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Universidade Federal do Ceará

Faculdade de Direito
Disciplina: Direito Ambiental
Docente: Profa. Geovana Cartaxo

Discente: Vitória Virna Girão Chaves

SEVERINO, Antônio Joaquim. Visão antropológica e sociobiocêntrica do meio ambiente:


uma aproximação filosófica. In: Direito Ambiental, v.1, p.59-67.

RESUMO
O artigo “Visão antropológica e sociobiocêntrica do meio ambiente: uma aproximação
filosófica”, de Antônio Joaquim Severino, traça, de maneira concisa e didática, uma linha
evolutiva do pensamento humano a respeito da sua relação com o meio ambiente, descrevendo,
em cada fase do conhecimento humano, como se posiciona o homem frente à natureza e como se
compõe essa relação.
Parte, dessa maneira, do pensamento filosófico antigo, apoiado nas ideias platônicas, no
qual se concebia o dualismo corpo e mente e revelava-se a prevalência e a importância do espírito
sobre a matéria, que seria um obstáculo a plenitude da vida espiritual. Com o pensamento cristão
esse pensamento filosófico é, em parte, reformulado e compreende-se que, como criação divina,
a natureza deveria ser respeitada e estaria, assim, a serviço do homem.
O racionalismo do pensamento moderno, inaugurando a concepção de ciência como
medição, no mundo das quantidades, abandona a ideia metafísica e traz o desencantamento da
natureza. O meio ambiente passa, assim, a servir como máquina, como instrumento, é
transformada em mercadoria para saciar as necessidades e a ganância humana, numa visão
utilitarista da natureza. A concepção de valorização da natureza desperta com o Romantismo nos
séculos 18 e 19, numa oposição a devastação da natureza.
Na contemporaneidade, inicia-se uma nova percepção de relação homem-natureza, com a
percepção de que o homem é também natureza e a tentativa de integra-lo a ela, não só no aspecto
de preservação, mas ao considerar o âmbito cultural como parte do meio ambiente.

CITAÇÕES
“A questão ambiental está intimamente vinculada à relação do homem com a natureza.
Esta, por sua vez, vincula-se à condição humana da corporeidade, pois é por meio de seu corpo
que o homem se manifesta, de forma imediata, como integrante do mundo natural. Mas essa
mediação, como que a significar quase que uma óbvia identificação entre o homem e o mundo
material, não foi vista assim, necessariamente, pela representação filosófica. Ao contrário, muitas
vezes, a filosofia, paradoxalmente, ao delinear sua visão do homem, buscou esconjurar essa
vinculação, descaracterizando a corporeidade como dimensão substantiva da condição humana.
Por seu turno, a condição corporal humana, em sua relação com a natureza, passa necessariamente
pela mediação de sua inserção social. Por isso mesmo, discutir o significado da natureza como
meio ambiente implica tecer uma tríplice articulação entre homem, natureza e sociedade. [...]”
(p.59)
“A tradição idealista da filosofia, na cultura ocidental, iniciada com o platonismo,
marcou-se exatamente pela desqualificação de materialidade corpórea do homem. Platão não teve
pejo nenhum em considerar o corpo como o ‘túmulo da alma’. A encarnação da alma no corpo é
por ele considerada com uma queda, ocorrida, como um castigo. [...] Na mesma direção foi a
filosofia plotiana, herdeira direta do platonismo, a considerar a matéria como o degrau inferior na
hierarquia ontológica de emanação dos seres. [...]” (p.59)
“Em decorrência dessas posições, a tradição idealista da filosofia vai reforçar sempre o
dualismo substancial entre espírito e matéria, entre alma e corpo. [...]” (p.60)

“Ainda que a natureza, muitas vezes, seja considerada como negatividade ontológica, a
teologia cristã lhe atribui dignidade, decorrente de ser ela igualmente obra da criação divina. [...]
A teologia cristã reinstaura a possessão do mundo pelo espírito divino, razão pela qual a natureza
material passa a merecer o reconhecimento e o respeito por parte dos homens. E, nessa condição,
a natureza deve ser vista como a serviço dos homens, em que pese o ônus existencial que ela
possa lhes custar, particularmente o ônus da contingência do existir corporal.” (p.60)

“O naturalismo científico representa uma nova visão do mundo material, da natureza e da


vida, não mais como o lugar da degradação e do mal. Mas também a natureza deixa de ser
considerada como o receptáculo do divino. Com a emergência da ciência e da técnica, obras-
primas da racionalidade instrumental, o mundo material vai sendo totalmente desencantado. A
crítica ao misticismo e às formas míticas ainda sobreviventes acarreta total desencantamento da
natureza, então reduzida à condição de uma máquina, complexa sem dúvida, mas apenas
máquina.” (p.61)

“O resgate da matéria não vai, porém, assegurar à natureza toda sua merecida dignidade.
É que a revolução epistemológica, nos albores do Renascimento e da Modernidade, ocorre em
plena transição do feudalismo para o capitalismo, quando o fervor místico é substituído pelo ardor
mercantil, e a natureza, ora desmistificada de suas qualidades metafísicas e teológicas, passa a ser
vista como simples fonte de poder e de riquezas, alvo da ação prometeica das homens. O olhar
científico que se inaugura, imediatamente convertido em maior produção técnica, tende a
considerar a natureza sob a forma instrumentalizada. [...]” (p.61)

“Ao longo da Modernidade, o exercício dessa subjetividade racionalista, tanto na tradição


filosófica quanto na tradição científica, acabou por levar filósofos e cientistas à ilusão de um
independência e autonomia que não podemos ter. Levou a ciência e a filosofia a uma percepção
equivocada de nossa relação com a natureza. Pois não basta reconhecer que o homem brota da
natureza e com ela está vinculado umbilicalmente como organismo vivo, que é fruto dessa
germinação da vida. É preciso reavaliar a vida como uma a priori existencial, reavaliar o que
significa ter a natureza como habitat do ser e do existir humano.” (p.62)

“Nesse contexto da racionalidade instrumentalizada da era moderna [...] a natureza passa


a ser avaliada apenas em sua utilidade em suprir as necessidades humanas, apenas o entreposto
para saciar a fome e, despois, a ganância dos homens, agora envoltos na voragem produtiva do
capitalismo e das supostas leis do mercado. Os homens passam a interferir na natureza de forma
destrutiva e predatória. [...]” (p.62)

“Ao mesmo tempo que é considerada uma mera fonte de novas mercadorias a serem
fabricadas pelas mãos adestradas dos homens, ela é tomada ainda como domínio do selvagem, do
ameaçador e esteticamente desagradável (CARVALHO, 2004). [...] A cultura ilustrada,
verdadeiro território do humano civilizado, constrói-se contra a natureza, lugar da rusticidade, do
escuro, do antiestético. A natureza é o outro da civilização (CARVALHO, 2004). [...]” (p.62-63)

“Foi com o Romantismo dos séculos 18 e 19 que nasceram os primeiros sinais de


mudança de atitude dos homens com relação ao mundo natural. [...] pensadores dessa época
despertam para uma nova sensibilidade, tanto no plano estético quanto no moral, valorizando a
natureza, resistente à degradação conduzida pelos homens. [...]” (p.63)

“Este modo de conceber e praticar as relações com a natureza está sendo profundamente
questionado por pensadores contemporâneos. Para os fins deste capítulo, basta referir-se a Edgar
Morin e Michel Serres. Trata-se da busca de uma nova modalidade de comunhão entre a vida
humana e o planeta Terra. [...]” (p.63)
“Na elaboração dessa visão integrada do homem, não se pode perder de vista o profundo
enraizamento cósmico da pessoa humana. O corpo não pode ser concebido e vivido como se fosse
apenas uma antítese do espírito, pois o homem é inteiramente corpo e inteiramente espírito; ele é
um ser plenamente natural e, por seu corpo, faz parte da natureza. Todos os condicionantes
naturais que constituem o ser humano não devem ser visto como simples circunstâncias
acidentais, mas, sim, como componentes ontológicos da realidade humana.” (p.65)

“[...] A visão adequada da natureza passa necessariamente por uma perspectiva


socioambiental, de acordo com a qual ‘a natureza e os humanos, bem como a sociedade e o
ambiente, estabelecem uma relação de mútua interação e copertença, formando um único
mundo’(CARVALHO, 2004, p.36).” (p.66)

“[...] Assim, ao se ter essa visão da realidade humana como integrada, num permanente
intercâmbio na natureza, é preciso repensar a educação que estamos realizando hoje. Ela precisa
integrar o dado dessa relação. Do mesmo modo que essa nova visão antropológica está
demandando um novo tratamento da natureza física e biológica; ela demanda igualmente que toda
educação não perca de vista sua relação ambiental. Uma educação que leve em conta a casa em
que o homem está, ou melhor, o habitat, que é igualmente seu modo de ser. É que o homem não
apenas está na natureza; ele é parte integrante dela.” (p.67)

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