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Os arqueólogos comprovam: Alagoas foi habitada por dinossauros. Vez por outra, aparece
alguém confirmando que viu inscrições em pedras; descobriu ossos de animais pré-históricos e
outros objetos que existiram na pré-história.
O historiador viçosense, Alfredo Brandão, também é outro que fala em seus livros sobre
a pré-história em Alagoas. Afirma que na propriedade Pedras de Fogo (da família Loureiro),
encontra-se uma pedra com diversas cruzes gravadas, sendo uma delas tão bem gravadas que
passa por milagrosa. Também fala em inscrições descobertas em pedras nos municípios de
Capela, Atalaia, Porto de Pedras e Anadia. Sua coleção de instrumentos de pedras, como
tambetá, machadinha e outros, está exposta no Instituto Histórico e Geográfico de Maceió.
Nas margens do rio São Francisco, já descobriram muitas ossadas de animais pré-
históricos. É uma região, comprovadamente habitada naquela época. Um museu instalado no
Xingó Parque Hotel, expõe muitos objetos arqueológicos descobertos por toda aquela imensidão
de terras. No Centro de Apoio da Hidrelétrica de Xingó, do lado alagoano, existe uma exposição
fixa de arqueologia.
Terra à vista
Quando o Brasil foi descoberto, a terra que constitui hoje o Estado de Alagoas, era um
mundo de mata virgem, onde viviam índios nativos. Rios perenes, muito peixe, frutas, animais
soltos. Enfim, a flora e a fauna exuberantes, enchiam os olhos dos portugueses que foram
chegando para iniciar o processo de colonização.
A grande quantidade de lagoas em seu litoral, fez com que os colonizadores batizassem
logo a região de Alagoas. Elas continuam embelezando a paisagem típica do Estado, se
constituindo em pontos de atração turística e ainda em sustento de milhares de alagoanos, que
tiram dela, o peixe e o sururu, molusco típico, consumido não só pelos pobres, mas presente na
mesa dos ricos, da classe média e dos bares e restaurantes.
Nossos índios eram vaidosos, festeiros e valentes. Adoravam se pintar com várias cores,
dançar e cantar. Achavam o nariz chato um importante requisito de beleza. No Sul eram os
Caetés e suas sub-tribos, como a dos Caambembes, instalada em Viçosa. No Norte, os
Potiguaras. As demais tribos, eram:
Nas aldeias, todos se reuniam em forma de República. O chefe maior era o Cacique,
escolhido entre os mais velhos e respeitados. O Pajé era o conselheiro espiritual. Nas grandes
crises, eles se reuniam em conselhos, denominados Carbés.
- Xucurús, em Palmeira dos Índios, muito bem organizada, já toda civilizada, com escola, posto
de saúde, posto telefônico e outros benefícios.
- Cariris, em Porto Real do Colégio, também com toda a infra-estrutura econômica e social,
funcionando.
- Wassus em Joaquim Gomes, e uma outra descoberta recentemente, ainda em estudo na Funai
– Fundação Nacional do Índio, para constatar sua verdadeira identidade. É um pequeno grupo
que vive no alto Sertão alagoano.
Os colonizadores
Mas toda essa extensão de terras, entre o Litoral e o Sertão precisava ser colonizada. Aí
surge a figura de um alemão: Cristhovan Lintz, depois aportuguesado para Cristovão Lins. Ele
vivia em Portugal, onde casou-se com Adriana de Hollanda, filha do holandês Arnault de
Hollanda e da portuguesa Brites Mendes de Vasconcellos Hollanda. O casal desembarcou no
Recife, na primeira metade do século do descobrimento (XVI) e ganhou uma imensa sesmaria,
compreendendo o Cabo de Santo Agostinho até o vale do rio Manguaba.
O segundo colonizador foi o português Antonio de Barros Pimentel, casado com Maria de
Hollanda Barros Pimentel, irmã da mulher de Cristovão Lins. Ele chegou ao porto da Barra
Grande (Maragogi), ainda com a roupa que usava na Corte, em Lisboa. Era um nobre,
descendente de uma das mais importantes famílias de Portugal, originária da cidade de Viana,
mas com os seus ancestrais surgidos na Espanha. Ganhou uma sesmaria que compreendia as
terras entre os rios Manguaba, passando pelo Camaragibe e chegando ao rio Santo Antonio,
em São Luiz do Quitunde. Construiu engenhos de açúcar e criou gado.
Os engenhos
Os primeiros engenhos surgiram nos vales dos rios Manguaba, Camaragibe e Santo
Antônio, na região Norte de Alagoas. A terra fértil, logo adaptou-se a essa nova atividade. E,
assim, começa a formar-se a chamada aristocracia açucareira, com as grandes famílias
dominando a economia.
O escritor Manoel Diegues Júnior, em seu livro O Banguê das Alagoas, faz um relato
apaixonado dessa atividade que iniciou o processo de desenvolvimento sócio-econômico e
cultural da Comarca, Capitania e Província de Alagoas. Mostra os costumes e tradições, a
religiosidade, o domínio político, o folclore saído dos engenhos, enfim, um estudo de sociologia
rural, que deveria ser lido por todos aqueles que realmente se interessam pela História desse
povo bom, trabalhador, honesto e hospitaleiro, que é o alagoano.
Os engenhos banguês das Alagoas eram movidos a animais. Produziam o açúcar, o mel e
a rapadura. Logo que eram construídos, seus proprietários procuravam também edificar uma
Igreja. A casa grande emoldurava a beleza da paisagem típica da região. Algumas eram
luxuosas, com móveis e objetos importados. A senzala, onde viviam os escravos amontoados; a
bagaceira; a casa de purgar; o armazém (empório comercial) e outras edificações, formavam
um povoado.
Os primeiros engenhos foram construídos por Cristovão Lins, o alemão que se constituiu
no verdadeiro colonizador de Alagoas. Ele batizou logo com os nomes de Escurial, Maranhão e
Buenos Aires. Ficavam no atual município de Porto Calvo, que ele também fundou na segunda
metade do século XVI.
Outros engenhos foram surgindo nos vales dos rios São Miguel, Coruripe, Mundaú e
Paraiba. E a atividade dominou a economia alagoana. O açúcar seguia para a Europa através do
porto do Francês, saindo dos engenhos em lombo de boi ou burro, atravessando montes e rios,
até chegar a vila do Pilar, e daí, seguindo em barcaças, passando pela velha capital (atual
Marechal Deodoro) e atingir o porto.
Hoje, o transporte é rápido e seguro. Das usinas, saem os caminhões-tanque, com o açúcar a
granel, atravessando estradas asfaltadas e chegando à Maceió, onde é descarregado no
Terminal Açucareiro do Porto de Jaraguá em fração de minutos, saindo por uma esteira rolante
e chegando ao porão dos navios, para daí seguir para a Europa, América do Norte, Ásia, África e
outros Continentes, garantindo a Alagoas uma boa posição (segundo lugar a nível nacional) na
produção de açúcar, perdendo apenas para São Paulo.
Costumes e tradições
O dia-a-dia nos engenhos alagoanos dos séculos XVII, XVIII e XIX, era muito diferente
do das atuais usinas e destilarias. Não existem mais escravos, e sim trabalhadores, mas que
continuam servis aos patrões. A maioria sem carteira assinada, ganhando pelo que produz. Os
escravos eram negros, enquanto os trabalhadores atuais são mestiços, brancos ou negros. Os
costumes e tradições mudaram muito.
Não existem senzalas, mas casas populares, em algumas usinas. A maioria preferiu
deixar os trabalhadores morando nas cidades próximas e garantir o transporte para a usina ou o
canavial. Assim, se ver livre do vínculo empregatício e a obrigação de garantir moradia e outros
benefícios sociais. A casa grande, ainda existe. Mas geralmente o usineiro, vive mais na capital,
em confortáveis mansões ou apartamentos luxuosos do Farol ou dos bairros da orla marítima.
As sinhazinhas (filhas dos senhores de engenho) eram preparadas para casar logo que
chegassem a adolescência. Estudavam as primeiras letras com professores particulares na
própria casa grande, aprendiam noções de latim e francês; bordavam, cozinhavam e liam
poesias. Eram românticas, mas dificilmente casavam por amor, sendo obrigadas a casar - na
maioria das vezes, logo que iniciavam a adolescência - com primos legítimos e até tios. Tudo
para preservar o patrimônio da família.
As patricinhas (filhas dos usineiros) são meninas livres, que vivem a doce vida de filhas
de milionários, viajando para o exterior, estudando nos melhores colégios da cidade, ou mesmo
fora do país; usam roupas de grifes famosas e não mais são obrigadas a casar com quem o pai
quer, embora que dificilmente procurem algum rapaz pobre. Algumas chegam a engajar-se no
trabalho da usina, logo que terminam a universidade, seja como administradoras de empresas
ou assistentes sociais, economistas, advogadas, médicas, dentistas ou qualquer outra profissão
de nível superior. Os rapazes, também participam da atividade produtiva do patrimônio da
família, na maioria das vezes, já como profissionais de nível superior, seja como engenheiro,
agrônomo ou administrador de empresa.
Hoje, as senhoras dos usineiros, procuram trabalhar também na própria usina, ajudando
o marido em atividades sociais, como a assistência às famílias dos trabalhadores. Já não são
mais aquelas matronas, que se enfurnavam na casa grande, só cuidando das atividades
domésticas e gerando filhos. Algumas optam pela vida produtiva na capital, atuando em
atividades do comércio, como boutiques de marcas sofisticadas. Mas, são produtivas,
atualizadas, viajadas e não mais esbanjam riquezas.
Nos engenhos, as festas eram restritas a casa grande. Os escravos ficavam nas senzalas,
cultuando suas tradições africanas. Eram proibidos de, pelo menos, observar os festejos
realizados pelos patrões, que comemoravam as festas do santo padroeiro, as de São João e São
Pedro; o Natal e o Ano Novo, além de casamentos, aniversários, batizados e outras cerimônias.
A capela, era o centro de todas as atenções.
Nas usinas desse início de século, realizam-se festas promovidas pelos trabalhadores,
geralmente em clubes sociais administrados por eles próprios. Ao invés do autêntico folclore
típico da zona canavieira, dançam e cantam o axé-music. As moças usam mini-saia ou calça
colada ao corpo. Pouco se diferenciam das filhas do patrão. Vez por outra, aparece alguma
dessas filhas do proletariado, usando uma calça jeans de marca famosa, comprada a prestação
numa boutique da capital.
Existem bons exemplos de como conduzir uma empresa moderna, pensando no social: A
Caeté, do Grupo Carlos Lyra ; Coruripe, do Grupo Tércio Wanderley; Leão (Rio Largo), do Grupo
Leão; Santo Antonio (São Luiz do Quitunde), do Grupo Correia Maranhão; Porto Rico (Campo
Alegre), do Grupo Olival Tenório, entre outras.
As vilas
Mas aos poucos, a cidade foi soerguendo sua economia, e hoje é importante centro
econômico e de turismo cultural. Durante alguns anos, realizava o Festival de Cinema, atraindo
artistas e intelectuais de várias partes do país. Mantém o Festival de Tradições Culturais, a
Festa do Bom Jesus dos Navegantes, Gincana de Pesca e Arremesso, Penedo Fest e outros
eventos de significativa importância sócio-econômica, como seminários, congressos, simpósios,
peças de teatro, etc. Suas Igrejas, seus sobrados e a beleza do rio São Francisco atraem muitos
turistas, que dispõem de bons hotéis, restaurantes e passeio de barcos pelo rio, indo até a foz,
na praia do Peba.
Palco da luta dos holandeses pela colonização de Pernambuco, Porto Calvo ergue-se em
uma colina, onde abaixo um imenso vale cortado pelo rio Manguaba, é ocupado por canavial,
pastagem e lavouras de vários tipos. Terra fértil, logo foi atraindo novos moradores. E a vila
cresceu, esbanjou progresso, mas foi decaindo ao longo dos séculos, somente ressurgindo no
atual. Hoje, detém um comércio em franca ascensão, agências bancárias, sistema de telefonia
fixa e celular e toda a infra-estrutura para se desenvolver mais ainda. O Relatório Estatístico de
Alagoas, versão 1998, aponta uma população de 24.150 habitantes, sendo 12.798, na cidade.
Pouca coisa lembra o seu passado. A Igreja de Nossa Senhora da Apresentação, é a única
construção secular. Alguns sobrados construídos no início do século XX e, ainda o Alto da Forca,
onde dizem ter sido enforcado um dos seus filhos mais ilustres: Domingos Fernandes Calabar.
A terceira povoação fundada em Alagoas, foi Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul,
alusão a lagoa Manguaba, onde está edificada às suas margens. A Lagoa do Norte, é a Mundaú,
que banha Maceió, Coqueiro Seco, Santa Luzia do Norte e Satuba. A vila foi crescendo e, logo
no século XVIII tornou-se cabeça-de-comarca, espécie de capital. Quando da invasão
holandesa, foi quase toda destruída, com suas casas sendo incendiadas pelos invasores. Mas,
recuperou logo, e cresceu novamente. Na emancipação política de Alagoas, já com o nome de
Alagoas, foi escolhida como capital da nova Capitania. Perdeu espaço para Maceió, que surgiu
no século XVII, através de um engenho banguê.
A quarta povoação fundada, foi Santa Luzia do Norte, às margens da Lagoa Mundaú.
Quase era destruída pelos holandeses, mas a força de sua população liderada por dona Maria de
Souza, impediu a invasão. Eles recuaram e a vila continuou em seu ritmo normal. Muitos anos
depois, foi rebaixada condição de vila, ficando pertencendo à Rio Largo, só se emancipando na
década de 1960. Hoje, dispõe de uma importante fábrica de fertilizantes e investe também no
turismo. Detém uma população de 6.397 habitantes, sendo 5.139, na cidade.
Os negros africanos, que chegavam aos montes aos engenhos de Alagoas, logo que foi
autorizado o tráfego negreiro, viviam como escravos, sendo maltratados, e trabalhando para
enriquecer o patrão branco. Obviamente que eram revoltados e procuravam a todo custo,
conquistar a liberdade.
Era preciso que surgisse um líder da raça, que incentivasse os demais a lutar pela tão
sonhada liberdade. E, assim entra em cena, Ganga Zumba, que levou um grupo de negros para
um local distante dos canaviais, no alto da Serra da Barriga, no atual município de União dos
Palmares. Os engenhos localizavam-se nos vales dos rios Manguaba, Camaragibe e Santo
Antônio. A notícia foi se espalhando e a cada dia, chegavam mais negros fugitivos.
Logo batizaram o local de Quilombo dos Palmares. Terra fértil, boa para o plantio de
qualquer tipo de lavoura, foi se tornando um importante centro produtor. Os negros construiram
uma verdadeira civilização, assim como era na África. Ganga Zumba se constituia no Chefe de
Governo e tinha seus Ministros. Formou-se então uma verdadeira República Parlamentarista.
Um avanço na época. Lá, eles viviam livres, falavam seu próprio idioma, não eram maltratados
pelos brancos e podiam cultuar suas tradições religiosas e festivas.
Vez por outra, os portugueses, brasileiros e até os holandeses, tentaram acabar com
esse refúgio dos negros. Não conseguiram. A população negra era mais numerosa e organizada.
O tempo foi passando, e Ganga Zumba já não conseguia ter forças para liderar a comunidade.
Na tradição africana, a hereditariedade era passada de tio para sobrinho. E, assim ele escolheu
um desses sobrinhos: Zumbi, um jovem negro, forte, educado por um padre de Porto Calvo,
que logo afeiçou-se a causa da liberdade, integrou-se ao Quilombo, e tornou-se o maior líder
revolucionário da História do Brasil, finalmente reconhecido por decreto assinado pelo
presidente Fernando Henrique Cardoso, em 20 de novembro de 1995, exatamente quando o
país reverenciava os 300 anos de sua morte.
Zumbi era um líder nato. Sua companheira Dandara, uma mulher forte, guerreira, que
liderava o grupo feminino. Organizado, logo pôs ordem no Quilombo, nomeando seus
assessores e distribuindo tarefas para toda a população, que era preparada para a batalha.
Quando esse dia chegava, ninguém dormia. O quilombo fervia. Eram homens, mulheres e
crianças de prontidão para o ataque. E foram vários.
Por quase um século o Quilombo dos Palmares resistiu. Mas em novembro de 1695, os
brancos conseguiram subir à Serra da Barriga. Era um grupo numeroso e fortemente armado,
liderado por Domingos Jorge Velho e Bernardo Vieira. O sangue jorrou. Milhares de negros
foram barbaramente assassinados. Zumbi conseguiu fugir acompanhado de alguns de seus
companheiros. Lutou até o fim, quando viu tudo que construiu ser destruído e seus irmãos de
cor, sendo mortos.
Existem duas versões sobre a morte de Zumbi. A primeira é a de que ele suicidou-se,
pulando de um precipício na Serra da Barriga. Mas os historiadores da época, afirmam que ele
foi assassinado mesmo, depois de alguns dias da destruição total do Quilombo. Sua cabeça foi
cortada e levada ao Recife, para ser exposta ao público como um troféu. Era o dia 20 de
novembro de 1695. E depois de três séculos, essa data vem sendo lembrada como o Dia
Nacional da Consciência Negra. A cada ano, centenas de negros e brancos sobem à Serra da
Barriga nesse dia, para reverenciar Zumbi e sua raça.
O local é tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional. Mas precisa melhorar sua infra-
estrutura. Foi construida uma vila cenográfica, lembrando o ´próprio Quilombo. No alto da
serra, existe uma estátua, lembrando a figura do líder maior, mastro para bandeiras e muito
espaço, com o verde predominando por todos os lados. Além, é claro, de um bonito visual para
toda a zona da Mata. É uma das mais altas serras do Estado.
Terra prometida
Primeiro foram os franceses, que chegaram para explorar o pau-brasil. Não passaram
muito tempo, mas deixaram uma marca: a construção do primeiro porto, que ficou conhecido
como Porto dos Franceses, aproveitado depois como único porto da região, para o transporte do
açúcar em demanda a Portugal. E foram quase três séculos com esse local contribuindo
decisivamente com o progresso de Alagoas, até o surgimento do Porto de Jaraguá. Hoje, ainda
existe um resquício aquela época: a carcaça de um navio francês, que, quando a maré está
baixa, fica bem visível. E esse curto período vivido pelos invasores, imortalizou-se na História e
está com o nome na “boca do povo”. É a praia do Francês, a mais badalada do litoral alagoano,
conhecida no país e no mundo, como uma das mais bonitas do Brasil. Pertence ao município de
Marechal Deodoro, distante poucos quilômetros da capital.
Mas a fase mais duradoura dessas invasões, foi mesmo a dos holandeses, que
transformaram a Capitania de Pernambuco no Brasil Holandês. E muito contribuiram para o seu
desenvolvimento, embora Alagoas não tenha experimentado essa fase de apogeu, que
restringia-se mais ao Recife e Olinda. Por aqui, foi mais destruição, como ocorreu com a Vila de
Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul (atual Marechal Deodoro), completamente incendiada
pelos holandeses, que ainda tentaram fazer o mesmo em Santa Luzia do Norte, não
conseguindo, devido a ação rápida de seus moradores, liderados por dona Maria de Souza. Em
Penedo, construiram um forte, depois destruído pelos brasileiros e portugueses, que não
queriam qualquer lembrança dessa fase.
Um outro episódio que marcou a presença dos holandeses em Alagoas, foi a Batalha da
Mata Redonda, uma alusão ao local (hoje pertencente ao município de Porto de Pedras) onde
ocorreu a mais sangrenta batalha entre holandeses, portugueses e brasileiros, vencida pelos
primeiros, por ter um maior arsenal e maior contingente de homens.
Mas os holandeses liderados por Maurício de Nassau, muito fizeram por Pernambuco. A
cultura, a educação, o avanço na agricultura e na pecuária. Enfim, uma civilização que eles
queriam formar, e transformar numa colônia desenvolvida. Construiram pontes (ainda
existentes), teatros e outras grandes obras no Recife, cidade que ainda hoje lembra esse
período de desenvolvimento cultural e econômico. É notório o gosto pela cultura do povo
pernambucano, notadamente de Recife e Olinda. Por lá, surgem movimentos culturais que se
expandem Brasil afora. O próprio frevo é criação dos pernambucanos.
Os holandeses eram protestantes (evangélicos), mas não impunham essa religião aos
brasileiros que eles já dominavam. Assim a religião católica continuou sendo forte na Capitania.
Preocupavam-se com a educação, implantando métodos avançados de alfabetização para
crianças e adultos.
Maurício de Nassau, foi inegavelmente o maior administrador que o Brasil já teve. Era
organizado, trabalhador e extremamente ético, qualidades que os demais donatários
portugueses não possuiam, optando mesmo pela exploração, a escravidão dos negros e índios e
o aumento da produção de açúcar para enviar a Portugal.
Quando da Invasão Holandesa à Porto Calvo, lutou ao lado de seus conterrâneos contra
esses invasores. Mas logo foi percebendo que eles tinham um projeto de colonização muito mais
avançado e ético do que o dos portugueses. Não contou conversa: passou para o lado dos
holandeses.
Começa então, a história desse bravo alagoano, que alguns historiadores afirmam ter
sido traidor, mas que ele próprio nunca se considerou assim. Deixou uma carta-testamento,
mostrando a sua decisão. Nela, alegava que não se considerava traidor, porque o Brasil não era
uma pátria. E que o projeto dos holandeses era muito melhor para os brasileiros. Mas não foi
compreendido, obviamente.
Hoje, Porto Calvo só tem como monumentos para lembrar a sua importância na História de
Alagoas, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, inaugurada em 1610 (existe no
alto de sua fachada, essa data), com seu alta-mor em madeira, originalíssimo e as imagens da
sua padroeira, de Cristo crucificado, de Nossa Senhora da Conceição e outras. É a mais antiga
freguesia de Alagoas. Para lembrar Calabar, existem: o chamado Alto da Forca, onde dizem que
ele foi enforcado, o Fórum, além de um clube, um bar e restaurante que levam o seu nome.
Mas, o importante mesmo é a luta dos filhos da terra para resgatar a memória desse
conterrâneo. São publicados livros e outros periódicos, enaltecendo a sua figura. A esperança é
de que um dia, ele seja finalmente considerado Herói Nacional, como foi Zumbi, outro que os
portugueses também consideravam como traidor.
Rumo à Independência
O progresso do Sul da Capitania de Pernambuco conhecido como Alagoas, fez com que
sua população fosse logo desejando a independência. Mas nada era fácil. No início da segunda
década do século XVIII, foi criada a Comarca de Alagoas, sob a jurisdição da Capitania de
Pernambuco, e nomeado o primeiro Ouvidor Geral: José da Cunha Soares.
Por não existir cursos jurídicos no Brasil, esse cargo era destinado a quem fosse mais
letrado, com espírito de liderança. Transformava-se em comandante da Justiça, da Política e da
Economia. E no período de mais de um século, entre 1711 a 1817 (ano da sua emancipação
política), Alagoas teve 17 ouvidores-gerais.
Foi exatamente na segunda metade do século XVIII, que surge Maceió, de um engenho
de açúcar denominado Massayó. A palavra é de origem indígena, significando terra alagadiça,
que deu origem ao riacho com o mesmo nome. O engenho, de propriedade de Apolinário
Fernandes Padilha, localizava-se na atual Praça Dom Pedro II, com o engenho propriamente
dito, a casa de purgar, a senzala, a casa grande e a capelinha em louvor a São Gonçalo, que
ficava no meio do morro do Jacutinga (Ladeira da Catedral). Durou poucos anos. Ficou em fogo
morto e o povoando foi crescendo. Surgiram novos moradores, que logo foram construindo suas
casas e formando um arruado. Em 5 de dezembro de 1815, o povoado é elevado a categoria de
Vila, desmembrando-se da Vila de Alagoas (atual Marechal Deodoro).
Surgiram ainda as povoações de Anadia, Atalaia, Camaragibe, São Miguel dos Campos,
Poxim e Porto de Pedras. A Comarca tinha como sede a vila de Alagoas, atual Marechal
Deodoro, uma espécie de capital, já com suas Igrejas monumentais, ainda hoje preservadas.
Penedo, Porto Calvo e Santa Luzia do Norte, eram as outras vilas, que continuavam crescendo e
atraindo novos moradores.
Ainda no século XIX existiam em Alagoas as vilas de Água Branca, Mata Grande, Pão de
Açúcar, Traipu, Piranhas, Palmeira dos Índios, São Miguel dos Campos, Quebrangulo,
Assembléia (Viçosa), Imperatriz (União dos Palmares), São José da Laje, Murici, São Luiz do
Quitunde, Coqueiro Seco e Pilar.
Um emissário foi enviado do Recife a Salvador, para tentar conquistar esse tão sonhado
apoio. Passando por Alagoas, propagava os ideais revolucionários e conquistava alguns adeptos.
Mas o Ouvidor Batalha não se encontrava na sede da Comarca e sim na vila de Atalaia, já em
campanha em prol da emancipação política de Alagoas.
O emissário que trouxe a notícia para Alagoas e seguiu para Sergipe e Bahia, foi o Padre
Roma. Aqui, encontrou um apoio de peso: o Comandante das Armas, Antonio José Vitoriano
Borges da Fonseca, que atendendo ao pedido do Padre Roma, autorizou a destruição dos
símbolos de Portugal e colocou em liberdade todos os presos. Passou por cima da autoridade
maior da Comarca: o Ouvidor Batalha. Escreveu ao Conde D’Arcos, governador da Bahia,
informando sobre os ideais da Revolução Pernambucana e seu apoio, pedindo o dele. Não
conseguiu. Arrependeu-se de ter seguido os conselhos do Padre Roma. Era tarde demais.
O decreto assinado por Dom João VI, em 16 de setembro de 1817, emancipando Alagoas
de Pernambuco, transformando a Comarca em Capitania, estabeleceu como capital a vila de
Alagoas (atual Marechal Deodoro) e nomeando como primeiro governador, o português
Sebastião Francisco de Melo e Póvoas, que acabara de governar a Capitania do Rio Grande do
Norte.
E essa opção pela vila ao invés da capital, fez com que várias autoridades protestassem.
Os de Alagoas (Marechal Deodoro) não aceitavam sob hipótese alguma, a instalação de
repartições públicas na vila de Maceió, enquanto o próprio governador e várias outras
personalidades políticas, econômicas e culturais, preferiam mesmo que os principais órgãos
públicos fossem instalados em Maceió, por ser mais desenvolvida que a capital, possuir um
movimentado porto e toda a infra-estrutura de uma capital. E assim foi feito.
Maceió crescia a olhos vistos. O governador, mandou que fosse elaborada uma planta
urbana, para proporcionar um novo visual a vila. O traçado das ruas e das praças e os
melhoramentos necessários. E assim surgiram as ruas do Comércio, do Sol, Livramento, Boa
Vista, Moreira Lima, Augusta, Nova, Alegria e as praças Dom Pedro II e Martírios. O traçado
continua o mesmo. Nunca houve alargamento, mudando apenas a arquitetura das casas.
A Província de Alagoas
Quando da independência do Brasil, Alagoas já esbanjava progresso, tendo o açúcar, como seu
carro-chefe. Dezenas de engenhos produziam e exportavam através do Porto de Jaraguá. Os
governadores passaram a ser denominados presidentes. E o primeiro deles, nomeado por Dom
Pedro I, foi o pernambucano Nuno Eugênio de Lossio, que instalou o Conselho de Governo e
autorizou as eleições para deputados e senadores.
O segundo presidente, foi o mineiro Cândido José de Araújo Viana (Marquês de Sapucaí),
que ficou no cargo apenas cinco meses, período em que instalou o Correio Provincial. É
substituído por Miguel Veloso da Silveira Nóbrega e Vasconcelos, que determinou a criação de
câmaras municipais nas cidades e vilas.
Novas vilas foram surgindo nessa primeira fase de Alagoas como Província. Em 13 de
outubro de 1831, emanciparam-se de Atalaia, as vilas de Assembléia (atual Viçosa) e Imperatriz
(União dos Palmares), ambas na zona da Mata alagoana.
Também nesse período, ocorreu a chamada Cabanada Selvagem, revolta dos índios de
Jacuípe, na região Norte da Província, contra o assassinato de seu cacique, provocando muitos
conflitos e assassinatos, além de destruição de engenhos e fazendas.
Nos primeiros anos do Brasil independente, Alagoas “fervia”. Eram constantes conflitos
entre brasileiros e portugueses. A Confederação do Equador, que explodiu em Pernambuco,
chegou por aqui, tendo o apoio do senhor de engenho Manuel Vieira Dantas e sua mulher Ana
Lins, de São Miguel dos Campos. Houve muita perseguição aos revolucionários e ela
entricheirou-se em seu engenho em São Miguel dos Campos, lutando até o fim do conflito,
tornando-se uma das heroínas de Alagoas.
A notícia da abdicação de Dom Pedro I, chegou a Alagoas e provocou mais brigas entre
brasileiros e portugueses. Os primeiros, representando a imensa maioria, em caminhada pelas
ruas de Maceió, atacam o Quartel, apoderando-se de munições e chegam a prender lideranças
portuguesas. Os manifestantes apoiavam a abdicação, por ser Dom Pedro II, brasileiríssimo.
Enfim, o trono do Brasil, com um brasileiro.
Maceió, capital
As mais importantes lideranças políticas daquela fase, eram: Tavares Bastos (na capital)
e Cansanção de Sinimbu (em Maceió). Chegou-se a se formar uma verdadeira guerrilha, que
ficou conhecida como Lisos e Cabeludos, provocando tumultos generalizados e mortes.
Até as primeiras décadas do século XX, Bebedouro era o bairro nobre da capital, com
suas mansões. Depois surgiu o Farol. A Avenida da Paz, no Centro, a beira-mar, era a preferida
para a construção de bangalôs, onde viviam as mais tradicionais famílias da cidade. O Hotel
Atlântico, foi durante muito anos, um dos mais procurados pelos viajantes. Construido a beira-
mar e ao lado do riacho Salgadinho (limpíssimo), sempre foi um bonito exemplar da arquitetura
das primeiras décadas do século XX. Sua arquitetura foi descaracterizada. O sobrado da família
Machado, era outro exemplo de beleza arquitetônica. Depois foi adquirido pela Universidade
Federal de Alagoas, para servir de Residência Feminina Universitária, passando logo após a
abrigar o Museu de Folclore Théo Brandão. Abandonado, o prédio foi ruindo aos poucos e todo o
acervo transferido para a antiga Reitoria. Mas, foi recentemente restaurado, esbanjando toda a
sua beleza. A Avenida, era também o cartão-postal: praia limpa, com areia branca. Palco do
carnaval de rua, com o desfile de blocos e escolas de samba, além de desfiles estudantís e
militares, nas comemorações do Dia da Independência e da Emancipação Política de Alagoas.
Imaginem Maceió no início do século XX, com seus sobrados, Igrejas e a população
andando nas ruas centrais! Os homens de terno, gravata e chapéus e as mulheres de vestidos
longos, esbanjando charme e elegância. Os bondes eram puxados por cavalos. Só depois,
chegaram os movidos a eletricidade. Faziam o percurso entre o Centro, Trapiche, Bebedouro,
Farol e Pajuçara. Até 1958, era esse o principal meio de transporte urbano. A alegria da
juventude, que estudavam nos colégios São José, Instituto de Educação, Anchieta, Lyceu,
Guido, Diocesano, Sacramento, Batista e outros. Depois surgiram as “sopas”, uma espécie de
micro-ônibus. Mas os bondes deixaram saudade.
E Maceió nunca parou de crescer. A cada censo realizado pelo IBGE, constata-se mais
gente vivendo na capital alagoana, que neste início de novo milênio, ostenta uma população de
mais de 800 mil habitantes. Novos bairros vão surgindo. Mas surgem também, novas favelas,
que já somam quase 100, fruto do êxodo rural e do desemprego generalizado.
Os bairros da orla marítima (Cruz das Almas, Jatiúca e Ponta Verde), que até a década
de 1960, eram imensos sítios de coqueiros, foram atraindo moradores, com a construção de
edifícios de apartamentos. Hoje, formam um verdadeiro labirinto de concreto. Mas existe uma
lei municipal que proíbe a construção de prédios a beira-mar com mais de seis andares. Esses
bairros só estão crescendo mais verticalmente (edifícios). Não existe mais espaço para casas.
Essas são construídas na parte alta da cidade, como Barro Duro, Serraria, Tabuleiro do Martins
e Benedito Bentes. Surgem condomínios fechados, com verdadeiras mansões, como o
Aldebaran e Jardim do Horto.
Nos anos 60, a novidade foi o Edifício Breda, com seus dez andares, onde a juventude
sempre se dirigia para subir até o último andar, de elevador (novidade) e apreciar a beleza da
orla marítima e das lagoa de Mundaú. Era ponto de encontro para namorados. Mas também
serviu para suicídio de muita gente. Ainda nesse período, é construído o Edifício São Carlos,
com 11 andares e 22 apartamentos, na Avenida da Paz, de frente para o mar. Foi o primeiro
edifício de apartamento da cidade. Depois, outra atração: a escada rolante da Lobrás. Todos
queriam experimentar, subindo na escada, sem precisar dos batentes, e se deliciar com a
beleza da loja e suas mercadorias expostas.
O tradicional bairro de Jaraguá está sendo revitalizado. Seus sobrados, ruas estreitas e
praças, ganham o visual de antigamente. O imponente prédio da Associação Comercial de
Maceió, construido na década de 1920, foi restaurado. O mesmo ocorreu com o prédio da antiga
Alfândega (Museu da Imagem e do Som), enquanto as ruas tiveram o asfalto retirado, para dar
lugar ao calçamento em pedras. O projeto também beneficia a praia da Avenida, antigo cartão
postal.
Guerras e guerrilhas
Alagoas sempre foi palco de conflitos e sua fama de terra violenta correu o país. No
século XIX, surgiram vários desses conflitos. Na briga pela disputa da capital entre Marechal
Deodoro e Maceió, consagrou-se dois alagoanos: Cansanção de Sinimbu e Tavares Bastos.
Surgiu daí a chamada Guerra dos Lisos e Cabeludos, respectivamente conservadores e liberais.
Era uma espécie de partidos políticos.
Ainda na década de 1840, surgem os temidos irmãos Moraes, que, para vingar a morte
do pai, formaram um bando semelhante ao de Lampião, espalhando o terror por toda Alagoas.
Para alguém morrer, bastava que o bando desconfiasse que este pertencia ao partido dos
Cabeludos. A primeira vítima foi um tenente de Quebrangulo.
Os irmãos Moraes, dividiam o ódio pelos assassinos do pai, aos integrantes dos
Cabeludos. Tentaram matar o Barão de Atalaia, que diziam encontrar-se no Sertão de
Pernambuco. Não encontraram o alvo, mas mataram um rapaz inocente, que estava na casa
onde deveria se encontrar o Barão.
Durante a Guerra do Paraguai, Alagoas enviou cerca de 3 mil homens para combate,
inclusive toda a família Mendes da Fonseca (Deodoro e seus irmãos). A mãe, dona Rosa da
Fonseca, vibrava com as notícias de vitória do Brasil, e demonstrava essa alegria, exibindo
panos brancos nas janelas de sua casa na velha cidade de Alagoas. Mas três de seus filhos
morreram em combate. Para ela, um ato de heroísmo. No final, o Paraguai ficou destruído. O
que importava para o Brasil era mesmo acabar com aquele pequeno país, que na época adotava
um sistema semelhante ao socialismo do século XX. O povo paraguaio, sempre teve espírito
cívico. Quando surge algum ditador, procura derrubá-lo do poder. Assim fizeram com Alfredo
Stroesner e mais recentemente com Raul Cubas. Ambos se refugiaram no Brasil.
Nas décadas de 1920/30, o terror foi espalhado no Sertão alagoano com as sucessivas
passagens de Lampião e seu bando, que evitavam as cidades por onde o trem passava. Mas, foi
a polícia alagoana, que conseguiu acabar com essa fase de violência, matando Lampião, Maria
Bonita e quase todos os cangaceiros, numa gruta, do outro lado do rio São Francisco, na
localidade conhecida como Angicos.
Essas famílias, brigavam entre sí, por questões de terra e política. aterrorizando os
moradores das cidades, que, temiam ser mortos. Em Mata Grande, os Malta brigavam entre
primos, irmãos, tios e outros parentes, provocando tiroteios em plena rua. Ninguém se atrevia
a abrir a porta. Sempre foram temidos e se orgulhavam disso. Pindoba, sempre foi dominada
pelos Fidelis, que aterrorizaram a pequena cidade. Não é mais. Muitos morreram, outros estão
presos e, os sobreviventes, já não seguem o que seus antecessores fizeram. Matavam
friamente os pobres coitados, que “olhassem atravessado” para um deles. Mas, essa fase
também vem acabando. Muitos desses valentões já morreram, e os descendentes, já não mais
seguem essa atitude burra, em desuso no mundo moderno em que vivemos. Pindoba hoje é
comandada por um jovem fazendeiro, que não tem qualquer grau de parentesco com os Fidelis.
A paz estabeleceu-se na cidade.
Outro episódio que ficou na história, ocorreu mais recentemente, envolvendo as famílias
Calheiros e Omena, com sucessivos crimes, aterrorizando Maceió. O cabo Henrique, da Polícia
Militar, para vingar a morte do pai, juntou seus irmãos (Omena) para matar os integrantes de
uma porção violenta da família Calheiros, que assinam-se Cavalcanti Lins, com base na cidade
de Flexeiras. Assassinatos sucessivos entre as duas partes, eram manchetes dos jornais na
época.
No Sertão alagoano, surgem dois personagens, que aterrorizaram o Estado com sucessivos
crimes: Floro e Valderedo. Iniciaram a matança por questão de vingança, e aos poucos, os
assassinatos foram se sucedendo, culminando com uma espécie de bando, quase semelhante ao
de Lampião.
Neste final de século, surgiu um outro bando, que aterrorizou o Sertão. Era de Marcos
Capeta, um jovem revoltado, que assassinou dezenas de pessoas em várias cidades de Alagoas,
Sergipe, Bahia e Pernambuco. Sempre conseguiu fugir da polícia. Mas foi morto pela PM baiana
em agosto de 1999.
Vez por outra, surgiam famílias que dominavam a política e a economia em seus
municípios, envolvendo-se em questões de terras, culminando com muita violência. Aos poucos,
o coronelismo vai acabando, graças a democracia, com a liberdade de imprensa e as denúncias
feitas, envolvendo figuras importantes do mundo político e econômico, que acabam
abandonando esse lado violento e engajando-se ao mundo globalizado, competitivo e criativo,
ao lado dos chamados emergentes, que são pessoas pobres, que cresceram economicamente e
se tornaram líderes e poderosos.
Partidos e Imprensa
A segunda metade do século XIX foi de agitação política. A nível nacional, surgem os
partidos Liberal e Conservador. Em Alagoas, foram criados os Luzias e Saquaremas, instalados
durante a presidência de José Bento da Cunha Figueiredo.
O partido dos Luzias, utilizava-se do jornal O Tempo, para alimentar a sua política, com idéias
defendidas através de ataques ao presidente. Os Saquaremas, tinham o jornal Timbre
Alagoano, atacando o partido oposicionista.
O ideal republicano começou a surgir com o jornal O Apóstolo, em 1871. Depois surgiu A
República. Em 1888, o jornalista João Gomes Ribeiro fundou o Centro Republicano Federal de
Maceió. Um ano depois, é proclamada a República, exatamente por um alagoano.
No início do século XX, dois irmãos dominaram o governo do Estado, como eleitos pelo
povo: Joaquim Paulo e Euclides Vieira Malta, formando o que passou para a História como
Oligarquia dos Malta. A família continuou dominando no alto Sertão, elegendo prefeitos e
deputados estaduais. Mas, foi se dispersando e a cada eleição, seus candidatos vão sendo
derrotados.
Nas décadas de 1930/40, os Góes Monteiro, formaram outra oligarquia. Alagoas passou
a ser conhecida como “Alagóes”. Dois irmãos: Ismar de Goes Monteiro e Silvestre Péricles de
Goes Monteiro, foram governadores (um, especificamente Interventor, na ditadura de Vargas e
o segundo, governador eleito pelo povo).
Já nos anos 70, 80 e até quase o final de 90, uma outra oligarquia dominou o Estado.
Mas não uma familiar e sim, de amigos: Divaldo Suruagy e Guilherme Palmeira. Começaram
eleitos indiretamente, durante a ditadura militar. Depois, foram ás urnas e ganharam. Quando
não se candidatavam, apresentavam, um candidato, que era facilmente eleito. Só perderam e
desapareceram da cena política, nas eleições de 1989.
O primeiro jornal impresso que surgiu em Alagoas, foi o Iris Alagoense, em 1831, em
Maceió, que, ainda não capital da Província. Foi o primeiro passo para o avanço dessa área, com
a criação de outros jornais, tanto em Maceió, como em Penedo, Marechal Deodoro e, depois:
Viçosa, já na segunda metade do século XIX. Até mesmo nos engenhos, havia a preocupação
com a cultura. No Bananal, do coronel Quintiliano Vital, em Viçosa, foi publicado o jornal O
Camponês, com notícias envolvendo mais as atividades agrícolas. Seu primeiro número saiu
exatamente no dia da Abolição da Escravidão. Seus editores não sabiam desse fato. A notícia
chegou depois.
Funcionam em Maceió neste início de século, três jornais diários: Gazeta de Alagoas, O
Jornal e Tribuna de Alagoas, pela ordem os de maior circulação. São cinco emissoras de
Televisão: Gazeta (Globo), Pajuçara (SBT), Alagoas (Bandeirantes), Massayó (MTV) e Educativa.
São dezenas de rádios AM e FM distribuidas entre a capital e cidades do interior.
Nepotismo em Alagoas
O nepotismo (emprego público para parentes) é uma prática adotada no Brasil desde o
seu descobrimento. Na primeira carta enviada por Péro Vaz de Caminha ao rei de Portugal,
depois de vários elogios a nova terra, ele pede um emprego para um parente seu.
Em Alagoas, logo que foi proclamada a República, essa prática aparece. O presidente
Deodoro da Fonseca, nomeia seu irmão Pedro Paulino, para governador. De lá para cá, a prática
é tão comum, que os pais já criam os filhos pensando num emprego público, que virá logo que
ele complete a maioridade. E há casos até mesmo de falsificação de documentos, aumentando-
se a idade, para que esse filho ingresse logo no serviço público e torne-se um marajá.
Os pioneiros
Na época da colonização, os pioneiros foram: o alemão Cristovão Lins, fundador dos três
primeiros engenhos, em Porto Calvo, e o português Antônio de Barros Pimentel, que fundou
engenhos nos vales dos rios Camaragibe e Santo Antônio. Depois foram surgindo novas
famílias, como os Mendonça, com seus engenhos de açúcar e fazendas de criação de gado.
Outro pioneiro da indústria em Alagoas, foi o português Jacintho Nunes Leite, que
estabeleceu-se em Bebedouro (ainda existe o casarão da família, bem preservado). Instalou
indústrias (foi proprietário da fábrica de Fernão Velho); Os primeiros bondes da capital; energia
elétrica e água canalizada, em Bebedouro e outros benefícios. O bairro, era naquela época (e
até as primeiras décadas do século XX) o mais nobre de Maceió. Verdadeiras mansões
emolduravam a paisagem que margeava a lagoa de Mundaú, proporcionando um bonito visual
aos passageiros do trem que passava pelo local.
Na última década do século XIX, é a vez das usinas. Já havia sido abolida a escravidão.
Os engenhos estavam enfrentando uma grave crise, com os escravos livres, tendo que ser
remunerados. Os velhos coronéis abandonavam a atividade, procurando outras mais rentáveis e
que empregasse menos gente.
Na mesma década de 1890, surge a segunda usina: Leão, no antigo Engenho Utinga, em
Rio Largo. A família Amorim Leão, também avança no tempo, implementando um novo estilo de
produção, com base no incentivo ao trabalhador. Venceu. Ainda hoje a usina é comandada pela
família, já na quinta geração e misturada a família francesa Dubeaux.
A terceira usina fundada em Alagoas, foi em São José da Laje: Serra Grande,
aproveitada de um antigo engenho banguê. O coronel Carlos Benigno Pereira de Lyra, foi outro
pioneiro na industrialização alagoana. Pernambucano, fixou-se com a família naquela região e
fez História. Dava total assistência aos seus empregados, produzia um açúcar de excelente
qualidade, e já com a usina em poder de seu filho, Salvador Lyra, na década de 1930, lançou-se
no mercado, o álcool como combustível, com a marca Usga (iniciais da usina). Foram instaladas
bombas em São José da Laje, Maceió e Recife. Um sucesso, que incomodou as multinacionais.
Com o poder de pressão, esses estrangeiros exigiram do então presidente Getúlio Vargas que
acabasse com esse projeto da usina alagoana. Foram atendidos. E o álcool deixou de ser
combustível, para só retornar na década de 1970, com a criação do Proálcool (Programa
Nacional do Álcool), pelo então presidente Ernesto Geisel.
A fábrica de Delmiro Gouveia passou por vários donos. Na década de 1980, chegou ao
estágio de pré-falência, levando o proprietário ao suicídio. Mas, recuperou-se. Foi adquirida pelo
empresário Carlos Lyra, e hoje é uma das mais modernas do país.
A Era Vargas
Quando o Brasil foi sacudido pela Revolução de 1930, levando o gaúcho Getúlio Vargas
ao poder, Alagoas era governada por Álvaro Paes. A agitação política se restringia mais as
grandes cidades. Inicia-se a fase dos interventores nomeados pelo presidente da República.
Foram nove, em 15 anos da Era Vargas, que exerciam o cargo obedecendo as decisões do chefe
da Nação.
O primeiro desses interventores foi o sergipano Hermílio de Freitas Melro, que passou um
ano no poder, sendo substituido por Luiz de França Albuquerque, alagoano de Viçosa, seguido
do capitão Tasso Tinoco, Afonso de Carvalho e Temístocles Vieira de Azevedo. As eleições para
deputados são realizadas em 1933, elegendo-se seis alagoanos: Manoel de Goes Monteiro,
Izidro Teixeira de Vasconcelos, José Afonso Valente de Lima, Antonio de Melo Machado,
Armando Sampaio Costa e Álvaro Guedes Nogueira, representantes do Estado, na Assembléia
Constituinte, que promulgou a Constituição de 1934.
Quem mais se destacou como interventor, foi o jurista Osman Loureiro, também eleito
governador nas eleições de 1935, permanecendo no cargo até 1937 quando deu-se o Golpe do
Estado Novo. Nesse período de dois anos, como representante eleito pelo povo, fez várias obras
e liberou recursos para as áreas de educação, saúde e segurança pública. Depois, já na
ditadura, voltou a ser interventor.
Passaram ainda pela interventoria: José Maria Correia das Neves, Ismar de Goes
Monteiro e Antonio Guedes de Miranda. Acaba assim a Era Vargas em Alagoas, iniciando-se o
processo de redemocratização, com as eleições gerais de 1946.