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Aula 1 – PF – 2013 – Criminologia

Teoria e Exercícios Comentados


Aula 1 - PF – 2013
Criminologia
Teoria e Exercícios Comentados

Olá amigos,

Inicialmente gostaria de manifestar minha felicidade em fazer


parte de seu projeto profissional e espero ser um auxiliar presente
em sua caminhada para a vitória.

Meu nome é Pablo Farias Souza Cruz, atualmente advogado e


professor de Processo Penal, Direito Penal e Direito Constitucional nas
Faculdades Doctum e Estácio de Sá de Juiz de Fora, onde também
tive a grata experiência como professor da UFJF - Universidade
Federal de Juiz de Fora/MG -, minha cidade por adoção1, onde
também leciono em vários cursos preparatórios para concursos desde
o ano de 2007. Atuo ainda como professor em cursos preparatórios
virtuais sediados na cidade do Rio de Janeiro, meu grande recanto
familiar e também profissional.

Desde minha formação acadêmica, foquei meus estudos para


área pública, sendo brindado, ainda antes de minha colação de grau,

1
Pois, apesar de brasileiro nato, nasci na cidade do Panamá situada no país Panamá na América Central.
Sendo filho de pais brasileiros, fui registrado na Embaixada Brasileira e vim para o Brasil ainda bebê,
com apenas dois anos de idade. Morei no Rio de Janeiro por toda minha infância e me mudei para Juiz de
Fora na adolescência, onde, hoje, felizmente, construo minha vida com minha esposa e minha cadelinha.
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com a aprovação para o cargo de Delegado de Polícia no concurso da
Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, promovido em 2005.

Minha experiência como Delegado de Polícia contribuiu para o


meu ingresso na carreira docente, o que, rotineiramente, tem me
dado ótimos frutos, como a aprovação de vários de meus alunos em
concursos, principalmente nas áreas policial (nível médio e superior)
e jurídica como para o Exame da Ordem dos Advogados do Brasil e
para os Tribunais Regionais Federais e de Justiça desse nosso país
continental. Quem já ministrou aulas sabe bem como é gratificante
ter um aluno logrando aprovação em concursos públicos, pois a
vitória dele é também a nossa vitória.

Outra felicitação (outro fruto) é a de que, muito em breve, no


início do ano de 2013, terei minha obra de Direito Processual Penal
publicada pelo Grupo Gen, respeitado grupo editorial do qual fazem
parte a tradicional editora Forense, e a inovadora editora Método. A
obra será intitulada: Processo Penal Sistematizado e está em fase de
conclusão editorial.

Para você, estudante, leitor, candidato, conhecer melhor o


expositor da presente aula, apresentarei, logo abaixo, um breve
currículo com os dados que reputo mais interessantes para a
aproximação de nossa relação e o ajustamento do nosso trabalho.

Antes, porém, parafraseando meu amigo e professor Décio


Terror, lembro que: Críticas ao material e à abordagem do professor
são sempre bem-vindas e não há qualquer melindre em recebê-las,
mesmo porque o foco é seu aproveitamento e Você tem todo o direito
de sugerir, questionar, solicitar mais explicações, mais questões etc.
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Pablo Farias Souza Cruz


Professor de Ciências Penais e Direito Constitucional das
Faculdades Doctum e Estácio de Sá.
2009 – 2011 Professor de Processo Penal e Prática Penal da
Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF/MG.
Professor de Direito Constitucional, Direito Penal e Processo Penal em
cursos preparatórios de Juiz de Fora/MG e Rio de Janeiro/RJ.
Professor de Direito Penal e Processo Penal do
Ponto dos Concursos no curso Discursivas OAB.
Advogado e Consultor Jurídico.
Pós-Graduado em Ciências Penais pela
Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF- (MG).
2006 - 2007 Delegado de Polícia em Minas Gerais.
Outras informações importantes:
A) 22/01/2006 19/05/2006 Curso de Formação de Delegado da Policia Civil do Estado
de Minas Gerais. Portaria Nº 005/ACADEPOL/PCMG/2006 - Concurso Público - Provimento
2005/1 Delegado de Polícia,
(http://www.sesp.mg.gov.br/internas/concursos/iConcursos.php).
B) 06/2006 Aprovado em Concurso Público para o cargo de Delegado de Polícia em Minas
Gerais.
C) 02/2007 Aprovado em Concurso Público para o cargo de Analista Judiciário da Justiça
Federal do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (Disponível em:
http://www.fcc.telium.com.br/concursos/trf1r106/lista_redacao/MG/habs_class_cidade_carg
o_reda_Juiz_de_Fora.pdf publicado no Diário Oficial da União - Seção 3, de 28/02/2007).
D) 03/2007 Aprovado em Concurso Público para o cargo de Analista Processual do Ministério
Público Federal (Disponível para consulta pelo CPF em:
http://www.concursosfcc.com.br/concursos/mpund106/result/index.html) Edital Publicado no
Diário Oficial da União, edição de 30 de março de 2007.
E) Aprovado no 3º Concurso Público para o cargo de Defensor Público da União em 16 de
maio de 2008, resultado disponível em: http://www.cespe.unb.br/concursos/DPU2007 -
subjudice.
Endereço para acessar o CV do autor: http://lattes.cnpq.br/6411695844676609

Bom, nosso propósito aqui é expor os pontos primordiais da


Criminologia, necessários para sua aprovação no concurso para o
cargo de Delegado Federal da Polícia Federal. Assim, exporemos
nossas aulas com base no edital atual (Cespe 2013).

A programação será a seguinte:

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Criminologia para o cargo de Delegado Federal da
Polícia Federal.

Aula 1: 1 Criminologia. 1.1 Conceito. 1.2 Métodos: empirismo e


interdisciplinaridade. 1.3 Objetos da criminologia: delito, delinquente,
vítima, controle social.

Aula 2: Objetos da criminologia: ... controle social.

Aula 3: 3 Modelos teóricos da criminologia. 3.1 Teorias sociológicas.

Aula 4: 3.2 Prevenção da infração penal no Estado democrático de


direito. 3.3 Prevenção primária. 3.4 Prevenção secundária. 3.5
Prevenção terciária. 3.6 Modelos de reação ao crime.

Estabelecida essas premissas, vamos ao conteúdo, vamos ao


estudo introdutório da Criminologia, disciplina cada vez mais
frequente em concursos da carreira policial.

Aula 1:
Aula 1:

1 Criminologia.

1.1 Conceito.

1.2 Métodos: empirismo e interdisciplinaridade.

1.3 Objetos da criminologia: delito, delinquente, vítima,


controle social.

Criminologia

Praticada uma infração penal, nasce para o Estado o dever-


poder de punir adequadamente o autor da infração. Isso, já sabemos,
diante do estudo das ciências jurídicas.
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Ocorre que para a realização de uma infração penal vários
acontecimentos internos e externos ao direito contribuem para a
deflagração da situação desviante.
Nesse contexto, mais abrangente, se coloca a Criminologia a
discutir o problema da criminalidade, agregando para isso
argumentos que ultrapassam o direito, na busca da constatação e
solução do contexto que envolve o crime, aliás, como se verá, não só
o crime, mas também a vítima, o criminoso, e as formas de controle
social.
A princípio devemos estabelecer as interseções entre o Direito
Penal, ciência do Direito mais próxima da Criminologia, numa ótica
que se costuma dizer totalizante das ciências criminais.
Para isso iniciaremos o curso abordando a definição de direito
penal para então chegar à criminologia, alertando desde já que a
referida ordem tem por finalidade, exclusivamente, a didática, pois
não se quer hierarquizar as referidas ciências, que são, registre-se
desde logo, complementares.
Definição de Direito Penal: Na definição de uma das
principais ciências da esfera Penal (o Direito Penal), encontram-se
várias acepções, todas corretas no âmbito e na ótica que se propõe
analisar o referido ramo do Direito.
Inserido na polissemia que a expressão Direito Penal pode
encartar, vale sempre informar ao destinatário da lição, sob qual
ótica elaboramos a definição de Direito Penal.
Nesse aspecto, lapidar é a exposição do professor Arthur de
Brito Gueiros Souza (inspirado nas lições de Pablos de Molina Garcia)
a respeito da definição dinâmica e estática do direito penal:
“Dinâmica: Direito Penal é o mais intenso mecanismo de
controle social formal, por intermédio do qual o Estado, mediante um
determinado sistema normativo, castiga com sanções negativas de
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particular gravidade as condutas desviadas mais nocivas para
convivência, objetivando, desse modo, a necessária disciplina social e
a correta socialização dos membros do grupo.
Estática: Considera-se Direito Penal como sendo o conjunto de
normas jurídico públicas que definem certas condutas como delito e
associam às mesmas penas e medidas de segurança, além de prever
outras consequências jurídicas.”2
Por fim, se encontra uma definição mais comum no âmbito
doutrinário clássico que, do ponto de vista formal, define o Direito
Penal como o conjunto de normas que interpretam e
sistematizam o ius puniendi, que, por sua vez, compreende três
aspectos:

1) Poder de ameaçar com pena.


2) Direito de aplicar a pena.
3) Direito de executar a pena.

Recentemente tem se notado uma crescente preocupação dos


editais de concursos público, e até mesmo do Exame de Ordem, em
cobrar o conteúdo abrangente das Ciências Penais, relacionando
tópicos como a Criminologia, o que nos felicita de maneira impar,
pois sempre tivemos como lema, principalmente em sala de aula, que
o Direito Penal sem a Criminologia é uma orquestra sem maestro, um
soldado isolado, uma ciência sem laboratório.
Daí pensamos ser importante apresentarmos as Relações do
Direito Penal e do Processo Penal com a Criminologia, refletindo sobre
a denominada “nova” ciência total do Direito Penal);

2
SOUZA, Arthur de Brito Gueiros, Curso de direito penal: parte geral / Arthur de Brito Gueiros Souza, Carlos
Eduardo Adriano Japiassú. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2012, p. 3-4.

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Primeiramente importa definir o que vem a ser criminologia,
disciplina nem sempre presente nos currículos das faculdades de
Direito do país, mas que vem ganhando destaque nas provas e
exames do país, à exemplo do que ocorre agora no concurso para o
cargo de Delegado Federal.

Conceito de Criminologia

Sobre a definição de Criminologia, já foi perguntado em


concurso:

2013 – VUNESPE – PAPILOSCOPISTA POLICIAL – PC-SP


Contemporaneamente, a criminologia é conceituada como
a) uma ciência empírica e social que estuda o criminoso, a
pena e o controle social.
b) uma ciência empírica e multidisciplinar que estuda as
formas como os crimes são cometidos.
c) uma ciência empírica e interdisciplinar que estuda o crime, o
criminoso, a vítima e o controle social.
d) uma ciência jurídica e interdisciplinar que estuda as formas
como os crimes são cometidos.
e) uma ciência jurídica e multidisciplinar que estuda o crime, o
criminoso, a pena e a vítima.
Gabarito: C

Por criminologia entendemos uma ciência mais ampla e


interdisciplinar que o direito penal e processual penal. Sua utilidade
tem se demonstrado cada vez mais evidente, conforme se verifica no
estudo moderno da dogmática penal e processual penal.

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Na oportunidade, informamos que adotamos o seguinte
conceito de criminologia moderna: “Ciência empírica e
interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do
infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo, e
que trata de subministrar uma informação válida, contrastada, sobre
a gênese, dinâmica e variáveis principais do crime, contemplado este
como problema individual e como problema social, assim como sobre
os programas de prevenção eficaz do mesmo e técnicas de
intervenção positiva no homem delinqüente e nos diversos modelos
ou sistemas de resposta ao delito.”3
Assim visualizamos o Direito Penal e o Direito Processual Penal
como elementos formadores do que se convencionou chamar de
Ciência total do Direito Penal.
Nos inspiramos, para essa definição, nas lições Lélio Braga
Calhau que tratando da denominada Ciência Total do Direito Penal,
faz referência as ideias de Franz Von Liszt, Jorge Figueiredo Dias e
Claus Roxin. Franz Von Liszt a definia como gesamte
Strafrechtswissenschaft propondo uma disciplina completa que
fundisse a dogmática, a criminologia e a política criminal. Assim,
CALHAU afirma: Política criminal, dogmática jurídico-penal (onde
vislumbramos o Direito Penal e Processual Penal) e Criminologa são
assim, do ponto de vista científico, três âmbitos autônomos, ligados,
porém, em vista do integral processo de realização do Direito Penal,
em uma unidade teleológica-funcional4.
Nesse contexto indagamos: O que vem a ser política criminal?
Respondemos apontando a lição lapidar da professora Maria
Carolina de Almeida Duarte que expõe:

3
GOMES, Luiz Flávio e PABLOS DE MOLINA, Antônio Garcia. Criminologia. 5.ed.rev. e atual.- São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2007.
4
CALHAU, Lélio Braga. Resumo de Criminologia. Niterói, RJ: Impetus, 2009, 4ª edição, p. 25/28.

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“Na doutrina estrangeira, Franz v. Liszt, citado por


Claus Roxin [22], afirma que a política criminal assinala
métodos racionais, em sentido social global, no
combate à criminalidade, o que na sua terminologia
significava a tarefa social do Direito Penal. Enfim, a
política criminal constitui nas expressões lisztianas "a
idéia de fim no direito penal".
Mireille Demas-Marty [23] se inspira no
conceito de Feuerbach, no qual a Política Criminal
compreende ao "conjunto de procedimentos através
dos quais o corpo social organiza as respostas ao
fenômeno criminal", e se caracteriza como "a teoria e
prática das diferentes formas do controle social".
Dessa forma, a Política Criminal se tornou uma disciplina
independente que, ao contrário da Criminologia e da
Sociologia Criminal, implica uma pesquisa principalmente
jurídica, mas não se limita unicamente ao Direito Penal, o
seu estudo abrange outras formas de controle social.
Jorge de Figueiredo Dias [24] acentua que a
Política Criminal, baseada nos conhecimentos da
realidade criminal, naturalística e empírica oriundos
da Criminologia, tem o objetivo de dirigir ao
legislador recomendações e propor-lhe diretivas em
tema de reforma penal. Para o autor [25], o objeto da
política criminal não é constituído apenas pela
infração penal, mas por todos os fenômenos de
patologia social substancialmente aparentados com
aquela, sejam de marginalidade social, sejam em
último termo – numa palavra criada pela
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Criminologia americana – de deviance ou "desvio
social". Nas suas conclusões, Jorge de Figueiredo
Dias [26] assinala que a política criminal tem
competência para definir, tanto no plano do Direito
constituído, como do Direito a constituir, os limites
da punibilidade. Afirma ainda que a dogmática jurídico-
penal não pode evoluir sem atenção ao trabalho prévio de
índole criminológica e mediação político-criminal. (Grifos
deste trabalho).

Sobre Política Criminal já se indagou em concurso:

2013 – MPE-SC – Promotor de Justiça


A política criminal do Direito Penal Funcional sustenta, como
modernização funcional no combate à “criminalidade moderna”, uma
mudança semântico-dogmática, tal como: “perigo” em vez de dano;
“risco” em vez de ofensa efetiva a um bem jurídico; “abstrato” em
vez de concreto; “tipo aberto” em vez de fechado; e “bem jurídico
coletivo” em vez de individual.
Gabarito: Certo
A questão trata em certa medida do funcionalismo penal, estudado
mais detidamente no Direito Penal. Por Direito Penal funcional se reputa
aquele que analisa a teoria do crime à luz da política criminal. Assim,
temos dois tipos de funcionalismos:
1) Um elaborado pelo professor Claus Roxin, para quem a função do
Direito Penal é proteger subsidiariamente os bens jurídicos
(Funcionalismo Racional-Teleológico). É entendido como um
funcionalismo moderado.

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2) Outro defendido por Günther Jakobs, onde a função do Direito
Penal é a garantia da vigência (eficácia) da norma (Funcionalismo
Sistêmico). É entendido como um funcionalismo radical.
Sobre o tema: "O direito penal moderno é próprio e característico da
"sociedade de risco". O controle, a prevenção e a gestão de riscos gerais
são tarefas que o Estado deve assumir, e assume efetivamente de modo
relevante. Para a realização de tais objetivos o legislador recorre ao tipo
penal de perigo abstrato como instrumento técnico adequado por
excelência. Por ele, o direito penal moderno, ou ao menos uma parte
considerável dele, se denomina "direito penal do risco". GRACIA MARTIN,
Luis. Modernización del derecho penal penal y derecho penal del enemigo.
Lima: IDEMSA, 2007. p. 45

2013 – MPE-SC – Promotor de Justiça


Em sede de Política Criminal, o Direito Penal de segunda
velocidade, identificado, por exemplo, quando da edição das Leis
dos Crimes Hediondos e do Crime Organizado, compreende a
utilização da pena privativa de liberdade e a permissão de uma
flexibilização de garantias materiais e processuais.
Gabarito: Errado
Sobre o tema: (...) podemos, seguindo as lições de Jésus-Maria Silva
Sánchez, visualizar três velocidades, três enfoques diferentes que podem ser
concebidos ao Direito Penal. A primeira velocidade seria aquela tradicional do
Direito Penal, que tem por fim último a aplicação de uma pena privativa de
liberdade. Nessa hipótese, como está em jogo a liberdade do cidadão, devem ser
observadas todas as regras garantistas, sejam elas penais ou processuais penais.
Numa segunda velocidade, temos o Direito Penal à aplicação de penas não
privativas de liberdade, a exemplo do que ocorre no Brasil com os Juizados
Especiais Criminais, cuja finalidade, de acordo com o art. 62 da Lei no 9.099/95,
é, precipuamente, a aplicação de penas que não importem na privação da
liberdade do cidadão, devendo, pois, ser priorizadas as penas restritivas de
direitos e a pena de multa. Nessa segunda velocidade do Direito Penal poderiam

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ser afastadas algumas garantias, com o escopo de agilizar a aplicação da lei
penal. Embora ainda com certa resistência, tem-se procurado entender o Direito
Penal do Inimigo como uma terceira velocidade. Seria, portanto, uma velocidade
híbrida, ou seja, com a finalidade de aplicar penas privativas de liberdade
(primeira velocidade), com uma minimização das garantias necessárias a esse fim
(segunda velocidade). (Fonte: http://www.rogeriogreco.com.br/?p=1029)

Eugenio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli afirmam que


"a política criminal é a ciência ou a arte de selecionar os bens
(ou direitos) que devem ser tutelados jurídica e penalmente e
escolher os caminhos para efetivar tal tutela, o que
iniludivelmente implica a crítica dos valores e caminhos já
eleitos". Em poucas palavras os autores resumem que "a política
criminal seria a arte ou a ciência de governo com respeito ao
fenômeno criminal" [27].”5

5
DUARTE, Maria Carolina de Almeida. Política criminal, criminologia e vitimologia: caminhos para um direito
penal humanista. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1236, 19 nov. 2006 . Disponível
em: <http://jus.com.br/revista/texto/9150>. Acesso em: 28 fev. 2013.

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Métodos: empirismo e interdisciplinaridade.

A Criminologia é tida como uma ciência empírica e


interdisciplinar, que se propõe a estudar o crime, a pessoa do infrator,
a vítima e as formas de controle social.
Desse modo a criminologia encara o problema criminal sob o
enfoque de sua gênese, considerando as principais variáveis do
crime, analisando o mesmo como um problema individual e social.
Para atingir seu intento o criminólogo se socorre de dois
métodos básicos: O empirismo e a interdisciplinaridade
Logo, se pode dizer que a moderna criminologia não se
contenta com conclusões extraídas exclusivamente de teses, de
teorias, pois depende de aplicação prática para a devida verificação
das propostas solucionadoras do problema criminal.
Ademais, a própria forma de abordar um de seus objetos como
problema implica na necessária predisposição para solucionar a
questão, o que demanda a necessária concatenação, o imprescindível
diálogo entre os mais variados setores do conhecimento humano e
que acaba por desaguar no que se tem por denominar
interdisciplinaridade.
Assim, segundo afirmam Luiz Flávio Gomes e Antonio García-
Pablos de Molina, a criminologia tida por moderna:
“a) Parte da caracterização do crime como "problema",
ressaltando assim sua base conflitual e enigmática e sua face
humana e dolorosa, com as transcendentais implicações de toda
ordem que derivam de tal análise;
b) Amplia o âmbito tradicional da Criminologia, incorporando
em seu objeto as investigações sobre a "vítima" do delito e o
denominado "controle social", que deram à noção clássica da
Criminologia um moderado giro sociológico, que compensa o
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desmedido biologismo positivista sob cujos auspícios ela nasceu;
c) Acentua a orientação "prevencionista" do saber
criminológico, frente à obsessão repressiva explícita em outras
definições convencionais. Porque interessa prevenir eficazmente o
delito, não castigá-lo cada vez mais ou melhor;
d) Substitui o conceito de "tratamento", que tem inequívocas
conotações clínicas e individualistas, pelo de "intervenção", que
possui uma noção mais dinâmica, complexa e pluridimensional, em
consonância com o substrato real, individual e comunitário do
fenômeno delitivo;
e) Destaca a análise e avaliação dos modelos de reação ao
delito como um dos objetos da criminologia;
f) Não renuncia, porém, a uma análise "etiológica" do delito (da
"desviação primária") no marco do ordenamento jurídico como
referência última. Com isso se distancia das conhecidas orientações
radicais, fortemente ideologizadas, que concebem a Criminologia
como mera teoria da desviação e do controle social, (assim, Taylor,
Walton e Young, Criminologia crítica, p. 21 e ss.) isto é, como
apêndice da Sociologia (teorias da criminalização). A definição
sugerida atende, assim, tanto à gênese e etiologia do crime (teorias
da criminalidade) como ao exame dos processos de criminalização.”6

Empirismo: A Criminologia, como ciência que é, reúne


informações obtidas após a análise e observação da realidade, haja
vista seu caráter empírico.
Registre-se que a utilização do método empírico não pode
permitir ao intérprete concluir que as informações ministradas pela

6
GOMES, Luiz Flávio e PABLOS DE MOLINA, Antonio García. Criminologia, 5.ed.rev.
e atual.- São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

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Criminologia devam ser reputadas como exatas, concludentes ou
definitivas. Pelo contrário, justamente por ter como enfoque um
problema social, se compromete, dentro do possível, a proceder sua
conferencia sob a análise dos mais diversificados ramos do
conhecimento.
Pode-se inclusive afirmar que o próprio modelo ou paradigma
de ciência hoje dominante dista muito do causal-explicativo acolhido
pelo positivismo naturalista, com base em pretensões de segurança e
certeza.
Porque não existe o terreno neutro e pacífico do dado, salvo
que se confunda o método empírico com o empirismo crasso ou que
se invoque aquele como base de decisões ideológicas já adotadas. O
"conhecimento" científico da realidade, por outro lado, é sempre
parcial, fragmentado, provisório, fluido e os campos próprios das
diversas disciplinas que versam sobre o homem e a sociedade,
estreitamente relacionados entre si, se ampliam e se modificam sem
cessar. De sorte que o saber empírico, outrora paradigma de
exatidão, tornou-se cada vez mais relativo e inseguro: é um saber
provisório, aberto. 7
Foi exatamente com a adoção do empirismo como método
(adotado pelo positivismo em geral), que a Criminologia adquiriu sua
autonomia científica.
De fato, como advertiu magistralmente Ferri, a luta de escolas
(positivismo versus classicismo) não foi senão um enfrentamento
entre partidários do método abstrato, formal e dedutivo (os clássicos)
e os que propugnavam pelo método empírico e indutivo (os
positivistas).

7
GOMES, Luiz Flávio e PABLOS DE MOLINA, Antonio García. Criminologia, 5.ed.rev.
e atual.- São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

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"Falamos de duas linguagens diferentes - afirmou Ferri,
referindo-se aos clássicos. Para nós, o método experimental
(indutivo) é a chave de todo conhecimento; para eles, tudo deriva de
deduções lógicas e da opinião tradicional. Para eles, os fatos devem
ceder seu lugar ao silogismo; para nós, os fatos mandam...; para
eles, a ciência só necessita de papel, caneta e lápis, e o resto sai de
um cérebro cheio de leituras de livros, mais ou menos abundantes e
feitos da mesma matéria. Para nós, a ciência requer um gasto de
muito tempo, examinando os fatos um a um, avaliando-os,
reduzindo-os a um denominador comum e extraindo deles a ideia
nuclear. Para eles, um silogismo ou uma anedota é suficiente para
demolir milhares de fatos conseguidos durante anos de observação e
análise; para nós, o contrário é a verdade".(Ferri, E. Polemica in
difesa della Scuola Criminale Positiva, 1886. Reimpresso como Studi
sulla criminalità ed altri saggi, p. 244.) E conclui Ferri: "A Escola
Criminal Positiva não consiste unicamente no estudo antropológico do
criminoso, pois constitui uma renovação completa, uma mudança
radical de método científico no estudo da patologia social criminal e
dos que há de mais eficazes entre os remédios sociais e jurídicos que
nos oferece. A ciência dos delitos e das penas era uma exposição
doutrinária de silogismos, dados à luz pela força exclusiva da fantasia
lógica; nossa escola fez disso uma ciência de observação positiva
que, fundando-se na Antropologia, na Psicologia e na Estatística
criminal, assim como no Direito Penal e nos estudos penitenciários,
chega a ser a ciência sintética que eu mesmo chamo Sociologia
Criminal, e assim esta ciência, aplicando o método positivo no estudo
do delito, do delinquente e do meio, não faz outra coisa que levar à
Ciência Criminal clássica o sopro vivificador das últimas e irrefutáveis
conquistas feitas pela ciência do homem e da sociedade, renovada
pelas doutrinas evolucionistas".(Ferri, E. Polemica in difesa della
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Scuola Criminale Positiva. Cf. García-Pablos de Molina, A. Tratado de
criminología, 1999, p. 402 e ss.)”8

O método empírico, pautado na experimentação, é considerado,


na atualidade, extensível também ao estudo do comportamento
delitivo. O que não exclui a utilidade outro métodos.
O método empírico garante um conhecimento mais confiável e
seguro do problema criminal desde o momento em que o investigador
pode verificar ou refutar suas hipóteses e teorias sobre ele pelo
procedimento mais objetivo: não a intuição, nem o mero sentido
comum ou a "communis opinio", mas sim a observação. (Uma das
aspirações do conhecimento científico é superar a barreira do mero
sentido comum, da intuição, da reflexão lógica (método lógico-
dedutivo), do consenso intersubjetivo. Cf. Serrano Maillo, A. op. cit.,
p. 29.)9
Daí se percebe a diferença metodológica entre a Criminologia e
o Direito Penal. Enquanto a Criminologia é tida como uma ciência do
"ser", empírica; o Direito Penal é uma ciência que impõe
comportamento, por isso uma ciência cultural, do "dever ser",
normativa por excelência.
Logo, no momento em que a Criminologia se serve de um
método indutivo, empírico, baseado na análise e na observação da
realidade, as disciplinas jurídicas utilizam um método lógico, abstrato
e dedutivo.
O fato de a criminologia ser uma ciência empírica, não
necessariamente implica afirmar que ela é experimental: o método
"experimental" é um método empírico, porém, não o único; de outro
8
GOMES, Luiz Flávio e PABLOS DE MOLINA, Antonio García. Criminologia, 5.ed.rev.
e atual.- São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.
9
GOMES, Luiz Flávio e PABLOS DE MOLINA, Antonio García. Criminologia, 5.ed.rev.
e atual.- São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.
17
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Teoria e Exercícios Comentados
lado, nem todo método empírico tem obrigatoriamente natureza
experimental.
Por fim devemos registrar que o método empírico não é o único
método criminológico. Isso porque a complexidade que envolve o
crime é decorrência de um fenômeno humano e cultural, e assim
sendo, sua compreensão exige do estudioso uma postura aberta e
flexível, capaz de captar as múltiplas dimensões desse profundo
problema humano e social.
Em que pese o método empírico ter contribuído sobremaneira
para a evolução e consolidação da Criminologia como ciência, o
referido método foi objeto de numerosas críticas, tanto do ponto de
vista epistemológico como ideológico.10 Entre os argumentos
transitavam entre o não cabimento de generalizações, já que o
comportamento humano é imprevisível e complexo não se admitindo
que fosse possível à uma ciência captar sua essência e seu
significado.11
Não se vislumbrando uma alternativa ao método empírico,
sustentam, a maioria dos autores da Criminologia moderna, a busca
por método completar ao método empírico e não excludente.

É nesse contexto que se vislumbra o princípio interdisciplinar.


Assim, a interdisciplinaridade encontra-se significativamente
associado ao processo evolutivo de consolidação da Criminologia
como ciência autônoma.

Nesse âmbito, afirma Nestor Sampaio Penteado Filho: "A


criminologia se utiliza dos métodos biológico e sociológico. Como
ciência empírica e experimental que é, a criminologia utiliza-se da

10
Cf. SERRANO MAILLO, Alfonso. Introdução à Criminologia. p. 36 e ss.
11
Cf. SERRANO MAILLO, Alfonso. Introdução à Criminologia. p. 37 e ss.
18
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Teoria e Exercícios Comentados
metodologia experimental, naturalística e indutiva para estudar o
delinquente, não sendo suficiente, no entanto, para delimitar as
causadas da criminalidade. Por consequência disso, busca auxílio dos
métodos estatísticos, históricos e sociológicos, além do biológico".12

Sobre o tema já se indagou em concurso:

2013 – VUNESPE – PAPILOSCOPISTA POLICIAL – PC-SP


Os métodos científicos utilizados pela criminologia são
a) métodos experimental e dedutível, como ciência jurídica que
são.
b) métodos psicológico e sociológico, como ciências empírica e
exata que são.
c) métodos físico e individual, como ciências social e dedutível
que são.
d) métodos físico e biológico, como ciência jurídica que são.
e) métodos biológico e sociológico, como ciências empírica e
experimental que são.
Gabarito: E

Inúmeras são as disciplinas científicas que se ocupam do crime


como fenômeno individual e social. Temos a Biologia (criminal), a
Psicologia (criminal) e a Sociologia (criminal).
Visando concatenar os métodos peculiares de cada uma dessas
ciência com vista ao problema criminal, a criminologia surge como
responsável nesse papel de promover um interseção entre os
referidos ramos do conhecimento, evitando os riscos dessa complexa
formação e galgando uma análise para além da multidisciplinaridade,

12
PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Manual Esquemático de Criminologia. 2ª
edição, São Paulo: Saraiva, 2012, p. 24/25.
19
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Teoria e Exercícios Comentados
atingindo a denominada interdisciplinaridade.
Nesse momento cabe o alerta feitos pelos professores Pablos de
Molina e Luiz Flávio Gomes:
Mas, a análise científica reclama uma instância superior que
integre e coordene as informações setoriais procedentes das diversas
disciplinas interessadas no fenômeno delitivo; que elimine possíveis
contradições internas e instrumentalize um genuíno sistema de
"retroalimentação",13 conforme o qual cada conclusão particular é
corrigida e enriquecida ao ser contrastada com as obtidas em outros
âmbitos e disciplinas. Somente por meio de um esforço de síntese e
integração das experiências setoriais e especializadas é que cabe
formular um diagnóstico científico, totalizador, do crime, mais além
dos conhecimentos fragmentados, parciais e incompletos que possam
oferecer aquelas, e da perigosa "barbárie dos especialistas", tão
acertadamente denunciada por Ortega e Gasset.
Logicamente, esta é a função que corresponde à Criminologia,
embora o princípio interdisciplinar implique espinhosas dificuldades,
tanto do ponto de vista conceitual como operativo.14
A interdisciplinaridade é assim uma exigência estrutural do
saber científico, necessário em virtude da natureza totalizadora deste
tipo de saber. Assim, a interdisciplinaridade acaba por afastar
qualquer ideia de monopólio, prioridade, ou exclusão entre as
disciplinas envolvidas.

13
Vide Rodríguez Manzanera, L. Criminología, p. 42. Qualificando, não obstante, de
"obviedade" o debate sobre a "interdisciplinaridade" do método criminológico (e da
própria Criminologia como "ciência"); e de "instrumento de ciências" a
compreensão desta disciplina como instância superior que coordena e integra as
informações setoriais sobre o problema criminal procedentes das diversas ciências,
temos Garrido Ge¬novés, V.; Stangeland, P.; Redondo, S. Principios de
criminología, p. 53-59.
14
GOMES, Luiz Flávio e PABLOS DE MOLINA, Antonio García. Criminologia, 5.ed.rev.
e atual.- São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.
20
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Teoria e Exercícios Comentados
Objetos da criminologia:

No início da presente aula deixamos antever os objetos de


estudo da Criminologia.
A título de introdução sobre o tema, apresentamos a seguinte
questão:

2011 – PC/SP – Delegado de Polícia


Constituem objeto de estudo da Criminologia
a) o delinquente, a vítima, o controle social e o empirismo.
b) o delito, o delinquente, a interdisciplinaridade e o controle
social
c) o delito, o delinquente, a vitima e o controle social.
d) o delinquente, a vitima, o controle social e a
interdisciplinaridade.
e) o delito, o delinquente, a vítima e o método.
Gabarito: C

A Criminologia, em virtude de sua autonomia científica,


apresenta objeto específico. São eles, respectivamente, o Delito, o
Delinquente, a Vítima e as formas de Controle Social. Vejamos
agora, de forma isolada, os três primeiros objetos de estudo da
Criminologia: o Delito, o Delinquente, a Vítima. Lembrando que na
próxima aula nos ocuparemos do quarto objeto, qual seja, o Controle
Social.

A Criminologia tida por moderna se destaca justamente pela


ampliação de seu objeto. Assim, enquanto classicamente só se
preocupava em estudar o delito e o delinquente, a criminologia
moderna encara o problema da criminalidade ampliando seu objeto

21
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Teoria e Exercícios Comentados
de análise para passar a abarcar em seu estudo: a vítima e as formas
de controle social.

Delito

Como se pode perceber, as primeiras investigações


criminológicas versavam quase que exclusivamente sobre a pessoa
do delinqüente e sobre o delito.
A referida ampliação decorre de uma releitura "qualitativa" do
problema criminal, com o consequente deslocamento do interesse
criminológico, pautado preponderantemente na analisa da vítima e
das formas controle social.
Desse modo, a Criminologia tradicional tinha por base um sólido
e pacífico consenso a respeito do conceito legal de delito, não o
questionado. Nesse contexto apresentavam força impar as teorias
etiológicas da criminalidade, que tomavam daquele seu autêntico
suporte ontológico; o princípio da diversidade (patológica) do homem
delinqüente (e da disfuncionalidade do comportamento criminal); e os
fins conferidos à pena, como resposta justa e útil ao delito. Estes
constituíam seus quatro pilares mais destacados. 15
Os fundamentos epistemológicos e ideológicos da Criminologia
tradicional são assim objeto de releitura da criminologia moderna, de
forma que a própria definição de delito e o seu respectivo castigo – a
pena – são concebidos radicalmente como problemáticos, conflitivos,
inseguros.

Nesse contexto, já se indagou em concurso o seguinte:

15
GOMES, Luiz Flávio e PABLOS DE MOLINA, Antonio García. Criminologia, 5.ed.rev.
e atual.- São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.
22
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Teoria e Exercícios Comentados

2009 - Polícia Civil/SP – Delegado de Polícia


A criminologia é uma ciência que dispõe de leis:
a) imutáveis e evolutivas;
b) inflexíveis e evolutivas;
c) permanentes e flexíveis;
d) flexíveis e restritivas;
e) evolutivas e flexíveis
Gabarito: E

Partimos da premissa, embora não informada pela questão, que


se queria questionar a respeito da criminologia moderna. Assim,
alertamos o candidato que a panorama mudaria se o enunciado da
questão afirmasse inicialmente, por exemplo: A criminologia
clássica...
A criminologia moderna parte de uma reconsideração da
"questão criminal", que põe em cheque os postulados, os dogmas da
Criminologia clássica à luz dos conhecimentos científicos
interdisciplinares da contemporaneidade.

Sobre o tema, elucidativas as lições de Pablos de Molina:

As teorias estrutural-funcionalistas, as subculturais, as


da socialização e da aprendizagem, as do conflito, as
interacionistas do labelling approach e outras contribuíram
decisivamente para a redefinição dos postulados de um novo
modelo. Um novo paradigma que rechaça o conceito jurídico
formal de delito, reclamando maiores cotas de autonomia
frente ao sistema legal para selecionar seu próprio objeto com
critérios rigorosamente científicos (conceito "definitorial" de
delito versus conceito "ontológico"); que postula a
"normalidade" do homem delinquente, a "funcionalidade" do
comportamento "desviado" e a natureza "conflitual" da ordem
23
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Teoria e Exercícios Comentados
social (frente ao princípio de "diversidade" do infrator, da
"patologia" da desviação e ao caráter "consensual" que a
Criminologia clássica assinalava à ordem social); e que, ao
denunciar a extrema relevância do controle social na gênese
da criminalidade (que não "selecionaria" o crime, mas antes o
"produziria") e sua atuação discriminatória, sugere um
drástico deslocamento do objeto da investigação científica:
dos fatores criminógenos (conforme a terminologia das
teorias etiológicas convencionais) ao controle social, do delito
mesmo, isto é, das variáveis independentes à variável
dependente, superando o enfoque etiológico.16

Como o conceito de delito não interessa somente à


Criminologia, pois dele se ocupam outras áreas do saber, como a
Filosofia, a Sociologia e o Direito Penal (entre outras), precisamos
delimitar o Conceito de Delito para fins criminológicos, o que irá
embasar todo o conteúdo a ser exposto no presente curso.

De modo a demonstrar a polissemia relacionada ao conceito de


Delito, aproveitamos para expor esquematicamente as definições
existentes nos mais variados aspectos, com base na obra
Criminologia17, referência atual e indicada para concursos, isso tendo
em vista primordialmente sua aptidão para a completude:

16
García-Pablos, A. Tratado de Criminología, cit., p. 90 e ss. Contrapondo dois
modelos criminológicos, o "positivista" e o "crítico", Baratta, A. "Criminología y
dogmática Penal. Pasado y futuro del modelo integral de la Ciencia Penal", in
Papers, Revista de Sociología, n. 13, p. 17 e ss. Apud GOMES, Luiz Flávio e PABLOS
DE MOLINA, Antonio García. Criminologia, 5.ed.rev. e atual.- São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2007.
17
GOMES, Luiz Flávio e PABLOS DE MOLINA, Antonio García. Criminologia, 5.ed.rev.
e atual.- São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.
24
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Teoria e Exercícios Comentados
A Filosofia e a Ética, por sua vez, valem-se de outras pautas e
instâncias além do direito positivo: da ordem moral, da
natural, da razão etc. O conceito filosófico de "delito natural" –
tanto em sua versão positivista como na jusnaturalista –
tampouco atende às necessidades da Criminologia.
O Direito Penal, por exemplo,
serve-se de um conceito formal
e normativo, imposto por Formularam-se muitos outros
conceitos materiais de delito, por
exigências inexoráveis de
Sellín, (Sellin, T. Culture conflict and
legalidade e segurança jurídica: crime. p. 25 a 46, sobre estes conceitos
delito é toda conduta prevista materiais de delito.) Gottfredson e
na lei penal e somente a que a Hirschi, (Gottfredson, M.R. e Hirschi, T. A
lei penal castiga. general theory of crime, p. 4 e ss.)
Fishbein.( Fishbein, D. H. Biobehavioral
Delito perspective in Criminology, p. 86 e ss.)
Gottfredson e Hirschi exigem "força
física ou engano" (force or fraud) e a
busca de interesse próprio. Fishbein
pretende elaborá-lo em torno do
conceito de agressão por ser esse um
componente real dos comportamentos
Assim, o "positivismo criminológico" – anti-sociais, suscetíveis de medição e
para citar somente uma de suas estável ou permanente ao largo das
inumeráveis construções –, em seu diferentes culturas.
intento de formular um conceito
"material" de crime,
independentemente de toda variável A Sociologia utiliza o conceito de "conduta desviada"
espacial, temporal e legal, criou a (deviant behavoir, Abweichendes Verhalten etc.), que toma
imprecisa expressão "delito natural", como critério de referência as expectativas sociais, (Sobre o
que Garófalo definiria como "uma conceito sociológico de "conduta desviada", vide Eisenberg, U.
lesão daquela parte do sentido moral, Kriminologie, cit., p. 7; Kaiser, G. Kriminologie, cit., p. 18 e ss.;
Wiswede, G. Soziologie Abweichenden Verhalten, p. 18 e ss.; Opp, K.
que consiste nos sentimentos D. Abweichendes Verhalten und Gesellschaftsstrukturen, p. 38 e ss.;
altruístas fundamentais (piedade e Parsons, T. The social system, p. 250 e ss.; Matza, D. El proceso de
probidade) segundo o padrão médio desviación, cit., p. 21 e ss.) pois não existe – nem pode existir –
em que se encontram as raças um catálogo apriorístico e neutro de condutas
humanas superiores, cuja medida é objetivamente desviadas (desviadas in se ou per se)
necessária para a adaptação do prescindindo daquelas. Desviado será um comportamento
indivíduo à sociedade"; (Garófalo, R. concreto na medida em que se afaste das expectativas
Criminología, 1885, p. 30 e ss.) outros sociais em um dado momento, enquanto contrarie os
autores, no entanto, realçam a padrões e modelos da maioria social. Não importam, pois,
nocividade social da conduta ou a as qualidades objetivas da conduta, inerentes a esta ou
periculosidade do seu autor. (Sobre referidas a valorações que procedem de outras instâncias
outras noções "materiais"do delito, vide normativas, senão o juízo social dominante e a conduta
Hurwitz, S. Criminology, p. 372 (risco
social); Pinatel, L. Traité de Droit Pénal et de
"esperada". De algum modo – conforme esta orientação – a
Criminologie, v. III, p. 500 e ss.; Mannheim, desviação não reside na conduta mesma, porém na dos
H. Vergleichende Kriminologie, cit., p. 74 e demais. (Vide Kaiser, G. Kriminologie, cit., p. 118-120. Também:
ss.; Eisenberg, U. Kriminologie, cit., p. 7 e Vold, G. B. Theoretical Criminology, cit., p. 253 e ss.; Vetter, H. J. e
ss.; Rodríguez Manzanera, L. Criminología, Silverman, I. J. Criminology and crime: an introduction, p. 11 e ss.)
cit., p. 22-23; Cf. García-Pablos, A. Tratado Mais ainda, as teses "interacionistas" do labelling approach
de Criminología, cit., p. 85. Sobre os chegam a negar a existência de um conceito de delito, por
diversos conceitos de delito, vide, entender que este só tem uma natureza "definitorial", isto é,
recentemente, Sessar, K. "Sobre el concepto tratar-se-ia da etiqueta que o seletivo e discriminatório
de delito", in Revista de Derecho Penal y
Crimi¬nología (UNED), p. 269 a 301. )
sistema legal atribui a certos autores e não das qualidades
negativas de certos comportamentos. (Sobre o problema, vide
García-Pablos, A. Tratado de Criminología, cit., p. 86 e ss.
Ressaltando o caráter meramente "definitorial"do delito: Becker, H.
S. The outsiders: studies in the sociology of deviance, p. 9 e ss.;
também, Rüther, W. "La criminalidad o ‘el delincuente’ a través de
las definiciones sociales (‘o etiquetamiento’) respecto de las
dimensiones esenciales del enfoque del etiquetamiento (labelling
approach) en el campo de la Sociología Criminal", in Cuadernos de
Política Criminal, 8, p. 51.)
25
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Teoria e Exercícios Comentados
A doutrina conclui que nenhum desses conceitos de delito pode
ser assumido sem maiores implicações pela Criminologia.
Em que pese o conceito do direito penal ser um ponto de
partida para a Criminologia, o mesmo não é suficiente, haja vista a
metodologia empírica e interdisciplinar desta ciência. Assim, pode-se
afirmar a inadequação do dogma nullum crimen sine lege ao
estudo criminológico.
Assim, o Delito para criminologia envolve fatos que podem ser
irrelevantes para o Direito Penal, como o chamado "campo prévio" do
crime, a "esfera social" do infrator, a "cifra negra", as condutas
atípicas, etc...);
Interessa à Criminologia não tanto a qualificação formal
"correta" de um acontecimento penalmente relevante, senão "a
imagem global do fato e do seu autor": a etiologia do fato real,
sua estrutura interna e dinâmica, formas de manifestação,
técnicas de prevenção do mesmo e programas de intervenção
no infrator etc.18
O criminólogo então, fazendo críticas e adequações às
definições de delito à sua ciência, acaba por chegar as seguintes
conclusões:
1) O conceito criminológico de delito é um conceito empírico,
real e dinâmico.
Segundo Serrano Maillo, A. (Introducción a la Criminología, cit.,
p. 26 e 27), seguindo premissas próximas ao labelling approach,
o delito tem uma natureza "em boa parte de construção social",
pelo que interessa à Criminologia não apenas sua tipificação
penal, como também sua definição pela sociedade, pela polícia,
pela Administração da Justiça etc. e, desde logo, o processo de
elaboração das leis penais, comprovando se em dito processo
predomina o interesse geral ou o interesse particular.

18
No sentido do texto, Göppinger, H. Criminología, cit., p. 3-4.
26
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Teoria e Exercícios Comentados
2) A moderna Criminologia se interessa, antes de tudo, por
temas de maior transcendência que a própria definição formal do
delito, como, por exemplo, as funções que desempenha o delito como
indicador da efetividade do controle social, seu volume, estrutura e
movimento, a distribuição da criminalidade entre os distintos estratos
sociais etc.
3) O delito, para a Criminologia, é um problema social e
comunitário, que exige do estudioso uma determinada atitude
(empatia19) para se aproximar dele. Nesse contexto se percebe que
como o crime recebeu várias conceituações dos penalistas, filósofos,
moralistas, sociólogos, políticos, etc... seriam necessárias algumas
reflexões pelo criminólogo.
Para o penalista, não é senão o modelo típico descrito na norma
penal: uma hipótese, produto do pensamento abstrato. Para o
patologista social, uma doença, uma epidemia. Para o moralista, um
castigo do céu. Para o experto em estatística, um número, uma cifra.
Para o sociólogo, uma conduta irregular ou desviada.
A Criminologia, por seu turno, deve contemplar o delito
não só como comportamento individual, mas, sobretudo, como
problema social e comunitário, entendendo esta categoria
refletida nas ciências sociais de acordo com sua acepção
19
Os problemas sociais reclamam uma particular atitude do investigador, à qual a
Escola de Chicago denominou "empatia". O crime, também. Mas, empatia, desde
logo, não significa simpatia nem cumplicidade com o infrator e seu mundo, senão
interesse, apreço, fascinação por um profundo e doloroso drama humano e
comunitário: um drama próximo, mas, ao mesmo tempo, enigmático e
impenetrável. Referida paixão e atitude de compromisso com o cenário criminal e
seus protagonistas são perfeitamente compatíveis com a distância do objeto e da
neutralidade requeridas do cientista. Contrária à empatia é a atitude indiferente e
fatigada, tecnocrática, dos que cuidam do fenômeno delitivo como qualquer outro
problema, esquecendo sua natureza aflitiva, sua amarga realidade como conflito
interpessoal e comunitário. Ou a atitude estritamente formalista que vê no delito
um mero comportamento típico previsto na norma penal ou antecedente lógico da
conseqüência jurídica, que fundamenta a inexorável pretensão punitiva do Estado.
Apud in GOMES, Luiz Flávio e PABLOS DE MOLINA, Antonio García. Criminologia,
5.ed.rev. e atual.- São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.
27
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Teoria e Exercícios Comentados
original, com toda sua carga de enigma e relativismo.
Para Oucharchyn-Dewitt e outros20, um determinado fato ou
fenômeno deve ser definido como "problema social" somente se
concorrem as seguintes circunstâncias: que tenha uma incidência
massiva na população; que referida incidência seja dolorosa, aflitiva;
persistência espaço-temporal; falta de um inequívoco consenso a
respeito de sua etiologia e eficazes técnicas de intervenção no
mesmo; consciência social generalizada a respeito de sua
negatividade.
Como se verifica o delito seria a conduta no mínimo enquadrada
como um "problema social", quando então configurar na
caracterização acima.

Delinquente

Por delinquente se tem a pessoa que realiza a infração penal.


Foi no positivismo criminológico que a pessoa do delinquente
alcançou seu máximo protagonismo como objeto das investigações
criminológicas.
O princípio da "diversidade" que inspirou a Criminologia
tradicional (o delinquente como realidade biopsicopatológica) o
converteu no centro quase exclusivo da atenção científica.
A seu turno, a Criminologia moderna, passou a tratar com
menos prioridade a figura do delinquente, se submetendo à uma
verdadeiro giro sociológico.
Emblemática é a análise da imagem que se professa do homem
delinquente.

20
Em Approaches toward social problems: a conceptual model of basic and applied
social psychology, p. 275-287. Cf. Jiménez Burillo, F. Psicología social y sistema
penal, p. 19 e ss.
28
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Sobre a referida imagem, quatro acepções são paradigmáticas:
a clássica, a positivista, a correcionalista e a marxista.21
O mundo clássico O positivismo criminológico, pelo A filosofia O marxismo,
partiu de uma contrário, destronaria o homem, correcionalista, por por último,
imagem sublime e privando-lhe de seu cetro e de seu sua vez – e o atribui a
reinado, ao negar-lhe a
ideal do ser marxismo –, opera responsabilida
possibilidade de livre controle
humano, como sobre seus atos e seu com diferentes de do crime a
centro do universo, protagonismo no mundo natural, imagens do infrator. determinadas
como dono e no universo e na história. O Aquela, pedagógica, estruturas
senhor absoluto de homem, dirá Ferri, não é o rei da pietista, vê no econômicas, de
si mesmo, de seus Criação, como a Terra não é o criminoso um ser maneira que o
atos. O dogma da centro do universo, senão "uma inferior, deficiente, infrator torna-
liberdade – no combinação transitória, incapaz de dirigir por se mera vítima
infinitesimal da vida... uma
esquema clássico – si mesmo – inocente e
combinação química que pode
tornou iguais todos lançar raios de loucura e de livremente – sua fungível
os homens (não há criminalidade, que pode dar a vida, cuja débil daquelas:
diferenças irradiação da virtude, da piedade, vontade requer uma culpável é a
qualitativas entre o do gênio, porém não mais que um eficaz e sociedade.
homem átomo de toda a universalidade da desinteressada (Quanto à
delinqüente e o vida". (Ferri, E. "Il dinamismo intervenção tutelar imagem do
não-delinqüente) e biologico di Darwin", in Arringhe e do Estado. Desde a homem
discorsi, p. 351 e ss. ) O livre delinqüente das
fundamentou a utopia e o eufemismo
arbítrio, conclui Ferri, é uma teorias do
responsabilidade: o "ilusão subjetiva".22 Em paternalista do conflito, vide
absurdo conseqüência, o positivismo pensamento García-Pablos, A.
comportamento criminológico insere o correcional (a Tratado de
delitivo só pode ser comportamento do indivíduo na Besserungstheorie Criminología, cit.,
atribuído ao mau dinâmica de causas e efeitos que alemã), o homem Capítulo XXI.)
uso da liberdade rege o mundo natural ou o mundo delinqüente aparece
em uma concreta social, em uma cadeia de diante do sistema
estímulos e respostas: fatores
situação, não a como um menor de
determinantes internos, endógenos
razões internas, (biológicos) ou externos e exógenos idade, como um
nem a influências (sociais) explicam sua conduta inválido. (Sobre a
externas. O crime, inexoravelmente. O arquétipo imagem do homem
pois, possui suas ideal, quase algébrico, dos delinqüente que
raízes em um clássicos dá lugar a uma imagem professa o
materializada e concreta do correcionalismo – e, em
profundo mistério
homem, semelhante a uma particular, a
ou enigma. Para os Besserungstheorie
equação, a uma fórmula, a uma
clássicos, o alemã – vide García-
reação química e, de outro lado, o
delinqüente é um princípio da "equipotencialidade" Pablos, A., Estudios
pecador que optou dá lugar ao da "diversidade" do penales, p. 36 e ss.)
pelo mal, embora homem delinqüente, sujeito
pudesse e devesse qualitativamente distinto do
respeitar a lei. honrado que cumpre as leis. Para
o positivismo criminológico, o
infrator é um prisioneiro de sua
própria patologia (determinismo
biológico) ou de processos causais
alheios a ele (determinismo social):
um ser escravo de sua carga
hereditária, enclausurado em si e
separado dos demais, que olha o
passado e sabe, fatalmente escrito,
seu futuro – um animal selvagem e
perigoso.

21
Vide García-Pablos, A. "Explicaciones estructural-funcionalistas del delito", in
Delincuencia. Teoría e investigación, p. 165-193.
22
Ferri, E. Los nuevos horizontes del Derecho y el procedimiento penal, p. 23 e ss.
29
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Teoria e Exercícios Comentados
Sobre o tema já se indagou em concurso:

EP 01/10 - A Escola Positiva:


(a) crê no determinismo e defende o tratamento do criminoso;
(b) tem em Bentham um de seus precursores;
(c) foi consolidada por Carrara;
(d) baseia-se no método dogmático e dedutivo;
(e) surgiu na etapa pré-científica da criminologia;
Gabarito: A
Sobre as escolas criminológicas trataremos em nossa aula 3.

Em síntese comparativa, lapidar é a lição dos professores


Hoje, não podemos negar a imagem muito mais rica,
dinâmica, pluridimensional e interativa do ser humano dada
por disciplinas empíricas como a Psicologia, as ciências da
conduta etc. O indivíduo não é um ser solitário, desarraigado,
que se enfrenta com sua liberdade existencial sem
condicionamentos, sem história (tese dos clássicos); porém,
tampouco é uma mera concatenação de estímulos e
respostas, uma máquina de reflexos e hábitos ou um
prisioneiro de seu código biológico e genético (tese
positivista), que olha só o passado; nem uma peça
insignificante na engrenagem do universo social, mero
observador passivo do acontecimento histórico ou vítima das
estruturas que ele mesmo criou. Pelo contrário, o homem é
um ser aberto e inacabado. Aberto aos demais em um
permanente e dinâmico processo de comunicação, de
interação; condicionado, com efeito, muito condicionado (por
si mesmo, pelos demais, pelo meio), porém com assombrosa
capacidade para transformar e transcender o legado que
recebeu e, sobretudo, solidário com o presente e com a visão
no seu próprio futuro ou no futuro alheio. Esse homem, que
cumpre as leis ou as infringe, não é o pecador dos clássicos,
irreal e insondável; nem o animal selvagem e perigoso do
positivismo, que inspira temor; nem o inválido da filosofia
correcional, que necessita tutela e assistência; nem a pobre
vítima da sociedade, mero pretexto para reclamar radical
30
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Teoria e Exercícios Comentados
reforma das suas estruturas, como proclamam as teses
marxistas. É o homem real e histórico do nosso tempo, que
pode acatar as leis ou não cumpri-las por razões nem sempre
acessíveis à nossa mente; um ser enigmático, complexo,
torpe ou genial, herói ou miserável, porém, em todo caso,
mais um homem, como qualquer outro.
Obviamente, existem infratores anormais, como
também existem anormais que não delinqüem. O postulado
da normalidade do homem delinqüente – e o da normalidade
do crime – só pretende expressar um claro rechaço à
tradicional correlação crime-anormalidade do infrator. Buscar
em alguma misteriosa patologia do delinqüente a razão última
do comportamento criminal é uma velha estratégia
tranqüilizadora. Estratégia ou pretexto que, por outro lado,
carece de apoio real, pois são tantos os sujeitos "anormais"
que não delinqüem como os "normais" que infringem as leis.
Dificilmente cabe afirmar, hoje, que só um ser
patológico pode atrever-se a violar as leis, pois a experiência
diária – e as estatísticas – constata o contrário: os indivíduos
"normais" são os que cada vez mais delinqüem. A
criminalidade econômico-financeira, a de funcionários e
profissionais, a juvenil, a de tráfico, dentre outras, confirmam
esta evidência.23

Vítima

No ciências jurídicas penais, a vítima ou ofendido é o sujeito


passivo da infração penal, a pessoa que sofre diretamente as
consequências (físicas, psíquicas, econômicas, sociais e etc...) da
prática criminosa, sendo um dos principais interessados na satisfação
da pretensão punitiva do Estado.
O tratamento da vítima nos ordenamentos transitou entre dois
grandes polos, o completo abandono e a chamada idade de ouro24
dois grandes radicalismos que a criminologia tende a afastar.
23
GOMES, Luiz Flávio e PABLOS DE MOLINA, Antonio García. Criminologia, 5.ed.rev.
e atual.- São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.
24
Segundo a denominação de Shafer, in The victim and his criminal. a study in
functional responsibility, p. 7 e ss.
31
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Teoria e Exercícios Comentados
Entre o abando e o protagonismo, o redescobrimento tem sido
a nota dos ordenamentos atuais, com leve e progressiva tendência ao
fortalecimento da proteção da vítima através de normas como: Lei de
proteção à vítimas e testemunha, a Lei Maria da Penha e alterações
recentes promovidas no CPP.
Nesse contexto, se coloca o estudo da Vitimologia, processo
que se propõe a promover uma revisão do papel da vítima no
fenômeno delitivo, que segundo Luiz Flávio Gomes e Antonio Garcia
Pablos de Molina se apresentam em três fases, Protagonismo,
neutralização e redescobrimento. Sobre o tema, destacamos, das
lições dos referidos autores, o seguinte:
1) O abandono da vítima do delito é um fato incontestável que
se manifesta em todos os âmbitos: no Direito Penal (material e
processual), na Política Criminal, na Política Social, nas próprias
ciências criminológicas. Desde o campo da Sociologia e da Psicologia
Social, diversos autores têm denunciado esse abandono: o Direito
Penal contemporâneo – advertem – acha-se unilateral e
equivocadamente voltado para a pessoa do infrator, relegando a
vítima a uma posição marginal, ao âmbito da previsão social e do
Direito Civil material e processual. A Criminologia tampouco tem
demonstrado sensibilidade pelos problemas da vítima do delito, pois
centra seu interesse exclusivamente na pessoa do delinquente. O
sistema legal define com precisão os direitos – o status – do infrator
(acusado), sem que referidas garantias em favor do presumido
responsável tenha como lógico correlato uma preocupação
semelhante pelos da vítima. O Estado – e os poderes públicos –
orienta a resposta oficial ao delito com base em critérios vingativos,
retributivos (castigo ao culpável), desatendendo às mais elementares
exigências reparatórias, de maneira que a vítima resulta relegada,
geralmente, a um total desamparo, sem outro papel que o puramente
32
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Teoria e Exercícios Comentados
"testemunhal". Por último – e ainda de acordo com a denúncia dos
sociólogos e psicólogos –, os escassos investimentos públicos
parecem destinados sempre ao punido (novas prisões, infraestruturas
penitenciárias etc.), como se a ressocialização da vítima não fosse
um objetivo básico do Estado "social" de Direito.
O abandono da vítima do delito, desde logo, pode ser
constatado – por muitas e diversas causas – tanto no âmbito jurídico
como no empírico e no político-social.
2) O sistema legal – o processo – já nasceu com o propósito
deliberado de "neutralizar" a vítima, distanciando os dois
protagonistas do conflito criminal, precisamente como garantia de
uma aplicação serena, objetiva e institucionalizada das leis ao caso
concreto.
A experiência havia demonstrado que não se pode pôr nas
mãos da vítima ou de seus parentes a resposta ao agressor; que a
natural paixão que o delito desencadeia em quem o sofre tende a
instrumentalizar aquela, convertendo a justiça em vingança ou
represália; que a resposta ao crime deve ser uma resposta distante,
imparcial, pública, desapaixonada. A neutralização da vítima está,
pois, nas próprias origens do processo legal moderno. Este é um
mecanismo de mediação e solução institucionalizada dos conflitos que
objetiva e despersonaliza a rivalidade entre as partes contendoras.
Mas, a linguagem abstrata, simbólica do Direito e o formalismo
da intervenção jurídica converteram a vítima real e concreta do
drama criminal em um mero conceito, em mais uma abstração. Em
virtude de o delito ter sido definido como enfrentamento simbólico do
infrator com a lei, como lesão ou perigo de lesão de um bem jurídico
ideal, anônima e despersonalizadamente, a vítima se enfraqueceu,
tornou-se fungível, irrelevante. Deste modo, o Direito não só
distancia as partes do conflito criminal, senão também abre um
33
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Teoria e Exercícios Comentados
abismo irreversível entre elas e corta artificialmente a unidade
natural e histórica de um enfrentamento interpessoal.
A consequência de tal fenômeno é muito negativa e, de fato, já
foi constatada em algumas investigações empíricas. O infrator, de um
lado, considera que seu único interlocutor é o sistema legal e que só
frente a ele é que contrai responsabilidades. E esquece para sempre
de "sua" vítima. Esta, de outro lado, se sente maltratada pelo sistema
legal: percebe o formalismo jurídico, sua criptolinguagem e suas
decisões como uma imerecida agressão (vitimização secundária),
fruto da insensibilidade, do desinteresse e do espírito burocrático
daquele. Tem a impressão, nem sempre infundada, de atuar como
mero pretexto da investigação processual, isto é, como objeto e não
como sujeito de direitos. Tudo isso aprofunda cada vez mais o
distanciamento entre a vítima e o sistema legal, acelerando seu
processo de "alienação" em relação àquele.25
Mas, não foi muito mais distinta a atenção dispensada à vítima
pelas disciplinas empíricas. A Criminologia tradicional desconsiderou-
a, polarizando em torno da pessoa do delinquente todas as
investigações sobre o delito, sua etiologia e prevenção. A vítima é
considerada mero objeto, neutro, passivo, fungível, estático, que
nada contribui para a explicação científica do acontecimento criminal,
para sua gênese, dinâmica e controle (esse o pensamento clássico).26
Tampouco é alentador, finalmente, o panorama, para a vítima,
nas esferas da decisão política (Política Criminal, Política Social e

25
Cf. Sangrador, J. L. La Victimología y el sistema jurídico penal, cit., p. 68-84.
26
A Criminologia clássica se caracterizou por um radical individualismo que
polarizava em torno – exclusivamente – da pessoa do delinquente a análise do fato
delitivo. Nem do ponto de vista etiológico nem preventivo algo interessava mais
que o infrator. A possível relevância, para ambos efeitos, de outros "protagonistas"
do acontecimento delitivo – e a interação recíproca de todos eles na dinâmica
criminal – muito raramente foi objeto de preocupação.

34
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Teoria e Exercícios Comentados
Assistencial etc.), porque o Estado "social" de Direito conserva
demasiados hábitos e esquemas do Estado liberal individualista. O
crime continua sendo um fatal acidente individual, para todos os
efeitos: a solidária reparação do dano e a ressocialização da vítima,
uma meta longínqua.27
Sobre a fase redescobrimento, é importante o alerta lançado
pelos professores Luiz Flávio Gomes e Antonio Garcia Pablos de
Molina:

“Desde a II Guerra Mundial, os estudos científicos sobre a


vítima do delito vêm ganhando um interesse crescente em todos os
âmbitos do saber. Referido "redescobrimento" da vítima merece,
sem embargo, uma análise cautelosa, isenta de interpretações
anacrônicas, de uma leitura antigarantidora ("antigarantista") ou de
um indevido caráter mercantil das suas expectativas. Com efeito, a
moderna Vitimologia não pretende uma inviável regressão ao
passado, à vingança privada ou à represália, porque uma
resposta institucional e serena ao delito não pode se
subordinar aos estados emocionais da vítima. E, tão
equivocado como o esquecimento da vítima, seria qualquer
intento de examinar o problema criminal sob a ótica exclusiva
de um dos seus protagonistas. Não se advoga, portanto, pelo
retorno da "idade de ouro" (vingança) da vítima. Assumir a
natureza pública do delito, da pena e do processo foi, sem
dúvida, um notável progresso histórico, uma conquista da
civilização, tal como a denominada neutralização da vítima.
Em princípio, isso significou que os interesses desta se subsumiam,
sem mais, nos interesses públicos e a tutela dos mesmos era obtida
na medida em que a incidência do delito sobre determinados cidadãos
supunha um prejuízo para os interesses da sociedade em conjunto 28.
Hoje, assistimos, não obstante, a uma inversão de papéis. É,
agora, a vítima que subsume dentro de seus interesses próprios os
interesses da sociedade. E com seus sentimentos, suas experiências
traumáticas, suas exigências particulares, quem assume a
representação dos interesses públicos; estes devem se personalizar,
se individualizar em demandas concretas de vítimas, grupos de
vítimas, afetados ou simpatizantes que se identificam com elas. Esse
desvio preocupante constitui um retorno anacrônico ao
passado remoto, ao pelourinho, à estigmatização social do
infrator e à injustificável participação da vítima, inclusive, na
execução da pena capital, em alguns países civilizados.29

27
Trechos do livro Criminologia, de autoria do Dr. Luiz Flávio Gomes e Antonio García-Pablos de Molina (5.ed.rev. e atual.- São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2007).
28
Vide Diez Ripollés, J. L. El nuevo modelo penal de la seguridad ciudadana, cit., p. 9 e ss.
29
Assim, nos Estados Unidos e com relação à pena de morte, se consolidaram duas práticas lamentáveis. Uma, que a Promotoria
(em casos de assassinato onde caberia optar entre dita pena e outra privativa de liberdade) pode fundamentar sua petição de pena
capital nos sofrimentos dos familiares e das pessoas próximas da vítima, aportando uma "declaração de impacto sobre as vítimas"
que reuniria os testemunhos e informes pertinentes. Outra, que alguns Estados autorizam aqueles para que presenciem a execução do

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Teoria e Exercícios Comentados
Porém, tampouco é lícito contrapor suas expectativas frente
aos direitos e garantias do infrator (para prejudicá-lo), como
fizera o positivismo criminológico. Este apelou sistematicamente
aos interesses da vítima do delito, porém com o propósito de negar
os direitos do delinqüente, isto é, como pretexto defensista (da
ordem), "antigarantista". E tudo isso a partir de postulados
ideológicos que não são assumidos hoje pelo Estado de Direito
(natureza monolítica da ordem social, patologia da desviação,
diversidade do delinqüente, necessidade do total extermínio da
criminalidade etc.).”30

Sobre o tema, indagou-se recentemente em concurso:

2013 – VUNESPE – PC/SP – PAPILOSCOPISTA POLICIAL


O estudo da vitimologia atual, baseada numa tendência política
criminal eficiente, privilegia
a) a assistência social ao delinquente, bem como um
atendimento eficiente do poder público.
b) a assistência psicológica à vítima e tratamento adequado ao
delinquente, para sua recuperação.
c) uma pena que recupere o delinquente, sociabilizando-o, com
trabalho e educação.
d) uma punição exemplar para o delinquente, de forma que se
cumpra a função retributiva da pena.
e) a reparação dos danos e indenização dos prejuízos da
vítima.
Gabarito: E

Ainda sobre a vitimologia devemos registrar a classificação das


vítimas feita pelos criminólogos.
A respeito da classificação se destacam as elaboradas pelos

delinqüente, invocando o chamado "ponto final" (closure) que lhes permitiria, psicologicamente, "virar a página" e relegá-la ao
passado. Cfr. Diez Ripollés, J. L., El nuevo modelo penal de la seguridad ciudadana, cit., p. 10, nota 11.
30
Trechos do livro Criminologia, de autoria do Dr. Luiz Flávio Gomes e Antonio García-Pablos de Molina (5.ed.rev. e atual.- São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2007).

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Teoria e Exercícios Comentados
professor Benjamim Mendelsohn e Hans Von Henting.
Segundo Benjamim Mendelsohn as vítimas podem sere
classificadas:

1) Vítimas ideais (completamente inocentes);


2) Vítimas menos culpadas que os criminosos (ex
ignorantia);
3) Vítimas tão culpadas quanto os criminosos (dupla
suicida, aborto consentido, eutanásia);
4) Vítimas mais culpadas que os criminosos (vítimas por
provocação que dão causa ao delito); e
5) Vítimas como únicas culpadas (vítimas agressoras,
simuladas e imaginárias).31

Mendelsohn organiza sua classificação em 3 grupos:


1º grupo: Vítima inocente: não concorre de nenhum modo
para o injusto;
2º grupo: Vítima provocadora: de algum modo contribui para a
ânimo do criminoso;
3º grupo: Vítima agressora: é uma falsa vítima, uma suposta
vítima, pois acaba por justificar a atuação do agressor. 32

Sobre o tema já se questionou em concurso:

2013 – VUNESPE – PC/SP – PAPILOSCOPISTA POLICIAL


De acordo com Benjamim Mendelsohn, as vítimas são
classificadas em:
31
PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Manual Esquemático de Criminologia. 2ª
edição, São Paulo: Saraiva, 2012, p. 69.
32
PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Manual Esquemático de Criminologia. 2ª
edição, São Paulo: Saraiva, 2012, p. 69.
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Teoria e Exercícios Comentados
a) vítimas primárias, vítimas secundárias e vítimas terciárias.
b) vítimas ideais, vítimas menos culpadas que os criminosos,
vítimas tão culpadas quanto os criminosos, vítimas mais culpadas
que os criminosos e vítimas como únicas culpadas.
c) vítimas desatentas, vítimas desinformadas, vítimas
descuidadas, vítimas inocentes, vítimas provocativas e vítimas
participativas.
d) vítimas perfeitas, vítimas participativas, vítimas
concorrentes, vítimas imperfeitas e vítimas contumazes.
e) vítimas inocentes, vítimas conscientes e vítimas culpadas.
Gabarito: B

A questão, em certa medida, tentou confundir o candidato em


relação aos seguintes institutos: vítima, vitimologia e vitimização.
Conforme afirmamos, vítima é quem sofre lesão ou perigo de
lesão ao seu bem jurídico. É a pessoa que sofre as consequências da
infração penal.
A Vitimologia é a aparte da criminologia que se propõe a
estudar a vítima e o processo de vitimização. Assim, a Vitimização
seria a ação ou estado de tornar-se vítima através de um mal injusto
sofrido.
Outra classificação presente nos manuais de criminologia é a
elaborada pelo professor Hans Von Henting. Segundo o professor as
vítimas podem ser classificadas em 3 grupos.

1º) grupo: Criminoso=>Vítima=>Criminoso (sucessivamente);


2º) grupo: Criminoso=>Vítima=>Criminoso (simultaneamente);
3º) grupo: Criminoso=>Vítima (imprevisível);

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Teoria e Exercícios Comentados
O 1º grupo se refere ao reincidente que é hostilizado no cárcere
e que vem a delinquir novamente em virtude da repulsa social que
encontra fora dele.
O 2º grupo se refere às vítimas de drogas que, para sustentar
seu vício, se sentem obrigadas a traficar, passando de usuárias a
traficantes.
O 3º grupo é exemplificado por linchamentos, saques,
alcoolismo, etc.33

Na oportunidade, aproveitamos para expor os processos de


vitimização estudados pela Criminologia de acordo a síntese
brilhantemente exposta pelo professor Nestor Sampaio.34:

Vitimização primária: O processo de vitimização primária


decorre do cometimento do crime, pela conduta violadora dos direitos
da vítima, podendo causar danos variados, materiais, físicos,
psicológicos, de acordo com a natureza da infração, a personalidade
da vítima, sua relação com o agente violador, a extensão do dano
etc. Tal processo de vitimização corresponde aos danos provocados à
vítima da infração penal.

Vitimização secundária: ou sobrevitimização; entende-se ser


aquela causada pelas instâncias formais de controle social, no
decorrer do processo de registro e apuração do crime, com o
sofrimento adicional causado pela dinâmica do sistema de justiça
criminal (inquérito policial e processo penal).

33
PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Manual Esquemático de Criminologia. 2ª
edição, São Paulo: Saraiva, 2012, p. 69.
34
PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Manual Esquemático de Criminologia. 2ª
edição, São Paulo: Saraiva, 2012, p. 75/76.
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Teoria e Exercícios Comentados
Vitimização terciária: falta de amparo dos órgãos públicos às
vítimas; nesse contexto, a própria sociedade não acolhe a vítima, e
muitas vezes a incentiva a não denunciar o delito às autoridades,
ocorrendo o que se chama de cifra negra (quantidade de crimes que
não chegam ao conhecimento do Estado).

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Teoria e Exercícios Comentados
Questões da aula de hoje:

2013 – VUNESPE – PAPILOSCOPISTA POLICIAL – PC-SP


Contemporaneamente, a criminologia é conceituada como
a) uma ciência empírica e social que estuda o criminoso, a
pena e o controle social.
b) uma ciência empírica e multidisciplinar que estuda as
formas como os crimes são cometidos.
c) uma ciência empírica e interdisciplinar que estuda o crime, o
criminoso, a vítima e o controle social.
d) uma ciência jurídica e interdisciplinar que estuda as formas
como os crimes são cometidos.
e) uma ciência jurídica e multidisciplinar que estuda o crime, o
criminoso, a pena e a vítima.
Gabarito: C

2013 – MPE-SC – Promotor de Justiça


A política criminal do Direito Penal Funcional sustenta, como
modernização funcional no combate à “criminalidade moderna”, uma
mudança semântico-dogmática, tal como: “perigo” em vez de dano;
“risco” em vez de ofensa efetiva a um bem jurídico; “abstrato” em
vez de concreto; “tipo aberto” em vez de fechado; e “bem jurídico
coletivo” em vez de individual.
Gabarito: Certo
A questão trata em certa medida do funcionalismo penal, estudado
mais detidamente no Direito Penal. Por Direito Penal funcional se reputa
aquele que analisa a teoria do crime à luz da política criminal. Assim,
temos dois tipos de funcionalismos:
1) Um elaborado pelo professor Claus Roxin, para quem a função do
Direito Penal é proteger subsidiariamente os bens jurídicos

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Aula 1 – PF – 2013 – Criminologia
Teoria e Exercícios Comentados
(Funcionalismo Racional-Teleológico). É entendido como um
funcionalismo moderado.
2) Outro defendido por Günther Jakobs, onde a função do Direito
Penal é a garantia da vigência (eficácia) da norma (Funcionalismo
Sistêmico). É entendido como um funcionalismo radical.
Sobre o tema: "O direito penal moderno é próprio e característico da
"sociedade de risco". O controle, a prevenção e a gestão de riscos gerais
são tarefas que o Estado deve assumir, e assume efetivamente de modo
relevante. Para a realização de tais objetivos o legislador recorre ao tipo
penal de perigo abstrato como instrumento técnico adequado por
excelência. Por ele, o direito penal moderno, ou ao menos uma parte
considerável dele, se denomina "direito penal do risco". GRACIA MARTIN,
Luis. Modernización del derecho penal penal y derecho penal del enemigo.
Lima: IDEMSA, 2007. p. 45

2013 – MPE-SC – Promotor de Justiça


Em sede de Política Criminal, o Direito Penal de segunda
velocidade, identificado, por exemplo, quando da edição das Leis
dos Crimes Hediondos e do Crime Organizado, compreende a
utilização da pena privativa de liberdade e a permissão de uma
flexibilização de garantias materiais e processuais.
Gabarito: Errado
Sobre o tema: (...) podemos, seguindo as lições de Jésus-Maria Silva
Sánchez, visualizar três velocidades, três enfoques diferentes que podem ser
concebidos ao Direito Penal. A primeira velocidade seria aquela tradicional do
Direito Penal, que tem por fim último a aplicação de uma pena privativa de
liberdade. Nessa hipótese, como está em jogo a liberdade do cidadão, devem ser
observadas todas as regras garantistas, sejam elas penais ou processuais penais.
Numa segunda velocidade, temos o Direito Penal à aplicação de penas não
privativas de liberdade, a exemplo do que ocorre no Brasil com os Juizados
Especiais Criminais, cuja finalidade, de acordo com o art. 62 da Lei no 9.099/95,
é, precipuamente, a aplicação de penas que não importem na privação da

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Aula 1 – PF – 2013 – Criminologia
Teoria e Exercícios Comentados
liberdade do cidadão, devendo, pois, ser priorizadas as penas restritivas de
direitos e a pena de multa. Nessa segunda velocidade do Direito Penal poderiam
ser afastadas algumas garantias, com o escopo de agilizar a aplicação da lei
penal. Embora ainda com certa resistência, tem-se procurado entender o Direito
Penal do Inimigo como uma terceira velocidade. Seria, portanto, uma
velocidade híbrida, ou seja, com a finalidade de aplicar penas privativas de
liberdade (primeira velocidade), com uma minimização das garantias necessárias
a esse fim (segunda velocidade).
Fonte: http://www.rogeriogreco.com.br/?p=1029

2013 – VUNESPE – PAPILOSCOPISTA POLICIAL – PC-SP


Os métodos científicos utilizados pela criminologia são
a) métodos experimental e dedutível, como ciência jurídica que
são.
b) métodos psicológico e sociológico, como ciências empírica e
exata que são.
c) métodos físico e individual, como ciências social e dedutível
que são.
d) métodos físico e biológico, como ciência jurídica que são.
e) métodos biológico e sociológico, como ciências empírica e
experimental que são.
Gabarito: E

2011 – PC/SP – Delegado de Polícia


Constituem objeto de estudo da Criminologia
a) o delinquente, a vítima, o controle social e o empirismo.
b) o delito, o delinquente, a interdisciplinaridade e o controle
social
c) o delito, o delinquente, a vitima e o controle social.
d) o delinquente, a vitima, o controle social e a
interdisciplinaridade.

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Aula 1 – PF – 2013 – Criminologia
Teoria e Exercícios Comentados
e) o delito, o delinquente, a vítima e o método.
Gabarito: C

2009 - Polícia Civil/SP – Delegado de Polícia


A criminologia é uma ciência que dispõe de leis:
a) imutáveis e evolutivas;
b) inflexíveis e evolutivas;
c) permanentes e flexíveis;
d) flexíveis e restritivas;
e) evolutivas e flexíveis
Gabarito: E

EP 01/10 - A Escola Positiva:


(a) crê no determinismo e defende o tratamento do criminoso;
(b) tem em Bentham um de seus precursores;
(c) foi consolidada por Carrara;
(d) baseia-se no método dogmático e dedutivo;
(e) surgiu na etapa pré-científica da criminologia;
Gabarito: A
Sobre as escolas criminológicas trataremos em nossa aula 3.

2013 – VUNESPE – PC/SP – PAPILOSCOPISTA POLICIAL


O estudo da vitimologia atual, baseada numa tendência política
criminal eficiente, privilegia
a) a assistência social ao delinquente, bem como um
atendimento eficiente do poder público.
b) a assistência psicológica à vítima e tratamento adequado ao
delinquente, para sua recuperação.

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Teoria e Exercícios Comentados
c) uma pena que recupere o delinquente, sociabilizando-o, com
trabalho e educação.
d) uma punição exemplar para o delinquente, de forma que se
cumpra a função retributiva da pena.
e) a reparação dos danos e indenização dos prejuízos da
vítima.
Gabarito: E

2013 – VUNESPE – PC/SP – PAPILOSCOPISTA POLICIAL


De acordo com Benjamim Mendelsohn, as vítimas são
classificadas em:
a) vítimas primárias, vítimas secundárias e vítimas terciárias.
b) vítimas ideais, vítimas menos culpadas que os criminosos,
vítimas tão culpadas quanto os criminosos, vítimas mais culpadas
que os criminosos e vítimas como únicas culpadas.
c) vítimas desatentas, vítimas desinformadas, vítimas
descuidadas, vítimas inocentes, vítimas provocativas e vítimas
participativas.
d) vítimas perfeitas, vítimas participativas, vítimas
concorrentes, vítimas imperfeitas e vítimas contumazes.
e) vítimas inocentes, vítimas conscientes e vítimas culpadas.
Gabarito: B

Grande abraço e até a nossa próxima aula!

Prof. Pablo Farias Souza Cruz

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