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Daí, para além da consciência, devemos saber que nosso centro de saber está
em tantos e tantos lugares, nos fluxos de vida que perpassam os corpos, na
perca e reencontro dos sentidos, no delírio, em suma, naquilo que Claudio
Ulpiano chamou de inconsciente absoluto. Estamos falando que o pensamento
é o órgão da diferença. Pois o pensamento é o que:
“(…) faz a graça e a beleza da vida, é a certeza de que o crepúsculo que
vimos ontem será diferente do crepúsculo que veremos amanhã. É a
certeza de que nunca daremos o mesmo beijo, de que nunca sentiremos
a mesma emoção. E o pensamento, assim pode ser dito, é o órgão das
diferenças, como os olhos são os órgãos da luz. Então cabe colocar o
pensamento como aquilo que possibilita, a cada homem, a conquista da
liberdade.” (Uma nova imagem do pensamento, Claudio Ulpiano).
A cidade e as coisas
Recolocar-se no mundo de outras maneiras, recolocar-se diante das coisas, é
liberar a multiplicidade das carapuças ontológicas. Recolocar-se diante das
coisas é recolocar-se diante da cidade, é uma forma de deixá-las mais humanas.
Deixá-las quem? A cidade, as coisas ou os homens?
Mas deixar as coisas mais humanas, de que modo podemos compreender este
fenômeno? Entre o calor insuportável da manhã, o barulho ensurdecedor dos
automotivos, o tempo que não para de passar e não para de oprimir os sentidos
e a percepção, devemos propor outras técnicas de neutralização da tolice. O
silêncio, para compormos com Le Breton, é uma das vias técnicas que agora se
fazem iminentes. A caminhada contemplativa, “flanear”, cada caminhada é
literalmente seguir e multiplicar os interlocutores e sensibilidades.
A alegria para se fazer presente, nas cidades, nos espaços massacrados pela
força econômica – a invisível mão que bate, a mão invisível do mercado –
procura e alcança o impossível, pensa o impensável. Outra palavra sobre o
pensamento. O pensamento, aquilo onde nada está e onde tudo se passa, não
é feito por preceitos da riqueza capital, seja ela econômica ou cultural. Escuto
Sabotage e em suas palavras percebo um grande pensador. Um pensador está
entre todas as coisas. E podemos dizer que existe um perspectivismo urbano,
onde os diferentes pontos de vista produzem verdadeiros campos de batalha,
sangrentos e viscerais.
O Estado é pensado como um campo neutro de forças. Na verdade o Estado é
aquilo que compõe as forças políticas vigentes. Olho para a Serra, a favela ao
lado de onde escrevo esse texto. Vejo uma indústria do tráfico. Por um segundo,
enxergo a presença do Estado, compondo os campos de possibilidade para a
proliferação da selvageria moralista que alimenta e injeta a hipocrisia do tráfico.
O estado não intervém, pois é o estado que permite e propaga a escravidão dos
povos pelos meios de consumo na sociedade de mercado. É o estado junto ao
mercado – para Viveiros e Danowski, é o planeta Mercadoria – que induz a
produção sem sentido (hobby) e traça os caminhos do consumo sem
necessidade (turismo).
Para um estudo mais delicado dos seus pensamentos através das suas aulas:
https://acervoclaudioulpiano.com/