualista
latino-americano.

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Ensaísta e intelectual uruguaio, Rodó é outro clássico do pensamento americano.


Assim como Darío, pertenceu a chamada Geração Modernista, que na maioria dos
países surgiu no final do século XIX, geração que proporcionou uma renovação nas
letras do continente, recusando-se a fechar-se ao mundo hispânico e abrindo-se as
influências que vinham de outros lugares. A literatura latino-americana passa a ter estilo
próprio afirmado na prosa e na poesia (CUNHA, 2007: 13).
Escrito em 1898 e publicado pela primeira vez em 1900, o livro de Rodó, Ariel,
desencadeou acirrados debates ao longo do século XX, em função das diferentes
interpretações dadas ao texto. Segundo Antonio Mitre, a obra se tornou uma das
maiores influências do pensamento latino-americano, o que pode ser visto inclusive em
textos de Sérgio Buarque de Holanda, historiador brasileiro1. No entanto, com o passar
do século, Ariel apenas desperta curiosidade acadêmica em pessoas “preocupadas com
as coisas do passado” (MITRE, 2003: 103). Para Antonio Mitre, após mais de um
século da publicação da obra talvez seja mais fácil enxergar em Ariel, o tempo histórico
do qual foi expressão madura. Segundo ele, os temas principais do ensaio, sejam eles,
apologia do ócio, beleza, educação, crítica ao utilitarismo e a deformação democrática,
foram antes de tudo respostas ao embate entre tradição e mudança pelas quais passavam
os países do Prata na virada do século (MITRE, 2003: 104).
Otávio Ianni complementa o pensamento de Antonio Mitre, ressaltando a grande
onda imigratória, que exigiria uma “refundação” da pátria uruguaia (IANNI, 1991).
Roberto Fernández Retamar afirma ainda que a obra de Rodó só pode ser plenamente
entendida como produto de uma renovação que vinham experimentando as letras e o
pensamento hispano-americano no período compreendido entre 1880 e 1920
(RETAMAR, 1988: 121) um período marcado pela intervenção norte-americana no sul
do continente.
No início do texto rodoniano um velho professor, a quem os discípulos gostavam
de chamar Próspero, fala a seus alunos em torno da estátua do majestoso espírito do ar.
Eis um trecho:

1
Quando mais jovem Sérgio Buarque de Holando publicou muitos artigos em periódicos diversos entre
eles um intitulado Ariel. Para mais detalhes ver: HOLANDA, Sérgio Buarque de. Ariel. In:__BARBOSA,
Francisco de Assis (org). Raízes de Sérgio Buarque de Holanda. Rio de Janeiro: Rocco, 1988. p. 43.

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Naquela tarde, o velho e venerado mestre, a quem costumavam chamar de


Próspero, numa alusão ao sábio mago de A Tempestade shakespeariana, se
despedia de seus jovens discípulos, depois de um ano de tarefas, mais uma vez
reunindo-os a sua volta. (...) na sala dominava – como nume de seu ambiente
sereno- uma primorosa estátua de bronze, representando o Ariel de A
tempestade. (RODÓ, 1991: 13)

Rodó tem como objetivo de falar com a juventude latino-americana: “Penso


também que o espírito da juventude é um terreno generoso onde a semente de uma
palavra oportuna costuma gerar, em pouco tempo, os frutos de uma imortal vegetação”
(RODÓ, 1991: 15). A juventude vista como a semente para a mudança.
Na obra de Rodó, Ariel representa toda a idealização de uma América Latina
espiritualizada e humanista, contra os Estados Unidos da América, a terra de Caliban, os
utilitaristas vazios. Ariel é o símbolo máximo do que deve ser alcançado e seu pedestal
é a Cordilheira dos Andes.
Caliban, é para Rodó, o símbolo do utilitarismo norte americano. Afirma o autor:

Imita-se aquele em cuja superioridade ou prestígio se acredita. É assim que a


visão de uma América deslatinizada por vontade própria, sem a extorsão da
conquista e logo regenerada a imagem e semelhança do arquétipo do norte,
paira sobre os sonhos de muitos sinceros interessados em nosso porvir. (RODÓ,
1991: 70)

“Temos nossa nortemania” mas é preciso impor limites. Para Rodó, assim como
o Caliban de Shakespeare, os Estados Unidos representam o carnal, o material da vida
humana. Mas em última instância também Caliban serviria a causa de Ariel, porque,
para o intelectual, também é necessário o bem estar material. Espera que em algum dia a
“vontade americana que se serviu apenas a utilidade e a vontade também seja
inteligência, sentimento e idealidade” (RODÓ, 1991: 81).
Em suma a obra de Rodó é um discurso humanista em favor da educação e do
ideal de uma América Latina mais espiritualista. No entanto, seu símbolo Ariel, não se
prende somente a América Latina, mas também se estende a Europa. O texto tem como
forte referência autores europeus, principalmente Renan.
As aspirações de Rodó entraram em declínio no pós -Segunda Guerra Mundial
quando a crença em uma América Latina rica e espiritualizada entrou em declínio.

Considerações finais

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Ao referir-me a 1898 como paradigma, quero dizer que efetivamente os


acontecimentos deste ano constituíram fortes mudanças no pensamente latino-
americano. Mudanças que podem ser notadas em diversos trabalhos. Tomei aqui Darío e
Rodó como exemplos de uma geração, que comporta também José Gaos (mexicano),
Paul Groussac (franco-argentino) e Mark Twain (norte-americano). Destaco como
precursor valioso dessa idéia de defesa de uma cultura própria latino-americana em
oposição ao norte, o poeta cubano José Martí, que morre no início da rebelião cubana
contra a Espanha em 1895. Efetivamente Martí iniciou um pensamento de oposição a
cultura anglo-americana e a defesa de uma cultura própria da América Latina2.
No entanto, o que quero destacar aqui é a influência dos fatores externos na
produção das reflexões de Darío e Rodó. Concordo com Quentin Skinner em afirmar
que o contexto influi nos discursos dos atores, destacando a capacidade de escolha
destes não encarando os indivíduos como massas passivas no mar dos acontecimentos
(SKINNER, 2000). É necessário ressaltar que em um período histórico existem idéias
recorrentes, como as que foram destacadas na obra de Darío e Rodó, autores chave do
pensamento latino-americano, sendo assim os acontecimentos de 1898 são influências
notáveis no pensamento destes autores e influiu de forma marcante nessa geração
intelectual.
Por fim gostaria de destacar que este artigo é parte de uma pesquisa maior, que
engloba também os trabalhos de Roberto Fernandéz Retamar, Georges Lamming, Aimé
Césaire e Richard Morse, e muito ainda há por ser feito. Nesta parte de minha pesquisa
procuro destacar o contexto de produção das obras de Ruben Darío e Rodó, dois
intelectuais de extrema importância para o pensamento latino-americano, ou como
afirma Carlos Altamirano, para a “literatura das idéias” latino-americanas.

Referências Bibliográficas
ALTAMIRANO, Carlos. Idéias para um programa de história intelectual. Trad.
Norberto Guarinello. Tempo Social - revista de sociologia da USP, v.19, n.1,
2007.

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Para mais informações ver: RODRÍGUES, Pedro Pablo. Martí e as duas Américas. São Paulo:
Expressão Popular, 2006.

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CAPELATO, Maria Helena. A data símbolo de 1898: o impacto da independência de


Cuba na Espanha e Hispanoamérica. História. V. 22. nº. 2. Franca. 2003.
CUNHA, Karla Pereira. Gabriel Garcia Márquez e Octavio Paz: A questão da
identidade Ibero-americana em Cien Años de Soledad e El Laberinto de La
Soledad. 2007. 142 p. Dissertação (Mestrado) Programa de Pós-graduação em
História. Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora. 2007.
DARÍO, Ruben. El Triunfo de Caliban. 1898. Disponível em
<www.ensayistas.org/antologia/XIXA/dario/> Acesso em 20 de junho de
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DURÃO, Adja Balbino de Amorim Barbieri. A crítica da sociedade nos contos de
Rubén Darío. Londrina: Editora UEL, 1996.
FARIAS, Flávio José de Moura. A dimensão estratégica da política dos Estados
Unidos no Caribe (1898-1904). 2008. 128 p. Dissertação (Mestrado).
Programa de pós-graduação em relações internacionais, Universidade paulista
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MONTEIRO, Pedro Meira. As Raízes do Brasil no Espelho de Próspero. In:
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SKINNER, Quentin. Significado y Compresión em La historia de las ideas. Prismas:
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<http://4s.io/document/wFigR7J6/Quentin_Skinner_-_Significado_.htm>
Acesso em 15 de junho de 2011.

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