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Rejane Flores da Costa

SUBSÍDIOS
MEMORIAIS PARA A
HISTÓRIA DO PINHAL:
OS JUDEUS DA
COLÔNIA PHILLIPSON

2015

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Rejane Flores da Costa

SUBSÍDIOS
MEMORIAIS PARA A
HISTÓRIA DO PINHAL:
OS JUDEUS DA
COLÔNIA PHILLIPSON

Santa Maria-RS
1994

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SUBSÍDIOS MEMORIAIS PARA A HISTÓRIA DO PINHAL: OS JUDEUS

Por

Rejane Flores da Costa

Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação. Nível de Especialização em História


do Brasil, como requisito parcial para obtenção do Grau de Especialista.

Santa Maria – RS – Brasil

1994

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Organizado, digitado e revisado

por

Juliano Gustavo dos

Santos Ozga

(F.R.C.)

Este livro é dedicado a todas as crianças e jovens do Pinhal de Itaara e que


sigam o maravilhoso exemplo dos pioneiros judeus da Colônia Philippson que
na primeira Escola desta terra exerceram seu direito de cidadania e lograram
o sucesso e dignidade em um futuro brilhante e iluminado como a Estrela de
Davi. (Rejane Flores da Costa).

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SUMÁRIO

LISTA DE ANEXOS 6

1- Introdução 7
2- Por que emigrar? 8
3- Formando a Colônia Philippson 9
4- A “I.C.A.” 12
5- Como atrair imigrantes 13
6- As primeiras famílias 15
7- E a colônia foi aumentando 17
8- E na colônia havia de tudo um pouco 18
9- Judeus e Cristãos em na Colônia Philippson 19
10- A educação e a cultura em Philippson 20
11- João Belém em Philippson 21
12- A preocupação com a ecologia 22
13- O primeiro médico do Pinhal 24
14- A primeira escola 25
15- A Estação da Viação Férrea: Centro comunitário 27
16- A Língua dos Judeus 29
17- Hebraico, Iídiche e ladino. A fala de todos eles 30
18- Flora Kruchin Finkelstein 33
19- Don José Pomtremoli 34
20- Delegado Bastos 35
21- Um poeta da Colônia do Pinhal 36
22- O sucesso dos egressos e descendentes 38
23- O Êxodo do êxodo: Início da decadência da Philippson 40
24- Memórias em Itaara e Santa Maria 42
25- Conclusão 43

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26- Referências Bibliográficas 44
27- Anexos 45

LISTA DE ANEXOS

ANEXO 1- Foto Sinagoga Santa Maria-RS 45

ANEXO 2: Foto cemitério Judaico de Philippson 46

ANEXO 3: Mapa da Colônia de Philippson 47

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1- Introdução
O presente livro não possui pretensão de construir a História da
localidade do Pinhal, Santa Maria, Rio Grande do Sul. Seus propósitos
repousam na tentativa de se utilizar os instrumentos memorialistas para
resgatar traços históricos daquele lugar.
Para tanto, foram feitas entrevistas com filhos e netos dos primeiros
colonos judeus que se estabeleceram na Colônia Philippson (Pinhal). Esses
dados foram cotejados a bibliografia existente. O estudo do pictórico (fotos e
cartas geográficas) deu consistência a heurística exigida.
O autor deste ensaio agradece a colaboração do Profº Drº Milton
Zeumanovitz, ao Instituto da Memória Judaica Marc Chagall e ao seu
orientador Profº Drº Teófilo Otoni Vasconcellos Torronteguy. Sem este auxílio
recebidonão seria possível a pesquisa.
Philippspn, uma pequena colônia judaica, a primeira organizada do Brasil,
teve como experiência econômica as atividades agropecuárias. Provenientes da
Rússia Czarista chegaram os imigrantes de origem judaica para terras
adquiridas pela I.C.A. (Jewish Colonization Association) no município de Santa
Maria da Boca do Monte.

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2- Por que emigra?
Jacques Schweidson em seu livro “Judeus de Bombacha e Chimarrão”
relata: “Tomando como ponto de partida a fixação dos judeus no principado de
Kiev, toda a trajetória do reinado de Alexandre III está marcada pela
perseguição e violência”.
Os Czares contavam com o apoio dos nobres, da alta hierarquia e da Igreja
Ortodoxa e do Exército. Os parcos relatos de tranquilidade durante os reinados
de Alexandre O Grande e Alexandre II são bons pequenos momentos numa
longa história de escuridão.
O povo, a grande massa oprimida, desabafava nos judeus toda a sua
miséria. Esse contraste entre poder e miséria gerou uma força revolucionária
que viria a explodir 20 anos mais tarde. As conflagrações sociais surgiram
depois de injustiças acumuladas durante séculos.
Mal passou a governar Alexandre III incentivou violentos conflitos
chamados “Pogroms” só excedidos pelos Cossacos e Tártaros.
Isso tudo fez surgir entre os judeus uma imensa vontade de emigrar. Fugir
das humilhações e constantes situações de misérias e desespero.
Usando de mil e um artifícios, driblando outros tantos obstáculos,
conseguiram obter a tão desejada permissão de emigrar. Foram os corajosos
sionistas. Dirigiram-se principalmente para a América do Norte, África do Sul e
Austrália. Para a América do Sul, em especial a Argentina e o Brasil, veio um
reduzido número de emigrantes judeus.
Entre 1881 e 1904 uma grande multidão fluiu para fora da Rússia em
busca de liberdade e de uma chance melhor de vida.
Este movimento coincidiu com o projeto de um engenheiro judeu-francês,
o Barão Maurice de Hirsch, com a colaboração de banqueiros e filantropos
judeus como Lorde Rothschild, Barão Goldsmith, Benjamin Cohen e o Barão de

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Philippson: organizaram uma companhia colonizadora para transferir judeus
perseguidos para terras imunes a preconceitos de religião, raça e cor,
integrando ao novo ambiente. Era a ICA, Jewish Colonization Association.
3- A formação da Colonia

As terras compradas pela I.C.A. e destinadas aos judeus vindos da


Bessarabia inspiravam grandes promessas de um futuro promissor, farto e
tranquilo. Londe das misérias que atormentaram tanto afligiram aquelas almas
corajosas que tinham na América sua última esperança.

Recém chegados visitam Santa Maria da Bôca do Monte ponto de partida


dos ramais ferroviários. A primeira impressão era de surpresa com os carros de
bois carregados de melancias, batatas, morangas...

Os primeiros dias da chegada foram de curiosa observação dos


habitantes da nova terra. Alemães, africanos, aborígenes, uma variedade
imensa de tipos humanos, o que contrastava com sua terra natal onde havia
homogeneidade do elemento eslavo.

A pluralidade das etnias contrastava com a liberdade de movimento de


todos.

As roupas bizarras dos cavalarianos eram impressionantes e desfraldadas


ao vento da nova terra causavam um efeito fascinante e alegre. Como reflexo
dessas observações as ingênuas e modestas ambições dos emigrados veio
juntar-se ao da posse de um cavalo. A passagem por Santa Maria da Bôca do
Monte foi de grande proveito. Travaram os primeiros contatos com o povo e o
meio que os haveria de agasalhar. Mesmo sem entender a língua conseguiam
se comunicar, pois a Santa Maria do inicio do século era uma cidade
tipicamente alemã. O iídiche é um dialeto do baixo alemão e com a ajuda da
mímica e a vontade de logo aprender o idioma da nova pátria tudo foi ficando
mais fácil.

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Os poucos dias de transito pela cidade foi-lhes muito útil, a princípio se
assustaram com os mosquitos e a água salobra. Mas lá no alto da serra em
Philippson não havia dessas pragas. E lá veio a última etapa da longa viagem
iniciada na Rússia, pela Alemanha e de vapor pelo mar até o porto de Rio
Grande. Viagem cheia de pensamentos e apreensões, pois não havia retorno.

O contato com a gente santa-mariense foi um estímulo aos recém-


chegados. Nesse primeiro contato poderiam tirar muitas conclusões de como
seria a vida na nova pátria. A gente boa e hospitaleira da nova terra deixou-lhes
boas impressões.

Como antídotos às dúvidas e apreensões, os judeus recordaram


novamente a lembrança do antigo êxodo quando seus antepassados cravaram
na história o primeiro marco da libertação de um povo. Comemoram ainda
hoje os judeus pelo mundo, aquele movimento libertário da história.

Bem analisada a próxima Páscoa seria bem diferente das anteriores.


Cânticos da libertação teriam agora um conteúdo mais forte, mais real. A mesa
das comemorações se destituída de fartura, apresentaria a plenitude
expressiva da própria liberdade. A fartura seria de esperança não mais um
cântico de comemorações. Mas na realidade um sopro ameno de liberdade na
nova pátria. Ao mesmo tempo uma oração para que Deus preservasse essa
nova liberdade para sempre.

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Fotos: Monumento ao Centenário da Imigração Judaica de Philippson
2004 e Porteira da Fazenda Philippson.

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4- A “I.C.A.”: Associação de Colonização Judaica
Para entender a colonização judaica no Rio Grande do Sul, tem de se em
entender o que era a I.C.A. e como agia.
Uma Mistura de Companhia das Índias Ocidentais, INCRA e Companhia
Imobiliária, com fins filantrópicos, ou mesmo, uma empresa de capital
internacional.
A I.C.A. era formada por um grupo de banqueiros e homens de negócios
judeus com base em Londres e Paris, nomes conhecidos das finanças
internacionais estavam intimamente ligados à cultura e à religião judaica.
Com os incessantes pogroms no fim do século XIX, nos faz supor que
surgiu a necessidade de fazer assentamentos judeus em países mais seguros,
mais prósperos e com menor discriminação racial e religiosa.
Fundada e comandada por nomes como os Rothschild, Cassel, Horbach e
outros, a I.C.A. iniciou suas atividades comprando grandes áreas para
assentamentos na América do Sul.
A principal e primeira foi na localidade de Pinhal, município de Santa
Maria da Boca do Monte e em Erebango, no município de Erechim.

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5- Como atrair imigrantes
“Lindíssimos prospectos com ilustrações coloridas
descrevendo a excelência do clima, a fertilidade da terra, a
riqueza da fauna e a exuberância da flora de um vasto e
longínquo país da América...” (Marcos YIolowitch).

Sempre na história das migrações humanas existem estórias e histórias


para atrair o maior número de candidatos à terra prometida. Quem não
conhece do então famoso Major Scheffer, que circulava pelo norte da
Alemanha como plenipotenciário do império tentando atrair alemães para o
Rio Grande do Sul, agricultores e mercenários e vantajosa comissão para o seu
próprio bolso? Aliás, é um raro caso de corrupção no império brasileiro.
Na Rússia Czarista não foi diferente. A I.C.A. era uma rica associação de
colonização e as terras adquiridas tinham de ser colonizadas para dar algum
lucro aos grandes banqueiros. Lá usaram os folhetos que se não eram de todo
enganadores, por outro lado, otimistas demais. A terra era bem menos fértil e
poucos os recursos oferecidos pela I.C.A.
E, quando aqui chegaram os pioneiros começaram o primeiro dia já
devendo 20 contos de réis, tão absurda era esta soma naquela época, para
indenizar despesas de instalações (um casebre, um arado simples e uma
carroça com uma junta de bois). A situação econômica só melhorou anos
depois, quando sobre a grita dos colonos judeus e a I.C.A. permitiu a derrubada
do mato para vender lenha à viação férrea.
E por que Pinhal? Justamente no início do século XX uma grande
companhia construtora de estradas de ferro: a Companhia de Chemin de Fer
Belge (Estrada de Ferro Belga) estava construindo para o estado do Rio Grande
do Sul comandado por Borges de Medeiros a linha férrea Santa Maria para a
Serra e Santa Maria à fronteira do Uruguay. O presidente da companhia era o
judeu-francês Barão de Philippson. Foi o casamento perfeito. Uma urgência em

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retirar os judeus da Rússia Czarista e o desejo do Estado em sua política
Positivista de ocupação de imensas áreas desabitadas.

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6- As primeiras famílias
Das 47 glebas em que foi dividida a colônia Philippson, a colônia de 5.766
hectares com lotes de 25 a 30 hectares cada, onde uma ficou reservada para o
cemitério, uma para a escola, e seis como reserva para a I.C.A.
São os seguintes os nomes dos chefes de família pela ordem numérica
dos lotes recebidos:
1- Shalom Nicolaiewsky
2- León Soibelman
3- Mordechai Teitelroit
4- Efraim Chaiut ou Saute
5- Isaac Stifelman
6- Chaim Jossel Filschitner
7- Jacó Schneider
8- Lote
9- Vevel Akselrud
10- Marcos Burd
11- Tobias Schweidson
12- Zanvel Akselrud
13- Menashe Sibemberg
14- Pinhe Seligman
15- Shulem Iuch
16- Bóris Wladimirsky
17- Abraão Steinbruch
18- Idel Meier Steinbruch
19- Jaime Nudelman
20- Noé Schneider
21- Isaak Goldman
22- Arão Waisman I
23- Berel Satkovitch
24- Boris Wolff

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25- Hersch Slipak ou Slipach
26- Jacó Brechman
27- Ioine Druck
28- Obe Schaie Lifchitz
29- M.Salomão Akselrud
30- León Zelmanovitz
31- Lote
32- Lote
33- Lote
34- Davi Groisman
35- Davi Schneider
36- Lote
37- Lote
38- Lote
39- Moisés L. Averbruch ou Abruch
40- Salomão Averbruch ou Abruch
41- Jacó Rosemberg
42- Aarão Kopstein
43- Davi Treiguer ou Traiger
44- Bernardo Kwitko
45- Abrão Rossowsky
46- Mendel Aronis
47- Geraldo Aronis

Interessante notar que os colonos ficaram conhecidos mais pelos números


dos lotes do que pelo nome da família. Era o Velho Onze, o vizinho do 26, a
comadre do 15.

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7- E a colônia foi aumentando
Não obstante o insucesso das primeiras colheitas, a colônia foi
progredindo, aumentando, solidificando-se. Dificuldades haviam e muitas. A
terra pedregosa era imprópria para a agricultura, as pragas de gafanhotos, a
falta de recursos para fazer uma agricultura melhor. Mas havia outro tipo de
progresso, outro sucesso que os tecnocratas não levam em conta.
A paz, a liberdade religiosa, a perspectiva de um futuro para seus filhos,
tudo aquilo que durante séculos lhe foi negado.
O otimismo contagiante dos primeiros colonos fez fluir para a nova terra
mais e mais imigrantes.
Até a Revolução de 1923, onde surgiram os primeiros indícios de
discriminação e racismo, pode se dizer que houve um progresso, um
desenvolvimento crescente. E se pensarmos num sucesso mais amplo vamos
ver os filhos dos fundadores de Philippson dispersando-se pelo Rio Grande,
formando novos núcleos e progredindo no comércio, na indústria e nas artes.
Basta observar os sobrenomes dos primeiros povoadores para descobrir que
estão hoje, em todos os campos de atividades e em todas as profissões.
Em Santa Maria a colônia judaica ficou reduzida a dúzia de famílias.
Quem não conhece os Seligman, os Knijnik, os Goldman, os Steinbruch, os
Kopstein. E em Porto Alegre, que forma uma das maiores colônias judaicas da
América, seria impossível citar tantas celebridades. Penso que Moacyr Scliar diz
tudo da imagem do judeu culto e inteligente.

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8- E na colônia havia de tudo um pouco
A seleção dos colonos na Rússia foi muito cuidadosa, até porque, para
fugir do inferno que era a vida nos guetos czaristas, sobravam candidatos. Ora
a I.C.A. aproveitando-se da situação, selecionou o que havia de melhor em
mão-de-obra não só para a agricultura como também para outros ofícios e que
mais tarde foi completada com o envio de professores altamente capacitados.
Para citar uns poucos, o professor das primeiras letras (rebe)era Arão
Waisman, o médico prático era Bóris Wladimirsky, o fabricante de chapéus
Berel Satkovich, León Zelmanovich era especialista em cultivo de fumo e
fabricava cigarros e charutos, o primeiro moinho para farinha foi construído
por Bóris Wolff. E por fim surgiram dois negócios, os armazéns de campanha,
que compravam e vendiam, desde tecidos até óculos de grau. Eram
entrepostos que pelo menos atendia as primeiras necessidades dos colonos.

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9- Judeus e cristãos em Philippson
Das quarenta e duas famílias iniciais que chegaram a Philippson em 1904,
eram na totalidade judia do grupo historicamente chamado germânico, que
falavam o iídiche.
Mas este grupo tão homogêneo foi se ampliando com brasileiros cristãos
da região e por outros judeus vindos de outros locais, como da Argentina e
Estados Unidos.
A notícia da formação de uma colônia judaica, de um lar judeu, logo se
espalhou pelo mundo. Era o sonho da nova Sion com meio século de
antecedência.
Havia aqueles que já moravam no Brasil, principalmente ameães da
Alsácia e outros das novas colônias da I.C.A. em Erechim e na Argentina.
Os moradores da colônia Philippson eram em torno de 400 na primeira
década do século XX.
Como havia muita procura pela colônia, a I.C.A. resolveu aumentar o
número de lotes e trazer mais colonos da Bessarábia. Eles receberam as
mesmas condições das anteriores e se fixaram na localidade de Rincão das
Pedras, que vai da Estrada Geral até Ibicuy. Mas como o próprio nome diz, lá só
era rico em pedras e são terras impróprias para a agricultura.

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10- A educação e a cultura na Colônia Philippson
“O judeu pela história que todo mundo conhece, sofria
perseguições desde a época no Egito, então os judeus
sabiam que a riqueza que eles podiam carregar consigo era a
sua cultura espiritual, a educação, uma formação
profissional.”(Jacob Knijnik)

Nada mais exata do que essa afirmação. Desde o primeiro momento em


que chegaram a Philippson os colonos levaram muito a sério a educação dos
filhos e sendo profundamente religiosos mantinham a tradição. E mesmo
arraigados à tradição hebraica, trataram logo de aprender a língua nativa e se
adaptar ao novo mundo.
E a I.C.A. atendendo aos anseios dessa comunidade também colaborou
enviando a nova colônia bons professores e competentes profissionais.
Pode-se afirmar sem exageros que a cultura floresceu em Philipsson. A
educação superou todas as expectativas. A prova disso além dos relatos é o
conhecimento que possuímos dos egressos das escolas da colônia e do sucesso
de seus descendentes.
A esmagadora maioria dos filhos dos colonos tornaram-se profissionais
liberais como médicos, engenheiros e prósperos administradores de empresas.
Seria muito extenso citar um por um e numa pesquisa mais profunda
chegaríamos a um percentual dificilmente comparável a outra etnia ou
colonização.
Devemos considerar que a seleção na Rússia foi feita pela saúde física e
capacidade de trabalho e nunca pelo fator intelectual. A I.C.A. queria colonos
para trabalhar a terra, mão-de-obra braçal que se tornaram lavradores,
lenhadores, peões dos campos.
Mas a semente plantada em Philippson foi profícua. A escola, a
biblioteca, sinagoga, os bons professores, tudo isso com o estudo dos livros
sagrados em hebraico, foi uma base para que o sucesso que não obtiveram no
cultivo da terra se manifestasse em outros campos de atividades.

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11- João Belém em Philippson
Pelo ano de 1910, já havia duas escolas na colônia. A primeira em
Philippson e mais tarde uma na Estação Pinhal.
Pelo menos na área educacional a I.C.A. não foi negligente, pois dotou a
colônia de duas boas escolas. Bons prédios e melhores professores. Causava
estranheza as autoridades estaduais o fato de serem inovadoras e o ensino em
iídiche e hebraico. Até os caboclos que frequentavam as aulas juntos com os
judeus falavam iídiche.
Qual o espanto de alunos e professores quando um belo dia foram
surpreendidos com a visita do professor João Belém (o delegado de educação
da época), acompanhado nada menos que o doutor Walter Jobim, secretário
de educação do Estado (mais tarde governador). Era a curiosidade e a
fiscalização para observarem a escola judaica, a primeira do Brasil.
Os alunos num misto de pavor e surpresa, de olhos arregalados,
puderam dar uma prova de brasilidade cantando de viva voz o Hino Nacional.
A julgar pelos presentes recebidos e a premiação aos melhores alunos as
autoridades ficaram muito bem impressionadas com o funcionamento e a
qualidade do ensino numa escola tão estrangeira como a de Philippson.
O ilustre João Belém, mais tarde quando escreveu “A História de Santa
Maria”, dedicou um capítulo a Philippson.

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12- Preocupação com a Ecologia

Pode parecer estranho que 100 anos atrás alguém se preocupasse com a
natureza. No final do século XIX quando a poderosa I.C.A. planejou a
colonização de Philippson, teve o cuidado de preservar a exuberante mata
virgem da Serra do Pinhal inteiramente de espécies nativas rica em fontes de
água natural.

Mas os colonos não conseguiam entender o porquê desta reserva. Para


eles, as terras de mata eram as mais apropriadas para as lavouras, até porque o
solo da serra não é dos mais apropriados para a agricultura, pois, além de
muito pedregoso, tem uma camada pouco espessa de terra arável.

Só quando o insucesso das colheitas e os jovens começaram a abandonar


o campo é que a I.C.A. permitiu alguma derrubada da mata para novas roças e
lavouras e a extração de dormentes para a estrada de ferro.

A exuberância da natureza, a altitude média de 450 metros, dava aos


colonos russos um clima muito semelhante ao de sua terra natal. Verões
quentes e invernos frios acentuados.

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Foto: Trecho Rio Vacacaí-Mirim, Rincão das Pedras, Itaara-RS.

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13- O primeiro médico do Pinhal
Lá por volta de 1906 chegou a Pinhal o primeiro médico-farmacêutico
(felsher) vindo da Rússia. Doutor Bóris Wladimirsky. Era um verdadeiro médico
de campanha. O doutor russo como era conhecido andava ligeiro em seu
cavalo atendendo os rincões mais distantes.
O doutor russo além da medicina praticava também experiências
farmacológicas, distribuindo suas ervas e seus medicamentos para a população
mais carente. Sempre solícito atendia a todos, não só os colonos judeus, mas os
católicos e protestantes.
Não era incomum ao doutor russo ser chamado a distante colônia
italiana de Silveira Martins, ou mesmo Val Serra, localidades distantes, mas
carentes de um médico. Ele atendia a todos sempre com bondade e solicitude.
Só nos casos mais graves é que enviava do doente para o hospital de caridade
de Santa Maria, na época dirigido por outro médico caridoso e humanitário:
Astrogildo de Azevedo.

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14- A primeira escola
A educação está muito arraigada na cultura judaica. E os judeus que
vieram colonizar o Pinhal trouxeram consigo o desejo de aprender e o amor
pelas letras. Mesmo vindo de regiões remotas, atrasadas e sem grandes
recursos, desde a chegada havia uma sede de saber, sede de aprender, não só
a educação formal na escola, mas aprender a trabalhar a terra e lidar com os
animais. Aprender a conviver o meio totalmente estranho e diferente, até
exótico ao qual estavam acostumados.
O primeiro professor foi um colono: Arão Waisman e ensinava em
hebraico as primeiras letras. O hebraico era muito importante para os colonos.
Sua intensa vida religiosa, suas cerimônias sociais e o estudo profundo do Torá
eram todo nessa língua.
Em 1908 veio finalmente a verdadeira escola e o primeiro professor:
León Bach que iria fazer carreira como pedagogo-educador competente e
dedicado. A escola funcionava em um confortável prédio de tijolos, e em 1910
já havia uma razoável biblioteca com livros em português e iídiche.
Se a I.C.A. falhou no seu projeto de colonização, acertou e teve muito
sucesso com a educação e com os professores que enviou ao Rio Grande do
Sul.

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15- A Estação da Viação Férrea: Centro Comunitário
As colônias de Philippson estavam muito distantes, uma área de mais de
cinco mil hectares. A vizinhança que passava a semana toda nas lavouras tinha
que ter algum tipo de lazer, de convivência comunitária.
Sábado à tardinha, terminando o período do sabath, os velhos, os pais de
família e as crianças iam convergindo em direção à estação. Não era só para ver
o trem da serra passar, eram as notícias, os encontros com outros colonos e
receber o correio. Cartas de parentes distantes, jornais com notícias do mundo
exterior. Assim a estação da viação férrea tornou-se um verdadeiro centro
comunitário. Mesmo depois foram surgindo núcleos de comércio, sinagoga,
escola, a estação continuou sendo o ponto de encontro, a Praça da Colônia.
E para os passageiros do trem havia uma atração especial: a visão curiosa
de tantos velhos de barba e chapéu, vestidos de preto. Os judeus de Philippson
eram todos religiosos e observavam os costumes e a tradição no vestir. Para os
viajantes era um espetáculo à parte, ver no meio da serra um aglomerado de
gente com aparência tão estranha, na Parada dos Russos, como diziam.

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16- A língua dos judeus
“O iídiche é a língua corrente da qual se utilizam ou da qual
se utilizaram os judeus não assimilados da Europa Central e
Oriental no convívio com a família e a comunidade judaica.”

O iídiche falado pelos imigrantes judeus está tão próximo do alemão


como o holandês. O iídiche se origina dos dialetos centrais e orientais
alemães.
A comunicação com os nativos nos primeiros tempos era dificultada ou
quase inexistente. Gestos e mímica, principalmente para os adultos, os mais
idosos que haviam sido educados em russo, um idioma totalmente diferente e
exótico comparado com o nosso português.
Mas a Colônia Philippson estava localizada ao norte da Colônia do Pinhal,
povoada por alemães, e aí se deram os primeiros contatos, os primeiros
relacionamentos, as primeiras amizades. Nos primeiros tempos quando não
havia ainda em Philippson nenhuma casa comercial e a escassez de gêneros
alimentícios era muito grande, o recurso foi apelar para os alemães do Pinhal,
ou mesmo, para o armazém de Izidro Kurtz em Val de Serra.
As distâncias eram longas, muito quilômetros pelas trilhas e picadas no
meio do mato.
A gurizada sempre era escalada para as empreitadas, pois as faziam no
lombo dos cavalos e tinham mais facilidade em se comunicar.
E o iídiche permaneceu como língua franca por muitos anos, tanto que os
crioulos que frequentavam a Escola de Philippson também aprendiam essa
língua e a falavam muito bem.

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17- Hebraico, iídiche, ladino: a fala de todos eles

Sendo o hebraico uma das línguas mais antigas do mundo e que possui
uma vasta literatura, possui muitos vocábulos que se tornaram de uso comum
pelo mundo inteiro. Em Philippson havia uma biblioteca em cada escola,
principalmente dos clássicos escritos em russo ou iídiche. Mas o ensino
religioso e a leitura dos livros sagrados eram em hebraico.

Assim, o vocabulário mais comum, de uso cotidiano era o seguinte:

Ashkenazim: germânico, judeu alemão que fala o iídiche;

Bar-Mitzvá: cerimônia de iniciação dos meninos de 13 anos;

Bar-Kokiba: filho da estrela, de Simon Bar-Kokiba, líder da revolta contra o


Imperador Adriano de Roma;

Chazem: cantor sacro;

Felsher: médico, prático, mistura de enfermeiro e curandeiro;

Farhein: união, sociedade;

Havanaguila: canção folclórica, quase Hino Nacional de Israel;

Hagada: livro contando a saída do Egito;

Iom Kippur: Dia do perdão, a mais importante festa sacra dos judeus;

Katzap: cossaco, agressor;

Kol Nidra: véspera do dia de expiação;

Kol Nidrei: canção sacra de Max Bruch;

Koiletch: pão transado;

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Kibutz: fazenda cooperativa;

Klopen: bater à porta, batida do vendedor;

Matzot: pão ázimo, bolacha;

Mazel Tov: parabéns;

Maror: ervas amargas;

Sefaradin: espanhol, judeu que fala ladino;

Melamed: professor de religião;

Mohel: o que faz a circuncisão;

Mechiten: compadre;

Rosh-Hashaná: Ano Novo;

Rebale-rebe: professor das primeiras letras, letrado;

Shoiched: único que pode abater aves a animais no rito judeu;

Sukot: festa judaica;

Sinagoga: templo, igreja (em Philippson funcionava também como local de


festividades).

Seder: ceia, jantar comemorativo;

Schtrudel: rosquinhas;

Tchvok: prego, fiado, crédito (os judeus foram os primeiros a vender à crédito
no RS);

Shabat: sábado santo;

Torá: rolo de pergaminho;

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Shtetl: aldeia, povoado judeu;

Tzadik: justo, ético;

Talmud: obra de interpretação da lei judaica e

Shadchen: casamenteiro.

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18- Flora Kruchin Finkelstein

Quando eu era guri em Santa Maria conheci a Flora Kruchin. Foi a


primeira pessoa de origem judaica com quem tive contato. Depois fiz novas e
boas amizades. O Dr. Carlos Knijnik era o dentista quando eu entrei em 52 no
Bilac.

Dona Flora era moça bonita. Muito bonitaVeja pela foto no lindo quadroi
de formatura das Normalistas de 32. Um porte altivo com um semblante
radiante de uma estirpe nobre.Depois apareceu um outro judeu, viajante,
simpático . Seu Leo Finkelstein. Eles casaram e desse casamento tiveram dois
filhos: Sergio e Renato. Dois médicos. Dois estudiosos. Dr.Sergio nascido em
Santa Maria e formado pela nossa universidade. Pediatra em Porto Alegre e
também poeta e escritor. Dr.Renato foi cumprir uma bela e nobre missão num
Kibutz em Israel onde se tornou um grande especialista em ciências médicas.

Se o Professor Burd pudesse ver com certeza ficaria orgulhoso muito feliz
com o sucesso dos seus primeiros alunos de Philipson. Foram árvores que
deram bons frutos em prol da humanidade.

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19- Don José Pontremoli

Creio que foi o último sobrevivente de Philippson que permaneceu em


Santa Maria. Conheci-o pessoalmente no início da década de 60 já em idade
avançada, mas lúcido, inteligente e culto.

Na sua porta, na rua Pinheiro Machado, uma placa esmaltada anunciava


“José Pontremoli – Agrimensor”.

Don Pontremoli era um dos professores que a I.C.A. mandou para


lecionar na escola da colônia. Quando não havia mais alunos, mudou-se para a
cidade e exerceu até a velhice a profissão de agrimensor. Gostava de
matemática, amava a terra e no seu ar de serenidade firme mostrava ser um
homem de princípios, com muita dignidade.

Personalidade como Don Pontremoli comprova o acerto da I.C.A. em


enviar às colônias o que havia de melhor na Escola Agrícola de Paris. Como ele
eram também Israel Becker, León Bach, Budin.

Pelo nome e pelo sotaque devia ser judeu sefardi de origem espanhola.
Falava um bom português, mas arrastava a língua na pronúncia. Foi também
um dos administradores da Colônia Philippson.

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20- Delegado Bastos
“Jamais tive o gosto de prender por desordem um judeu
sequer.” (Frederico Bastos, Delegado de Polícia).

Se os judeus não davam trabalho ao delegado de polícia, Sr. Francisco


Bastos também tinha na colônia um mar de paz e tranquilidade. É claro que no
início do século os problemas com a segurança pública não eram da ordem de
hoje. Mas os colonos de Philippson com sua estrutura familiar, com sua
formação religiosa, não poderiam ser motivo de preocupações desse tipo.

As atividades da polícia naquela época eram mais de vigilância. Em dia de


festas, nas carreiras de cavalos, que eram o maior acontecimento da época,
algum crioulo se passava no trago e poderia fazer alguma arruaça.

O delegado era um amigo da comunidade judaica. Dos russos, como ele


dizia, estavam bem integrados com os colonos e pela afirmação do próprio
nunca teve o gosto de prender um judeu. Naquele tempo havia duas
autoridades máximas na colônia: o delegado e o agente da estação. E os dois
fizeram muitos amigos entre as famílias judaicas. O administrador da I.C.A., que
deveria ser um amigo dos colonos, mantinha-se a distância, e a figura do chefe
diretor da colônia nunca foi simpática aos colonos.

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21- Um poeta da Colônia Pinhal
“A quem acredite que Raul Bopp nunca existiu.” (Jorge
Amado).

Pela expressão de Jorge Amado é difícil definir ou explicar Raul Bopp,


mais fácil é dizer mesmo que ele nunca existiu. Bem ali na estrada velha da
serra onde hoje está o C.T.G. Querência do Pinhal havia a colônia da família
Kroeff. Foi ali entre a colônia dos judeus e a colônia dos alemães do Pinhal que
nasceu Raul Bopp.

Assim como usam os alemães, nomes curtos e simples, na virada do


século veio ao mundo este que herdaria dos vizinhos judeus o êxodo constante,
a fuga e a busca de outros mundos, sede do saber, desbravando o
desconhecido e a firmeza do caráter germânico.

Exerceu de tudo um pouco, mais difícil dizer o que ele não foi. Lenhador,
comerciante, aventureiro, diplomata, mas principalmente poeta. Poeta da vida
e do mundo.

Andarilho por natureza viajou pelo mundo. Não satisfeito revirou a


Amazônia numa época em que chegar lá era verdadeira aventura. Nas idas e
vindas de Tupanciretã ao Ginásio Santa Maria aproveitava encontrar-se com os
colonos em Philippson. Sempre encantado com a cultura russa e a educação
poliglota dos colonos.

Aposentou-se como diplomata, mas continuou escrevendo. Inquieto


nunca parou.

Aqui na colônia deixou parentes, amigos e saudades, nunca retornou. Era


um cosmopolita por excelência. Gostava das grandes cidades e do grande

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público. Viveu intensamente. Participou da Semana da Arte Moderna de 22. Era
o ingresso do Brasil no século XX.

Bopp morreu quase esquecido. Nem a Globo, a maior editora de sua


terra lhe publicou um livro. Nunca recebeu homenagens e nunca foi convidado
para a Academia Brasileira de Letras. Talvez fosse a modéstia do poeta, talvez
fosse fidelidade a sua origem, na simplicidade de filho de colonos do Pinhal.

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22- O sucesso dos egressos e descendentes

O sucesso dos egressos de Philippson prova o valor desses imigrantes.

A liberdade encontrada na nova pátria e a boa formação educacional e


religiosa levou ao sucesso na sociedade brasileira dos pobres imigrantes russos.
Seriam inúmeros casos a citar, num percentual que não poderia se comparar a
outra etnia dos imigrantes. Para citar alguns casos: Arão Steinbruck chegou a
Senador da República, nasceu em Philippson; Abraão, empresário de sucesso
na agricultura, quando faleceu na década de 60 era proprietário de 18 fazendas
em vários estados.

Os Knijnik e os Seligmans, todos profissionais liberais como médicos,


engenheiros, odontólogos. Os Rubinstein tiveram três filhos engenheiros.
Groissman, grande jurista de renome. Os Aronis, Kwitko,Russovsky e os Carnos,
comerciantes fortes. Os Akselrud (Axelrud) e os Jochpe também banqueiros.
Nas letras poéticas temos Raul Bopp.

E os Schweidsons, bem, esses são um caso a parte. Desde tenra idade,


com sete anos no primeiro ano de escola quando as aulas ainda eram
ministradas em iídiche, já eram promissores. Foram sempre alunos premiados
e continuaram estudando. Se mais tarde tornaram-se bem sucedidos também
foram escritores, num português de fazer inveja a qualquer brasileiro nato.
Jacques Schweidson e Frida Alexander são excelentes escritores, tanto de
cunho literário como histórico. Como educador o professor León Back, mestre
no Colégio Júlio de Castilhos e pedagogo de renome.

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23- O êxodo do êxodo: início da decadência da Philippson

A palavra êxodo pertence ao vocabulário no dia-a-dia dos judeus. Nunca


um povo na história universal sofreu tanto na alma o verbo partir e nem
sempre voluntariamente. E parece que esta triste sina ia se repetir no novo
mundo.

Passaram-se poucos anos e os recursos, a fonte da terra começou a


secar. As sucessivas pragas da lavoura como os gafanhotos, a seca, as
intempéries e a extração da madeira, pois as matas eram poucas foi se
exaurindo e desanimando os colonos. Aqui na terra prometida havia liberdade,
havia paz, havia perspectiva de uma vida melhor. Mas faltava à Colônia
Philippson, muito do mínimo que uma comunidade necessita para desenvolver.

Se os velhos mais conservadores, mais arraigados a terra ainda resistiam,


os jovens não tiveram alternativa: partiram.

Eram jovens com boa formação, com entusiasmo que é característico da


juventude, mas que no solo exausto onde havia mais pedra do que terra
(Itaara: Ita= pedra; ara=alta), de onde as famílias numerosas não conseguiam
nem mesmo o mínimo para sobreviver.

A única saída foi sair por este Brasil de melhores perspectivas, de um


melhor futuro. E foi isso o que fizeram. De repente cada família tinha um ou
mais filhos a caminho dos grandes centros urbanos. Para a vizinha Santa Maria,
para a fronteira oeste seguindo os trilhos até Uruguaiana, serra acima até Cruz
Alta e para Porto Alegre onde já havia uma próspera comunidade judaica. E
mais tarde também para Florianópolis, Curitiba e São Paulo.

E o valor, o brio dos colonos de Philippson foi crescendo nesses grandes


centros, até que depois de estabelecidos em situações bastante confortável
trouxeram os pais.

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Hoje, a grande comunidade judaica em Porto Alegre também possui
descendentes dos colonos de Philippson.

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24- Memórias em Itaara e Santa Maria

Em Itaara restam poucos monumentos históricos do que foi a colônia. A


Fazenda Philippson dos herdeiros do agrônomo Abrão Steinbruch cultiva a
terra e a criação de gado. Lá no meio do campo o primeiro cemitério judaico
organizado do Brasil nas terras que foram de Jerônimo Zelmanovitz, seu filho
doutor Milton Zelmanovitz conserva uma propriedade com o nome histórico de
Sítio Baron de Hirsh.

Em Santa Maria a velha Sinagoga Yitzhak Rabin de 1923 foi restaurada e


resplandece nas cores de Israel como um marco da religiosidade e história do
povo judeu no RS.

A municipalidade homenageou os antigos imigrantes por sua grande e


importante participação no desenvolvimento do município denominando ruas
e logradouros com seus nomes: Geraldo Aronis (primeiro transporte coletivo
da cidade), Mário Druck, Israel Seligman e Samuel Kruchin (empresários).

O jovem engenheiro Davi Rubinstein, neto de imigrantes, também


recebeu uma homenagem em Camobi com seu nome.

No bairro Chácarra das Flores outro cemitério judaico muito bem


conservado pela SBISM (Sociedade Beneficente Israelita de Santa Maria).

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25- Conclusão

Uma análise objetiva dos aspectos políticos e ideológicos da imigração


judaica no Rio Grande do Sul é um pouco mais complexa do que em geral se
poderia imaginar. Primeiro, porque a imigração judaica foi diferenciada nas
suas origens do que os alemães e italianos. Segundo, a organização partiu de
uma instituição particular beneficente, a I.C.A., onde como os Peregrinos
Quaquers, na América do Norte, tinham um fundo religioso.

As atividades dos colonos estavam restritas a Colônia do Pinhal e seu


desenvolvimento, suas intenções, seus objetivos eram firmar um lar judeu
onde houvesse paz e liberdade, tanto racial e religiosa.

Enquanto os alemães se envolveram na política do Império e depois da


República Velha nas colônias (o caso dos Muckers, o integralismos, as 5ª
colunas-nazistas); os italianos que trouxeram consigo ideias anarquistas,
sindicalistas, etc... Os judeus fecharam-se em suas comunidades, obedeceram
aos regulamentos da I.C.A., trataram de adaptar-se, aprender o português e se
fixaram dentro do seu círculo religioso-familiar.

A integração com o elemento nacional foi das mais pacíficas e não se tem
notícias de atritos raciais e discriminatórios, fatos tão comuns nas zonas de
colonização de germânica e italiana.

Não podemos aceitar juízo de valores de fundo racistas e discriminatório


no sucesso ou insucesso da colonização judaica no RS, mais especificamente
em Philippson.

Os imigrantes judeus lutaram bravamente com sua forma física e moral


como diz em linguagem popular: “se entregaram de corpo e alma no afã de
vencer, de criar um verdadeiro lar”.

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26- Referências Bibliográficas

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Chagall, 1989.

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SCHWEIDSON, Jacques. Judeus de Bombacha e Chimarrão. 2 ed.. Rio de


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1984.

STöRIG, Hans Joachin. A Aventura das Línguas. São Paulo:


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