Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
DESIGN DE JÓIAS:
DESAFIOS CONTEMPORÃNEOS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
MESTRADO EM DESIGN
DESIGN DE JÓIAS:
DESAFIOS CONTEMPORÃNEOS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
DESIGN DE JÓIAS:
DESAFIOS CONTEMPORÃNEOS
Agradeço aos meus alunos dos cursos de Design Digital, Design Gráfico
e aos de Design de Jóias da Universidade Anhembi Morumbi, cujas
dúvidas e discussões enriqueceram de modo especial esta pesquisa.
Pelo muito que aprendi com vocês, obrigada!
Aos empresários, Roberto e Osni Storel, da Osni Storel Jóias, Tufi Geara
Karam, da Joalheria Geara Karam do Sul e Pierangelli Mora da
Corsage,
Palavras-chave:
design de jóias, joalheria artesanal, joalheria industrial, projeto de joalheria.
This work is about contemporary jewelry design and the challenges that designers face in
developing, designing and creating products to meet the real demand of industries in the today‟s
market. This paper discusses specific methodologies and directions that professionals can employ
to develop successful products that are a result of users research, behavioral trends analysis and
understanding craft and industrial production. This study proposes that design professionals be
trained to rely upon, and to follow disciplines related to projects and their associated processes
throughout all of the stages of product development. This work attempts to define universal
parameters that jewelry designers in all market segments, including gold plated and costume
jewelry, could use to even produce their own collections based on the project requirements as a
whole. So it presents an initial study about the development of a jewelry design project
methodology, focusing on the drawing, rendering or technical, as the primary communication
language between designer and his client, and also proposes a future research in this field. To
reach our objectives of improving design process in the productive sector and to guiding new
designers training, we‟ve investigated the different jewelry segments, especially in Brazil. The goal
being to better understand the distinct creative processes and current practices of the different
professionals, The hope of this research is to fulfill the jewelry sector‟s need for improving
positioning of the Brazilian product in the international market and to achieve a strong identity that
results from design as a distinguishing element.
Keywords:
em “Modern Architektur”,
Figura 02 Ruth Grieco. colar Puzzle, finalista do "Diamonds are Fun" HRD, 2005 ........................ 32
Figura 05 Lena Garrido – 1º lugar - Prêmio IBGM de Design de Jóias 1999 ..................................... 39
Figura 06 Denise Costa - 1º lugar - Prêmio IBGM de Design de Jóias 1999 ................................... 39
Figura 07 Virginia Moraes - 2º lugar – Prêmio IBGM de Design de Jóias 1999........... . .....................40
Figura 41 Chis Lanza. Jóia premiada no Concurso Pérolas do Tahiti, 2007 ................................... 82
Figura 47 Manoel Bernardes. 1º lugar Premio IBGM Design de Jóias 2008 ................................... 92
Figura 53 Equipamento de corte a laser, empresa FAB Bijouterias, Limeira, 2009........................ 109
Figura 54 Sequência do resultado do corte a laser e corrente, FAB Bijouterias .......................... 109
Figura 56 Daisy Lima – Coleção de bijuterias Santa Audacia, 2008 ............................................. 115
Figura 60 Anel folheado Coleção Caminho das Pedras, 2009 ..................................................... 116
Figura 66 Georges Deraisme, desenho Alfinete de Chapéu Mulheres, 1900 ................................. 134
HRD - Hoge Raad voor Diamant (HRD) ou Diamond High Council – Alto Conselho do Diamante,
Antuérpia, Bégica.
Resumo ......................................................................................................................................4
Abstracts ...................................................................................................................................5
Introdução ................................................................................................................................ 12
1. O design e a jóia................................................................................................................... 15
4.4 Dimensão visual do desenho na indicação de formas, materiais e técnicas ................... 127
8.4 Regulamento do Concurso Jóia Fashion Design – IBGM /2006 ..................................... 165
Introdução
A jóia de arte, a de autor e até mesmo a jóia feita por artesãos costumam ser
identificadas como produtos de design. Atividades que têm em comum a criação
e a configuração de objetos. No entanto, são essencialmente diversas,
especialmente no que diz respeito à concepção destes artefatos, isto é, como
resultado da necessidade de expressão pessoal ou atendendo a uma demanda
específica de um cliente ou público. Neste ponto estas áreas se separam e se
definem.
Sem estabelecer qualquer juízo de valor que posicione de forma superior uma ou
outra atividade, o objetivo esta pesquisa é o de entender os aspectos desta
diversidade, colaborando com o setor joalheiro e com aqueles que nele desejam
atuar. Este estudo não questiona a maneira como atualmente todos os criadores
de jóias são tratados como designers, sem observar a natureza de suas práticas
e as conseqüências geradas no mercado de trabalho profissional pela falta de
entendimento de suas propostas.
1. O design e a jóia
Isto porque a arte pressupõe uma expressão pessoal que se traduz através de
experimentações formais e de materiais, buscando a melhor representação de
emoções e questionamentos pessoais.
Já no design busca-se trazer para o objeto a melhor solução para questões que
são trazidas por um público/usuário ou grupo definido, relacionadas à suas
necessidades, expectativas e anseios, a quem se dirige a criação.
Esta discussão nos remete ao que trata Maldonado (1991) quando comenta a
questão existente na Itália quanto a haver um design quente e um outro frio.
Maldonado refere-se ao discurso de Alessandro Mendini, arquiteto, designer e
professor, embora não o citando textualmente, o que fará Dijon de Moraes
(1997, p.137) referindo-se justamente sobre sua colocação em relação à
produção do objeto “feito em pouca quantidade, com poucos meios e destinado
ao usuário artístico-cultural de pouca sujeição social” (ibidem, p.137), ao que
chamou de design quente, em contraposição ao design destinado à produção
industrial, com produção em série, o design frio.
Mas não se pretende aqui entrar na discussão do art design, como é chamado
por alguns estudiosos este design quente, já que se considera por premissa para
esta pesquisa o design enquanto atividade projetual inserido em contextos, com
público (usuário) definido, a quem se dirige a criação e não como resultado da
necessidade pessoal de expressão do designer. O design com objetivos
específicos na solução de problemas, e não apenas como a arte da
configuração, Esta postura nos distanciaria da prática do design de jóias hoje
junto a empresas como demanda real do mercado de trabalho profissional que,
embora baseado na inspiração pessoal, não prescinde do saber técnico voltado
para o atendimento a um público específico e os parâmetros que a partir dele se
estabelecem para produção, oposto à idéia de uma jóia criada, como o que prega
Mendini, a partir dos próprios parâmetros de satisfação pessoal do artista..
_______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
jóias, o que impossibilitou que se definisse objetivamente sua área de ação como
serviço prestado junto a indústrias, de onde vem a maior demanda por sua
atuação.
Para Löbach (2000) o objeto deve ser analisado dentro do projeto de design por
sua dimensão simbólica na comunicação que se estabelece com o usuário.
To Design enquanto ação, designing como atividade (J.Jones, 1992, p.3) aqui
entendida como o ato de projetar, isto é, design enquanto processo, comum a
diversas áreas (gráfico, produto, moda...) na adoção de metodologias específicas
no processo de design. Neste processo se estabelecem as relações entre o
designer industrial e o objeto (Löbach, 200, p.139), caracterizando assim o
design industrial ou de produto.
Como foi o caso da Storel Jóias, através de seu proprietário, Sr Osni Storel, que
afirmou ter grande dificuldade em encontrar um designer que entenda de
produção para o desenvolvimento de suas coleções, hoje comercializadas em
conhecidas redes de joalherias de prata. Relatou que é com freqüência
procurado por profissionais que a ele chegam apresentando catálogos de
desenhos, como ilustrações, muitas vezes propondo jóias que são inviáveis de
serem fabricadas ou que são difíceis de serem executadas nos processos
O idioma português não possui uma palavra ou expressão literal que traduza
design. O inglês e o espanhol possuem as que distinguem o desenho artístico do
desenho de projeto ou planificação (distinto do desenho técnico), a saber: draw e
design, assim como dibujo e diseño.
Gomes destaca que o motivo de Ricard enfatizar que diseño e design são a
mesma coisa se deve ao fato de haver lá, da mesma forma que aqui, diversos
outros profissionais que se apresentam como designers sem terem sido
treinados profissionalmente para isso. E exemplificando cita costureiros,
decoradores, cabeleireiros entre outros, o que tem atrapalhado e distorcido a
compreensão do que vem a ser o Desenho Industrial ou, simplesmente,
Desenho. (ibidem, p.89).
Para tanto citou a conceituação de diseño que Ricard indica, apresentada pela
ADIFAD – Associação de Desenho Industrial de Fomento de Artes Decorativas –
de Barcelona:
O design de jóias no Brasil não possuía até bem pouco tempo uma formação
específica. Sem projeto acadêmico, com escolas de cursos livres, e poucas
referências técnicas bibliográficas que dessem indicações para a capacitação
dos profissionais para a área. Ainda hoje há poucos trabalhos publicados
voltados para o assunto, especialmente no que diz respeito ao design de jóias
em sua metodologia de projeto.
Nos anos 70, nomes como Caio Mourão, Bobi Stepanenko, Reny Golcman, mais
adiante Miriam Mamber e Miriam Korolkovas despontavam na joalheria de arte,
produzindo peças com caráter de pesquisa e reflexão em relação aos tradicionais
padrões da joalheria. Renato Wagner (1980) fala na joalheria contemporânea
brasileira que “se desenvolveu em suas próprias condições de inspiração”.
Ruth Grieco inicia seu trabalho em joalheria também por volta da década de
70 e após fazer o curso na Escola Nova começou a produção de suas criações
em seu atelier com outros ourives e hoje é reconhecida internacionalmente,
tendo recebido diversos prêmios. O que vemos a seguir foi finalista do Diamonds
are Fun, promovido pelo HRD da Bélgica.
Figura 02 Ruth Grieco. Colar Puzzle, finalista do "Diamonds are Fun" HRD, 2005
Bélgica. 2005. Ouro branco e diamantes.
Fonte: < www.joiabr.com.br>, acesso em fevereiro de 2009
Foram também iniciadas diversas escolas com a mesma proposta e hoje são em
grande número principalmente em São Paulo, como a Arte Futura, California 120,
Bel‟arte, Atelier Marcia Pompei, entre outras. Em Minas Gerais, a primeira dentro
dessa renovação em joalheria foi a Escola Mineira de joalheira, de Marcos
Augusto, referência no ensino da arte joalheira, formando os principais joalheiros
e designers mineiros, onde também iniciou Bobi Stepanenko.
O marco do início da joalheria industrial no Brasil se deu por volta dos anos 70,
como nos informa Écio Morais, Diretor Executivo da AJESP/IBGM.
Em São Paulo, como relata o Sr. Osni Storel, durante a entrevista que concedeu
para esta entrevista no dia 14 de julho de 2009, já havia empresas trabalhando
com a linha de produção industrial. A sua própria iniciou em 1964, quando abriu
seu primeiro escritório. Comenta que naquela época já havia empresas como a
Trevis Jóias e a Totis que tinham muitos empregados, trabalhando com
estamparia.
Entre outros, a exportação pode ser vista como um dos principais fatores de
incentivo ao surgimento de um design que busca estabelecer uma identidade
brasileira como elemento de diferenciação em um mercado mundial competitivo.
Foi possível observar-se uma busca crescente no mercado por jóias mais
comerciais, com custo baixo e de uso cotidiano, acessível a um público maior,
especialmente entre as classes B e C, conforme a mesma pesquisa. No entanto,
qualidade de materiais e acabamentos são também exigências desse novo grupo
de consumidores que valoriza o adorno como elemento de diferenciação pessoal
e status, como validação pessoal junto a seu grupo social.
Essa jóia comercial passou a ter uma característica própria do sistema industrial
de produção, onde a divisão do trabalho faz com que uma mesma jóia seja
confeccionada em diversas etapas realizadas por diferentes profissionais,
incluindo processos industriais e de manufatura.
Observe-se o crescimento de empresas como a Vivara que hoje conta com mais
de 90 lojas e comercializa jóias em ouro e agora também em prata e aço, de
produção industrial, com custo médio, possibilitando o acesso de um público
mais amplo.
Assim foi que a joalheria no Brasil, a partir dos anos 90, assume um papel
diferenciado e importante como setor produtivo, com significativo aumento no
volume de suas vendas no mercado interno e em suas exportações, não só
através das empresas de produção seriada, mas também na produção individual
de pequenos joalheiros., como Guerreiro e Pedro Brando, além de Carla Amorim
que hoje já possui uma rede de lojas.
Exposições
3. Da criação à produção
Falar em joalheria artesanal não significa que o produto final seja reconhecido
como artesanato, aquele produzido por um único indivíduo, ligado a tradições
locais e culturas de comunidades, em geral, associadas a questões de
sobrevivência. Sobre isso comenta Eduardo Barroso Neto (2000), chamando a
atenção para o fato de que o artesanato é em geral a principal fonte de renda de
um indivíduo ou grupo familiar e as atividades manuais são, em geral, atividades
secundárias, que ocupam o tempo ocioso ou disponível, complementando a
renda familiar.
Saul Martins (1973, p.58) destaca que o “artesanato se define pelo procedimento
da ação humana de fazer objetos e não apenas pelas qualidades plásticas que
tal ação venha emprestar a eles”. Mas foi o uso desta palavra sempre associada
a objetos mais rústicos e de baixa qualidade de montagens, acabamentos e
materiais, em geral associado ao sustento de camadas da população de menor
poder aquisitivo, que fez com que se consagrasse um preconceito no setor
joalheiro, onde o artesanato é identificado nas bijuterias, em geral, de montagens
de peças pré-fabricadas em processos industriais e com poucas resultantes de
Rosa Alice França nos fala que a produção artesanal “se caracteriza pelo
domínio do artesão em todas as fases do processo de produção”.que vai “desde
a obtenção de matéria-prima, domínio de técnicas de produção e do processo de
trabalho até a comercialização do produto ao consumidor”. (FRANÇA, 2005,
p.10)
Assim, este trabalho a que nos referimos como joalheria artesanal seria o de
artesania, enquanto objeto resultante da manualidade, do fazer manual, da
técnica e do domínio do processo produtivo, desde a concepção até a
finalização pelo mesmo indivíduo, como nos mostra a figura 17.
A jóia de autor traz a expressão pessoal de seu criador, mas como linguagem
própria independente do mercado enquanto objetivo do seu trabalho, mas muitas
vezes com uma intenção de venda, já que muito dos autores tem na joalheria sua
principal fonte de renda, incluindo-se no mercado de jóias exclusivas como as da
Alta Joalheria.
De qualquer forma, esta jóia tem seu espaço no mercado junto ao público que
prestigia e valoriza a jóia criada por um artista conhecido, tendo a ela agregado
o valor de uma assinatura (marca), além de uma pesquisa formal mais profunda.
Mas é uma fatia de público muito restrita dentro do grupo de consumidores de
jóias, o que faz com que nem sempre sejam de fácil comercialização.
A jóia autoral passa a ter sua mais forte representação a partir dos anos 70, com
o movimento que ficou conhecido como Nova Joalheria, como veremos adiante,
nela se incluindo o que chamamos de joalheria de arte e a de autor.
Joalheria Contemporânea
A nova jóia, como foi chamada, trata da questão do valor em relação à idéia em
si e ao processo criativo e de produção, a partir da utilização ou não de materiais
preciosos, mas especialmente pelo uso de materiais não convencionais em
joalheria como o vidro, a cerâmica, fios diversos, resinas e madeiras, por
exemplo, tratados como preciosos em função da concepção e do modo de fazer,
trazendo uma nova leitura para o significado da jóia.
James Evans (2002) comenta sobre o livro de Ralph Turner, publicado em 1996,
Jewelry in Europe and America: new times new thinking, que os anos 80
presenciaram o mais radical espírito da joalheria quando seus limites foram
testados em formas, materiais ou no próprio modo de portar a jóia, mas que, no
entanto, não é possível datar com precisão seu início. Para Evans, foi um
momento na história da joalheria em que os artistas e designers britânicos, “em
uma colaboração social e conceitual com alemães e holandeses,
desempenharam um papel fundamental no desenvolvimento prático, teórico, de
No final dos anos 70, início da década de 80, muitos artistas passaram a
pesquisar materiais como tecidos e fibras de modo a criar formas mais leves que
o metal ou plástico. Muitos artistas classificaram seu trabalho como “wearables”,
(vestíveis!) e se voltaram para roupas, chapéus e esculturas. (C.PHILLIPS, 1996)
Alguns dos países que tiveram destaque nessa produção, como Holanda,
Alemanha e Portugal nos anos 70 ainda se destacam com trabalhos hoje,
como é o de Cristina Filipe, Presidente da PIN, Associação Portuguesa de
Joalheria Contemporânea.
Este dado pode ser de fato comprovado pelo trabalho de diversos joalheiros na
contemporaneidade, com destaque especial para Holanda, Alemanha, Holanda e
Inglaterra, Itália e Portugal, onde a Associação Portuguesa de Joalheria
Contemporânea reúne hoje artistas joalheiros e é referência para esta joalheria.
A figura 12 nos mostra o trabalho de uma das artistas que fazem parte de sua
galeria.
Pela análise percebe-se que seria difícil reunir sob a mesma definição de
Joalheria Contemporânea trabalhos distintos como os apresentados, embora
assim sejam aceitos e entendidos na Europa. Poderiam talvez no Brasil ser
considerados como artesanato, o que nos leva a questionar o uso da
nomenclatura joalheria e o próprio conceito de jóia: se apenas
considerando-a como objeto de adorno ou se como objeto realizado com
materiais preciosos em formas sofisticadas e pesquisadas.
Foi possível perceber durante a pesquisa que a Jóia de Autor e a Jóia de Arte
poderiam ser classificadas, em teoria pelo menos, de modo diferente entre si,
consciente de que será muitas vezes de difícil delimitação na prática. Mas deverá
ser objeto de uma pesquisa específica devido à necessidade de aprofundamento
de aspectos ligados à arte e à criação que se faz independente do domínio de
técnicas de produção artesanal.
Interessante ressaltar que não existe atualmente uma separação clara entre
estes conceitos, como neste exemplo:
No entanto, pelos dados observados neste estudo, seria possível identificar como
Jóia de Autor a que é concebida e produzida manualmente por seu criador,
referindo-se ao discurso do artista, tendo o objeto (jóia) como expressão de sua
reflexão ou pesquisa, tal como uma escultura, estabelecendo a possibilidade de
um diálogo com o público.
A Jóia de Arte, por outro lado, incorpora a força do trabalho do artista já expressa
em outras áreas como a pintura, a escultura, ou a arquitetura, como o exemplo
de Alexander Calder. Esta jóia seria por ele ou por seus parceiros exposta ou
comercializada, em galerias e museus. Observe-se, no entanto, que não se trata
da jóia comercial que busca a obra do artista como tema, a exemplo das jóias da
H.Stern (figuras 24, 25 e 26) baseadas no trabalho do arquiteto Oscar Niemeyer.
Estas jóias foram criadas pela equipe de designers da empresa, cujos nomes
não foram divulgados, contando com a aprovação pessoal de Niemeyer.
Mas cumpre lembrar que não há consenso sobre estas nomenclaturas. Rodolfo
Santero (2009), Presidente da ADOR, Associazione Designers Orafi de Milão,
Itália, respondendo a esta dissertação sobre a diferença entre estas duas formas
de trabalho em joalheria, define:
Suas jóias foram criadas com o conceito de serem mutáveis por oferecerem mais
que uma possibilidade de uso, como o pingente que vemos na figura 27 que
possui frente e verso, oferecendo a possibilidade de uso com ou sem diamantes.
Reny, em entrevista para esta dissertação, apresentou-nos seu ateliê e jóias que
ainda produz com mais de 70 anos de idade. Seu caderno de anotações registra
a criação e produção de 1648 peças. E acrescenta: “A produção de arte é
visceral” (Anexos, p.180).
Re
Nos anos 20, Paris testemunhava uma importante troca entre as diversas
manifestações da arte. “Artesãos, pintores, escultores, músicos, poetas e
arquitetos refizeram o mundo trocando idéias nos cafés de Montparnasse!“
(ibidem, p.174). Havia um espírito novo, como chamou Le Corbusier. Houve um
crescente interesse dos artistas pelas chamadas artes menores na qual a
joalheria estava incluída. Muitos tiveram, assim, seus nomes como criadores
também de jóias, como Bagge, arquiteto, designer de interiores e de móveis, de
papéis de parede e de tecidos, que colaborou com a Maison Fouquet. O pintor
Leveillè criou jóias em cristal com gemas lapidadas, combinando com esmalte e
ouro.
Porém, como ressalta Sylvie Haulet (1995, p.67), no meio a contradições entre a
nostalgia do Art Nouveau e o mundo „moderno‟, um grande número de
similaridades caracterizou a joalheria deste período, como a utilização de gemas
coloridas em novas combinações e a experimentação de novos materiais. O
manifesto da UAM (Union des Artistes Modernes) publicado em 1934 foi
eloqüente em relação às múltiplas possibilidades que eram oferecidas pela
grande variedade de materiais, raros e “humildes”, e declarava:
A Alta Joalheria na Itália, por exemplo, pode ser reconhecida hoje na definição
da Joalheria VIP, a que possui formas sóbrias, elegantes e pesquisadas,
trabalhadas a mão ou em microfusão (fundição de alta fusão), de excelente
acabamento nos metais, em superfícies polidas ou com efeitos de texturas na
superfície. É a jóia que privilegia o uso do ouro em todas as suas variações de
cores, obtidas através de ligas (amarelo, branco, verde, rosa, violeta, negro,...),
além da platina, gemas preciosas, pérolas e diamantes.
Esta pesquisa identificou não haver clareza na definição dos trabalhos realizados
em nosso país como sendo os da Joalheria Contemporânea com a mesma
categorização por grupos ou associações como encontramos em outros países
como Portugal, através da PIN, ou na Holanda, Alemanha e Itália, em galerias
especializadas como a Galerie Orfèo em Luxemburgo.
Comenta ainda Bettina Terenpins (2007): “Aqui em São Paulo, vivemos o dilema
de perguntar: que Joalheria é esta: é jóia, é arte, é design? Aqui em São Paulo,
vivemos o dilema de perguntar ‘Que Joalheria é esta: é jóia, é arte, é
design?’, como diz a minha parceira de curadoria, Mirla Fernandes.” A loja
ZonaD e a Galeria de Designers, são dois exemplos de espaços destinados a
esta joalheria na cidade de São Paulo.
Muitos nomes surgem nesta nova joalheria no Brasil, em uma constante troca
com o mundo da arte e que mereceria maior destaque como movimento real,
efetivo na nossa joalheria. Mas, ainda mais uma vez, há uma delimitação ou
entendimento que certamente deverá ser motivo de debates futuros, por conta da
definição do conceito de jóia. Vários dos exemplos que encontramos seriam
antes de fácil identificação como bijuteria e talvez os artistas que trazem
conceitos importantes e reflexões profundas em relação ao adorno em si e às
possibilidades que são oferecidas pelos materiais (antigos e novos), vindo
No entanto, há ainda uma outra área de atuação dos joalheiros brasileiros que
poderia se classificar como Alta Joalheria, mas que em função de suas
produções serem criadas e executadas por seus criadores, podem ser
identificadas também como Joalheria de Arte. Nesta linha de pensamento
podemos incluir aqui o trabalho de artistas como Maria José Cavalcante e Chis
Lanza.
Pode-se assim perceber com este estudo que em muitos momentos os trabalhos
se mesclam entre as possíveis classificações e por esse motivo, nesta pesquisa,
consideramos apenas os dois grandes grupos de criação da joalheria, a saber: o
da Joalheria de Autor e o de Design (industrial).
De acordo com Chis Lanza, uma das mais destacadas artistas joalheiras
brasileiras contemporâneas (Figuras 40 e 41), seu processo de criação se dá a
partir de uma gema ou de uma forma concebida intuitivamente para recortar e
torcer o metal até chegar ao objeto final pela experimentação das possibilidades
plásticas do material. Quando se trata de uma gema de lapidação especial,
procura analisar sua forma e a interação com o metal. A partir daí, com técnicas
de ourivesaria tradicional, passa a elaborar a configuração que muitas vezes se
modifica de acordo com o andamento da produção. Logo, a forma final não é
prevista nas etapas iniciais. Para Chis Lanza a idéia inicial da jóia não é
projetada em desenho. Segue intuitivamente a configuração idealizada e parte
para a execução em bancada. Outras vezes encaminha a produção para um
outro ourives, quando define oralmente a configuração a ser produzida.
Paula Mourão hoje é a responsável pelas aulas em seu atelier e tem uma
produção que pode ser inserida no conceito de Joalheria Contemporânea por
suas propostas e pelo conceito inovador na utilização dos materiais. É também
associada à PIN, Associação Portuguesa de Joalheria Contemporânea e tem
seus trabalhos expostos internacionalmente. (figura 43). Caio Mourão deixou-nos
também em seu livro “Prata da Casa: Estórias de um funileiro” (2003) , relatos de
sua maior paixão.
A Joalheria de Arte no Brasil, foi documentada em livro nos anos 80 por Renato
Wagner, artista plástico e joalheiro, na rara bibliografia existente que documenta
elaborado de modo pessoal pelo artesão e o resultado será fruto desta decisão
individual.
Michel Striemer (2005), um dos nomes de maior destaque a partir dos anos 80
na joalheria autoral, proprietário da Escola de Joalheria California 120, comenta:
Cabe destacar que nas exposições de joalheria autoral que vemos hoje
realizadas no Brasil, muitos dos que expõem e se apresentam como designers,
são criadores de jóias que confiam a ourives especializados a reprodução de
suas idéias, não sendo necessariamente feitas pelo próprio autor.
Este trabalho que se realiza nas bancadas dos ateliers e oficinas tem a
importante missão de manter viva a tradição da antiga técnica de ourivesaria que
correu o risco de se perder em função de inúmeros fatores, entre eles, o alto
custo de seus produtos, o que o distanciava do grande público, mantendo a jóia
com a imagem de ser objeto de luxo, quase inatingível. Écio Morais, Diretor do
IBGM, costuma ressaltar a necessidade de trazermos a jóia para o dia-a-dia das
pessoas, “tirando-a do pedestal”.
Assim, pela diversidade dos processos criativos dos muitos profissionais que
vêm atuando no Brasil, a joalheria na contemporaneidade, em suas diversas
faces, traz em si o discurso da criação artesanal e do design industrial, ou de
produto, abrindo um leque de possibilidades conceituais e criativas na
abordagem do design de jóias, enquanto projeto, artesania e arte.
Importante lembrar que a assinatura das jóias foi costume mais freqüente a partir
dos anos 20, nas jóias das maisons como Cartier, Boucheron, Van Cleef & Arpels
e Chaumet, mas outras como Mauboussin e Boivin não a tinham como regra. No
entanto, por lei, as jóias deveriam trazer a marca do fabricante, mas esta muitas
vezes desaparecia, fosse pelo uso ou pelos polimentos constantes, fazendo com
que um grande número de peças daquele período tenham difícil identificação.
Muitas das peças da chamada Alta Joalheria (Haute Joaillerie francesa)
A produção industrial de jóias tem seu maior destaque naquele período, com o
surgimento da costume jewellery que antes aparecia desde a Renascença para
uso no teatro, como imitação de jóias, mas não era de uso cotidiano comum
entre as pessoas. Após a guerra, passa a ter produção independente e original,
como contraponto a Haute Joaillerie de peças únicas, reproduzindo peças em
grande escala, mantendo preços razoáveis.
Note-se que este termo é de difícil tradução: costume jewellery traduz-se nos
dicionários como bijuteria, no entanto não pode ser considerada a bijuteria de
hoje. Muitos dos materiais que a caracterizaram naquele momento, como o coral
e o marfim, hoje são considerados materiais nobres porque raros em muitas de
suas variações. A prata na Europa, por exemplo, é vista como material precioso,
como de fato é. No Brasil não foi dado o devido valor até há pouco. Hoje
conquista espaços nas joalherias junto ao ouro. Mas costume jewellery também
não pode ser considerada objeto de joalheria por não ser feita nos materiais
preciosos da Alta Joalheria. Na Europa fala-se em Haute Bijouterie, mas não há
paralelo no Brasil, cuja tradução, Alta Bijuteria, não foi adotada em nenhum
segmento, nem é de conhecimento da maioria dos profissionais entrevistados.
Esta questão parece nos levar diretamente para o que se apresentou neste
capítulo, a Nova Joalheria e a Joalheria Contemporânea nos anos 60, como uma
retomada destes pressupostos. No entanto, poucos artistas destes movimentos,
entre eles Emmy Van Leersun e Gijs Bakker, adotaram a produção seriada como
A jóia em ouro, ainda que mais comercial tem em geral menor escala de
produção seriada e é fabricada em processos que mesclam etapas industriais e
de manufatura.
Odair Zambon comenta ainda que o trabalho do designer não pode ser apenas o
de um desenhista criativo, mas que deve estar inserido no contexto dos
interesses de negócios das empresas. Isso se deu em função de muitos
profissionais que hoje se apresentam às indústrias como designers
desconhecerem a metodologia e as informações técnicas que fazem parte da
elaboração e do processo produtivo do objeto industrial o que faz com que suas
propostas não se ajustem a este universo.
Além do ato de desenhar, design de jóias envolve também projetar. Criar dentro
de determinado contexto, em função de determinado objetivo ou público.
John Chris Jones (1992, p.4) comenta também que na conceituação de design
muitos teóricos nem mesmo citam o desenho, que seria a única etapa comum a
todas as áreas do design, mas que basicamente estas se diferem por seus
ingredientes e que a melhor forma de se definir design seria por seus resultados.
Renata Rubim (2005) em seu trabalho sobre Design de Superfície destaca que o
designer deve ter uma integração total com seu cliente e que conhecer seu
público final é imprescindível para a realização de seu trabalho, o que também se
aplica ao design de jóias. Salienta ainda que o designer tem que “respirar” junto
com a empresa, conhecendo suas necessidades e o modo de fazer o produto
final, as tecnologias possíveis de serem adotadas, a partir das metas
estabelecidas pela equipe e caminhar junto às estratégias de marketing por ela
adotadas.
Esta questão nos remete ao que nos fala Klaus Krippendorff (2000) quando
analisa o paradigma contemporâneo do design centrado no ser humano, Human
Centered Design, voltado para bens, identidades, marcas e aparências, na forma
como as pessoas vêm a si mesmas e aos outros. Diz: “Não reagimos às
qualidades físicas das coisas, mas ao que elas significam para nós” (idem, 2000,
p.89).
Esta consciência, como segue Whiteley, fará com que o designer possa trazer
“soluções informadas, abrangentes e completas, com base em uma
compreensão profunda dos valores que dão origem ao projeto de design” (idem,
p.72).
Desta forma, o design de jóias no Brasil é hoje uma área profissional que ganha
espaço não só no que diz respeito à joalheria exclusiva como também àquela de
produção industrial em maior escala, merecendo estudo e reflexão aprofundados
sobre suas possibilidades e interações com outras áreas do design e como área
de atuação profissional que se baseia na fundamentação da metodologia de
projetos de design.
A Storel Jóias que foi visitada em julho de 2009 para a entrevista com seu
proprietário Sr.Osni Storel, é uma das que adota a prototipagem 3D em paralelo
período para que os profissionais amadureçam esta técnica, pois ainda existem
poucos habilitados a operar o programa que tenham também conhecimento de
produção. Sem este conhecimento, afirma, de pouco adianta o domínio do
programa 3D.
A empresa Kadam também visitada, alia as peças cortadas a laser pela FAB com
seus equipamentos de estamparia no acabamento das peças que compõem
suas coleções. Possui uma equipe de funcionários atuando nas diferentes fases
da produção. O corte a laser tem características próprias para seu design, já que
pressupõe modelos planos, sem relevos.
Assim também a produção industrial joalheira tem hoje na tecnologia uma grande
aliada na agilização de seus processos, com alta qualidade de acabamentos,
reduzindo também os custos finais das jóias.
Como exemplo, pode-se citar o caso da coleção criada para Luiza Brunet pela
Officina di Design, escritório de criação e projetos, lançada em parceria com a
Avon Cosméticos em 1994 que possuía um tema, Pantanal, uma Top Model
como conceito e um público tão diverso como é o da Avon. Para isso, a Avon
procurou a AJESP e lançou um concurso entre os designers a ela associados.
Neste projeto foi considerada inicialmente a produção acima de 50.000 peças
(havia 400.000 revendedoras naquele momento) e deveriam ser levados em
conta todos os limites impostos pelos processos de produção de bijuterias (ligas,
processos, acabamentos, banhos...), tendo como grande fator determinante da
decisão de compra pelo consumidor o preço final. Assim, todos os parâmetros
ligados ao público, materiais e meios de produção precisaram ser
reconsiderados, determinando muito da configuração final dos produtos. Algumas
das peças que compunham a coleção necessitaram de ajustes, em função das
limitações do próprio processo produtivo.
Em 1999, o World Gold Council publicou uma pesquisa que foi realizada em
diversos países, onde foram detectadas nove mega-tendências que seriam
válidas para esta primeira década de 2000. (Mega Trends Brasil 2000). Hoje, em
2009, essas mega-tendências estão comprovadas e são facilmente percebidas
na sociedade como um todo. Dentre as que se destacam, a valorização do eu, a
necessidade de exclusividade, de onde se vê crescer a customização em
diferentes produtos, as questões relativas ao meio-ambiente e à natureza, a
tecnologia,..enfim, tendências que falam de mudanças no comportamento das
pessoas. Hoje, vê-se esta mudança atingir diretamente o mercado consumidor
de jóias fazendo com que o setor joalheiro, especialmente o de produção e
comercialização de jóias em materiais preciosos se apresse em tentar
acompanhar seu público. Esta mudança fala de uma queda nas vendas de jóias
em ouro, como tem sido apontado pelos empresários do setor. Algumas
empresas, como é o caso da Storel Jóias, de forma inteligente e visionária,
migrou já há algum tempo toda a sua produção para a jóia de prata e é das
poucas que mantém sua alta produção. Com jóias de acabamento de alta
joalheria, as peças em prata são vistas em lojas que são como joalherias de
prata e folheados, a exemplo das lojas Attualità, em São Paulo. Uma
característica interessante em relação a esse novo consumidor é que, embora
produzidas em prata, estas jóias têm custo elevado, se comparados à joalheria
comercial em ouro, o que faz com que estes dois produtos estejam muito
próximos em relação a valores finais ao consumidor, no entanto, existe uma
Fica entendido aqui que cada segmento possui parâmetros próprios e cabe ao
designer identificá-los para direcionar objetivamente a sua criação. Cabe
lembrar também que a própria formação do designer lhe habilita a ter flexibilidade
para trabalhar com o conhecimento dos processos produtivos inerentes a cada
um destes segmentos, de modo a atender às diferentes demandas de produtos
de qualquer um, com o que concorda Eliania Rosetti, designer e proprietária do
escritório de design Solução 3D que presta serviços de criação, modelagem e
prototipagem digital para diversas empresas, tanto no segmento de materiais
preciosos, como de prata e folheados.
Esta análise não ignora as diferenças existentes entre uma jóia e uma bijuteria,
mas as considera dentro da mesma questão do design em relação à forma em si,
considerado os aspectos de estilo que se relacionam também aos diferentes
públicos, enquanto objeto de adorno. Para o trabalho de projeto do designer as
questões de configuração em relação ao uso e as interações com o corpo são
tratadas da mesma maneira e são consideradas de forma particular as
características que envolvem cada segmento.
4. A construção do projeto
As etapas gerais são comuns às diversas áreas do design, por serem passos
essenciais para seu desenvolvimento.
John Chris Jones (1991, p.63) comenta que uma das mais simples e comuns
observações sobre designing, e sobre a qual muitos escritores concordam, é que
existem três estágios essenciais em um projeto de design, a saber: a análise, a
síntese e a avaliação.
Dessa forma, esta pesquisa traz um breve estudo do que poderia ser uma
metodologia para desenvolvimento de projetos de design de jóias como uma
coleção
A partir da análise feita sobre a jóia seriada produzida em diferentes etapas que
envolvem desde a utilização de máquinas e equipamentos até as de trabalho
executado manualmente, faz-se necessário entender este processo e traçar uma
metodologia que auxilie ao designer no desenvolvimento do projeto do produto.
Esta metodologia obedecerá a etapas que irão desde a definição do(s) objeto(s)
a ser criado, suas principais características e parâmetros envolvidos, o
desenvolvimento do projeto em si e as etapas de apresentação, avaliação e
aprovação pelo cliente, até o acompanhamento da produção e lançamento do
produto no mercado,
Peter Phillips (2008, p.10) cita Paul Rand para reiterar que “design é uma
disciplina que soluciona problemas”. E assim pensando, o designer deverá
começar seu projeto pelo perfeito conhecimento do que deve ser realizado ou
solucionado. Desta forma, antes de se iniciar o processo será necessário
responder a algumas questões em relação aos objetivos a serem alcançados, à
necessidade do projeto em relação ao momento do mercado e sobre as
expectativas quanto ao seu resultado, entre outras
Como nem sempre está ao alcance do designer uma pesquisa oficial atualizada
sobre segmentos de mercado, é possível se orientar pela percepção pessoal de
movimentos do comportamento de grupos sociais, baseado na observação
participativa como fala Dario Caldas (2004, p.41). Comenta que é possível
estabelecer, via psicologia comportamental, uma metodologia de estudo das
tendências a partir da observação do próprio indivíduo. Através de uma análise
de seu gestual, fala, movimentos, roupas e o modo como “arruma sua casa ou
seu escritório”, pode-se perceber sinais sócio-culturais que possibilitam a
interpretação e elaboração de contextos ou cenários. Estas tendências deveriam
Assim, estas coleções são criadas com materiais de menor valor, como é
comum acontecer, com pedras (em vidro ou sintéticas) que acompanham as
cores que a moda ditadas pela estação.
Paralelamente, Sue Jenkins Jones (2005, p.51) comenta que “é difícil dizer onde
um estilo se originou [...] especialmente pela velocidade de informação de que
dispomos através dos meios de comunicação e acrescenta”:
Conclui-se que a moda que está nas vitrines, seja aqui ou no exterior, pode ser
considerada como passado para o designer. Sua fonte de inspiração está nas
nuances de comportamento da sociedade, anteriores à moda lançada pelas
empresas, a exemplo do Catálogo Gold Trends 2000 do WGC, World Gold
Como outro exemplo vem da pesquisa realizada por Dario Caldas para o IBGM
sobre a jóia e o público jovem revelando que a jóia os remete a valores afetivos e
destaca:
Como já citado por John Chris Jones (1992), o desenho é o único ponto comum
a todas as áreas do design. Desenho enquanto linguagem, como comunicação
entre designer e cliente.
O desenhista tem que ser também prático, com princípios, regras e conceitos em
relação à organização visual.
Wucius Wong (2001) comenta que podemos considerar um bom desenho como
a melhor expressão possível da essência de algo, seja uma mensagem ou um
produto. E o desenho é prático.
Em torno de 1907 já não trabalhava apenas para Lalique. Seu trabalho se dividia
entre jóias e acessórios, “quase sempre concebidos a aquarela ou a guache, são
executados em papel pergaminho tornado transparente com óleo de linhaça,
proveniente das papelarias Rives” (Ibidem,p.177), totalmente integrados ao
movimento da criação da época, desde as referências à Renascença, como ao
século XVIII, traçando arabescos que cinzelava em metais preciosos. A figura a
seguir mostra o detalhamento de um de seus desenhos.
Nas cinco fases que Redig apontou aqui se encaixam, o depurar e o inovar,
como a racionalização das soluções e o buscar de soluções inovadoras, no
sentido de procurar novas formas e funções, ao que se poderia acrescentar
novas combinações de materiais no caso específico do setor joalheiro.
Löbach comenta ainda que a fase de geração de idéias é onde se deve utilizar a
livre associação. Acrescenta que “a preocupação intensa demais com os fatores
restritivos inibe o processo de produção de idéias” (Löbach, op.cit., p.153) e por
isso, embora difícil na prática, deve-se procurar um distanciamento entre a fase
analítica e a criativa. De fato, trabalhar com parâmetros limitadores em relação a
custos, por exemplo, pode dificultar a criação, mas é para muitos, no entanto,
fonte de maior criatividade, já que a limitação obriga o designer a pesquisar
outras possibilidades.
Cumpre lembrar que o joalheiro pode utilizar esboços para uma primeira idéia do
que irá produzir, mas no projeto de design é etapa obrigatória, como “primeira
troca de impressões com um cliente” (ibidem, p.28).
para que sejam feitos ajustes no detalhamento, caso haja necessidade. Este
acompanhamento deve ser previsto na proposta de trabalho inicial, para que o
produto final não tenha um resultado diferente daquele previsto nos desenhos, o
que até aqui foi comum acontecer, como observado nas visitas às fábricas. A
modelagem pode ser feita em metal, cera ou prototipagem rápida (3D), através
de programas como o AutoCAD, e o mais usado pelas empresas no Brasil, o
Rhinoceros ou o RhinoGold com diversos recursos específicos, como medidas
de gemas, padrões de acabamentos e cravações, fornecendo até mesmo o peso
da peça de acordo com o material estipulado, entre outras facilidades.
Dessa forma, “desde antes do começo” do projeto, como cita Chico Homem de
Melo (2005), seu trabalho inicia na identificação de uma questão a ser
pesquisada, seja por ele detectada ou que venha por demanda de um cliente, e
após o fim, já que o trabalho do designer não termina com a entrega do projeto.
Avaliando resultados e acompanhando o produto em sua vida junto ao usuário, o
papel do designer é o de manter a comunicação com seu público, através da
interação que se estabelece com o objeto.
Cita-se aqui Chico Homem de Melo pois embora seja baseado no Design
Gráfico, possui abordagem abrangente de metodologia de projeto que se aplica
ao Design de Jóias e a outras áreas do design.
de forma inovadora.
5. Considerações Finais
Por outro lado, este estudo demonstra que o problema maior é tratar todas as
atividades criativas sob um mesmo parâmetro chamado design. Um simples
exercício de não utilizarmos essa nomenclatura para identificar os trabalhos dos
diferentes profissionais, nos permite ver com clareza os diversos nichos em que
estão inseridos e os espaços que ocupam.
Vimos também que a “ Nova Joalheria”, conforme ficou conhecida nos anos 70,
influencia até hoje a joalheria brasileira e internacional. Aquela nova forma de
6. Referências
CHAZAL, Martine. George Deraisme. In: Paris 1900, na coleção do Petit Palais
Catálogo da exposição realizada no Museu de Arte de São Paulo Assis
Chateaubriand de 5 de agosto a 5 de outubro de 2002- Museu de Belas Artes da
Cidade de Paris. São Paulo: MASP, 2002
FERNANDES, Mirla. A nova joalheria: Projeto Nova Jóia 2007, Galeria Zona D,
São Paulo.Folheto. Disponível em:
<http://www.mirlafernandes.com/expo/novajoia.pdf>. Acesso em: 02 de julho de
2009
FRANÇA, Rosa Alice. Design e artesanato: uma proposta social. Revista Design
In Foco, Bahia, v.2 , n. 2, p.9-15,jul/dez! 2005.
HAULET, Sylvie. Art Deco Jewelry. Londres: Thames and Hudson, 1985
HORTMANN, Dorotéia. Muita História pra Contar: Amador Prado. In: Joalheria
de Arte/Destaques 2007, Portal Jóiabr. Disponível em
<http://www.joiabr.com.br>, acesso em 02 de fevereiro de 2009.
JONES, John Chris. Design Methods. New York: Wiley, John & Sons, 1991
KOPLOS, Janet. Crossing the line - art jewelry: Emmy van Leersum, Art &
Project Gallery, Amsterdam, Netherlands – Design. In: Art In America.
Findarticles.com. 01 Oct, 2009., 1993. Disponível em:
<http://findarticles.com/p/articles/mi_m1248/is_n12_v81/ai_14637390/>, acesso
em setembro de 2009
LEAL, Joice Jopert (org. Textos). Um olhar sobre o design brasileiro. São
Paulo: Objeto Brasil, 2004
LEITE, João de Souza. Projeto. In: COELHO, Luiz Antonio L. (org.). Conceitos-
chave em design. Rio de Janeiro: PUC-Rio, Novas Idéias, 2008
PHILLIPS, Clare. Jewellery from Antiquity to the Present. London: Thames &
Hudson, 2008.
SALEM, Carlos. Jóia, o Segredo da Técnica. São Paulo: 2ooo Ed, 2000
SANTINI, Hécliton. A arte do Design. In: LEAL, Joice Jopert (Org.) Um olhar
sobre o design brasileiro. São Paulo: Objeto Brasil, 2004
TERENPINS, Bettina. Nova Jóia. Folheto. Exposição Projeto Nova Jóia, Galeria
Zona D, São Paulo, 2007. Disponível em
http://www.mirlafernandes.com/expo/novajoia.pdf acesso em 02 de julho de 2009
TURNER, Ralph. Jewelry in Europe and America: new times new Thinking.
Londres: Thames & Hudson, 1996.
7. Glossário
Alta Joalheria – um paralelo à Haute Joiallerie dos anos 20, hoje feita com os
mesmos materiais preciosos, ouro, prata, diamantes, gemas especiais. com
lapidações elaboradas. Desenho sofisticado. (ADOR, 1997)
Alta fusão – fundição de alta fusão – diz respeito ao ponto de fusão dos metais
utilizados (em torno de 1000 graus centígrados). Em geral ouro, platina, prata e
algumas vezes o latão (liga) entre outros, podem ser submetidos a esse
processo. Os modelos iniciais podem ser feitos em metal ou cera. Os moldes são
feitos em borracha vulcanizada e no processo seguinte o metal é injetado para
dentro de um cilindro de aço que contém o gesso com a árvore dos modelos em
cera, os quais serão convertidos em metal após a injeção. Após o resfriamento
tem-se o modelo em metal (visita à fábrica)
Baixa fusão – Fundição de baixa fusão – refere-se ao ponto de fusão dos metais
e ligas, mais baixo do que o anterior (400 graus centígrados), é mais utilizado
para bijuterias, em geral são utilizadas ligas de metal. O processo é feito através
de molde redondo de borracha vulcanizada, a “pizza”, que vai em uma
centrífuga, onde o metal preenche todos os modelos ali depositados. (visita à
fábrica)
para fora do modelo.O resultado final é o de uma peça oca, leve, ideal para
peças de grandes volumes. (Fonte: visita à fábrica)
Gemas – pedras naturais que também podem ser lapidadas para uso em
joalheria/ Qualquer pedra preciosa (Michaelis).
8. Anexos
Conceito
A idéia principal do Concurso é buscar novas inspirações para jóia em ouro voltada ao públic o jovem,
como forma de aproximá-lo do universo da joalheria.
Desmistificar a jóia e trazê-la para o uso cotidiano é o principal objetivo do concurso, preservando
sempre seu valor simbólico.
Proposta
Criar projetos conceituais, compondo um look (jóia + traje) e, a partir delas, posteriormente
desenvolver coleções a serem produzidas em série, em processos industriais.
Materiais
O ouro deve ser o material principal, em qualquer de suas cores, associado ou não a outros materiais,
como gemas (pedras preciosas), materiais naturais como sementes e couro, entre outros.
Apenas não serão aceitos materiais naturais e de animais protegidos por leis ambientais.
Público-alvo da Criação
Jovens na faixa etária de 12 a 24 anos.
Conceito
Deve-se dar ênfase para aspectos que privilegiem a leitura de um design brasileiro, seja na busca de
referências visuais ou materiais, sem, no entanto, trazer elementos óbvios do folclore ou tradições.
Propõe-se uma reflexão sobre os traços culturais que nos influenciam em formas e materiais.
Participantes
Todos os alunos das Escolas de Moda e Design de São Paulo.
*Cada projeto deverá ser elaborado por, no máximo, 2 alunos.
Inscrição e Projetos
A primeira etapa de pré-inscrição estará aberta até o dia 07 de novembro de 2006.
Na primeira etapa, o candidato deverá apenas preencher a ficha de inscrição, formalizando seu
interesse em participar do Concurso e garantindo sua participação no evento de lançamento.
A inscrição final será efetivada com a apresentação formal dos projetos às escolas.
A etapa inicial do projeto será a apresentação em desenhos, acompanhado de memorial descritivo.
As pranchas deverão conter o rendering (apresentação artística) e especificações técnicas, como
materiais e medidas.
O conceito deve ser apresentado e justificado, também com referências visuais, em prancha, além do
Memorial Descritivo.
O formato das pranchas deverá ser em tamanho A3 (29,7 x 42 cm) montado sobre suporte rígido
(papel Paraná, Horle, Metier ou similar).
Sugere-se 1 prancha para conceito e referências visuais,
1 Prancha para apresentação do conjunto de jóia e roupa
1 Prancha para apresentação da jóia separadamente, em escala 1;1
1 Prancha para detalhamento técnico da jóia (materiais e medidas)
1 Prancha para detalhamento técnico do traje (materiais, acessórios)
Premiação e Divulgação
Os prêmios serão assim distribuídos:
1º Lugar R$ 3.000,00
2º Lugar R$ 2.000,00
3º Lugar R$ 1.000,00
Se a inscrição for feita em dupla, caberá à mesma a divisão entre os participantes.
Os 10 finalistas ganharão também uma bolsa de estudos válida para um dos cursos ministrados no
sistema Ajesp Sindijóias.
Cronograma
Disposições gerais
O IBGM reserva-se no direito de utilizar, para fins de publicidade em geral, todo material que julgue
conveniente, entregue para julgamento pelos concorrentes, sem nenhum ônus, a qualquer título.
A participação no concurso implica no conhecimento e aceitação integral deste regulamento, e seu
não cumprimento implicará na desclassificação dos desenhos.
As réplicas passarão a ser de propriedade do IBGM, promotor do Concurso, e a fazer parte de seu
acervo, podendo ser usadas em exposições, feiras, catálogos, e todo material promocional do
Instituto e de seus parceiros, sempre com a divulgação do nome de seus autores.
_________________________________________________________________
onde foi apresentado o processo de fabricação de jóias em aço por corte a laser
e a montagem de correntes em suas diferentes etapas; a ACP, onde fomos
recebidos e guiados por seus proprietários, Antonio Carlos Paroli e Carlos
Eduardo Paroli, com o processo de eletroformação de jóias em ouro e prata; a
Guimmy, indústria de jóias em prata, quando foi possível acompanhar o trabalho
de Flavia Malamam, sua designer e foi feita a visita às instalações com a
orientação de Fulvio Drago, também Diretor da ALJ, Associação Limeirense de
Jóias.
8.5.1 Entrevistas
____________________________________________________________
Hécliton Santini
Presidente do IBGM, Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos, Brasília, DF.
Em 19 de outubro de 2009
_________________________________________________________________________________
Tenho dito que, no setor joalheiro, chegamos a um tal grau de amadurecimento que o
design deixou de ser um fator de diferenciação, passando a ser um atributo inerente à
própria jóia brasileira. Para tanto, em conjunto com outras importantes ações, destaco a
relevância do Premio IBGM de Design, criado em 1992, para estimular a criatividade e
reconhecer a importância do designer nacional, tanto do profissional atuante quanto dos
novos talentos. O Prêmio e sua ampla divulgação, no Brasil e no exterior, foram também
instrumentos importantes para a integração desse profissional com a indústria, hoje
trabalhando em harmonia para o crescente reconhecimento da excelência do design
nacional de jóias.
____________________________________________________________
Cristina Filipe
Presidente da PIN, Associação Portuguesa de Joalheria Contemporânea, Lisboa, Portugal.
em 19 de outubro de 2009
________________________________________________________________________
Como sabe nos anos 60 quando se deu o grande boom da joalharia, a chamada new
jewellery, na Europa, nomeadamente Holanda, Alemanha, Reino Unido e também na
América do Norte, recorreu-se muito à expressão Studio Jewellery, que queria dizer uma
joalharia desenvolvida em ateliê próprio e não em grandes fábricas ou industrias. Com
essa expressão identificávamos que quem fazia as jóias era um artista, designer, um
autor!
Daí que em Portugal se use ainda muito o termo joalharia de autor, embora nos cursos e
na generalidade se use simplesmente joalharia, ou joalharia contemporânea, quando nos
referimos à actualidade.
ourivesaria e joalheria
Por exemplo, não me parece correcto chamar escultor, se o que fazemos são jóias e não
micro esculturas como por vezes se tenta dizer. A nossa maior preocupação e as nossas
referencias são em grande parte do universo da joalharia - a sua história as suas raízes.
Mas claro que a cultura material e as referencias com que se trabalha, pressupõe um
conhecimento mais vasto e depende directamente das artes em geral. Logo as Artes
Plásticas, o Design, o Cinema, a Literatura, tudo é importante e faz parte do universo de
qualquer artista, mas a nomenclatura correcta é de facto a palavra joalheiro, mesmo que
para o público em geral isso pareça ser indicador de uma certo cliché – que se é joalheiro
- faz alta joalharia, o que não é verdade.
____________________________________________________________
Rodolfo Santero
Presidente da ADOR, Associazione Designers Orafi, Milão, Itália.
Respondida por e-mail em 30 de setembro de 2009.
______________________________________________________
In Italia e anche all’estero sono due cose distinte e BEN DIVISE , anche
commercialmente.
gioielleria d'autore , ha un autore RS o Engracia che firma la linea come -a designer, -b-
come stilista di moda, -c- ?? Come architetto , etc
Questa viene venduta di solito presso negozi di oreficeria, gioielleria , che promuovo i
prodotti con un “nome “ marchio, brand, etc
gioielleria d'arte (ARTE) , è fatta da una persona “già nota “come ARTISTA ,
pittore,scultore, musicista, etc
Questa viene venduta di solito presso gallerie per pittori-scultori , a volte presso musei
____________________________________________________________
Osni Storel
Empresário, Storel Jóias, SP
Em 19 de julho de 2009
_________________________________________________________________________________
Produção
Tenho uma designer aqui na fábrica e tenho outras que eu compro desenhos. Mas eu
não aponto mais os erros. Quando eu gosto de um desenho eu compro, que vai servir
para o mercado que eu trabalho eu simplesmente adquiro aquela criação. Depois eu
passo para nossa designer para adaptar e passo para o modelista, de quem estou
próximo o dia inteiro. Tem modelos que nem precisam de mim, o que é bom. Mas tem
modelos que é preciso trocar idéias quase que diariamente. Quando é preciso chamo a
designer para acompanhar o modelista. É muito importante o designer participar da
produção dentro da firma. Peças sem pedra são mais fáceis.
Tenho um modelista que trabalhou na H.Stern por muitos anos e que eles lá também
tinham esses problemas de modelagem.
Comecei em 57. Trabalhei por minha conta própria, iniciei na semana na revolução de
64. Naquele tempo existiam algumas fábricas. A Alfa Jóias na 2 de março, com
estamparia. Tinha uns 30 funcionários, coisa assim. Tinha na Avenida do Estado a Trevis
Jóias, uma produção incrível, chegaram a ter uns 200 funcionários, também com
estamparia. A primeira empresa de fundição que eu conheci chamava Jóias Totis na
Conselheiro Crispiniano. Isso foi em 60 e poucos. Depois tinha o Haroldo, um alemão, na
Barão de Itapetininga.
A modelagem
A modelagem em cera é bem mais recente, não tem mais do que 15 anos. Eu comecei
não tem mais do que 10 anos.Agora com o sistema de prototipagem, muito avançado,
mas é muito limitado. Por algumas experiências que estou tendo, ainda precisa ser
aprimorado. Não adianta saber usar o programa se não tem conhecimento de
ourivesaria. Trabalho com a pré-cravação, minucioso e demorado, colocação de
garrinhas, custa muito caro e não é possível sair fazendo qualquer coisa. Temos alguns
cuidados de mostrar para alguns clientes para ver se gostou ou não, porque hoje de cada
10 modelos se você não acertar pelo menos 6, tudo fica muito caro. Tem que ser
estudado, pensado muito bem, se a peça vai dar certo ou não. O mercado está muito
competitivo. De uns 15 anos para cá o mercado ficou muito competitivo. Quando
comecei a fazer produção nos anos 70 você vendia muito e tinha poucos concorrentes.
Tem gente boa e se você tem que se concentrar muito em tudo isso.
Uma pessoa preparada com disciplinas de design e da joalheria, vai ser muito útil ao
mercado. Depois é claro tem que fazer um estágio. O mundo inteiro hoje vive em torno
do design. A indústria automobilística teve um grande desenvolvimento quando o
departamento de criação passou a trabalhar junto com a Engenharia.
Empresas e o design
Tem a Vianna, a Vancox, a Danielle, a Mirandouro, Constantini, são empresas que estão
muito bem atualizados e eu admiro muito. Estão bem preparados e acompanhando
quase tudo o que se faz lá fora. A maioria das tendências vem de fora. Mas para quem
trabalha com pedras brasileiras já inverte. Em Minas Gerais há designers bem adiantadas
e eu admiro bastante.Antigamente, nos anos 50 ou 60, as únicas pedras valorizadas eram
o topázio imperial, turmalina, ametista, água-marinha, mas se vendia nossas pedras, não
jóias montadas. O mercado hoje aceita pedras de menor valor e bem montadas ficam
muito bonitas.
____________________________________________________________
Tufy Karam Geara
Empresário, proprietário da Joalheria Karam Geara, Paraná, e Presidente da ARJEP, Associação dos
Relojoeiros e Joalherios do Estado do Paraná.
Em 03 de agosto de 2009
_________________________________________________________________________________
Meu nome é Tufy Karam Geara, sou joalheiro, trabalho com jóias manufaturadas em
conjunto com minha sócia (sua esposa) que é designer. Nós criamos alguns processos
que vem de encontro com o que a joalheria precisa atualmente como a beleza da jóia,
preço, qualidade e o seu visual. Para conseguir isso deve haver uma união de diferentes
trabalhos, que pode ser comparado ao projeto de um arquiteto, pois a jóia é desenhada
em papel milímetrado, depois ela é analisada pelo chefe da oficina, que deve entender
aquele projeto que é o desenho, e saber transmitir isso a partir de seu trabalho.
Portanto, você cria uma categoria de leitura que a maioria dos joalheiros não tem, pois
na verdade o designer “joga” o projeto, complicando o projeto. Em função disso,
formamos em nossa oficina ourives com idade de 15 a 20 anos, para que quando eles
vejam o projeto de uma jóia, já possam fazer uma leitura total do desenho, criando um
processo de fabricação.
Sim, sem nenhuma etapa industrial. Se analisarmos a grande mudança que ocorreu na
joalheria moderna, após a chegada da fundição, foi o início da produção dos moldes,
mais ou menos pela década de 70. Neste período, os ourives que anteriormente
ganhavam bem e conseguiam um bom padrão de vida com o seu trabalho acabaram se
adaptando a essa funçaõ de fazer moldes, e as pessoas acabaram não querendo mais
manter a tradição de sua profissão e passar esse conhecimento para seus filhos. Nós,
pelo contrário, contínuamos remunerando o profissional, contínuamos fazendo a jóia à
mão, por que este processo tem que ser mantido, pois tem um diferencial, um
acabamento aprimorado.
___________________________________________________________
Pierangelli Mora
Diretora/proprietária da Corsage.
Em 15 de julho de 2009, na AJESP, São Paulo.
_________________________________________________________________________________
A Corsage tem 3 anos de varejo, mas o fundador (seu pai) já vem no setor joalheiro há
mais de 30, 40 anos trabalhando como atacadista.
A empresa e o design
Temos um estúdio de design terceirizado que faz todo o projeto de pesquisa. Nós
criamos um “briefing” de coleções e este estúdio vai pesquisar sobre este perfil,
apresenta os desenhos técnicos chegando até o ponto final do processo que é o preço
que chega ao consumidor. Todo o produto que é desenvolvido tem um conceito por trás,
então não é só um desenho, tem todo um embasamento por trás do porque que aquele
desenho surgiu, e isso ajuda muito na venda porque você consegue mostrar para o
cliente o porque daquela jóia ser daquele jeito, o que ela tem de diferente.
Os briefings
Um exemplo é uma coleção que pensamos que foi chamada de “jóias do bem”, que
acabou sendo desenvolvida e está na nossa loja. O objetivo dela era se chegar a uma jóia
que levasseem conta conceitos como a responsabilidade social, o “cunho do bem”. A
partir daí houve uma pesquisa que acabou resultando em quatro linhas de “jóias do
bem”. Portanto, o “briefing” é muito genérico e não está necessariamente associado a
uma tendência de moda, pode estar ligado apenas a um conceito. Recentemente
estamos criando uma coleção que seria uma “coleção de resgate”, ou seja, que resgate
algumas coisas que foram sucesso no passado e que está relacionada também à joalheria
internacional, na questão de como estão trabalhando, na questão do produto, da
logotipia, da marca em si, envolvendo uma pesquisa que é muito importante para
criarmos um produto que se adeque à nossa necessidade. Tudo isso é muito embasado
em pesquisa, sendo importantíssimo esse papel de se chegar até o preço final. Às vezes
trabalhamos com um outro perfil de profissional que não tem tanto esse olhar “macro”,
só tem o olhar do desenho, e aí o desenho que todos acham lindo acaba indo para a área
técnica onde se descobre que ou não tem como ser feito ou o seu preço é inviável.
Então, se a pessoa não tem esse conhecimento do começo ao fim, você perde muito
tempo no ajuste do projeto que muitas vezes é trabalhoso.
É um grande diferencial para todo o profissional que quer ser um designer de joalheria,
porque hoje não tem como, até em questão de tempo. Além disso é muito importante
que este profissional entenda o seu público, o comportamento deste público, o que
motiva o consumidor na hora da compra. Isso porque hoje o mercado é fomentado por
uma necessidade que não estava latente e que você que cria no consumidor.
A joalheria artesanal
Até pode ter alguma representatividade como um produto de arte ou na alta joalheria,
porém não tem a mesma conotação que tinha antes. Mesmo na alta joalheria a forma
artesanal tem um papel muito comercial, diferentemente do que era visto no passado
daquela jóia única que era feita a mão, ou seja, que realmente não poderia ser
reproduzido novamente. Hoje, o colar mais caro que temos é feito na produção, então se
eu quiser produzi-lo denovo eu tenho a borracha, eu faço a fundição e tenho outro.
____________________________________________________________
Carlos Eduardo Paroli
da ACP Indútria e Comércio Ltda, Limeira, SP.
Em 19 de julho de 2009
_________________________________________________________________________________
Em 1970, com uma crise no mercado mundial, o ouro ficou muito caro e migraram para
a fabricação de bijuteria (e mostrando foto)...Esta aqui e a fábrica do meu avo aqui em
Limeira, quando começou em 1942. Não sei se vc já ouviu falar no Roberto Gulo,
sobrinho do meu avô, Eduardo cardoso, Carlinhos...Silvio Cavadin, que também montou
uma joalheria aqui e até o hoje o filho dele exerce o oficio...
Não sei se já tinham outras indústrias em São Paulo, talvez sim, mas no interior era ele e
era muito grande....A fábrica do meu avô era muito grande, tinha muitos
funcionarios....pelo que se ouviu, naquela época eram 40 funcionários. E aí dos
funcionarios da firma, começou a Malisa, a União Jóias... Eram todos gerentes da minha
avó que aí já dirigia a empresa. E foram montando suas empresas, como o Sr Orlando
Brigato....
___________________________________________________________
Dorotéia Hortmann
Editora/Gerente de Conteúdo Portal Joiabr, Belo Horizonte, MG
Em 12 de outubro de 2009
_________________________________________________________________________________
O Portal Joia br foi lançado em março de 2000, com o objetivo de fornecer informações
qualificadas sobre o setor joalheiro na Web*. Foi pioneiro por divulgar, além dos
principais acontecimentos ligados ao mundo das joias, um completo calendário de
eventos, artigos técnicos, entrevistas e concursos de design. Posso afirmar, com
*Vale citar que, na época, somente havia no Brasil um site de entidade de classe
nacional (IBGM) e outro que divulgava um grupo de designers de joias, mas nenhum
deles tinha caráter noticioso nem trazia informações técnicas.
Penso que a indústria nacional está caminhando para adquirir identidade própria,
deixando de lado o rótulo da "cópia fácil", como acontecia no passado, e isto se deve
muito à criatividade do design, que explora cada vez mais o colorido das gemas
brasileiras, as formas que sugerem movimento (e remetem à nossa ginga) e outros
elementos de nossa rica cultura. O surgimento de cursos de design nas Universidades e
sua crescente procura também são fatores importantes a se considerar neste processo.
No campo da criação contemporânea e autoral, não há como não falar do Atelier
Mourão (RJ), da Escola Mineira (BH) e da Escola Nova, em São Paulo, cujos mestres
revolucionaram valores e o conceito da joia no Brasil. Novos expoentes começam
a surgir nesta área. Esta nova geração deixa claras mensagens através de suas criações,
seja na maior integração da jóia com moda e a arte, seja na busca de novos materiais
que possibilitem o design ecológico e auto sustentável.
____________________________________________________________
Reny Golcman
Artista plástica e joalheira, SP.
Em 10 de setembro de 2009
_________________________________________________________________________________
Tínhamos um grupo de criava e executava suas peças. Eu crio e executo todas as minhas
jóias. Esta é uma categoria de joalheiros. O ourives executa o trabalho de outro. Hoje em
dia tudo é designer. Uma madame que resolve criar jóias, manda fazer, é designer? E
essa luta é muito antiga. O Renato Wagner já naquela época tinha essa luta, já nos anos
80. Naquela época tivemos uma reunião e decidimos chamar então de Jóia de Autor. Jóia
antigamente era um objeto de grande valor e nós nesse grupo, começamos a usar
materiais não convencionais e não preciosos, fazendo a joalheria de arte
contemporânea.
O Caio Mourão foi o nosso pioneiro. O pessoal brincava que ele jogava uma chapa de
prata no trilho do bonde durante a noite e no dia seguinte virava jóia. Como as suas jóias
tinham aparência estranha, brincavam com isso. Eu também me considero uma artista
plástica, autora de jóias que cria e faz suas jóias.
Processo criativo
escultura. Vou mudando as curvas, parto do global. Eu até fiz uma peça nova que eu
comecei pelo desenho e depois fui pelo retalho do metal. Foi feita em prata e ouro com
uma pedra. Surgiram palavras inglesas, francesas, mas não acho bom usar. Então, tem a
coleção “cronojóias” que é a de relógios, e esta agora poderia ser “dobraduras”,
“desdobramentos”, e como agora é eu estou fazendo uma coisa nova, original, eu queria
um nome para deixar...essa é uma peça nova como o relógio, são as jóias “mutáveis”,
que têm outra faceta. Descobri esse caminho, mas não quero que as pessoas copiem,
como já aconteceu muito.
Era um grupo que começou ali na Escola Nova, talvez a Miriam Korolkovas lembre. A
Escola do Ricardo englobou todos os grandes nomes que vieram. Era voltada para a
joalheria de arte. Tinha aulas de fundição. Tinha o Bobi, o Duailibi... Há hoje joalheiras
conhecidas que não fazem a jóia de arte, fazem a joalheria tradicional pura, não se
encaixam no nosso movimento.
Alguém tem que bancar, porque ninguém quer fazer isso, porque não são vendáveis,
comerciais. As pessoas hoje consomem mais os fios de pedras, em composições únicas,
originais, com boa aceitação.
Produção pessoal
Eu não quero mais vender. Faço por necessidade interior de criar e de fazer. Como as
pessoas se surpreendem de eu ainda trabalhar, eu brinco dizendo que faço para
sustentar meu marido. Aí aceitam, me deixam trabalhar...(risos). É muito bom, ninguém
deve abandonar, se aposentar. Meu marido (médico) ainda trabalha por prazer, dá aulas
na Santa Casa, ainda atende no consultório, tem muito a contribuir como necessidade
interior.
Amador Prado foi meu aluno, era um menino. Miriam Mamber também foi minha aluna.
Dava aulas no meu ateliê, na minha casa.
Trajetória
Quando me casei no Rio em 54, vim pra cá, meu marido não aceitou que eu fosse montar
um ateliê. Sou formada pela Escola Nacional de Belas Artes, então sou meio autodidata.
Eu fiz pintura, e na época, tentei me adaptar ao estilo daquela época, o abstrato. No Rio,
quando eu terminei Belas Artes que eu fiz outras cadeiras eu fiz a prova para fazer
Filosofia, cheguei a entrar e comecei a freqüentar, mas estava grávida. Então pedi ao
Professor de Didática, para me dar presença enquanto eu tinha meu filho...Ele me disse
que eu fosse cuidar do meu filho e voltasse daí a dois anos...então no outro ano
resolvemos que iríamos nos mudar para São Paulo, ele tinha terminado a Medicina lá..
Então naquele momento eu não consegui me adaptar à pintura abstrata. Tentei fazer
cerâmica. Mas um dia eu fui pro Rio e a minha prima estudava na Belas Artes e ela
estudava como Luis Watson, que fazia sandálias de cobre com solda de prata. Então eu
fui falar com o Diretor que eu conhecia para ser aluna ouvinte. Mas encontrei no
corredor um amigo que me disse que estava dando escultura em metal e ele me propôs
de ter aulas nas férias. Eu aceitei e vi que aquele trabalho eu poderia fazer em casa. Era
escultura em metal e depois quando as pessoas não valorizavam, eu dei de presente
para ela um broche que eu fiz, mas achou que não tinha valor uma peça feita em latão e
cobre. Um outro broche de cobre, feito em repuxo, eu o usei em uma reunião e o
médico me pediu um igual para sua esposa. Fiz o broche e ele me pagou 5 cruzeiros
como eu pedi. Mas como as mulheres acharam que eu estava fazendo jóias por
necessidade, eu voltei à sala onde eles estavam e devolvi o dinheiro. Era o meu trabalho,
eu já era pintora...
Era importante que alguém escrevesse sobre isso. O brasileiro é muito criativo em todos
os ramos. Eu vejo até na Medicina, no meu filho que é cirurgião plástico.
A arte e o design
____________________________________________________________
Fernanda Floret
Designer, joalheira e proprietária da Escola Arte Futura, SP
Em 14 de julho de 2009
________________________________________________________________________________
Com 24 anos de joalheria, 14 de Arte Futura. 6 anos dando aula na Escola Nova na Jaú,
como assistente do Ricardo Mattar. Com especialização na Itália, trabalha com joalheria
artesanal. Tem formação em Desenho Industrial.
Na Itália fez um curso intensivo de 3 meses com 12 horas diárias. Já trabalhou com
produção para a venda em produção artesanal. Não gosta deste tipo de produção. Peças
exclusivas de prata. Não gosta porque não é da área de vendas e acha a colocação das
peças muito difícil. Hoje trabalha apenas por encomenda. Prefere ensinar, dar aulas, do
que produzir. Dando aulas, sempre se está aprendendo.
Sobre projeto
A idéia é a mesma, o artesanal não está preocupado em planificar porque ele é quem vai
fazer. Vai discutindo passo a passo , mas a idéia está completa. Não interessa o desenho.
99% não sabe desenhar.
Público
Em geral os alunos trazem alguma coisa que viram, que gostam, que está na moda. Tem
a tendência. Mas é para uso pessoal. Se alguém gostar ela pde ser vendida. Não faz com
a intenção de vender. Pode vender, mas não é a intenção.
O perfil do aluno é o que faz o curso por hobby, mas levam muito a sério. Não faltam,
vêem três vezes por semana. Não atrasam... É uma maneira de ter uma atividade, uma
ocupação. Dá a sensação de ter um retorno. Gostam de trabalhar, então se ocupam de
outra forma. Já o aluno do curso noturno em geral faz para si mesmo. Não está
preocupado em vender.
Joalheria de Arte
Qualquer joalheria, qualquer criação já é de arte. Você criou uma peça tanto para a
indústria como artesanal ela já é de arte por ser uma criação. A joalheria como uma
escultura não é usável, então é para uma exposição, como os japoneses costumam
fazer...quilos de ouro em uma peça, gaiolas de passarinho...Mas toda criação é de arte.
O resultado da criação
A joalheria artesanal tem sempre resultado inesperado. Você tem condição de controlar
o resultado, mas se acontecer uma coisa inesperada no caminho, você pode tomar esse
caminho se você quiser.
A joalheria industrial você tem que seguir o projeto que está no papel, você tem um
padrão um limite de cstos e está de acordo com o perfil da joalheria para quem você está
criando. Você está preso aquelas especificações.
A Alta Joalheria
A expressão pessoal
O aluno hoje faz um curso por expressão pessoal, adquiri uma peça que você não vai
comprar em uma loja. Ele consegue um resultado mais pessoal e de valor muito maior do
que ele poderia comprar. As pessoas se unem, falam do mesmo assunto. Tem aluno com
14 anos de curso. Tem uma turma que está junta a 7 anos. É o prazer também de fazer
alguma coisa para si. A terapia. É tudo. Mas tem alunos que fazem e também compram
coisas para si. É mais o prazer de fazer e de ter uma criação pessoal.
Não sei quais seriam. Hoje você no shopping tem bijuteria fina e peças de fundição. A
peça em prata é mais complicada porque ela oxida e o artesão é obrigado a ir às lojas
limpar suas peças. Elas triplicam o preço. Então eu não sei e por isso deixei de fazer isso.
Acho que feiras específicas. A bijuteria fina vende muito mais pelo valor. O público da
joalheria artesanal é muito restrito. É comportamento.
A prata
As pessoas dizem que não gostam de ouro porque não podem comprar e aí dizem que
preferem prata. Gosto do ouro mesmo. São poucas pessoas que compram prata porque
gostam.
O artesanal não tem a ver com a qualidade. Se a peça tem os padrões da joalheria
tradicional, não interessa. O que interessa é que ela criou e executou a criação. Não tem
limite nem obrigação de caminho, de peso, de custo, não faz diferença. A indústria te
deixa preso a uma série de fatores. Eu não gosto do nome Jóia de Autor, ela é Jóia
Exclusiva. A indústria te impõe uma limitação tão grande que você tem que ser muito
mais criativo. A artesanal só se preocupa com o custo da Alta Joalheria. A industrial tem
que ter expressão movimento, contemporaneidade, ditar uma moda. Só que no
industrial tem o custo, tempo de produção, então é muito mais difícil., otimizar
Tem técnicas artesanais que você não pode levar para a industrial, como a filigrana.
O designer e o joalheiro
O designer de uma joalheria não assina necessariamente sua criação, mas ele é o autor.
O termo Jóia de Autor é uma forma de se proteger, de proteger seu trabalho. Quer dizer
“eu criei, eu executei”. O ourives não cria, ele executa. O joalheiro cria e executa. O
designer é um desenhista profissional. O projeto não tem que ter a ver com o designer,
tem a ver com a empresa. Provavelmente você talvez nem usaria aquela jóia ou
compraria. Eu acho horrível coração, mas quantos eu já fiz?. Me encomendam eu faço.
Às vezes a pessoa dá um start de idéia e eu sigo livre. É a melhor jóia.
____________________________________________________________
Eliania Rosetti
Designer de jóias e proprietária da Solução 3D, representante do Rhinoceros para o Brasil, SP
Em 20 de julho de 2009
_________________________________________________________________________________
___________________________________________________________
Flavia Malamam
Designer de jóias da Guimmy, Limeira, SP.
Em 29 de junho de 2009 , durante visita à Guimmy, Limeira, SP.
______________________________________________________
O trabalho na fábrica
Eu trabalho aqui na produção, os desenhos não são perfeitos porque como o modelista
fica aqui, eu esboço e já componho com ele. Então aquele desenho todo bonitinho que
vc entrega... não dá tempo. Tem coisa que já vou esboçando
Sobre tendências
Sobre tendencias de moda,vai ter uma feira aqui em Limeira e eu já escrevi uma matéria
sobre tendencia primavera-verão. Gosto de fazer a ilustração, mas na produção não dá
tempo de fazer o desenho técnico, mas dá todo aquele trabalho que vc já sabe,quando
estou fazendo a coleção...
Normalmente trabalho sob demanda mesmo. O cliente já vem com uma idéia, cada um
tem um estilo, então eu pesquiso,vejo se está dentro do nosso padrão.
Aqui por exemplo, eu recebo clientes que trazem materiais de outros designers e aí eu
vejo com o modelista. Mas não conhece uma baixa fusão, uma alta fusão, uma alta
joalheria... Isso eu vejo que falta muito...os designers que chegam tem formação,...às
vezes eles vêm da Alta Joalheria e não conhecem uma baixa ou uma alta fusão.Tem
coisa no papel que vc vê é lindo, mas na hora de produzir é inviável.
Tem que conhecer um pouco de tudo, porque nesse nosso ramo, mesmo a bijuteria,
cresceu muito a demanda.a partir de uns três naos atrás. A prata cresceu muito também,
mas a bijuteria hoje está linda...
Hoje se investe muito em design. A prata está seguindo muito a joalheria, mas também
tem um mercado mais exótico, mas exuberante também.
____________________________________________________________
Clarissa Rossato
Representante da Momusk, SP.
Em 11 de julho de 2009
_________________________________________________________________________________
Depende do cliente, mas na minha experiência pessoal percebi que depende da raridade
da pedra, porque esse cliente deseja só o melhor do melhor. Em conjunto a isso haveria
também a marca, que como no exemplo da Van Cleef, agrega muito valor a jóia. Através
da marca a pessoa busca história, busca qualidade, buscam aquela peça marcante.
As peças da Momussk são únicas, são peças muito valorizadas, e eu acredito que existe
espaço sim no mercado brasileiro. São peças desenhadas no Brasil e tem um designer
especial para a sua produção.
Até então a alta joalheria caminha pelo clássico sim, porém, existem alguns designers
que fazem alta joalheria e têm um estilo mais arrojado, então eu acredito que há sim
uma nova alta joalheria, porém que ainda cai no clássico, porque as pedras raras exigem
um certo tipo de lapidação que nem sempre aquele estilo mais arrojado irá acolher.
Além de que nem sempre o cliente deseja um estilo mais arrojado, até porque eu
acredito que a alta joalheria sempre esbarrará no clássico, no glamour, o que não é uma
coisa que seja necessariamente negativa. No Brasil eu vejo que ainda há muito pouca
informação sobre pedras, portanto, há um grande interesse no design que eu acho
positivo, porém por outro lado também é um problema sobre as pessoas não saberem a
qualidade das coisas, por isso há empresas que cobram um valor exorbitante
desnecessariamente, afetando a joalheria em geral que fica com uma fama de “careira”.
Portanto, a pessoa mais instruída entenderá que um diamante de qualidade porque ele é
raro na natureza, então a pessoa está pagando aquilo que ela requer. E é claro que o
design tem um valor agregado muito grande, mas não quando se é produzido 5 mil
unidades do mesmo, dando à joalheria uma cara muito comercial quando deveria ser
mais exclusiva. É isto que interfere um pouco no desenvolvimento da alta joalheria no
Brasil, é um desentendimento ocasionado mesmo pela falta de informação do que é
joalheria. Sinceramente, não são todos que tem a capacidade de produzir peças com
exclusividade, porque isto tem um custo. No entanto, deve haver um certo respeito pois,
apesar da grande importância do design, eu acredito que deve haver um ajuste no
mercado brasileiro quanto à realidade de valores relativos principalmente aos materiais,
coisa que acontecerá com um maior nível de cultura e conhecimento da população em
geral.
________________________________________________________________________