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Rodrigo Constantino

ESTRELA CADENTE

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Constantino, Rodrigo, 197? -


Estrela Cadente / Rodrigo Constantino. --
Belo Horizonte : Soler Editora , 2005.

ISBN 85-98183-18-0

1. AAAAAAAA - Técnicas 2. AAAAAAAA


3. AAAAAAAA 4. AAAAAAAA
5. AAAAAAAA 6. AAAAAAAA I. Título.

00-0000 CDD - 000.0000

Índice para catálogo sistemático:


1. AAAAAAAA : AAAAAAAA : AAAAAAAA 000.0000

Copyright © Rodrigo Constantino, 2005

Editor
S. Justo Junior
Revisão Crítica
Ludmila Siqueira
Revisão Ortográfica
Onofre Martins de Abreu
Projeto Gráfico & Formatação
Raquel Condé
Imagem da Capa
? / Getty Images

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S UMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................... 7
ÉTICA E CORRUPÇÃO ....................... 11
FOME ZERO ..................................... 29
ESTATUTO DO DESARMAMENTO
STA
E A VIOLÊNCIA ................................. 33

COT AS ............................................... 45
OTAS

EDUCAÇÃO ........................................ 57
ECONOMIA ........................................ 67
NEOLIBERALISMO ............................ 76
PRIVATIZAÇÃO ................................... 88
RIVA

MATERIALISMO SOCIALIST OCIALISTA A ............ 96

MST ............................................... 107


AMIZADES PETISTETISTAS AS ....................... 115

VIÉS AUTORITÁRIO ........................ 139


CONTRADIÇÕES INTERNAS ............. 149
TRAPALHAD
RAPALHAD
ALHADAA D IPLOMÁTICA ......... 153

METÁFORAS FUTEB OLÍSTICAS ....... 155


UTEBOLÍSTICAS

CONCL USÃO .................................... 159


ONCLUSÃO

NOTAS ............................................. 162


OTAS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...... 166

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Dedicado ao povo brasileiro

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INTRODUÇÃO

Dizem que o brasileiro tem memória curta. Concordo.


Justamente por isso resolvi compilar informações, possivelmente
esquecidas pelo eleitor, que demonstram várias incoerências e
confusões do PT e do governo Lula. Os dados apresentados
foram publicados nos principais veículos de comunicação e o
esforço maior foi o de concatenar fragmentos avulsos e expor a
incoerência desse governo de forma objetiva e direta. A
interpretação de dados nem foi tão necessária, uma vez
que, muitas vezes, eles falam por si só. O assunto é muito
sério; pois, mesmo os que não se interessam muito por
política precisam lembrar que serão governados pelos que
se interessam. E as medidas políticas têm profundo im-
pacto na vida de qualquer indivíduo.
O objetivo deste livro é, portanto, trazer à tona diversas
contradições do governo atual para que o eleitor possa tomar
suas decisões futuras com maior embasamento e com os fatos
ocorridos mais frescos na memória. Napoleão dizia que “quem
quer enganar o povo e governar em proveito próprio tem inte-
resse em mantê-lo na ignorância”. O mesmo Napoleão afir-
mou que “é muito melhor ter inimigos declarados que amigos
velados”. Juntando esses dois pensamentos, faz-se mister
questionar as reais intenções do governo Lula, e perguntar se
toda sua retórica, em defesa da justiça social, não representa

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apenas um meio para a chegada ao poder e uso deste em be-
nefício próprio do presidente e seus aliados. Afinal, como o
próprio João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara dos
Deputados, afirmou, o PT votou contra as reformas do
governo FHC “porque estava disputando o poder”.
O filósofo Schopenhauer dizia que “quem espera que o
diabo ande pelo mundo com chifres será sempre sua presa”,
lembrando-nos de que muitas vezes, o que parece bom é, na
verdade, o caminho da desgraça. O PT, enquanto oposição,
vendia um sonho utópico, soluções milagrosas e uma postura
de verdadeiro defensor do povo. Fazia isso por meio de muita
bravata e também prejudicando enormemente a
governabilidade, votando contra projetos sensatos apenas para
atrapalhar o governo. O PT, enquanto governo, esquece pro-
messas, deixa a ética de lado, adota medidas catastróficas e adere
como nenhum outro ao fisiologismo que tanto condenava an-
tes. Cada vez mais, fica evidente que o PT tinha um plano para
chegar ao poder, mas esse era seu único objetivo. O poder pelo
poder. Como reportou o Le Monde em outubro de 2002, Lula
teria admitido que a eleição é uma “farsa” pela qual é preciso
passar para tomar o poder.
O povo, cuja “esperança venceu o medo”, é novamente
abandonado, vendo passivamente os políticos, donos do poder,
lotearem entre si os recursos frutos do esforço dos trabalhadores
explorados pela classe política e seus aliados. A esperança cede
novamente espaço para o medo, na medida em que os fatos
aparecem, sendo impossível continuar a escondê-los atrás de
bonitas expressões. O que parecia belo fica cada vez mais feio,
e o sonho vendido vai-se transformando em um pesadelo.

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Um fato compreensível, mas ainda assim espantoso, é que
a imagem do PT no governo já se arranhou bastante, mas a
popularidade de Lula continua em alta. É o “efeito teflon”, como
nas panelas, nas quais não gruda sujeira. Lula é carismático.
Sua trajetória também agrada, por ter tido uma vida bastante
humilde e ter logrado o cargo máximo da vida pública. Mas há
que se manter em mente que ele é o chefe supremo da nação e,
portanto, responsável pelos seus subalternos. Cada ministro,
cada funcionário público, deve ser sua responsabilidade em
última instância. A ele cabe o poder de demitir os incompeten-
tes ou corruptos. E sua simpatia pessoal não deveria ser um
escudo contra um julgamento imparcial, já que o futuro do
Brasil está em jogo. Quando votam em Lula, estão levando
junto todos os seus aliados. Portanto, se o governo vai mal, o
presidente não pode sair ileso.
Atualmente, a ênfase nas eleições tem sido colocada na es-
colha do indivíduo apenas, até porque muitos não têm tempo
ou paciência para um aprofundamento das análises dos pro-
gramas e ideologias dos partidos. Isso representa um grande
risco para o país, pois nenhum homem governa sozinho. É
importante, então, que os eleitores saibam o pacote inteiro que
vem com Lula, assim como devem lembrar que ele é o respon-
sável pelo restante da equipe. A dissociação entre Lula e seu
governo precisa acabar.
Com este livro, as pessoas poderão enxergar melhor a ver-
dadeira face do PT. O discurso “politicamente correto” e sua
retórica altruísta dificultam a análise fria e racional, conquistando
muitas vezes o eleitor através da emoção apenas. A embalagem
bonita será combatida com fatos. O leitor verá como, num

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passe de mágica, a metamorfose sofrida pelo PT, quando
passou de oposição para governo, expôs todas as suas con-
tradições. Elas não são poucas.
Uma estrela cadente é algo que desperta emoções e espe-
rança em muitas pessoas. Entretanto, não passa de um meteorito
se queimando na atmosfera terrestre, causando estrago quando
consegue atingir o solo. E os desejos nunca se realizam para
aqueles que fizeram pedidos a tal estrela.
O PT se parece muito com uma estrela cadente.

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ÉTICA E CORRUPÇÃO

A principal bandeira do PT sempre foi a ética. O partido


vendia uma imagem de que era diferente dos demais partidos,
envoltos em escândalos de corrupção e acordos espúrios. Mas
essa bandeira era feita de um pano falso e não está apenas
esgarçada, mas totalmente destruída pelas traças do poder.
O marqueteiro de Lula, Duda Mendonça, o mesmo que
trabalhou com Maluf, criou uma campanha de forte impacto
na época das eleições, mostrando ratos comendo a bandeira
brasileira. O texto dizia: “Ou a gente acaba com eles ou eles
acabam com o Brasil”, e assinava “Xô, corrupção – uma cam-
panha do PT e do povo brasileiro”. A estratégia de marketing
surtiu forte efeito, mas resta perguntar o resultado na prática.
Será que o PT, após subir ao poder, contribuiu para a eliminação
desses ratos? Ou será que o próprio PT era uma ratazana
disfarçada de caça-roedores?

C ORRUPÇÃO
São tantos casos de suspeita de corrupção ou falta de ética
que é difícil decidir por onde começar. O caso Waldomiro Diniz
talvez seja interessante, por ser sintomático e ter relação com
uma das figuras mais poderosas do PT, José Dirceu. Homem
de extrema confiança de Dirceu, inclusive com fortes laços

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pessoais devido a uma ligação de 12 anos, Waldomiro foi pego
numa gravação de vídeo cobrando propina do bicheiro
Carlinhos Cachoeira. Waldomiro era subchefe de Assuntos
Parlamentares da Presidência da República, e pelas evidências
apresentadas extorquia dinheiro dos contraventores para en-
gordar o caixa do partido. O esquema contava com a estrutura
dos bingos. O PT se mobilizou para evitar a “CPI dos Bingos”,
e, em vez de estimular o avanço das investigações, decidiu sim-
plesmente fechar as casas de jogo, que geram vários empregos.
Não custa lembrar que, enquanto oposição, o PT foi líder de
pedidos de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), muitas
vezes com o claro objetivo de simplesmente atrapalhar a
governabilidade.
O ex-diretor da Caixa Econômica Federal, Mário Haag,
uma das principais testemunhas do caso envolvendo um con-
trato suspeito entre a Caixa e a GTech, teve sua fazenda invadida,
e foi espancado pelos bandidos. O crime levantou suspeitas: po-
deria não se tratar de um assalto comum. Haag foi quem de-
nunciou que a Caixa não precisava ter renovado o contrato por
25 meses com a GTech, uma vez que a estatal já teria condições
de assumir a gerência da lotérica. Waldomiro ajudou o empre-
sário Carlos Cachoeira a negociar com a GTech a concessão de
loterias estaduais para empresas de sua propriedade. Em troca,
o ex-assessor ajudaria a GTech a renovar o contrato com a Caixa,
segundo informações obtidas pelo Ministério Público Federal.
A GTech confirmou, em nota oficial, o encontro de seus dire-
tores com Waldomiro e Cachoeira. As declarações de Haag
poderiam, portanto, causar prejuízos para a multinacional, o
que contrariava os interesses de Waldomiro. O PT não

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estimulou uma investigação mais séria sobre o caso. No pri-
meiro grande escândalo onde alguém muito próximo do PT
esteve envolvido num esquema podre de corrupção, com pro-
vas contundentes, o partido adotou a estratégia de “jogar fora
o sofá”, e não averiguar de fato a “traição” do seu homem de
confiança. E Waldomiro hoje anda livre, leve e solto por aí.
Uma enorme mancha em uma suposta bandeira que prega a
ética acima de tudo.
O relacionamento do PT, com os contraventores do bicho
parece vir de longa data. O ex-governador Olívio Dutra, que
comandava o Rio Grande do Sul, considerado vitrine nacional
para o PT, esteve sob a mira de investigações por parte do
Ministério Público Federal e da Justiça depois de uma CPI
sobre a segurança pública, por denunciadas ligações com o jogo
do bicho e contribuições irregulares para o partido quando das
eleições para governador. Uma fita gravada pelo ex-tesoureiro
do partido, Jairo Carneiro, relatava o financiamento da campa-
nha do PT pelo jogo do bicho. Em uma segunda fita, Diógenes
de Oliveira, coordenador financeiro do PT gaúcho, afirmava
ter ido a Cuba com 30 oficiais da Polícia Militar para um curso
completo de formação policial. Diógenes integrou, no passa-
do, os quadros da Vanguarda Popular Revolucionária, de Carlos
Marighella, grupo responsável pela execução do americano
Charles Chandler em 1968, assim como pelo atentado ao Quartel
General do II Exército, que acarretou a morte do soldado Mário
Kozel Filho, de 18 anos. A tática do partido para abafar o caso
das fitas foi incriminar e expulsar Diógenes de Oliveira. A
postura do PT, na época, foi a de nada investigar, criando um

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bode expiatório e atribuindo tudo a um mero acidente de
percurso. A vitrine nacional do PT mais parece uma vidraça
estilhaçada.
Em seguida ao caso gravíssimo de Waldomiro, vários
outros escândalos envolvendo o Planalto foram surgindo. O
companheiro de pescarias e arrecadador da campanha do pre-
sidente Lula, o empresário Mauro Dutra, dono da Novodata,
uma empresa fornecedora de computadores para o governo que
já faturou 200 milhões de reais desde a posse de Lula, e tam-
bém da Ágora, uma ONG voltada para a luta contra a pobreza,
apareceu em um novo escândalo. O empresário conhece Lula
há quase 20 anos e já emprestou ao atual presidente sua casa de
praia e seu avião. Sua ONG foi acusada pelo Ministério Público
de desviar dinheiro, de forma fraudulenta, do Fundo de
Amparo ao Trabalhador, o FAT. Uma forma estranha de se
combater a pobreza! São pelo menos 54 notas frias e 33 empresas-
fantasma envolvidas no esquema. O dirigente e sócio da ONG
até 2003 era Swedenberger Barbosa, secretário-executivo da
Casa Civil e também homem de confiança de José Dirceu.
Um dos casos, mais importantes e, repleto de mistérios é o
que trata do assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso
Daniel. Ele foi seqüestrado ao sair de um restaurante na zona
sul de São Paulo, e seu corpo foi encontrado dois dias depois.
Existem denúncias de que havia um esquema para a cobrança
de propina na Prefeitura de Santo André. O irmão do prefeito
petista assassinado, João Francisco Daniel, garante ter ouvido
por duas vezes de Gilberto Carvalho, secretário particular do
presidente da República, a afirmação de que ele próprio
entregava dinheiro das propinas da prefeitura de Santo André

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a José Dirceu, atual chefe da Casa Civil do governo Lula. A
família do prefeito não aceita a versão de crime comum, con-
siderando a morte de Celso Daniel queima de arquivo. Ela
pediu à polícia que retomasse as investigações. Entre os pro-
blemas levantados pela família, está o fato de os anexos da
necropsia não terem sido divulgados pelas autoridades policiais,
sendo que tais documentos poderiam apontar se o prefeito foi
ou não torturado. Com acusações tão graves e preocupantes
sobre um partido que defende a bandeira da ética, o mínimo
que poderíamos esperar era uma forte dedicação do PT em
esclarecer esse crime medonho. Mas o partido trata o assunto
como resolvido; águas passadas e, não cobra uma apuração mais
detalhada. No mínimo estranho...
O recém-nomeado ministro da Previdência, Romero Jucá
Filho, que foi líder da administração do governo de FHC e
atualmente está no PMDB, disse que sua prioridade seria
combater fraudes e sonegação. O curioso, entretanto, é que o
próprio ministro tem uma dívida superior a R$50 mil com o
INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Essa quantia data
da época em que Jucá era sócio da Frangonorte, empresa que
deve hoje cerca de R$18 milhões ao Banco da Amazônia. As
irregularidades são apontadas desde as revelações sobre sete
propriedades fantasmas dadas como garantia do empréstimo.
Um documento da empresa demonstra que, 15 dias após a
assinatura do ato das garantias, Jucá seguia como proprietário
da empresa. O ministro ainda tentou se livrar da culpa, afir-
mando que “a responsabilidade de aceitar [a garantia] ou não
é de quem recebe”.
Também existe uma fita que levanta suspeita de propina
envolvendo Jucá. Ele comandou a Funai no passado, e em 1995
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foi denunciado pelo Ministério Público por ter usado órgão
público para comercializar ilegalmente madeira de terras indí-
genas. Fora isso, existem acusações de desvio de quase R$ 1,5
milhão dos cofres públicos para uso pessoal, por meio da Fun-
dação Roraima. O partido da ética na política não parece se
preocupar muito com tantas suspeitas envolvendo um impor-
tante ministro. O próprio ministro Dirceu disse que “todos são
inocentes até que se prove o contrário”. Estranha postura, para
a quantidade de evidências apresentadas. Algo jamais visto nos
tempos do PT na oposição, cujo “denuncismo” irresponsável,
repudiado pelo partido atualmente, era conduta típica.
O atual presidente da Câmara, Severino, tem sido vítima
de muitas acusações e críticas. Resta procurar saber quem era a
alternativa que o PT oferecia na eleição, para entender o resul-
tado. Luís Eduardo Greenhalgh foi advogado dos tempos “do
Lula sindicalista”, e possui relacionamento bastante estreito com
o Movimento dos Sem-Terra, grupo responsável por repetidos
atentados ao Estado de Direito. Seu radicalismo ideológico fica
evidente quando se lembra de que, numa conferência em 1989,
ele anunciou um programa para a neutralização das Forças
Armadas, caso o PT chegasse ao poder. Seu lema é “a luta faz
a lei”. Greenhalgh, apesar de entusiasta do desarmamento ci-
vil, não dispensa a presença de um guarda-costas armado com
metralhadora1, Pedro Lobo de Oliveira, ex-revolucionário en-
volvido na execução do capitão americano Charles Chandler,
que se deu na frente de sua mulher e filhos. Greenhalgh esteve
envolvido ainda, quando Secretário de Assuntos Jurídicos na
gestão da prefeita petista Luiza Erundina, no grave “Escândalo
Lubeca”. Ele foi acusado por um funcionário da empresa, Paulo

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Albanaze, de ter recebido propina da empreiteira Lubeca na
faixa dos US$ 200 mil. Erundina o demitiu na hora, alegando
quebra de confiança. E este era o homem que o PT escolheu,
em um processo obscuro, como candidato à presidência da
Câmara. Os conceitos de ética do PT precisam ser urgente-
mente revistos.
O Ministério da Saúde afirmou que investigará como lotes
de remédios, para o tratamento de leishmaniose, foram desviados
e pararam nas mãos da FARC, Forças Armadas Revolucio-
nárias da Colômbia. O ministro Humberto Costa diz não ter
suspeitas sobre envolvimento de funcionários do ministério.
Esse ministério foi citado por Lula como exemplo de boa
gestão, sob o comando do mesmo petista Humberto Costa.
Entretanto, sua gestão conviveu, nos últimos anos, com escân-
dalos de corrupção, uso político da máquina e falhas adminis-
trativas. Em maio de 2004, foi preso pela Polícia Federal um
assessor de inteira confiança de Costa, o coordenador de recur-
sos logísticos Luiz Cláudio Gomes da Silva, responsável pelo
setor de compras. A “Operação Vampiro” desbaratou uma rede
de lobistas e servidores que superfaturavam compras de
hemoderivados no ministério. A Controladoria Geral da União
(CGU) realizou uma auditoria no Ministério da Saúde e
constatou uma série de irregularidades nas compras de
hemoderivados e de medicamentos para controle de diabetes e
para o programa contra Aids. Os auditores encontraram
problemas graves, como ausência de pesquisa de preços e de
valores de referência nos processos de compras dos produtos,
descumprimento da Lei de Licitações, rateio das concorrências
entre um restrito grupo de fornecedores, superfaturamento etc.

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A insulina, por exemplo, teria sido comprada a um preço 81,8%
superior ao de mercado. Foi descoberto também que 3,2
milhões de cápsulas de Saquinavir, utilizado no combate à
AIDS, perderam a validade no almoxarifado do Ministério da
Saúde entre 2003 e 2004. O Inca, Instituto Nacional do Câncer,
sofreu denúncias de nomeações políticas em 2003, o que levou
ao pedido de demissão de diretores revoltados com o escândalo.
Eram altas as apostas de que, na “reforma ministerial”, Lula
iria demitir Humberto Costa. Entretanto, este não só perma-
neceu no cargo, como recebeu fortes elogios.
Surgiu um novo escândalo envolvendo os Correios e Roberto
Jefferson, do PTB, partido da base governista. Este foi acusado
por um funcionário dos Correios, em gravação de vídeo, de con-
trolar um esquema de corrupção dentro da estatal. Foi aprovada
a instalação de uma CPI, mesmo contra a vontade do PT. Até
surgirem provas finais, parece injusto condenar definitivamente
este importante aliado do PT. Mas as suspeitas existem, e talvez
o presidente Lula tenha sido muito confiante ao afirmar que daria
um “cheque em branco” para Jefferson. Espera-se ao menos que
o cheque possa ser sustado, caso comprovem-se as denúncias.

OUTROS F ATORES ÉTICOS


A ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, mais conhecida
como “Martaxa”, pela quantidade absurda de taxas criadas para
tomar ainda mais dinheiro do povo sofrido, nem assim conse-
guiu cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal. Diferente do
que os radicais de esquerda pensam, a lei não é uma obra
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maligna do Fundo Monetário Internacional (FMI), mas ape-
nas trata do que qualquer um que administra um orçamento
familiar sabe: gastar mais do que arrecada traz graves proble-
mas. Não são poucos os políticos que ignoram esta obviedade.
E “Martaxa” a ignorou, em nome do populismo. Para salvar a
petista paulistana dos rigores da lei, por realizar operação de
crédito irregular para o Programa Nacional de Iluminação
Pública Eficiente (Reluz) sem autorização prévia do Ministério
da Fazenda, foi decretada a Medida Provisória 237, com caráter
retroativo, que parece ter sido feita sob medida para a
ex-prefeita, buscando regularizar sua situação. A ética do PT
parece ser aquela que garante tudo aos amigos, e o rigor da lei
apenas aos inimigos.
O Banco do Brasil esteve envolvido no escândalo da
compra de 70 mesas para o show da dupla sertaneja Zezé Di
Camargo e Luciano a um custo de R$70 mil. A dupla possi-
velmente estaria de olho em um financiamento de R$15
milhões para a nova turnê. Foram arrecadados R$500 mil no
show, sendo que R$250 mil acabaram doados ao próprio PT.
Isso não é nada ético!
O PT sempre puxou para si a bandeira de proteção aos
idosos. Na hora de promessas, fica fácil. Sem a preocupação
com a viabilidade ou custo das medidas, qualquer um pode
prometer Viagra grátis para todo mundo! Mas quando se tem
que levar em conta as leis da gravidade, que podem não
responder aos desejos de todos, a coisa complica. O Brasil de
Lula presidente tornou-se o único país do mundo a cobrar
contribuição de inativos, enquanto Lula recebe aposentadoria
de anistiado com isenção de Imposto de Renda. O então

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ministro Berzoini mandou intimar velhinhos de 90 anos para
que provassem, em filas imensas, que estavam vivos! Será que
a lógica dessa medida era matar logo os coitados para resolver o
problema do rombo previdenciário?
Quando era oposição, o PT incentivava greves, mesmo que
arriscando uma paralisação da economia nacional. O partido
sempre foi um grande fomentador de todo tipo de greve,
inclusive as mais radicais. Em sua gestão, João Paulo Cunha
tornou-se o primeiro presidente da Câmara a autorizar a tropa
de choque da Polícia Militar a invadir o Congresso e bater em
funcionário público em greve. Algo típico de uma ditadura.
João Paulo Cunha, do PT, foi vaiado. O clima ficou tenso. O
sindicalista Rogério Fagundes, da Fasubra, foi arrastado e
preso, tendo sido solto somente depois da pressão dos deputados.
Um episódio lamentável que remete à lembrança de, como,
Stalin defendia os trabalhadores nos discursos, mas na prática
decretou, em 1940, jornada de 8 horas de trabalho, semana de
sete dias e proibição do operário deixar a empresa por iniciativa
própria. As ausências injustificadas, começando por atraso
superior a 20 minutos, eram sancionadas penalmente. O
contraventor era passível de trabalhos corretivos e de retenção
de 25% de seu salário, pena que poderia ser agravada com o
aprisionamento de 2 a 4 anos2. Esse decreto permaneceu em
vigor até 1956. Certas pessoas mostram uma distância abissal
entre teoria e prática.
Eduardo Suplicy abraçou a senadora Heloísa Helena e chorou
com ela na expulsão desta, dizendo que a postura dela era certa.
Mas Suplicy votou todos os projetos a favor do governo e to-
das as decisões contra os dissidentes do PT. Aliás, Suplicy é

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um ferrenho defensor dos Direitos Humanos... para bandidos!
Não se vê a mesma dedicação para defender o lado das vítimas
inocentes. É difícil entender como funciona a ética petista.
Voltando ao choro de Heloísa, o fato é que a senadora estava
cobrando coerência do PT, já que este sempre defendeu as
reformas radicais que ela tanto almeja. Desta vez, entretanto,
foi até bom que o PT tenha ignorado o que defendeu no passado,
levando a senadora às lágrimas. Não é muito justo, mas a
verdade é que a radicalização do PT, que seria coerente com
seus discursos históricos, transformaria as lágrimas da senadora
em orgasmo, mas a nação inteira cairia em pranto!
Benedita da Silva, ex-governadora carioca pelo PT, envolveu-se
numa situação constrangedora ao ir à Argentina participar de uma
atividade pessoal religiosa e depois afirmar que era um com-
promisso oficial, para justificar o uso do erário público. O
ministro dos esportes viajou para Atenas, na época das Olim-
píadas, a bordo de um luxuoso cruzeiro, com custos estimados
na faixa dos R$ 50 mil, extorquidos do bolso do contribuinte.
O ministro Dirceu viajou de Belo Horizonte, onde participou
de um evento do PT, a Brasília, fazendo uso de um avião da
Força Aérea Brasileira. Viajar com o dinheiro do povo para
objetivos particulares não é nada ético!
Durante o governo petista no RS, um deputado do PT,
Marcos Rollim, insatisfeito com as práticas do partido, denun-
ciou que as estatísticas da criminalidade foram manipuladas,
beneficiando o governo. Foi alardeado que a criminalidade
havia sido reduzida durante o governo de Olívio Dutra, mas
tratava-se de uma artimanha. Durante o governo anterior, as
estatísticas lançavam, na mesma curva, crimes dolosos e culposos.

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O governo petista, porém, lançou apenas um tipo, sem ter
ajustado os dados anteriores. Com essa adulteração, seria pra-
ticamente impossível não haver queda da criminalidade. Ma-
nipulação de dados estatísticos não é uma coisa ética!
O episódio do filho do presidente Lula e seus amigos, usu-
fruindo jantares, banhos de piscina, passeios de avião e lancha,
tudo com o dinheiro dos impostos, também maculou a reputação
da ética no partido. O presidente tinha a obrigação de vir a
público pedir desculpas pelo abuso cometido, como fez o prín-
cipe Charles, da Inglaterra, quando seu filho mais novo foi numa
festa fantasiado de nazista. Dizem que quem cala consente.
Talvez Lula não veja nada demais no fato ocorrido. Afinal, o
presidente parece mesmo confundir propriedade privada com
pública. O jardim do Palácio da Alvorada foi fotografado com
enormes estrelas vermelhas. Lula parece não perceber que sua
moradia ali é transitória. Imaginem a reação do PT se FHC
tivesse pintado enormes tucanos no jardim do Palácio quando
foi presidente!
Para absorver o PMDB na base governista, em uma clara
guinada, rumo ao fisiologismo, Lula teve que remexer nos
ministérios, e decidiu demitir o petista Cristovam Buarque, que
foi governador do Distrito Federal entre 1995 e 1998 pelo PT,
tendo depois sido eleito senador também pelo PT, e que, na
época, estava ocupando o cargo de Ministro da Educação. O
problema maior veio pela forma como se deu tal demissão.
Buarque estava em Portugal, em viagem oficial, a caminho de
um compromisso na Índia, quando descobriu que estava fora
do governo pelo telefone. Ficou profundamente magoado com

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o PT, fazendo diversas críticas ao governo depois. Quem trata
assim um aliado de longa data da base governista vai tratar
como o restante do povo?
Por falar em fisiologismo, que é a prática de políticos caracte-
rizada pela busca de ganhos pessoais: o PT sempre condenou os
outros partidos por causa disso. Na Carta-Compromisso as-
sinada por Lula em 1998 e endereçada ao povo, o então
candidato frisa: “Não permitirei a prática do ‘toma-lá-dá-cá’;
no meu governo as relações com o Congresso Nacional e os
partidos políticos serão feitas à luz do dia, com respeito e sem
fisiologismos”. Parece interessante então que logo no começo
do governo, Lula tenha procurado para a base aliada justamente
os antigos caciques da política nacional, que eram grandes ini-
migos do PT, como José Sarney. O PMDB foi logo premiado
com cargos e verbas para entrar na base governista. Indepen-
dente de afinidades ideológicas, o PT parece absorver qual-
quer um no governo, apenas para manter o trono. O povo
é mais uma vez enganado pela classe política. Em outros
tempos, tamanho descaramento seria inadmissível por
quem prega a ética na política.
Lula sempre foi um ferrenho crítico da quantidade de
Medidas Provisórias dos governos passados, com razão. Afinal,
tais MPs são de causar inveja ao antigo Decreto Lei da ditadura.
Porém, quando Lula virou presidente, seu ódio por MPs se
transformou em paixão repentina. Nos primeiros 100 dias de
governo, ele editou 16 MPs, enquanto FHC havia editado sete.
Uma das Medidas Provisórias decretadas por Lula, a MP 218,
de 2004, autoriza a União a fornecer equipamentos e auxílio
técnico aos países africanos no combate à praga de gafanhotos.

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De fato, uma emergência que justifica burlar processos legais e
partir para a canetada poderosa. Afinal, os gafanhotos africanos
estão no topo da lista de prioridades do Brasil. Outra Medida
Provisória caótica e famosa foi a MP 232, que o governo edi-
tou caladinho, no primeiro dia do ano, na esperança de que
passasse despercebida, pois decretava aumento de 32% para
40% na base de cálculo de impostos dos prestadores de serviço.
Atacava todas as pequenas empresas que pagam tributos sobre
o lucro presumido. A reação, entretanto, foi imediata, e a socie-
dade se mobilizou para evitar esse descalabro com um povo
que já paga imposto escandinavo com serviço africano. Dessa
vez o ímpeto imperialista do governo foi vencido, e a MP 232
foi derrubada.
Logo no começo do governo Lula, ainda no dia da posse
oficial, a cadela do presidente, Michele, usou um carro oficial
com motorista, pago pelo bolso dos trabalhadores. Será que
essa atitude é recomendada para quem prega a humildade e os
valores éticos numa nação de miseráveis? Será que não repre-
senta uma afronta ao povo, sofrido, que não agüenta mais im-
postos? Vai ver todo governante tem direito ao seu Incitatus,
cavalo cogitado até para o Senado no império Romano, que
contava com 18 súditos para tratá-lo. Seria então Lula o Calígula
brasileiro?
Lula utilizou o fato de FHC passar boa parte do seu
governo viajando para atacá-lo. Disse que iria passar mais tempo
no Brasil, governando para os brasileiros. E não é que bastou
assumir o governo que Lula desbancou FHC em matéria de
viagens? Em outubro de 2003, o governo Lula já tinha gastado
o dobro de FHC com viagens, no mesmo período. Em pouco

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mais de dois anos de governo, tinham sido quase 40 viagens!
Lula, até o começo de 2005, havia passado mais de 110 dias
fora do Brasil, praticamente quatro meses do seu mandato.
Somente em 2004, o custo do governo com passagens aéreas,
locomoção e diárias passou de R$ 1 bilhão. E a qualidade piorou
bastante também. Afinal, Lula visitou ditadores que representam
a escória humana, e ainda disse que foi ao Gabão aprender
“como ficar 37 anos no poder”. Lula desfilou em carro aberto
ao lado de Omar Bongo, ditador do país. O destino das viagens
de Lula, muitas vezes a nações sem nenhuma importância co-
mercial para o Brasil, sugerem o objetivo político de conseguir
um assento fixo no Conselho de Segurança da ONU. Lula fica
praticando “altruísmo” com o dinheiro do povo brasileiro,
perdoando dívidas e fazendo doações, o que apenas aumenta
a suspeita.
Não se deve deixar de mencionar as licitações para a
compra de inúmeros artigos de luxo, como roupões de banho
com algodão egípcio, realizadas pelo governo Lula. O presi-
dente, falando aos metalúrgicos do ABC, ainda disse que eles
“fazem parte de uma minoria de 8 milhões que pagam Imposto
de Renda”, complementando que, portanto, “são privilegiados
os que ganham para pagar IR”. Virou privilégio agora não ser
miserável e com isso ser obrigado a contribuir com o roupão
egípcio do presidente, ou sua visita ao Gabão. Quem banca a
festa em Brasília e as piadas de péssimo gabarito do presidente
é o povo, com seu suor e trabalho. Exploração agora é algo
considerado ético?
O publicitário Duda Mendonça foi preso em outubro de
2004 numa rinha de galos no Rio de Janeiro. Na mesma hora,

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usou de sua “autoridade” e contatos com o governo. Com ele
estava o vereador petista Jorge Babu. O delegado da Polícia
Federal, Lorenzo Martins Pompílio, acabou sendo transferido
mais tarde. Ele era o último integrante da equipe da Delegacia
de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico que participou do
caso da rinha e que ainda não havia sido transferido. No fim
das contas, todos os policiais que participaram da prisão de Duda
Mendonça foram transferidos. O procurador da República,
Rodrigo Ramos Poerson, pediu informações à polícia. Existe a
suspeita de que a equipe esteja sofrendo represálias pela ação
contra a rinha de galos. Colocar galos para brigar já não é nada
ético. Encobertar o crime de um aliado é menos ainda.
Segundo dados do senador Arthur Virgílio, o Planalto
torrou R$ 125 milhões no cartão de crédito corporativo em
2003 apenas em despesas de pequeno porte. O uso dos cartões
de crédito corporativos foi autorizado na administração públi-
ca ainda no governo FHC. O Congresso queria fazer uma
análise dos gastos com tal cartão, mas o senador petista, Aloízio
Mercadante, alegou que esses dados não podem ser divulgados
por motivo de “segurança nacional”. De repente, se o povo
ficar sabendo quanto as autoridades gastaram para blindar seus
veículos, as fronteiras poderão ficar ameaçadas! O Tribunal de
Contas da União diz que “a equipe de auditoria registra a exis-
tência de dificuldades para a obtenção de detalhes relativos às
transações efetuadas com cartão de crédito”. Será que transpa-
rência de gastos deixou de ser algo ético?
O nepotismo sempre foi condenado na política nacional, e,
recentemente, Severino Cavalcanti foi duramente criticado por
apontar parentes para cargos públicos. Entretanto, não existe
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um mesmo patrulhamento quando tal nepotismo vem do PT,
o “partido ético”. Maria Rita Garcia, esposa de José Dirceu,
seria assessora da presidência da Escola Nacional de Adminis-
tração Pública, com um salário de R$ 7 mil mensais. Márcia
Milanésio Cunha, esposa de João Paulo Cunha, seria assessora
da presidência do Serviço Social da Indústria (Sesi), com
salário de R$ 6 mil. Sonia Lourdes Rodrigues Berzoini, cujo
cônjuge é Ricardo Berzoini, seria assessora no gabinete do
deputado petista Paulo Bernardo, sem informar o salário.
Margareth Rose Silva Palocci, mulher do ministro Palocci, seria
assessora da presidência da Fundação Nacional de Saúde, ga-
nhando R$4.850 por mês. A ministra do Meio Ambiente,
Marina Silva, foi acusada de nepotismo também, e
desconversou. Seu marido é empregado no gabinete do senador
Sibá Machado (PT-AC), suplente de Marina no Senado. O
nepotismo nunca foi ético. E pelo visto, não é algo que o PT
condena quando vira governo.
De acordo com as contas do próprio governo, existem 22
mil cargos de confiança que não necessitam de concurso público.
O quadro de servidores não-concursados teve acréscimo de
84% na gestão Lula até agora. Tais cargos englobam desde o
terceiro até o primeiro escalão. Alguns contam com salário de
R$ 7,5 mil mensais. Esses cargos deveriam ser preenchidos
por critérios técnicos, objetivando a boa gestão do país. Entre-
tanto, acabam sendo utilizados para trocas de favores políticos.
O PT ocupou cerca de 15.400 destes cargos, ou aproximada-
mente 70% dos disponíveis. O poder de escolha é fortemente
concentrado no poderoso José Dirceu, ministro da Casa Civil.
O PT acabou garantindo emprego para seus correligionários,

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sem critério técnico. Os cargos públicos são usados para o for-
talecimento da máquina partidária e, a posse de uma carteirinha
com estrela vermelha, aumenta muito as chances de sucesso
para a obtenção de um emprego às custas dos pagadores de
impostos. Usar a máquina estatal, bancada pelo esforço dos
trabalhadores que pagam impostos, para alavancar o partido,
ignorando critérios técnicos, não soa muito ético.
Lula disse, no discurso da cerimônia de posse do novo
diretor-geral da ABIN, que “quanto maior a nossa responsa-
bilidade, devemos ter mais humildade”. O presidente parece
não seguir, muito, seus próprios ensinamentos. Na inauguração
simbólica da fábrica da Cobrasma, em Osasco, ele disse:
“Não pensem que vocês fizeram pouca coisa na história da
humanidade, não; possivelmente o cidadão que votou em mim
não tem consciência do gesto dele num país importante como
o Brasil”. Esse surto de megalomania vem acompanhado de
uma série de evidências de que o “partido da ética” não valo-
riza tanto assim a ética quando é governo. Duda Mendonça
“vestiu” Lula com uma roupa nova, especial, mas parece que
o “rei” está nu. Há que se concordar com o presidente apenas
na parte em que afirma não ter o cidadão consciência do seu
gesto ao elegê-lo. Caso contrário essa consciência deve estar
pesando muito agora...

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FOME ZERO

O programa Fome Zero foi considerado o carro-chefe do


governo Lula, contando com enorme mobilização de minis-
térios e dispêndio bilionário. O apelo popular é realmente
fantástico, pois mexe com a sensibilidade de todos. Mas é
necessário julgar o programa sob a ótica da razão, não da
emoção. É preciso questionar os custos do programa em rela-
ção a seus benefícios. Somente assim, pode-se dar um parecer
final se se trata de um sucesso ou um fracasso.
Elaborado no Instituto Cidadania, o programa Fome Zero
tornou-se prioridade do governo Lula, dispondo de um orça-
mento de R$ 1,8 bilhão em 2003. Frei Betto teve uma parti-
cipação importante no programa e afirmou que, a partir de
dados imprecisos, calcula-se que haja no Brasil cerca de 44
milhões de pessoas em estado de subnutrição3. Bota impre-
ciso nisso!
O IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,
divulgou novos dados a respeito da questão da nutrição do povo
brasileiro. Pela Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2002 e
2003, cerca de 40% da população dos adultos está acima do
peso ideal, e mais de 10% são considerados obesos. Isso se com-
para a apenas 4% de desnutridos, aproximadamente. Seriam,
então, cerca de 3,8 milhões de adultos desnutridos no Brasil,
para uma população total de 180 milhões. O Brasil é um país

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de gordos! De pobres sim, mas gordos. Em vez do Fome Zero,
talvez devêssemos falar em um programa de “Dietas Já!”.
O presidente Lula ficou consternado com tais dados e
tentou desqualificar o IBGE, questionando o método da
pesquisa. Ele chegou a declarar que o faminto tem vergo-
nha de responder que sente fome, ignorando que a pesquisa
não é um questionário, mas sim um sério método de medi-
ção traduzido pelo Índice de Massa Corpórea, que leva em
conta peso e altura, seguindo os padrões da Organização
Mundial de Saúde, OMS. Pelos últimos dados da OMS,
de 1995, o Haiti contava com 19% das pessoas com déficit
de peso, a Etiópia com 38% e a Índia com 49%. O Brasil
tem apenas 4%. Parece que, quando os fatos contradizem a
teoria, pior para os fatos!
Além desse golpe duro no carro-chefe do governo Lula, há
inúmeras outras críticas ao Fome Zero. O governo defende
que não se trata de um programa assistencialista apenas, mas
de “inclusão social” para acabar com a insegurança alimentar.
Eles não pretendem apenas dar o peixe, mas também ensinar a
pescar. É curioso, já que é justamente o Estado que confisca
quase 40% dos “peixes” pescados pela iniciativa privada, sob a
forma de impostos. O povo não precisa das aulas de pescaria
do governo, mas sim que este não atrapalhe tanto com seu ar-
rastão de impostos, permitindo assim que a comida chegue mais
facilmente à boca das pessoas.
O governo criou uma verdadeira parafernália burocrática
para viabilizar o programa. Os problemas da burocracia
ficaram evidentes logo no começo, com uma luta de bastidores
para a corrida por cargos e posições antes mesmo da sua

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implantação. Foi criado um novo ministério, o MDS, ou
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
Existe o CRD, Centro de Recepção e Doação de alimentos,
que atua como braço executivo do CONSEA, Conselho de
Segurança Alimentar e Nutricional. Tem o PRATO, Progra-
ma de Ação Todos pela Fome Zero, assim como o COPO,
Conselho Operativo do Programa Fome Zero. O SAL acom-
panha as famílias e os núcleos populacionais beneficiados pelo
Fome Zero. E o TALHER é uma equipe que prepara
monitores que, por sua vez, capacitam quem participa e trabalha
nos COPOs, PRATOs ou atua como SAL. Parece brincadeira,
mas isso não é uma piada!
Quem já teve que esperar numa fila de uma repartição
pública tem idéia da burocracia e ineficiência do Estado. Além
disso, pela ausência de sócios privados preocupados com a
lucratividade, tamanha burocracia é sempre um convite à
corrupção. Imagine-se a eficiência e transparência, portanto,
de um programa dessa magnitude, com tantas entidades cria-
das no caminho. Do trajeto da “pescaria” até a comida chegar
no prato das famílias, uma enorme parte fica como pedágio
para bancar tanta burocracia. Estima-se que de cada 10 reais
doados ao programa, somente seis chegam ao destino, ficando
o restante pulverizado pelo meio do caminho. Levou-se pelo
menos 30 dias para descontar um cheque da top model Gisele
Bündchen, mostrando a ineficiência dessa burocracia. Se a fome
pudesse ser extinta com um decreto estatal, ela não existiria
mais no mundo. E o curioso é que ela está mais presente justa-
mente onde o Estado é grande e interventor demais.
Frei Betto deu ainda um caráter messiânico ao programa,
ao escrever que “pela primeira vez na história, um presidente
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transforma em decisão política um gesto evangélico: multiplicar
os pães”4. Ora, ignorava-se que Lula tinha tal poder divino. Pela
burocracia montada pelo programa, o governo não vai multi-
plicar nada, mas sim subtrair, ao aumentar gastos que precisam
ser pagos pelos produtores privados.
Não obstante tantos problemas na implantação do Fome
Zero no Brasil, o presidente Lula rodou pelo mundo divulgando
sua “solução mágica” para acabar com a fome. O programa
Fome Zero era um sucesso de marketing no exterior, enquanto
patinava no atoleiro da burocracia e demagogia no país. Lula
chegou a propor medidas como a taxação sobre o comércio de
armas para combater a fome. O paradoxal disso é que quanto
mais armas forem compradas, melhor para o combate à fome.
Lula teria que vibrar cada vez que alguém comprasse um fuzil,
segundo sua “genial” idéia. Talvez por isso ele goste da idéia de
Hugo Chávez, presidente da Venezuela, gastar tanto dinheiro
para comprar fuzis, enquanto seu povo afunda na miséria.
As propostas petistas passam sempre por mais governo, mais
impostos e mais burocracia, enquanto o combate sério à fome
se dá pela via oposta, reduzindo o papel do Estado, baixando
os impostos e atacando a burocracia. Dessa forma, o intercâm-
bio entre produtor e consumidor fica infinitamente mais fácil e
barato, possibilitando maior oferta de alimentos a preços me-
nores. Mas muitos burocratas ficariam sem emprego. Melhor
deixar o povo com fome!

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ESTATUTO DO DESARMAMENTO
E A V IOLÊNCIA

Um projeto do governo Lula que demandou bastante di-


nheiro e chamou muita atenção foi o Estatuto do Desarma-
mento. Uma população amedrontada com o crescimento da
violência será sempre presa fácil de governos populistas com
medidas ineficientes. O estatuto fere a lógica, vai contra a ex-
periência histórica e desvia o foco do real problema. Não há
como justificar um gasto tão elevado para desarmar os inocen-
tes. Quem realmente se sente mais seguro, ao ver aquela fila de
velhinhos entregando suas armas enferrujadas, precisa de tera-
pia urgente.
Os índices de criminalidade no Brasil são mesmo de assus-
tar. Segundo dados da Unesco (Organização das Nações Uni-
das para a Educação, a Ciência e a Cultura), a taxa de homicí-
dios entre os jovens de 15 a 24 anos subiu de 30 em 100 mil em
1980 e para 54,5 em 100 mil em 2002, enquanto no restante da
população permaneceu estável. O Brasil é um dos líderes em
homicídio no mundo. Nas comparações internacionais realiza-
das, entre 67 países pesquisados, o Brasil encontra-se em 4º
lugar nas taxas de homicídios na população geral. Em 2002,
mais de 30% do total de óbitos juvenis foram causados por
armas de fogo. E no país como um todo, 95% das mortes cau-
sadas por armas de fogo correspondem à categoria homicídios.
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O governo parece contar com o pânico da população, cau-
sado pelo conhecimento desses dados, para a aprovação do
Estatuto do Desarmamento. Contudo, ele está subestimando
o uso da lógica por parte das vítimas da violência. Afinal, tais
crimes são cometidos, na sua grande parte, com armas não
registradas, ilegais. Estima-se que existem cerca de cinco mi-
lhões de armas registradas no país, e aproximadamente 15 mi-
lhões de armas ilegais. Obviamente o desarmamento atinge
apenas a população ordeira, de civis inocentes que compram
armas para defesa pessoal.
Do total de morte por armas de fogo registradas no Brasil,
somente cerca de 3% são suicídios ou acidentes. Existem inúmeras
maneiras de se cometer suicídio – o ato não surgiu somente após
a invenção da arma de fogo. Um sujeito que realmente pretende
se matar provavelmente irá consegui-lo. Portanto, desarmar os
civis não gera redução dos índices de suicídio.
Em relação ao homicídio doloso, o grande responsável pelas
mortes por arma de fogo, sabe-se que os bandidos não vão se
apressar a contribuir com o Estatuto. Afinal de contas, por não
seguirem as leis é que eles são considerados marginais. Fora
isso, suas armas não são compradas legalmente e registradas,
mas sim obtidas por meio de contrabando. Muitas vezes são
armas proibidas, de uso exclusivo das Forças Armadas. Isso
para não tocar na obviedade de que quem mata não é a arma,
mas sim o homem. O assassinato não apareceu após a descoberta
da pólvora. Existem infinitos métodos de se eliminar alguém.
Portanto, o alvo do estatuto também não são os assassinos.
Restam os acidentes, parcela minúscula dos casos de morte
por arma de fogo. Eis a única categoria a respeito da qual há

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algum sentido lógico na adoção do estatuto. Até mesmo Ru-
bem César Fernandes, diretor da ONG “Viva Rio”, que vive
defendendo bandidos, declarou que o objetivo da campanha
do desarmamento era desarmar a classe média5.
Contudo, é necessário ter em mente o custo de tal projeto
para refletir se faz algum sentido gastar montanhas de dinheiro
para desarmar o povo. O governo se comprometeu a pagar, em
média, cem reais por arma entregue, e sua estimativa é de con-
fiscar até 500 mil armas. Só de custo direto, portanto, estamos
falando de R$ 50 milhões, fora as passagens e hospedagem dos
burocratas, assim como o gasto em propaganda. O governo
pretende ainda fazer um plebiscito sobre a venda ou não de
armas antes das eleições de 2006, o que aumenta
exponencialmente o custo do projeto. Fala-se em algo como
R$ 250 milhões. A pergunta simples, então, para quem enten-
de que há escassez de recursos no mundo – o que não parece
ser o caso do PT – é se tal quantia não seria mais bem gasta no
combate à violência se utilizada para treinar e armar a polícia,
em vez de desarmar os velhinhos inocentes.
Se for para reduzir acidentes fatais, a adoção de medidas
ligada aos acidentes de trânsito, como privatizar rapidamente
as estradas que estão literalmente caindo aos pedaços pela má
gestão estatal, faz mais sentido. Afinal, acidentes de transporte
são responsáveis por mais de 15% dos óbitos juvenis. E, se
formos analisar somente um lado da equação – a redução dos
acidentes – sem levar em conta o custo e alternativas melhores
para o gasto, por que não propor logo o Estatuto da Tomada?
Não são poucas as crianças que se acidentam com tomadas.

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E acabar com as tomadas até que não teria um impacto tão
negativo, já que o Estatuto do Desarmamento tende a incenti-
var a invasão às residências, pela menor chance de reação do
proprietário, o que aumenta as chances de eletrodomésticos
serem roubados. Para que tomada se não se têm eletrodomés-
ticos para ligar?
Um pouco de estatística faria bem aos que acreditam no
desarmamento. Segundo a APADDI, Associação Paulista de
Defesa dos Direitos e das Liberdades Individuais, o Canadá
tem 0,7 armas por habitante, com cerca de dois homicídios por
100 mil habitantes. Os Estados Unidos, com 0,76 armas por
habitante, tem 6,8 homicídios por 100 mil habitantes. Washing-
ton é o estado mais severo nessa questão, proibindo totalmente
as armas, enquanto Texas é um dos mais liberais. O primeiro é
o mais violento dos Estados Unidos, enquanto o segundo é
um dos mais seguros. Nos vizinhos Paraguai e Argentina, onde
a legislação sobre armas de fogo é liberal, as taxas de homicídi-
os estão no máximo em torno de 5 a 7 por cada 100 mil habi-
tantes. A Suíça é um claro exemplo de país onde boa parte da
população possui armas, enquanto os índices de criminalidade
são baixíssimos. O Brasil seria, portanto, sub-armado, o que
não o faz ter baixo índice de homicídio. Na verdade, o proble-
ma de violência é fruto do descaso e inoperância do Estado em
sua função precípua, que é manter a segurança combatendo o
crime. Mas o governo Lula parece preferir gastar mais energia
e dinheiro combatendo civis inocentes.
O professor John Lott, da Escola de Direito da Universi-
dade de Chicago, escreveu um livro intitulado “Mais Armas,

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Menos Crimes”. Ele mostra como o gradual rigor sobre as
questões das armas, nos Estados Unidos, falhou no seu objeti-
vo. Seus números apontam que para cada 1% de redução da
posse de armas houve um aumento de 3% dos crimes violen-
tos. Nas décadas de 60 e 70, as taxas de posse de armas perma-
neceram razoavelmente constantes, enquanto as taxas de crime
violento dispararam. Na década de 90, a posse de armas cresceu;
ao mesmo tempo, ocorreu redução dramática da criminalidade.
Rudolph Giuliani conseguiu reduzir os crimes em Nova Iorque
durante seu governo adotando, o programa “Tolerância Zero”,
reprimindo com maior dureza os criminosos, inclusive de pe-
quenos delitos. Ele entendeu que a impunidade é a maior
causa do crime, não a existência de armas registradas por civis.
Os defensores de controle de armas enfrentam um dilema. Se
armas são o problema, por que, quando elas eram mais acessíveis,
os problemas de criminalidade não atormentavam tanto?
A historiadora Joyce Malcolm lançou o livro “Guns and
Violence”, também sobre a questão do desarmamento. Ela
mostra evidências estatísticas de crescimento da violência apesar
do aumento no rigor nas leis anti-armamento. Em 1920, foi
aprovado um estatuto que eliminava o direito do indivíduo
possuir armas na Inglaterra. Tal medida fazia parte, na verdade,
de um contexto maior concedendo ao governo amplos poderes
de intervenção em função da guerra. O temor não estava re-
lacionado com o crime comum, mas sim com uma possível de-
sordem e popular. Sem armas, não se têm cidadãos, mas súditos!
Os defensores do Estatuto do Desarmamento usam o fato
de ser politicamente correto ir contra as armas, mesmo que

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estejam indo contra a lógica também. As mesmas pessoas que
acreditam, na solidão do espelho, que tal medida é uma grande
bobagem, não repetem tal parecer na frente das câmeras, com
receio de parecerem insensíveis ou até lobistas da indústria
armamentista. Vale lembrar que a pomba da paz foi criada por
Picasso, em 1949, para o Congresso Mundial da Paz em Paris,
patrocinado pelos assassinos de Moscou. Stalin tinha interesse
em divulgar a “luta pela paz” mundo afora, desviando a aten-
ção do genocídio que cometia em casa. Guantánamo seria pou-
co para certos “pacifistas”...
Partindo para mais exemplos históricos, temos uma lista de
países que praticaram o desarmamento dos inocentes com con-
seqüências catastróficas. Em 1911, a Turquia desarmou sua
população. De 1915 a 1917, aproximadamente 1,5 milhão de
armênios, sem chance de defesa, foram caçados e extermina-
dos. Em 1929, a União Soviética desarmou a população. Nas
décadas que se seguiram, milhões de dissidentes do Comunis-
mo foram aniquilados. Em 1935, a China desarmou sua popu-
lação. Milhões de dissidentes do Comunismo foram persegui-
dos e executados. Em 1938, a Alemanha desarmou a popula-
ção. Nos anos seguintes, milhões de judeus e outros “não-ari-
anos” foram eliminados. Em 1956, o Camboja desarmou a
população. O comunista Pol-Pot trucidou quase um milhão de
inocentes. Em 1964, a Guatemala desarmou a população or-
deira. Até 1981, cerca de cem mil índios maias foram extermi-
nados, sem possibilidade de defesa. Em 1970, a Uganda de-
sarmou os civis. Na década seguinte, aproximadamente 300
mil cristãos foram mortos, sem defesa6.

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Mais recentemente, a Austrália tentou adotar uma lei obri-
gando os proprietários de armas a entregá-las para destruição.
Foram entregues e destruídas mais de 600 mil armas, num
programa que custou cerca de US$ 500 milhões para o povo.
No primeiro ano após a lei, os homicídios subiram 3,2%, as
agressões 8,6% e os assaltos à mão armada cresceram 44%. As
invasões de residências, naturalmente, aumentaram dramati-
camente7. Aprenda-se com a história que tem muita gente que
não aprende com ela!
Além de desarmar a população de civis inocentes nas áreas
urbanas, um próximo passo seria estender o desarmamento até
o meio rural. Ora, é fato notório que no Brasil o Movimento
dos Sem Terra desrespeita as leis e invade propriedades priva-
das, até mesmo as produtivas. São de conhecimento geral as
fortes ligações entre o PT e o MST. Não seria uma total
imprudência desarmar o fazendeiro isolado no campo com
a constante ameaça de uma invasão do MST? Como faria
este proprietário para se defender, estando a polícia a quilô-
metros de distância? Com declarações e atitudes totalmente
complacentes por parte do governo em relação a este movi-
mento fora-da-lei, que garantia pode ter o produtor rural
contra o avanço dos invasores armados? Desconfiar de interesses
obscuros por trás dessa medida não parece nada paranóico.
Não satisfeitos com a incoerência do Estatuto do Desar-
mamento, chegou-se a considerar a hipótese de destruição das
armas de brinquedo, hipótese esta colocada em prática num
episódio patético. Seria o “desarmamento infantil”. Realmen-
te, inocentes crianças brincando com armas de plástico repre-
sentam uma ameaça à segurança da nação! Talvez fosse melhor

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colocar logo o Exército para combater garotos com “podero-
sas” armas de polietileno em mãos. O próximo passo poderia
ser a proibição de filmes de terror. Afinal, todos os indivíduos
que já brincaram com armas de plástico e viram filmes como
“Sexta-feira 13” tornaram-se perigosos psicopatas depois.
Palmas para Brasília!
Pode-se ainda argumentar na linha do direito. O direito de
defesa pessoal é um direito natural, que antecede a própria cri-
ação do Estado. Alguns colocam que as chances de sucesso em
uma reação a uma invasão de propriedade são baixas, conside-
rando que não compensa o risco. Mas isso não vem ao caso,
pois é direito inalienável de defesa pessoal a escolha do proprie-
tário. Cabe a ele decidir se vai ou não correr tal risco, ainda
mais em um país onde a polícia demora vários minutos para
atender a um chamado. Nos Estados Unidos, de polícia infini-
tamente mais eficiente, a população entende perfeitamente esse
direito individual.
Além disso, vários estudos apontam a inconstitucionalidade
do Estatuto do Desarmamento. Haveria indevida delegação
de poder legislativo ao executivo em matéria penal. O estatuto
infringiria o princípio da separação de poderes, e violaria a
garantia individual de que ninguém será privado da sua liber-
dade e de seus bens sem o devido processo legal. A garantia
individual à segurança, anterior e superior ao próprio Estado,
acaba totalmente ignorada no estatuto. Como afirmou o vice-
presidente do Superior Tribunal Militar, Flávio Bierrembach,
o referendo sobre a proibição de armas é um “absurdo jurídico”,
já que “o cidadão de bem tem o direito de possuir uma arma

40 Rodrigo Constantino

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para se defender dos criminosos”8. Plebiscitos só podem ser
aplicados na definição de direitos coletivos ou direitos difusos,
e não para vetar direitos individuais.
Em conjunto com a medida do desarmamento, temos
declarações preocupantes do Ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos. Com a justificativa de que precisam desafogar
o sistema carcerário, hoje lotado, o governo federal quer rever
o artigo da Lei dos Crimes Hediondos que obriga o cumpri-
mento da pena em regime fechado. Com a mudança, as penas
de crimes como tráfico de drogas, homicídio qualificado e se-
qüestro e estupro, não seriam mais cumpridas integralmente
em regime fechado. Sob a desculpa de lotação, o estuprador de
uma menina inocente poderá andar livremente pelas ruas de-
pois de alguns anos na prisão. O dinheiro do desarmamento
não poderia ser gasto, por exemplo, para a construção de novos
presídios? É revoltante o desejo do ministro, que já foi advogado
de vários criminosos no passado, como o invasor de terras José
Rainha, do MST. Não custa recordar que sequer prisão perpétua
existe no Brasil. Victor Hugo já dizia que quem poupa o lobo
mata as ovelhas. A complacência com o mal é uma agressão aos
indivíduos de bem. As ovelhas, no Brasil, são convocadas como
criminosas a entregar suas armas de defesa, enquanto os lobos
recebem tratamento mais brando.
Além disso, Thomaz Bastos acredita que reduzir a maiori-
dade penal de 18 para 16 anos é um erro. Segundo o ministro, tal
medida poderia prejudicar o amadurecimento do jovem infrator,
seja lá o que se entende por isso. O ministro advoga gratuita-
mente pelos “meninos” da Febem. É curioso, entretanto, o fato

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de que os políticos consideram “meninos” de 16 anos responsáveis
o suficiente para votar, mas não para distinguir o certo ou errado
sobre crimes. Seria por que é mais fácil vender sonhos românticos
para jovens despreparados, conquistando votos na base da emoção?
Talvez. Mas é uma enorme contradição tratar os marmanjos
como mentecaptos na hora de um bárbaro crime enquanto são
considerados adultos no momento de escolha do governante
da nação.
Partindo para os números, cerca de 70% dos detentos da
Febem praticaram roubo à mão armada, e aproximadamente
10% são responsáveis por crimes ainda mais graves, como ho-
micídio e latrocínio (roubo seguido de morte). Não se está fa-
lando de indefesas crianças, pobres coitados sem oportunida-
des, que saindo da Febem vão brincar de Lego. Está-se lidan-
do com marginais que matam sem qualquer motivo lógico, a
sangue-frio. E o Estatuto da Criança e Adolescente torna ver-
dadeiros “galalaus” de 18 anos inimputáveis, limitando a pena
a três anos de reclusão, o que incentiva o uso deles por crimi-
nosos mais experientes. Assim, um rapaz de 18 anos que mata
friamente um inocente por um par de tênis estará livre aos 21
anos, pronto para atacar a próxima vítima. O Brasil parece o
país dos coitadinhos, onde a responsabilidade de atos cruéis
nunca cai sobre o indivíduo, mas sempre na sociedade,
como se o vilão fosse vítima e a vítima o vilão. O efeito
moral dessa cultura é perverso e as taxas de criminalidade
são reflexos desta.
O governo Lula decide ainda enviar tropas brasileiras para
uma missão no Haiti, mesmo sendo a violência o maior

42 Rodrigo Constantino

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problema nacional, e os recursos para combatê-la, parcos. Na
verdade, o objetivo aparente dessa missão é demonstrar que o
país teria condições que assumir uma cadeira fixa no Conselho
de Segurança das Organizações das Nações Unidas, a desmo-
ralizada ONU. Lula vem mostrando certa obsessão com essa
conquista, a princípio totalmente estranha e desnecessária para
o Brasil. Para piorar a situação, o diretor da ONG Justiça Glo-
bal, James Cavallaro, entregou um relatório que afirma que a
missão no Haiti, comandada pelo Brasil, “fez pouco” para pa-
cificar o país e reduzir as violações dos direitos humanos. O
que esperavam de um governo que não cuida do seu próprio
quintal?
Por fim, o presidente Lula fez um pedido oficial de cle-
mência para um traficante de drogas preso na Indonésia com
mais de 5 quilos de cocaína. O argumento jurídico é que o
Brasil não reconhece a pena de morte no código penal. Mas
isso não vem ao caso, já que o traficante foi preso lá, sabendo ex
ante das regras locais. Caso contrário, um brasileiro que cau-
sasse um acidente em Londres poderia alegar que o Brasil não
reconhece as mãos trocadas das vias. Ou, in extremis, uma na-
ção que tivesse pena absurdamente branda para estupro ou ter-
rorismo teria sempre essa desculpa para pedir clemência e a
transferência do preso para cumprir a pena em seu país. É ver-
gonhoso que o presidente do país assuma a defesa de um
abrandamento da penalidade sofrida por um traficante de dro-
gas em outro país. Que ele pague o preço das leis definidas
pelo local onde cometeu o crime!

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Resumindo, tem-se um governo que defende o gasto
milionário para desarmar civis inocentes enquanto pretende
afrouxar a pena para crimes hediondos, manter a idade penal
dos adolescentes que matam por nada e ficam livres em
pouco tempo; gastar rios de dinheiro para enviar tropas
para o Haiti com objetivos obscuros, e salvar a vida de um
traficante de drogas. Realmente, é complicado ser um civil
inocente e honesto num país com um governo desses.

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COTAS

O governo Lula adotou um programa de ações afirmativas


para Afro-Brasileiros, o popular regime de cotas para negros e
pardos. O programa garante até 20% das vagas em universida-
des federais utilizando o critério de cor do candidato. Existe a
meta de estender tal privilégio para universidades privadas tam-
bém, assim como garantir empregos públicos ou privados por
conta da cor, agredindo a liberdade de escolha de seus donos.
À primeira vista, seduzido pelo nobre discurso de “eliminar
desigualdades raciais historicamente acumuladas”, o indivíduo
pode aplaudir uma política dessas. Mas basta um pouco de
reflexão para ver a injustiça e imoralidade por trás dessa falsa
embalagem, assim como seus efeitos nefastos. A questão das
cotas é uma boa prova da veracidade do ditado popular que diz
que “de boas intenções o inferno está cheio”.
Pode-se atacar o regime de cotas através de conceitos mo-
rais ou resultados práticos. Começando pelo lado conceitual,
há que se ter em mente que a menor minoria de todas é o indi-
víduo. Portanto, o verdadeiro defensor de minorias é aquele
que defende as liberdades individuais independente de cor,
“raça”, sexo, classe social ou credo religioso. Somente o trata-
mento isonômico é justo, sendo a alternativa da “justiça social”
um eufemismo para poder arbitrário, onde governantes do
momento decidem o que consideram justo subjetivamente, e
não mais por critérios objetivos. A defesa de minorias não deve

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ser uma luta indiscriminada por interesses de diferentes cate-
gorias, umas tentando tirar mais das outras. Essa “guerra de
gangues” é algo típico do fascismo, onde as trocas impessoais
cedem lugar às trocas de favores, aumentando a corrupção e
violência entre diferentes grupos, todos brigando por novos
privilégios do “rei”. A defesa de minorias deve ser uma luta
pela liberdade individual, limitada por regras básicas e impessoais.
Desde Aristóteles, entendemos que os homens devem ser
governados por leis objetivas, impessoais e claras. Dizia ele que
“onde as leis não têm força, pululam os demagogos, e o povo
torna-se tirano”9. O simples desejo da maioria não é garantia
de justiça, pois democracia não representa uma ditadura da
maioria. Uma nação onde 51% de brancos resolvem escravizar
49% de negros não é justa, e vice-versa. Deve-se lembrar que
Hitler subiu ao poder na Alemanha por meio dos votos, mas
isso não o torna menos cruel, ditador e desumano. Não é o
número de adeptos que torna uma causa justa. Portanto, para
evitar os riscos de poder arbitrário, são necessárias leis
isonômicas e impessoais, protegendo todos os indivíduos, con-
trário ao conceito de privilégio, ou privi leges (leis privadas).
Para cada novo privilégio, tem-se sempre um novo discrimina-
do. O regime de cotas é um privilégio!
Os defensores das cotas argumentam que os negros sofre-
ram no passado, e tais medidas teriam caráter reparatório. Ora,
por essa linha de raciocínio, os judeus deveriam ter privilégios
por conta do Holocausto, ou os ateus por conta da Inquisição,
ou os brasileiros por causa da colonização de Portugal. Não é
com uma nova injustiça que se apaga uma antiga. Não custa
lembrar que, às vésperas da abolição, cerca de metade da
população livre era “de cor”, comparado a apenas uns 6% nos

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Estados Unidos. Além disso, o raciocínio é totalmente
coletivista, pois vê o mundo dividido em raças ou classes, e
nunca como um somatório de indivíduos. Ignora que “raça”
sequer é um dado da natureza, mas sim uma construção da
sociedade. Tal mentalidade ficou clara quando Lula, falando
aos africanos, pediu “perdão pelo que fizemos”. Ora, o Lula
não fez nada! A visão coletivista é injusta, errada e perigosa.
Os responsáveis pelos erros passados devem pagar, e as vítimas
devem ser compensadas. Mas privilegiar um negro hoje em
detrimento de um branco inocente, que não tem absolutamente
nada a ver com os erros do passado, é uma grande injustiça. A
lei não responsabiliza o filho pelas dívidas ou crimes do pai.
Responsabilidade quer dizer habilidade de resposta, e é
evidente que nenhum branco vivo hoje tem culpa pelos
tempos da escravidão.
Fora isso, o regime de cotas retira a responsabilidade indi-
vidual, colocando as causas da miséria na “sociedade” ou em
outros fatores exógenos. Não são poucos os indivíduos que
vieram de baixo e se esforçaram para subir na vida, não só
materialmente como espiritualmente. Na verdade, poderiam
ser muito mais, não fosse o tamanho do Estado, que, para bancar
seus projetos de “justiça social”, absorve quase 40% da produção
nacional sob a forma de impostos. Os japoneses foram destro-
çados pela Segunda Guerra Mundial, mas ergueram-se pelas
próprias pernas, provando que o esforço individual compensa,
em vez de ficar lamentando o passado, chorando sob o leite
derramado. Mas, com a criação de grupos preferenciais, tanto
os cotistas como os não-cotistas podem relaxar em termos de
esforço. Aqueles porque o empenho máximo é desnecessário, e
estes porque o empenho máximo pode ser inútil. Acaba que o
regime de cotas, em vez de transferir apenas benefícios de um
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grupo para o outro, num jogo de soma zero já injusto, transfor-
ma-se em um jogo de soma negativa, reduzindo os ganhos totais.
A falha de raciocínio do defensor das cotas é nunca se
perguntar quem pagará pelo privilégio. É tudo uma simples
questão de ser a favor da ajuda aos menos afortunados, deixando-se
os detalhes de lado. Ele fica apenas na primeira fase nobre do
apelo social, da caridade com algum grupo necessitado. Não
seria desejável que negros tivessem maior acesso às universi-
dades? Não seria bom que aposentados tivessem inúmeras
regalias? Não seria ótimo se todos tivessem emprego garanti-
do e casa para morar? Uma simples pergunta parece não fazer
parte dessa mentalidade romântica: às custas de quem? Quem
paga a conta de tanto privilégio? Recursos são escassos, não
brotam do chão. O Estado não é algo sobre-humano, que planta
sementes e colhe dinheiro. O Estado não passa do somatório
de indivíduos. Para garantir direitos a alguém, há que se delegar
deveres a outrem. E o direito de alguém morar não pode ser o
dever de outro construir. Quando os indivíduos não trabalham
voluntariamente em um mecanismo de trocas livres para obterem
os bens e serviços que demandam, não se tem justiça, mas sim
a escravidão de uns em nome da necessidade de outros. E
escravidão é algo imoral. Foi imoral na época dos negros escravos,
e continua sendo hoje, se revertermos a situação para brancos
escravos, ou mesmo ricos escravos. Eis o que defende o regime
de cotas!
Segregar a população pela cor da pele é um racismo enorme
em si. Ainda mais no Brasil, com tanta mistura, tanta misci-
genação, onde boa parte da população é considerada “parda”.
E, diga-se de passagem, essa gente sempre conviveu bem entre
si, de forma pacífica. Não temos a Ku Klux Klan brasileira,
perseguindo negros e os matando pela cor da pele. Não temos
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um regime de castas como o indiano, em que a casta inferior
dos intocáveis é constantemente vítima de atrocidades e assassi-
natos. No caso dos Estados Unidos, até os anos sessenta os
negros estavam proibidos de freqüentar lugares exclusivos
para brancos. Não se tem nada parecido no Brasil! Não se tem
um Hitler defendendo a superioridade da “raça” ariana. Há,
sim, um certo preconceito, mas este é social, não racial. Pelé
é respeitado no país inteiro, mesmo sendo negro. Jogadores de
futebol, cantores de pagode, atores e outros negros que são
celebridades não sofrem represálias pela cor da pele. O primei-
ro grande escritor brasileiro, Machado de Assis, era filho de
mulato com portuguesa. O brasileiro tem orgulho de sua mis-
tura de cores. Mas tudo isso pode mudar com as cotas. Elas
fomentam o racismo, estimulam uma visão separada em cor da
pele e revoltam as vítimas do privilégio.
Afinal, sempre que um negro andar pela universidade,
levantará a suspeita de que algum branco foi injustamente
barrado por conta das cotas. É a morte da meritocracia, do
estímulo ao esforço individual. Quem irá se consultar num
médico negro tendo dúvidas se ele se formou pela capacidade
ou pela caneta do Estado? Quem irá contratar um engenheiro
negro tendo receio de que seu ingresso na universidade se deu
apenas pela cor de sua pele? Alguns alegam que um cotista
pode vir a ser um bom aluno, mas há um paradoxo, pois por
que ele não poderia então ser um bom aluno antes e dispensar
as cotas? Além disso, o ressentimento gerado é desproporcional
ao privilégio. Imagine-se um exemplo hipotético onde existem
10 vagas a serem preenchidas, sendo uma reservada ao cotista.
Suponha-se que o primeiro caracterizado como cotista tenha
ficado no centésimo lugar em notas. Ele irá furar a fila de 99
candidatos melhor colocados que ele, que se sentirão prejudicados
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e injustiçados pelo método de seleção. O racismo, até então
tímido no Brasil, irá crescer exponencialmente com as cotas.
Quando o próprio Estado divide o mundo através da cor, o
racismo acaba sendo fomentado.
É por essa razão que vários negros íntegros condenam as
cotas. Eles entendem que essa ajuda do Estado é imoral e
prejudica os negros que querem subir na vida sem depender
de privilégios. Um dos negros mais conhecidos pelo combate
às cotas é Thomas Sowell, professor e escritor americano. Sowell
é Ph.D. em economia pela renomada Universidade de Chica-
go. Publicou diversos livros sobre o tema, com vasta pesquisa e
embasamento. Em um deles, Sowell reporta as inesperadas
conseqüências de ações afirmativas na Rússia, China, Índia,
Malásia, Nigéria e mesmo Estados Unidos. Neste último, mais
pessoas estão dizendo que pertencem a diferentes grupos étni-
cos, para se qualificarem para o tratamento preferencial. “O
número de índios americanos que tinham 15-19 anos em 1960
era abaixo de 50 mil, mas 20 anos depois, quando estes indi-
víduos teriam 35-39 anos, havia mais de 80 mil índios ameri-
canos declarados”10. Um caso parecido ocorreu na Austrália,
onde um estudo revelou um acréscimo de 425% na população
aborígine entre os censos de 1981 e de 1986. Se isso ocorre nos
Estados Unidos e na Austrália, imagine-se a quantidade de
pessoas que irá declarar ser pardo no Brasil para pegar uma
carona no privilégio! Qual seria a solução? Adotar um processo de
análise científica para determinar a cor exata de cada indivíduo?
Fora isso, o autor mostra empiricamente como a tensão entre
diferentes grupos aumentou após as ações afirmativas, como
nos casos do Sri Lanka e Nigéria, culminando até em guerra
civil. No Sri Lanka, os membros do grupo não-preferencial,

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os tâmeis, buscaram a secessão e a independência como nação
por causa do ressentimento criado pela ação afirmativa. A idéia
de que “todos são iguais, mas uns mais iguais que os outros”,
sempre gerou revolta. Martin Luther King, em 1963, expressou
seu sonho de um país onde pessoas fossem julgadas “não pela
cor da pele, mas pela firmeza do caráter”. O regime de cotas
faz justamente o oposto, julgando pela cor da pele. O governo
deveria seguir o conselho de Frederick Douglass, um dos grandes
líderes do movimento abolicionista dentro dos EUA, que
disse: “Tudo que eu peço é para darem uma chance ao negro
para que ele se sustente pelas próprias pernas! Deixem-nos
em paz!”11.
Não existe a menor relação entre a adoção de políticas
afirmativas nos Estados Unidos e a prosperidade dos
afrodescendentes norte-americanos, ao contrário do que é
repetido. Tais políticas começaram a serem implantadas na
década de 1970; mas, desde 1940, a prosperidade econômica
americana vinha melhorando a vida deles. A diferença em anos
de estudo entre os jovens negros e brancos já havia caído de
quatro anos para menos de um. Logo após a guerra, 87% de
afro-descendentes estavam abaixo da linha de pobreza, e em
1970 já eram apenas 30%, patamar que ficou praticamente
inalterado na década em que as ações afirmativas foram
adotadas. Os negros já tinham acumulado recursos suficientes
para enfrentar os desafios da vida por meio dos avanços econô-
micos. As ações afirmativas apenas fizeram com que eles tives-
sem que carregar o estigma do privilégio, justamente em uma
sociedade que valoriza o esforço individual. Além disso, os asiá-
tico-americanos e os descendentes de mexicanos também
viram suas rendas crescerem substancialmente sem qualquer
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ação afirmativa. Os fatos são teimosos, não cedem a desejos,
teorias ou ideologias. O estudo empírico realizado por Sowell
não deixa sombra de dúvida: as ações afirmativas prejudicam
a sociedade!
Alguns defensores das cotas argumentam que se trata de
uma medida temporária para corrigir distorções, reconhecendo
assim seu caráter contraditório ao ideal de igualdade perante a
lei das nações desenvolvidas. Essas pessoas são ingênuas, igno-
rando que a desigualdade dos resultados nunca será eliminada,
mesmo que as oportunidades fossem milagrosamente igualadas
hoje. Pessoas são diferentes, possuem capacidades distintas,
objetivas variados, preferências subjetivas. Como afirma Sowell,
“qualquer política ‘temporária’, cuja duração, é definida pelo
objetivo de se conseguir alguma coisa que jamais foi antes
alcançada em lugar algum do mundo, seria mais bem caracte-
rizada como eterna”. De fato, vemos que as ações provisórias
acabaram permanentes e ampliadas. Na Índia, por exemplo, os
próprios líderes dos intocáveis propuseram um prazo de dez
anos para o benefício das cotas. Isso foi em 1949, e a reserva
está até hoje em vigor. No Paquistão temos outro exemplo: as
políticas preferenciais começaram em 1949 como medida
explicitamente temporária; e, no entanto, continuaram por
décadas, com repetidas prorrogações após o prazo fixado. Uma
vez instalados, dificilmente se consegue retirar os privilégios.
Mas o governo Lula ignora tudo isso e parece considerar a
meritocracia individual uma idéia ultrapassada. Seriam os
burocratas de Brasília então clarividentes, iluminados e justos,
dispensando o mecanismo complexo de interação livre das
pessoas que permite que o esforço de cada um, assim como
suas preferências individuais, façam a diferença final. Pelo andar

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da carruagem, não parece inviável pensar no dia em que o
governo irá decretar um regime de cotas total, selecionando do
Planalto a exata composição nas universidades. Digamos que
28% das cotas poderiam ir para negros, 23% para deficientes
físicos, 17% para índios, 14% para ruivos, 11% para albinos e
9% para anões. Afinal são, todos, partes integrantes de minorias.
E seria apenas um pequeno detalhe o fato da soma total passar
de 100% das vagas, já que estamos lidando com um governo
“divino” que irá solucionar os problemas por meio de caneta
e papel.
Partindo para o lado prático da crítica, há uma pesquisa da
UnB, Universidade de Brasília, encomendada pelo Ministério
de Educação, que revelou que a quantidade de alunos negros,
pardos e brancos nas universidades federais segue praticamente
a mesma proporção da população brasileira. O critério adotado
foi a autodeclaração, o mesmo usado pelo IBGE. Na pesquisa,
a maioria dos universitários se declarou branca (59,4%),
enquanto 28,3% disseram ser pardos e 5,9% negros. Segundo
a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios),
51,1% dos brasileiros se declaram brancos e 5,9% negros. O
MEC não gostou muito dos dados e cancelou a divulgação
oficial da pesquisa meia hora antes do evento, por determinação
do gabinete do ministro Tarso Genro. No fim da tarde, o
secretário-executivo do MEC, Fernando Haddad, divulgou
nota afirmando que o evento foi cancelado porque não havia
sido “comunicado devidamente” ao cerimonial do ministério.
Não se marcou nova data para o anúncio. Aparentemente, os
fatos que vão contra as teorias petistas precisam ser esquecidos,
relegados ao ostracismo.

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Dois jornalistas sérios têm sido enfáticos na questão das
cotas. Luís Nassif critica o que chama de “sofisma no uso das
estatísticas”, em uma linha semelhante à de Ali Kamel, que
afirma que “os pesquisadores do órgão interpretam os números
de acordo com suas crenças pessoais”12. Kamel argumenta que
os números são sempre frios e objetivos, não havendo estatística
boa ou má, mas sim, interpretações corretas ou incorretas. Nassif
lembra que, “nos EUA, a pobreza se concentra em minorias
raciais; e, no Brasil ela é universal, não respeitando cor”13. No
Brasil, os negros são pobres não por causa da cor, mas porque
o país é pobre. Para combater o fato, que não é racismo, o
Estado tem que reduzir seu tamanho, possibilitando a queda
de impostos e crescimento econômico. Concomitantemente, ele
poderia investir mais na educação de base, talvez através do
mecanismo de vouchers, ou subsídios para os realmente pobres
estudarem em escolas privadas, normalmente mais eficientes
que as públicas, como todo o resto. Mas aqui se confunde edu-
cação com diploma, e com isso o governo tenta forçar as portas
das universidades, alegando que os negros ou pobres têm
“direito” ao ensino superior, independente do preparo adqui-
rido no ensino básico. Tal equação consegue apenas perpe-
tuar a pobreza!
Mas, investir no ensino básico, abrindo mão do regime de
cotas, significaria menor poder para os burocratas do governo,
coisa que não admitem. Afinal de contas, as medidas populistas,
como as cotas, conquistam os votos das minorias beneficiadas,
enquanto o custo recai sobre o resto todo. Em política, essa
sempre foi a máxima: benefícios concentrados e custos dissipados.
Quem ganha com privilégios costuma lembrar, e o candidato
recebe seus votos. Já quem perde esquece mais facilmente, pois o
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custo é pulverizado entre todo o restante da população. Eis a bela
lógica da política!
Um exemplo do absurdo a que pode chegar uma política
racista de cotas é o caso do Zimbábue. Além de uma reforma
agrária violenta e desrespeitadora dos direitos de propriedade,
nos moldes defendidos pelo MST, que fez despencar a produção
agrícola do país, lançando sua população na completa miséria,
tem-se agora uma tentativa de implantação de lei para forçar
que o controle de ativos minerais fique com negros. Vale lembrar
que o Zimbábue possui vastos recursos naturais, como diamantes,
ouro, carvão, níquel e platina, cuja reserva representa cerca de
15% do total mundial. A cor da pele passa a ser mérito para
possuir o controle desses ativos. Empresas que são criadas pelo
esforço de indivíduos, que assumem riscos, que investem suas
poupanças, que administram pessoas, passariam para as mãos
de novos donos somente pelo critério da cor da pele. Não existe
nada mais injusto e racista!
O Brasil, para falar a verdade, não fica tão longe assim.
Afinal, temos vastas reservas indígenas ricas em minerais,
algumas ocupando áreas enormes de um Estado, como a
reserva ianomâni em Roraima. Está certo que tais reservas
estejam repletas de indícios de crimes bárbaros e exploração
ilegal. Está certo também que vários índios participam de co-
mércio ilegal de diamantes, comprando carros importados, rou-
pas da moda e antenas parabólicas. Está certo ainda que tais
recursos poderiam estar sendo muito melhor explorados por
empresas legais, nacionais ou multinacionais, criando empre-
gos e pagando impostos. Mas tudo isso são apenas fatos. Quem
liga para fatos quando a “proteção” das minorias indígenas está

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em jogo? Segue-se assim com privilégios injustos e ineficientes,
sempre em nome da “igualdade”.
Não adianta: por qualquer ângulo analisado, o regime de
cotas é errado. Trata-se de uma injustiça sob o manto de corre-
ção de uma injustiça. Seu resultado será terrível. O racismo irá
aumentar. O efeito será perverso, retirando a responsabilidade
do âmbito individual. Há um grave caráter imoral na medida,
por escravizar uns em prol da “justiça social” de outros. Como
disse o personagem John Galt no best-seller de Ayn Rand, “Atlas
Shrugged”: “Eu juro pela minha vida e meu amor por ela que
nunca irei viver em função de outro homem, nem pedir que
outro homem viva em minha função”14. Eis a máxima de quem
realmente defende a liberdade, oposta à escravidão! Não há
absolutamente nada para ser aplaudido em medida tão populista.
Os negros e pardos não são pobres por causa da cor da
pele, nem pela escravidão já abolida faz tempo. São pobres,
como tantos outros brasileiros, sejam negros, pardos, altos,
baixos, gordos, magros, descendentes de italianos ou portu-
gueses, por causa do tamanho do Estado, que asfixia o
empreendedorismo que gera empregos. A renda per capita de
Brasília, onde abundam políticos e, não, empresas produtivas,
é quatro vezes a média nacional. Mas diante dessa realidade, o
que os “nobres” defensores da minoria negra defendem para
melhorar a situação financeira dos negros? Mais Estado! Seria
cômico, não fosse trágico.

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EDUCAÇÃO

O Governo Federal lançou, em 2003, o programa Brasil


Alfabetizado, visando à “inclusão educacional”. Foram apli-
cados, no ano do lançamento, R$ 175 milhões. Sua missão é
abolir o analfabetismo no Brasil. O governo Lula afirmou que
pretende utilizar o “método cubano de alfabetização” de
jovens e adultos neste programa. Foi assinado um protocolo de
intenções pelo ministro da educação, Tarso Genro. O local
escolhido para o projeto piloto foi o Piauí.
De fato, parece mais uma iniciativa “brilhante” deste
governo. Afinal, basta observar a “educação” existente em Cuba
para ficarmos contentes com esta medida. E logo o Piauí como
cobaia, um local tão “rico”, que pode se dar ao luxo de arriscar
uma experiência dessas. Se alguém falar que o PT está tentando
explorar a miséria alheia para dividendos políticos, seria uma
injustiça! Afinal, não tem sido parte do currículo petista,
principalmente enquanto oposição, a estratégia de chacoalhar
ao máximo as árvores para colher os frutos do chão, típica
cartilha socialista. Besteira! Nunca incitaram greves para pa-
ralisar a economia nacional, nunca estimularam invasões de terras
gerando instabilidade no campo, nunca pregaram o calote da
dívida externa, nada disso.
O próprio secretário de educação do MEC, Ricardo
Henriques, destacou o “sucesso” do método cubano em

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outros países. Basta verificar onde ele já foi aplicado para se ter
certeza absoluta de que o PT está realmente determinado a
melhorar a qualidade de vida do povo. O método cubano foi
aplicado, além de Cuba, claro, na Venezuela, Nicarágua e Haiti.
Estamos em “ótima” companhia. Seria um mero detalhe o fato
de que tais nações estão entre as mais miseráveis do continente,
piorando com o tempo. O Haiti e a Venezuela tiveram inflação
superior a 30% por ano recentemente. A Nicarágua tem
somente 67,5% da população capaz de ler e escrever15, um dos
índices mais baixos da América Latina. Estima-se que cerca de
metade da sua população está abaixo da linha da pobreza. O
país tem uma das piores distribuições de renda do mundo. O
Haiti, então, nem se fala. A estimativa em 2003 do órgão ame-
ricano de inteligência, a CIA, é de que 80% da sua população
encontravam-se abaixo da linha da pobreza. Com o agrava-
mento recente da situação no país, que vive uma guerra civil, o
índice deve ter piorado ainda. A Venezuela, apesar dos bilhões
que jorram do chão em petrodólares, afunda cada vez mais em
crise econômica e aumento da miséria, sem falar da instabilidade
política causada pelo presidente Hugo Chávez, amigo de Lula
e dono do visível sonho de tornar-se a cópia, só que sem barba,
do ditador Fidel Castro, a quem chama de “irmão mais velho”.
Quando um administrador ou consultor vai se candidatar a
um cargo, analisa-se seu currículo, suas experiências passadas.
Imagine-se um consultor tentar vender seus serviços mostrando,
como trabalhos passados, empresas falidas! Ele não teria muita
chance. Mas com a educação do país, algo da maior seriedade,
as pessoas não ligam para o fato assustador que um modelo
adotado somente em nações miseráveis está sendo proposto

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como solução para o Brasil. Uma rápida analisada nos ratos de
laboratório do modelo cubano basta para termos calafrios com
mais esta idéia do PT, sempre muito inspirado em Fidel.
Alguns mais ingênuos argumentam que em Cuba, ao menos,
não há analfabetos. Bem, como disse Mário Quintana, “os
verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não
lêem”16. O que existe em Cuba não é nem nunca foi educação,
mas sim doutrinação ideológica. Professores “ensinam” somente
o que o ditador determina, e ocorre uma verdadeira lavagem
cerebral nas crianças. Seria tão bom se um engenheiro cubano
pudesse de fato construir algo, e não ter que dirigir um táxi
para sobreviver. Seria maravilhoso se um administrador tivesse
algum negócio para administrar, em vez de ter que viver às
custas da esmola do governo, que não permite o
empreendedorismo “individualista”. E por fim, como seria
fantástico se os alfabetizados cubanos pudessem ler mais do
que um jornal, o único existente e controlado pelo governo, já
que Fidel considera mais que isso um desperdício de papel.
Nem mesmo um livro como este poderia ser lido por um eru-
dito cubano. Eis a beleza do modelo cubano de alfabetização!
Fora esse verdadeiro atentado à educação básica de alfa-
betização, o governo Lula vem demonstrando um viés autoritário
no ensino superior. Em artigo no Jornal do Brasil (02/03/2005),
Antônio Sepúlveda afirmou que “o sistema educacional está
em via de ser estuprado pelos ideólogos petistas que se sustentam
na falácia estúpida de que o Estado é soberano, tragicamente
dono de nossas escolhas e senhor de nossas vidas”. O MEC
propôs uma reforma universitária onde a liberdade dos em-
presários é totalmente solapada pelo desejo dos políticos. Isso

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representa um grave risco para a liberdade individual, podendo
no futuro transformar ensino em doutrinação ideológica. O
risco não deve ser minimizado, ainda mais quando várias críticas
surgiram pela lista de trabalhos que o MEC disponibilizou em
sua biblioteca virtual, com claro viés esquerdista. Autores libe-
rais eram mais raros que diamante, enquanto abundavam obras
de Marx. As universidades precisam ser livres, principalmente
da mão forte do governo. Não vamos esquecer que as Academias
no passado surgiram pela iniciativa de alunos e mestres, sem
nenhuma intervenção do Estado. Assim o mundo conheceu,
por exemplo, Sócrates, Platão e Aristóteles. Quando o Estado
interferiu, foi para dar cicuta a Sócrates.
O governo de Olívio Dutra, no Rio Grande do Sul, já deu
demonstrações práticas dessa interferência ideológica, como
observou Denis Rosenfield: “Estamos diante de uma
ideologização do ensino secundário público, já que professores
prestam exames nos quais podem tirar zero em português,
sempre e quando se saiam bem em leitura de textos, cujo
conteúdo ideológico, marxista ou para-marxista é claro”17. Apa-
rentemente, o PT, agora que comanda toda a nação, pretende
estender esse viés para o ensino privado também.
A proposta original para a reforma universitária, que ainda
vem sendo debatida, determinava que as universidades iriam
se pautar pela “gestão democrática e colegiada”, tendo um
conselho comunitário social fazendo supervisão e acompanha-
mento das atividades. Isso viola completamente a autonomia
universitária. A Academia Brasileira de Ciências desprezou a
idéia de um conselho comunitário e propôs um Conselho de
Desenvolvimento forte, de caráter deliberativo apenas. Uma

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universidade privada é uma empresa privada que vende edu-
cação. Entra quem quer, em um contrato bilateral entre cliente
e empresa. Os indivíduos têm que ter a liberdade de escolha do
seu curso, de acordo com suas preferências e avaliações. O
governo interferindo dessa maneira prejudica o ensino, pois a
universidade passa a ser quase um braço político do partido,
perdendo sua liberdade, fundamental para uma educação
imparcial.
Os socialistas usam sempre o conceito de “participação da
sociedade”, mas na prática é evidente que isso significa poder
concentrado em poucos burocratas. Ou alguém realmente acre-
dita que terá participação ativa num conselho comunitário
desses? O PT gaúcho usou muito no discurso o “orçamento
participativo”, que tinha a idéia de compartilhar a gestão do
orçamento com todos. Basta perguntar a alguém do Rio Grande
do Sul o que ocorreu na prática durante o governo de Olívio
Dutra. A “sociedade” acaba se transformando em uma pequena
cúpula do partido, que manda e desmanda de acordo com seus
interesses particulares. Vimos isso quando algumas pessoas foram
expulsas do PT por discordarem das decisões de cima. Além
disso, o argumento de número não justifica a supressão da liber-
dade das universidades, que são propriedades privadas. Ora,
se todos os alunos quiserem então mandar no reitor, este estará
submisso àqueles? Historicamente, vimos que o nazismo foi
apoiado pelo “maior número”, pela maioria da população da
Alemanha, e isso não o faz justo nem correto, muito menos
desejável.
Outro ponto absurdo da reforma é o que limita a participação
de capital estrangeiro na universidade privada em 30% do total

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investido. Trata-se de uma medida puramente ideológica, com
forte ranço de nacionalismo xenófobo. Educação é mais um
produto, e um dos mais importantes. Ora, é fundamental que
tenhamos, portanto, produtos de boa qualidade na prateleira,
independente da nacionalidade do produtor. O Brasil já navegou
por estas turvas águas “nacionalistas” quando praticou reservas
de mercado, “protegendo” produtos nacionais. Na verdade,
quando o governo decreta que a competição morreu, garantindo
a sobrevivência das empresas nacionais, mesmo que com pro-
dutos bem piores, temos uma drástica queda na qualidade dos
bens e serviços ofertados. Poucos empresários amigos do “rei”
de Brasília agradecem, pois a concorrência sumiu com uma
canetada, mas todos os consumidores pagam o preço, com pro-
dutos piores e preços maiores. Basta lembrar-se da Lei da
Informática, que inviabilizou a entrada dos estrangeiros nesse
importante mercado, lançando o Brasil na idade paleolítica se
comparado ao resto do mundo. Eis a mesma “lógica” por trás
de uma medida sem sentido dessas. Uma Harvard, por exemplo,
estaria vetada se quisesse “explorar” o Brasil. O povo acaba sendo
explorado pelo governo mesmo!
O resultado disso, em conjunto com outras medidas
intervencionistas, como as cotas, é o que chamam de brain drain,
em que os principais intelectos do país migram para nações
mais livres. A Inglaterra sofreu muito isso no passado, quando
o governo partiu para um rumo mais socialista, vendo inúmeros
bons alunos indo trabalhar e estudar nos Estados Unidos. A
Índia é outro bom exemplo, já que diversos doutores formados
nos Estados Unidos vêm de lá. O governo Lula está apenas
contribuindo para mais um item de exportação da pauta brasi-
leira: mentes brilhantes!

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É verdade que o Brasil tem um enorme contingente de
mentecaptos, mas o governo costuma atrapalhar em vez de aju-
dar na solução desse problema. Há inclusive uma certa contra-
dição, já que o presidente, que não tem diploma universitário,
pretende apontar depois de eleito quem irá comandar as univer-
sidades. Existe, inclusive, um patrulhamento dos “politicamente
corretos” para que não se critique a falta de formação do presi-
dente, como se isso fosse algum tipo de preconceito. Um gari
precisa de curso primário completo, mas não podemos questi-
onar sobre a formação do presidente do país. Questionar seu
preparo para a tomada dessas decisões autoritárias justamente
na educação dos outros passa a ser quase um pecado. Acabam
idealizando a ignorância, como se a busca pelo conhecimento
não fosse desejada ou necessária. Isso está refletido nas eleições
para vereadores em 2002, onde apenas 14% dos eleitos con-
cluíram uma universidade18.
De volta à contradição, o povo é tratado como incapaz de
decidir, embora na hora da eleição seja justamente o mesmo
povo que escolhe o governante. Alegam que os ignorantes pre-
cisam ser protegidos pelo Estado dos empresários “ganancio-
sos” das universidades privadas, pedindo assim o paternalismo
estatal. Mas, há poucos minutos atrás, esses mesmos ignoran-
tes deveriam ser livres para a escolha do próprio presidente!
Pergunto então: quem protege o povo mentecapto da ganância
e enganação dos políticos? Os marqueteiros por acaso pintam
um quadro real e sincero dos candidatos? Políticos, logo eles,
são por acaso santos? E vamos lembrar que a eleição se dá ape-
nas de 4 em 4 anos, sem a liberdade de o consumidor trocar o
produto no meio desse tempo se estiver insatisfeito. Já a

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interação no livre mercado, inclusive de educação, é ininterrupta,
forçando, por meio da competição, que os empresários estejam
sempre buscando melhorar o atendimento ao consumidor, sob
o risco de falir caso a concorrência faça melhor. É simplesmente
contraditório defender, ao mesmo tempo, o sufrágio universal
na política e o paternalismo estatal.
A triste realidade é que muitos governantes contam justa-
mente com a ignorância do povo para vender sonhos utópicos
e a imagem de “pai dos pobres”. E ignorante é o que não falta
neste país. O Programa Internacional de Avaliação de Alunos,
Pisa, divulgou sua pesquisa de 2003, na qual foram avaliados
250 mil alunos de 15 anos em diversos países. O rendimento
brasileiro foi tão baixo que não pôde sequer ser classificado
num dos seis níveis de desempenho da prova. Em matemática,
tivemos grande destaque: o último lugar! Ficamos atrás da
Tunísia e Indonésia. Deve ser por isso que no Brasil fazem
tanto barulho para que o Estado resolva todos os problemas
sócio-econômicos, gerando empregos, reduzindo os juros com
sua caneta, financiando as empresas, aumentando gastos soci-
ais, alimentando todos e ainda reduzindo impostos. O brasilei-
ro pensa que recursos são ilimitados. Não entende o conceito
de escassez e nem calcula que, para cada real gasto pelo gover-
no, este precisa tirar mais que um real do próprio povo.
Em ciência o Brasil abocanhou o penúltimo lugar, com
Tunísia em último. Vai ver que é por isso que certas leis básicas,
como a da gravidade, são tão ignoradas por aqui. Afinal, o céu
é o limite para tantas promessas utópicas dos candidatos. Creio
que isso explica também o apreço dos brasileiros pela magia,

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como os incas, que, no desespero de uma safra ruim, sacrificavam
algumas crianças em oferendas para deuses, na esperança da
melhora do tempo. Não somos o país onde a “esperança ven-
ceu o medo?” De repente, basta esperar, com muita fé, que o
problema da educação será milagrosamente sanado, justo pelo
governo, que tem interesse na ignorância do povo, e é eleito
por ele. Para que pesquisar os exemplos empíricos e compre-
ender a lógica do processo de ensino?
O governo Lula andou tomando medidas para um
“nivelamento democrático” no Itamaraty. Para “democratizar”
o acesso ao cargo de diplomata, retirou o inglês como uma exi-
gência especial e eliminatória da prova de admissão. Argumen-
taram que a língua pode ser ensinada depois, abrindo assim o
leque de oportunidades para mais gente. Faz sentido! Onde já
se viu demandar o conhecimento pleno dessa língua para pro-
fissionais que vão representar a nação no exterior e negociar
com os governantes do mundo todo? Seria uma exigência pu-
ramente “elitista”, condenando os coitados que não aprende-
ram o inglês, mas ainda assim querem ser diplomatas. “Só”
porque o inglês é a língua base de toda negociação diplomáti-
ca? Não entendi por que o governo não estendeu a medida
para “democratizar” outras profissões, como talvez eliminar o
conhecimento de medicina como obrigatório para médicos, ou
o de direito para juízes. Se para presidente nenhum conheci-
mento é obrigatório, não seria elitismo exigir que apenas enge-
nheiros possam construir prédios? Eis o conceito aparente de
“democratização” para este governo: reduzir o nível de dificul-
dade para o acesso aos cargos, em vez de melhorar a capacida-
de dos candidatos. Enquanto isso, o Chile tornou obrigatório o

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inglês como segunda língua nos colégios. Não é à toa que eles
estão bem melhores que o Brasil em praticamente todos os
indicadores econômicos e sociais.
A educação é fundamental para qualquer nação civilizada.
Entretanto, não é por meio do excesso de intervenção estatal
que se vai melhorar a situação precária do Brasil. Necessário é
reduzir o Estado, para que os impostos e juros menores, con-
seqüência de gastos públicos menores, possam estimular o
empreendedorismo e a criação de empregos. O governo pode
contribuir no financiamento do ensino básico, mas deixando a
gestão em mãos privadas, com interesses aliados aos do merca-
do de trabalho, não ideologias políticas. E as escolhas indivi-
duais, assim como a meritocracia, devem sempre ser respeita-
das. O exemplo sul-coreano é útil para mostrar como é o ensi-
no fundamental que precisa ser melhorado, e com incentivo ao
mérito individual. O Brasil segue na contramão da história,
com um governo se espelhando em Cuba, criando cotas que
deram errado no mundo todo, e reduzindo a liberdade das
universidades. Talvez seja exigir demais de um presidente cuja
“mãe nasceu analfabeta”, como ele mesmo disse. Quem sabe
se ao menos ela tivesse nascido já poliglota...

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ECONOMIA

O risco de focar demais na árvore é deixar de ver a floresta.


Lula tem utilizado muito o crescimento econômico para gan-
hos políticos, como se tudo fosse resultado de medidas de seu
governo. Na verdade, as causas por trás do avanço econômico
brasileiro recente estão na floresta, não no pau-brasil. O PT
parece contar com a miopia dos eleitores, que não teriam visão
suficiente para enxergar o quadro completo.
De fato, a economia brasileira vem crescendo razoavelmente.
Poderia crescer muito mais não fossem os freios da burocracia,
impostos e juros elevados. Mas é verdade que temos experi-
mentado taxas elevadas de crescimento do Produto Interno
Bruto, o PIB. Em 2004, por exemplo, o crescimento foi de
5,2%, a maior taxa desde 1994. Mas a China cresceu 9,5% em
2004, a Índia cresceu mais que 7%, a Rússia cresceu cerca de
7%, e por aí vai. Em 2005, segundo levantamento realizado
pela consultoria Economist Intelligence Unit, o crescimento bra-
sileiro poderá chegar a quase 4%, enquanto os outros países
emergentes como China, Índia e Rússia deverão crescer 8,1%,
7,7% e 6%, respectivamente. O estudo foi feito com 157 na-
ções, e Argentina e Chile deverão crescer mais que o Brasil
também, em torno de 5%. O Brasil ficou na 97º posição do
ranking. O último colocado seria Zimbábue, do “presidente”
Robert Mugabe, que tem forte admiração por políticas como as
cotas e fez uma reforma agrária nos moldes defendidos pelo MST.

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Portanto, vê-se que o Brasil está crescendo, mas aquém de
outras nações com tamanho parecido. Além disso, devem-se
analisar quais setores estão puxando o crescimento brasileiro
para entender melhor suas causas. Os setores mais dinâmicos e
com maior crescimento são justamente os voltados para o co-
mércio exterior, como agronegócio e minerais. As exportações
deram um salto, como foi o caso em inúmeras outras nações.
Isso se deveu basicamente ao acelerado processo de crescimento
chinês, que vem absorvendo boa parte das commodities do mun-
do. Nenhuma política do governo Lula é responsável pelo cres-
cimento chinês, nem tampouco pela extração e exportação de
minério-de-ferro da Companhia Vale do Rio Doce. Os preços
do minério da CVRD, aliás, foram negociados com siderúrgi-
cas internacionais e irão aumentar mais de 70% este ano. O
fato será responsável por mais de 4 bilhões de dólares a mais na
balança comercial de 2005. Nenhum mérito de Lula.
O governo Lula ganhou na loteria. O presidente assumiu a
cadeira no Planalto justo em um momento favorável no ambi-
ente econômico externo. A China está crescendo rapidamente
e demandando recursos do mundo todo. Os Estados Unidos,
locomotiva do crescimento global e gerador de empregos por
todos continentes, vão mostrando pujança econômica também.
Enquanto isso, a taxa de juros está em patamares historica-
mente ridículos de baixa, permitindo que um surto de liquidez
tome conta do mundo. Sem elevados retornos em casa, investi-
dores do mundo desenvolvido ficam menos avessos ao risco, e
apostam suas economias em terras mais aventureiras, como o
Brasil. Uma chuva de dólares procura ativos em países arrisca-
dos e exóticos. E o presidente Lula surfa na onda gerada pelos
ventos de fora.
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Enquanto isso, justiça seja feita, o governo FHC pegou
um verdadeiro vendaval contrário, que, diferente do que pensa
Lula, não é o tsunami que destroçou a Ásia. Durante o governo
FHC tivemos a crise da Ásia em 1997, seguida da crise da
Rússia em 1998, o débâcle do Long Term Capital Management
no mesmo ano, a corrida de dólares que forçou a desvalori-
zação, e a crise do Y2K, na virada do milênio. As condições
climáticas eram outras, completamente diferentes e adversas.
E mesmo assim, cabe destacar que dados do Ministério do
Trabalho mostram que os pagamentos do seguro-desemprego
aumentaram nos últimos anos. Tal informação segue na con-
tramão do que vem sendo divulgado pelo governo Lula, que
ressalta o crescimento de emprego com carteira assinada. O
gabinete do Deputado Federal Eduardo Paes (PSDB-RJ) re-
alizou uma consulta ao sistema de acompanhamento de gastos
do governo (Siafi) e notou que desde 2000, o ano em que se
pagou menos seguro-desemprego foi 2001, na gestão de FHC,
quando teriam sido destinados R$ 6,9 bilhões ao pagamento
do benefício. Em 2004, no governo Lula, esse gasto teria subi-
do para R$ 7,3 bilhões. Eduardo Paes pergunta então “como o
governo pode anunciar um aumento na criação de emprego,
enquanto verificamos uma expansão dos saques de seguro-de-
semprego?” Paes conclui que se trata de uma incoerência, uma
possível maquiagem dos dados. “Não passa de uma bravata”,
desabafa. Os números mostram que durante a gestão petista já
foram gastos R$ 15 bilhões com o seguro-desemprego.
Além disso, segundo uma pesquisa com base em dados do
IBGE, somente entre 2002 e 2003 a renda das famílias brasi-
leiras viu-se reduzida em 14%, a maior taxa média registrada

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nos últimos 15 anos. O principal vilão é o Estado brasileiro,
um verdadeiro aspirador de recursos privados, que absorve,
além dos quase 40% do PIB em impostos, cerca de 80% de
todo o crédito disponível no país, puxando a taxa de juros para
cima. Enquanto a vida do trabalhador fica mais sofrida com
maiores impostos, o governo Lula aumentou as despesas do
gabinete presidencial de R$ 76 milhões aproximadamente gas-
tos em 2002 por FHC para cerca de R$ 373 milhões em 2004,
segundo dados levantados por consultores com senha especial
de acesso ao Siafi. O número de funcionários no Palácio do
Planalto praticamente triplicou na era Lula, que ainda nem
acabou. A “República sindical” gasta bem mais que diversas
monarquias em termos per capita. Está sendo bem caro para o
povo manter um presidente operário!
Voltando às exportações, o governo consegue, na verdade,
prejudicar o potencial exportador. Existem diversas barreiras
que impedem um crescimento ainda maior, como gargalos de
infra-estrutura e logística, instabilidade no campo causada pelos
baderneiros do MST, carga tributária asfixiante e burocracia
lenta. No Brasil, o comércio exterior é regulado por cerca de
200 leis e 1.800 normas! As estradas de ferro foram totalmente
sucateadas pelos governos passados; e, na época da concessão
ao setor privado, em 1996, a condição delas era precária. As
empresas privadas vêm investindo pesado para recuperar o
quadro, mas ainda reclamam da interferência estatal. O setor
privado poderia estar gerando muito mais divisas para o país,
servindo como uma locomotiva do crescimento, caso o Estado
deixasse a economia em paz. Eis o verdadeiro “custo Brasil”:
o governo!

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No agronegócio, as barreiras colocadas pela incompetência
estatal são enormes, principalmente no que diz respeito ao MST.
Valmir Assunção, coordenador do MST na Bahia, tentou jus-
tificar a destruição de uma plantação da empresa Veracel Celu-
lose, invadida pelos sem-terra, afirmando que “ninguém come
eucalipto”. Eis a lógica desse movimento que desrespeita vári-
as leis, deixando cada vez mais evidente que seu objetivo tem
caráter político, não social. Alguém deveria explicar para o su-
jeito que ninguém come aviões também, ou minério de ferro,
ou bobinas de aço. Entretanto, a exportação desses produtos
permite a geração de empregos no país, assim como a entrada
de divisas que podem ser trocadas por alimentos. O MST é
um obstáculo claro para o desenvolvimento. Como diz o espe-
cialista no tema Xico Graziano, “o Brasil não precisa de refor-
ma agrária”19. Ele aponta, após densa pesquisa, que os assenta-
mentos do MST tornaram-se favelas rurais, e que “o modelo
fundiário defendido pelo MST e encampado pelo governo Lula
é falido”20. Um dos setores que mais cresce no país, por volta
de 7% ao ano, vem sofrendo constantemente ataques por guer-
rilheiros do MST, enquanto o presidente da República, que
representa o posto máximo do Estado de Direito, veste o boné
de tal instituição, literal e metaforicamente falando.
Fora isso, o governo é lento em assinar contratos de livre-
comércio. O Alca, Área de Livre Comércio das Américas, vive
sendo adiado. Entrementes, o governo Lula faz diversas via-
gens para países que não acrescentam praticamente nada em
termos comerciais, levantando suspeitas de que possui outros
objetivos em mente, como a cadeira do Conselho de Segurança
da ONU. Uma dessas viagens, por exemplo, incluiu a Síria,

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Líbano e Líbia, países pobres, quase sem comércio com o Brasil,
e dominados por regimes autoritários. Foram excluídos do
roteiro a Arábia Saudita, Jordânia e Israel, países bem mais
ricos e com muito maior potencial para um comércio paralelo.
Israel ainda foi criticado pelo presidente, sendo que se trata da
única democracia no Oriente Médio.
O governo Lula busca acordos entre os vizinhos pobres na
América do Sul também, enquanto mantém muitas vezes um
tom antiamericano desnecessário, ignorando que os Estados
Unidos são o principal cliente brasileiro. Esse antiamericanismo
tolo ficou visível no episódio da identificação de turistas ameri-
canos, pedido pelo procurador da República José Pedro Taques,
alegando o direito de reciprocidade jurídica, já que os america-
nos tinham criado uma lista de países a terem seus cidadãos
fichados na entrada aos Estados Unidos. Ora, essa nação vivia
momentos de tensão por medo de terrorismo, e o Brasil tem
reconhecidamente um passaporte visado, por não ter um tipo
físico dominante. A medida, que teve no silêncio do governo a
sua aprovação, mais parecia uma reação infantil que na prática
apenas afastava os desejados dólares do turismo. O Chile, em
contrapartida a esse claro antiamericanismo ideológico, foi logo
costurar um acordo bilateral com o Tio Sam, e vem mostrando
excelentes resultados. Lula parece preferir ser cabeça de sardi-
nha a rabo de baleia. E com isso o Brasil permanece um país de
economia fechada, com baixa exportação em relação ao PIB.
Em 2003, por exemplo, o Brasil foi o 25º colocado no ranking
de exportações no mundo21, perdendo para países como
Tailândia, Irlanda, Malásia, Suíça, Rússia, Cingapura, Taiwan,
México, Coréia e outros.

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Um dos maiores obstáculos gerados pelo governo para o
crescimento econômico são os impostos. A carga tributária
brasileira é uma das maiores do mundo, chegando perto de
40% do PIB. Outras nações que competem com o Brasil no
comércio internacional possuem carga na faixa dos 20% do PIB,
ou menos. Além disso, representar um custo direto para as em-
presas, prejudicando a competitividade, os empregados é que
acabam pagando a conta, com menores salários. O que, além
de agravar a desigualdade de renda, afeta o crescimento econô-
mico. E a culpa é do governo.
A Gerdau é um bom caso para estudo, já que é uma
multinacional brasileira com boa parte de negócios no exterior.
Trata-se de uma gigante do aço, tendo produzido 13,4 milhões
de toneladas de placas, blocos e tarugos em 2004. A empresa
gerou um valor adicionado, líquido, de quase dez bilhões de
reais em 2004. No Brasil, esse valor adicionado foi de R$ 6,8
bilhões, enquanto no exterior foi de R$ 3 bilhões22. Porém,
analisando a distribuição desse valor, vemos que os colabora-
dores brasileiros levaram um bilhão de reais, comparado a R$
1,2 bilhão para os colaboradores estrangeiros. Será que o pa-
trão fica mais caridoso quando atravessa a fronteira? Será que o
altruísmo só existe no exterior? Dos quase R$ 7 bilhões de va-
lor líquido gerado no Brasil, metade, ou R$ 3,5 bilhões, foi
para o governo sob a forma de impostos, enquanto no exterior
foram apenas R$ 550 milhões para os cofres públicos, cerca de
18% do total gerado. Resta menos para dividir entre acionistas
e empregados. Como fica evidente, o verdadeiro inimigo dos
empregados não é o patrão, mas o Estado. Ele absorve como
uma esponja gigante os recursos gerados no país, reduzindo

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abruptamente o que sobra para funcionários. E não podemos
esquecer que o PT de Lula, na moita, editou a Medida Provi-
sória 232, que aumentava ainda mais os impostos. Esse é o
Partido dos Trabalhadores!
O governo brasileiro vem aumentando rapidamente seus
gastos, absorvendo a riqueza privada para manter esse mamute
gigante de fome insaciável. Lula prometeu na campanha lutar
para gerar 10 milhões de empregos, mas pelas contratações
públicas, é capaz de tentar obter tal meta por meio do Estado.
Até janeiro de 2005, haviam sido contratados mais de 80 mil
servidores civis, fora os 75 mil recrutas do serviço militar, em
comparação ao efetivo existente no final de 2002. O Estado
conta com mais de um milhão de funcionários, cujo rendimento
médio mensal está na faixa dos R$3.500, enquanto a média nas
atividades privadas não chega a mil reais. Os gastos com
pessoal e encargos saltaram de R$ 65,2 bilhões em 2003 para
R$ 73 bilhões em 2004. O subcontrolador-geral da União,
Jorge Hage Sobrinho, considera positivo o aumento dos
gastos públicos com funcionários, “porque reflete o fato de o
governo Lula estar abrindo concursos e recompondo a máquina
pública”. Interessante é que essa máquina já consome 40% da
produção privada. Para pagar esses R$3.500 mensais, na
média, para os servidores públicos, o Estado toma quase
metade da renda gerada pelo setor privado, que tem salário
médio inferior a mil reais.
Isso para não falar da previdência, uma verdadeira bomba-
relógio. O rombo previdenciário estimado para 2005, pelos
dados conhecidos no começo do ano, supera R$ 30 bilhões para
o setor público federal. O déficit do setor privado, através do

74 Rodrigo Constantino

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INSS, fica perto de R$ 20 bilhões, para muito mais funcionários.
Ou seja, o rombo do setor público, para sustentar pouco mais
de um milhão de empregados, é bem maior que o rombo do
setor privado, que cuida de quase 20 milhões de aposentados.
A trajetória é explosiva. Além disso, não se tem uma previdência
privada como no Chile, onde o trabalhador é livre para escolher
onde aplicar sua poupança. Temos um valor compulsório
determinado pelo governo, e ainda por cima retido para ser
aplicado pelo próprio governo, a uma rentabilidade pífia.
Somos uma nação de súditos explorados que bancam a orgia
financeira de Brasília!
Duas conclusões saltam aos olhos de quem não foi con-
taminado por dogmas marxistas: primeiro, que a luta de
classes verdadeira se dá entre pagadores de impostos, incluindo
empresários e trabalhadores, e burocratas do governo, muitas
vezes agindo como sanguessugas parasitas; segundo, que
o neoliberalismo está mais distante do Brasil que Plutão
da Terra!

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N EOLIBERALISMO

Muitos petistas, fazendo coro com o resto da esquerda


nacional, acusam o modelo neoliberal pelos males do país. Se o
sujeito tem uma dor de barriga ou uma prisão de ventre, é bem
possível que a culpa seja do neoliberalismo. A expressão
dispensa explicações, e é muitas vezes utilizada por pessoas que
não têm a mais vaga noção sobre o liberalismo. Ela serve como
o perfeito bode expiatório, como escusa para as verdadeiras
causas dos problemas. Acusavam assim FHC de neoliberal, e
os radicais do PT já partem para a mesma acusação a Lula.
Entretanto, se tem uma coisa que esses governantes não são é
liberais.
O liberalismo clássico é uma doutrina que prega o livre
mercado, cabendo ao Estado, funções básicas como a segurança
e justiça e praticamente nenhuma intervenção na economia.
Teríamos o laissez-faire, oposto ao socialismo planejado e
centralizado. O Estado poderia ser mínimo em tamanho, mas
forte para garantir o império da lei. Sendo pequeno, os impostos,
para mantê-lo, também seriam baixos, e a interação livre entre
os agentes econômicos é que determinaria a oferta e demanda
de bens e serviços. As trocas são voluntárias, e as empresas
ineficientes em atender a demanda do consumidor cedem
espaço para as mais eficientes.
O Brasil não chegou nunca perto de algo parecido. O
modelo brasileiro pode ser descrito como patrimonialista,
76 Rodrigo Constantino

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corporativista, clientelista, mercantilista, semi-socialista – tudo,
menos liberal. Afinal, o governo absorve, via impostos, prati-
camente 40% da riqueza privada gerada, enquanto o índice é
de menos de 18% em países como México, Coréia do Sul,
Tailândia, Chile, Índia ou Peru. É uma das maiores cargas do
mundo! A burocracia é onipresente, controla nos mínimos
detalhes as empresas e os indivíduos. Abrir, e principalmente
fechar uma empresa no Brasil, é tarefa hercúlea. O Estado
ainda é dono de empresas sem nenhum motivo lógico, como a
Petrobrás, Banco do Brasil, Correios, Eletrobrás, entre muitas
outras. Somente no sistema financeiro, o governo possui uma
fatia de mercado de quase 40% dos depósitos, por meio dos
bancos estatais. Uma família com renda mensal de R$ 5 mil
paga aproximadamente 65% em impostos para o governo23,
incluindo os diretos e indiretos, além do gasto com serviços
privados que supostamente estariam incluídos nos impostos
arrecadados. Tem-se o voto obrigatório, e ainda hoje a “Voz do
Brasil”, dos tempos da ditadura, é empurrada goela abaixo,
justo na hora do rush. Como fica claro, o Brasil não tem nada
de liberal.
Na verdade, o que acusam no governo de “neoliberal” são
apenas atitudes usadas como remédios para tratar de doenças
causadas justamente pela ausência do liberalismo. O exemplo
mais óbvio diz respeito aos juros elevados. De onde tiraram
que manter juros altos é uma política liberal? Por acaso os
Estados Unidos, que ainda são mais liberais que muitos outros
países, não possuem uma das menores taxas de juros do mundo,
abaixo de 3%? Os juros brasileiros não são altos por simples
desejo do Banco Central ou pirraça do FMI, muito menos por

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ser o Brasil parte de alguma linha liberal. Eles são absurda-
mente altos por culpa do governo. Vamos entender melhor
o porquê.
Em 1994, a dívida total líquida do governo representava
aproximadamente 25% do PIB. Ela saltou para 79% do PIB
em julho de 2004, perfazendo a astronômica quantia de R$
1,26 trilhão. Em termos relativos ao PIB, o endividamento
público multiplicou-se por três nesses 10 anos. Em 2004, nada
menos que R$ 300 bilhões da dívida da União estavam em
poder do Banco Central, por falta de demanda no mercado.
Além desse estoque fenomenal de dívida, o governo arrecada
quase 40% da produção nacional. Junte-se a isso, o fato de o
governo ter, baixa credibilidade causada pelo histórico de calote
no passado, instabilidade política com riscos de ruptura consti-
tucional, previdência com rombo explosivo, burocracia
escorchante, mentalidade de proteção aos devedores, incluindo
leis fracas para a recuperação do dinheiro emprestado via o ar-
resto de ativos do inadimplente e, podemos entender melhor
por que os juros são tão altos. A fome insaciável do governo
por recursos e crédito pressiona a demanda por dinheiro, e,
para uma oferta estável, o preço deve subir, como em qualquer
outra mercadoria. O preço do dinheiro é o juro. A solução
alternativa, se não for a de atacar o problema na sua raiz, redu-
zindo o Estado, seria apenas emitindo moeda, como tantos
governantes fizeram no passado. É claro que essa saída é ar-
tificial, pois não aumenta a oferta real de dinheiro, gerando
inflação galopante.
Em 1994, a dívida total líquida do governo representava
aproximadamente 25% do PIB, enquanto esta saltou para 79%
78 Rodrigo Constantino

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do PIB em julho de 2004, perfazendo a astronômica quantia
de R$ 1,26 trilhão. Em termos relativos ao PIB, o
endividamento público multiplicou-se por três nesses 10 anos.
Em 2004, nada menos que R$ 300 bilhões da dívida da União
estavam em poder do Banco Central, por falta de demanda no
mercado. Não vamos esquecer que, além desse estoque feno-
menal de dívida, nosso governo arrecada quase 40% da produção
nacional. Junte-se a isso o fato de termos um governo com baixa
credibilidade causada pelo histórico de calote no passado,
instabilidade política com riscos de ruptura constitucional,
previdência com rombo explosivo, burocracia escorchante, men-
talidade de proteção aos devedores, incluindo leis fracas para a
recuperação do dinheiro emprestado via o arresto de ativos do
inadimplente, e poderemos entender melhor porque nossos
juros são tão altos. A fome insaciável do governo por recursos
e crédito pressiona a demanda por dinheiro, e para uma oferta
estável, o preço deve subir, como em qualquer outra mercado-
ria. O preço do dinheiro é o juro. A solução alternativa, se não
for a de atacar o problema na sua raiz, reduzindo o Estado,
seria apenas emitindo moeda, como tantos governantes fize-
ram no passado. É claro que essa saída é artificial, posto que
não aumenta a oferta real de dinheiro, gerando inflação galo-
pante depois.
Diante dessa realidade ululante, o que faz o nosso presi-
dente, Lula? Critica quem “não tira o traseiro da cadeira para
mudar de banco”. Ou seja, joga a culpa das estratosféricas
taxas de juros pagas, para a classe média. Manda trocar de
banco como se os próprios bancos estatais não praticassem
taxas similares aos demais. Dessa vez, Lula realmente se

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superou ao tentar transferir, para o povo trabalhador, a
responsabilidade de algo que é única e exclusivamente culpa
do Estado e seu modelo.
Outro aspecto muito criticado como enfoque “neoliberal”
é a Lei de Responsabilidade Fiscal. Tem gente que realmente
pensa que o Estado tem uma máquina de produção de riqueza.
Ele pode produzir papel moeda, mas isso não tem nada a ver
com riqueza. Esta é gerada pelos investimentos, pela produção,
pelas inovações, pelos ganhos de produtividade. Se o governo
pudesse simplesmente detonar uma série de gastos sociais sem
conseqüências nefastas, não mais teríamos problemas de cunho
social na humanidade. Portanto, pregar que um governo gaste
deliberadamente mais do que arrecada, que no Brasil já é uma
barbaridade, é totalmente irresponsável. Certos leigos român-
ticos ignoram axiomas básicos, como o fato de ser inviável co-
mer e ter guardado o bolo ao mesmo tempo. Na medida em
que comemos o bolo, ele deixa de existir. Em outras palavras,
não existe almoço grátis!
Mas basta analisar o comentário de um importante mem-
bro do governo para ter uma noção da mentalidade petista. O
secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, embai-
xador Samuel Pinheiro Guimarães, fez um paralelo entre o
déficit público americano e do Brasil. A seguir, como se tivesse
concluído algo genial, ele perguntou porque o FMI é tão rigo-
roso com o Brasil, mas não com os americanos. Talvez nin-
guém tenha contado para Guimarães que o Brasil é quem foi
procurar o FMI, por vontade própria, não com uma arma na
cabeça obrigando-o. Estávamos desesperados por seus dólares,
pois o governo tinha absorvido os disponíveis na poupança
doméstica. Aliás...
80 Rodrigo Constantino

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Outro aspecto muito criticado como enfoque neoliberal é a
Lei de Responsabilidade Fiscal. Tem gente que pensa que o
Estado tem uma máquina de produção de riqueza. É verdade
que ele pode produzir papel-moeda, mas isso não tem nada a
ver com riqueza. Esta é gerada pelos investimentos, pela pro-
dução, pelas inovações, pelos ganhos de produtividade. Se o
governo pudesse simplesmente detonar uma série de gastos
sociais sem conseqüências nefastas, não mais teríamos proble-
mas de cunho social na humanidade. Portanto, pregar que um
governo gaste deliberadamente mais do que arrecada, que, no
Brasil já é uma barbaridade, é totalmente irresponsável. Os lei-
gos românticos ignoram axiomas básicos, como o fato de ser
inviável comer e guardar o bolo ao mesmo tempo. Na medida
em que se come o bolo, ele deixa de existir. Em outras palavras,
não existe almoço grátis!
Mas basta analisar o comentário de um importante mem-
bro do governo para ter uma noção da mentalidade petista. O
secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, o em-
baixador Samuel Pinheiro Guimarães, fez um paralelo entre o
déficit público americano e do Brasil. A seguir, como se tivesse
concluído algo genial, ele perguntou por que o FMI é tão ri-
goroso com o Brasil, mas não com os americanos. Talvez nin-
guém tenha contado a Guimarães que o Brasil é quem foi pro-
curar o FMI, por vontade própria, desesperado por seus dóla-
res, pois o governo tinha absorvido os disponíveis na poupança
doméstica. Aliás, esses dólares são, em grande parte, proveni-
entes justamente dos... americanos! Será que o embaixador não
sabe que o FMI não financia o déficit americano? Será que, em
um posto importante como esse, ele não entende que é o mundo

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quem financia tal déficit voluntariamente, por confiar na nação
e preferir aplicar seus investimentos lá? Creio que a probabili-
dade de alguém desse gabarito desconhecer algo tão óbvio para
qualquer economista é baixa. Só posso concluir que se trata de
má-fé ou antiamericanismo patológico, bastante visível em ou-
tras posições defendidas por ele. Logo, o FMI não pode ser
causa de nenhum problema; mas, sim, efeito. Como culpar a
UTI que o paciente moribundo procura por causa de sua
doença? Ver-se-á que as raízes dos problemas brasileiros são
internas, pois, com o fim do acordo com o Fundo, nada
mudará, com a exceção de que perdemos um seguro contra
crises bastante barato.
Outro exemplo interessante é o Projeto de Lei Comple-
mentar 137/04, do deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), que
estabelece um limite máximo de consumo e a criação de uma
“poupança fraterna”. O projeto estabelece que, durante sete
anos, haverá um limite máximo de consumo mensal que cada
pessoa poderá utilizar para seu sustento e de seus dependentes.
O limite será calculado de acordo com a renda per capita naci-
onal mensal disponível pelo IBGE. Em 2003, a renda per capita
anual era de R$ 8.565, ou pouco mais que R$ 700 mensais.
Pelo projeto, o que exceder então este limite será depositado, a
título de empréstimo compulsório, em uma conta especial de-
nominada Poupança Fraterna. O objetivo, segundo o autor, é
fortalecer os valores humanísticos de fraternidade. Interes-
sante visão! Tira compulsoriamente do cidadão aquilo que
ele batalhou para construir, em nome da fraternidade e igual-
dade. De fato, com uma lei absurda dessas, teremos igualdade.
Todos igualmente miseráveis, com a exceção dos poderosos

82 Rodrigo Constantino

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burocratas que controlam essas contas. Esse projeto ridículo
veio de um deputado petista. Não há nem um leve resquício de
liberalismo nisso.
Para provar de vez que o Brasil não tem nada de liberal, e
que isso é uma infelicidade, pode-se analisar o índice publicado
pelo The Heritage Foundation em conjunto com The Wall Street
Journal, mostrando elevada correlação entre liberdade econô-
mica e crescimento econômico. Ele demonstra que o caminho
da prosperidade é pavimentado por meio da liberdade econô-
mica. No ranking de 2004, ficaram no topo de maior liberdade
econômica países como Hong Kong, Cingapura, Nova
Zelândia, Inglaterra, Suíça e Estados Unidos. Não por acaso
são nações bem desenvolvidas, com elevada renda per capita e
ótimos índices de qualidade de vida, com baixa miséria. Já pa-
íses como Venezuela, Irã, Zimbábue, Coréia do Norte e Cuba
ficam na lanterna, ostentando a triste posição de ausência qua-
se completa de liberdade econômica. Não é obra do acaso, muito
menos obra divina, o fato de elas estarem entre as mais miseráveis
nações do mundo. E o Brasil? Será que está colado com os
verdadeiros países liberais? É evidente que não. Ocupa a infe-
liz octogésima posição. A liberdade econômica, caminho para
o sucesso, nunca deu o ar de sua graça. Mas ainda assim os
petistas e seus companheiros acusam justamente o
neoliberalismo pelos problemas. Quanta contradição...
Na contramão de Estado crescente com impostos cada vez
maiores e progressivos, a Estônia experimentou, em 1994, o
flat tax, um imposto simples e único, de 26% para pessoas físicas
e jurídicas, sem deduções. A economia decolou! Em seguida,
outros seguiram, como a Lituânia e a própria Rússia, que adotou
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imposto flat de 13% para pessoa física e 24% para as empresas.
A Eslováquia veio atrás, com 19% de imposto. Todos estão
experimentando excelente crescimento. O imposto menor e flat
reduz o incentivo das maiores empresas e dos ricos ficarem
perdendo tempo, dinheiro e energia com planejamento fiscal,
tentando burlar o fisco. Podem focar mais energia na produção
em si, e a arrecadação acaba crescendo, pelo maior crescimento
econômico e menor evasão fiscal. Eis uma receita típica do libe-
ralismo. Eis algo muito, muito distante da realidade brasileira.
Acusaram o neoliberalismo pela bancarrota da Argentina
também. O fato de o país não ter jamais feito uma reforma
fiscal não vem ao caso. O fato de o governo ter gastado muito
mais do que arrecadado também não vem ao caso. O fato de o
Estado ser inchado, e da corrupção ter tomado conta do apare-
lho estatal, pouco importa. Que as privatizações tenham sido
utilizadas apenas para cobrir rombos orçamentários e que o
peronismo ainda seja a ideologia dominante, não dizem muito.
As províncias não terem feito os ajustes necessários, transferin-
do o rombo para o governo federal, tampouco entra nas análi-
ses dos críticos do neoliberalismo. Enquanto isso, outros paí-
ses que fizeram tais reformas deram certo, e são ignorados pela
esquerda. Temos a Espanha e o Chile como bons exemplos.
Em contrapartida, Cuba, um país que sempre fez o oposto do
que prega o liberalismo, afunda na miséria. Mas para que os
fatos não contrariem a teoria, afirmam que a miséria cubana é
culpa do embargo americano. Mas a “exploração” dos ianques
não é condenável pela esquerda? Agora eles pedem justamente
a exploração americana para tirar a ilha da miséria! Melhor não
tentar entender. É tudo culpa do neoliberalismo.

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O fato é que, a esquerda, em termos gerais, e o PT em
particular, apossaram-se dos fins nobres. Querem o monopólio
da virtude! A preocupação com os mais pobres, a defesa das
minorias, a luta por menor desigualdade, tudo isso virou
monopólio deles, em termos de objetivos defendidos. Mas isso
é uma grande falácia. Na verdade, os liberais preocupam-se
tanto ou mais com tais questões. O que muda são os meios
defendidos para uma melhor qualidade de vida da população
de forma geral. E seria muito mais saudável para o povo se os
governantes focassem o debate nesses meios, ou seja, em pro-
jetos de governo, de forma prática e objetiva, usando a vasta
experiência histórica. Isso, evidentemente, não agrada muito
aos petistas, já que os exemplos históricos jogam contra suas
teorias. Por isso, eles acabam concentrando seus discursos nos
fins, não nos meios. Como se somente o PT estivesse preocu-
pado em melhorar a condição de vida dos mais humildes.
Muitos petistas fazem barulho pelas conquistas obtidas pelo
partido e sindicalistas para os trabalhadores. Deveriam então
perguntar por que cerca de 60% da mão-de-obra brasileira
encontra-se na informalidade, fugindo justamente desses
direitos conquistados! Eles sabem que, na hora de debater
planos concretos, os socialistas sempre fracassaram, trazendo
mais miséria ainda para o povo, como Allende no Chile, ou
Perón na Argentina, entre uma infinidade de exemplos. En-
quanto isso, os governantes mais liberais sempre entregaram
melhores resultados.
O melhor meio para deixar claro quem fez mais pelos pobres
é comparar a União Soviética com os Estados Unidos. No
primeiro, tentaram abolir o individualismo, como se um novo

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homem pudesse ser formado, pensando no coletivo, para aten-
der ao bem geral. Tudo que conseguiram criar, além de cam-
pos de concentração de trabalho forçado, foram armas de guerra,
ou carros como o Lada. Fora isso, aperfeiçoaram coisas alta-
mente elitistas, como o xadrez e o balé. Já os americanos, valo-
rizando o individualismo, desenvolveram mais de seis milhões
de patentes, criando utensílios como o forno de microondas,
telefone, computador, xerox, rádio, internet etc. As inovações
americanas possibilitaram um maior conforto para milhões de
pessoas, incluindo os mais pobres. Não há muito motivo, por
outro lado, para um pobre comemorar a criação de um AK-47,
fuzil que Hugo Chávez encomendou aos russos justamente
para controlar mais os pobres da Venezuela.
O fato é que os socialistas precisam criar mecanismos de
controle interno, já que o individualismo está arraigado em
todos os seres humanos, que se preocupam antes com seus
familiares que com o bem geral. Acabam justificando a opres-
são interna com bodes expiatórios externos, criando inimigos
imaginários como desculpa para a supressão das liberdades
individuais em casa. Já as nações mais liberais, que respeitam
o individualismo, prosperam mais, já que o foco nos benefí-
cios próprios acaba gerando externalidades positivas para todo
o resto, como o caso das invenções mencionadas. Um labora-
tório atrás do lucro cria um Viagra, por exemplo, que contri-
bui para a melhor qualidade de vida de muitos. Desde Adam
Smith, sabemos do poder dessa “mão invisível”. Já Cuba, o
que criou? Tudo que Fidel conseguiu foi reduzir o PIB do
país, que era o quarto da América Latina antes da revolução,
para o 15º lugar, além de ter feito a prostituição crescer

86 Rodrigo Constantino

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exponencialmente. Milhares de cubanos, impedidos de saírem
livremente daquele inferno, se jogam em cima de qualquer coisa
que flutue para tentar atravessar para a Flórida, no meio de
tubarões. Curioso é que sua revolução era justamente para li-
vrar-se da exploração americana, e agora os socialistas lasti-
mam exatamente o fato de os americanos recusarem explorar
Cuba. Que paradoxo!
Resta ao PT, diante de tamanha evidência do fracasso dos
seus meios, monopolizar em seu discurso as finalidades no-
bres, acusando os liberais de insensíveis. Tudo de ruim que
acontece no mundo, eles jogam a culpa no neoliberalismo, o
fantasma que, no Brasil, existiu apenas na mitologia canhota.

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PRIVATIZAÇÃO

Se existe uma palavra, que ainda é pecado nas rodas do PT,


é privatização. Se for para empresa estrangeira então, é o caminho
do inferno! A mentalidade petista ainda é carregada de um
nacionalismo bobo, típico dos que odeiam os outros países mais
do que amam o Brasil. E deposita no Estado, apesar de suas
constantes provas de ineficiência, a administração de empresas
as quais estariam atendendo o consumidor muito melhor em
um ambiente de competição de mercado, com gestão privada.
Somente fatores dogmáticos de ideologias irracionais explicam
algo tão sem sentido.
Observe-se o caso da Telebrás, em que o PT colocou-se
totalmente contrário à privatização. Acusaram o governo FHC
de ter vendido a empresa a preço de banana. Creio que teria
que ser uma floresta de bananeiras, todas em ouro maciço, para
tal crítica ter sentido. O leilão das empresas controladas pela
Telebrás ocorreu no dia 29 de julho de 1998, e foram vendidos
51,8% das ações votantes que a União detinha, perfazendo uma
participação média de 19,3% no capital total. Foram arrecadados
aproximadamente R$ 22 bilhões, ou 19 bilhões de dólares na
época. Cerca de sete anos depois, quanto será que valeria esta
participação estatal a preços de mercado? Menos de 6 bilhões
de dólares! Na verdade, fazendo os ajustes necessários para
todos os aumentos de capital que as subsidiárias realizaram, a

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participação do governo valeria algo em torno de 4 bilhões de
dólares24. Não é um mau negócio ter vendido a empresa por
quase 20 bilhões!
O índice de ações da Bovespa valorizou-se, neste período,
algo próximo de 20% em dólares, enquanto o valor das empre-
sas do grupo Telebrás caiu quase 80%. Isso se deveu basica-
mente às mudanças no setor de telecomunicações no mundo
todo, com pesados investimentos em infra-estrutura sem a
contrapartida no retorno. Portanto, o timing de venda da Telebrás
foi excelente, assim como o preço.
Fora isso, podemos destacar o pagamento de impostos das
empresas privatizadas, que tiveram um tremendo ganho de efi-
ciência e tamanho em comparação à era estatal. As empresas
capitalizadas investiram pesado e ainda tiveram que cumprir
metas rigorosas dos contratos. Somente em impostos sobre
vendas, a arrecadação dos governos triplicou de 1998 para 2003,
totalizando quase R$ 20 bilhões25. Isso é uma montanha de
dinheiro nas mãos do governo.
Falar da melhoria na qualidade do serviço é covardia para
quem se lembra do que era a Telebrás estatal. Acabaram as filas
gigantescas para conseguir linhas, que foram digitalizadas; o
atendimento ao cliente melhorou exponencialmente; milhares
de telefones públicos foram instalados e uma variedade incrível
de novos serviços foram ofertados por conta de uma competi-
ção maior e foco no lucro. Inúmeras promoções que benefici-
am os consumidores apareceram. Há mais de 65 milhões de
celulares no Brasil atualmente, inclusive nas mãos de pessoas
de classes mais baixas.

Estrela Cadente 89

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Em relação à privatização da Telebrás, portanto, não há nada
de objetivo que possa ser usado para criticar o governo FHC.
O valor arrecadado foi excelente, a qualidade do serviço me-
lhorou de forma absurda e os impostos a mais gerados pela
gestão privada entupiram os cofres públicos. A crítica verda-
deira pode e deve ser direcionada à questão do destino dado a
essa magnitude de dinheiro. Fosse essa quantia utilizada para o
abatimento de dívidas públicas, a economia anual poderia ser
da ordem de 2 bilhões de dólares, supondo um custo médio de
juros na faixa dos 10% ao ano, em dólar. Mas como FHC
nunca foi liberal, apesar do rótulo colocado por petistas, ele
não usou esse dinheiro para reduzir a dívida do governo, e sim
para gastos sociais. A privatização em si não foi um erro, como
pensam os petistas. Muito pelo contrário. Foi crucial para me-
lhorar o setor. O problema foi o governo não ter seguido na
linha liberal depois da venda, não usando o dinheiro para a
redução do endividamento público.
Outro exemplo claro de como a privatização foi importante
para o país pode ser encontrado nas ferrovias. O primeiro tre-
cho ferroviário que surgiu no Brasil partiu de uma iniciativa
privada, de Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá.
Em 1854, ele conseguiu uma concessão de Dom Pedro II para
a construção e exploração de um trecho de interligação ferrovi-
ária do país. Mas os grandes problemas do setor começaram
na era Vargas, que decretou medidas intervencionistas, como o
controle de tarifas e a taxação da importação de trilhos. Para
piorar a situação, o Plano Nacional de Viação, de 1944, lançava
as ferrovias em uma concorrência desleal e artificial, bancada
pelo Estado, que apostava pesado no transporte rodoviário, bem

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menos eficiente. Parece justo o título de “pai dos pobres”
para Vargas, tamanha a quantidade de pobres que seu
populismo pariu.
A malha ferroviária nacional foi reduzida de 37 mil para 29
mil quilômetros, tendo sido concedidos a quase totalidade
deles, por meio de leilões realizados a partir de 1996, à iniciati-
va privada. Aparecia uma luz no fim do túnel. A melhora foi
dramática. Os acidentes caíram cerca de 60% desde então, en-
quanto o volume de carga transportada cresceu 34% de 1997
até 2003. A performance das empresas ferroviárias gerou uma
arrecadação de R$ 2 bilhões para o Governo Federal no
mesmo período, enquanto que, nos 10 anos que antecederam a
desestatização, o setor acumulou um déficit para os cofres pú-
blicos de quase R$ 4 bilhões. Foram investidos cerca de R$ 6
bilhões desde 1997, e as perspectivas futuras são ainda melhores26.
Tudo graças à privatização que o PT tanto condena.
As estradas rodoviárias brasileiras estão caóticas, em um
estado deplorável. Trechos estão literalmente caindo aos pedaços.
Novamente, a privatização é a solução. No Brasil, apenas apro-
ximadamente 10% da malha rodoviária são pavimentados, e
destes somente 6% estão nas mãos privadas. A lógica do setor
privado é maximizar lucros, e isso exige atendimento decente
ao consumidor. A qualidade do serviço é que garante sua
sobrevivência ao longo do tempo, diferente das estatais. E como
as empresas privadas são diretamente responsabilizadas pelos
erros, são mais interessados na segurança do usuário. O gover-
no arrecada uma verdadeira fortuna em IPVA, e isso não é
transformado em boas estradas. Metade do valor arrecadado,
por este imposto, vai para o Governo Federal, e a cidade de São

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Paulo sozinha arrecadou R$ 857 milhões apenas em janeiro de
2005. Essa montanha de dinheiro perde-se de alguma forma,
enquanto os buracos nas estradas crescem sem parar, como um
queijo suíço.
Já as estradas transferidas para o setor privado estão impe-
cáveis. Muitos reclamam do preço do pedágio, mas esquecem
a mudança na qualidade das estradas. E deveriam, na verdade,
reclamar do IPVA pago a fundo perdido, em vez do pedágio,
que pode ser avaliado diretamente pela qualidade da estrada
em questão. A CCR, empresa privada dona de algumas con-
cessões, tem feito um bom trabalho em suas rodovias, sempre
em busca do lucro. A empresa, que faturou R$ 1,5 bilhão em
2004, tem no seu controle o grupo português Brisa, assim como
construtoras nacionais. Um terço do capital está nas mãos de
acionistas minoritários. Todos buscando o lucro. E é essa lógi-
ca capitalista que faz com que a qualidade dessas estradas este-
ja infinitamente acima das estatais. Com tanta evidência assim,
até o governo Lula, que sempre criticou privatizações, vai le-
var a leilão novos trechos rodoviários. O PT nunca gostou de
privatizações, mas quando se é governo, a lógica acaba pesan-
do mais que o discurso ideológico. E os companheiros de anti-
ga caminhada política ficam perplexos, sem entender a mu-
dança do governo Lula, que esquece seus discursos passados.
Por fim, vamos falar da Petrobrás, ícone dos nacionalistas
que dispensam a lógica em nome da ideologia. A “Petrossauro”
é tida como menina dos olhos pelos pseudonacionalistas. Em-
balados pela propaganda enganosa de “o petróleo é nosso”,
consideram absurda a idéia de privatização da empresa. A
mentalidade de que os recursos naturais garantem a riqueza

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do povo ajuda, ignorando o fato de um Japão ser rico enquanto
uma Nigéria é miserável. Aliás, a Venezuela produz mais de 3
milhões de barris diários do outro negro, que cotados a uns 50
dólares, geram uma receita em torno de 150 milhões de dólares
por dia! Será que o povo miserável do país de Hugo Chávez
deve comemorar que o “petróleo é deles?” Roberto Campos já
dizia que “mais importante que as riquezas naturais são as
riquezas artificiais da educação e tecnologia”27. Mas a palavra
mágica que desperta fortes emoções é “estratégico”, conside-
rando o petróleo como vital para o país.
Claro que o petróleo é vital, mas sob hipótese alguma é
necessário que ele seja explorado por uma estatal, ainda mais
monopolista! Nada mais vital que a alimentação. Sem comida,
a morte é certa, e ninguém consegue obter calorias degustando
um saboroso galão de querosene. Entretanto, tem-se acesso
fácil a diversos tipos de alimentos, sem que o governo tenha
que controlar empresas do setor. Na verdade, é o contrário:
quanto mais o governo controla, maior o risco de problemas.
Cuba está aí para provar, com um setor de eletricidade caótico,
obsoleto, deixando a população na escuridão. E a União Sovi-
ética de Stalin matou de fome milhões de pessoas quando o
governo era monopolista no setor de alimentos, inclusive
negando, por motivos ideológicos, ajuda oferecida pelos Es-
tados Unidos.
A indústria de petróleo foi desenvolvida pelo setor privado
desde a primeira prospecção de Edwin Drake em 1859, na
Pensilvânia. O rápido avanço deveu-se às forças ocultas da com-
petição, a mão invisível do mercado. Enormes avanços rumo
ao maior conforto do homem foram possíveis pelo progresso

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do setor. E no país onde este avanço foi maior, a empresa líder
era privada. A Standard Oil americana acabou sendo dividida
entre empresas menores, e dali surgiram Exxon, Mobil,
Chevron, Amoco e Conoco. Os americanos são responsáveis
por mais de 30% do consumo mundial de petróleo, e ninguém
mais que eles pode então considerá-lo estratégico. Porém, exis-
te lá um mercado privado competitivo, justamente por isso efi-
ciente, bem diferente do caso de uma PDVSA na Venezuela,
que é utilizada para fins políticos do populista Chávez.
A ausência de um controle privado acaba gerando mais
corrupção, dado que os processos de contratação de serviços e
compras de produtos ficam longe do escrutínio de sócios preo-
cupados com o lucro. As amarras das leis para estatais, como a
8.666, de licitações, tiram a agilidade fundamental para a efici-
ência das empresas. O seu uso para fins políticos é a garantia
de que a meritocracia será solapada, fato evidente quando ana-
lisamos o currículo do presidente da Petrobrás, nitidamente
apontado para o cargo por objetivos partidários do PT. Não há
um único argumento racional contra a privatização da Petrobrás,
restando apenas a retórica do nacionalismo como desculpa para
se perpetuar mamatas das estatais. Sob o manto dos interesses
nacionais, poucos políticos e empresários corruptos exploram
o interesse verdadeiro dos cidadãos. Afinal, interesse nacional
nada mais é que o somatório de interesses de cada indivíduo da
nação. E para a grande maioria do povo, o que importa não é a
nacionalidade do dono da empresa, mas sim a qualidade dos
serviços prestados em relação ao preço pago, o que é possível
somente através da competição no livre mercado.

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O petróleo gera rios de dinheiro, sendo que este percorre
um longo caminho até chegar aos destinos certos. Claro que,
em cada esquina, deixa um polpudo pedágio, conquistando uma
legião de fiéis adoradores, que defendem com unhas e dentes a
idéia de postergação ad infinitum da Petrobrás como empresa
estatal. O fundo de pensão agradece, recebendo quantias rela-
tivas aos dividendos dos acionistas jamais vistas na esfera pri-
vada. Os membros poderosos dos sindicatos agradecem, pro-
tegendo seus empregos da livre competição. Os empresários
corruptos agradecem, podendo fechar ótimos negócios com o
“elefante” graças ao suborno, e não à eficiência dos serviços
prestados. Artistas que cedem à doutrinação ideológica coman-
dada pelo governo também agradecem, pois recebem contri-
buições impressionantes para o “avanço cultural” sem qual-
quer critério de mercado. Os políticos regozijam-se, podendo
usar uma empresa de expressivo tamanho para leilão de cargos
e votos. Toda uma cadeia da felicidade é alimentada pela
“Petrossauro”, cujas tetas sustentam inúmeros oportunistas. O
único que perde mesmo, pagando elevados impostos perdidos
nessa cadeia, e tendo ainda serviços piores com preços maiores,
é o povo. Mas quem liga para o povo?

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MATERIALISMO SOCIALISTA

Pelo excesso de repetição da mentira, como ensinava o


marqueteiro de Hitler, Goebbels, ela acaba se tornando uma
verdade. Um dos exemplos mais claros disso é a imagem de
que os capitalistas são materialistas; enquanto os socialistas, não.
Está gravado no inconsciente dos leigos que os capitalistas são
ricos lutando para preservar o status quo, enquanto socialistas
são humildes trabalhadores, lutando pela justiça social. Uma
completa inversão!
A esquerda sempre espalhou o mito de que seus expoentes
são operários de salário mínimo, bóias-frias, pobres trabalha-
dores explorados pelos capitalistas. Totalmente falso. Como
Roberto Campos dizia, “nossas esquerdas não gostam dos
pobres; gostam mesmo é dos funcionários públicos”28. Ele
explicava que “são estes que, gozando de estabilidade, fazem
greves, votam no Lula, pagam contribuição para a CUT”.
Karl Marx, o patriarca da esquerda, casou-se com uma aris-
tocrata alemã, Jenny von Westphalen, descendente da alta aris-
tocracia da Escócia e filha de um nobre29. O próprio Marx
pouco trabalhou, vivendo às custas de seu companheiro de idéi-
as, Friedrich Engels, que era filho de um grande burguês30.
Marx não tinha nada de proletário; e, poucas vezes na vida,
esteve em uma fábrica.
Lênin, um dos mentores do golpe bolchevista que trucidou,
em 4 meses, mais vidas do que o Czar em décadas, era filho de

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pais abastados31. Mao Tse-Tung, o líder comunista da China,
que matou milhões direta ou indiretamente, por meio da fome,
era filho de um rico agricultor32. O pai de Fidel Castro era um
latifundiário que possuía oitocentos hectares de terras e arren-
dava outros dez mil33. A respeitada revista Forbes estima, atra-
vés de dados embasados e não contestados, que a fortuna de
Fidel passa de meio bilhão de dólares, o que não é nada impro-
vável, considerando que a União Soviética enviava mais de 5
bilhões de dólares por ano para a ilha. O ditador encabeça pela
segunda vez consecutiva a lista dos homens mais ricos do mundo.
Ele teria pelo menos 36 mansões, locomove-se em comboios
de Merdedez-Benz, e vendeu recentemente aos franceses a
fábrica de rum Havana Club, embolsando na operação cerca
de 50 milhões de dólares. Enquanto isso, seu sonho socialista
faz com que professores ganhem, em média, 8 dólares por mês,
sendo ainda obrigados a ensinar como o socialismo é bom.
O socialista chileno Salvador Allende era filho de advogado,
neto de médico e morou sempre nos melhores bairros de
Santiago. Gostava de bons vinhos e coleções de obras de arte.
Dizem que tinha mais de 200 gravatas e numerosa coleção de
finos ternos34. Seu governo acabou destruindo as chances de
alguém de classe baixa chegar ao mesmo patamar, já que a in-
flação disparou para mais de 500%, a produção desabou e o
desemprego explodiu.
O líder do Partido Comunista italiano, Enrico Berlinguer,
já falecido, descendia de marqueses catalães, e seu nome figu-
rava no “Livro de Ouro da Nobreza Européia”. Costumava
passar as férias na Sardenha, velejando com seu barco. Ele e o
irmão chegaram a ser donos de uma ilha particular, de 100
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hectares35. François Mitterrand, o socialista francês que decla-
rou guerra ao capitalismo liberal, adotando um dirigismo esta-
tal que gerou inflação e aumento do desemprego, possuía uma
residência em Paris, uma casa na praia, dois pequenos terrenos
no campo, além da conta bancária36. Sua política la relance, como
ficou conhecida, foi responsável pela contratação de mais de
cem mil funcionários públicos, causando enorme prejuízo aos
cofres do governo.
Jean-Paul Sartre vivia no conforto da França, com bastante
dinheiro no bolso, enquanto defendia a máquina assassina do
Estado soviético, assim como admirava Mao, um dos maiores
genocidas da história. Enquanto Sartre elucubrava sobre as
maravilhas do regime durante suas fartas refeições, milhões
morriam de fome por causa do “grande salto” lançado pelo
comunista, que foi na verdade um salto do precipício. Gabriel
Garcia Márquez, amigo de Fidel, admitiu em entrevista que
sua obra lhe proporcionava entre 350 e 400 mil dólares anu-
ais37. O escritor Saramago apoiou, durante anos, o socialismo
cubano, que escravizou a população e, que trouxe miséria ge-
neralizada, com a exceção apenas de Fidel e seus amigos. Rom-
peu com Fidel após o assassinato de mais três intelectuais, como
se os milhares no currículo do ditador não tivessem importân-
cia ou fossem justificáveis pelo fim maior da revolução.
Saramago ganhou o prêmio Nobel de literatura e juntou uma
boa fortuna com a venda de seus livros. Não tive notícias desse
dinheiro, sendo doado, para a maior igualdade social.
Atravessando o oceano e vindo parar em terras tupiniquins,
Marta Suplicy, mesmo antes de ingressar na vida pública, não
fazia compras em supermercados. No final de 2002, estava se
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preparando para mudar-se com o namorado argentino para a
casa ocupada pelo ex-marido, Eduardo Suplicy, avaliada em
R$ 2,5 milhões38. Leonel Brizola tinha um patrimônio avalia-
do em dois milhões de dólares já em 1986, representado prin-
cipalmente por duas fazendas no Uruguai, com mais de 3 mil
hectares, onde ele criava umas sete mil ovelhas39. Fora isso, ele
recebia três aposentadorias de funcionário público, somando
mais de R$ 12 mil mensais. Seu cunhado, o ex-presidente João
Goulart, mais conhecido como Jango, era proprietário de 15
mil hectares de terra em São Borja, assim como um rebanho de
65 mil animais40.
Muitos artistas, escritores, arquitetos e até religiosos brasi-
leiros famosos defendem o ditador Fidel Castro, cujo paredón
já ceifou a vida de milhares de inocentes. Tais artistas não são
nada pobres. O curioso é que se o mundo fosse socialista, como
gostariam no discurso, com certeza seriam apenas mais alguns
miseráveis, como todos em Cuba. Não são os cubanos que com-
pram seus livros. E se eles realmente morassem na ilha-presí-
dio, sequer poderiam ter escrito músicas contra a ditadura, ou
artigos condenando o governo. Estariam presos e pobres se
tivessem sorte de permanecerem vivos. Mas não se cansam de
defender o socialismo, ou o altruísmo por meio do Estado, sem
mexerem em suas contas bancárias. Pregar o altruísmo com o
dinheiro dos outros fica fácil. Já Bill Gates, o capitalista ganan-
cioso, contribuiu com 3 bilhões de dólares, seus, para a
filantropia. A hipocrisia dos socialistas impressiona.
O próprio Fórum Social Mundial conta com um financia-
mento milionário para propagar que “um novo mundo é possível”,
mundo este com Fidel Castro e sem Coca-Cola, mas com jatos

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da Boeing americana para poder transportar milhares de
pessoas do mundo todo para o evento de mega infra-estru-
tura. Ali pregam a liberdade, mas todos que pensam de
forma diferente estão terminantemente vetados dos debates.
O último FSM realizado em Porto Alegre custou cerca de
R$ 18 milhões; e, enquanto o refrigerante símbolo do capi-
talismo não era permitido, o comércio de camisetas de Che
Guevara era um sucesso! Vender bens objetivando o lucro
é aceitável, contanto que sejam os bens ligados à esquerda.
Por outro lado, o Fórum da Liberdade, organizado por
liberais, conta com organização bem mais humilde, destaque
infinitamente menor na mídia, financiamento escasso e ainda
permite a presença dos expoentes da esquerda no evento.
Mas ricos são os liberais, não os socialistas!
Os exemplos seriam infindáveis. A retórica socialista,
repleta de romantismo utópico e contradições lógicas, acaba
garantindo a imagem de nobre homem preocupado com o social
e com as desigualdades materiais, embora o socialismo não seja
visto como materialista. E a pregação ideológica do socialismo
acaba ajudando nas vendas de livros, músicas e filmes, deixando
os artistas ricos. Claro que esses ricos socialistas nunca teriam
tal riqueza se dependessem das nações socialistas, sempre mise-
ráveis. Por isso Roberto Campos, acertadamente, disse: “É di-
vertidíssima a esquizofrenia de nossos artistas e intelectuais de
esquerda; admiram o socialismo de Fidel Castro, mas adoram
também três coisas que só o capitalismo sabe dar – bons cachês
em moeda forte, ausência de censura e consumismo burguês”.
Conclui Campos: “Trata-se de filhos de Marx numa transa
adúltera com a Coca-Cola...”.

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Os próprios socialistas deixam transparecer tamanho
materialismo. José Genuíno, ex-guerrilheiro maoísta e atual
presidente do PT, escreve com todas as letras no artigo “A
Esquerda e as Reformas”, que “ser de esquerda implica lutar
por uma sociedade materialmente mais eqüitativa”. O sonho
dos socialistas é uma colméia, onde temos todos os homens
iguais, controlados pela cúpula do poder, claro. Não importa
que indivíduos tenham interesses e preferências distintas. Não
importa que uns tenham se esforçado mais, outros tenham tido
mais sorte. Não importa que um prefira substituir no presente
lazer por trabalho, pensando no futuro. Não importa que uns
sejam mais capazes. O mundo da utopia desenha seres-humanos
como cupins, todos iguais, com a mesma conta bancária inde-
pendente da meritocracia.
Na verdade, nem todos iguais. Como George Orwell
brilhantemente retratou em “A Revolução dos Bichos”, uns
sempre serão mais iguais que os outros. Assim, porcos e
humanos se confundem, enquanto os burros trabalham como
escravos! Quando Utopus, fundador da Utopia no livro de
Thomas Morus, acordou desse sonho igualitário, a realidade
com que ele se deparou era a União Soviética, com seus gulags
mantendo cerca de três milhões de escravos. Tudo em nome da
máxima socialista de “cada um contribuir com o que pode e
cada um retirar o que precisa”. Com o tempo, ninguém mais
pode contribuir voluntariamente, e todos necessitam de um
monte de coisas. Há uma desconfiança generalizada, uma re-
volta de uns com os outros, já que até o nascimento de um
novo filho representará mais trabalho forçado para os demais.
Somente a coerção estatal, transformando homens em escravos,
consegue manter alguma produção.
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A liberdade é muito mais importante que a conta bancária.
Os socialistas fingem que não entendem isso. O caráter moral
de uma sociedade livre não tem preço. E quando defendem
que temos que tirar do rico para dar aos pobres, independente
da meritocracia e da liberdade deles, estamos diante de um ato
imoral. A necessidade não é uma justificativa para roubo. Em
nome da justiça social, a esquerda adota conceitos abstratos e
subjetivos que permitem, na verdade, atitudes totalmente
injustas e imorais. Ora, alguém defenderia o direito de um
feioso estuprar uma linda donzela somente porque ele “neces-
sita” de sexo e não tem como obtê-lo livremente? Se fosse viá-
vel, alguém chamaria de justiça extorquir inteligência de um
Einstein para permitir maior “igualdade”? Aristóteles, em seu
livro “Política”, pergunta: “Se, por serem superiores em
número, aprouver aos pobres dividir os bens dos ricos, não
será isso uma injustiça?”. Claro que sim, mas os demagogos
exploram a inveja das massas, incitando os mais humildes à
violência contra os mais abastados, como se lhes tomar as
posses à força fosse justiça. Isso explica a complacência do PT
com o MST, por exemplo.
Está claro que os socialistas idealizam, na verdade, a inveja,
um sentimento mesquinho. Os homens sempre serão diferentes,
e mais importante que a igualdade material é a moralidade de
seus atos. Muitos pobres honestos entendem isso e repudiam o
socialismo. Entendem que cidadania não é um conceito vago e
subjetivo, mas sim o bem objetivo, conceito de liberdade indi-
vidual, incompatível com um Estado grande e interventor. Claro
que a miséria alheia desperta revolta. Entretanto, para melhorar
a situação dos miseráveis, o caminho não é tornar pobres os

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ricos, resultado inevitável do socialismo. A riqueza não é
estática, precisando apenas ser mais bem dividida; mas, sim,
dinâmica, fruto dos esforços individuais. Os pobres podem me-
lhorar de vida junto aos ricos, e de fato, são inúmeros exemplos
de maior conforto material para todos por conta das inovações
individuais. As elites acabam servindo como cobaias de novos
produtos que serão testados, hoje vistos como um luxo, para
amanhã serem massificados. Por esta razão, os pobres dos países
capitalistas possuem luz elétrica, refrigeradores, microondas,
automóveis decentes, computador, ar condicionado e uma infi-
nidade de outros produtos antes vistos como luxo da elite. Nas
nações socialistas são todos miseráveis, tirando os governantes.
A concentração de riqueza incomoda também. Mas
novamente, é necessário questionar se a qualidade de vida,
em termos absolutos, melhorou para os pobres com o advento
do capitalismo. A resposta é óbvia! Basta pesquisar como vivi-
am as gerações passadas. Além disso, há que ter em mente que
haverá sempre pequenas minorias com destaque em certos campos.
Quantos Newton ou Einstein existiram? Quantos músicos foram
como Mozart ou Beethoven? Quantas mulheres são bonitas
como Gisele Bündchen? Portanto, da mesma forma, poucos
serão ricos como Bill Gates. E contanto que sua fortuna tenha
sido construída de forma honesta, por meio das trocas voluntárias
com os consumidores, há que se respeitar esse resultado. Tirar
o dinheiro de Bill Gates e distribuir para os pobres não reduz a
miséria, apenas cria mais um miserável. Mas os socialistas não
respeitam isso e olham o mundo através de uma lente marxista
de “luta de classes”, com um viés totalmente materialista. Acabam
defendendo um modelo que não passa da escravidão imoral.

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O melhor exemplo prático para o abismo entre discurso
nobre e resultado está em Hitler. Observando alguns itens do
programa de governo do Partido dos Trabalhadores Nacional-
Socialista da Alemanha em 1920, que levou Hitler ao poder
poucos anos depois, notamos claramente esse viés “altruísta”
típico dos demais socialistas. O programa defendia a “obrigação
do governo de prover aos cidadãos oportunidades adequadas
de emprego e vida”. Alertava que “as atividades dos indivíduos
não podem se chocar com os interesses da comunidade, deven-
do ficar limitadas e confinadas ao objetivo do bem geral”. De-
mandava o “fim do poder dos interesses financeiros”, assim
como a “divisão dos lucros pelas grandes empresas”. Também
demandava “uma grande expansão dos cuidados aos idosos”, e
alegava que “o governo deve oferecer uma educação pública
muito mais abrangente e subsidiar a educação das crianças com
pais pobres”. Defendia que “o governo deve assumir a melhoria
da saúde pública protegendo as mães e filhos e proibindo o
trabalho infantil”. Apoiava o desarmamento civil para comba-
ter a criminalidade. Combatia o “espírito materialista” e afir-
mava ser possível uma recuperação do povo “somente através
da colocação do bem comum à frente do bem individual”41.
Nobres palavras, enaltecendo a visão coletivista em detri-
mento do suposto individualismo. Tal programa poderia tran-
qüilamente ser proferido pela boca dos petistas. Goebbels, o
seu ministro de propaganda, projetou uma imagem de Hitler
como um homem simples e modesto, de personalidade mágica
e hipnotizadora, um incansável batalhador pelo bem-estar do
seu povo, que colocava a supremacia dos alemães em primeiro
lugar. Era o “messias restaurador”. Sempre combatendo o

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individualismo materialista, enquanto defende mais Estado,
justamente, para arrecadar mais impostos, bem materiais! Já
em seu “Mein Kampf ” (Minha Luta), Hitler estabeleceu regras
para o sucesso de uma propaganda política, que incluem o ape-
lo às emoções, repetição de idéias e conceitos de forma siste-
mática, usando frases estereotipadas e evitando a objetividade,
mostrando apenas um lado da história e criticando constante-
mente os inimigos do Estado, selecionando um para especial
difamação. Qualquer semelhança com outros políticos de esquerda
pode não ser mera coincidência. Falavam na época que, pela
miséria em que se encontrava a Alemanha, o Estado tinha que
assumir o papel de locomotiva, sem espaço para um mercado
mais livre e capitalista. O resultado concreto, todos conhecem.
O nazismo produziu um dos maiores ditadores genocidas da
história, perdendo apenas para os “primos” comunistas Stalin
e Mao.
O viés materialista da esquerda está presente em todos os
lugares. Lula, discursando sobre o combate à pobreza em Ge-
nebra, janeiro de 2004, disse: “Se queremos um mundo segu-
ro, temos que lutar por um mundo mais justo, mais eqüitativo.
A paz, o desenvolvimento econômico e a justiça social estão
intimamente relacionados. Não haverá paz sem desenvolvimen-
to econômico. E não haverá paz nem desenvolvimento econô-
mico sem justiça social”. Em outras palavras, Lula parece cul-
par a miséria pelo terrorismo. O curioso é que o povo tibetano,
por exemplo, vive com poucos bens materiais, mas não explode
avião em prédio algum. A Ruanda é um país miserável, mas
não vem de lá o financiamento ao terrorismo. O nordeste bra-
sileiro é pobre, e nem por isso representa uma ameaça à paz

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mundial. As favelas brasileiras abrigam muitos pobres, mas a
grande maioria é formada por gente trabalhadora e honesta.
Em contrapartida, Bin Laden é um milionário saudita, e o
ex-bilionário Saddam Hussein financiava famílias de suicidas
terroristas. O terror custa caro. A família real saudita, para
contemporizar com os radicais fundamentalistas, doou cerca
de cem milhões de dólares para o Talibã42. A Al Qaeda é uma
organização rica, assim como sempre foi a OLP do falecido
Arafat. Mas Lula insiste na retórica de que o terror é conse-
qüência da pobreza, novamente deixando transparecer o mate-
rialismo da esquerda. Melhor avisar a Bush que o perigo vem
de um mutirão de famintos da Etiópia, e não de nações ricas
como o Irã.

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MST

Uma enorme mancha no currículo do PT é sua ligação


com o Movimento dos Sem-Terra, o MST. O partido do
presidente Lula está atrelado ao MST de diversas formas, e o
ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto, é niti-
damente um entusiasta do movimento. Tarso Genro declarou
no programa “Roda Viva” que o PT e o MST têm entre si
uma identidade de fundo. A sede do PT gaúcho, que sofreu
acusações de ter sido comprada com o dinheiro do jogo do
bicho, foi transferida para a Via Campesina, ou seja, para o
MST. Lula chegou a declarar que a relação entre o PT e o
MST era uma relação entre pai e filho. Melhor, portanto, enten-
dermos mais a fundo que tipo de criatura o PT pariu, e como ele
trata esse filho rebelde.
O MST alega ser um movimento social em busca da reforma
agrária. Entretanto, cada vez mais ele luta por poder político.
Ignorando constantemente as leis, e por meio de violência e
ameaças, seus líderes vão ganhando importância política em
um país cujo governo é totalmente complacente com tal des-
respeito. “Negociação” é sempre a palavra usada pelo governo
Lula em relação ao MST. Deveriam saber que com criminosos
não se negocia; aplica-se a lei.
Em nome de uma causa nobre, o MST vai impondo terror
à nação, infringindo leis, destruindo plantações produtivas,

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invadindo propriedades privadas e atrapalhando o desenvolvi-
mento econômico do país. Uma democracia forte exige um
império impessoal da lei, sem distinções por grupos organizados.
A lei tem que valer para todos. Infelizmente, tal preceito básico
de qualquer nação desenvolvida não se aplica aqui. Em vez de
simplesmente aplicar a lei contra os infratores do MST, o
governo cede às pressões, pedindo mais verbas para a reforma
agrária. Acaba passando a nítida imagem de que no grito e
na violência é que se conseguem as coisas.
Nos últimos cinco anos, o engenheiro agrônomo Xico
Graziano visitou dezenas de assentamentos e acampamentos
de sem-terra em várias regiões. Lançou o resultado de sua
pesquisa em forma de livro, “O Carma da Terra no Brasil”. O
especialista concluiu que o modelo de reforma agrária brasi-
leiro, baseado na distribuição de terras, tornou-se inviável. A
maioria dos assentamentos se transformou em favelas rurais, e
quase a metade das famílias passou os lotes para frente. O au-
tor diz que “somos reféns de uma fábrica de sem-terra e do
terrorismo orquestrados pelo MST”43. Existem várias denúncias
de uso de pessoas das cidades para fazer número no movimento,
conseguindo pressionar mais o governo e obter mais recursos.
Como diz Xico Graziano, “o MST transforma, como que num
passe de mágica, desempregados urbanos, que nunca plantaram
sequer um pé de couve, em trabalhadores sem-terra”44. A
verdade é que o MST é uma grande paraestatal, vivendo
dos financiamentos e esmolas do governo.
Não há como um modelo de roça sobreviver no mundo
moderno. Estima-se que cerca de 20% da população brasileira
viva no campo. Em contrapartida, menos de 3% da população

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americana está no meio rural, e ainda assim eles são os maiores
produtores agrícolas do mundo! O campo, nos Estados Uni-
dos, é mecanizado, dividido em empresas objetivando o lucro,
e não na forma de comunas de subsistência. No Brasil, o que
vem dando certo é justamente o agronegócio, que segue esta
mesma linha. Enquanto a economia cresce entre 4 a 5% por
ano, o agronegócio vem crescendo a taxas próximas de 7%. Os
líderes do MST fingem desconhecer essa realidade moderna,
pregando a distribuição de terras para camponeses, como se
estes tivessem alguma chance no mercado. Acabam criando
verdadeiras favelas, dependendo sempre de novos recursos do
Estado, que saem do bolso dos pagadores de impostos. Em
outras palavras, é o trabalhador da cidade que banca os
baderneiros foras-da-lei do MST. Cada real aplicado no MST
é arrancado de um povo miserável, que vive açoitado pela vio-
lência. O dinheiro que poderia melhorar a polícia acaba finan-
ciando os ataques ilegais do MST.
Muito mais sentido faria esse pessoal do MST buscar
empregos nas grandes empresas rurais. Mas isso exigiria tra-
balho, dedicação, esforço individual e constante adaptação, sem
falar da perda de poder dos líderes do movimento. Por não
aceitarem essa lógica econômica, os líderes do MST continu-
am lutando contra a evolução, tentando jogar fora décadas de
avanço capitalista. A evolução é parte inerente e desejável do
capitalismo; e, muitas vezes, teremos as “destruições constru-
tivas”. Quando Thomas Edison criou a lâmpada, os produtores
de velas devem ter entrado em pânico. Quando a Ford lançou
o Modelo T, massificando um produto até então de luxo, os
produtores de carroças foram à bancarrota. O advento do

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computador trouxe dificuldades fatais para os produtores de
máquinas de escrever. Pela mentalidade do MST e seus defen-
sores, o governo deveria ter protegido todos esses produtores
defasados, e hoje teríamos ainda lampião, carroças e máquina
de escrever. Eis o mundo do MST!
O êxodo rural é uma realidade mundial. Com o progresso
tecnológico, conseguimos produzir hoje infinitamente mais por
hectares que no passado. Isso é vantajoso para todos, pois a
quantidade ofertada de alimentos aumenta enquanto o preço
diminui. Hoje, podemos consumir com cerca de 10 dólares o
mesmo valor protéico e calórico que somente um rei poderia
no passado. Uma colhedeira moderna desperdiça menos de 1%
da colheita, enquanto a colheita manual pode chegar a níveis de
desperdício maiores que 20%. E ao invés de o MST buscar
uma adaptação a esta realidade benéfica para a humanidade,
eles tentam obstruir o progresso, prejudicando a vida de todos.
Curioso é que os “progressistas” defendam algo tão conservador
como o MST, cuja reforma pleiteada, nos conservaria na Idade
da Pedra! Afinal, como poderia ser competitivo dar pequenos
pedaços de terra para famílias plantarem com pá e enxada seus
grãos, enquanto as empresas utilizam máquinas modernas?
A luta contra os transgênicos faz parte desse
conservadorismo também, que, na prática, busca apenas
inviabilizar a concorrência mais eficiente. Segundo Flávio
Finardi, Ph.D. em ciência dos alimentos e Conselheiro do CIB,
os “alimentos convencionais não necessitam provar que são se-
guros e isso pode acarretar um fator de risco maior do que nos
alimentos geneticamente modificados”45. O pesquisador lem-
bra que “não são admitidos nas modificações genéticas os genes
que codificam proteínas potencialmente tóxicas ou alergênicas”.
110 Rodrigo Constantino

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Ele afirma ainda que “não existe qualquer indício de contra-
indicação de transgênicos em relação aos convencionais”. Fora
as evidências que apontam para a segurança dos transgênicos,
os seus combatentes ignoram uma contradição muito simples.
Vários alimentos “naturais” fazem mal à saúde, e nem por isso
são proibidos. A gordura trans, desenvolvida artificialmente
para aumentar a durabilidade de certos alimentos, é um ver-
dadeiro veneno, e não deixa de ser utilizada em diversos produtos.
Isso para não falar do cigarro, que obviamente faz mal à saúde,
mas é liberado para quem quiser. Portanto, bastaria indicar que
um produto é transgênico e deixar o consumidor escolher. Mas
não é com a saúde do consumidor que eles parecem preocupados.
É com fatores ideológicos e com a concorrência. São como
melancias: verdes por fora, mas vermelhos por dentro.
Evidentemente, os líderes do MST não são bobos. Eles já
sabem disso tudo, que é óbvio para qualquer pessoa minima-
mente inteligente. O que eles estão atrás, portanto, é de poder
político e dinheiro fácil, assim como as FARC. Estamos diante
do que pode ser o embrião, já bem desenvolvido, das “FARB”,
ou Forças Armadas Revolucionárias do Brasil. Como escreveu
Denis Rosenfield, “o PT e o MST colombianizam o país de
um lado e, de outro, se colocam como os únicos capazes de
evitar a colombianização”46. Até mesmo a idéia de transformar
o movimento num grande Canudos foi anunciada pelos seus
líderes, que constantemente fazem ameaças de invasões violentas,
como o “Abril Vermelho”. Recentemente, tivemos a denúncia
de uma testemunha afirmando que existe um centro de treina-
mento de guerrilha do Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem-Terra, localizado na Fazenda Normandia, próximo a

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Caruaru. Sua missão seria ensinar aos militantes do MST táti-
cas guerrilheiras para invasões de propriedades, saques de ca-
minhões e ocupações de prédios. A testemunha, que fez a de-
núncia à CPI Mista da Terra, seria um técnico agrícola cearense
que diz ter trabalhado por cerca de um ano para o MST, e
entregou fotografias e um vídeo como evidências.
A incoerência do MST é total. Ao receber com tapetes ver-
melhos o líder francês Bové, o movimento demonstra que a
ideologia e a tomada de poder importam muito mais que a ver-
dadeira evolução agrícola. Afinal, Bové representa o
conservadorismo rural francês, que luta contra a globalização,
pedindo assim a manutenção de subsídios agrícolas. Isso pre-
judica exportadores de grãos como o Brasil. Ou seja, Bové de-
fende medidas que dificultam o avanço agrícola brasileiro, com
o apoio do MST. Bové liderou também a destruição de uma
lanchonete do McDonald’s, fato copiado pelos seus discípulos
brasileiros. O curioso é que a Sadia, por exemplo, tornou-se
grande fornecedora de carne de frango para a cadeia em nível
mundial. E para produzir frangos, a Sadia compra enormes
quantidades de milho e soja no Brasil, contribuindo com o
crescimento agrícola. O MST, mais uma vez, mostra que luta
contra o avanço no campo, não a favor.
João Mellão Neto, no artigo “Por Causa de um Boné”, faz
críticas à complacência do governo Lula com esse claro movi-
mento revolucionário, usando a analogia de que só há uma
maneira de não contrariar um tigre, que é deixar-se devorar.
Diz ele: “O MST significa invasões de propriedades, depre-
dações, esbulhos, saques, cárceres privados, enfim, nada que
guarde a menor relação com os princípios da lei e da ordem”.

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Recentemente, comprovando as acusações, dezessete militan-
tes do MST foram indiciados nos crimes de seqüestro, cárcere
privado, tortura e danos materiais, em inquérito concluído so-
bre o homicídio ocorrido no assentamento Bananeiras. Na oca-
sião, um soldado foi executado a tiros e um sargento mantido
por mais de seis horas em cárcere pelos “lavradores”. E diante
dessa realidade sobre o MST, o que faz o presidente, que deve-
ria ser o maior guardião da lei? Veste o boné do MST. Este
mesmo boné, menos de 24 horas depois, apareceria na cabeça
de um homem preso na Zona da Mata de Pernambuco, por
saquear um caminhão de cargas.
Mas esse tratamento do PT com o MST é antigo. No Rio
Grande do Sul, como relatou Denis Rosenfield no seu livro
“PT na Encruzilhada”, o primeiro comandante da Polícia
Militar, sob o governo do petista Olívio Dutra, declarou ter
recebido ordens, em caso de conflito, de optar sempre pelos
invasores, jamais pelos invadidos, ou seja, pelos atacantes e não
pelos atacados. Complicado é esperar que um governo desses
seja capaz de preservar a ordem e o império da lei.
O MST, ao notar que latifúndios improdutivos são espécie
em extinção no país, alterou o discurso. Agora não se fala mais
em combater esses latifúndios improdutivos, mas simplesmen-
te em combater os latifúndios. Ou seja, apenas pelo fato de
uma fazenda ser grande, mesmo que ela tenha uma enorme
produção, isso já basta para o MST justificar uma invasão. O
tamanho é crime para eles. A Wal-Mart, que emprega mais de
um milhão de pessoas, não poderia existir, pela lógica do MST.
E o governo Lula, simpatizante antigo do movimento, vai
cedendo. Apenas a área comprada e doada ao MST supera a

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área total de Cuba. É maior que toda a área agrícola da França,
Itália, Inglaterra ou Alemanha. Assentar uma família de sem-
terra custa mais que doar um carro zero quilômetro a esta mes-
ma família.
Entre as nações que testaram uma reforma agrária nos
moldes defendidos pelo MST, estão Afeganistão, Angola,
Argélia, Bolívia, Camboja, Colômbia e Zimbábue. A lista con-
tém dezenas de nomes. Digamos que nenhum, como podemos
perceber, teve sucesso. Ignorar isso é assinar um atestado de
burrice. Será que o Brasil vai ter que sentir na pele a dor desse
erro, tendo tanta experiência alheia para dar a lição? O mais
inteligente é capaz de aprender por observação. Não é necessário
virar um Zimbábue para descobrir como é ruim esta receita.
O MST inaugurou em Guararema (SP) uma escola política,
a Escola Nacional Florestan Fernandes, objetivando a educação
de novos militantes. Em outras palavras, trata-se de uma escola
de marxismo que pretende treinar invasores de terras. Impor-
tantes figuras do PT estiveram presentes no evento. A escola
custou 1,3 milhões de dólares, e foi custeada por um fundo
social da União Européia, pelo próprio MST e pelas ONGs
cristãs Caritas, da Alemanha, e Frères Des Hommes, da França47.
Parece que os europeus adoram o regime socialista, contanto
que longe deles! Os brasileiros que paguem o preço...

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AMIZADES PETISTAS

Um brocardo muito conhecido, que parece totalmente


ignorado pelo PT, é o que afirma “diga-me com quem andas
que te direi quem és”. Um presidente da República deveria
levar isso muito a sério, pois é a imagem da nação que está em
jogo. Ao se cercar de “camaradas” suspeitos, Lula demonstra,
no mínimo, uma complacência incrível com pessoas e grupos
altamente condenáveis. João Mellão Neto afirmou, em artigo
recente, que “o que temos é um presidente indefeso cercado
por uma equipe indefensável”48. Essa seria a interpretação mais
obsequiosa para com o presidente. Uma linha mais cética
poderia desconfiar que o presidente realmente possui fortes
afinidades com gente da pior espécie. Independente de qual
versão é a verdadeira, o fato é que o presidente Lula e seu PT
trocam carinhos e declarações de amizade com o que há de
pior entre os homo sapiens.
Podemos começar a listar certas amizades do PT através
do Foro de São Paulo. Ele se constituiu em 1990, quando o
Partido dos Trabalhadores uniu-se a outros partidos da Amé-
rica Latina e Caribe com o objetivo de debater a nova con-
juntura internacional pós-queda do Muro de Berlim49. A pro-
posta principal era discutir uma alternativa “popular” e
“democrática” ao “neoliberalismo”. O primeiro encontro foi
na cidade de São Paulo, em julho de 1990, e conseguiu reunir

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48 partidos e organizações que representavam diversas experi-
ências e matrizes político-ideológicas de todo o continente lati-
no-americano e Caribe. O segundo encontro, em 1991, foi na
Cidade do México, mas o nome consagrou-se como “Foro de
São Paulo”. Seguiram-se encontros anuais, como Manágua em
1992, Havana em 1993, Montevidéu em 1995, San Salvador
em 1996, Porto Alegre em 1997, México em 1998, e por aí
vai. Os dados sobre tal fórum eram amplamente disponíveis,
mas com a subida do PT ao governo brasileiro, migrando seu
discurso para o centro, muitas informações foram tiradas da
internet, para não prejudicar a imagem do partido. Faz sentido,
pois pela lista de participantes desse fórum, qualquer um teria
calafrios ao ver o nome do partido do presidente ao lado
de grupos criminosos. Mas ocultar informações não altera
a realidade.
Na definição de Alejandro Peña Esclusa, presidente da
Fuerza Solidaria e egresso do Instituto de Altos Estudos da
Defesa Nacional, o “Foro de SP é uma organização criada por
Fidel Castro em 1990, a fim de reagrupar os movimentos
esquerdistas da América Latina depois do fracasso do comu-
nismo na Europa Oriental e na União Soviética”50. Para ele,
“seu objetivo é fortalecer e exportar a Revolução Cubana ao
resto do continente e tomar o poder na região”. Nas próprias
atas do fórum, fica claro o objetivo de resgatar na América
Latina o que se perdeu no leste europeu. Entre os grupos que
fazem parte da assinatura do fórum, estão a Frente Sandinista
da Nicarágua, a União Revolucionária Nacional Guatemalteca,
as FARC e ELN da Colômbia51. Diversos membros do Foro
fazem parte da lista de grupos terroristas do Departamento de

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Estado dos Estados Unidos, como FARC, ELN, MRTA
(Peru) e MIR (Chile). Este último teria participação nos
seqüestros dos brasileiros Abílio Diniz e Washington Olivetto,
lembrando que Lula chegou a ligar para FHC, quando este
era presidente, a pedido dos seqüestradores de Abílio, que es-
tavam em greve de fome para exigir a extradição. Do Brasil,
temos, além do PT, a participação do Partido Socialista
Brasileiro, Partido Comunista do Brasil, Movimento Revo-
lucionário 8 de Outubro e Partido Popular Socialista.
A FARC foi estabelecida em 1964 como um braço militar
do Partido Comunista Colombiano. Entre suas atividades en-
contram-se ataques com bombas, assassinatos, seqüestros, ex-
torsão, assim como ações de guerrilha contra políticos colom-
bianos ou alvos econômicos. O tráfico de armas e drogas são
fontes de receita para o grupo também. Entre 1997 e 2004,
quase cinco mil pessoas passaram pelos cativeiros mantidos pela
FARC em seus acampamentos52. Os pagamentos de resgate
somaram quase 40 milhões de dólares apenas em 2003. Espe-
cialistas calculam que a FARC controlam 30% do mercado de
distribuição e exportação de cocaína na Colômbia. Em 1999, a
FARC executou três ativistas americanos na Venezuela, após
os seqüestrar na Colômbia. Há fortes indícios de sua participa-
ção no seqüestro de Cecília Cubas, filha do ex-presidente Raul
Cubas. Segundo os encarregados da investigação, as comuni-
cações via e-mail, mantidas entre o líder do Partido Pátria Libre,
Osmar Martínez, e o colombiano Rodrigo Granda Escobar, é
uma prova iniludível de que o seqüestro e assassinato dela con-
taram com o assessoramento e supervisão das Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia. Um dos seqüestros famosos é o

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da escritora e senadora Ingrid Betancourt, que foi candidata à
presidência nas eleições de 2002. Seu seqüestro se prolonga até
os dias de hoje, levando ao desespero seu marido e seus filhos.
No Equador, as autoridades denunciaram publicamente os
seqüestros e extorsões da FARC em seu território. O embai-
xador dos Estados Unidos, John F. Keane, diz que “sem dúvi-
da há conexão entre a FARC e narcotraficantes brasileiros e
colombianos”53. Ivan Mendes Mesquita, brasileiro detido no
Paraguai com 260 quilos de cocaína, acusado de tráfico de dro-
gas e armas, seria um vínculo entre a FARC e grupos de
narcotraficantes brasileiros. Segundo o governo americano,
Mesquita mandava armas, dinheiro e aviões para a FARC em
troca de cocaína enviada para os EUA e Europa, ou vendida
no RJ e SP. O colombiano Fausto Rodrigues, detido no Paraguai
com documentos falsos, confessou a autoridades de Tacambu,
onde foi preso, ser enviado da FARC encarregado de negociar
com os traficantes brasileiros. Não vamos esquecer também
que Fernandinho Beira-Mar era protegido por uma coluna da
FARC quando foi preso.
Entretanto, o governo Lula é incapaz de reconhecer a
FARC pelo que é: terroristas! Pior, participam ao lado de tal
grupo no Foro de SP, cuja resolução nº 9 do X Encontro diz
“ratificar a legitimidade, justeza e necessidade da luta (da
FARC)”. A FARC inclusive saudou a vitória de Lula nas elei-
ções. O mínimo que o presidente poderia ter feito era vir a
público repudiar tal saudação comprometedora. Durante o
governo de Olívio Dutra no Rio Grande do Sul, o represen-
tante da FARC, Hernan Rodriguez, foi recebido no Palácio
Piratini pelo próprio governador. Fica difícil imaginar um
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tratamento adequado do PT com os terroristas da FARC com
tantas ligações afetuosas entre ambos. Além disso, são muitas
as acusações de que o tiranete Hugo Chávez abriga na Venezuela
tal grupo. O próprio presidente colombiano, Álvaro Uribe, fez
tal acusação quando prendeu terroristas da FARC no território
venezuelano, criando uma crise diplomática entre os dois paí-
ses. O presidente Lula coloca-se apenas como mediador pela
paz, ignorando seus fortes laços com o outro lado, o lado podre.
A revista “Veja” trouxe uma matéria de capa com denúncia
da existência de três documentos da ABIN (Agência Brasileira
de Inteligência) relatando apoio financeiro de 5 milhões de
dólares da FARC para candidatos petistas. O principal docu-
mento nos arquivos data de 25 de abril de 2002, com a classifi-
cação de secreto. Ele informa que no dia 13 de abril de 2002,
um grupo de esquerdistas solidários com a FARC promoveu
uma reunião numa chácara, onde Olivério Medina, que atua
como uma espécie de embaixador da FARC no Brasil, fez o
anúncio da doação. Um agente da ABIN estaria infiltrado na
reunião. O ministro-chefe do Gabinete de Segurança
Institucional, general Jorge Felix, mandou dizer por meio de
nota, após confirmar a existência do documento que fala da
doação da FARC, que não tem mais nada a comentar sobre o
assunto. O Coronel Eduardo Adolfo Ferreira, que trabalhou
sete anos na ABIN e coordenou a investigação do caso FARC-
PT, disse a “Veja” que “essa investigação era tratada como as-
sunto ultra-secreto na ABIN”.
A reportagem chocou muita gente, mas a falta de conhe-
cimento da existência do Foro de São Paulo não contribuiu
para o melhor entendimento do caso. A própria revista não deu

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nome aos bois, dizendo apenas que “os contatos políticos entre
petistas e guerrilheiros da FARC são antigos”. Afirma que
“começaram em 1990, quando o PT realizou um debate com
partidos políticos e organizações sociais da América Latina e
do Caribe para discutir os efeitos da queda do Muro de Berlim”.
Teria sido mais elucidativo para o leitor simplesmente citar as
conexões do Foro de SP. Afinal, o que são 5 milhões de dólares
comparados a 15 anos de relacionamento oficial?
O ELN, Exército de Libertação Nacional da Colômbia,
foi formado em 1965 por intelectuais inspirados em Fidel Cas-
tro e Che Guevara, o guerrilheiro que declarou seu desejo de
transformar a América Latina em “um, dois, cem Vietnãs”. Suas
atividades são muito similares às da FARC. Fora isso, temos o
próprio líder Fidel Castro, um ditador cruel, que além de ter
transformado Cuba em um país miserável, perseguiu, prendeu
e matou diversos intelectuais que discordavam de sua revolu-
ção. Curioso é que no X Encontro do Foro de São Paulo, em
Havana, consta em sua declaração final o seguinte comentário:
“Os partidos e movimentos integrantes do Foro de São Paulo
reafirmamos nosso compromisso com os princípios humanistas
que defenderam nossos heróis e mártires. Nossa luta é pela
transformação política, econômica e social e também uma ba-
talha de idéias por um mundo melhor”. Conceitos bizarros de
humanismo e mundo melhor.
O relacionamento de membros importantes do PT com
Cuba é inaceitável. Não existe justificativa para tanta proximi-
dade do ponto de vista comercial, já que exportamos para a ilha
pouco mais que míseros cem milhões de dólares em 2004, para
um total de exportações brasileiras de quase cem bilhões! São

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outros laços que amarram carinhosamente o Brasil de Lula
presidente a Cuba, do ditador Fidel. E o curioso é a compla-
cência da esquerda ao julgar o ditador Fidel, apelando para um
foco utilitarista e mostrando apenas os indicadores que melho-
raram, que foram poucos, como se isso justificasse as mais de
quatro décadas de terror cubano.
Ora, por essa linha de raciocínio, deveriam então ser fãs de
Pinochet, já que este assumiu o governo chileno no meio de
uma hiperinflação de mais de 500% deixada por Allende, mas
levou o PIB per capita de menos de US$ 1.800 em 1973 para
mais de US$ 4.700 em 1996, reduziu a mortalidade infantil de
66 por 1.000 nascimentos em 1973 para 13 em 1996, aumen-
tou o acesso à água potável de 67% para 98% da população e
levou a expectativa de vida de 64 para 73 anos. Tudo isso sem
milhares de chilenos se jogando no meio de tubarões para fugir
do país, sem paredón para execuções aleatórias de simples inte-
lectuais de oposição e sem culto à personalidade, como no caso
de Fidel. Em 1988, Pinochet realizou um referendo popular
onde seu candidato venceu com 44% dos votos, mais que
Allende em 1973. Ainda assim, Pinochet respeitou a Consti-
tuição, que afirmava serem necessários mais que 50% dos vo-
tos, e anunciou sua saída do governo. A democracia foi
restabelecida sem grandes traumas, enquanto em Cuba ainda
temos uma ditadura absoluta, sem nenhuma liberdade indivi-
dual. Pinochet merece ser condenado, pois nenhuma ditadura
deve ser elogiada. Mas o que é totalmente inexplicável pela
lógica é o ódio a Pinochet, que ao menos melhorou bastante o
Chile com sua ditadura light, ao mesmo tempo em que são

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complacentes com Fidel Castro, ditador muito mais totalitário
e cruel e, que, ainda por cima, afundou sua nação na completa
miséria.
Tilden Santiago, embaixador do Brasil na ilha, enfatizou o
respaldo do governo de Lula à ilha cubana: “Estamos entusi-
asmados porque nosso país será o convidado de honra na XIV
Feira Internacional do Livro de Havana, gesto que agradece-
mos, não só por sermos homenageados, mas porque nos ofere-
ce a oportunidade de assistir e dar fé de nosso apoio político à
Revolução Cubana”54. O ministro da Cultura, Gilberto Gil,
disse que Cuba é um país de referência para o Brasil, por sua
gente, cultura, música e força de seu povo com sonhos de li-
berdade e emancipação. Será que o ministro estava se referin-
do à revolução castrista como uma luta por liberdade e emanci-
pação? Será que Gil pensa que o povo cubano, que se joga no
mar de tubarões para fugir, está com Fidel? O ministro da
Educação, Tarso Genro, tentou legitimar o diploma médico de
quarenta formandos pela Escola Latino-americana de Medi-
cina (ELAM), de Cuba. A tentativa de adotar tal privilégio
com o “país querido” criou uma celeuma, e o ministro foi cha-
mado para explicar o episódio. O ministro das Cidades, Olívio
Dutra, quando tomou posse como governador do Rio Grande
do Sul, deu uma festa onde a sacada do Palácio Piratini foi
ornamentada com uma bandeira cubana. O ministro José Dir-
ceu, que foi exilar-se em Cuba nos tempos que praticava atos
criminosos no Brasil, não esconde sua gratidão pelo líder cuba-
no. Sempre que possível, escolhe este destino para descansar.
Até mesmo lágrimas já brotaram de seus olhos em encontro
com Fidel. Em discurso durante a posse de Tilden na embaixada,

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afirmou que “a geração que chegou ao poder com Lula é deve-
dora de Cuba”. Completou ainda dizendo: “Eu me considero
um brasileiro cubano e um cubano brasileiro”55.
Esse carinho todo parece se refletir em decisões políticas.
Os 11 países da América Latina que compõem a Comissão de
Direitos Humanos da ONU designaram Cuba para integrar o
“grupo de situações” das Nações Unidas. Este grupo é uma
espécie de “tribunal” que decide a admissão de denúncias que
serão investigadas. Cuba fazendo parte das decisões sobre
direitos humanos da ONU? Logo a ilha-presídio, onde in-
telectuais são presos ou fuzilados apenas por discordarem
do ditador? Depois não entendem por que a ONU anda tão
desmoralizada...
Curioso é que muitos pensam que os membros do PT
sempre participaram de uma luta pela democracia no Brasil.
Na verdade, tratava-se de uma “democracia popular”, eufe-
mismo para ditadura da nomenklatura, como foi o caso de todos
os países onde os comunistas tiveram sucesso. Vale a pena voltar
um pouco no tempo, para entendermos melhor a origem revo-
lucionária de algumas estrelas atuais do PT.
A chamada “crise da legalidade” foi deflagrada com a
renúncia de Jânio Quadros, quando os ministros da Guerra,
da Marinha e da Aeronáutica não aceitaram a posse do vice-
presidente João Goulart, herdeiro político do ditador populista
Getúlio Vargas e acusado de ligações com os comunistas. O
país estava em sério risco de viver uma guerra civil. Diante da
estação da Central do Brasil, mais de 100 mil manifestantes
gritavam pelas reformas de base, com faixas como “Reconheci-
mento da China Popular”, “PCB – Teus Direitos São Sagrados”,

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“Abaixo com as Companhias Estrangeiras”, “Trabalhadores
Querem Armas para Defender o Seu Governo” e “Jango –
Defenderemos as Reformas a Bala”56. A classe média teve uma
reação em cadeia contra essa radicalização estimulada pelo pró-
prio governo.
Leonel Brizola, cunhado de Jango, defendeu a substituição
do Congresso por uma Constituinte repleta de trabalhadores
camponeses, sargentos e oficiais nacionalistas. Goulart assinou
um decreto, em 1964, desapropriando todas as terras num raio
de dez quilômetros dos eixos das rodovias e ferrovias federais
para sua reforma agrária, assim como encampou as refinarias
de petróleo privadas, em outro decreto. Foi anunciado o tabe-
lamento dos aluguéis. O governo estava em crise, apelando para
a intimidação, enquanto a economia afundava. A inflação fora
de 50% em 1962 para 75% no ano seguinte. Os primeiros meses
de 1964 projetavam uma taxa anual de 140%, a maior do século.
A economia registrava uma contração na renda per capita pela
primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial. As greves
duplicaram, de 154 em 1962 para 302 em 1963. O governo
irresponsável acumulara um déficit equivalente a mais de um
terço do total das despesas57. Jango nomeou o almirante Paulo
Mário da Cunha Rodrigues, próximo ao Partido Comunista.
O Congresso mostrava-se disposto a bloquear os projetos de
reforma. Luiz Carlos Prestes, ligado ao Partido Comunista,
chegou a defender a dissolução do Congresso. Um golpe, de
um dos lados, parecia iminente e inevitável. Tancredo chegou a
prever que os passos de Jango levariam a uma luta armada. O
governador pernambucano esquerdista, Miguel Arraes, decla-
rou estar certo de um golpe, “de lá ou de cá”. Brizola repetia

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que “se não dermos o golpe, eles o darão contra nós”58. Jango,
na China, discursava sobre o socialismo no Brasil. A famosa
Revolta dos Marinheiros foi como uma gota no copo d’água
lotado. Ocorreu uma quebra de hierarquia militar. O cabo
Anselmo liderou a revolta, que resultou na demissão do minis-
tro da Marinha, almirante Sílvio Mota, por tentar reprimi-lo.
O contexto internacional da década de 60 era marcado pela
Guerra Fria, e Cuba, no continente americano, tinha sido o
primeiro caso de sucesso dos comunistas. O eixo da luta entre
capitalistas e comunistas tinha se deslocado para a América
Central, e os ditadores da União Soviética estavam investindo
pesado no continente, enviando bilhões de dólares e agentes da
KGB para diversos países. Em 1962 ocorreu a crise dos mís-
seis nucleares, que os russos instalaram clandestinamente no
território cubano. Quase foi deflagrada uma guerra nuclear
pela tentativa de avanço imperialista dos soviéticos comunistas.
O perigo do comunismo assassino era real para todos os países,
incluindo o Brasil. Diversas nações caíram nas garras comu-
nistas nesse período, entrando em ditaduras duradouras e caó-
ticas, enquanto outras acabaram partindo para uma ditadura
de direita, tentando travar os avanços comunistas. E era esse
regime, responsável pela morte de cerca de 100 milhões de
pessoas no mundo todo, que as “vítimas” da ditadura queriam
implantar no Brasil à força.
Eis o contexto do “golpe” de 64 pelos militares, que, na
verdade, foi um contragolpe. O general Humberto de Alencar
Castello Branco era chefe do Estado-Maior do Exército, e fora
um respeitado chefe da seção de operações da Força Expedici-
onária Brasileira. Assumiu o comando da nação, fazendo um
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governo decente. Preparou as bases que permitiram o “milagre
econômico” posterior. Não vem ao caso analisar os anos da di-
tadura em si, que foram péssimos para o país, com a exceção
desses primeiros comandados por Castello Branco, que pre-
tendia inclusive anunciar eleições democráticas rapidamente.
A ditadura acabou sendo um exemplo do positivismo de Comte,
com bastante interferência do Estado. Geisel, por acaso o dita-
dor mais admirado pela esquerda, criou dezenas de estatais. A
ditadura não teve nada de liberal em economia, e colocam-na à
direita no espectro político apenas por ter combatido a esquer-
da radical dos comunistas. Mas nenhuma similaridade pode
ser encontrada entre os militares e uma Margareth Thatcher,
por exemplo, que representa a direita e que possibilitou enor-
mes avanços para a Inglaterra, que estava caminhando rapida-
mente rumo ao fracasso com medidas socialistas.
Após a reação dos militares, com forte apoio popular, que
culminou no “golpe” de 64, os comunistas intensificaram al-
guns ataques. Como os primeiros anos não foram na “linha
dura”, os radicais de esquerda perpetraram ações que incluí-
ram assassinatos e seqüestros, como o do embaixador america-
no, o que acabou provocando o agravamento brutal da repres-
são, que chegou a partir do Ato Institucional nº 5, o AI-5.
Observem que, antes da assinatura do AI-5, tão criticado pela
esquerda que se fez de vítima, invertendo os papéis, já estavam
no currículo desses terroristas o assassinato de pessoas como o
Major do Exército da então Alemanha Ocidental, Edward Von
Westernhagen, no primeiro dia de julho de 1968, e do Capitão
do Exército norte-americano Charles Rodney Chandler, em São
Paulo, no dia 12 de outubro de 1968. Um dos grupos que

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defendia essa guinada violenta era o Agrupamento Revolucio-
nário de São Paulo, inspirada em Carlos Marighela, que havia
redigido o “Manual do Guerrilheiro Urbano”. Em 21 de ju-
nho de 1968, na chamada “Sexta-feira Sangrenta”, ocorreu um
confronto ininterrupto que resultaria em centenas de feridos,
23 pessoas baleadas e quatro mortos, incluindo um soldado da
PM atingido por um tijolo. Tentaram arrombar também as
portas da agência do Citibank, símbolo do “imperialismo
ianque”, e jogaram vários coquetéis molotov na sede do jornal
O Estado de São Paulo. Notem que o AI-5 foi assinado apenas
em 13 de dezembro de 1968, como resposta aos crimes bárbaros
cometidos pelos comunistas. O povo inocente pagou o preço.
O perfil do poderoso ministro José Dirceu não esconde esse
lado revolucionário. Dirceu refugiou-se em Cuba após ser solto
em 1969, em uma troca de presos pelo embaixador americano
Charles Elbrick, seqüestrado pelos comunistas, e recebeu trei-
namento de guerrilha. Dirceu foi recebido pelo próprio Fidel
no aeroporto de Havana. Na Casa dos 28, onde morou, rece-
beu aulas com instrutores cubanos sobre tática militar, teoria
de armamento e tiro, montagem e desmontagem de armas,
manuseio de explosivos e operação de rádio. Já afirmou ser
“eternamente grato ao povo de Cuba, particularmente ao pre-
sidente (sic) Fidel Castro”59. Entre 1967 e 1968, ele já partici-
pava de uma das tendências mais fortes daquele período, a Dis-
sidência, que se desprendera do Partido Comunista Brasileiro
por achar que este havia se tornado “excessivamente burguês”.
Dirceu voltou clandestinamente para o Brasil em 1971, para
participar do Molipo, Movimento de Libertação Popular, que
realizou operações militares e tentou instalar uma coluna

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guerrilheira na Bahia e depois em Goiás. Viveu por quatro anos
como clandestino, tendo feito plástica e utilizado outra identi-
dade, omitindo quem era de verdade até para a mulher. No
geral, os movimentos de José Dirceu acabariam por encher 37
fichas nos arquivos do Dops, cobrindo desde 1966 até 1982.
Ele era classificado de terrorista a serviço do comunismo inter-
nacional. Dirceu orgulha-se de sua trajetória. Eis o homem
que ocupa a posição de “defensor da democracia”, colocando-se
como vítima da ditadura.
Outras pessoas do quadro petista tiveram passado seme-
lhante, ou ao menos na linha “revolucionária”. Dilma Rouseff,
ministra de Minas e Energia do governo Lula, participou das
atividades do VAR-Palmares, organização famosa por suas
ações armadas. Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, foi
militante do Partido Revolucionário Comunista. Tarso Genro,
ministro da Educação, foi do PCdoB e ingressou na Ala Ver-
melha, atraído pela luta armada. Militou também no Partido
Revolucionário Comunista antes de entrar no PT. José Genuíno
foi um guerrilheiro maoísta, preso no conhecido episódio de
Araguaia, quando dedurou seus companheiros para a polícia.
Como dizia Roberto Campos, “é sumamente melancólico
– porém não irrealista – admitir-se que, no albor dos anos 60,
este grande país não tinha senão duas miseráveis opções: anos
de chumbo ou rios de sangue”60. O Deputado do PTB pelo
Rio de Janeiro, Jair Bolsanaro, discursou na Câmara dos
Deputados em 20 de outubro de 2004, lembrando que “o regi-
me militar de 1964 salvou, realmente, o Brasil de uma
comunização”. O governo Lula vem tentando mexer em certas
feridas, com a “novela” da abertura dos arquivos da ditadura.
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Temem o que, exatamente? Todos os arquivos devem ser abertos,
mas não de apenas um lado, selecionado pelo governo. Que
abram todos eles para mostrar ao país a verdade sobre essa época!
Os que perderam boa parte da liberdade por viverem nos
tempos da ditadura militar deveriam voltar seu ódio contra os
verdadeiros culpados por esta fase triste do Brasil: os comunis-
tas, que hoje vestiram uma roupa diferente, de um vermelho
desbotado, e posam de defensores da democracia, ao lado dos
amigos Fidel Castro e Hugo Chávez.
Muitos afirmam que essas biografias assustadoras são coisa
do passado. Entretanto, não se vê essas pessoas declararem,
publicamente, total repúdio por este passado sombrio. Não se
vê lamentarem, publicamente, o que fizeram e o que isso custou
à nação. Muito pelo contrário. Em Havana, no X Encontro do
Foro de SP, Lula advertia: “Muitas vezes falamos como se
quiséssemos ou pudéssemos construir o socialismo em quatro
anos; a história não se faz ao ritmo das nossas ansiedades”. Mas
o consenso atual diz que o socialismo morreu. Estão querendo
enterrar um morto ainda vivo.
Claro que eles se adaptaram à nova realidade do mundo,
mas ainda podemos ver inúmeras evidências de uma luta pelo
comunismo ou socialismo no mundo. E o combate ao terror
comunista fica muito prejudicado quando sequer sabemos de
sua existência. Temos diversos exemplos de atividade comu-
nista atualmente. O Partido Comunista Italiano participa da
aliança de centro-esquerda Ulivo. Na Espanha, o Primeiro
Ministro Zapatero, que recentemente decidiu financiar o “pro-
jeto de ditador” Hugo Chávez, veio do PSOE, assumidamente
socialista e parceiro do Partido Comunista Espanhol. Na
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Polônia, uma das maiores vítimas do comunismo genocida, o
SLD, sucessor do antigo partido comunista, ainda contava com
mais de 40% dos votos nas últimas eleições. Na Rússia, berço
da experiência assassina dos comunistas, estes ainda possuem
cerca de 20% da Câmara, e não custa lembrar que o atual pre-
sidente vem da KGB, ícone do regime totalitário. Cuba, China
e Coréia do Norte ainda são comandadas por comunistas, e a
Venezuela caminha rapidamente para um cenário lamentável
desses, suprimindo cada vez mais a liberdade do povo.
Mesmo no Brasil, faz parte da base governista o PCdoB,
que leva comunista até no nome. Qual seria a repercussão de
um partido nazista no governo, lembrando que o comunismo é
apenas uma vertente do socialismo, tal como o nazismo? Se-
guidores de Hitler são execrados, com toda razão. Mas segui-
dores de Stalin, pior até que o açougueiro alemão, não só são
permitidos, como fazem parte do governo e ocupam o impor-
tante ministério da Coordenação Política, através de Aldo Re-
belo. Este mereceu ainda, em discurso do vice-presidente José
Alencar, doces palavras, e a afirmação de que “é muito impor-
tante que nós todos estejamos ao lado dele, para que ele conti-
nue conduzindo a vida política brasileira na direção dos eleva-
dos objetivos nacionais, do fortalecimento e aperfeiçoamento
da democracia, da conquista da paz social e da soberania”61.
Não há contradição maior que juntar “democracia” com “co-
munismo”, o regime mais totalitário da história. O próprio pre-
sidente Lula, em discurso no Fórum Social Mundial de 2003,
disse: “Sei da esperança que os socialistas do mundo inteiro
têm no sucesso do nosso governo”.
Além disso, em maio de 2004, na Bélgica, inúmeros partidos
comunistas se reuniram num seminário cujo tema era “Estratégia
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e táticas para a luta contra a guerra imperialista americana”.
Eram 60 partidos e organizações de 45 países, sendo que vários
outros expressaram interesse, mas não puderam comparecer,
basicamente por problemas com o visto. Em 2005, os partici-
pantes já organizaram o 14º seminário comunista, com o tema
“O partido leninista e a experiência da Terceira Internacional”.
São debatidas medidas concretas para aumentar a solidariedade
com Cuba e Coréia do Norte. Participam desse seminário
partidos comunistas do Afeganistão, Cuba, Irã, Itália, Coréia,
Líbano, Nepal, Palestina, Peru, Turquia, Inglaterra, Estados
Unidos, Venezuela e outros.
Como podemos ver, é no mínimo irresponsável afirmar que
o comunismo morreu. De fato, a democracia, ainda que, muitas
vezes capenga, tomou conta de boa parte do mundo, que antes
vivia sob o terror autoritário do comunismo. Mas estamos
longe de poder escrever o obituário dessa ideologia cruel. As
forças do mal ainda atuam para transferir poder do povo, ou
seja, o mercado, para os tiranos do Estado. Podem ter alterado
as táticas. Os gulags podem ter desaparecido. Mas não se deve
subestimar a inteligência dessa gente inescrupulosa e sedenta
por poder político. A propaganda é uma arma poderosa hoje
em dia. E decretar a morte prematura do comunismo é parte
desse jogo. Muitas vezes adeptos da social-democracia são apenas
socialistas adaptados, uma espécie de vermelho desbotado, mas
com crença dogmática de que o mercado e a propriedade pri-
vada são os inimigos, não o Estado controlador. É evidente
que não são todos dentro da “terceira via” que querem apenas
uma rota alternativa para o mesmo destino. Mas eles existem, e
não são poucos nem fracos. Para combatê-los, é crucial que ao

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menos se possa reconhecer sua existência. Por isso torna-se tão
perigoso para a liberdade “enterrar” este que ainda está vivo e
se debatendo.
Em 1998, nas Diretrizes para a Elaboração do Programa
de Governo do PT, tem-se a seguinte passagem: “Mesmo ten-
do consciência de que governo e poder não se confundem e
que, por isso, não pode ser vista como conquista plena do pró-
prio poder político, o PT compreende, também, que, no Bra-
sil, o Executivo Federal concentra tantos recursos e tanta força
institucional que o seu controle permite desencadear mudan-
ças de uma envergadura capaz de alterar todo o quadro
conjuntural, iniciando um processo que garanta a realização de
nosso Programa Democrático-Popular, em direção às trans-
formações socialistas”. Sabemos que líderes do PT vêm afir-
mando que o partido chegou ao governo, mas não ao poder. O
ideal socialista ainda vive para muitos do PT.
Certas medidas do atual governo mostram como os critérios
de julgamento dos fatos ocorridos nos anos 60 no Brasil são
estranhos. Existem dois pesos, e duas medidas, garantindo tudo
aos amigos, e migalhas às vítimas verdadeiras. No dia 26 de
junho de 1969, um grupo de onze terroristas da Vanguarda
Popular Revolucionária (VPR), realizou um atentado ao Quar-
tel General do II Exército, em São Paulo. Mário Kozel Filho,
soldado que prestava o serviço militar obrigatório, teve seu corpo
despedaçado. Três assassinos, autores desse crime, agora se fa-
zem de perseguidos políticos, encontrando guarida na Comissão
de Anistia. Irão, provavelmente, receber gordas pensões por
conta dos “anos da ditadura”, como tantos outros ex-terroristas
já receberam. Em contrapartida, no dia 20 de agosto de 2003,

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o Congresso Nacional decretou e o presidente da República
sancionou um diploma legal que concedeu pensão especial a
Mário Kozel e Terezinha Lana Kozel, pais do soltado morto
no atentado. Foi fixado o valor de R$ 330 de pensão vitalícia.
Essa é a quantia destinada aos pais de um garoto inocente as-
sassinado aos 18 anos de idade pelos comunistas. Talvez seja
um problema de caixa do governo. Deve estar faltando verba
para pagar um pouco mais, já que o anistiado político Carlos
Heitor Cony conseguiu uma reparação econômica, de caráter
indenizatório, no valor de quase vinte mil reais, retroativos,
perfazendo um total de R$ 1.417.072,75, ou praticamente um
milhão e meio de reais. Não deve ter sobrado nada para a família
dilacerada do pobre soldado...
O relacionamento próximo, do governo Lula com o caudi-
lho venezuelano Hugo Chávez, merece destaque. Chávez é um
militar golpista, que mais tarde conseguiu subir ao poder atra-
vés da democracia, tendo sido reeleito com fortes suspeitas de
manipulação nas eleições. Ele é o típico nacionalista populista e
autoritário, que cria bodes expiatórios no exterior para justifi-
car suas atrocidades domésticas. Fundou em 1982 o Movi-
mento Bolivariano Revolucionário 200 (MBR-200), inspira-
do em Simón Bolívar, o venezuelano que lutou pela indepen-
dência do país contra a colonização espanhola, tornando-se di-
tador depois. Chávez usa os Estados Unidos como escusa para
essa nova luta pela “independência”, sendo que a “exploração”
americana, através da compra do petróleo a preço de mercado,
gera algo como cinco bilhões de dólares mensais para os cofres
dos “explorados”. Chávez deu um golpe de Estado em 1992

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para tomar o poder. A Venezuela vivia há 34 anos em democracia
desde a queda do último ditador, Marcos Pérez Jiménez,
em 1958.
Como presidente, declarou “estado de emergência social”,
solicitando poderes excepcionais e convocando um referendo
para dissolver o Congresso, e escreveu uma nova Constituição
outorgando a si mesmo extremo poder. Aumentou drastica-
mente o controle estatal na Petróleos de Venezuela S.A., a
PDVSA, empresa que corresponde a cerca de 80% das expor-
tações do país, e mais de um quarto do PIB. Chávez caminha
para tornar-se uma espécie de Saddam Hussein das Américas.
Seu populismo tem tom quase messiânico, e o culto à per-
sonalidade, típico de ditadores, é usado como arma política.
Criou um programa semanal de televisão chamado “Alô Presi-
dente”, que fazia apologia a seu pensamento político e defendia
as obras de seu governo. Em 25 de abril de 1999, o Congresso
concedeu poderes especiais para que Chávez governasse atra-
vés de decretos nas matérias econômicas durante seis meses.
Entretanto, não obstante o elevado preço do petróleo nos mer-
cados internacionais, que gera algo como US$ 150 milhões
diários para o país, a economia venezuelana afunda em aguda
crise, com elevada inflação e crescente desemprego. Os homi-
cídios aumentaram de 4.500 em 1998 para 14.100 em 200362.
Não bastam vastos recursos naturais para criar riqueza, como
podemos ver em diversos países do Oriente Médio ou África,
assim como Rússia. A riqueza é fruto do esforço individual,
em um ambiente livre e com império da lei. Coisas que faltam
por completo na Venezuela de Chávez.

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O viés autoritário do caudilho vem sendo cada vez mais
visível, em uma nítida tentativa de se criar uma nova Cuba nas
Américas. Entrou em vigor na Venezuela um novo Código
Penal que pune com rigor quem ofender o presidente. Aquele
que discordar de “El Presidente” vai acabar “em cana”, pegan-
do até 13 meses de prisão para ofensas leves, ou dois anos e
meio para ofensas mais graves. O governo também promul-
gou uma lei de responsabilidade social de rádio e televisão, que
pune os jornalistas que ousarem falar mal de Hugo Chávez.
Após certo horário, os canais de TV não podem mais mostrar
imagens de violência. O que os olhos não vêem o coração não
sente. E Chávez não quer que os olhos dos venezuelanos ve-
jam a triste realidade que ele instalou no país. Lula parece ter
gostado da idéia do amigo, repetindo insistentemente que era
preciso mostrar cenas boas do Brasil, ocultando certos fatos
para não afetar a “auto-estima” do brasileiro. Melhor fingir
que estamos na Suíça do que enxergar a verdade, pela ótica
do presidente.
Vale lembrar que todas as nações socialistas buscaram
rapidamente o controle da mídia, entendendo que, se os fatos
forem divulgados, o socialismo desmorona. As informações
precisam ser manipuladas, distorcidas, ocultadas, para que a
propaganda socialista consiga enganar as pessoas por mais
tempo. Diversas ONGs internacionais têm criticado duramente
as ações de Chávez, e os Estados Unidos demonstram forte
preocupação com os rumos do país. Enquanto isso, Lula
declara que não aceita “difamações” e “insinuações” contra
“companheiros”. Ele reconfirmou sua solidariedade ao líder
venezuelano. Lula, quando confrontado pela complacência com

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as atrocidades dos seus aliados, costuma repetir que se trata de
assuntos internos desses países. Até mesmo a China não é
criticada por Lula pelos abusos constantes aos direitos huma-
nos. Curioso é que para “meter o pau” nos Estados Unidos,
por causa da guerra do Iraque, Lula ignorou essa mesma pos-
tura de “neutralidade”. Disse Lula que a Venezuela tem direito
de ser um país soberano. O problema é que Lula não explicou
o direito que a Colômbia, a Bolívia, o Peru e a Nicarágua têm
à soberania, já que a Venezuela ou os agentes do bolivarianismo
apóiam ou financiam movimentos insurrecionais nestes países.
A balança moral do governo Lula deve estar com defeito, for-
necendo sempre duas medidas diferentes, dependendo de quem
está sendo pesado. A imparcialidade de Lula é parcial...
O Departamento de Estado americano divulgou o docu-
mento “Apoiando os Direitos Humanos e a Democracia”, no
qual chamou a atenção para a adoção de métodos cada vez mais
autoritários pelo governo da Venezuela, criticando a piora nas
condições de respeito aos direitos humanos, a interferência do
Executivo no Judiciário e as restrições à liberdade de impren-
sa. Além disso, o governo colombiano capturou o guerrilheiro
Rodrigo Granda, conhecido como chanceler da FARC, em
território venezuelano, e Uribe acusou Chávez, com
embasamento, de dar abrigo aos terroristas colombianos. A
reação de Chávez foi partir para ataques insanos, criando uma
crise diplomática. O líder cocaleiro Evo Morales, que vem sis-
tematicamente convulsionando a Bolívia, conta com o apoio de
Chávez. Diante de tudo isso, Lula vem reafirmar seu apoio a
tal sujeito, que respondeu em seguida, como agradecimento,
que “às vezes dói, sabe?”. Coitado de Hugo Chávez. Uma
vítima de calúnias infundadas!
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Com a fortuna entrando nos cofres públicos devido ao
petróleo e a economia afundando, Chávez resolve acelerar uma
corrida armamentista sem sentido. Anunciou a compra de 100
mil fuzis russos AK-47, assim como helicópteros de combate,
e a intenção de comprar ainda caças Mig 29. Para piorar a situ-
ação, um projeto, encaminhado ao Congresso, controlado por
Chávez, pretende colocar na reserva todos os venezuelanos entre
18 e 50 anos. A medida irá incorporar compulsoriamente algo
como 1,5 milhão de pessoas às Unidades de Defesa Populares.
Chávez pretende transformar a Venezuela em uma Coréia do
Norte. Essas Unidades de Defesa seriam uma réplica dos Co-
mitês de Defesa da Revolução, milícia de espiões cubanos que
controlam os passos da população. Chávez está criando um clone
da Guarda Republicana Iraquiana, o exército privado de
Saddam que intimidava o povo para manter o poder ditatorial.
Como diz o editorial do “Estado de São Paulo”: “Essa é a ‘de-
mocracia’ legitimada pelo plebiscito de 2004. Pobre Venezuela”.
Eis mais um dos amigos do governo Lula, a quem o comanda-
do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) decide emprestar mais de cem milhões de dólares
para empresas que irão construir um metrô em Caracas, en-
quanto o projeto para empréstimo ao metrô de São Paulo fica
engavetado.
Nenhum pai sensato deixa o filho andar com rebeldes mar-
ginais, com gente violenta, criminosa e sem escrúpulos. O povo
brasileiro, entretanto, colocou no governo um partido cujas
amizades são as piores possíveis, selecionadas a dedo. O gover-
no “flerta” com aliados que representam o que há de pior na
humanidade. “Diga-me com quem andas que te direi quem

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és”. Será que ainda vale para alguma coisa a sabedoria do dita-
do popular?
Mas Lula, após o episódio constrangedor com Dom
Eusébio, que disse que o presidente não é católico, mas “caóti-
co”, resolveu comungar na missa do funeral do Papa João Pau-
lo II. Sobre o fato de não ter confessado antes, o presidente
comentou que era um “homem sem pecado”. Depois recebeu
uma caixa de charutos Monte Cristo de presente do presidente
do Parlamento (sic) de Cuba, Ricardo Alarcon. Talvez Lula
não tenha pecados. De repente, então, seria melhor candidatar-se
ao cargo de santo, e não de presidente.

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VIÉS AUTORITÁRIO

Como se não bastassem as companhias freqüentes do


governo Lula, assim como o passado de diversas pessoas que
ocupam cargos de grande importância no quadro político
brasileiro atual, há um claro viés autoritário partindo do
Planalto. Não são poucas as medidas ou projetos que denotam
clara tendência centralizadora de poder, que solapa a liberdade
individual no país. Já se falou do desarmamento dos civis ino-
centes, da interferência nas universidades, do uso abusivo de
Medidas Provisórias, da tentativa de controle sobre a di-
vulgação de dados do IBGE, e várias outras evidências des-
se crescente totalitarismo estatal. Vão-se abordar agora ou-
tras medidas de cunho autoritário, que ofuscam a liberdade
dos cidadãos.
Seria interessante lembrar a fábula da rã e do escorpião.
Sem capacidade de nadar, não podendo assim atravessar o rio,
o escorpião pede para que a rã o carregue nas costas. Esta,
desconfiada que o escorpião vá lhe picar, nega. Mas o escor-
pião, esperto, explica que, caso ele pique a rã, ele também irá
morrer, afundando no rio. Satisfeita, a rã aceita carregar o es-
corpião. No meio da travessia, eis que o escorpião não resiste e
pica a rã. Antes de afundarem, a rã, perplexa, pergunta o por-
quê desta atitude. No que o escorpião responde ser essa a sua
natureza. Muitos no PT carregam um DNA de escorpião. O
autoritarismo está na natureza de muitos hoje no governo.
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O cinema é um bom exemplo para começo de análise. O
presidente Lula assinou um decreto aumentando o número de
dias de exibição obrigatória de filmes brasileiros nos cinemas
do país, passando de 35 para 63 dias. É a conhecida “cota de
tela”, nada mais que uma reserva de mercado, como a Lei da
Informática, que, para “proteger” a oligarquia nacional, pena-
lizou todos os consumidores. Ora, o que garante a qualidade
dos produtos e serviços é justamente o foco no consumidor,
sendo a livre concorrência o maior estímulo para o avanço des-
ta qualidade. É ela que força o aprimoramento dos produtos,
colocando a satisfação do cliente em primeiro lugar para a so-
brevivência das empresas. Quem decide se um filme é ruim ou
bom, portanto, é o público. E a preferência individual através
da livre escolha é que irá premiar ou penalizar os produtores.
Mas todo socialista detesta a liberdade de escolha do povo.
Querem empurrar goela abaixo as suas preferências individuais.
Uma reserva de mercado, como a “cota de tela”, é a antíte-
se do livre mercado, pois condena o consumidor ao monopólio
da oferta, definida pela canetada dos burocratas do governo. O
cinema nacional é financiado, em boa parte, por dinheiro esta-
tal, por meio do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e
Petrobrás. Qualquer um sabe que o cão não morde a mão que
o alimenta. Os filmes nacionais acabam, portanto, com temas
limitados pela preferência ideológica desses poderosos buro-
cratas, na melhor das hipóteses, ou usados como doutrinação
ideológica estatal, como ocorre nos países socialistas. Somente
os “amigos do rei” conseguem verbas. Agradar ao público deixa
de ser prioridade, portanto, dando lugar à necessidade de agra-
dar aos burocratas. Em Cuba, praticamente não se fazem mais

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filmes, e os poucos que são feitos são subservientes aos desejos
totalitários do ditador.
O secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores,
embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, disse que devemos
lutar contra a “hegemonia americana” na cultura brasileira.
Comparando o filme “Pelé” com “Homem-Aranha”, reclamou
da quantidade de filmes americanos em cartaz, comparado a
filmes nacionais, indianos, franceses ou russos. Em outras pa-
lavras, os indivíduos não devem mais ser livres para fazerem
suas escolhas. Precisam, em nome da “cultura nacional”, obe-
decer às preferências impostas por...Guimarães! Ele disse ain-
da que “cabe à sociedade brasileira, através da legislação, ga-
rantir a diversidade”. Mas ora, é justamente a sociedade que
escolhe os filmes americanos! Na verdade, essa novilíngua so-
cialista oculta uma concentração de poder pérfida. Onde diz
“sociedade”, leia-se o “governo”, mais especificamente ele, o
poderoso que irá decretar as cotas para filmes, selecionando o
que podemos ou não ver nas telas. A idéia estapafúrdia defen-
dida pelo embaixador é criar leis que obriguem o consumidor a
aceitar produtos que ele considera ruim, e por isso não escolhe
voluntariamente. A diversidade vem justamente da competi-
ção livre. Nos Estados Unidos, existem milhões de alternativas
para todos os gostos, enquanto em Cuba não há liberdade al-
guma de escolha. Mas essa liberdade é, aparentemente, repu-
diada pelos membros do governo, pois a escolha acaba sendo
oposta a de que eles gostariam. E essa gente é que diz ter luta-
do contra uma ditadura...
O governo Lula apresentou um anteprojeto polêmico e com
viés autoritário. Trata-se do anteprojeto que institui a Agência

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Nacional de Cinema e Audiovisual (Ancinav). A líder do PT
no Senado, Ideli Salvatti, afirmou que estavam “falando de
domínio econômico e cultural e da soberania da nossa produção
cultural”, igualando assim este debate ao “debate sobre a ques-
tão do petróleo”. O PT apela para o nacionalismo xenófobo
para impor seu controle sobre os veículos de informação. O
cineasta Ipojuca Pontes, no artigo “A Estranha Moralidade de
Lula”, comentou sobre as medidas do governo. Ele disse que
“o receituário de Lula para o problema (do cinema nacional) é
o seguinte: recriar uma Agência oficial com poderes discricio-
nários para regular, controlar, fiscalizar, fomentar e financiar o
cinema, a ser sustentada com a imposição da cobrança de im-
postos e taxas que incidirão sobre a vida dos brasileiros”. O
Ancinav não passa de um completo dirigismo estatal sobre a
cultura, com intervenção absurda na vida dos indivíduos. E
ainda por cima encarece o serviço, por cobrar novas taxas, como
10% sobre o valor do ingresso. Menos gente teria acesso a um
dos programas prediletos do brasileiro: ir ao cinema. Um proje-
to absurdo desses ainda está em fase de análise e transfor-
mação, pois a dependência dos cineastas pela verba pública
é tão grande, que eles acabam reféns dos caprichos autori-
tários de Brasília.
Fora o maior controle sobre o cinema, o governo Lula tentou
criar o Conselho Federal do Jornalismo (CFJ), que buscava
fiscalizar o exercício da profissão de jornalista, na linha do
autoritário Chávez. A reação dos profissionais do setor foi ime-
diata. O projeto previa punições para os jornalistas que co-
metesse “irregularidades”, podendo ser advertência, multa,
censura ou suspensão do registro profissional. O projeto

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estabelecia ainda que caberia aos conselhos “orientar, disciplinar
e fiscalizar” o exercício da profissão. Argumentava-se que muitos
jornalistas abusam dos seus direitos, faltando muitas vezes com
a ética devida. Mas ora, contra calúnias e difamações, já existe
a lei. O que o governo estava pretendendo, claramente, era
aumentar seu poder e controle sobre a mídia, comportamento
comum em todos os países socialistas. Lula, ao se encontrar
com jornalistas brasileiros na República Dominicana, ainda teve
a ousadia de dizer: “Vocês são um bando de covardes mesmo,
hein? Não tiveram coragem de defender o Conselho Nacional
de Jornalistas”. Coragem, para o presidente, deve ser então
entregar o pescoço passivamente à guilhotina do Estado.
Como os bolcheviques russos, que repetiam “todo poder
aos soviets”, o governo Lula vem buscando todo poder aos “con-
selhos”, que, para quem não sabe, é o significado da palavra
soviet. Luiz Gushiken, secretário de Comunicação e Gestão
Estratégica, chegou a afirmar que “nada é absoluto, nem a liber-
dade de imprensa”63. Frei Betto, então assessor do presidente
Lula, disse que os grandes meios de comunicação “fazem um
terrorismo psicológico porque não querem perder o mono-
pólio da palavra”64. Ou seja, em nome de uma participação
maior das massas nos meios de comunicação, concentra-se
poder nos conselhos ligados ao “partidão”. Toda nação comu-
nista fez isso, de uma forma ou de outra. Vendiam a idéia de
que a “sociedade” é quem deveria mandar, e tomavam para si,
ou seus aliados, o controle de tudo. E o resultado concreto
disso é a transformação de jornalistas em propagandistas do
governo. Nas palavras do jurista Ives Gandra Martins: “O pro-
jeto do Conselho de Jornalismo é absurdo e inconstitucional.

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A liberdade de imprensa é garantida pela Constituição. Os
pulmões de uma sociedade democrática são uma Justiça e uma
imprensa livres”65. O projeto acabou enterrado após muita pressão.
A mancha vermelha no currículo do PT, entretanto, permanece.
Ainda sobre jornalistas, tivemos o caso patético do artigo
no “The New York Times” que falava do problema de bebida
do presidente. O próprio artigo, escrito pelo jornalista Larry
Rother, era baseado em outros artigos, como a coluna de Diogo
Mainardi. Todos sabem da queda do presidente por uma ca-
chaça. Circulam pela internet fotos do presidente bêbado em
um churrasco. A reportagem em si pode ser boba, inútil ou
condenável. Qualquer um tem direito de condenar seu autor,
mas a reação do governo Lula assustou pela agressividade e
autoritarismo. Com a raiva controlando a razão, o governo ten-
tou expulsar o jornalista do país. Somente diante da repercus-
são negativa de tal atitude é que o governo voltou atrás, sob a
condição de um pedido de desculpas do repórter. Governos
autoritários nunca aceitam a crítica. Fico imaginando se um
manipulador como Michael Moore, adorado pelos brasileiros,
estivesse no Brasil fazendo seus “documentários” sobre Lula, e
não Bush. Qual seria a reação do governo? Acusam Bush de
fascista, mas será que Lula iria ignorar Moore como Bush ig-
nora, deixando-o livre para novas manipulações panfletárias
contra o governo? Após esse episódio com o repórter america-
no, é pouco provável. Mais uma vez, fica evidente o caráter
autoritário deste governo.
Um episódio em Minas Gerais levantou suspeitas de ten-
tativa de intimidação por parte do PT. A Polícia Federal fez
uma busca na gráfica do jornal “O Tempo”, do deputado federal

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Vitório Mediolli, do PSDB. Dois diretores do jornal acabaram
algemados. A busca foi determinada pelo juiz Wauner Batista
Ferreira Machado, depois de uma representação do Partido
dos Trabalhadores. “O Tempo” foi acusado de imprimir o jornal
“Betim em Dia”, supostamente clandestino, que estaria fazendo
propaganda eleitoral ilegal. O editor Almerindo Camilo, um
dos algemados, considerou a ação um atentado à liberdade de
imprensa, pois afirma ter pedido para ver o mandado de busca
enquanto recebeu voz de prisão. Nada foi encontrado. O man-
dado era para busca na gráfica, mas vistoriaram outros depar-
tamentos e revistaram gavetas. O deputado Mediolli disse que
a ação foi armação político-eleitoreira com o objetivo de causar
constrangimentos.
Na verdade, essa postura do PT não é novidade para quem
conheceu o governo de Olívio Dutra no RS. Nelson Sirotsky,
diretor do jornal “Zero Hora”, já havia confirmado que o
governo de Olívio usava verbas de publicidade oficial para
pressionar os jornais e remover jornalistas “inconvenientes”,
sob a ameaça de cortar os anúncios oficiais. Denis Rosenfield
escreve sobre o governo Dutra, em seu livro “PT na Encruzi-
lhada”, que “praticamente todos os jornalistas de oposição e
certos intelectuais estão com processo na Justiça”. Alguns jor-
nalistas, inclusive, teriam dito que perderam seus empregos
por pressões exercidas pelo governo junto aos donos das
empresas. Que bela liberdade de expressão!
O revolucionário russo que desejava instalar uma guerra
civil em seu país, Vladimir Lênin, costumava repetir as per-
guntas: “Por que deveríamos aceitar a liberdade de expressão e
de imprensa? Por que deveria um governo, que está fazendo o

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que acredita estar certo, permitir que o critiquem? Ele não
aceitaria a oposição de armas letais, mas idéias são muito mais
fatais que armas”. O revolucionário, que levou seu país a um
regime totalitário, assassino e cruel, costumava ser um símbolo
da esquerda no passado, e, ainda hoje, muitos o admiram. Em
contrapartida, Thomas Jefferson, um dos “pais fundadores”
dos Estados Unidos, dizia: “Uma vez que a base de nosso
governo é a opinião do povo, nosso primeiro objetivo deveria
ser mantê-la intacta. E, se me coubesse decidir se precisamos
de um governo sem imprensa ou de uma imprensa sem governo,
eu não hesitaria um momento em escolher a segunda opção”. Não
por acaso os Estados Unidos chegaram aonde chegaram, com
cerca de 30% da economia mundial, enquanto o “urso de papel”
naufragou em seu próprio lamaçal. E parece claro por qual
modelo o governo Lula tem maior queda.
Outra tentativa de o governo Lula conseguir ainda mais
poder foi tirar da gaveta a “lei da mordaça”, um projeto de lei
destinado a calar os membros do Ministério Público. A inde-
pendência do Ministério Público é fundamental para que este
cumpra com suas atribuições. Ele foi concebido pelo Constitu-
inte de 1988 como instituição permanente, essencial à função
jurisdicional do Estado, tendo por objetivos principais a defesa
da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis. Pela “lei da mordaça”, estaria
proibida a divulgação de dados sobre processos em andamento.
Trata-se de censura pura. Um cerceamento da liberdade de
informação típico de uma ditadura.
O antropólogo Roberto DaMatta, em entrevista à “Veja”,
comentou sobre as medidas do governo Lula: “Há atualmente

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um surto de centralização. São os velhos barões se insurgindo
com novos nomes. O governo quer um barão para mandar em
cada setor: barão da imprensa, barão da universidade, barão da
cultura...”. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB), Roberto Busato, não poupou críticas à Lula também.
Disse, em entrevista à “Gazeta de Alagoas”, que a MP 232
“denota uma soberba ditatorial do governo, um viés de impo-
sição por força, usando de uma medida extrema para legislar, e
uma fraqueza do Congresso”. Não são poucos os que estão
assustados com esse viés autoritário do governo Lula. E não é
para menos...
Algo comum em governos autoritários é a explosão dos
gastos com propaganda. A realidade precisa ser distorcida de
qualquer maneira. Segundo dados da Secretaria de Comuni-
cação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da
República (Secom), foram desembolsados R$ 867 milhões em
publicidade em 2004. Isso representa um aumento de R$ 250
milhões em relação a 2003, ou mais que 40%. O veículo da
mídia que mais recebeu recursos foi, de longe, a televisão. Quase
60% dos gastos totais com publicidade tiveram esse destino,
que atinge melhor as massas. O Brasil não vai nada bem, o
desemprego ainda é alto, os impostos são absurdos, a
criminalidade assusta, mas o governo Lula gasta quase um
bilhão de reais para vender sua imagem.
A ABIN, Agência Brasileira de Inteligência, fechou um
acordo oficial com o DGI, serviço secreto cubano. Segundo o
ministro Dirceu, trata-se de “um dos melhores serviços secre-
tos do mundo, junto com o de Israel e da Rússia”. Isso vem de
um dos seus alunos, não vamos esquecer. Teremos, portanto,

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um intercâmbio entre agentes, trocando informações. Creio que,
após todas as informações disponíveis no livro, essa medida
dispense maiores comentários. A espinha já reage automatica-
mente com calafrios.
O preço da liberdade é a eterna vigilância. Como dizia o
filósofo David Hume, “raramente se perde qualquer tipo de
liberdade de uma só vez”. A democracia, por si só, não garante
a liberdade individual, e Hitler ou Chávez estão aí como provas
irrefutáveis. Uma sociedade aberta é conditio sine qua non para a
manutenção da liberdade do povo. Isso exige uma imprensa
livre, sólidas instituições independentes do governo e o império
da lei. No Brasil, ainda estamos engatinhando nesse sentido. Mal
tiramos as fraldas da ditadura. O Estado ainda mantém uma
interferência absurda na vida do cidadão. O paternalismo pre-
cisa ser combatido, pois o Estado não é pai de ninguém. Os
impostos abusivos precisam ser reduzidos, para que sejamos
cidadãos livres e não escravos de Brasília. E, por fim, essa tenta-
tiva de controle centralizado precisa ser duramente combatida,
para a salvação da democracia. A rã precisa acordar para a reali-
dade, e abandonar a idéia de carregar o escorpião nas costas.

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CONTRADIÇÕES INTERNAS

Diante de todo o quadro até aqui apresentado, os militantes


petistas encontram-se, cada vez mais divididos, vivendo uma
verdadeira crise de identidade. O PT, enquanto partido com
suas defesas ideológicas, difere cada vez mais do PT governo,
que adere ao pragmatismo e fisiologismo, usando do
autoritarismo para obter mais poder. O realpolitik tem ocupado
mais espaço com o avanço do PT no poder político brasileiro.
O PT teria dupla personalidade. A cúpula poderosa do partido
migrou seu discurso para o centro do espectro político-ideo-
lógico, descartando o lado mais radical do partido, que prega
uma verdadeira revolução socialista. Ainda é visível o ranço
ideológico no governo, mas muitos acreditam que ele seria ape-
nas um meio para a manutenção do poder político. Este seria o
único objetivo real, como o Partido Revolucionário Institucional
(PRI) do México, que se tornou uma supermáquina parti-
dária que controlou o poder por 70 anos.
O próprio PT acaba funcionando como uma nação socia-
lista, em que o discurso prega a “democracia participativa”,
mas em nome da unidade do partido, uma cúpula decide as
questões importantes. Os que discordam acabam expulsos. Esse
autoritarismo dentro do partido ficou claro quando o PT fe-
chou uma aliança com o PL para as eleições de 2002, não sub-
metendo tal decisão a qualquer outra instância além do Diretório

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Nacional, nem consultando os filiados. Ocorreram mudanças
no Estatuto do partido, com maior delegação de poderes às
executivas, eleitas por voto direto. A estrutura partidária
concentra enorme poder sobre o restante do partido. Fora isso,
até mesmo contribuição financeira obrigatória sobre os salários
existe, como o dízimo da Igreja Universal. O “individualis-
mo” é combatido dentro do PT também e, em nome da “causa
geral”, todos devem ceder e contribuir. Claro que essa causa
fica cada vez mais confusa, pois os ideais socialistas seriam pos-
síveis por meio de uma revolução que os mais poderosos ou
moderados não desejam, uma vez que atingiram seus objetivos
particulares pelas vias democráticas, unindo-se aos demais par-
tidos e afetando a coesão ideológica do PT. E até mesmo os
românticos são individualistas!
Com isso, o PT de hoje difere bastante daquele imaginado
pelos seus fundadores em 1980. Naquele tempo, reinava um
romantismo utópico, e como não havia o compromisso com a
governabilidade, propostas irreais ocupavam a agenda do par-
tido. Havia uma recusa petista em ampliar suas alianças nos
primeiros anos, para não corromper seus ideais. Pelo seu cres-
cimento explosivo, assim como participação maior no governo,
ocorreu uma oligarquização do partido, assim como uma quan-
tidade enorme de alianças, que acabaram por desfigurá-lo. Ele
ficou mais burocratizado, menos operário, e mais focado na
pura obtenção de votos, adaptando o discurso de acordo com
essa necessidade. O PT conta com enorme parcela de funcio-
nários públicos dentro do seu quadro, e mais da metade recebe
acima de 10 salários mínimos66. Circula na internet uma defi-
nição interessante do que seria o partido: “O PT é um partido

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orientado por intelectuais que estudam e não trabalham,
formado por militantes que trabalham e não estudam, e coman-
dado por sindicalistas que não estudam e nem trabalham”. Toda
brincadeira tem um fundo de verdade.
O PT ficou mais elitista e, justamente por isso, certos radicais
resolveram sair do partido, abrindo concorrência para capturar
os votos da esquerda mais extrema. Enquanto isso, os que
comandam o partido entraram em uma disputa pelos votos
tradicionais do PSDB, com discurso mais moderado. São apenas
táticas adaptadas para a chegada e manutenção no poder, como
a mudança do conceito de luta de classes marxista para algo
difuso como “direito à cidadania”. Os discursos foram adaptados,
mas ainda estão repletos de objetivos vagos e abstratos, com
conceitos subjetivos, justamente para possibilitar o atingimento
do verdadeiro objetivo: o poder arbitrário.
Esse dilema, de abraçar o socialismo utópico sempre defen-
dido, ou dedicar-se à acomodação entre diferentes grupos de
interesse, vem causando uma ruptura interna no PT. E o go-
verno Lula parece balançar entre esses dois caminhos, ora dando
claras indicações de que o socialismo anda vive nos planos do
PT, ora pegando o rumo da terceira via social-democrata. O
governo tenta combinar convicções ideológicas com o
pragmatismo do governo. Acaba não agradando nem a gregos
nem a troianos. Os sonhadores socialistas, que almejam uma
revolução, uma guinada ainda mais rápida no sentido de uma
cubanização do Brasil, sentem-se traídos pelos anos de discursos
e promessas. E os adeptos da social-democracia acabam vendo
o PT apenas como um PSDB piorado, e ainda com fortes vícios
autoritários, herança do socialismo. Enquanto isso, outros

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partidos buscam ocupar o lado mais revolucionário que antes
era dominado pelo PT, cujo lema antigo era “Vote no Três que
o Resto é Burguês”.
Segundo José Giusti Tavares, o PT é dominado pela
decepção e pelo ressentimento, contendo uma nova “intelligentsia
comunista” que não alimenta qualquer utopia e não possui se-
quer um programa de governo67. Até porque uma democracia
constitucional não possibilitaria a realização de um programa
nas linhas ideológicas do PT antigo. Giusti considera que “seu
objetivo [do PT], dissimulado por uma miríade de projetos
políticos exóticos, que atraem o apoio de minorias desajustadas,
passa a ser a erosão dos valores, da cultura e das instituições do
sistema político brasileiro”. As críticas de Tavares são voltadas
em especial para o PT gaúcho, e o levam à conclusão de que o
partido é autoritário, tendo dificuldade de participar normal-
mente do governo da Federação. Não foram poucos os casos
que corroboraram com tal tese.

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TRAPALHADA DIPLOMÁTICA

“A humanidade precisa, antes de mais nada, se


libertar da submissão a slogans absurdos e
voltar a confiar na sensatez da razão”.
Ludwig von Mises

O presidente Lula, em sua estranha luta megalomaníaca


para líder da “nova geopolítica” mundial, foi o responsável por
uma grande trapalhada diplomática. A cúpula de países árabes
e sul-americanos (Aspa), que esteve reunida no Brasil, foi um
evento lamentável, sob todos os pontos de vista. O país obterá
um ganho comercial praticamente nulo com tamanho esforço,
enquanto a mancha política já causa um estrago enorme.
Os tropeços começaram quando o Itamaraty recusou o con-
vite dos Estados Unidos para enviar um observador ao evento.
Grave erro diplomático, que gera atritos completamente desne-
cessários com nosso principal cliente comercial, fruto apenas de
razões ideológicas. Hugo Chavez ficou muito feliz com a deci-
são brasileira, para poder utilizar a cúpula como um recado
antiamericano, com o respaldo do Brasil. A cúpula serviu como
palco para acusações insanas do projeto a ditador da Venezuela.
Além disso, um claro viés anti-Israel foi adotado pela
cúpula, sendo que esta é a única nação democrática na região.
Na verdade, tem agora o Iraque também, que tem eleições
graças aos aliados dos Estados Unidos, que tiraram Saddam

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Hussein do poder, mesmo sob forte crítica por parte dos países
que se beneficiavam do comércio de armas e do programa
petróleo-por-comida, repleto de corrupção. Com o
aprofundamento das análises desse programa, fica mais fácil
entender porque algumas nações foram tão contrárias à retirada
do genocida Saddam do poder. Tinham muito a perder, finan-
ceiramente falando.
Para piorar a situação, o documento final assinado pelos
participantes, a Declaração de Brasília, omite a defesa da
democracia. Não é de se espantar, já que vários países que
participaram do evento são ditaduras ou quase-ditaduras, como
o caso venezuelano. Seria uma completa contradição se tal grupo
fizesse uma sólida defesa pelos direitos democráticos, que passam
longe dos seus territórios. O inaceitável, entretanto, é o Brasil
ser o anfitrião e líder dessa cúpula. Justo o governo do PT, que
diz ter lutado pela democracia brasileira, assinando um docu-
mento onde sequer a defesa da democracia está presente.
Simplesmente patético. Uma afronta ao povo brasileiro, que
paga a conta disso tudo com pesados impostos.
A mais ousada iniciativa diplomática do atual governo brasi-
leiro foi um total fiasco. Serviu até mesmo para agravar, em vez
de melhorar, a situação com os vizinhos argentinos. A reivindi-
cação obsessiva do governo Lula a um assento como membro
permanente no Conselho de Segurança da ONU tem custado
caro ao país. Lula gasta milhões em viagens inexpressivas do
ponto de vista comercial, perdoa dívidas com nações africanas
enquanto o povo afunda na miséria, e agora recebe em um mega-
evento autoridades árabes para assinar uma declaração que nem
mesmo defende o princípio básico da democracia. Até quando o
povo vai aceitar passivamente tanta falta de respeito aos valores
da sociedade livre? Veremos a resposta em 2006...
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METÁFORAS FUTEBOLÍSTICAS

“Depois da tempestade vem a ambulância.”


Vicente Mateus

É de conhecimento geral o apreço do presidente Lula pelas


metáforas futebolísticas. Com bastante frequência Lula faz uso
de comparações entre política e futebol. Em discurso em
Guarulhos, por exemplo, ele disse que seu governo entrou no
“segundo tempo” agora, após ir para o vestiário, e que as pers-
pectivas são mais promissoras em relação ao “primeiro tem-
po”. Sobre o comércio exterior, disse que “nego pisa na canela
mesmo”, como nos clássicos de futebol. Disse ainda que pessi-
mistas sempre existem, como os que vão a campo e, mesmo
com o time ganhando de 5 a 0, temem o empate. Já ele, como
bom torcedor do Corinthians, diz que “não se abate com as
derrotas”, pois é um “homem de fé”. É preciso muita fé
mesmo para ignorar os fatos da realidade e ainda apostar na
vitória. Os torcedores do Corinthians sabem bem isso!
Talvez seja injusto criticar nosso presidente pelas infindáveis
analogias usando o futebol. Afinal, Lula não é muito afeito a
leituras mais profundas, e seu campo de conhecimento é bas-
tante limitado. Melhor ficar restrito ao futebol mesmo, para
não repetir que o tsunami é um vendaval. Mas que pelo menos
o presidente leve em consideração as principais características
do futebol, para poder fazer comparações mais acertadas.
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Por exemplo: no futebol, as regras são definidas antes da
partida, e jamais podem ser alteradas durante o jogo. Elas são
simples, impessoais, objetivas, e valem para todos os jogadores,
de forma isonômica. O árbitro apenas aplica estas regras, não
tendo como objetivo alterar o resultado da partida. Compare-
mos isso com as leis brasileiras. Estas são complexas, infinitas,
mudam o tempo todo durante o “jogo”, pegando desprevinido
o indivíduo, e não garantem tratamento isonômico. As leis aca-
bam sendo privadas (privi leges) para cada grupo de interesse.
A objetividade dá lugar à subjetividade do juiz, que leva em
consideração fatores abstratos e vagos, em nome da “justiça
social”, tentando assim controlar o resultado final em vez da
manutenção da lei. Seria como se no futebol o Ronaldinho
estivesse sujeito à certas regras diferentes, pois é mais rico que
o resto. Ou como se o juiz mudasse o tamanho da baliza pois o
time mais fraco está perdendo. Ou ainda como se algum jogador
negro tivesse privilégios em campo, pela cor da pele. Lula
deveria refletir sobre estas analogias quando defende cotas ou
inúmeros privilégios para classes distintas, pregando a “igual-
dade” dos resultados em vez do império da lei.
E vale lembrar que, diferente do futebol, a economia não é
um jogo de soma zero, onde para alguém ganhar, outro tem
que perder. Todos podem se beneficiar das trocas no mercado
em conjunto, oferecendo suas habilidades específicas em troca
de diversos bens e produtos. Um trabalhador que voluntaria-
mente vende sua força de trabalho para uma empresa e recebe
um salário, que poderá ser trocado por diversos outros produtos,
está com certeza melhor do que se tivesse que lutar sozinho pela
sua sobrevivência, caçando, pescando, plantando, fazendo suas

156 Rodrigo Constantino

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roupas etc. As trocas no mercado livre representam o único
meio justo de conquista dos bens desejados, sendo a alternativa
a espoliação através do roubo ou de leis injustas, que é o mesmo
que roubo legalizado.
No futebol, os torcedores bancam os times, através de
contribuições voluntárias, indo aos jogos etc. Mesmo com toda
a paixão envolvida, que garante o suporte financeiro dos clubes,
gestões irresponsáveis podem afundar um time. A maioria dos
clubes está falida, pois os gastos foram irresponsáveis, e a
corrupção correu solta. A equação tem dois lados: gastos e
arrecadação. Não é possível gastar sem ter fonte. E a fonte é
escassa, mesmo no futebol, com o desejo do torcedor de con-
tribuir. Já na política, o “contribuinte” é um eufemismo para
pagador de impostos. Ninguém paga impostos ao governo
incompetente e corrupto por livre e espontânea vontade. Ninguém
sustenta a enorme burocracia feliz da vida. Se no futebol, com
contribuição voluntária, a revolta popular é grande quando o
clube mostra uma administração ineficiente ou roubalheira, em
política, com o dinheiro tomado à força, a pressão deveria ser
ainda maior. Sorte dos políticos que o brasileiro não se liga muito
em política, e é muitas vezes ignorante para calcular a montanha
de impostos que paga, assim como saber seu destino real. Os
burocratas agradecem...
Uma outra analogia interessante com o futebol que Lula
deveria ter em mente é que, quando o time vai mal em algumas
partidas, o técnico normalmente cai, pela pressão dos torcedores.
Seria bom que o alerta fosse válido para os políticos também.
Após tantas medidas irresponsáveis, projetos ineficientes e atro-
cidades, o “técnico” bem que deveria ser responsabilizado pelo

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mau desempenho do “time”. Mas Lula fica ileso às críticas e
julgamentos, enquanto sua equipe recebe a culpa, quando não
fatores exógenos e eternos bodes expiatórios. O time vai mal,
os ministros erram o tempo todo, acusações de corrupção vem
à tona, mas o presidente parece imune ao fracasso da equipe.
Talvez isso mude em 2006. Talvez os “torcedores” resolvam
pedir a cabeça do “técnico”. Talvez Lula não seja reeleito. Sou
um homem de fé!

158 Rodrigo Constantino

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C ONCLUSÃO

Espero ter sido bem-sucedido em meu objetivo inicial, tendo


exposto inúmeras incoerências e confusões do PT no governo.
São diversos casos de corrupção ou suspeita de corrupção,
exemplos de completa falta de ética, o populista Fome Zero,
que aumenta ainda mais a burocracia, o Estatuto do Desar-
mamento, que gasta uma fortuna para tirar as armas de civis
inocentes enquanto os criminosos recebem tratamento mais brando,
e o regime de cotas, que representa um racismo em si, gera
resultados ineficientes e garante privilégios imorais.
No campo da educação, fundamental para qualquer país,
temos um partido buscando um controle exagerado das uni-
versidades, o que afeta negativamente a qualidade do ensino,
assim como tenta adotar um modelo caótico de alfabetização,
importado de Cuba. Vimos que o crescimento econômico, que
parece o ponto forte do governo Lula, tem, na verdade, causas
exógenas, e que o Brasil poderia estar indo muito melhor não
fossem os impostos elevados, burocracia, problemas de infra-
estrutura e instabilidade no campo. Falamos do eterno bode
expiatório do neoliberalismo, e como oculta uma realidade bas-
tante distinta no Brasil. Passamos pelo tabu das privatizações,
e fica claro como elas poderiam impulsionar a geração de em-
pregos e até aumentar a arrecadação de impostos para o Estado.
O materialismo socialista ficou exposto também, mostrando a

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inversão dos fatos, já que os socialistas acabam com a imagem
de que são pobres preocupados apenas com questões
humanistas.
A “ligação perigosa” com o MST mereceu destaque, assim
como todas as amizades petistas, que causam espanto para quem
lembra do ditado popular “diga-me com quem andas que te
direi quem és”. Unindo tais fatos com as medidas do governo
que demonstram claro viés autoritário, o receio dos rumos de-
mocráticos não parece nada paranóico. E tratamos das contra-
dições internas geradas por toda a incoerência de um partido
que era oposição irresponsável e tornou-se governo.
Muitos dos tópicos tratados, como avisado na introdução,
são de conhecimento público, e foram publicados nos princi-
pais veículos de comunicação. Espero ter refrescado a memó-
ria do leitor, uma vez que, são tantos episódios, que fica quase
impossível ter tudo em mente, ainda mais num mundo tão rá-
pido e com tanta informação.
Gostaria de finalizar, expondo a contradição do eleitor do
PT em particular, e da esquerda em geral, que de posse de
todas essas informações, ainda deseja votar em um partido que
defende mais Estado como solução para nossos problemas.
Muitos desses eleitores entendem que a burocracia atrapalha a
vida do cidadão. Sabem que impostos elevados obstruem o
empreendedorismo, que gera empregos. Reconhecem a inefi-
ciência das estatais em oposição às empresas privadas, focadas
no lucro. Detestam vários políticos, que consideram corrup-
tos. Entendem que a concentração de poderes estimula a
corrupção e corrompe até mesmo um homem decente. Mas

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ainda assim pedem mais governo! Encaram o Estado como
algo sobre-humano, idealizado, clarividente e iluminado. Es-
quecem que ele é formado por homens também, e justamente
os políticos tantas vezes criticados. Ignoram que o Estado não
pode dar nada que antes não tenha tirado da sociedade. Não
existe almoço grátis! E fingem não ver que Brasília absorve
poderes enormes, cada vez mais concentrados, o que irá inevi-
tavelmente despertar o que há de pior nesses governantes. Como
dizia Lord Acton, “o poder corrompe, e o poder absoluto cor-
rompe absolutamente”. O eleitor que seleciona partidos que
defendem mais Estado, em nome da “justiça social”, parece
não notar que está defendendo o uso de sanguessugas para curar
nossa leucemia. Coitado do paciente Brasil, o eterno gigante
adormecido...

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NOTAS
Ética e Cor
Corrrupção
1- http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=3250
2- O Livro Negro do Comunismo
Fome Zero
3- Fome Zero: Textos Fundamentais
4- Fome Zero: Textos Fundamentais; p.80.
Estatuto do Desarmamento
5- O Globo em 19/10/04
6- http://www.midiasemmascara.org/artigo.php?sid=2589
7- http://www.midiasemmascara.org/artigo.php?sid=2589
8- http://www.diegocasagrande.com.br/
Cotas
9- A Política, Aristóteles.
10- Affirmative Action Around the World, Thomas Sowell
11- Thomas Sowell home page (http://www.tsowell.com), Favorite
Quotations
12- O Globo, 08/03/2005.
13- Folha de São Paulo, 08/03/2005.
14- Atlas Shrugged, Ayn Rand
Educação
15- CIA FactBook
16- http://www.releituras.com/mquintana_cadernoh.asp
17- PT na Encruzilhada, Denis Rosenfield.
18- Revista Veja, 18/08/2004, p.52.

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Economia
19- Revista Veja, Edição Especial, Outubro de 2004.
20- Revista Veja, Edição Especial, Outubro de 2004.
21- CIA FactBook
22- Relatório Trimestral para a C.V.M.
Neoliberalismo
23- Revista Veja, 28/07/2004. p.42
Privatização
24- Economática
25- Economática
26- Agência Nacional de Transportes Terrestres, ANTT.
27- Na Virada do Milênio, Roberto Campos.
Materialismo Socialista
28- Na Virada do Milênio, Roberto Campos.
29- STALLYBRASS, Peter. O casaco de Marx: roupas, memória,
dor. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. p. 69
30- GARAUDY, Roger. Toda a verdade. Rio: Civilização Brasilei-
ra, 1970. p. 31
31- O Estado de São Paulo, 02/02/1988.
32- CABRAL, Antônio, As revoluções não se fazem com
semideuses. O Estado de
São Paulo, 07/09/1986.
33- CHRISTO, Carlos Alberto L. de [Frei Betto]. Fidel e a reli-
gião. 15. ed. São Paulo, Brasiliense. p. 96-97
34- A trágica utopia de Allende, o revolucionário. Revista Veja, 19/
09/1973. p. 48-49
35- Berlinguer, o “sordomuto”. Veja, 09/06/1976, p. 37-39.
36- REALI JÚNIOR. Conflito no PS aguarda o gabinete de
Rocard. O Estado de São Paulo, 12/03/1988.

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37- NEPOMUCENO, Eric. Até que caia Pinochet. Veja, 7/08/
1980. p. 3
38- Revista Veja, 04/12/2002.
39- Jornal do Norte, Apucarana, 03/09/1989. p. 3
40- A Ditadura Envergonhada, Elio Gaspari.
41- Capitalism: The Unkwon Ideal, Ayn Rand
42- Sleeping With the Devil, Robert Baer
MST
43- Revista Veja, Edição Especial, Outubro de 2004.
44- Revista Veja, Edição Especial, Outubro de 2004.
45- Entrevista com Vya Estelar
46- PT na Encruzilhada, Denis Rosenfield.
47- Mídia Sem Máscara, http://www.midiasemmascara.org
Amizades P etistas
Petistas
48- “O Lula vai bem, o governo vai mal”, João Mellão Neto, O
Estado de São Paulo.
49- www.forosaopaulo.org
50- Mídia Sem Máscara, http://www.midiasemmascara.org
51- Fundacion Nacional Cubano Americana, http://www.canfnet.org
52- Fundacion Nacional Cubano Americana, http://www.canfnet.org
53- Revista Veja
5 4 - h t t p : / / w w w. a d i t a l . c o m . b r / s i t e / n o t i c i a s /
15201.asp?lang=ES&cod=15201
55- ONG Ternuma (Terrorismo Nunca Mais), http://
www.ternuma.com.br/
56- O Sapo e o Príncipe, Paulo Markum.
57- A Ditadura Envergonhada, Élio Gáspari.
58- A Ditadura Envergonhada, Élio Gáspari.

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59- Mídia Sem Máscara, http://www.midiasemmascara.org
60- Na Virada do Milênio, Roberto Campos.
61- José Alencar, como presidente interino, no discurso de posse de
Aldo Rebelo.
62- Mídia Sem Máscara, http://www.midiasemmascara.org
Viés A utoritário
Autoritário
63- Revista Veja, 18/08/2004.
64- Revista Veja, 18/08/2004.
65- Revista Veja, 18/08/2004.
Contradições Internas
66- O PT e o Dilema da Representação Política, Paulo Roberto
Figueira Leal.
67- Tavares, 2000. p.14

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REFERÊNCIAS B IBLIOGRÁFICAS
O Sapo e o Príncipe – Paulo Markum

O PT e o Dilema da Representação Política – Paulo Roberto Fi-


gueira Leal

Fome Zero: Textos Fundamentais – Diversos Autores

PT na Encruzilhada – Denis Rosenfield

A Ditadura Envergonhada – Élio Gáspari

Casos & Coisas – Duda Mendonça

A Estrela não é Mais Vermelha – Oswaldo do Amaral

Ação Afirmativa ao Redor do Mundo – Thomas Sowell

Guns and Violence – Joyce Malcolm

More Guns, Less Crimes – John Lott

Política – Aristóteles

The Constitution of Liberty – Friedrich Hayek

Manual do Perfeito Idiota Latino-americano – Plínio Mendonza


& Álvaro Vargas

O Livro Negro do Comunismo – Stephane Courtois

Capitalism and Freedom – Milton Friedman

A Revolução dos Bichos – George Orwell

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Sleeping With the Devil – Robert Baer

Capitalism: The Unknown Ideal – Ayn Rand

Liberalism – Ludwig von Mises

Os Limites da Ação do Estado – Wilhelm von Humboldt

Na Virada do Milênio – Roberto Campos

Atlas Shrugged – Ayn Rand

Utopia – Thomas More

Diversos artigos dos jornais O Globo, Estado de São Paulo, Jornal do


Brasil, assim como dos sites www.Midiasemmascara.org e
www.diegocasagrande.com.br.

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