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THE AMA
COM EN DO
AA M AZÔ NIA
© Greenpeace/Rouvillois
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SUMÁRIO
DEMANDAS 51
ANEXO DOIS – uma curta história da soja transgênica, Brasil e mercado europeu 55
REFERÊNCIAS 56
NOTAS FINAIS 60
OS NÚMEROS DA DESTRUIÇÃO
– PRINCIPAIS FATORES
INTRODUção:
A VERDADE POR TRÁS DO GRÃO
POR QUE A SOJA ESTÁ NA AMAZÔNIA? Neste relatório, ilustramos a ameaça representada pela soja
com a ação de duas multinacionais: Cargill (maior empresa
Multinacionais como ADM, Bunge e Cargill se estabeleceram privada do mundo) na Amazônia, e McDonald’s (maior rede
na Amazônia porque sabem que podem ganhar dinheiro de fast food ) na Europa. Documentamos o caminho da soja,
fácil apesar da destruição da floresta. Elas atraem do cultivo em áreas desmatadas ilegalmente na floresta,
fazendeiros, fornecendo sementes, agrotóxicos, crédito e muitas vezes com o uso de trabalho escravo, até a Cargill e
infra-estrutura necessária para armazenamento, transporte seus competidores, passando por portos, processadores
e acesso aos mercados internacionais para a soja produzida e produtores de alimentos na Europa, para, finalmente,
na floresta. se incorporar aos Chicken McNuggets vendidos em
McDonald’s de todos os continentes.
Mesmo que parte da soja amazônica esteja sendo plantada
em áreas já desmatadas para a abertura de pastos, grandes Nossas investigações também mostram que os mesmos
extensões de matas no Mato Grosso e no Pará estão sendo crimes podem ser encontrados nos cardápios de
convertidas diretamente em campos de soja. Após desmatar lanchonetes e em supermercados da Europa. Se podemos
a área, em geral os produtores plantam arroz no primeiro rastrear a soja por mais de sete mil quilômetros, das
ano para preparar o solo e, só depois, cultivar a soja. fazendas na Amazônia aos produtos com carne de frango
Grilagem de terras e uso de mão-de-obra barata, se não na Europa, não há desculpas para a indústria alimentícia
escrava, são práticas comuns – a floresta está muito longe não fazer o mesmo e exigir a exclusão da soja da Amazônia
da lei e, por isso, os riscos são pequenos. Tais atividades de sua cadeia de produção e abastecimento. Ainda assim,
criminosas constituem subsídios financeiros perversos para nenhuma grande empresa de alimentos, rede de fast food
baratear a carne consumida na Europa. ou supermercado contatados pelo Greenpeace foi capaz de
fornecer evidências de que não estava usando soja vinda da
A Europa é o principal mercado para a soja da Amazônia. Amazônia até a publicação deste relatório.
Cerca de 18 milhões de toneladas de grãos e farelo são
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Mas ainda é possível mudar esta tendência de destruição na As soluções são óbvias. Com governança e ação
Amazônia: adequada da indústria, ainda há chance de a Amazônia
deixar de ser área de expansão da soja. Para ser viável, um
• A escala de cultivo de soja na Amazônia ainda modelo de desenvolvimento alternativo, ambientalmente
é relativamente pequena. Na safra 2004-2005, responsável e socialmente justo precisa contar também
apenas 5% do total da área cultivada com soja no Brasil com a colaboração de empresários e instituições de países
estava no bioma Amazônia17 – área reconhecida como desenvolvidos.
ecossistema de floresta tropical18. Mais de 90% da
soja amazônica foram cultivadas no estado do Mato O mercado precisa mudar. As indústrias de alimentos e de
Grosso19. ração devem garantir que não usam soja da Amazônia ou
transgênica, além de desenvolver políticas de compra que
• É fácil identificar os fatores, existentes e assegurem fontes legais, ambientalmente responsáveis
potenciais, que impulsionam a expansão ilegal e socialmente justas. Isto inclui sistemas de rastreamento
da soja na Amazônia. A proximidade de projetos de para verificar a origem dos ingredientes dos produtos, as
infra-estrutura para secagem e armazenamento da condições de produção e o impacto global deste sistema
soja, como silos ou portos graneleiros, estimulam a de produção.
grilagem de terras e o desmatamento. Isso poderia
ser contido com planejamento ambiental e rigor na Governos e bancos precisam agir. Governos e
governança. instituições financeiras têm promovido a produção de
commodities, como soja, como forma de desenvolvimento
• Governança e cumprimento de medidas do país, embora pouco valor agreguem à indústria local. O
apropriadas ajudam a barrar a destruição. Em 2005, investimento na expansão da soja e de sua infra-estrutura,
o índice de desmatamento ilegal caiu pela primeira como estradas, prejudica o meio ambiente e a população
vez em quase dez anos20, em parte devido ao esforço local, solapando qualquer chance de sustentabilidade
do governo contra a corrupção e a exploração ilegal de econômica e ambiental.
madeira, além da criação de áreas protegidas e de uso
sustentável. Os governos devem estabelecer urgentemente uma
rede de áreas protegidas e de uso sustentável em regiões
• O mercado tem força. A exemplo da rejeição da soja de florestas primárias em todo o mundo, incluindo a
transgênica pelos europeus, a pressão de redes de Amazônia. Até que essa rede global de conservação
supermercados, fast food e empresas de alimentos seja criada, deve ser declarada uma moratória para
tem o poder de transformar o mercado. novas atividades de escala industrial em áreas com
florestas intactas.
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A soja é, hoje, uma ameaça real à floresta amazônica A área plantada com soja é hoje duas vezes maior do que
e um dos principais indutores do desmatamento. era em 199638, empurrando a fronteira agrícola cada vez
Para compreender as causas do problema, é preciso mais para dentro da floresta39. O estado40 foi responsável
observar a complexa situação fundiária no Brasil. por quase a metade (48%) do desmatamento total entre
2003-200441. De acordo com a Secretaria Estadual de Meio
Terras públicas e indígenas ocupam cerca de três Ambiente (Sema)42, dois terços deste desmatamento foram
quartos da Amazônia Legal29. Parte das áreas públicas totalmente ilegais – a maior parte destinada à plantação de
está protegida legalmente, mas a maioria delas ainda grãos43.
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‘Os novos proprietários da indústria da ‘Por mais incrível que possa parecer, a previsão
soja no Brasil são as mesmas companhias de que 170 milhões de hectares de novas áreas
que dominam a fabricação de sementes, pudessem ser convertidos para a produção
agrotóxicos, plantações, transporte e venda de grãos no Brasil pode ser considerada uma
de soja nos Estados Unidos. Juntas, as estimativa conservadora [já que] ignora o
multinacionais Cargill, Archer Daniels Midland tamanho real do desmatamento em curso e
(ADM) e Bunge controlam mais de 60% das que provavelmente vai continuar ocorrendo
exportações brasileiras de soja.’ na Bacia Amazônica. ... Atualmente, os
Glen Switkes, em Feedstuffs, uma publicação da Farm Bureau grandes fazendeiros são responsáveis pela
dos Estados Unidos, em 30 de abril de 200144
maior parte do desmatamento na Amazônia
e seu acesso a novas áreas de floresta será
facilitado pela construção de novas estradas’.
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA),
“Brasil: potencial para expansão agrícola menosprezado”, 21
de janeiro de 200345
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5,000
4,000 O poder de Maggi permite que ele some recursos
dos governos federal e estadual com os de
3,000 empresas privadas, incluindo a sua, e tenha acesso a
2,000 empréstimos internacionais, como os da Corporação
Financeira Internacional (IFC, em inglês), braço
1,000 de financiamento privado do Banco Mundial. Os
recursos, destinados a projetos de infra-estrutura
de transporte, são um verdadeiro convite ao
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OS BANCOS POR TRÁS DOS TRATORES DE MAGGI Em 2004, o presidente do Banco Mundial, James
Wolfensohn, pediu auditoria no financiamento do IFC
‘O fato de existirem problemas em um setor ao Grupo André Maggi 66. A auditoria considerou que o
IFC não foi suficientemente rigoroso na avaliação e que a
não significa que o produtor, que se comporta classificação do empréstimo como ‘baixo risco’ não poderia
de modo responsável, não seja apoiado’. ser justificada67. O Código Florestal Brasileiro determina, por
exemplo, que proprietários devem preservar um tamanho
Wolfgang Bertelsmeier, gerente da IFC/Banco Mundial no
determinada das áreas – 80% no bioma Amazônia e 35% no
Brasil, justificando empréstimo de US$ 30 milhões ao Grupo
Cerrado na Amazônia Legal. A auditoria revelou que esses
André Maggi, em 23 de julho de 200359
requisitos não foram cumpridos em cerca de dois terços
das fazendas (55 mil hectares) do Grupo68. Ou seja, estas
Financiadores internacionais desempenham importante propriedades desrespeitaram a lei.
papel na expansão do cultivo da soja em grande escala,
fornecendo capital para infra-estrutura, agrotóxicos e Além disso, a auditoria nem chegou a investigar se os
recursos antecipados aos fazendeiros60. O caso do Grupo produtores financiados pelo Grupo cumprem a lei – mesmo
André Maggi demonstra a pressão de diversos empréstimos que quase 90% dos recursos do IFC para o ‘Projeto de
públicos e internacionais sobre a Amazônia, forçando a Expansão Amaggi’ fossem destinados ao financiamento
conversão da floresta em uma vasta monocultura. desses fazendeiros69. A freqüência com que a legislação
florestal brasileira vem sendo desrespeitada leva à conclusão
O Grupo André Maggi teve fácil acesso a financiamentos de que os custos ambientais dos financiamentos ao Grupo
de bancos públicos e privados da Europa e do Japão, e vão muito além da própria empresa.
também do IFC, totalizando mais de US$ 660 milhões61.
Esses empréstimos ajudaram a financiar adiantamentos aos Contudo, o fato do IFC ter classificado os projetos do Grupo
fornecedores e a desenvolver infra-estrutura para estoque e André Maggi como ‘categoria B’ – ou seja, de baixo risco
transporte da soja. ambiental – e ter aprovado os empréstimos significou
que os bancos privados consideraram desnecessário
Em 2002, o Grupo alocou o primeiro dos dois empréstimos avaliar e monitorar a companhia de acordo com suas
de US$ 30 milhões do IFC para ampliar a capacidade de próprias políticas socioambientais, que incluem proibição
estocagem e financiar a produção dos fazendeiros com à conversão de florestas e às práticas de monocultura70. O
os quais tem contratos. O IFC se justificou, afirmando que Rabobank, maior banco agrícola da Holanda, por exemplo,
mesmo que o setor da soja como um todo estivesse sendo fez dois empréstimos ao Grupo Maggi no valor total de US$
criticado, companhias com ‘boa performance’ poderiam 330 milhões. A auditoria do IFC descobriu que a alegação do
continuar recebendo financiamentos62. O IFC obedece Rabobank era que, se o IFC aprovara o projeto e o classificara
à política de desenvolvimento do Banco Mundial e tem como de baixo risco, eles poderiam investir seguramente US$
como objetivo ‘promover o investimento sustentável do 230 milhões, valor do segundo empréstimo, oito vezes mais
setor privado em países em desenvolvimento, ajudando a do que o IFC está investindo na corporação71.
reduzir a pobreza e a melhorar a vida das pessoas’63. Suas
diretrizes específicas determinam que os projetos devem ser Alguns bancos privados, como o HSBC, que já haviam
escolhidos e classificados de acordo com potenciais impactos investido no Grupo André Maggi72, começam a rever
sociais e ambientais resultantes do financiamento64. financiamentos a projetos que contribuem para a destruição
de florestas. Em maio de 2004, o HSBC adotou a política
Em 2004, apenas 15% da produção total do Grupo André de não financiar projetos que resultem em degradação ou
Maggi foram provenientes de suas próprias fazendas. O conversão significativa de habitats
restante veio de cerca de outros 2 mil fazendeiros, dos quais naturais críticos.73
45% foram pré-financiados pelo ‘Projeto de
Expansão Amaggi’65.
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Avião pulverizando
agrotóxicos dentro do bioma
Amazônia. A plantação em
larga escala de monoculturas
encoraja a aplicação aérea
destes produtos químicos, e
boa parte do que é aplicado
é desperdiçado pela ação do
vento, se espalhando para
além da área das plantações.
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OS CUSTOS AMBIENTAIS DA
DESTRUIÇÃO DA AMAZÔNIA E
DA MONOCULTURA DA SOJA
IMPACTOS CLIMÁTICOS GLOBAIS desmatam e plantam soja, repetindo o ciclo vicioso de degradação
do solo e poluição química80.
A destruição da Amazônia tem impactos ambientais que podem
ser sentidos muito além de nossas fronteiras. Ameaçados pelo O uso de fertilizante em plantações de soja tem sido relacionado
processo de destruição, os serviços ambientais prestados pela ao aumento no nível de nitrogênio e fósforo em várias bacias de
floresta ao Brasil, à sua população e ao mundo são muito mais rios na América do Sul81. A elevada concentração desses nutrientes
valiosos, a longo prazo, do que o lucro rápido gerado pelo comércio pode ser desastroso para a diversidade aquática. Os pesticidas
de commodities no curto prazo – seja a soja utilizada na ração para também causam grandes problemas de poluição do solo e da
frangos, seja a exploração ilegal de madeira. água, destruição da biodiversidade natural e intoxicação de seres
humanos82.
A demanda global por soja barata não está destruindo apenas
um dos mais valiosos abrigos de espécies do planeta. Cientistas Apesar de o Brasil ser um dos países com maior uso de agrotóxicos
descrevem a maior floresta tropical do mundo como o ar- no mundo, os padrões de segurança não são rigorosos. Em
condicionado da Terra: a umidade da região é vital para a regulação 1996, a Organização Mundial da Saúde classificou quase
e o equilíbrio de padrões climáticos na América do Sul e em todo metade dos pesticidas registrados no Ministério da Saúde como
o planeta74. A Amazônia libera para a atmosfera cerca de 7 trilhões extremamente perigosos ou altamente perigosos83. Em 1997, o
de toneladas de água por ano, produzindo vapor que mantém o Centro Internacional de Pesticidas e Prevenção de Riscos à Saúde
clima úmido e chuvoso. A conversão de água em vapor também estimou que quase 10% da população brasileira – mais de 15
refrigera o ar75. milhões de pessoas que trabalham em três milhões de fazendas
– estavam expostas aos agrotóxicos84. Desde essa época, as vendas
Assim como a floresta ajuda a manter o clima global estável, o de pesticidas triplicaram em todo o país, implicando um aumento
desmatamento exacerba a instabilidade climática global. Além de potenciais exposições. Em 2002, uma estimativa apontou que
da perda da função do ciclo da água, compromete o papel da entre 150 mil e 200 mil pessoas por ano sofriam, de algum modo,
região como grande depósito de carbono: a Amazônia está se com intoxicação nos meios rurais, incluindo cerca de 4 mil casos de
tornando uma fonte importante de poluição por CO2, por causa das mortes85. Um quarto de todos os pesticidas aplicados no Brasil é
queimadas e da perda de cobertura florestal, que liberam carbono utilizado em plantações de soja86.
para a atmosfera.
O uso intensivo de agrotóxicos contamina a floresta e os rios, em
Em 2000, o Brasil já era o quarto maior emissor de gases que função da dispersão dos agentes químicos e dos impactos da
provocam o efeito estufa, na frente de nações bem mais poluição. O vento, a chuva e as enchentes carregam os produtos
industrializadas, como Alemanha e Reino Unido76. Esta posição químicos para além das plantações, chegando aos rios e matando
não é resultado da produção industrial, mas do desmatamento, peixes e outras formas de vida. Tais efeitos são freqüentemente
provocado pela expansão da fronteira agrícola para abastecer o cumulativos e irreversíveis.
mundo com commodities baratas. De acordo com o Ministério
de Ciência e Tecnologia, o desmatamento responde por mais de O herbicida Paraquat é utilizado freqüentemente em campos
75% das emissões do Brasil, sendo 59% decorrentes da perda da de soja no Brasil para eliminar ervas daninhas e outras plantas. O
Paraquat é proibido em muitos países devido à sua alta toxicidade e
cobertura vegetal na Amazônia77.
está classificado como pesticida de uso restrito nos Estados Unidos,
necessitando de licença especial para compra e aplicação87. O
A MORTE LENTA DA AMAZÔNIA Roundup, herbicida à base de glifosato produzido pela Monsanto,
também é amplamente utilizado na Amazônia, particularmente
A plantação de soja em larga escala em um ecossistema vulnerável por causa do cada vez maior avanço da soja transgênica na região.
como a Amazônia provoca impactos ambientais de longo alcance. O uso intenso do Roundup pode causar sérios impactos na vida da
O elo entre expansão da monocultura, perda da biodiversidade floresta. Novas preocupações surgiram sobre sua toxicidade para
e mais vulnerabilidade ao surgimento de pestes e doenças anfíbios e humanos88.
epidêmicas na colheita já está bem estabelecido78. Além disso, o
Herbicidas de grande alcance, como o Roundup, matam todas as
aumento do uso de soja transgênica intensifica os piores aspectos plantas, poupando apenas as variedades transgênicas, que toleram
da agricultura industrial e ameaça tanto a floresta quanto a o agrotóxico. Os efeitos não se limitam aos campos plantados
integridade do fornecimento de soja brasileira não transgênica. – a pulverização pode levar o produto para a vegetação natural
dos arredores, particularmente quando realizada por aviões.
Os novos sistemas de plantio direto (vinculados ao uso de Essa destruição desnecessária pode acarretar a diminuição do
sementes transgênicas resistentes aos herbicidas e ao uso intenso número de plantas nativas, com conseqüente prejuízo para insetos,
de agroquímicos) encorajam os fazendeiros ao cultivo em terras pássaros e mamíferos que dependem desse ecossistema. Na
vulneráveis, com altos níveis de erosão79. Grandes culturas de soja medida em que a soja transgênica cresce, a quantidade e o número
sem manejo adequado empobrecem o solo rapidamente. Com a de aplicações de herbicida também aumenta. A tendência é que o
exaustão do solo, os fazendeiros abandonam a terra recentemente uso de herbicida aumente quando houver tolerância ao Roundup,
ocupada e se mudam para outras áreas, onde novamente como já ocorreu na Argentina e nos Estados Unidos89.
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Xingu Basin
– the waste drain
for the soya industry
Rivers
Amazon biome
Xingu park boundaries
Pesquisas realizadas no cerrado do Mato Grosso mostram que a `Nosso Xingu não é apenas isso aqui.
introdução da soja tem intensificado o uso de pesticidas e que
tanto as águas superficiais como as do subsolo estão seriamente
É uma veia muito longa, e quando
afetadas pela produção do grão, principalmente por causa do uso chove a soja traz o veneno rio abaixo, o
de agrotóxicos, cujos impactos podem ser sentidos muito além da
área onde são aplicados91. mesmo rio que passa pela nossa porta´
Jywapan Kayab, cacique da Vila Indígena Capivara
Astor 92
devido à contaminação por agrotóxicos e às mudanças Amazônia102, e parte da produção é de soja transgênica.
no curso das águas, resultantes da erosão causada
pelas plantações98. O temor aos agrotóxicos tem levado O governo brasileiro, por meio da Embrapa (Empresa Brasileira
os moradores do Parque a lutar por restrições na de Pesquisa Agropecuária), fez um acordo com a Monsanto para
produção de soja na área da cabeceira dos rios99. desenvolver variedades de soja transgênica específicas para o
clima e as condições de solo da Amazônia. Essas sementes estão
Ionaluka, diretor da Associação de Terras Indígenas do sendo testadas em Rondônia, dentro do bioma Amazônia103. A
Xingu, acha que a soja está chegando muito rápido. Monsanto recebe royalties pelo uso do gene Roundup Ready
‘Cada vez que eu saio do Parque, eu não reconheço GM e a Embrapa cobra dos fazendeiros por ter desenvolvido as
mais nada, porque a floresta está desaparecendo’100. variedades adaptadas às diferentes regiões104.As leis brasileiras
A ‘Rodovia da Soja’ (veja ‘Infra-estrutura de estradas proíbem plantações de sementes trangênicas em áreas protegidas,
– Facilitando as invasões’), por exemplo, abriu áreas mas o Ministério do Meio Ambiente deve identificar essas áreas
para plantação de soja ao longo de um igarapé oficialmente - o que, como a demarcação das terras indígenas,
afluente de um dos principais tributários do rio Xingu. pode levar anos105. Enquanto isso, o ministro da Agricultura
O uso intensivo de agrotóxicos ao longo da Rodovia está liberando licenças para produtores de soja no Mato Grosso
da Soja – e em qualquer outro lugar de captação do rio plantarem sementes transgênicas na Amazônia.
Xingu – mostra que a ‘proteção’ das terras indígenas
e de importantes habitats não pode ser considerada Países que cultivaram variedades geneticamente modificadas
adequada para preservar a biodiversidade dos estão enfrentando problemas106. O caso da Argentina mostra que
impactos da indústria da soja. a produção descontrolada de soja transgênica e o uso intenso de
agrotóxicos podem resultar na destruição de microorganismos
naturais do solo, tornando a terra infértil, e no surgimento de ervas
daninhas resistentes aos herbicidas107. Estudos na Argentina108 e
AS SEMENTES DA RUÍNA – CONTAMINAÇÃO em vários estados norte-americanos109 indicam que, após alguns
anos de plantio de transgênicos, diversas variedades de pestes
TRANSGÊNICA NA AMAZÔNIA resistentes ao Roundup começam a crescer nas plantações, por
causa do intenso uso de herbicidas110. Como observou um cientista
da Universidade do Mato Grosso, a pulverização de agrotóxicos
Em fevereiro de 2003, a multinacional de agroquímicos e sementes por aviões – prática comum em toda a região – espalha o produto
transgênicas Monsanto abriu um centro de pesquisas de sementes químico sobre uma área muito mais extensa do que a pretendida111.
no município de Sorriso, a maior área de produção de soja do Brasil
(cerca de 600 mil toneladas), ao norte de Cuiabá, capital do Estado Além dos impactos do desmatamento, fragmentação do habitat e
de Mato Grosso. Sorriso está parcialmente localizada na área do uso de pesticidas – todos diretamente ligados à expansão de soja
bioma Amazônia e na linha de frente da expansão da soja em no bioma Amazônia – a soja transgênica pode contaminar a soja
direção à floresta. ADM, Bunge, Cargill e o Grupo André Maggi têm cultivada legalmente fora do bioma Amazônia.
grandes silos nesse município.
A soja transgênica tem sido plantada no Mato Grosso nos últimos
Sobre Sorriso, diz o Gateway Brasil, website inglês voltado para quatro anos. Na safra 2003-2004, foram plantados 1,8 mil hectares
investidores na agricultura brasileira: “A população dobrou em 19 municípios do estado. Dentre estes, nove estão total
nos últimos sete anos, com a chegada de famílias do sul do ou parcialmente dentro do bioma Amazônia (ver mapa “Soja
Brasil, que migraram em busca de terras mais baratas e novas transgênica no bioma Amazônia”)112. Na safra 2005-2006, esse
oportunidades. Sorriso está no epicentro do maior pólo produtivo número pulou para mais de 500 mil hectares, representando pelo
do planeta... abriga a maior estação de recebimento de soja do país, menos 10% da terra cultivada com soja no Mato Grosso113.
propriedade da Bunge, que tem um elevador com capacidade para
8 milhões de bushels (217 mil toneladas) do grão”101. Em 2004, cerca O Greenpeace tem evidências documentais de que ADM, Bunge,
de 550 mil hectares foram cultivados com soja em Sorriso. A análise Cargill e Grupo André Maggi compraram de fazendeiros que
do Greenpeace aponta que 25% deste total estavam no bioma produzem soja transgênica cultivada dentro do bioma Amazônia.
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De acordo com o cacique Caiapó Megaron Txucarramãe, a área O Greenpeace verificou que 38 fazendeiros desmataram áreas
proposta para a criação do parque é utilizada por seu povo para próximas à rodovia144. Há 14 produtores de soja cujas propriedades
a coleta de plantas medicinais e castanha. É a única área de estão às margens da estrada. Desses, oito retiraram a cobertura
floresta remanescente nas proximidades onde as castanheiras florestal da área nos últimos dois anos. Há pelo menos 100 mil
ainda podem ser encontradas136. A espécie, nativa do Brasil, é hectares de terra ao longo da rodovia sendo oferecidos para venda
fundamental para as comunidades da floresta, servindo para pela internet por valores tão baixos quanto R$ 50 o hectare. A
subsistência e meio de obter renda. Comerciantes de castanhas ao terra pode ser paga até mesmo com a colheita da soja, quando for
longo da BR-163 estimam que de 30% a 40% do dinheiro que circula desmatada. Um vendedor descreve uma área de 10 mil hectares de
em Itaúba estejam relacionados com o comércio de castanhas137. floresta tropical como “excelente para a soja” e diz que desmatar e
empilhar a madeira para ser queimada já está incluído no preço145.
Em 1994, a castanheira foi incluída na lista oficial de espécies
ameaçadas de extinção138, depois de uma década de intenso Desde 2002, a produção de soja saltou de 2,5 mil para 45 mil
desmatamento139. A decisão do governo de tornar o corte hectares na área da rodovia146. Bunge e Cargill já construíram silos
dessas árvores ilegal não bastou, no entanto, para protegê-las com capacidade para 60 toneladas de grãos147 e oferecem crédito
da expansão da fronteira agrícola140. Quando não é derrubada aos fazendeiros. Garantem a compra de toda a soja produzida,
ilegalmente, o fogo utilizado para limpar a terra para a agricultura criando a base para a região se tornar um centro de produção
quase sempre mata a castanheira isolada no meio do campo. de soja148.
A freqüente invasão de fazendeiros já destruiu mais de 20% da Análise do Greenpeace, baseada em informações de satélites,
área original proposta para o Parque Estadual das Castanheiras, mostra que a Rodovia da Soja tem impacto direto sobre um milhão
enquanto políticos locais estão tentando reduzi-la à metade141. de hectares da floresta tropical149, em termos de desmatamento. A
Bunge e Cargill instalaram silos nas proximidades142. produção de soja ali tem impactos ambientais muito mais amplos.
O Greenpeace tem evidências documentais mostrando que Bunge
Sem a devida proteção das terras públicas em seu entorno, as e Cargill compraram soja de fazendas na área da rodovia150.
rodovias são um estímulo à invasão de fazendeiros, ameaçando
áreas de altíssimo valor para a biodiversidade, os povos indígenas e
as comunidades tradicionais.
GRILAGEM DE TERRAS:
A BUSCA POR NOVAS FRONTEIRAS
A RODOVIA DA SOJA, MATO GROSSO
(BIOMA AMAZÔNIA) A busca por terras em Mato Grosso, estimulada pela expansão
da soja, tem intensificado a grilagem152. O Instituto Nacional
A rodovia da soja se estende da cidade de Feliz Natal até o limite, de Reforma Agrária (Incra) estima que milhões de hectares de
a oeste, do Parque Indígena Xingu, a maior área protegida da terras públicas foram fraudulentamente transferidos para o setor
Bacia do Xingu (ver estudo de caso). No verão de 2004, a prefeitura privado em Mato Grosso e estão sendo exploradas por grandes
abriu ilegalmente essa rodovia de 120 quilômetros, que vai a fazendeiros153.
lugar nenhum, sem apresentar o Estudo de Impacto Ambiental
(EIA/Rima). Objetivo: estimular o desenvolvimento da soja na Algumas das principais vítimas da grilagem e de outros abusos
região. Quando acabaram seus recursos, a prefeitura isentou-se relacionados à expansão do agronegócio na floresta Amazônica
da responsabilidade. Em reunião da Câmara Municipal de Feliz são os povos indígenas e as comunidades tradicionais. A região
Natal, em abril de 2005, um porta-voz do prefeito declarou que a é lar para cerca de 220 mil indivíduos de 180 nações indígenas
legalização da rodovia não dependia da prefeitura, que a estrada diferentes154. A maioria mantém seu modo de vida tradicional.
tinha passado a ser projeto estadual143. O governo do estado A floresta fornece alimento, abrigo, utensílios e remédios e
planeja pavimentá-la, mas ainda não tem licença nem EIA/Rima. desempenha papel fundamental na vida espiritual desses povos.
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floresta tropical estavam à venda nos estados do Pará,
Amazonas, Rondônia e Roraima156.
O trabalho escravo anda de mãos dadas com a destruição ilegal Não é fácil entrar para a Lista Suja: o Grupo Móvel de Fiscalização
da floresta e a violência da grilagem de terras163. Representa do governo tem que encontrar os escravos, e os casos têm que ser
grande parte da mão-de-obra usada no desmatamento e ocorre levados à morosa Justiça brasileira. Sair da lista é fácil: basta pagar
principalmente nos estados com ‘forte expansão da fronteira as multas recebidas no período de dois anos, compensar os direitos
agrícola sobre florestas nativas’164. Pará e Mato Grosso são os do trabalhador, pagando todos os salários e benefícios que ele
campeões. deveria ter recebido, e não reincidir no crime.
Os chamados trabalhadores escravos não são ‘propriedade’ dos Por sua limitada capacidade de fazer cumprir a lei, o governo está
fazendeiros, mas pessoas pobres e desempregadas seduzidas por pedindo ao mercado que aja. Mas investigações do Greenpeace
promessas de trabalho bem remunerado em regiões remotas. mostram que o mercado é um policial ineficiente.
Ao chegar às fazendas, principalmente na Amazônia, têm seus
documentos tomados. Passam a trabalhar freqüentemente sob a Em dezembro de 2005, o presidente do Grupo André Maggi
mira de armas, sem receber nada. Custam ao proprietário apenas a assinou o Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo.
pouca alimentação que recebem. Se algum fica doente, é deixado Comprometeu-se a romper relações com fazendas da Lista Suja.
às margens da estrada, e outro trabalhador é colocado em seu A Cargill não assinou o documento. A Bunge assinou-o em fins de
lugar165. abril de 2006. O Grupo André Maggi alega que tem como política
não financiar produtores envolvidos com trabalho escravo,
Investigação do Greenpeace mostra que não são os pequenos conflitos com povos indígenas, problemas socioambientais ou
fazendeiros que usam trabalhadores escravos no Brasil. Isso é feito, desmatamento ilegal171. No entanto, em junho de 2005172, admitiu
geralmente, pelas maiores e mais modernas fazendas, algumas que estava comprando soja de fazendas onde 15 escravos foram
com aeroporto particular, que negociam no mercado internacional. libertados por agentes federais em 2002, incluindo a Fazenda Vó
Gercy (ver adiante)173.
32
FAZENDA RONCADOR, MATO GROSSO A expansão da soja em Querência tem atraído empresas
como Bunge, Cargill e Grupo André Maggi180. O Grupo
(BIOMA AMAZÔNIA) André Maggi tem 72,6 mil hectares de terras nos
arredores da cidade181 e, em 2005, abriu um novo silo para
Em nenhum lugar o avanço da soja na Amazônia é estocagem de 60 mil toneladas, com capacidade para
mais visível do que no município de Querência, 900 receber 400 toneladas por hora. Maggi visava ‘conseguir
quilômetros a nordeste de Cuiabá, capital do Mato Grosso, cem novos fornecedores nesse primeiro ano’182. Ainda
no limite sul da expansão da fronteira agrícola em direção em 2005, a Bunge foi recordista em exportação da soja
à floresta174. Diariamente, caminhões chegam trazendo de Querência para o Reino Unido (via Itacoatiara) e para a
agrotóxicos e saem levando soja. Entre 2003 e 2004, Itália (via Paranaguá)183.
Querência apresentou um dos índices de desmatamento
mais altos do Mato Grosso175. FAZENDA VÓ GERCY, MATO GROSSO (CERRADO)
A investigação do Greenpeace na região de Querência Em junho de 2002, o governo fiscalizou a Fazenda Vó Gercy,
levou à Fazenda Roncador, uma das mais modernas do de José Francisco de Morais184. Trabalho escravo estava sendo
país. Avaliada em mais de US$ 190 milhões na internet, ela usado para desmatar 120 hectares e expandir o cultivo dos
pertence ao empresário brasileiro Pelerson Penido. Tem 2.750 hectares de soja já existentes185. Quinze trabalhadores
150 mil hectares, com 106 mil cabeças de gado e 4 mil foram libertados186 e o empregador, multado em R$ 8.039187.
hectares plantados com soja. Possui aeroporto próprio,
capaz de receber jatos, e 697 quilômetros de estradas O Greenpeace tem evidências de que Cargill e Grupo André
pavimentadas176. Mais de 50% da área de floresta da Maggi compraram soja de José Francisco, na época em que a
fazenda foram destruídos177. De acordo com o Código fazenda foi fiscalizada. Bunge e Cargill também compraram
Florestal, que permite desmatar no máximo 20% da soja de Morais em março de 2003, nove meses após a
propriedade rural na Amazônia, este desmatamento pode fazenda ter sido autuada.A fazenda foi incluída na Lista Suja,
ser considerado ilegal. atualizada em junho de 2004188, e permanece na última
versão, publicada em 6 de fevereiro de 2006189.
A Fazenda Roncador usou mão-de-obra escrava de
agosto de 1998 a agosto de 2004, quando o Ministério FAZENDA TUPY BARÃO, MATO GROSSO
do Trabalho libertou 215 trabalhadores. Forçados a viver
em barracos de plástico, sem cama ou banheiro, eles (BIOMA AMAZÔNIA)
trabalhavam 16 horas por dia, sete dias por semana. Água
para beber, cozinhar ou tomar banho vinha do bebedouro Em setembro de 2001, o Grupo Móvel de Fiscalização libertou 69
de gado e era armazenada em barris usados para estocar trabalhadores escravos da Fazenda Tupy Barão, de propriedade da
óleo diesel e lubrificantes. Não havia a possibilidade Agropecuária Tupy190. Eles estavam sujeitos à retenção fraudulenta
de deixar a fazenda. As mercadorias só podiam ser de salários e presos a uma dívida sempre crescente pela compra
compradas na loja da fazenda, a preços extorsivos, de mercadorias. Eram mantidos na fazenda contra sua vontade e
deixando os trabalhadores com uma dívida crescente que recebiam castigos físicos. Moravam em barracos feitos com ripas
nunca teriam condições de pagar178 – prática conhecida de bambu, cobertos com lonas ou sacos de nylon usados em
como escravidão por dívida. embalagens de agrotóxicos.191
Embora Penido e outros envolvidos tenham sido Em junho de 2004, a Fazenda Tupy Barão foi finalmente incluída
acusados de formação de quadrilha e violação dos direitos na Lista Suja e ali permanece até a última versão, atualizada em
trabalhistas, mais de 18 meses depois o caso continuava 06 de fevereiro de 2006192. Em fevereiro de 2003, 16 meses após
pendente na Justiça e a Fazenda Roncador produzindo a fiscalização, Bunge e Grupo André Maggi compraram soja da
soja para abastecer o mercado, fato documentado pelo Fazenda Tupy Barão193.
Greenpeace em fevereiro de 2006179.
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CARGILL EM SANTARÉM:
A MAIS CULPADA DAS MULTINACIONAIS DE SOJA
A conversão direta de florestas em plantações de soja Em 2003, os Irmãos Cortezia tentaram registrar a posse de ‘apenas’
na região de Santarém é estimada em 10% do total 2.487 hectares da fazenda229. A explicação é simples: só é possível
desmatado nos últimos anos220. Muitas áreas também obter título de propriedade final da terra para áreas maiores do que
são convertidas indiretamente – florestas secundárias 2,5 mil hectares com aprovação do Congresso Nacional.
são derrubadas e posseiros são expulsos de terras já
desmatadas, empurrando a destruição para outras Mesmo que conseguissem obter documentos oficiais, ainda que
áreas de floresta. de forma ilegal, para esta área da fazenda, 1.718 hectares já foram
desmatados230. Só este desmatamento já está acima do permitido
Em agosto de 2002, o diretor da Cargill em Santarém pela lei florestal brasileira – o Código Florestal estabelece que
declarou que a região tinha potencial para produzir, propriedades privadas na Amazônia devem ter 80% de suas áreas
por ano, um milhão de toneladas de soja em 300 mil de florestas preservadas231.
hectares de terra221. Segundo o gerente da empresa
em Santarém, cerca de 14 mil hectares já estavam
sendo cultivados em Belterra e Santarém em 2004,
produzindo 34 mil toneladas de soja anualmente222.
Desde então, fazendeiros do sul do país passaram
a compras terras na região e novas estradas foram
abertas223.A Cargill não faz segredo de ajudar
ativamente fazendeiros do sul a se estabelecer em
Santarém224. Ao pré-financiar a colheita de soja, torna
o plantio economicamente atrativo para produtores
– e ajuda a financiar a conversão de floresta.
CORPORAÇÕES EUROPÉIAS:
CÚMPLICES NA DESTRUIÇÃO DA AMAZÔNIA
O PASSO-A-PASSO
© Greenpeace/Rudhart
DOS CRIMES DA SOJA AMAZÔNICA
Passo dois
© Greenpeace/Sims
Passo três
– do processador de alimentos aos
supermercados e redes de fast food
3
© Greenpeace © Greenpeace/Beltrá © Greenpeace/Beltrá
‘Nossa influência no mercado traz a respon- • utiliza 170 mil toneladas de carne de boi e 110 mil de
dade e preço… Apoiar ações responsáveis carne de frango por ano250
em nossa cadeia de fornecedores ajuda a • diz que o fornecimento da carne de boi vem de mais de
promover importantes objetivos sociais, 500 mil fazendeiros251
econômicos e ambientais e vai assegurar o
fornecimento contínuo de ingredientes de O McDonald’s diz que ‘a preservação da floresta tropical’ é sua
alta qualidade que necessitaremos no futuro... maior prioridade252 e que está ‘comprometido em estabelecer e
executar práticas ambientalmente responsáveis’253. Sua política
Responsabilidade social é uma das prioridades sobre floresta tropical afirma: ‘O McDonald’s não permite e nem
da cadeia de fornecedores estratégicos243´. permitirá a destruição de florestas tropicais para fornecimento de
carne bovina’254. O que esta política não inclui é a ração dada aos
frangos que viram Chicken McNuggets ou aos bois e porcos que
Os McNuggets estão no menu do McDonald’s em Barcelona, são usados na fabricação de outros produtos.
Hamburgo, Londres, Marselha ou Milão. O lanche é tão barato
e tão universal que você pode se esquecer facilmente do custo Investigações do Greenpeace mostram que, apesar das afirmações
ambiental desse alimento. O McDonald’s tem uma política do McDonald’s de ser amigo das florestas, seus produtos estão
corporativa de responsabilidade social (CSR) explícita de proteger envolvidos com o rastro de destruição criado pela indústria da soja
as florestas tropicais não comprando carne de áreas recentemente no coração da floresta amazônica.
desmatadas244. Quem poderia pensar que esses pedacinhos de
frango estão ajudando a impulsionar a destruição da Amazônia?
O caso do McNuggets do McDonald’s é um retrato de como a DA AMAZÔNIA PARA A SUN VALLEY, SUBSIDIÁRIA
indústria de alimentos na Europa pode alimentar a destruição da DA CARGILL – E, DAÍ PARA A McDONALD’S
Amazônia com sua demanda crescente por soja. A Cargill controla
cada elo da cadeia – desde o cultivo de soja em fazendas na ‘Estamos investindo em um terminal de
Amazônia até as fábricas que produzem os nuggets que abastecem exportação no porto de Santarém, no
os McDonnald’s em toda a Europa.
norte do Brasil... Daqui exportamos soja
O McDonald’s é uma das marcas mais conhecidas do mundo. Seu proveniente principalmente do estado do
símbolo está em toda a parte. Fundado em 1954, é a maior rede de Mato Grosso, na região centro-oeste do
fast food do mundo. Tem 31 mil restaurantes, emprega 1,5 milhão bém... da região de Santarém’
de pessoas e atende 47 milhões de consumidores em mais de 100
países todos os dias245. Nos EUA, é o maior comprador de carne Carta da Sun Valley para um colaborador do Greenpeace,
bovina e um dos maiores de carne de frango e de porco146. em 23 de fevereiro de 2006
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O Greenpeace rastreou essa soja do terminal da Cargill em Recentemente, após intensa campanha do Greenpeace
Liverpool até sua subsidiária Sun Valley. Em conversa com contra a soja amazônica, o McDonald’s se dispôs a discutir
dois gerentes da Sun Valley257, o Greenpeace confirmou que mudanças concretas de comportamento e assumir sua
25% da ração usada pela Sun Valley para alimentar frangos responsabilidade corporativa para com o futuro da
era soja brasileira, fornecida quase que exclusivamente região.Trabalho escravo, poluição e desmatamento estão
pelo terminal da Cargill em Liverpool. Outros 25% são uma relacionados com a soja produzida no bioma Amazônia.
mistura de ingredientes, incluindo óleo de soja. Os 50% Empresas sérias e preocupadas devem enxergar a
restantes são, principalmente, trigo produzido localmente258 oportunidade de uma mudança real em suas políticas de
compra, mantendo-se longe da soja amazônica.
ALIMENTOS SUN VALLEY NA EUROPA
A Sun Valley é um exemplo da produção integrada de
alimentos. Fundada em 1960, foi comprada pela Cargill CARGILL EM AMSTERDÃ: RELAÇÃO COM OS
em 1980. Atualmente, opera em toda a Europa259. SETORES DE SUPERMERCADOS E FAST FOOD
A empresa processa um milhão de frangos por semana, Em 2005, mais da metade da soja exportada pelo porto da
entre carne fresca e congelada e vende de 250 a Cargill em Santarém foi destinada ao terminal da Cargill em
300 toneladas de produtos com valor agregado por Amsterdã. A soja vinha de Mato Grosso, Pará e Rondônia267.
semana260. Seus maiores compradores são o McDonald’s
e a rede de supermercados Morrisons261. A Cargill é a maior fornecedora para a indústria de ração
animal holandesa. Fazendeiros que fornecem porcos para
Com unidades em Wolverhampton e Orléans, na o grupo holandês Vion Food, por exemplo, compram ração
França262, a Sun Valley é a maior fornecedora de animal de fornecedores268 que se abastecem de farelo de
frangos para o McDonald’s na Europa e no Reino soja da Cargill em Amsterdã269. O Grupo Vion Food controla
Unido, abastecendo a rede com Chicken McNuggets mais de 8% do mercado de porcos na Europa, abastecendo
e sanduíches. Responde pela metade de todos os sete países da União Européia270, incluindo grandes redes de
produtos de frango usados pelo McDonald’s na supermercados, como Dutch Laurus, da Holanda271.
Europa263.Também produz com marca própria e fornece
a outras empresas varejistas que usam marcas próprias. Outra grande empresa de ração holandesa, Heus Brokking
Koudijs, é também compradora da Cargill em Amsterdã272.
A Sun Valley tem seus próprios moinhos na fábrica de Abastece a linha de produção e abate de frangos da
frangos integrada à empresa, perto de Hereford264, companhia Stortebomm273, que fornece carne de frango
na Inglaterra, e produz ração incluindo soja brasileira para a KFC da Holanda274.
importada pelo terminal da Cargill em Liverpool265.
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© Greenpeace/Beltra
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THE AMA
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ESTRATÉGIAS PARA
PROTEGER A AMAZÔNIA E O CLIMA GLOBAL
Soluções para a destruição da Amazônia causada pela soja Grandes reservas florestais atuam também como
precisam partir de duas diretrizes: uma ambiental, para a barreiras antifogo, diminuindo o impacto de
floresta tropical e o meio ambiente; outra agronômica e incêndios catastróficos que poderiam destruir
econômica, para o mercado global de ração, de modo a ainda mais a biodiversidade281.
minimizar seu impacto ambiental.
Localização é outro fator crucial. Em regiões
GRANDES ÁREAS PROTEGIDAS estratégicas vulneráveis, grandes áreas protegidas
agem como anteparo contra a grilagem que
- O quê a Amazônia precisa e onde precede o desmatamento e o avanço da fronteira
agrícola. Um especulador não pode falsificar
O Brasil tem duas faces: uma linda e outra feia. documentos e se apresentar como proprietário de
A floresta Amazônica é o mais rico habitat do uma terra que está claramente definida como área
mundo, mas o índice de destruição dessa floresta de proteção.
é também o mais alto do mundo275. A floresta
Amazônica contém significativa proporção da Ação recente do governo brasileiro comprova que
biodiversidade mundial, com até 300 espécies de esta estratégia funciona. Entre 2004 e fevereiro
árvores em um único hectare276. Estudo recente, de 2006, o governo Lula declarou como área de
publicado na revista Nature, de março de 2005, proteção cerca de 14,5 milhões de hectares da
mostra que as estratégias de conservação do floresta tropical amazônica, criando parques
governo brasileiro significam muito pouco diante nacionais, florestas nacionais e áreas limitadas ao
do que é necessário para prevenir a crescente uso comunitário282. Outras terras indígenas foram
destruição. Hoje, a tendência é a de que criadores oficialmente demarcadas, o que é fundamental
de gado e fazendeiros de soja destruirão 40% da para defendê-las de invasões ilegais.
floresta amazônica do Brasil até 2050, ameaçando a
biodiversidade e contribuindo massivamente para Os resultados falam por si: após o triste recorde no
o desequilíbrio climático do planeta277. período 2003-2004, os níveis de desmatamento
caíram em 30%, para 18.900 km2, no período
As áreas críticas estão justamente onde os seguinte, voltando à media dos últimos 25 anos.
interesses do agronegócio encontram a floresta.
Ali, as estratégias para proteger a biodiversidade Investigações do Greenpeace em áreas protegidas
e conter a expansão ilegal da agricultura são recentemente criadas mostram que os grileiros
simples e comprovadas – mas somente se estão agora buscando áreas vulneráveis em outros
forem efetivamente implementadas. Grandes lugares. Entre elas, as fronteiras não protegidas
áreas protegidas – parques nacionais, reservas no estado do Amazonas, ao longo da rodovia
biológicas, territórios indígenas demarcados, Transamazônica e da rodovia BR 319, que liga
reservas extrativistas, áreas comunitárias – são Manaus a Porto Velho.
cruciais para prevenir a perda de espécies e dar
apoio adequado aos povos indígenas278. Quando O governo brasileiro se comprometeu a proteger
essas áreas são fragmentadas ou isoladas, põe-se 10% da Amazônia até 2013283. A demarcação de
em risco uma gama imensa de animais predadores, todas as terras indígenas, que cobrem 20% da
como onças, pumas, aves de rapina e cachorros do região, é também considerada urgente. Para o
mato279, destruindo todo o equilíbrio ecológico. Greenpeace, isso porém não é suficiente: é preciso
acabar com o desmatamento. Percentuais não são
As terras indígenas também requerem grandes uma medida confiável para a proteção da floresta:
áreas para manter a cultura tradicional e a as áreas protegidas devem ser estrategicamente
subsistência. Vastos territórios permitem o uso criadas na linha de frente da destruição, onde
da terra de modo não intensivo, porque há podem atuar como uma ‘barreira verde’. Políticas
espaço para mudanças periódicas, permitindo a públicas de longo prazo precisam ser adotadas
recuperação das áreas exploradas. Povos indígenas para permitir às comunidades tradicionais e outros
inteiros dependem dessas grandes áreas para que moradores da região amazônica satisfazer de
possam sobreviver e preservar a tradição para as forma responsável suas necessidades de segurança
futuras gerações280. alimentar, saúde e educação.
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As forças do mercado mundial são as principais responsáveis Até o colapso da indústria pesqueira na década de 70, a
pelo desmatamento da Amazônia e de outras florestas. A anchova do Peru era uma das maiores fontes de proteína para
soja é apenas uma das commodities responsáveis por essa ração animal do mercado europeu285. O mercado preferiu
devastação. Outras virão. trocar a pesca intensiva pela utilização de restos de animais
para fabricação de ração. A doença da vaca louca (causada
O agronegócio vê a floresta Amazônica como uma fonte de pelo uso de proteína de animais doentes) levou o setor de
terra barata, freqüentemente adquirida de forma ilegal. A rações a ser dependente da soja, o que causou a expansão do
exploração de trabalhadores, incluindo o uso de trabalho grão para habitats sensíveis, em escala global.
escravo, reduz o custo empregatício quase a zero.Combinados
com incentivos recebidos da Cargill e outras multinacionais, Os governos europeus, os bancos e a indústria alimentícia
esses fatores provocaram um enorme crescimento da devem reexaminar suas políticas agrícolas e apoiar alternativas
produção de soja, que se tornou um produto barato para o ambientais e sociais mais responsáveis, buscando meios para
mundo. suprir suas necessidades sem prejudicar as florestas e o clima.
O mercado precisa dividir a responsabilidade pelo avanço Soluções de longo prazo para os problemas sociais,
criminoso da agricultura sobre as ameaçadas florestas econômicos e ambientais da indústria poderiam reverter
primárias do mundo e agir com urgência para acabar com a a atual tendência de produção intensiva de gado e sua
destruição. dependência do mercado global de commodities baratas.
No Brasil, é possível comprar soja sem se envolver com A responsabilidade social – seja corporativa, política ou
injustiças sociais e ambientais. Especialistas acreditam que o financeira – precisa ser significativa se queremos realmente
país conseguirá atender à demanda internacional por soja não atacar esses desafios. Governos, bancos e a indústria
transgênica sem expandir as plantações Amazônia adentro. alimentícia precisam, entre outras medidas, apoiar estratégias
de produção de carne que inclua o emprego de ração
Para que isso ocorra, o mercado precisa colocar em prática produzida perto do local onde é consumida ou na própria
políticas que levem em consideração o impacto social e fazenda.
ambiental de toda a cadeia produtiva da soja. Isso significa
que grandes processadores de alimentos, supermercados e O Brasil e os países europeus precisam reexaminar
varejistas de fast food na Europa precisam se assegurar de suas políticas agrícolas e apoiar apenas alternativas
que a soja utilizada na ração animal não seja procedente do ambientalmente responsáveis, sem prejudicar as florestas
bioma Amazônia, não seja geneticamente modificada e que tropicais ou o equilíbrio climático e sem introduzir problemas
sua produção obedeça às leis trabalhistas brasileiras e aos adicionais causados por plantações transgênicas.
direitos humanos.
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DEMANDAS
ANEXO UM
– GUIA PARA RASTREAR A SOJA
Investigar todo o percurso da soja é fundamental para as ou NÃO devem utilizar soja originária destes estados ou devem ter
companhias que não queiram estar implicadas na destruição da indicações claras e detalhadas de que a soja foi cultivada FORA do
Amazônia ou no uso de soja transgênica. bioma Amazônia.
O estado em que a soja foi cultivada e o porto onde foi embarcada MA – Maranhão (33,2% no bioma Amazônia)
são os primeiros indicadores a serem checados pelos compradores TO – Tocantins (9% no bioma Amazônia)
de soja. MT – Mato Grosso (53,5% no bioma Amazônia)
Este anexo mostra os estados brasileiros que estão total ou O estado do Mato Grosso é onde a maior parte da soja da Amazônia
parcialmente dentro do bioma Amazônia ou fora dele. Também está plantada. A maior parte da soja produzida no Mato Grosso não
vincula os portos de exportação com os estados produtores de é transgênica e está fora do bioma; parte dela é produzida dentro
soja. do bioma e parte é geneticamente modificada.
Isso indica se a soja de um estado ou porto é claramente um D) Esses nove estados e o Distrito Federal estão fora do bioma
problema (implica destruição da Amazônia) ou potencialmente um Amazônia e cultivam soja. Não nos opomos ao uso dessa soja,
problema (potencialmente transgênica ou do bioma). desde que não seja transgênica e venha de fazendas que respeitem
comprovadamente as leis brasileiras. Soja não transgênica pode ser
O que se conclui é que estado de origem e porto de exportação não encontrada em vários desses estados.
garantem a procedência (ou o status de transgenia) do produto.
E também não assegura que outras ilegalidades – desmatamento PI – Piauí
não autorizado, grilagem, trabalho escravo – não estejam BA – Bahia
envolvidas. DF – Brasília
GO – Goiás
É preciso verificação independente de toda a cadeia de custódia MG – Minas Gerais
que possa remontar ao produtor. SP – São Paulo
MS – Mato Grosso do Sul
A soja é cultivada em 16 estados dos 26 estados do Brasil, sete PR – Paraná
dos quais estão parcial ou totalmente no bioma Amazônia287 SC – Santa Catarina
RS – Rio Grande do Sul
A) Esses quatro estados estão inteiramente no bioma Amazônia,
onde a soja foi cultivada no período de 2001 a 2006. O Greenpeace
defende uma moratória na produção da soja nesses estados. As O Greenpeace indica o estado do Paraná, que tem uma política
empresas NÃO devem utilizar a soja originária desses estados. de soja não transgênica controlada pelo governo estadual, como
fonte para a compra de soja. A produção do estado do Rio Grande
RR – Roraima do Sul é mais de 90% contaminada com soja transgênica. Por isso,
AM – Amazonas o Greenpeace aconselha as empresas a não comprar soja desse
PA – Pará estado.
RO – Rondônia
PORTOS DE EXPORTAÇÃO
B) Esses dois estados estão inteiramente no bioma Amazônia, mas, A tabela adiante fornece uma indicação dos portos pelos quais
até o momento, NÃO tem plantações de soja. As empresas NÃO a soja de determinada região deve passar até chegar à Europa. O
devem usar soja originaria desses estados, caso ela seja plantada Greenpeace identificou os sete principais portos brasileiros pelos
ali, no futuro. quais a soja amazônica é exportada para os mercados mundiais.
AP – Amapá Dois outros portos exportam soja de estados quase totalmente fora
AC – Acre ou totalmente fora do bioma Amazônia, embora a soja amazônica
possa passar também por esses portos – pode ter sido processada
como farelo em outros estados. A Cargill transporta grãos de soja
C) Áreas desses três estados estão no bioma Amazônia. Os três de inúmeros silos dentro do bioma, em Mato Grosso, para processá-
plantaram soja de 2001 a 2005. O Greenpeace se opõe ao uso da los em suas instalações de Minas Gerais antes da exportação288.
soja cultivada nesses estados no bioma Amazônia. As empresas
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MNEN DPO
NIA
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A
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Portos e Companhias Estados que cultivam soja no Estados que cultivam soja e não
bioma Amazônia (total ou fazem parte do bioma Amazônia
parcialmente)
Itacoatiara – leste de Manaus (AM) Mato Grosso (MT)
ADM, Bunge, Grupo André Maggi Roraima (RR)
Rondônia (RO)
Amazonas (AM)
Amapá (AP)
ANEXO DOIS
– uma curta história da soja transgênica,
Brasil e mercado europeu
A soja transgênica foi exportada pela primeira vez para Muitos compradores europeus simplesmente começaram
a Europa, pelos Estados Unidos, em 1996. A tecnologia a comprar soja brasileira por entenderem que estavam
foi introduzida pela gigantesca empresa agroquímica comprando soja não transgênica. E, é claro, atualmente a
Monsanto como uma resposta comercial ao término demanda do mercado para soja transgênica é zero, isto é,
da patente do produto de maior venda da empresa, o nenhum comprador hoje procura por soja geneticamente
herbicida Roundup, cuja base é o glifosato. As sementes da modificada.
Monsanto foram geneticamente modificadas para resistir a
grandes dosagens do Roundup. Através do mecanismo de A demanda pela soja não transgênica existe não apenas
‘venda casada’, quem comprasse as sementes Monsanto, no mercado internacional, mas também dentro do próprio
teria de comprar também o produto químico da Monsanto. Brasil. Grandes exportadores de aves compram enormes
A estratégia assegurou um mercado contínuo para o quantidades de soja e muitos processadores de alimentos
Roundup. nacionais garantem produtos não transgênicos aos
consumidores brasileiros.
Entre 1996 e 1999, a soja transgênica da Monsanto foi
disseminada rapidamente nos Estados Unidos e na Há inúmeras evidências de que, nos últimos anos, soja
Argentina. As razões dessa rápida disseminação foram, geneticamente modificada foi cultivada ilegalmente no
principalmente, a falsa promessa de mais rendimento da Rio Grande do Sul, utilizando sementes do mercado negro
soja transgênica, a redução de preço do Roundup pela contrabandeadas da Argentina.
Monsanto e objetivo de aumentar o controle da Monsanto
sobre o mercado global de sementes. As variedades de O governo brasileiro não agiu de forma responsável. Em
sementes geneticamente modificadas foram rapidamente 2003, efetivou a legalização da plantação ilegal de soja
disponibilizadas e poucas opções de sementes tradicionais transgênica sem realizar as devidas avaliações de impactos
foram dadas aos fazendeiros. ambientais. Desse modo, o governo abriu as portas para
o aumento da contaminação e para grandes prejuízos ao
Por volta de 1999, companhias européias começaram meio ambiente.
a pedir em larga escala a seus fornecedores soja não
transgênica, em resposta às demandas dos consumidores e Atualmente, o governo fez um acordo com a Monsanto
processadores de alimentos europeus. para a produção de soja transgênica adaptada à
Amazônia e outras regiões do Brasil. A introdução da
Como resultado de uma ação judicial encaminhada soja geneticamente modificada certamente servirá de
pelo Greenpeace e pelo Instituto Brasileiro de Defesa combustível para a destruição da Amazônia, devido à
do Consumidor (IDEC), exigindo do governo brasileiro a concepção “matar tudo o que é verde” – ou seja, utilizar
realização do Estudo de Impacto Ambiental (EIA/Rima) altas dosagens de herbicidas nessas plantações de soja.
antes da autorização do cultivo de soja transgênica, o Brasil
passou a ser o principal fornecedor de soja não transgênica A indústria alimentícia européia precisa desenvolver fontes
do mercado internacional. responsáveis de ração para animais, de modo a eliminar
pressões sobre as florestas primárias e ao clima do planeta.
56
escravidão traz mais vantagem ‘Forest carbon and local Commonwealth Office Global em Bruxelas, 19–20 de setembro
econômica para os patrões que livelihoods: assessment of Opportunities Fund (2004). de 2005
a da época colonial’, dezembro opportunities and policy ‘Amazonian deforestation:
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60
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2
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3
COIAB (2006) 1996/1997 e 2004/2005 gov.br/home/geociencias/recursosnaturais/ index.aspMaggi (2006)
4
Estimativa do Greenpeace baseada 14
Importações de grãos e farelo de soja por mapas/mapas_doc1.shtm?c=9 55
Grupo Maggi (2004) e investigações do
em dados do Programa de Avaliação do 25 países da Comunidade Européia, durante 29
A Amazônia Legal é a definição para a Greenpeace
Desflorestamento na Amazônia Legal o período de dezembro de 2004 e novembro região administrativa que cobre os estados 56
Rohter (2003)
(Prodes – 2004): de janeiro a julho de 2003, de 2005: de todo o mundo, 45,16 milhões do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, 57
8.177 km2 em 2001-2002, e 10.458 km2 em
14.003 km2 foram desmatados (57% dos de toneladas; do Brasil, 17, 7 milhões de Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins (que 2003-2004. Fonte: MMA (2005), p.6
24.567km2, índice anual de agosto de 2002 a toneladas (40%). Fonte: Eurostat (2006) antes correspondia à parte norte do estado 58
Rohter (2003)
julho de 2003); de agosto de 2003 a julho de 15
Estimativa do Greenpeace baseada em de Goiás) e a maior parte do Maranhão. Do 59
Bickel & Dros (2003, p.19), citando
2004, o desmatamento atingiu 27.000 km2; dados do Prodes (2004): de janeiro a julho total de sua área, 24% são de terras privadas, comunicações pessoais
de agosto de 2004 a julho de 2005, foram de 2003, 14.003 km2 foram desmatados 42% de terras públicas (não incluindo 8% de 60
Sticker et al (2004, p. 2)
18.900 km2; e de agosto de 2005 a dezembro (baseado em 57% de 24.567km2, índice áreas protegidas), 20% de terras indígenas e Um resumo desses empréstimos para
61
de 2005, 8.127 km2 perderam a cobertura anual de agosto de 2002 a julho de 2003); 6% de áreas de assentamento o período de 1999-2004: 1999, Société
vegetal (estimativa baseada em 43% de de agosto de 2003 a julho de 2004, o 30
MMA: Plano Nacional de Florestas, www. Générale, França, US$ 15milhões; 2001,
18.900 km2, assumindo que a taxa não cairia desmatamento atingiu 27.000 km2; de mma.gov.br/index.php?ido=conteudo. DEG, Alemanha, US$ 24 milhões; Standard
em relação ao ano anterior). Dados históricos agosto de 2004 a julho de 2005, foram monta&idEstrutura=5&idConteudo=3323, Chartered Bank, Reino Unido, US$ 70
mostram que 57% do desmatamento desmatados 18.900 km2; e de agosto de 2005 último acesso em 25/02/2006 milhões; 2002, Rabobank, Holanda, US$
ocorrem no primeiro semestre do ano (de a dezembro de 2005, 8.127km2 perderam Steward (2004)
31
100 milhões; 2002, Standard Chartered
janeiro a julho), e 43% no segundo semestre a cobertura vegetal (baseado em 43% de 32
Bickel &Dros (2003), citando Costa, Caixeta Bank, Reino Unido, US$ 50 milhões; 2002,
(de agosto a dezembro) 18.900 km2, assumindo que a taxa não cairia Filho e Arima (2000) IFC, International, U$ 30milhões; 2003,
5
Análise do Greenpeace, a partir de dados em relação ao ano anterior). Dados históricos 33
www.brazil.studyintl.com/team/kory/ West LB, Alemanha, U$ 80 milhões; 2004,
do IBAMA, FEMA e IMAC, mostra que 74% mostram que 57% do desmatamento koryblog/01_firsttours.htm Rabobank, Holanda, U$ 230milhões; 2004,
das áreas desmatadas entre agosto de 2003 ocorrem no primeiro semestre do ano, ou 34
487.992km2 (53.5%) de Mato Grosso está BNDES, Brasil, U$ 34 milhões; 2004, IFC,
e agosto de 2004 não tiveram autorização seja, de janeiro a julho, e 43% no segundo no bioma Amazônia, dos quais 152.540 km2 International, U$ 30 milhões. Total: U$ 663
do governo semestre, de agosto a dezembro (31.2%) já foram destruídos. Fonte: IBGE milhões. Source: van Gelder (2004)
6
Teixeira (2005): a área de um campo 16
Asner GP et al (2005) (2005) e análise de imagens de satélite do 62
Bickel & Dros (2003)
de futebol considerada é de 0,007 km2, Área da soja nos municípios do bioma
17
Prodes, 2004 63
Declaração sobre a missão do IFC, www.ifc.
a média entre os tamanhos máximo e Amazônia. Estimativa do Greenpeace 35
Bickel (2005), p. 8 org/ifcext/about.nsf/Content/Mission
mínimo recomendada pela FIFA para jogos baseada na interpretação do IBGE, de 2004, 36
IBGE (2004)Stickler et al (2004), p. 12, 64
Stickler et al (2004), p.15
internacionais dos dados da produção de soja da safra de citando Schepf et al (2001) 65
CAO (2005), p.8
Área da soja nos municípios do bioma
7
2004-2005, e também na análise de imagens 38
CONAB (2006) 66
Lilley (2004)
Amazônia. Estimativa do Greenpeace de satélite do Prodes, 2004 39
Análise do Greenpeace das imagens de 67
Bickel (2005), p.5
baseada na interpretação do IBGE, de 2004, 18
Bioma Amazônia mapeado pelo IBGE satélite Prodes (2004) e do IBGE (2005) 68
Stickler et al (2004), p.17, citando IFC (2002)
dos dados da produção de soja na safra (2005) 40
MMA (2005), p.6 69
Stickler et al (2004, p.17)
2004-2005, e na análise de imagens de 19
Estimativa do Greenpeace, baseado na 48,1%. Fonte: MMA (2005), p. 7
41 70
Por exemplo, a declaração de
satélite do Prodes (INPE), 2004 interpretação do IBGE (2004), para os dados 42
Rodrigo Justos, então diretor da Fundação critérios do Deutsche Investitions und
8
CPT (2004) e CPT (2005) www.cptnac.com. da produção de soja na safra 2004-2005, e Estadual do Meio Ambiente – FEMA, hoje Entwicklungsgesellschaft (DEG) afirma:
br/?system=news&action=read&id=1266 na análise de imagens de satélite do Prodes, denominada Secretaria Estadual do Meio “Nenhuma floresta tropical [...] será
&eid=6 2004. O restante foi produzido em Rondônia Ambiente – SEMA usada para silos ou para a expansão de
9
59% das emissões de gases do efeito estufa (5,5%), Pará (3,3%), Roraima (0,88%), 43
Stickler et al (2004, p. 17), citando Teixeira, fazendas. Os grupos indígenas não serão
provêm do desmatamento da Amazônia. Amazonas (0,18%), Tocantins (0,03%) e Instituto Socioambiental (2003) expropriados. A soja será cultivada de
Fonte: MCT (2004) Maranhão (0,01%) 44
Iowa Farm Bureau Federation (2003), p. 34 modo responsável e não sob a forma
10
Cerca de 80% da capacidade de 20
MMA (2005), dados para o período entre 45
USDA/FAS (2003) de monocultura. O Grupo André Maggi
processamento da soja é controlada por 1996-1997 e 2004-2005 46
Bickel &Dros (2003) deverá seguir o guia ambiental do Banco
estas três empresas. Fonte: Dros (2004), p.8 Watts (2005)
21 47
USDA/FAS (2004c) Mundial”. Contudo, nenhum mecanismo foi
11
Número de silos no bioma Amazônia. 22
USDA/ERS (2005) 48
Kruse (2005) posto em prática para monitorar, de modo
Fonte: sobrevôos e investigações de campo 23
USDA/ERS (2005) 49
Arnaldo Carneiro, Coordenador de independente, se esses critérios estavam
do Greenpeace e protocolo ICMS 18/05: 24
IBGE (2006) Geodados do Instituto Nacional de Pesquisas sendo respeitados. Fonte: van Gelder (2004)
“Dispõe sobre a remessa de soja em grão, do 25
Morais (2005) da Amazônia (INPA; citado in Greenpeace 71
Bickel (2005), p.5, citando CAO (2005)
estado de Mato Grosso para industrialização 26
Morais (2005) (2006) 72
van Gelder (2004)
por encomenda no estado de Minas Gerais, Área do Reino Unido: 241.590 km2 (www.
27 50
Dros (2004) p. 8 73
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com suspensão do imposto”, 11 de julho de cia.gov/cia/publications/factbook/geos/ Visão divulgada pela Cargill-Sun Valley
51 74
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EAM
CO GDUOPIA
NZ
AMEA
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O Greenpeace pode disponibilizar cópias Gerente de Processamento de Ração na Sun 289
Protocolo ICMS 18/05 ‘Dispõe sobre a
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Greempeace Restaurantes Ltda, 2004 265
Comunicação do Greenpeace com Aden acesso em 20 de março de 2006). Fonte dos
224
Glaser (2004) 243
McDonald’s Mundial: ‘Relatório de Leek, nutricionista da Sun Valley Tram In, em portos de exportação de soja, informações
225
Glaser (2004) responsabilidade corporativa de 2004’ 01 de janeiro de 2006, e Stewart Rowney, fornecidas pelo banco de dados do governo:
226
Ver, por exemplo, a decisão do juíz federal http://www.mcdonalds.com/corp/values/ Gerente de Processamento de Ração, na Sun SECEX/MDIC/Aliceweb (2006)
a respeito de financiamento público para socialrespons/sr_report.html Valley de Hereford, em 6 de fevereiro de 2006
EATING UPZON 63
THE AMA
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Abril 2006
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