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Prof.

Beatriz Bronislava Lipinski

Eletromagnetismo I - Notas de Aula

Curitiba, Pr
2007

Tel: (41) 8419 5313 e-mail: bblipinski@gmail.com


Capítulo 1
,
Algebra Vetorial

1.1 Introdução

o eletromagnetismo pode ser considerado como o estudo da interação entre cargas elétricas em repouso e em movi-
mento. Envolve a análise, a síntese, a interpretação física e aplicação de campos elétricos e magnéticos.

o estudo dos fenômenos eletromagnéticos pode ser resumido por quatro eqauções, conhecidas como equações de
Maxwell1:
fj .15= (2, fj . 13 = O, (1.1)
- - 813 - - - 815
"'Vx E = -{it' "'Vx H = J + {it' (1.2)
sendo '\l um operador vetorial diferencial conhecido com o nome de nabla. Uma rápida olhada nas equações (1.1) e
(1.2) mostra que deveremos operar com grandezas vetoriais no estudo do eletromagnetismo. Os três capítulos iniciais
apresentam alguns conceitos fundamentais de álgebra e cálculo vetorial. Para se estudar eletromagnetismo é essencial
conhecer e saber empregar operadores, realizar integrações vetoriais e trabalhar com sistemas de coordenadas. Sem
estes conhecimentos é praticamente impossível entender e aplicar as teorias eletromagnéticas.

1.2 Escalares, Vetores e Campos

Escalar é uma grandeza completamente determinada por sua magnitude. Exemplos de grandezas escalares são
massa, tempo, carga elétrica, potencial elétrico entre tantas outras.

Uma simples extensão da idéia de um escalar é um campo escalar, isto é, uma função da posição que está
completamente especificada por sua magnitude em todos os pontos do espaço.

Vetor2 é uma grandeza que é completamente determinada por seu módulo, direção e sentido. Como exemplo,
pode-se citar a velocidade, força, intensidade de campo elétrico.

A generalização para um campo vetorial fornece uma função da posição que está completamente especificada
por sua magnitude, direção e sentido em todos os pontos do espaço.

Portanto, campo é uma função que especifica uma grandeza particular em qualquer ponto de uma região.
Exemplos de campos escalares são: a distribuição de temperatura em um prédio, a intensidade de som em um teatro,
1Estas são as equações de Maxwell escritas na forma diferencial. Há também a forma integral destas equações, que será vista na
seqüência deste curso.
2Uma outra categoria de grandezas físicas é denominada de tensor, do qual os escalares e os vetores são apenas casos particulares.

1
1.3 VETaREs UNITÁRIOS UNC FÍSICA IV - PROFESSORA GISELLE MUNHOZ ALVES 2

o potencial elétrico em uma região do espaço e o índice de refração em um meio estratificado. A força gravitacional
sobre um corpo no espaço e a velocidade das gotas de chuva na atmosfera são exemplos de campos vetoriais. Um
campo vetorial é dito constante ou uniforme se não depender das variáveis de espaço x, y e z.

1.3 Vetores Unitários

Um vetar à possui magnitude (módulo) e também orientação espacial (direção e sentido). A magnitude de à é um
escalar escrito como A ou simplesmente IÃI.

Um vetor unitário âA ao longo de à é definido como um vetar cuja magnitude é a unidade (isto é, 1) e a
orientação é a mesma do vetar Ã, ou seja3:

Ã_ Ã (1.3)
âA = A - IÃI'
A principal função de um vetor unitário (versar) é estabelecer uma direção e sentido, uma vez que seu módulo é
unitário. Sob esta lógica, é possível escrever o vetor à da seguinte forma:

(1.4)

A equação (1.4) está afirmando que à possui módulo A e está orientado paralelo ao versar âA. Para um vetar B tal
que
(1.5)

pode-se dizer que seu módulo é a metade de à e sua orientação é antiparalela a Ã, ou seja possui sentido oposto a Ã.

Um vetar Ã, em coordenadas cartesianas (ou retangulares), pode ser representado como:

(1.6)
sendo âx, ây e âz os versores unitários neste sistema de coordenadas e que estão orientados conforme o sentido
positivo dos eixos x, y e z conforme a figura (1.1). Ax, Ay e Az são denominadas de componentes do vetar à nas
direções x, y e z, respectivamente. O módulo de à é definido por:

---+ módulo
I de um vetor I (1.7)

Se for necessário, é possível definir um vetar unitário ao longo do próprio vetar Ã:


A Ax A Ay A Az A Ax âx + Ay ây + Az âz
(1.8)
aA =A ax +A ay + A az = J A2x + A2y + A2z '
conforme as equações (1.3), (1.6) e (1.7).

1.4 Soma e Subtração de Vetores

Dois vetares à e B podem ser somados para resultar em outro vetar 6, isto é:

(1.9)
3A notação será mantida assim: uma seta sobre o símbolo significa um vetor qualquer, por exemplo Ã, enquanto um acento circunflexo
indica um vetor cujo módulo é unitário, ou simplesmente um versor, por exemplo âx- Por questões de praticidade, nas ilustrações um
vetor será indicado com fonte em negrito e o escalar em itálico.
1.4 SOMA E SUBTRAÇÃO DE VETORES UNC FÍSICA IV - PROFESSORA GISELLE MUNHOZ ALVES 3

z z

y 'Y

Figura 1.1: (a) Vetores unitários em coordenadas cartesianas: âx, ây e âz; (b) decomposição de um vetor à em
coordenadas cartesianas.

A soma de vetores é feita componente a componente. Dessa forma, se à = Ax âx + Ay ây + Az âz e B = Bx âx +


By ây + Bz âz tem-se que:
(1.10)

A subtração de vetares é feita de maneira similar, componente a componente:

(1.11)

Graficamente, a soma e a subtração de vetores são obtidas tanto pela regra do paralelograma quanto pela regra
do "início de um-final de outro", como ilustrado na figura (1.2).

C=A+B

Figura 1.2: A regra do paralelogramo para a soma, a adição de vetares pela regra do "início de um-final de outro"
e a comparação de subtração e adição de vetares.

As propriedades associativa, comutativa e distributiva da álgebra linear se aplicam normalmente à soma e sub-
tração vetorial:

Ã+ (B+C) = (Ã+B) +C
Ã+B=B+Ã

C(Ã+B) =cÃ+cB,
sendo c uma grandeza escalar.
1.5 VETOR POSIÇÃO E VETOR DESLOCAMENTO UNC FÍSICA IV - PROFESSORA GISELLE MUNHOZ ALVES 4

1.5 Vetor Posição e Vetor Deslocamento

Um ponto P em um sistema de coordenadas cartesiano, pode ser representado por 3 coordenadas (x, y, z). O vetor
posição r de um ponto é um vetor que começa na origem do sistema de coordenadas e termina no ponto em questão.
Para um ponto P qualquer tem-se:
rp = xâx + yây + zâz. (1.12)
O ponto (2, 3, 2,5) da figura (1.3), por exemplo, possui vetor posiçãorp = 2 âx + 3 ây + 2,5 âz.
z

...
"'... P(2.3. 2.5)

Figura 1.3: Vetor posição r p = 2 âx + 3 ây + 2,5 âz do ponto (2; 3; 2,5).

O vetor deslocamento é a diferença entre a posição de dois pontos. Entre os pontos Q e P o vetor deslocamento
é definido por:
(1.13)

O
Q

Figura 1.4: Vetor deslocamento 6.rpQ = rQ- rp

Por exemplo, se uma carga elétrica se deslocar entre os pontos (1, -2, -5) e (2, 7, 1) o vetor deslocamento desta
carga será:
6.r = (2 - 1) âx + (7 + 2) ây + (1 + 5) âz = âx + 9 ây + 6 âz.
Relembrando o conceito de campo vetorial constante, o vetor B = âx + 9 ây + 6 âz é um vetor uniforme, enquanto
que o vetor (} = âx + 9y ây + 6xz âz é não uniforme, pois C varia de ponto a ponto.

1.6 Multiplicação Vetorial

Quando dois vetores à e B são multiplicados entre si, o resultado tanto pode ser uma grandeza escalar quanto uma
grandeza vetorial, dependendo da forma como este produto é efetuado. De fato, há dois tipos de multiplicação
1.6 MULTIPLICAÇÃO VETORIAL UNC FÍSICA IV - PROFESSORA GISELLE MUNHOZ ALVES 5

envolvendo vetores4:

(a) produto escalar: Ã. jj

(b) produto vetoria!: Ã x B

1.6.1 Produto Escalar: Ã. Ê

o produto escalar entre dois vetores é definido como o produto entre os módulos dos dois vetores e o cosseno do
ângulo entre eles:
Ã. jj = A B cos0= IÃIIBIcosO. ~ I escalar I (1.14)
O nome produto escalar está associado ao resultado final desta multiplicação, que é uma grandeza escalar, cuja
magnitude é A B cos O. O ângulo Oé o menor ângulo entre os vetores à e B.

Se à = Ax âx + Ay ây + Az âz e B = Bx âx + By ây + Bz âz então o produto escalar entre os dois vetores é definido


pela relação:
(1.15)

Com base na relação (1.14) diz-se que dois vetores à e jj de módulos não-nulos são ortogonais (ou perpendicu-
lares) entre si se Ã. jj = O, pois nesse caso tem-se O = ~ rad.
Este tipo de multiplicação obedece às propriedades comutativa e distributiva:

Além disso, é possível concluir, com base na relação (1.14) e no conceito de veto r unitário (1.3) que:

pois dois vetores ou versores idênticos são paralelos entre si (O = O) e os versores âx, ây e âz são mutuamente
perpendiculares (O = ~ rad).

1.6.2 Produto Vetorial: Ã x Ê

Em analogia com o caso anterior, o nome produtovetorial decorre do fato que este tipo de multiplicação resulta
em um vetor.

O produto vetorial entre dois vetores à e B resulta em um terceiro vetor C


~ I vetor I

cujo módulo é igual à área do paralelograma formado pelos vetores à e S, conforme ilustrado na figura (1.5):

ICI = là x SI = ABsenO = IÃIISlsenO, ~ I módulo I (1.16)


1.6 MULTIPLICAÇÃO VETORIAL UNC FÍSICA IV - PROFESSORA GISELLE MUNHOZ ALVES 6

AxB A~ea
A

----------------.

A BxA=-AxB

Figura 1.5: Diferença entre o sentido do produto vetorial à x 13 e 13 x à = -à x B.

sendo () o ângulo entre os vetores à e 13.

A orientação do vetor C = Ã x 13 é obtida da seguinte maneira:

. a direção é a mesma de uma reta perpendicular ao plano formado pelos vetores à e 13;

. o sentido é dado pelo avanço de um parafuso de rosca direita à medida que à gira em direção a 13 (pelo lado
do menor ângulo), ou se preferir é a orientação do polegar da mão direita5 quando os dedos da mão direita
giram de à até 13 (pelo lado do menor ângulo).

Se à = Ax âx + Ay ây + Az âz e B = Bx âx + By ây + Bz âz então o produto vetorial entre os dois vetores é definido


pela matriz:
âx ây âz
Ax Ay Az (1.17)
Bx By Bz
que é equivalente à relação:

(1.18)

o produto vetorial possui ainda as seguintes características:

(a) Não é comutativo: Ã x B = -B x Ã.

(b) Não é associativo: Ã x (B x C) =/:(Ã x B) xC.

(c) É distributivo: Ã x (B + C) = Ã x 13 + Ã xC.

Também é possível concluir, com base na relação (1.16) e no conceito de vetor unitário (1.3) que:

(i) à x à = O,

(ii) âx x âx = ây x ây = âz x âz = O,
4Há ainda que se considerar a multiplicação de um vetor por uma grandeza escalar, mas esta multiplicação é muito simples, pois o
escalar, se for positivo, altera apenas o módulo do vetor, mantendo direção e sentido originais. Se o escalar for negativo, além de alterar
o módulo do vetor, altera também o sentido.
5Conhecida como Regra da mão direita.
1.6 MULTIPLICAÇÃO VETORIAL UNC FÍSICA IV - PROFESSORA GISELLE MUNHOZ ALVES 7

(iii) âx x ây = âz (ou ainda ây x âx = -âz),


(iv) ây x âz = âx (ou ainda âz x ây = -âx),
(v) âz x âx = ây (ou ainda âx x âz = -ây),

pois dois vetares ou versares idênticos são paralelos entre si (O O) e os versares âx, ây e âz são mutuamente
perpendiculares (O = ~ rad).

1.6.3 Sistemas de Coordenadas DextFógiro

Sistemas de coordenadas dextrógiros são aqueles nos quais a regra da mão direita é verificada. Em outras palavras,
a relação âx x ây = âz deve ser obedecida. Este tipo de produto vetorial é resultado da combinação cíclica entre
os índices (x, y, z), como por exemplo (y, z, x) ou ainda (z, x, y) - compare com os ítens (iii), (iv) e (v) anteriores.
Ao longo deste curso somente serão adotados sistemas de coordenadas do tipo dextrógir06.

1.6.4 Produto Escalar 'Iriplo

Sejam três vetares Ã,B e C. Define-se o produto escalar triplo como:


escalar (1.19)
Ã. (B x C) = jj. (C x Ã) = C. (Ã x B) , ~ I I

obtido a partir de uma permutação cíclica dos vetares Ã, B e C. O resultado desta operação de multiplicação é uma
grandeia escalar.

1.6.5 Produto Vetorial 'Iriplo

O produto vetorial triplo entre os vetares Ã, jj e C é definidocomo:

à x (jj x C) = jj (Ã. C) - C (Ã. B) . ~ I vetor I (1.20)

O resultado desta operação de multiplicação é uma grandeza vetoria!.

1.6.6 Projeção ou Componente Escalar de Um Vetor

Uma aplicação direta da multiplicação vetorial é seu uso para determinar a projeção ou a componente de um vetar
em uma direção.

Define-se AB como a projeção ou componente escalar7 do vetar à ao longo da direção determinada pelo vetar B
como:
AB = Ã. âB = IÃllâBI COSOAB = A COSOAB, projeção ou componente escalar
~ I (1.21) I

relembrando que o módulo do vetar unitário âB, como o próprio nome diz, é 1. OABé o (menor) ângulo entre o vetar
B e Ã, conforme a figura (1.6):

Esta notação com índice B e AB foi utilizada na equação (1.21) por razões ilustrativas. A partir deste ponto não
será mais usado índice para especificar a projeção de um vetar ao longo de uma direção ou então um determinado
ângulo.
60 outro tipo de coordenadasé o levógiro, aquele no qual vale â", x ây = -âz.
7A componente vetorial ÃB de à ao longo de B é simplesmente a componente escalar (1.21) multiplicada por um vetor unitário na
direção de B, ou seja ÃB = AB âB.
1.7 EXERCÍCIOS
UNC FÍSICA IV - PROFESSORA GISELLE MUNHOZ ALVES 8

Figura 1.6: Projeção do vetor à ao longo da direção definida por B.


I
I
I
I
I
I
I
Capítulo 2 I
I
I
Sistemas e Transformações de
I
Coordenadas I
I
I
Em geral, as grandezas físicas com que trabalhamos no Eletromagnetismo (EM) são funções do espaço e do tempo.
A fim de descrever as variações espaciais dessas grandezas, deve-se definir todos os pontos de maneira unívoca no I
espaço de forma adequada. Isto requer o uso de um sistema de coordenadas apropriado.

Neste curso, um ponto ou um vetor poderá ser representado em qualquer sistema de coordenadas ortogonal. Um
I
sistema ortogonal é aquele em que as coordenadas são mutuamente perpendiculares. Exemplos de sistemas de I
coordenadas ortogonais incluem o sistema cartesiano (ou retangular), o cilíndrico, o esférico, entre vários outros.
Pode-se economizar tempo e trabalho ao escolher um sistema de coordenadas que mais se adapta a um dado problema. I
Um problema difícil em um sistema de coordenadas pode ser de fácil solução em outro sistema.
I
I
2.1 Coordenadas Cartesianas ou Retangulares (x, y, z)
I
Um ponto P pode ser representado por 3 coordenadas (x, y, z), não havendo limite para a variação destas coorde-
nadas, ou seja x, y, z podem assumir quaisquer valores I
-00 < x < 00
-00 < y < 00
-00 < z < 00.

Um vetor à em coordenadas cartesianas é escrito como

Ã=Axâx+Ayây+Azâz, (2.1)
sendo âx, ây e âz os vetores unitários (ou versores) ao longo da direção dos eixos x, y, z e todos apontam no sentido
positivo de cada eixo cartesiano.

2.2 Coordenadas Cilíndricas (p, 4;, z)

Quando há um problema com simetria cilíndrica, é útil empregar o sistema de coordenadas cilíndricas para resolvê-Io.

Um ponto P neste sistema de coordenadas é representado por (p, cP,z), conforme a figura (2.1), sendo estas
grandezas definidas como

10
I
I
I
2.2 COORDENADAS CILÍNDRICAS (p, 4>, z) UNC FÍSICA IV - PROFESSORA GISELLE MUNHOZ ALVES 11
1
I
. p é o raio do cilindro que passa por P ou ainda a distância radial medida a partir do eixo Zj I
"I
. cjJ é o ângulo azimutal, medido a partir do eixo x no plano xyj 1
. z é a mesma coordenada definida anteriormente no sistema cartesiano. I

Figura 2.1: Coordenadas cilíndricas e os vetores unitários âp, â<be âz.

Neste caso, porém, os intervalos das variáveis são mais limitados que no caso das coordenadas cartesianas:

O::;p<oo

o ::; cjJ< 271"


-00 < z < 00.

Qualquer ponto descrito neste sistema de coordenadas é a interseção de três superfícies perpendiculares entre si.
No caso de p = constante, o ponto está localizado sobre a superfície cilíndrica; se cjJ= constante, o ponto está sobre
um plano vertical que passa pelo centro do cilindroj e se z = constante, então o ponto está sobre um plano horizontal
paralelo às bases do cilindro.
Um vetor à em coordenadas cilíndricas é escrito na forma:

(2.2)

sendo âp, â<be âz os vetores unitários (ou versores) neste sistema de coordenadas. Os sentidos destes versores são
definidos assim: âp aponta no sentido de crescimento de p; â<bno sentido de crescimento de cjJe âz no sentido positivo
de z. Mas, ao contrário do que ocorre no sistema cartesiano, aqui os versores não são todos constantes: âp e â<b
variam com a coordenada cjJà medida que a direção muda.

O módulo de à escrito neste sistema de coordenadas é análogo à equação (1.7)

(2.3)

Como este sistema de coordenadas também é ortogonal, os versores âp, â<be âz são mutuamente perpendiculares.
Assim, com base nas definições de produto escalar e vetorial tem-se que:

(i) âp. âp = â<b. â<b= âz . âz = I,


(ii) âp. â<b= âp . âz = â<b. âz = O,
2.2 COORDENADAS CILÍNDRICAS (p, cf>,z) UNC FÍSICA IV - PROFESSORA GISELLE MUNHOZ ALVES 12

(iii) âp x âp = â.p x â.p = âz x âz = O,

(iv) âp x â.p = âz (ou ainda â.p x âp = -âz),

(v) â.p x âz = âp (ou ainda âz x â.p = -âp),

(vi) âz x âp = â.p (ou ainda âp x âz = -â.p).

2.2.1 Coordenadas Cartesianas x Coordenadas Cilíndricas

É possível estabelecer uma relação escalar entre as coordenadas cartesianas (x, y, z) e cilíndricas (p, e/>,z) de uma
maneira bem simples. A partir da figura (2.2) percebe-seque:

p= J x2 + y2 e/>= arc tan "!!..


x
z = z, (2.4)

ou se preferir
x = pcose/> y =psene/> z = z. (2.5)

z
P(x. y. z) ~ P(p, <I>,z)
z

y
~
<I> ~ ~ I ~ ~;= p cos<l>
x
y = p sen <I>

Figura 2.2: Relação entre as coordenadas cartesianas e as cilíndricas.

As relações vetoriais que estabelecem a conexão entre os versores âp, â.p, âz e seus correspondentes no sistema
cartesiano âx, ây, âz são as seguintes:
~=~e/>~-~e/>~
~=~e/>~+~e/>~
(2.6)
ou ainda as relações inversas entre estes versares

âp = cose/> âx + sene/> ây
â.p = - sen e/>âx + cos e/>ây

(2.7)

Com base nas relações acima (2.6) pode-se agora escrever o vetar Ã, definido em (2.1), da seguinte maneira:
à = (Ax cos e/>+ Ay sen e/» âp + (- Ax sen e/>+ Ay cos e/»â.p+ Az âz (2.8)
---- ---

2.3 COORDENADAS ESFÉRICAS (r, 9, </J) UNC FÍSICA IV - PROFESSORA GISELLE MUNHOZ ALVES 13

2.3 Coordenadas Esféricas (r, B, cP)

Este tipo de sistema de coordenadas é muito apropriado para se analisar e resolver problemas com simetria esférica.

Um ponto P pode ser representado pelas variáveis (r, O, cjJ),sendo estas grandezas definidas de acordo com a
figura (2.3):

. r é o raio da esfera com centro na origem e que passa por P ou ainda a distância a partir da origem até P;
. O é o ângulo entre o eixo z e o vetor posição do ponto P;

. cjJ é o mesmo ângulo azimutal definido nas coordenadas cilíndricas.

Figura 2.3: Coordenadas esféricas e os vetores unitários âr, âe e âc/J.

Neste caso, os intervalos das variáveis são os seguintes:

O::;r<oo

Um vetor à em coordenadas esféricas é escrito na forma:

(2.9)
sendo âr, âe, e âc/Jos vetores unitários (ou versores) ao longo de r, O e cjJ.Os sentidos destes versores são definidos
de tal forma que: âr aponta no sentido de crescimento de r (raio); âe no sentido do crescimento de O e âc/Jno sentido
do crescimento de cjJ.

O módulo de à escrito neste sistema de coordenadas é análogo à equação (1.7) ou (2.3)

A = IÃI = V A~ + A~ + A~. (2.10)

Da mesma forma que o sistema de coordenadas cilíndricas o esférico também é ortogonal, o que equivale a dizer
que os versores âr, âe e âc/Jsão mutuamente perpendiculares. Assim, com base nas definiçõesde produto escalar e
vetorial tem-se que:
2.3 COORDENADAS ESFÉRICAS (r, 8, cf» UNC FÍSICA IV - PROFESSORA GISELLE MUNHOZ ALVES 14

(ii) âr. âo = âr . â<p = âo . â<p= O,


(iii) âr X âr = âo X âo = â<p X â<p = O,
(iv) âr X âo = â<p(ou ainda âo X âr = -â<p),
(v) âo X â<p= âr (ou ainda â<pX âo = -âr),
(vi) â<px âr = âo (ou ainda âr x â<p= -âo).

2.3.1 Coordenadas Cartesianas x Coordenadas Esféricas

As variáveis espaciais (x, y, z) do sistema de coordenadas cartesianas estão relacionadas às variáveis (p, c/J,z) do
sistema de coordenadas esféricas, conforme a figura (2.4), através das relações:
y
r = J x2 + y2 + z2 e = arc tan J x2 z+ y2 = arc tan-,x
c/J (2.11)
ou as relações inversas
x = rsenecosc/J y = rsenesenc/J z = rcose. (2.12)

__ P(x,y. z) = P(r, 9, $)
P::::~sejjB--

z = rcos9

/ x =pcos$

Figura 2.4: Relação entre coordenadas cartesianas e esféricas.

Os versores âr, âo, â<pe seus correspondentes no sistema cartesiano âx, ây, âz estão relacionados por meio de:
âx = sen ecos c/Jâr + cos ecos c/Jâo - sen c/Jâ<p

ây = sen esen c/Jâr + cos esen c/Jâo + cos c/J â<p

âz = coseâr - seneâo, (2.13)


ou ainda as relações inversas entre estes versores

âr = sen ecos c/Jâx + sen e sen c/Jây + cos e âz

âo = cos ecos c/J âx + cos esen c/Jây - sen e âz


â<p = -sen c/J âx + cos c/Jây. (2.14)

Com base nas relações acima (2.13) pode-se agora escrever o vetor Ã, definido em (2.1), da seguinte maneira:
à = (Ax sen ecos c/J+ Ay sen e sen c/J+ Az cos e) âr
+ (Ax cos ecos c/J+ Ay cos e senc/J- Az sen e) âo + (-Ax sen c/J+ Ay cos c/J)â<p (2.15)
2.4 EXERCÍCIOS UNC FÍSICA IV- PROFESSORA GISELLE MUNHOZ ALVES 15

2.3.2 Distância entre dois pontos

Uma grandeza que aparece com freqüência na Teoria Eletromagnética é a distância entre dois pontos. A distância d
entre dois pontos que possuem vetores posição rI e r2 é definida por:

d = lfi - rll. (2.16)

Esta grandeza pode ser usualmente expressa nos três sistemas de coordenadas descritos anteriormente:

d = V(X2 - XI)2 + (Y2 - YI)2+ (Z2 - ZI)2, ~ I cartesiano I (2.17)

d = V pi + P~ - 2PIP2 cos (cP2- cPI) + (Z2 - ZI)2, ~ I cilíndrico I (2.18)

(2.19)

A relação (2.17) é obtida pela substituição da definição (1.13) ou (2.16) em (1.7). Para se chegar às relações (2.18)
e (2.19), basta substituir em (2.17) as equações de conexão entre os sistemas de coordenadas: (2.5) e (2.12).
Capítulo 3

Cálculo Vetorial

Este texto trata de operações envolvendo cálculo vetorial, como por exemplo a integração e a diferenciação de ve-
tores. Os conceitos introduzidos aqui fornecerão uma linguagem conveniente para expressar determinadas concepções
fundamentais em Eletromagnetismo.

3.1 Comprimento, Área e Volume Diferenciais

Os elementos diferenciais de comprimento, área e volume são freqüentes no cálculo vetorial, principalmente quando
se deseja determinar integrais de linha, área ou volume, como são os casos das equações de Maxwell sob a forma
integral. Estes elementos de cálculo podem ser expressos nos três sistemas de coordenadas do capítulo anterior.

3.1.1 Coordenadas Cartesianas (x, y, z)


Um comprimento (vetorial) ou deslocamento (vetorial) diferencial pode ser expresso pela relação:

dl = dx âx + dy ây + dzâz, I
-+ comprimento I
(3.1)

ou seja é a soma (vetorial) dos deslocamentos diferenciais em cada direção possível.

z
l ,
,,
,,
' 8-

dz 8y
8x ax
8.1 I
I
8y I
,
I ",,/

I ,/ "" y
I ;,"'-

x ~~/

Figura 3.1: Elementos de comprimento, de área e de volume em coordenadas cartesianas.

17
3.1 COMPRIMENTO, ÁREA E VOLUME DIFERENCIAIS UNC FÍSICA IV - PROFESSORA GISELLE MUNHOZ ALVES 18

Em relação a um elemento diferencial de área, segundo a figura (3.1), há três possibilidades:

dy dz âx, ou
dS = dxdzây, ou -+ área I I (3.2)
{ dx dyâz,

cada um deles é resultado da multiplicação entre dois elementos de comprimento. Aqui, dS é por definição um vetorl
o que implica que há uma orientação específica para dS: normal (perpendicular) ao elemento de área considerado.
o volume diferencial é obtido através de

dv = dxdydz, -+ volume
I I (3.3)

sendo esta, ao contrário de dl e dS, uma grandeza escalar.

É importante destacar que para encontrar o elemento diferencial de área dS ou o elemento diferencial de volume
dv basta conhecer apenas o vetor d~ pois dS ao longo de âz, por exemplo, é o produto das componentes de dl nas
outras duas direções, isto é ao longo de âx e ây, enquanto que dv é obtido por meio do produto das três componentes
escalares de df Esta observação vale para qualquer sistema de coordenadas ortogonal.

3.1.2 Coordenadas Cilíndricas (p, </J,z)

Neste sistema, os elementos diferenciais introduzidos na seção anterior são expressos sob a forma:

-+ comprimento
I I (3.4)

pdcjJdzâp, ou
dS = dpdz âq" ou -+ área I (3.5)
{
I

pdcjJdpâz,
dv = pdpdcjJdz. I
-+ volume I (3.6)

pdlj>
z

Figura 3.2: Elementos de comprimento, de área e de volume em coordenadas cilíndricas.

1Na álgebra usual, área é uma grandeza escalar, mas no Eletromagnetismo é muito recorrente a necessidade de se definir um vetor
cujo módulo seja igual à área de uma seção transversal e que possua uma orientação muito bem definida, como será visto mais adiante,
por exemplo na Lei de Gauss ou ainda no cálculo do fluxo de um campo.
3.2 INTEGRAIS DE LINHA, DE SUPERFÍCIE E DE VOLUME UNC FÍSICA IV - PROFESSORA GISELLE MUNHOZ ALVES 19

3.1.3 Coordenadas Esféricas (r, O, cP)

As três grandezas diferenciais d~ dS e dv são escritas da seguinte maneira:

dl = dr âr + r de âo + r sen e dq;â</>, -+ comprimento I I


(3.7)

r2 sen e de dq; âr, ou


dS = rsenedrdq; âo, ou -+ I área I
(3.8)
{ r dr de â</>,

dv = r2 sen e dr de dq;. -+ I volume I (3.9)

Figura 3.3: Elementos de comprimento, de área e de volume em coordenadas esféricas.

3.2 Integrais de Linha, de Superfície e de Volume

o próximo passo é estender os conceitos usuais de integração para os casos que envolvem grandezas vetoriais.

....

3.2.1 Integral de Linha - di

A integral de linha2 é a integral da componente tangencial3 de um vetar, por exemplo:

i Ã. dl = ibIÃI cos edi, -+ I integral de linha I


(3.10)

que representa a integral de linha do campo vetorial à ao longo da curva L, considerando um caminho de integração
do ponto a até o ponto b4, conforme a figura (3.4). Se o caminho de integração é uma curva fechada, como abca, a
expressão anterior (3.10) torna-se uma integral de linha fechada ou ainda a circulação de à em torno de L:

-+ I integral de linha fechada I


(3.11)

2 Linha significa um percurso, caminho ou trajetória ao longo de uma curva no espaço.


30u seja, é a projeção do vetor que tangencia a linha ou curva em questão. É a componente de à paralela à direção de dl~ veja a
equação (1.21).
4Compare a equação (3.10) com (1.21), que representa a projeção de um vetor ao longo de uma direção. Aqui, o integrando fornece a
projeção de à ao longo de d~ ou vice-versa.
3.2 INTEGRAIS DE LINHA, DE SUPERFÍCIE E DE VOLUME UNC FÍSICA IV - PROFESSORA GISELLE MUNHOZ ALVES 20

a
Figura 3.4: Caminho de integração do campo vetorial Ã.

3.2.2 Integral de Superfície - dS

o fluxo ou a integral de superfície de um campo vetorial contínuo à é definido por meio da expressão:

~ fluxo I (3.12)
<P = LÃ. dS = L IÃIcos8dS, I

sendo S a superfície atravessada pelo campo vetorial. Se esta superfície for fechada, então o fluxo é calculado por
meio de uma integral fechada:

~ I fluxo líquido I
(3.13)

A diferença básica entre (3.12) e (3.13) é que a primeira é calculada sobre um caminho fechado, que define uma
superfície aberta, enquanto a segunda é determinada levando-se em conta uma superfície fechada, que envolve um
volume no espaço. Por isso que a expressão (3.13) é conhecida também como o fluxo líquido do campo à que sai
da superfície fechada S. A

Figura 3.5: O fluxo através de um campo vetorial à através da superfície S.

3.2.3 Integral de Volume - dv

No caso de um campo escalar, por exemplo e, é útil a definição de integral de volumeS:

(3.14)
1 edv, ~ I integral de volume I

calculada sobre um volume v.

50bserve que a integral de superfície ( ou área) corresponde a 2 integrais de comprimento 15 --+I I, enquanto que a integral de
volume é equivalente à 3 integrais de comprimento Iv --+I I I, veja por exemplo as definições (3.2) e (3.3) para dS e dv.
3.3 O OPERADOR NABLA UNC FÍSICA IV - PROFESSORA GISELLE MUNHOZ ALVES 21

O significado físico de cada operador integral ficará mais claro quando os campos vetoriais à e e forem substituídos
por grandezas físicas reais.

3.3 O Operador Nabla


No cálculo vetorial aparece com freqüência o operador vetorial diferencial nabla ou deI, representado pelo símbolo
'el e definido por:
(3.15)
'el = :x âx + :y ây + :z âz, -+ operador nabla I I

quando o sistema de coordenadas escolhido for o cartesiano. No caso de coordenadas cilíndricas e esféricas tem-se,
respectivamente:
" 8. 18. 8. -+ coordenadascilíndricas (3.16)
y = 8p ap+ p 8cjJ a<b + 8z az,
I I

" 8. 18. 1 8. -+ coordenadas esféricas (3.17)


y = 8r ar + ~ôO a(J + r sen OôcjJa<b'
I I

A seguir serão mostradas algumas aplicações do operador nabla.

3.4 O Gradiente de um Escalar

Quando o operador vetorial nabla '\7 atua sobre um campo escalar, por exemplo o potencial elétrico V, é denominado
de gradiente do campo escalar, uma grandeza vetorial. Neste exemplo, o gradiente do potencial elétrico, ou
simplesmente '\7 V , em coordenadas cartesianas é:
"V 8V. 8V . ôV .
(3.18)
y = 8x ax + 8y ay + ôz azo -+ gradiente
I de V I

Para se obter o gradiente de V em coordenadas cilíndricas ou esféricas deve-se utilizar as expressões (3.16) ou (3.17),
respectivamente.

A informação que o gradiente fornece é de como o campo escalar, no exemplo anterior V, varia de ponto a ponto
(taxa espacial de variação do campo). Em outras palavras, conhecendo-se o gradiente é possível saber em que
regiões o campo escalar é mais intenso e também onde é mais fraco. Se o gradiente é nulo, o campo escalar é uma
função homogênea do espaço, ou seja não varia de ponto a pont06.

Para o gradiente de um campo escalar V ou U valem as seguintes relações:

1. '\7(V+ U) = '\7V+ '\7U;


2. '\7(VU) = U'\7V+ v'elu;
3. 'el(V/U) = (U'\7V - V'\7U)/U2;
4. '\7vn = n vn-l '\7 V .

A direção do vetor gradiente em um determinado ponto é sempre perpendicular à superfície do campo escalar
constante7 que passa pelo ponto em questão. A projeção (ou a componente) de '\7V na direção de um vetor unitário
qualquer âl é
'elv . âl = dV -+ derivada direcionall (3.19)
dl ' I

60 campo pode ainda variar em função do tempo, só não pode variar em função do espaço.
7Na região do espaço onde é definido o campo escalar, há superfícies (geométricas) onde o campo é constante. O exemplo do potencial
elétrico é bem ilustrativo.
3.5 A DIVERGÊNCIA DE UM VETOR UNC FÍSICA IV - PROFESSORA GISELLE MUNHOZ ALVES 22

conforme (1.21). Este produto, que resulta em uma grandeza escalar, define a derivada direcional de V ao longo
da direção estabelecida pelo vetor âl.

Se um veto r puder ser definido em termos do gradiente de um campo escalar, como por exemplo:
à = '\7V, (3.20)

então o campo escalar, V neste exemplo, é denominado de potencial escalar do vetor Ã.

3.5 A Divergência de um Vetar

Define-se a divergência de um veto r em um determinado ponto como o fluxo líquido que sai de uma superfície
fechada, por unidade de volume envolvido por esta superfície, à medida que este volume se reduz à zero em torno do
ponto considerado:
div à = '\7 . à = Âv-+O
lim § Ã . dS
t::!..v -+ I divergente de à I
(3.21)

É importante destacar que ao contrário do gradiente de um escalar, o divergente de um vetor é uma grandeza escalar.
Compare ainda (3.21) com a definição de fluxo em (3.13).

Do ponto de vista físico, o divergente de um campo vetorial representa a medida de quanto o campo diverge ou
não em um determinado ponto do espaço, conforme está ilustrado na figura (3.6).

Figura 3.6: (a) Divergência positiva, (b) negativa (ou convergência) e (c) nula (indiferente, não diverge e nem
converge) de um campo vetorial qualquer em torno do ponto P.

A divergência será sempre positiva em torno de um ponto-fonte do campo vetorial e negativa em torno de um
ponto-sumidouro do campo vetorial em questão. Veja por exemplo, a primeira das equações de Maxwell (1.1),
que relaciona a divergência do campo vetorial D (campo elétricoou vetor deslocamento) com e a densidade de carga
elétrica (fonte do campo D).
'\7 . D = e.

Se se tratar de carga positiva (e > O)então '\7 . D é positiva, caso contrário a divergência é negativa. Em uma região
do espaço livre de cargas, '\7 . D = O,o que significa que não há campo nesta região.

O operador divergente de um campo vetorial qualquer à pode ser escrito nos três sistemas de coordenadas
analisados anteriormente:

div à = '\7 .à = ôAx + ôAy + ôAz -+ coordenadascartesianas


I I (3.22)
ôx ôy ôz '

div à = '\7. à = ~ô(pAp)


p ôp
+ ~ôA.p + ôAz,
p ôcP ôz
-+ coordenadas
I cilíndricas I (3.23)

divà = '\7.à = ~ Ô(r2Ar) + ~ ô(AosenO) + ~ ôA.p. -+ I coordenadas esféricas I (3.24)


r2 ôr r sen O ôO r sen O ôcP
3.6 O ROTACIONAL DE UM VETOR UNC FÍSICA IV - PROFESSORA GISELLE MUNHOZ ALVES 23

A divergência de um campo escalar apresenta algumas propriedades

1. '\7. (Ã + B) = '\7 . Ã + '\7 . B;

2. '\7. (VÃ) = V'\7 . Ã + Ã . '\7V ,

sendo à e B campos vetoriais quaisquer e V um campo escalar.

3.5.1 O Teorema da Divergência

Uma extensão da equação (3.21) conduz ao teorema da divergências:

i à . dS = 1 '\7. à dv,
(3.25)

sendo v o volume limitado pela superfície fechada S. Este teorema se aplica a qualquer volume, desde que tanto Ã
como '\7. Ã sejam funções contínuas na região considerada.

o teorema da divergência é muito útil no estudo da Teoria Eletromagnética, uma vez que o cálculo de integrais
de volume é mais fácil de ser realizado que a integração em superfícies. No caso da determinação do fluxo de um
campo vetorial (3.13), pode ser mais simples determinar o lado direito de (3.25) do que o lado esquerdo.

3.6 O Rotacional de um Vetor

Outro tipo de operador diferencial é o rotacional de um vetor, por exemplo Ã, que resulta em um vetor axial
(girante), cujo módulo é igual à integral de linha (ou circulação) de à por unidade de área, à medida que esta
área tende a zero, e cuja orientação é perpendicular à área. A representação matemática desta definição conduz ao
seguinte vetor:

---+ rotacional
I de à I (3.26)

sendo flS a área delimitada pela curva L e ân o veto r unitário normal à superfície flS. O sentido do vetor '\7 xÃé
obtido por meio da regra da mão direita9.

Da mesma forma que para o operador divergente, pode-se expressar o rotacional de um vetor qualquer, por
exemplo Ã, nos três sistemas de coordenadas anteriores:
-
rot A- =vx 8Ay ax+ 8Ax 8Az
f7 A = 8Az a + 8Ay 8Ax
A A A

--- --- --- az ---+ coordenadas cartesianas I


[ 8y 8z ] [ 8z 8x y [ 8x 8y I
] ]
(3.27)
A- f7 -
A 18Az 8A</> A
8Ap 8Az A 1 8(PA</» 8Ap d d
.1. d
rot =v x = [P 8c/> - 8z ] ap + [ 8z - 8p ] a</> p
+ [ 8p - 8c/>
A

] az ---+ coor
I
ena as Cl m rIcas
. I

(3.28)
rotà = '\7x à = ~ 8(A</>senO) _ 8Ao âr + ~ ~ 8Ar _ 8(rA</» âo+ ~ 8(rAo) _ 8Ar â
r sen O [ 80 8c/>] r sen O 8c/>
[ 8r ] r [ 8r 80 ] </>

'---+ I coordenadas esféricas I

(3.29)

As principais propriedades envolvendo o rotacional de um vetor à ou B são as seguintes:


8Também conhecido como Teorema de Gauss-Ostrogradsky.
9Veja o comentário sobre a regra da mão direita na seqüência da equação (1.16).
3.6 O ROTACIONAL DE UM VETOR UNC FÍSICA IV - PROFESSORA GISELLE MUNHOZ ALVES 24

1. '\7x (à + B) = '\7x à + '\7x B;

2. '\7x (Ã x B) = Ã ('\7 . B) - B ('\7 . Ã) + [B . '\7Ã - (Ã. '\7)] B;


3. '\7x (VÃ) = V '\7x à + ('\7V) x Ã;

4. '\7. ('\7 x Ã) = O (divergência do rotacional de um campo vetorial);

5. '\7 x '\7V = O (rotacional do gradiente de um campo escalar),

sendo V um campo escalar.

a rotacional de um campo vetorial no ponto P fornece uma medida da circulação deste campo, ou em outras
palavras, de quanto o campo vetorial gira em torno de P e está ilustrado na figura (3.7).

.-- "' --- -.......


I" /
p " "
. .p
I
"-
-- ./
j
" -- /
(a) (b) (c)

Figura 3.7: a rotacional de um campo vetorial qualquer em torno do ponto P está orientado: (a) para fora da
página, (b) para dentro e (c) é nulo.

3.6.1 O Teorema de Stokes

Da definição do rotacional de à em (3.26) se obtém a expressão:

i à . df= fs ('\7x Ã) . dS, (3.30)


que representa o Teorema de Stokes.

dS

di

Figura 3.8: a significado de df e dS no teorema de Stokes.


I

Este teorema estabelece que a circulação de um campo vetorial à em torno de um caminho fechado L (lado direito
de (3.30)) é igual à integral de superfície do rotacional deste vetar sobre a superfície aberta S limitada por L (lado I

esquerdo de (3.30)), desde que à e '\7 x à sejam funções contínuas sobre S.


I

I
3.7 O LAPLACIANO DE UM ESCALAR E DE UM VETOR UNC FÍSICA IV - PROFESSORA GISELLE MUNHOZ ALVES 25

A orientação de dfe de dS em (3.30) deve ser escolhida usando-se a regra da mão-direita (ou do parafuso de rosca
direita). Ao se usar a regra da mão direita, os dedos devem estar posicionados ao longo da direção de d[ O polegar
fornecerá então o sentido de dS.

Comparando-se (3.30) com (3.25), percebe-se que enquanto o teorema da divergência relaciona a integral de
superfície com uma integral de volume, o teorema de Stokes relaciona uma integral de linha com uma integral de
superfície.

3.7 O Laplaciano de um Escalar e de um Vetor

Se o gradiente opera sobre um campo escalar e o divergente sobre um campo vetorial, há ainda a possibilidade de se
combinar estes dois operadores e obter um terceiro operador: o laplaciano.

O laplaciano de um campo escalar, por exemplo V, denotado10 por \72V é simplesmente o divergente do
gradiente de V:
\72V = '\7. ('\7V) . ~ Ilaplaciano de V I (3.31)
Com o que se sabe a respeito de produto escalar, relação (1.14), pode-se concluir que a aplicação do laplaciano sobre
um campo escalar resulta em um outro campo escalar.
Nos três sistemas de coordenadas analisados anteriormente, o laplaciano é expresso da seguinte da forma:

~ I coordenadas cartesianas I (3.32)

1 8 8V 1 82V 82V
2
\7 V = P 8p ( )
P 8p + p2 8(jJ2+ 8z2 '
~ I coordenadas cilíndricas I
(3.33)

2 1 8 8V 1 8 8V
\7 V = r2 8r ( )+ 2
r 8r
r.
r2 sen O 80 ,sen O 80 ) 1 82V
+ r2 sen20 8(jJ2. -+ coordenadas
I ..
esferIcas
I (3.34)

Um campo escalar V é dito harmônico em uma dada região quando o seu laplaciano se anula nessa região. Em
outras palavras, se a igualdade
(3.35)
for satisfeita na região considerada, a solução da equação (3.35) para o campo escalar V é harmônica, ou seja na forma
de funções periódicas como seno ou cosseno. A equação (3.35) é muito importante e empregada no Eletromagnetismo
e é conhecida como equação de Laplace.

Além de operar sobre campos escalares, é possível também considerar o laplaciano de um vetor, por exemplo
Ã. Nesse caso, \72Ã deve ser entendido como:

-+ \laplaciano de à I (3.36)

ou seja, o gradiente do divergente de à a menos do rotacional do rotacional de Ã. É importante destacar que, ao


contrário do que acontece quando se aplica o laplaciano sobre um campo escalar, o resultado da operação efetuada
em (3.36) é um vetor.

No caso do sistema de coordenadas cartesianas, a forma para o laplaciano de um vetor, por exemplo Ã, é muito
simples:
-+ coordenadas cartesianas I (3.37) I

10 A notação do operador laplaciano 'Ç'2V equivale à '\72V, uma vez que '\7 é um vetor, mas o operador laplaciano em si é uma grandeza
escalar e por esta razão é omitido o símbolo vetorial.
3.8 CLASSIFICAÇÃO DE CAMPOS VETORIAIS UNC FÍSICA IV - PROFESSORA GISELLE MUNHOZ ALvEs 26

Infelizmente o mesmo não é possível afirmar para o outros sistemas de coordenadas estudados aqui. A relação (3.37)
vale exclusivamente para coordenadas cartesianas.

Ao longo do curso de Eletromagnetismo serão estudadas equações envolvendo os vetores campo elétrico e magnético,
como por exemplo as equações vetoriais de onda ou Equações de Helmholtz:
\72 E - .l E = O \7213 - "{213 = O, (3.38)
sendo "( a constante de propagação, ou ainda as Equações de Laplace e de Poisson

(3.39)

respectivamente, que envolvem o potencial elétrico V, a densidade de carga p e a constante do meio t, grandezas
escalares. Em todas estas equações fundamentais, o operador laplaciano está presente.

3.8 Classificação de Campos Vetoriais

Um campo vetorial é completamente caracterizado por seu divergente e seu rotacional. Apenas estas duas grandezas,
conjuntamente, são suficientes para descrever completamente o campo. Qualquer campo vetorial pode ser classificado
em função da anulação ou não de seu divergente e de seu rotacional. Há quatro possibilidades:

(a) .Ã = O e xÃ=O ou
(b) .Ã O e xÃ=O ou
(c) .Ã=O e xÃO ou
(d) .ÃO e x à O,

que estão ilustradas na figura (3.9).

- - -
- - /- " / -_ "t
t /

- - !! tt -
- - "'-/ -- - // tt
(a) (b) (c) (d)

Figura 3.9: Quatro tipos de campos vetoriais possíveis de acordo com o divergente e o rotacional.

3.8.1 Campo Solenoidal

o campo vetorial é dito solenoidal ou não divergente se:


~.Ã=O. (3.40)
Neste caso, o campo que obedece esta condição não é fonte nem sumidouro de um fluxo. O teorema da divergência,
equação (3.25), aplicado a este caso conduz ao resultado:

(3.41)
3.8 CLASSIFICAÇÃO DE CAMPOS VETORIAIS UNC FÍSICA IV - PROFESSORA GISELLE MUNHOZ ALVES 27

o que significa que as linhas de fluxo de Ã, que entram em qualquer superfície fechada, devem obrigatoriamente sair
dela (lado esquerdo de (3.41)). Exemplos de campos solenoidais são: fluidos incompressíveis, campos magnéticos em
condições estacionárias, densidade de corrente de condução em condições estacionárias.

Em geral, o campo do rotacional de um vetor, como é o caso de fl x F, tal que F seja expresso como o rotacional
de um outro campo vetorial, neste caso F = fl x Ã, é puramente solenoidal,pois
(3.42)
fl . (fl x F) = fl . [fl x (fl x Ã)) = O,
de acordo com as propriedades de um rotacional.
Outra maneira de descrever este resultado é observar que se há um vetar Ã, cujo divergente é nulo
fl . Ã = O,
então o fluxo deste vetar também é nulo

Assim, pode-se concluir que há um veto r F, que


t Ã.dS=O.
pode ser expresso em função do rotacional de Ã:

3.8.2 Campo lrrotacional

Um campo vetorial à é dito irrotacional ou potencial se


fl x à = O, (3.43)
ou seja, um vetar cujo rotacional é nulo é denominado de irrotacional (sem rotacional). Aplicando aqui o teorema
de Stokes, equação (3.30), obtém-se:

t lÃ. dl = (fl x Ã) . dS = O.
Desta forma, para um campo irrotacional Ã, a circulação deste campo em torno de um caminho fechado é nula. A
(3.44)

conseqüência mais importante deste fato é que a integral de linha de à independe do caminho escolhido. Por esta
razão, um campo irrotacional é também conhecido como campo conservativo. Exemplos de campos irrotacionais
são: o campo eletrostático e o campo gravitacional.

Em geral, qualquer campo vetorial à que possa ser expresso como o gradiente de um campo escalar Y, como por
exemplo à = - fly, é puramente irrotacional, pois

fl x à = - fl x (flY) = O, (3.45)

de acordo com as propriedades do rotacional.

Outra maneira de verificar esta observação, é que se há um vetor Ã, cujo rotacional é nulo
fl x à = O,
então a integral de linha de à também é nula

tÃ.dl=O,
o que leva à conclusãoque o vetor à pode ser expressoem função do gradiente de um escalar Y:
à = -fly.
Por isto, Ã é também conhecido como campo potencial e Y como potencial escalar de Ã. O motivo do sinal
negativo na definição de à será esclarecido no estudo do Eletromagnetismo.
3.9 EXERCÍCIOS UNC FÍSICA IV - PROFESSORA GISELLE MUNHOZ ALVES 28

3.8.3 O Teorema de Helmholtz

Conforme o que foi comentado no início desta seção, um vetor à é integralmente descrito dentro de uma região por
seu divergente e seu rotacional. Se, para o vetor Ã, é possível escrever o divergente e o rotacional como:

fj x à = ps, (3.46)

então Pv e PS são a densidade de fonte (escalar) e densidade de circulação (vetar) de Ã, respectivamente. Sob a
condição que as densidades Pv e PS se anulam no infinito, então à pode ser expresso como a soma de dois vetores:
um irrotacional Ãi = - fjv e outro solenoidal Ãs = fj x B:

(3.47)

o conjunto de equações (3.46) e (3.47) expressam o Teorema de Helmholtz.


UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
Curso: Engenharia Eletrônica / Eletrotécnica)
Disciplina: Eletromagnetismo I
Prof. Beatriz Bronislava Lipinski
Exercícios avaliativos 1 – Revisão de cálculo vetorial

Aluno: __________________________________________________ Curso: ________________


Nota:
Aluno: __________________________________________________ Curso: ________________

r r
1) Se A = 10 aˆ x − 4aˆ y + 6aˆ z e B = 2aˆ x + aˆ y , determine:
r
a) a componente de A ao longo da direção do eixo y ;
r r
b) o módulo de 3 A − B ;
r r
c) um vetor unitário ao longo da direção do vetor A + 2 B .

2) Os pontos P e Q estão localizados em (0,2,4) e (−3,1,5) , todos dados em metros.


Determine:
r
a) o vetor posição P ;
b) o vetor distância de P a Q ;

c) a distância entre P e Q .

r r r r
3) Dados os vetores A = 3aˆ x + 4aˆ y + aˆ z e B = 2aˆ y − 5aˆ z , determine o ângulo entre A e B .

r r r
4) Se A = 2aˆ x + aˆ y − 3aˆ z , B = aˆ y − aˆ z e C = 3aˆ x + 5aˆ y + 7 aˆ z , determine os produtos:
r r
a) A ⋅ C ;
r r r
b) B × ( A + C) .

r ⎛ xz ⎞
5) Converta o campo vetorial A = ⎜⎜ ⎟⎟aˆ x em coordenadas esféricas.
⎝ y⎠
r
6) Considere um ponto P( −2,6,3) e o vetor A = yaˆ x + ( x + z ) aˆ y .

a) expresse P em coordenadas cilíndricas;


r
b) expresse A em coordenadas cilíndricas;
c) expresse P em coordenadas esféricas;
r
d) expresse A em coordenadas esféricas.
r 5
7) Considere o campo vetorial A = yaˆ x + aˆ y + 3 yaˆ z e o ponto P(4,5,2) , determine:
r
2
a) A no ponto P ;
r
b) a componente escalar de A no ponto P ao longo da direção do versor
2 1 2
aˆ n = aˆ x + aˆ y − aˆ z ;
3 3 3
r
c) a componente vetorial de A no ponto P ao longo da direção de ân ;
r r
d) o ângulo entre A(rP ) e ân .

8) Considere o plano 2 x + y = 5 . Determine um versor normal a este plano.

r −x
9) Determine o divergente de D = [(e sin y )aˆ x − (e − x cos y )aˆ y + (2 z )aˆ z ] C / m 2 .

10) Dado o campo potencial escalar V = 2 x 2 y − 5 z e o ponto P(−4,3,6) , determine:

a) o potencial no ponto P ;
r r
b) o campo vetorial E = −∇V no ponto P ;
r
c) a direção de E ;
r r
d) o campo escalar ρ v* = ∇ ⋅ E no ponto e P .
toA -e.e~ cL. c .oulo\'V\b.

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
Curso: Engenharia Eletrônica / Eletrotécnica)
Disciplina: Eletromagnetismo I
Prof. Beatriz Bronislava Lipinski
Exercícios avaliativos 2 – Lei de Coulomb à Teorema da Divergência

Aluno: __________________________________________________ Curso: ________________


Nota:
Aluno: __________________________________________________ Curso: ________________

1) Duas placas infinitas, carregadas com cargas superficiais homogêneas ρS estão dispostas
paralelamente uma à outra. Determine o campo elétrico:
a) num ponto à esquerda da primeira placa;
b) num ponto à direita da segunda placa;
c) num ponto entre as duas placas.

2) Quatro cargas positivas de 10 nC estão localizadas no plano z = 0 , nos vértices de uma


quadrado de 8 cm de lado. Uma quinta carga positiva de 10 nC é colocada num ponto distante
8 cm de cada uma das outras cargas. Considere que o sistema está no vácuo e calcule a força
resultante sobre a quinta carga:

3) Duas cargas pontuais de 120 nC estão localizadas nos pontos A(0, 0, 1) e B (0, 0, −1) , no
espaço livre.
r ⎛1 ⎞
a) Determine E no ponto P⎜ , 0, 0 ⎟ ;
⎝2 ⎠
b) Qual carga colocada na origem forneceria o mesmo resultado?

4) Uma linha de cargas uniforme de 2 μC / m está situada ao longo de toda a extensão dos três
eixos coordenados. Considerando as condições de espaço livre, determine o vetor campo elétrico
no ponto P (−3, 2, −1) .

5) A região 4 < r < 5, 0 < θ < 25º e 0,9π < φ < 1,1π contém uma densidade volumétrica de

⎡φ ⎤
carga dada por ρ v = 10(r − 4)(r − 5) sin[θ ]sin ⎢ ⎥ . Fora desta região, a densidade de carga é
⎣2⎦
nula. Determine a carga total dentro desta região.
Prof. Beatriz Bronislava Lipinski
Universidade Tuiuti do Paraná

Capítulo 1

Lei de Gauss

A Lei de Gauss explora com mais objetividade as simetrias dos problemas envolvendo o cálculo
de campo elétrico. A sua aplicação consiste em considerar o campo elétrico numa superfície fechada,
dita superfície gaussiana, que envolve a distribuição de cargas ou parte dela. O campo elétrico total
sobre a superfície é a soma dos campos elétricos infinitesimais sobre a superfície. Esta soma é uma
soma vetorial, portanto os sinais devem ser levados em conta.
Na prática, consiste em dividir a superfície gaussiana em pedaços tão pequenos que podem ser
considerados como uma superfície plana, calcular a contribuição de cada um destes planos infinitesi-
mais e somar continuamente, ou seja: integrar!
Para chegarmos à integral que define a Lei de Gauss, devemos conhecer o conceito de fluxo. Con-
sidere um vento uniforme cuja velocidade é ~v . Se Φ é a vazão (volume por unidade de tempo) do ar
através da espira mostrada na figura, então Φ depende do ângulo entre ~v e o plano da espira. Se ~v é
perpendicular ao plano da espira, então Φ = vA, com A sendo a área da espira. Se ~v é paralela ao
plano da espira, o ar não passa pela espira, portanto: Φ = 0. Se o ângulo entre ~v e a área da espira
for uim ângulo θ qualquer, então: Φ = vAcosθ, o que significa um produto escalar entre o vetor
~ Esta expressão pode ser interpretada como o fluxo do campo de
velocidade e o vetor área: Φ = ~v · A.
velocidades através da espira.

1
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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 1: Lei de Gauss

Definição: O fluxo de campo elétrico.

Considere uma superfície gaussina totalmente irregular, imersa em um campo elétrico


não-uniforme. Calcular um campo elétrico não-uniforme é um problema bastante complexo de se
resolver utilizando-se apenas da geometria. A Lei de Gauss nos ajuda a resolvê-lo de forma prática.
Na figura, podemos notar que a superfície gaussiana foi dividida em minúsculos elementos de área
∆A. Perceba que cada pedacinho da área sobre a superfície aponta para uma direção específica, car-
acterizando que estes elementos de área são vetorias. Como estes elementos de área ∆A são muito
pequenos, → 0, podemos considerar que tratam-se de quadrados planos e por analogia à ilustração
da velocidade do vento através da espira, podemos definir aqui, o fluxo de campo elétrico através de
cada quadradinho de índice i, como sendo: Φi = E ~ i · ∆A
~ i . Perceba que, para cada quadradinho
este produto e diferente pois, o vetor campo elétrico muda e o vetor elemento de área também muda.
Porém, todos contribuem para o valor do campo elétrico total que atravessa a superfície gaussiana.
Quando o ângulo θ entre E ~ e ∆A ~ é menor que 90, a contribuição Φi é positiva; quando o ângulo θ
~ e ∆A
entre E ~ é maior que 90, a contribuição Φi é negativa e quando o ângulo θ entre E ~ e ∆A
~ é igual
a 90, a contribuição Φi é nula. O campo elétrico total é a soma de todas as contribuições:

~ i · ∆A
~ i.
X X
Φ= Φi ou: Φ= E
i i

Como os elementos de área são infinitesalmente pequenos, podemos levar a soma acima ao limite
~ → 0, transformando a somatória sobre termos discretos em uma somatória contínua:
quando ∆A
uma integral:
I
(1.1) Φ= ~ · dA,
E ~
H
nesta o símbolo indica que a integração é feita sobre uma superfície fechada. Isto implica em dizer
que o fluxo de campo elétrico através de uma superfície gaussiana é proporcional ao número de linhas
de campo elétrico que atravessam a superfície.

Definição: Lei de Gauss.

A Lei de Gauss relaciona o fluxo total de campo elétrico através de uma superfície gaussiana com
a carga total que ela envolve (qe ), e fica expressa pela equação:

(1.2) ε0 Φ = q e ,

~ = qe ,
I
(1.3) ~ · dA
E
ε0

sendo a carga envolvida qe a soma algébrica de todas as cargas no interior da superfície gaussiana.

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 1: Lei de Gauss

A utilidade da Lei de Gauss é bastante expressiva, como vamos


ver no decorrer do curso. Uma das mais expressivas aplicações á a
dedução da Lei de Coulomb. Considere uma carga pontual de valor
+q. Já sabemos que o campo elétrico gerado por uma carga pontual
é radial, então a melhor superfície gaussiana, que podemos escolher
para calcular o campo elétrico desta carga, é uma superfície esférica
de raio r em torno da carga, como mostra a figura.
Como se trata de uma esfera, o vetor E ~ é sempre normal ao ele-
mento de área dA ~ na superfície gaussiana, e sempre dirigida para fora,
pois a carga é positiva. Como a direção de dA ~ é sempre normal à superfície por definição, o produto
~ · dA
E ~ torna-se EdAcos0, que vale EdA. A área de uma esfera vale 4 πr2 . Aplicando este resultado
3
na Lei de Gauss, obtemos:

I
~ · dA
~ = q
(1.4) E , que é a Lei de Gauss,
ε0
I
q I
q
EdA = ⇒ E dA = , ,
ε0 ε0

q q
EA = ⇒ E 4πr2 = ,
ε0 ε0

1 q
E = ,
4πε0 r2
~ = 1 q
(1.5) E âr , que é a Lei de Coulomb!!!
4πε0 r2

Linha de cargas: Simetria cilíndrica.

Suponha um fio infinito com distribuição linear de cargas, ρl = Lq . Já discuti-


mos anteriormente, que o campo elétrico gerado por esta cnfiguração é radial ao
longo de todo o comprimento do fio. Portanto, o campo elétrico varia de acordo
com a distância r do ponto considerado até o fio, sobre uma reta ortogonal ao
fio. Considere então a figura ao lado. Se o campo varia apenas com a distância r,
podemos tomar um cilindro de raio r e comprimento L, como a superfície gaus-
siana ao redor de uma parte do fio. Para um cilindro, podemos definir vetores de
área em três direções: dois vetores dA~ ortogonais às bases do cilindro, com sen-
tidos opostos e um vetor dA ~ ortogonal ao eixo do cilindro. Portanto, o fluxo de
campo elétrico total no ponto P é dado pela soma φ = φ1 + φ2 + φ3 . Aplicando

3
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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 1: Lei de Gauss

a Lei de Gauss, temos:

Z Z Z
φ = ~ · dA
E ~1 + ~ · dA
E ~2 + ~ · dA
E ~ 3,

Z Z Z
φ = EdA1 cosθ1 + EdA2 cosθ2 + EdA3 cosθ3 ,

Z Z Z
φ = EdA1 cos(90o ) + EdA2 cos(90o ) + EdA3 cos(0o ),

Z
φ = 0+0+ EdA3 ,

q Z
= E dA3 ,
0

q
= EA3 ,
0

q
= E2πrL,
0

1 q q
E = , ρl = ,
2π0 rL L

ρl
E = ,
2π0 r
~ = ρl
E âr .
2π0 r

Plano de cargas: Simetria Planar.

Considere agora uma placa carregada, conforme a


figura. A simetria do problema é planar. Cada área in-
finitesinal contribui com um valor de campo infinitesinal
que terá duas componentes. Porém, as componentes pa-
ralelas ao plano são simétricas, por isso se anulam. Por-
tanto, o fluxo do campo elétrico é sempre ortogonal ao
plano de cargas. Então, a superfície gaussiana cilíndrica
ortogonal ao plano descreve bem o campo elétrico sobre
qualquer linha ortogonal ao plano, como mostra a figura.

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 1: Lei de Gauss

Z Z
φ = ~ · dA
E ~1 + ~ · dA
E ~ 2,

Z Z
φ = EdA1 cosθ1 + EdA2 cosθ2 ,

Z Z
o
φ = EdA1 cos(0 ) + EdA2 cos(0o ),

Z Z
φ = EdA1 + EdA2 ,

q Z
= 2E dA,
0

q
= EA,
0

ρs q
E = , ρs = .
20 A

Dois planos de cargas paralelos.

Na figura ao lado, duas placas carregadas com densi-


dade superficial de cargas ρs = Aq , estão dispostas par-
alelamente. Observe as direções dos campos elétricos de-
vido a cada placa sobre os pontos P1 , P2 e P3 . Nos
pontos P1 e P3 o campo elétrico é nulo, pois os cam-
pos E ~1 e E~ 2 têm o mesmo módulo, mesma direção e sen-
tidos opostos. No ponto P2 o campo elétrico vale E =
 
2. 2ερs
, pois os campos E ~1 e E ~ 2 têm o mesmo mó-
0

dulo, mesma direção e mesmo sentido. Então: E =


ρs
ε0
.

Distribuição volumétrica de cargas: Simetria esférica

Já vimos que para a simetria esférica, a Lei de Gauss resulta na lei de Coulomb quando tomamos
uma superfície gaussiana esférica de raio maior ou no máximo igual ao raio da esfera. Quando a su-
perfície gaussiana esférica é menor que o raio da esfera, podemos analisar como se segue: Considere
uma esfera carregada, com distribuição volumétrica de cargas, de raio R e uma superfície gaussiana
de raio r, sendo r < R. A lei de Gauss relaciona o fluxo de campo elétrico com a quantidade de carga
que está dentro da superfície gaussiana. Neste caso, a carga dentro da superfície gaussiana de raio r

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 1: Lei de Gauss

é menor que a carga total na esfera. Chamemos de q 0 a carga contida na superfície gaussiana. Esta
0
carga é proporcional ao volume da superfície gaussiana e esta relação resulta na expressão: qv = Vq ,
sendo v o volume da superfície gaussiana e V o volume da esfera. Então:

q0 q 0 r3
4 3
= 4 3
, então: q = q 3
.
3
πr 3
πR R

1 q0
O campo elétrico em qualquer ponto entre r e R é dado pela lei de Coulomb: E = 4πε0 r2
.
Substituindo õ valor de q 0 :

1 qr
E= .
4πε0 R3

Ilustrações:

1 - Considere um campo elétrico externo E~ de linhas de campo paralelas ao eixo principal de uma
superfície gaussiana cilíndrica, como mostra a figura. Determine o fluxo de campo elétrico φ total
neste através desta superfície.

2 - Considere duas placas paralelas com densidades superficiais de carga ρ+ 2


s = 6, 8µC/m e
ρ− 2
s = 4, 3µC/m . Determine o campo elétrico nos pontos P1 , P2 e P3 .

3 - Considere uma superfície gaussiana cúbica, como mostra a figura, imerso em um campo
~ = 3xî + 4ĵ. Determine o fluxo de campo elétrico φ através da:
elétrico externo E

(a) face direita do cubo;

(b) face esquerda do cubo;

(c) face superior do cubo.

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 1: Lei de Gauss

Faça suas contas aqui!!

Aqui torna-se interessante a definição de uma nova grandeza, chamada densidade de fluxo de
deslocamento ou simplesmente, densidade de deslocamento, D ~ = ε0 E,
~ que mede a quantidade de
carga por unidade de área. Sua unidade é, então, C/m2 :

~ = ε0 E
~ ~ = Q
D então: D âr .
4π r2

Ilustrações:

1) Encontre o vetor D~ na região ao redor de uma linha de cargas uniforme de 8 nC/m situada no
~ a uma distância de 6 m sobre o eixo ortogonal à linha?
eixo z no espaço livre. Quanto vale |D|

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 1: Lei de Gauss

1) Uma carga puntiforme é colocada no centro de uma superfície gaussiana esférica. O valor do
fluxo de campo elétrico φ mudará se:

(a) a esfera for substituída por um cubo de mesmo volume?

(b) a superfície gaussiana for substituída por um cubo de volume dez vezes maior?

(c) a carga for afastada do centro da esfera original permanecendo no seu interior?

(d) a carga for removida para fora da esfera original?

(e) uma segunda carga for colocada no interior da esfera original?

(f) uma segunda carga for colocada muito próxima da esfera original, porém fora dela?

2) Uma carga de 1, 8 µC está no centro de uma superfície gaussiana cúbica, de aresta 55 cm. Qual
é o fluxo total de campo elétrico sobre esta superfície?

3) Considere as suas respostas nos dois exercícios anteriores e responda:

(a) É possível calcular o campo elétrico na superfície cúbica do exercício 2). Justifique!?

(b) Tente calculá-lo. Você encontrará grande dificuldade neste cálculo! Explique o por quê desta
dificuldade!

(c) O que você pode mudar no problema 2) para calcular o campo elétrico gerado por aquela carga
utilizando a Lei de Gauss?

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 1: Lei de Gauss

~
A Lei de Gauss e o vetor deslocamento D:

Como φ = εq0e = S E
H
~ · dA
~eD ~ = ε0 E,
~ a Lei de Gauss pode ser escrita como φ = qe = H D ~ · dA.
~
S
Como a carga qe é a carga total envolvida pela superfície gaussiana, podemos expressá-la de várias
maneiras, de acordo com a simetria do problema:
R
• qe = L ρl dl para uma distribuição linear de cargas;
R
• qe = S ρs dS para uma distribuição superficial de cargas;
R
• qe = V ρv dV para uma uma distribuição volumétrica de cargas.

Então:


H
~ · dA
D ~ = R ρl dl para uma distribuição linear de cargas;
S L


H
~ · dA
D ~ = R ρs dS para uma distribuição superficial de cargas;
S S


H
~ · dA
D ~ = R ρv dV para uma uma distribuição volumétrica de cargas,
S V

sendo esta última, a expressão mais geral, capaz de representar qualquer umas das outras distribuições
de cargas. Então a Lei de Gauss se resume na expressão: S D
H
~ · dA
~ = R ρv dV . Esta expressão
V
pode ser calculada por aproximação, utilizando o teorema da divergência.

Considere um ponto P (x, y, z) num sistema de coordenadas cartesianas. O valor de D ~ no ponto


~ 0 , expresso em termos das suas comonentes cartesianas é dado por: D
P, D ~ 0 = D0x î + D0y ĵ + D0z k̂.
Como estamos num sistema de coordenadas cartesianas, escolhemos uma superfície gaussiana na
forma de uma caixa retangular entrada em P , de lados ∆x, ∆y e ∆z. Aplicando a Lei de Gauss:

I
qe = ~ · dA
D ~
IS I I I I I
qe = ~ · dA
D ~1 + ~ · dA
D ~2 + ~ · dA
D ~3 + ~ · dA
D ~4 + ~ · dA
D ~5 + ~ · dA
D ~6
S S S S S S

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 1: Lei de Gauss

Sobre a face frontal:

I
~ · dA
D ~ 1 = (Dx î + Dy ĵ + Dz k̂) · (∆y∆z î)
IS
~ · dA
D ~ 1 = Dx ∆y∆z
S
∆x δDx
Dx = D0x +
2 δx
~ 1 = D0x + ∆x δDx ∆y∆z.
I
~ · dA
D
S 2 δx

Sobre a face de trás:

I
~ 1 = (Dx î + Dy ĵ + Dz k̂) · (∆y∆zˆ( − i))
~ · dA
D
IS
~ · dA
D ~ 1 = −Dx ∆y∆z
S
( )
∆x ∂Dx
Dx = − D0x −
2 ∂x
~ 1 = −D0x + ∆x ∂Dx ∆y∆z.
I
~ · dA
D
S 2 ∂x
∂Dx
Somando as contribuições das faces da frente e de trás, temos: ∂x
∆x∆y∆z.

∂Dy
Fazendo o mesmo procedimento para as faces direita e esquerda, temos: ∂y
∆x∆y∆z.

∂Dz
E o mesmo procedimento para as faces de cima e de baixo, temos: ∂z
∆x∆y∆z.

Somando:
!
I
~ · dA
~= ∂Dx ∂Dy ∂Dz
qe = D + + ∆V,
S ∂x ∂y ∂z

~ · dA
~
H !
qe S D ∂Dx ∂Dy ∂Dz
= = + + .
∆V ∆V ∂x ∂y ∂z

Levando ao limite ∆V → 0:

~ · dA
~
H !
qe S D δDx ∂Dy ∂Dz
lim = lim = + + ,
∆V →0 ∆V ∆V →0 ∆V ∂x ∂y ∂z

H
~ · dA
D ~
ρv = lim S ~
= div D,
∆V →0 ∆V

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 1: Lei de Gauss

Teorema da divergência para o vetor deslocamento de fluxo:

H
~ · dA
D ~
~ ·D
∇ ~ = lim S
= ρv .
∆V →0 ∆V

“A divergência do vetor deslocamento é a descarga de fluxo por unidade de volume, sobre uma
pequena superfície fechada.”

Ilustrações:

1) Determine o valor aproximado da carga contida em um volume incremental de 10−9 m3 , locali-


zado na origem de um sistema de coordenadas cartesianas, se o vetor deslocamento vale
~ = e−x sin y î − e−x cos y ĵ + 2z k̂.
D

~ = 8xyz 4 î +
2) Determine o valor da densidade volumétrica de carga de um sistema para o qual D
4x2 z 4 z ĵ + 16x2 yz 3 k̂.

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 1: Lei de Gauss

Primeira Equação de Maxwell:

~ ·D
∇ ~ = ρv .

~ ·D
Em coordenadas esféricas: ∇ ~ = 12 ∂ (r2 Dr ) + 1 ∂ (Dθ sin θ) + 1 ∂Dφ . Se con-
r ∂r r sin θ ∂θ r sin θ ∂φ
siderarmos uma carga pontual na origem de um sistema de coordenadas esféricas, observamos que
o vetor deslocamento de fluxo é invariante nas coordenadas θ e φ: simetria esférica. Portanto:
~ ·D
∇ ~ = Q 2 âr . Então:
~ = 12 ∂ (r2 Dr ). Para uma carga pontual: D
r ∂r 4πε0 r

1 d Q
 
~ ·D
ρv = ∇ ~ = r2 .
r2 dr 4πε0 r2

Assim, para uma carga pontual ρv = 0 se r 6= 0 e ρv = +∞ se r = 0. A Lei de Gauss é conhecida


como a Forma Integral da Primeira Equação de Maxwell.
Ilustração:

Determine uma expressão para a densidade volumétrica de carga associada aos campos
~ = 4xy î + 2x2 ĵ + 2x2 y k̂;
a) D z z z
~
b) D = z sin φâρ + z cos φâφ + z sin φâz .

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Capítulo 2

Energia Potencial elétrico

Suponha que desejamos deslocar uma carga de teste qt sobre uma linha L desde um ponto A até
um ponto B, em uma região de campo elétrico E. ~ A força que atua sobre esta carga é FE = qt E. ~
Na direção da linha considerada: FE = qt E ~ · âL . Assim, para deslocar a carga será necessário
aplicar sobre ela uma força contrária à força elétrica, de módulo no mínimo igual ao módulo de F~E :
Fap = −qt E~ · âL . Se multiplicarmos esta expressão pelo deslocamento dL, temos força vezes deslo-
camento = trabalho realizado. Então: W = −qt (E ~ · âL ) dL. Se considerarmos que o deslocamento é
infinitesimal:

~ · âL ) dL,
dW = −qt (E
Z B
W = −qt ~ · âL ) dL,
(E
A

trabalho realizado para deslocar a carga de teste qt , desde um ponto A até um ponto B, numa região de
campo elétrico E,~ cujo deslocamento é dL ~ = B − A. A integral se faz sobre a linha de deslocamento
da carga teste, por isso é dita integral de linha, e significa a soma de todos os pequenos caminhos
infinitesimais, sobre a trajetória realizada pela carga teste, desde o ponto A até o ponto B. Por isso
dL~ = dxî + dy ĵ + dz k̂.

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 2: Energia Potencial elétrico

Ilustrações:

1) Uma carga de 6 nC de desloca do ponto A(4, 1, 1) µm para o ponto B(7, 5, 6) µm, numa região
~ = 12 (8xyz î + 4x2 z ĵ − 4x2 y k̂). Determine o trabalho realizado.
de campo elétrico dado por E z

2) Determine o trabalho realizado por umacarga de 2nC, que se desloca do ponto A(1, 0, 1)
 y = −3(x − 1)
para o ponto B(8/10, 6/10, 1), ao longo da reta , numa região de campo elétrico
 z= 1
~ = y î + xĵ + 2k̂.
E

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 2: Energia Potencial elétrico

Diferença de Potencial

A diferença de potencial entre dois pontos é definida como o trabalho realizado por um agente
externo, para deslocar uma carga de teste unitária de um ponto ao outro:
Z B
VBA = − ~ · âL ) dL,
(E
A

na qual A é o ponto final e B é o ponto final da trajetória da carga. O ponto A, frequentemente é o


infinito e o ponto A representa uma posição fixa da carga de teste unitária. A unidade da diferença de
potencial é o volt, V .

Trabalho e Diferença de Potencial de uma Linha de Cargas

Devemos observar que a integral que calcula o trabalho realizado para deslocar uma carga de
teste unitária de um ponto a outro é uma integral de linha, ou seja: a integração é feita em dL, ~
que em coordenadas cartesianas vale dL ~ = dxî + dy ĵ + dz k̂; em coordenadas cilíndricas vale
dL~ = dρâρ + ρdφâφ + dzâz e em coordenadas esféricas vale dL
~ = drâr + rdθâθ + r sin θdφâφ .
O campo elétrico de uma linha de cargas tem simetria cilíndrica, como visto em secção anterior e
é dado por:

~ = Eρ âρ = ρL
E âρ ,
2πε0 ρ
Z B Z B
W = −qt ~ · dL
E ~ = −qt Eâρ · (dρâρ + ρdφâφ + dzâz ),
A A
Z B Z B
ρL
W = −qt Edρ = −qt dρ,
A A 2πε0 ρ
qt ρ L Z B dρ
W =− ,
2πε0 A ρ
q t ρL
W =− [ln(B) − ln(A)] ,
2πε0
q t ρL B
 
W =− ln ;
2πε0 A
a diferença de potencial entre os pontos A e B é então:

W ρL B
 
VBA = = ln .
qt 2πε0 A

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 2: Energia Potencial elétrico

Trabalho e Diferença de Potencial de uma Carga Pontual

O campo elétrico de uma carga pontual tem simetria esférica e só varia de acordo com o raio. Este
valoe é dado pela lei de Coulomb: E ~ = Er âr = Q 2 âr . O trabalho realizado para deslocar uma
4πε0 r
carga teste, da superfície de uma esfera de raio rA até a superfície de uma esfera de raio rB é dado
por:
Z B Z B
W = −qt ~ · dL
E ~ = −qt Eâr · (drâr + rdθâθ + r sin θdφâφ ),
A A

Z B Z B
Q
W = −qt Edr = −qt dr,
A A 4πε0 r2
Z B
qt Q dr
W =− ,
4πε0 A r2
qt Q 1 1
 
W = − ;
4πε0 rB rA
a diferença de potencial entre os pontos A e B é então:

W Q 1 1
 
VBA = = − .
qt 4πε0 rB rA

Potencial absoluto

Representa o potencial medido em um determinado ponto do espaço. Esta medida só é possível


se considerarmos uma referência única para a medida de potencial em todos os pontos do espaço.
Ou seja: o potencial absoluto é uma medida relativa. Em geral, definimos o potencial “zero” de
referência, no infinito. Então podemos dizer que o potencial absoluto na superfície de uma casca
esférica de raio rA , ao redor de uma carga pontual, é VA e que o potencial absoluto na superfície de
uma casca esférica de raio rB é VB . Só então podemos estabelecer a diferença de potencial entre os
pontos A e B como sendo VBA = VB − VA .
Observando o resultado de VBA para uma carga pontual, podemos separar os valores de VA e VB :

Q 1 Q 1
VBA = VB − VA = − .
4πε0 rB 4πε0 rA

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 2: Energia Potencial elétrico

Ilustração:

~ = 6x2 î + 6y ĵ + 4ẑ.
1) Um campo elétrico é expresso por E

a) Calcule a diferença de potencial entre os pontos M (2, 6, −1) e N (−3, −3, 2).

b) Se o potencial no ponto Q(4, −2, −35) é nulo, determine o poencial no ponto M ;

c) Se o potencial no ponto P (1, 2, −4) vale 2, determine o poencial no ponto N .

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 2: Energia Potencial elétrico

Campo potencial de um sistema de cargas: propriedade conservativa

Para podermos definir a grandeza potencial elétrico, impomos que este não depende da trajetória
que a partícula teste faz entre os pontos a e b. Este é o conceito de um campo conservativo. Assim,
o potencial devido a uma carga pontual, num ponto cuja representação posicional é ~r, só depende da
diferença ~r −~r1 , sendo ~r1 o vetor posição da carga geradora do campo, Q1 . Devido a esta depebdência
única de V com ~r −~r1 , o princípio da superposição é válido. Então, se colocarmos uma segunda carga,
Q2 , com vetor posicional ~r2 , o potencial total no ponto considerado, de vetor posicional ~r, é dado plea
soma dos potenciais gerados por Q1 e Q2 :

Q1 Q2
V (~r) = V1 + V2 = + .
4πε0 |~r − ~r1 | 4πε0 |~r − ~r2 |

Para um sistema com n cargas, temos:


n
X 1 Qi
V (~r) = .
i=1 4πε0 |~r − ~ri |

Como cada carga Qi pode ser representada por ρv ∆V , então o potencial pode ser expresso por:

ρv (~r1 )∆V1 ρv (~r2 )∆V2 ρv (~rn )∆Vn


V = + + ... + ,
4πε0 |~r − ~r1 | 4πε0 |~r − ~r2 | 4πε0 |~r − ~rn |

Z
ρv (~r 0 )dv 0
V (~r) = .
v 4πε0 |~r − ~r 0 |

Para uma linha de cargas, a distribuição de cargas é linear, dada por ρL e para uma lâmina de
cargas, a distribuição de cargas é superficial, dada por ρS . Então, o potencial para estas duas configu-
rações são dados, respectivamente, por:
Z
ρL (~r 0 )dL0 Z
ρS (~r 0 )dS 0
V (~r) = e V (~
r ) = .
4πε0 |~r − ~r 0 | S 4πε0 |~r − ~r 0 |

Campo potencial de um anel carregado

Considere um anel carregado com uma densidade linear de


cargas dada por ρL , como na figura. Assim, dL0 = adφ, ~r =

zâz , ~r 0 = aâρ , |~r − ~r 0 | = a2 + z 2 . Finalmente, temos a
integral:
Z 2π
ρL adφ0 ρL a Z 2π
V = √ = √ dφ0 ,
0 4πε0 a2 + z 2 4πε0 a2 + z 2 0

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 2: Energia Potencial elétrico

ρ a
V = √L .
2πε0 a2 + z 2

Assim, estabelece-se que o potencial elétrico num dado ponto A, considererando a referência de
potencial nulo no infinito é dado por
Z A Z A
VA = − ~ · dL
E ~ ou, pela diferença de potencial VAB = VA − VB = − ~ · dL,
E ~
∞ B

que não depende do caminho escolhido para a integral de linha, entre os pontos A e B, ou desde
o infinito até o ponto A. Então, se considerarmos que a carga teste move-se sobre uma trajetória
fechada, voltando ao ponto inicial, o trabalho realizado é nulo e
I
~ · dL
E ~ = 0.

Esta equação é válida para campos estáticos (que não variam com o tempo), por isso são ditos
campos conservativos e as forças relacionadas com estes campos são ditas forças conservativas. A
expressão acima demosntra que o campo elétrico (campo vetorial) e o potencial elétrico (campo es-
calar), gerados por uma carga fixa no espaço e constante no tempo, são campos conservativos e que
a força coulombiana, relacionada com estes campos, também é conservativa. Esta expressão e su-
ficiente para descrever fenômenos eletrostáticos. Porém, num sistema realístico, as cargas elétricas
são naturalmente variáveis no tempo e estão em constante movimento, gerando campos elétricos e
campos potenciais não-conservativos e cujas forças não são mais bem descritas pela lei de Coulomb.
Maxwell entra na história para resolver a descrição destes campos não-conservativos, que fazem parte
da natureza e descobre que campos elétricos que variam no tempo, geram campos magnéticos, e que
campos magnéticos que variam no tempo, geram campos elétricos. Nasce o Eletromagnetismo, pro-
priamente dito, sendo esta lei: a lei de Ampère, a base do funcionamente de motores e geradores
elétricos.

Gradiente de potencial

Considere a figura ao lado. Já sabemos que o campo poten-


cial, com referência de potencial nulo no infinito, é dado pela
integral V =
R
E~ · dL.
~ O sentido inverso desta equação é
dado pela equação diferencial ∂V = −E ~ · ∂ L,
~ com ∂V ≈ ∆V
e ∂L~ ≈ ∆L. ~ O produto escalar entre E ~ e ∆L ~ é dado por
E∆L cos θ. Então, temos:

∆V
∆V = −E∆L cos θ ⇒ = −E cos θ,
∆L

19
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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 2: Energia Potencial elétrico

o valor máximo desta expressão é obtido quando θ = π, então cos π = −1 e



∆V ∂V dV
= =E ⇒ = E.
∆L ∂L máx dL máx

Esta expressão carrega informações importantes a cerca das grandezas envolvidas:

1) O módulo do campo elétrico na região considerada é dado pelo valor máximo da taxa de
variação espacial do potencial;
2) O valor máximo é obtido quando o vetor campo elérico é oposto ao deslocamento infinitesimal
~ é oposto ao sentiso no qual o
da carga de teste, sujeita ao campo potencial nesta região. Ou seja: E
potencial cresce.

Este resultado corrobora a lei de forças entre cargas de mesma natureza e entre cargas de naturezas
opostas!! E também está coerente com a nossa definição de superfícies equipotenciais: superfícies
com o mesmo potencial. Nestas superfícies ∆V = 0, então: ∆V = −E ~ · ∆L
~ = 0, portanto: E~ e ∆L~
devem ser ortogonais. Ou seja: E~ deve ser ortogonal às superfícies equipotenciais.

Para uma superfície qualquer, temos: E ~ = − dV â , sendo âN , um vetor normal à superfície
dL máx N
equipotencial, no sentido de crescimento do potencial. Esta expressão é o próprio gradiente de V :
~ = −∇V
E ~ .
Se estivermos utilizando um sistema de coordenadas cartesianas, temos:
!
~ = − ∂V î + ∂V ĵ + ∂V k̂ ;
E
∂x ∂y ∂z

em coordenadas cilíndricas:
!
~ = − ∂V âρ + 1 ∂V âφ + ∂V âz
E e
∂ρ ρ ∂φ ∂z

em coordenadas esféricas:
!
~ = − ∂V âr + 1 ∂V âθ + 1 ∂V âφ .
E
∂r r ∂θ r sin θ ∂φ

Ilustração:

Numa dada região do espaço, há um campo vetorial que pode ser expresso por V = 2x2 y − 5z.
Determine o potencial, o vetor campo elétrico, a densidade de fluxo elétrico e a densidade volumétrica
de carga no ponto P (−4, 3, 6) pertencente a esta região.

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 2: Energia Potencial elétrico

Solução:

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 2: Energia Potencial elétrico

Questão 1:
Calcule o trabalho realizado ao deslocarmos uma carga de 4 C de B(1, 0, 0)m até A(0, 2, 0)m, ao
longo do caminho y = 2 − 2x, z = 0, quando o campo elétrico na região vale: (a) E ~ = 5î V /m, (b)
E~ = 5xî V /m e (c) E
~ = 5xî + 5y ĵ V /m.

Questão 2:
Em uma dada região no espaço, há um campo potencial de simetria retangular, cujas superfícies
equipotenciais são planos paralelos ao palo coordenado xz. Uma carga move-se, devido a um agente
externo, realizando a trajetória (1, 2, 4) → (2, −1, 4) → (−3, 4, 4) → (1, 2, 5). Uma segunda carga,
sujeita ao mesmo agente externo, move-se segundo a trajetória 4x − y 2 = 0 e uma terceira carga,
devido à mesma força externa move-se através dos pontos (1, 2, 4) → (2, −1, 5) → (−3, 4, 5) →
(1, 2, 5). Faça uma análise comparativa entre os trabalhos realizados pelas três partículas.

Questão 3:
A figura abaixo mostra parte de uma região de campo potencial bidimensional. Determine valo-
res aproximados de E~ em coordenadas cartesianas nos pontos (a), (b) e (c) da figura. O retículo tem
escala de 1 mm.

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Capítulo 3

Corrente elétrica e Densidade de corrente


elétrica

Um átomo de um metal qualquer, isolado, é eletricamente


neutro. Por exemplo, um átomo de cobre é constituído de um
núcleo que contém 29 prótons cercados por 29 elétrons; o da
prata contém 47 prótons e 47 elétrons. Já um fio metálico con-
tém um número muito grande de partículas. Por isso a sua es-
trutura é diferente. No interior do metal cada átomo perde em
geral, um ou dois elétrons, tornando-se, portanto, um íon pos-
itivo. Os íons se arranjam de modo regular, constituindo uma
rede cristalina tridimensional, tal como a figura ao lado.
Esses elétrons perdidos ficam vagando pelos espaços vazios entre os íons. Dessa forma o fio
metálico fica eletricamente neutro. A distância entre dois íons da rede cristalina é da ordem de três
vezes o raio do íon. Quer dizer, apenas cerca de 15% do volume total de um fio são ocupados pelos
íons; o restante do espaço está disponível para o movimento de parte dos elétrons. Em outras palavras,
num metal a grande maioria dos elétrons está presa na vizinhança dos núcleos, enquanto outros podem
se deslocar livremente e por isso são denominados elétrons livres.
O número de elétrons em um metal é muito grande. Podemos fazer uma estimativa para um fio de
cobre. Se considerarmos que há um elétron livre por átomo de cobre, a densidade dos elétrons livres
por unidade de volume é igual à densidade dos átomos. A densidade volumétrica de átomos de cobre
à temperatura ambiente é da ordem de 8, 92 g/cm3 . O átomograma de cobre é 63, 5 g/mol. Portanto,
o número de elétrons livres por unidade de volume é

6, 02.1023 átomos/mol
n= = 8, 46.1023 átomos.
63, 5 g/mol

Na ausência de um processo de eletrização, os elétrons


livres de um metal não podem se desprender do material, mas
são livres para se moverem no interior do metal. Esse “livre”

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 3: Corrente elétrica e Densidade de corrente elétrica

significa que as interações entre os elétrons livres e os núcleos


da rede iônica são fracas. As interações entre as superfícies dos
metais e os elétrons livres são fortes. Por isso eles não conseguem sair do metal se que haja um agente
externo atuando. As superfícies de um metal funcionam como as paredes de uma caixa à tempera-
tura ambiente, na região do espaço confinada pelas superfícies do metal, tanto os elétrons quanto os
íons estão em movimento de origem térmica. Enquanto cada íon oscila em torno da sua posição de
equilíbrio, o movimento de um elétron livre é do tipo térmico desordenado ou aleatório, como o de
moléculas gasosas em recipientes fechados, como na figura ao lado.
Corrente elétricas são, então, cargas elétricas em movimento ordenado. Apesar do fio metálico
ter elétrons livres que se deslocam com uma velocidade média de 100.000 m/s não existe corrente
elétrica nele, pois o movimento é aleatório. Só existe corrente elétrica quando o movimento elétrons
está ordenado, ou seja: quando o número elétrons que atravessam uma área imaginária A aberta,
localizada interior do metal em um dado sentido, é maior do que o número elétrons que atravessam a
mesma área em sentido contrário. Veja as figuras.

A corrente elétrica e, então, definida como a razão entre a variação de carga que atravessa uma
seção reta do condutor num determinado intervalo de tempo: i = ∆q∆t
. Se considerarmos um intervalo
muito pequeno, tendendo a zero, apenas uma variação infinitesimal de carga atravessará a seção reta
do condutor e temos como resultado:
Z t
dQ
I= ou: Q = Idt.
dt 0

A unidade de corrente elétrica é [C/s], que recebe o nome especial ampère, [A]. Então:
1 A = 1C/s.
Quando o movimento dos elétrons é aleatório: o número de elétrons que atravessam a área A em
um sentido é igual ao número de elétrons que atravessam A em sentido contrário. Portanto, a corrente
elétrica é nula (figura acima, lado esquerdo). Quando um metal é ligado a uma tomada ou a uma pilha,
isto é, quando ele é ligado a uma fonte de energia elétrica, aparece um campo elétrico que atua sobre
os elétrons livres que são acelerados pelo campo elétrico, com uma velocidade que tem em média a
mesma direção do campo elétrico criado pela fonte e sentido contrário ao dele. Essa velocidade é
denominada velocidade de deslocamento. A velocidade de deslocamento está representada na figura
acima (lado direito) pelas setas cinza. A representação das velocidades no desenho não está na escala

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 3: Corrente elétrica e Densidade de corrente elétrica

correta.
Quando o metal é ligado a uma fonte de energia elétrica, a força elétrica que acelera os elétrons
livres na direção do campo elétrico está sempre presente, fazendo com que a energia cinética desses
elétrons aumente no intervalo de tempo entre duas colisões (com a rede ou com outros elétrons). Com
a ocorrência de um choque, essa energia é em parte transferida aos íons da rede. Em outras palavras,
o campo elétrico causa um aumento na energia cinética dos elétrons livres. Essa energia é transferida
à rede cristalina por meio de choques, fazendo com que ela vibre mais intensamente, representando
um aumento de sua energia interna. Esse aumento de vibração é percebido macroscopicamente como
aumento da temperatura do fio, que passa a se comportar como uma fonte de calor para o meio. O
aquecimento de um condutor pela passagem de corrente elétrica é denominado Efeito Joule.
As interações dos elétrons livres com a rede de íons dependem do número de elétrons livres por
unidade de volume, da temperatura do condutor e da tensão aplicada. O número de elétrons livres por
unidade de volume varia de condutor para condutor. Por isso, as correntes elétricas que atravessam
dois condutores diferentes ligados a uma mesma fonte de tensão são diferentes. Dizemos que o con-
dutor que é atravessado pela corrente elétrica maior oferece uma resistência menor ao movimento dos
seus elétrons livres e aquele que é atravessado pela menor corrente elétrica oferece maior resistência
ao movimento dos seus elétrons livres.
A resistência de um condutor é definida, portanto, como a razão entre a diferença de potencial
aplicada nos terminais do condutor e a corrente elétrica, isto é:

∆V
R= .
I

A unidade de resistência elétrica é o ohm [Ω]. Portanto, para medir a resistência de um condutor
é necessário medir a diferença de potencial entre os seus terminais e a corrente elétrica.

Densidade de corrente elétrica:

Para se estabelecer o fluxo de cargas através de uma seção reta de um condutor em um determinado
ponto do circuito, torna-se mais amigável definir uma grandeza que relacione a corrente elétrica e a
área desta seção reta. Esta grandeza é chamada densidade de corrente, J. ~ Perceba que a densidade
de corrente deve ser uma grandeza vetorial, pois ela depende da direção relativa entre a direção
de deslocamento dos elétrons e a direção normal à área da seção reta do condutor e é dada por
J~ = ∆S
∆I ˆ
JN , na qual JN é um versor normal à superfície considerada. Então:

∆I = JN ∆S.

Se a densidade de corrente faz um ângulo θ 6= 90o com o vetor de área, temos:

∆I = J~ · ∆S,
~

25
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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 3: Corrente elétrica e Densidade de corrente elétrica
Z
I= J~ · dS.
~
S

Um conjunto de cargas se movendo dentro de um material pode ser comparada com o movi-
mento de uma parcela de cargas consituinte de uma densidade volumétrica de cargas. Considere
um elemento de carga ∆Q = ρv ∆v = ρv ∆S∆L, como mostra a figura (faça a figura junto com o
professor):

No intervalo de tempo ∆t, o elemento de cara moveu-se de uma distância ∆x. Então, temos:
∆Q = ρv ∆S∆x, através de um plano de referência perpendicular à direção de deslocamento:

∆Q ∆x
∆I = = ρv ∆S ,
∆t ∆t

levando ao limite ∆t → 0, temos:

∆I = ρv ∆Svx ,

na qual vx representa a componente x da velocidade ~v . Em termos da densidade de corrente:

∆I
= ρv vx ⇒ Jx = ρv vx , em todas as direções, temos:
∆S

J~ = ρv~v .

A corrente I é dita corrente de convecção e J~ é chamada densidade de corrente de convecção.

Ilustração:

Dada a densidade de corrente J~ = 10ρz 2 âρ − 4ρz 2 cos φâφ + sin3 φâz A/m2 . Determine:
a) a densidade de corrente em P (2, π/3, 3);
b) a corrente total que flui para fora da faixa circular ρ = 3, 0 < φ < 2π e 2 < z < 2, 5.

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 3: Corrente elétrica e Densidade de corrente elétrica

A Equação da Continuidade

Já começamos a falar em corrente elétrica, que nada mais é do que a variação de cargadurante
um intervalo de tempo. Porém, ainda estamos estudando eletrostática, por isso devemos enxergar
esta variação de carga no tempo como algo que deve ser compensado. Considerando o princípio
da conservação da carga, sabemos que carga elétrica é algo que não pode ser criado e nem destruído,
mas pode ser transferida de um corpo para outro, de forma que quem recebe uma quantidade de carga,
deve estar recebendo a mesma quantidade de carga que foi cedida por outro corpo, com o qual houve
contato (ou atrito). a equação da continuidade segue este princípio, quando consideramos uma região
limitada por uma superfície fechada. A corrente através da superfície fechada é dada por
I
I= J~ · dS,
~
S

e este fluxo de cargas positivas para fora da superfície S deve ser equilibrada pelo aumento de cargas
negativas dentro desta superfície. Se a carga dentro da superfície é Qi , então a taxa de decaimento é
dada por − dQdt
i
, e o princípio da conservação de cargas requer que:

~ = − dQi :
I
I= J~ · dS forma integral da equação da continuidade.
S dt

O sinal negativo significa que se trata do sentido real da corrente elétrica. Isto é: a direção do
deslocamento dos portadores de cargas negativas (elétrons). Se utilizarmos o sentido convencional
de corrente, o sentido de deslocamento dos portadores de cargas positivas, (lacunas) então temos
I = dQdt
i
. Na nossa construção, a corrente com sinal negativo está saindo da superfície fechada,
enquanto que a corrente com sinal positivo está entrando na superfície.
A forma diferencial da equação da continuidade é obtida através do teorema da divergência:

~ = − ∂ρv ,
~ · J)
(∇
∂t

o que significa que a corrente que diverge de um pequeno volume relativo é igual à taxa de redução
de carga por unidade de volume em cada ponto.

Ilustração:

Suponha que existe uma densidade de corrente J~ = −106 z 1,5 âz A/m2 na região 0 ≤ ρ ≤ 20 µm.
Determine:
a) a corrente total que atravessa a superfície z = 0, 1 m na direção âz ;
b) ρv no ponto em que a velocidade da cargaé 2.106 m/s em z = 0, 1 m;
c) a velocidade da carga no ponto em que z = 0, 15 m e ρv = −2000 C/m3 .

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 3: Corrente elétrica e Densidade de corrente elétrica

Condutores metálicos

O estudo do comportamento dos elétrons em um material condutor passa pelo entendimento da sua
constituição atômica. Um elétron do átomo pode ser fraca ou fortemente ligado ao núcleo atômico,
dependendo da órbita por onde ele realiza o seu movimento. Os elétrons de um átomo são, então,
classificados em dois grandes grupos: os elétrons cororianos, que formam o caroço iônico (núcleo
+ elétrons próximos, que formam a camada de valência) e os elétrons livres, que formam a nuvem
eletrônica na camada de condução, estes elétrons são livres para circularem pela rede cristalina. A
energia que prende um elétron ao núcleo é tanto maior quando menor for a sua distância ao núcleo.
Esta energia chama-se energia potencial elétrica. Em contrapartida, o elétron mais afastado do núcleo
tem maior energia cinética. Por este motivo, os elétron mais afastados, os de condução têm maior
mobilidade dentro do material. A energia de ligação (energia potencial elétrica) é uma quantidade
negativa, pois para que um elétron se afaste do núcleo, é necessário fornecer-lhe energia através de
uma fonte externa.
Assim, o espaço vazio do átomo pode ser dividido em regiões chamadas níveis de energia, que
estabelecem estados de energia para o elétron. A teoria quântica prevê que somente determinados
níveis de energia são permitidos para o movimento dos elétrons. Assim, para passar de um nível
de energia para outro, um elétron deve absorver ou emitir uma certa quantidade de energia bem
determinada.
Em um solido cristalino, os átomos estão muito mais próximos uns dos outros e há um número
muito maior de elétrons livres e, portanto, um número maior de níveis de energia permitidos. Esses
inúmeros níveis de energia são agrupados em largas faixas, ou bandas de energia, cada banda sendo
constituída de inúmeros níveis discretos de energia de valores muito próximos. Os maiores níveis de
energia são os de energia menos negativa e, portanto, os mais afastados. Os elétrons que ocupam estes
níveis de energia são ditos elétrons de valência e esta banda é dita banda de valência. Os elétron de
maior mobilidade, ou seja de menor energia de ligação estão na banda de condução e são chamados
de elétrons de condução. Entre as bandas de valência e de codução há uma banda proibida, chamada
gap de energia.
Os materiais cristalinos podem ser classificados de acordo com as suas bandas de valência e de
condução, da seguinte forma:

• condutor: não há gap de energia e as bandas de valência e de condução se interseccionam;

• semicondutor: bandas de valência e de condução parcialmente preenchidas e gap de energia


relativamente baixo, em torno de 3 − 4 eV ;

• isolante: banda de valência totalmente preenchida e banda de condução totalmente vazia. O


gap de energia é maior que 6 eV .

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 3: Corrente elétrica e Densidade de corrente elétrica

O condutor imerso em um campo elétrico

Quando um condutor está imerso em uma região de campo elétrico, estabelece-se uma corrente
elétrica. Os elétrons livres estão sujeitos a uma força F~ = −eE.
~ Se estivesse no espaço livre o elétron
seria constantemente acelerado. Como o elétron está confinado no material, a velocidade fica limitada
no valor da velocidade de deriva ~vd = −µe E, ~ na qual µe mede a mobilidade do elétron. Definimos
uma outra grandeza chamada densidade de carga do elétron livre, ρe . Então podemos, finalmente,
escrever J~ = −ρe µe E~ ou J~ = σ E,
~ na qual σ = −ρe µe é a condutividade elétrica, medida em siemens
po metro, [S/m]1 .
A equação J~ = σ E ~ é a forma pontual da lei de Ohm: a condutividade é constante para largas
faixas de densidade de corrente e campo elétrico aplicado. Os condutores metálicos obedecem muito
fielmente a esta lei e são chamados de materiais isotrópicos (mantém as mesmas propriedades em
todas as direções). Então a resistividade e a condutividade de um material são grandezas inversas.
Nota-se então que quanto maior a temperatura, maior é a vibração da rede e com isso, há uma
maior dificuldade em estabelecer uma corrente elétrica. Ou seja, quanto maior a vibração, menor a
energia cinética de translação e portanto, menor é a mobilidade dos elétrons livres do material.
Se juntarmos o efeito de mobilidade de todos os elétrons livres do condutor, temos:
Z Z b
I= J~ · dS
~ e Vab = − ~ · dL
E ~ = −E
~ ·L
~ ab ⇒ V = EL.
S a

Assim, temos:

I V L
J= = σE = σ ⇒ V = I,
S L σS
L
sendo R = σS
chamada de resistência elétrica. Chegamos na lei de Ohm na forma macroscópica:

V = RI,

que significa que a corrente varia linearmente com o potencial aplicado. A resistência de um material
ôhmico é constante e pode ser mais geralmente expresso por:

V ~ · dL
− ba E
R
~
R= = R .
I ~ ~
S σ E · dS

1
1 S = 1 A/V e é igual ao inverso de 1 Ω = 1 V /A

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 3: Corrente elétrica e Densidade de corrente elétrica

Condições de fronteira em condutores

1. A carga líquida no interior de um condutor é nula;

2. O campo elétrico no interior de um condutor é nulo.

Justificativas:

1) Suponha que por alguma fonte externa, apareça uma carga líquida negativa no interior de um
condutor. Pela lei de Coulomb, somos forçados a pensar que, os elétrons em excesso no interior do
condutor sofrerão uma força repulsiva, fazendo-os se afastarem o máximo possível uns dos outros,
indo para a superfície do condutor. Assim, por mais que o condutor estja carregado negativamente,
esta carga jamais ficará no interior do condutor, migrando para a sua superfície.

~ · dS.
2) Pela lei de Gauss, εq0e = S E
R
~ Se tomarmos uma superfície gaussiana interna ao condutor,
pouca coisa menos que ele, uma superfície rente à superfície externa do condutor, o campo elétrico
deve ser nulo, pois não há carga dentro do condutor.

Estas duas condições nos garantem ainda estarmos trabalhando com cargas estáticas. Porém, nos
impõe que, se há carga líquida na superfície do condutor, então existe uma densidade de carga super-
ficial não-nula e, portanto, há um campo elétrico fluindo a partir deste condutor. Como a superfície
de qualquer condutor real não é perfeitamente reta ou lisa, o vetor deslocamento de carga deve ser
dividido em uma componente normal e uma tangencial à superfície, como mostra a figura abaixo.

Já sabemos que para um caminho fechado


H
~ · dL
E ~ = 0. Se considerarmos o caminho fechado
abcd da figura acima, temos:
Z b Z c Z d Z a
~ · dL
E ~+ ~ · dL
E ~+ ~ · dL
E ~+ ~ · dL
E ~ = 0;
a b c d

1 1
Et ∆w − EN ∆h + 0 + EN ∆h = 0 ⇒ Et ∆w = 0 ⇒ Et = 0.
2 2

Portanto, a primeira condição de fronteira para um condutor no espaço livre é:

A componente tangencial do campo elétrico é nula.

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 3: Corrente elétrica e Densidade de corrente elétrica

Considerando o cilindro da figura acima e escrevendo a lei de Gauss para o vetor deslocamento,
R
~ · dS,
q= S D ~ temos:

Z Z Z
~ · dS
D ~+ ~ · dS
D ~+ ~ · dS
D ~ = q;
topo base lateral

q
DN ∆S + 0 + 0 = q ⇒ DN = ⇒ DN = ρ S .
∆s
Portanto, a segunda condição de fronteira para um condutor no espaço livre é:

Há uma distribuição de carga na superfície do condutor.

Matematicamente, as condições de fronteira para um condutor no espaço livre são:

Dt = Et = 0;

DN = ε0 EN = ρS .

Consequências:

1. A intensidade de campo elétrico estático no interior de um condutor é nula;

2. A intensidade de campo elétrico estático na superfície de um condutor é sempre normal à


superfície;

3. A superfície de um consutor é uma superfície equipotencial.

Ilustração:

O potencial na superfície de um condutor é dado por 3, 6V = 9x2 + 4y 2 . Determine:


a) o potencial no ponto P (2, −9, 3)
b) o campo elétrico neste ponto;
c) o deslocamento de carga neste ponto;
d) a densidade superficial de carga neste ponto.

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 3: Corrente elétrica e Densidade de corrente elétrica

Polarização em materiais dielétricos

De acordo com a teoria atômica clássica, os átomos são constituídos de um núcleo formado por
prótons e nêutrons, orbitados por elétrons carregados negativamente. À medida que se fornece energia
a um elétron, este passa para uma órbita mais afastada. Em alguns materiais, o elétron (ou elétrons)
que está na órbita externa está frouxamente ligado ao átomo, e migra facilmente de um átomo para
outro, quando sofre a ação de um campo elétrico. Estes elétrons recebem o nome de cargas ver-
dadeiras. Materiais que possuem este tipo de comportamento recebem o nome de condutores.
Em outros tipos de materiais, porém, os elétrons estão de tal maneira presos ao átomo, que não
podem ser libertados pela aplicação de campos elétricos de pequena intensidade. Estes materiais
recebem o nome de dielétricos ou isolantes. Entretanto, quando um dielétrico é submetido a um
campo elétrico, ocorre uma polarização, ou seja, um deslocamento do elétron em relação à sua posição
de equilíbrio. As cargas induzidas em um isolante recebem o nome de cargas de polarização.
Outro grupo de materiais apresenta um comportamento intermediário entre condutores e isolantes.
São os chamados semicondutores. Sob certas condições podem agir como isolantes, mas com a
aplicação de calor ou de campo elétrico suficientemente fortes, se comportam como condutores.
Na figura a abaixo, existe um pequeno espaço vazio (barreira de energia) entre as bandas de
condução e de valência. Esse é o caso dos materiais condutores, onde o elétron passa facilmente de
uma banda para outra. Na figura b o espaço vazio é grande, e dificilmente o elétron passará de uma
banda para outra. Na figura c, o espaço vazio é intermediário entre os dois casos, e o material pode
se comportar ou como um condutor, ou como um isolante, dependendo das circunstancias, sendo
classificado com um semicondutor.

A mobilidade µe das particulas, e uma funcao da temperatura e o seu aumento apresenta con-
sequencias diferentes, no comportamento dos materiais condutores, isolantes e semicondutores. Em
um condutor metalico, por exemplo, o movimento vibratorio aumenta com o aumento da temperatura.
Consequentemente, ha uma diminuicao na velocidade de arraste, devido as colisoes desordenadas que
ocorrem no interior do material.
Por outro lado, nos materiais isolantes e semicondutores, o aumento da temperatura favorece o
aumento do movimento vibratorio, que contribui com o aumento da mobilidade das particulas, em
funcao do campo eletrico aplicado.
Embora os materiais condutores não possam armazenar energia em seu interior, os materiais

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 3: Corrente elétrica e Densidade de corrente elétrica

dielétricos, podem. Isso é possível porque ao se aplicar um campo elétrico externo em um dielétrico
não ocorre a movimentação de cargas livres, mas um deslocamento nas posições relativas das cargas
negativas (elétrons) e positivas, dando origem às cargas polarizadas. Esse armazenamento de energia
potencial ocorre contra as forças moleculares e atômicas normais do átomo.
O mecanismo real de deslocamento varia conforme o tipo de dielétrico. Alguns tipos de dielétri-
cos são constituídos por moléculas ditas polarizadas (por exemplo, a água), que possuem um desloca-
mento permanente entre os centros geométricos das cargas positiva e negativa. Cada par de cargas age
como um dipolo; um conjunto formado por uma carga positiva e uma carga negativa, separadas por
uma distância d. Normalmente esses dipolos estão orientados e dispostos aleatoriamente no interior
do material. Quando um campo elétrico externo é aplicado, eles se alinham em sua direção, como na
figura abaixo.

Em outros tipos de materiais este arranjo em dipolos não existe antes do campo elétrico ser apli-
cado. As cargas positivas e negativas deslocam-se com a aplicação do campo elétrico, e alinham-se
em sua direção, conforme a figura.

~
Os dois tipos de dipole podem ser escrito em termos do seu momento de dipolo elétrico, p~ = Qd.
N
Como no dielétrico há N dipolos por unidade de volume (n = ∆v ), o momento de dipolo elétrico
total é a soma de todos os momentos de dipolo, de cada molécula:

n∆v
X
p~T = p~i .
i=1

Através desta, podemos definir o vetor polarização P~ , como sendo o limite quando estamos
considerando um volume infinitesimal:

1 n∆v
P~ = lim
X
p~i .
∆v→0 ∆v i=1

O vetor polarização deve ser tratado como um vetor contínuo, com unidades em C/m2 .
Suponhamos agora um dielétrico contendo moléculas não polarizadas. Portanto, P~ = 0 em todo
o volume do material. Selecionemos agora um elemento de superficie ∆S no interior do dielétrico.

33
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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 3: Corrente elétrica e Densidade de corrente elétrica

Aplicando um campo elétrico sobre o dielétrico as moléculas se polarizarão. Haverá um movi-


mento de cargas de polarização através de ∆S. O campo elétrico produzirá um momento em cada
~ de modo que p~ e d~ formam um ângulo θ com o vetor normal ∆S, conforme
molécula dado por p~ = q d,
a figura abaixo.

Cada molécula cujo centro esta no interior do volume 21 d cos θ∆S abaixo da superfície incre-
mental contribui para o movimento de uma carga Q através de ∆S para cima. De modo análogo,
cada molécula cujo centro esta no interior do volume 12 d cos θ∆S acima desta superfície incremental
contribui para o movimento de uma carga −Q através de ∆S para baixo.
Como ha n moléculas/m3 , a carga líquida total que atravessa a superfície ∆S e nQd cos θ∆S,
onde:

∆QP = P~ · ∆S.
~

Se ∆S for um elemento de superfície em uma superfície fechada, com o seu sentido positivo
sempre dirigido para fora da superfície, o acréscimo líquido nas cargas de polarização dentro da
superfície fechada é:
I
QP = − P~ · ∆S,
~
v

na qual o sinal negativo é devido ao fato de que o sinal das cargas que entram ou permanecem no
interior da superfície fechada é de sinal contrário ao das cargas que saem.
Considerando esta carga total como sendo uma distribuição volumétrica de cargas com densidade
ρP , temos:
I I
QP = − ρP dv = − ~ · P~ dv,

v v

ou ainda:

~ · P~ = −ρP .

Essa equação também é válida para dielétricos polares.


~ e o vetor polar-
Vamos agora encontrar uma relação entre o vetor densidade de fluxo elétrico D

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Prof. Beatriz Bronislava Lipinski Eletromagnetismo I - Notas de Aula
Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 3: Corrente elétrica e Densidade de corrente elétrica

ização P~ .
Primeiramente vamos escrever a lei de Gauss na forma pontual, mesmo na presença de dielétricos,
como:

~ · ε0 E
∇ ~ = ρt ,

~ foi substituído por ε0 E


na qual ρt e a densidade volumetrica total de cargas. O vetor D ~ porque uma
vez consideradas as cargas de polarização, tudo se passa como se o dielétrico não existisse. Como
ρt = ρ + ρP , temos:

~ · ε0 E
∇ ~ = ρ + ρP ⇒ ~ · ε0 E
∇ ~ =ρ−∇
~ · P~ ⇒ ~ · (ε0 E
∇ ~ + P~ ) = ρ,

na qual ρ é a densidade volumétrica das cargas livres.


Podemos agora redefinir o vetor D ~ = ε0 E
~ + P~ .
Então quando se trata de um material polarizável, o vetor D~ é acrescido de um termo referente ao
processo de polarização do material, P~ .
O vetor polarização P~ resultou da aplicação de um campo elétrico E. ~ A relação entre P~ e E ~
dependerá do tipo de material. Vamos nos limitar a materiais isotrópicos, com uma relação linear
entre P~ e E.
~ Nesse caso, P~ e E
~ são paralelos, embora não necessariamente no mesmo sentido.
Admitindo a linearidade entre P~ e E,
~ podemos escrever: P~ = χe ε0 E, ~ onde χe é a susceptibilidade
elétrica do material. Então podemos escrever: D ~ = ε0 (1 + χe )E.~ Definindo εr = 1 + χe como a
constante dielétrica do material, ou permissividade elétrica relattiva, temos:

~ = εE
D ~ = ε0 εr E
~ ⇒ P~ = (εr − 1)ε0 E.
~

Finalmente, a lei de Gauss continua válida, seja na forma pontual, seja na forma integral, mesmo
na presença de dielétricos:
I
~ ·D
∇ ~ =ρ e ~ · dS
D ~ = Q.

o que indica que as cargas são cargas livres.

Ilustração:

A lâmina de um material dielétrico cuja suceptibilidade elétrica é 2, 8 contém uma densidade de


fluxo uniforme de 8 nC/m2 . Considere que não há qualquer tipo de perda de material, então calcule
~ P~ e o número médio de dipolos por metro cúbico se |~pm | = 10−29 Cm.
os módulos de E,

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 3: Corrente elétrica e Densidade de corrente elétrica

Condições de fronteira em dielétricos

Se considerarmos a interface entere dois dielétricos de permissividades ε1 e ε2 , como na figura


H
acima, a integral E~ · dL
~ = 0 deve ser dividida em quatro partes:

I b I c I d I a
~ · dL
E ~+ ~ · dL
E ~+ ~ · dL
E ~+ ~ · dL
E ~ = 0,
a b c d

E1t ∆w + E1N ∆h − E2t ∆w − E2N ∆h = 0,

como estamos considerando somente a interface, ∆h ⇒ 0, então:

E1t ∆w − E2t ∆w = 0 ⇒ E1t = E2t ,

D1t D2t
E1t = e E2t = ,
ε1 ε2
D1t Dt
= 2 :
ε1 ε2
Primeira condição de fronteira para dielétricos.
Agora aplicando a lei de Gauss para o clindro da figura acima, temos:

~ = QP ,
Z
~ · dS
E
ε0

~ = QP ,
Z Z Z
~ · dS
E ~+ ~ · dS
E ~+ ~ · dS
E
base topo lateral ε0
QP
−D2N ∆S + D1N ∆S = QP ⇒ D1N − D2N = ,
∆S
D1N − D2N = ρP :

Segunda condição de fronteira para dielétricos.

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 3: Corrente elétrica e Densidade de corrente elétrica

Questão 1: Dado J~ = 10ρ2 zâρ − 4ρ cos2 φâφ A/m2 , determine:


a) a densidade de corrente em P (3, 30o , 2);
b) a corrente total que flui da região ρ = 3, 0 < φ < 2π e 2 < z < 2, 8;
Resposta: 180âρ − 9âφ A/m2 ; 518 A.

Questão 2: Determine o módulo da densidade de corrente de uma amostra de prata


(σ = 6, 17 × 107 S/m e µe = 0, 0056 m2 /V ), sendo a velocidade de deriva igual a 1, 5 µm/s:
Resposta: 16, 53 kA/m2 .

Questão 3: Para a mesma amostra da questão anterior, determine o módulo da densidade de cor-
rente, se ela estiver imersa numa região de campo elétrico 1 mV /m:
Resposta: 61, 7 kA/m2 .

Questão 4: Um material dielétrico de εr = 2, 1 está imerso numa região de potencial dado por
V = 200 − 50xî + 20y ĵ. Determine:
~
a) E;
~
b) D;
c) P~ .
Resposta: (50î − 20ĵ) V /m; (9, 3î − 3, 7ĵ) × 10−10 C/m2 ; (4, 9î − 1, 97ĵ) × 10−10 C/m2 .

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Capítulo 4

Capacitância

Considere dois condutores imersos em um material dielétrico homogê-


neo. O condutor M2 tem uma carga positiva +Q e o condutor M1 , uma
carga negativa, −Q. Portanto a carga líquida do sistema é nula. Já sabe-
mos que toda a carga de um condutor está distribuida pela sua superfície e
que o campo elétrico é sempre normal a ela. Além disto, a superfície de
um condutor é uma superfície equipotencial. O fluxo elérico do sistema é
espontaneamente dirigido de M2 para M1 e M2 está em um potencial mais
positivo do que M1 . Assim, para deslocar uma carga de prova positiva de
M1 para M2 é necessário realizar um trabalho.
Se V0 é a diferença de potencial entre M2 e M1 , podemos definir a grandeza capacitância do
sistema de dois condutores como:

Q
H
~ · dS
εE ~
C= ⇒ C = RS+ .
V0 ~ ~
− E · dL

O sistema de dois condutores nesta situação é dito capacitor e sua capacitância, C, é constante,
pois a razão VQ0 não varia. A unidade de capacitância é o farad, F = 1V 1C
. A capacitância de um
capacitor depende apenas da sua geometria e de suas dimensões.

Capacitor de placas paralelas:

Considere duas placas condutoras paralelas, separadas por uma distân-


cia d e carregadas com densidades de carga superficial +ρS e −ρS , con-
forme a figura. Temos:

~ = ρS âz
E ~ = ρS âz ,
e D
ε

com ε é a permissividade elétrica do meio dielétrico. Assim, na placa inferior: DN = Dz = ρS e na


placa superior: DN = −Dz = −ρS . A diferença de potencial entre as placas inferior (i) e superior

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 4: Capacitância

(s) é:
Z s Z 0
~ · dL
~ =− ρS ρS
V0 = − E dz = d.
i d ε ε

Se considerarmos que a área S das placas é muito maior que a distância que as separa, d, podemos
considerar que o campo elétrico entre as placas e a densidade superficial ns placas é aproximadamente
uniforme, então:

ρS
Q = ρS S e V0 = d, então:
ε

Q εS
C= = .
V0 d
A energia armazenada em um capacitor é:

1 Z 2 1 Z S Z d ερ2S
WE = εE dv = dzdS,
2 vol 2 0 0 ε2

1 ερ2S
WE = Sd,
2 ε2
1 εS ρ2S d2
WE = ,
2 d ε2
1 1 1 Q2
WE = CV02 = QV0 = .
2 2 2 C

Ilustração:

Determine a capacitância de um capacitor de placas paralelas de área 10 in2 , cuja separação é


0, 01 in. O dielérico dentro do capacitor é a mica, εr = 6.

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 4: Capacitância

Exercício:

Determine a permissividde relativa do material dielétrico presente em um capacitor de placas pa-


ralelas se a sua área é 0, 12 m2 , a distância entre as placas é 80 µm, o potencial entre as placas é 12 V
e sabendo que a energia armazenada é de 1 µJ.

Exemplos de capacitores:

A. Capacitor cilíndrico:

Considere um capacitor cilíndrico, formado por uma superfície cilíndrica interna de raio a, uma
superfície cilíndrica externa de raio b, ambos de comprimento L com um dielétrico no seu interior,
cuja permissividade elétrica é ε:

2πεL
C= .
ln ab

B. Capacitor esférico:

Considere um capacitor esférico, formado por uma calota esférica interna de raio a, uma calota
esférica interna de b, com um dielétrico no seu interior, cuja permissividade elétrica é ε:

ab
C = 4πε .
b−a

C. Capacitor esférico isolado:

Considere um capacitor esférico apresentado acima. Se a esfera externa se tornar infinitamente


grande, temos um capacitor esférico isolado, cuja capacitância é:

C = 4πεa .

40
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Capítulo 5

Equações de Poisson e de Laplace

A. Equação de Poisson:

Considere a forma pontual da lei de Gauss, para uma região homogênea na qual ε é constante:

~ ·D
∇ ~ = ρv ~ = εE,
com D ~

como ~ = −∇V
E ~ ~ = − ρv .
~ · ∇V
então: ∇
ε

Em coordenadas cartesianas:

! ! !
~ = ∂
~ · ∇V

∂V
+
∂ ∂V
+
∂ ∂V
=−
ρv
,
∂x ∂x ∂y ∂y ∂z ∂z ε

2 2 2
~ 2 V = ∂ V + ∂ V + ∂ V = − ρv
∇ ⇒ Equação de Poisson : ~ 2 V = − ρv .

∂x2 ∂y 2 ∂z 2 ε ε

Em coordenadas cilíndricas:

∂ 2V ∂ 2V
! !
~ V = 1 ∂ ρ ∂V
∇ 2 1
+ 2 + = −
ρv
.
ρ ∂ρ ∂ρ ρ ∂φ2 ∂z 2 ε

41
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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 5: Equações de Poisson e de Laplace

Em coordenadas esféricas:

∂ 2V
! !
~ V = 1 ∂ r2 ∂V
∇ 2
+ 2
1 ∂
sin θ
∂V
+
1 ρv
=− .
2
r2 ∂r ∂r r sin θ ∂θ ∂θ 2
r sin θ ∂φ 2 ε

B. Equação de Laplace:

Se na equação de Poisson ρv = 0, indicando densidade volumétrica de carga nula porém, per-


mitinda a presença de cargas pontuais, linhas de cargas e densidades superficiais de cargas em
posições singulares como fontes do campo, temos:

Equação de Laplace : ~ 2V = 0 .

Em coordenadas cartesianas:

2 2 2
~ 2V = ∂ V + ∂ V + ∂ V .

∂x2 ∂y 2 ∂z 2

Em coordenadas cilíndricas:

∂ 2V ∂ 2V
! !
~ V = 1 ∂ ρ ∂V
∇ 2 1
+ 2 + = 0.
ρ ∂ρ ∂ρ ρ ∂φ2 ∂z 2

Em coordenadas esféricas:

∂ 2V
! !
~ V = 1 ∂ r2 ∂V
∇ 2
+ 2
1 ∂
sin θ
∂V 1
+ 2 2 = 0.
r2 ∂r ∂r r sin θ ∂θ ∂θ r sin θ ∂φ2

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 5: Equações de Poisson e de Laplace

Ilustração:

Calcule valores numéricos para V e ρv no ponto P , no espaço livre, se:


a) V = x4yz
2 +1 , em P (1, 2, 3);

b) V = 5ρ2 cos 2φ, em P (3, π/3, 2);


c) V = 2 cos
r2
φ
, em P (0, 5, π/4, π/3).

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 5: Equações de Poisson e de Laplace

Questão 1:Determine a permissividde relativa do material dielétrico presente em um capacitor de


placas paralelas se a distância entre as placas é 45 µm, o potencial entre as placas é 200 V e sabendo
que a densidade de energia armazenada é de 100 J/m2 .

Questão 2:Determine a permissividde relativa do material dielétrico presente em um capacitor de


placas paralelas se a distância entre as placas é 100 µm, o campo elétrico entre as placas é 200 kV /m
e sabendo que a densidade superficial de carga é de 20 µC/m2 .

Questão 3:Considere um cabo coaxial de 2 in de comprimento, formado por um condutor interno


de 0, 1045 in de diâmetro e um condutor externo de 0, 680 in de diâmetro e, com um dielérico de
polietileno no seu interior (εr = 2, 26). Determine a sua capacitância.

Questão 4:Calcule valores numéricos para V e ρv no ponto P , no espaço livre, se:


a) V = 5x2 y − 2zy 2 + z 3 , em P (2, 1, 4);
b) V = 3ρ2 z sin 2φ, em P (1, π/4, 3);
c) V = 2 sin rφ2cos φ , em P (2, π/3, π/4).

Questão 5:Encontre a solução da equação de Laplace para o potencial V = 4x3 −2x2 +1, sabendo
que V1 = 30 V em x1 = 2 e V2 = 40 V em x2 = 5.

44
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Eletromagnetismo II - Notas de Aula

Curitiba, Pr
2008

Tel: (41) 8419 5313 e-mail: bblipinski@gmail.com


Prof. Beatriz Bronislava Lipinski
Universidade Tuiuti do Paraná

Capítulo 1

O Campo Magnético Estacionário

Em 1823, Ampère sugeriu que o magnetismo natural era devido a pequenas correntes fechadas
no interior da matéria. Atualmente, identificamos essas pequenas correntes com o movimento dos
elétrons no interior dos átomos. Um elétron que gira ao redor do núcleo equivale a uma corrente que
produz os mesmos efeitos magnéticos que um pequeno imã. Por outro lado, os elétrons giram sobre
si mesmos produzindo efeitos magnéticos adicionais.
Resumindo: a corrente que passa por um condutor produz um campo magnético a sua volta.
Estudaremos aqui, a lei de relação entre a corrente que passa por um condutor (causa) e o campo
magnético criado (efeito). O campo magnético H ~ pode ser originado de duas maneiras:

a. Por corrente elétrica;

b. Por imã permanente (polo magnético). Podemos imaginar que em qualquer material existem
muitos imãs de tamanho atômico. Na maioria dos casos, nestes pequenos imãs os dipolos mag-
néticos estão orientados ao acaso e seus efeitos se cancelam. Entretanto, em certas substâncias,
estes dipolos magnéticos estão orientados no mesmo sentido. Neste caso, os efeitos de cada
dipolo magnético se somam, formando um imã natural.

Lei de Biot Savart

Até aqui nos preocupamos em tentar descrever as forças sobre as cargas e correntes que são
postas em campos magnéticos produzidos externamente. Ao fazer isto, não consideramos que tipo de
campo magnético é produzido por correntes ou pelas próprias cargas em movimento e assim, ainda
não abordamos o problema de descrever e explicar os resultados das experiências de Oersted, o qual
será discutido a seguir.
Vamos ver, então, como se origina campo magnético através da corrente elétrica. O campo mag-
nético H~ é um vetor, isto é, possui módulo, direção e sentido.

1
Prof. Beatriz Bronislava Lipinski Eletromagnetismo II - Notas de Aula
Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 1: O Campo Magnético Estacionário

Durante o século XVIII muitos cientistas tentaram encon-


trar uma conexão entre a eletricidade e o magnetismo. Obser-
varam que cargas elétricas estacionárias e imãs não provocavam
qualquer influência um no outro. Mas em 1820, Hans Christian
Oersted (1777-1851) mostrou que uma bússola sofria deflexão
quando era colocada perto de um fio percorrido por uma cor-
rente. Por outro lado era conhecido que campos magnéticos
produzem deflexão em bússola, o que levou Oersted a concluir
que correntes elétricas induzem campos magnéticos. Com isto
ele havia encontrado, então, uma conexão entre eletricidade e o
magnetismo. Ele observou também, que os campos magnéticos
produzidos por correntes elétricas, em um fio retilíneo, tinham
Figura 1.1:
a forma de círculos concêntricos como mostra a figura 1.1(a).
O sentido destas linhas é indicado pelo norte da bússola. Uma
outra forma de se determinar o sentido das linhas de B é usar a regra da mão direita, a qual é mostrada
esquematicamente na figura 1.1(b). No estudo da eletrostática, observamos que a lei de Coulomb, de-
screvendo o campo elétrico de cargas puntiformes foi simplesmente o modo pelo qual as observações
experimentais relativas à forças eletrostáticas em corpos carregados poderiam ser melhor resumidas.
A situação é a mesma em relação a campos magnéticos produzidos por correntes estacionárias. Não
há meio de se deduzir uma expressão para estes campos; tudo o que podemos fazer é observar as
forças magnéticas criadas por correntes reais experimentalmente e então tentar achar uma expressão
matemática para o campo magnético que esteja de acordo com os resultados de todas as observações.
Foi justamente desta maneira que a lei de Biot-Savart, a qual dá o campo magnético criado pelo fluxo
de corrente em um condutor, foi descoberta. A lei de Biot-Savart diz-nos que o elemento de indução
magnética dH ~ associado a uma corrente I em um segmento de um fio condutor descrito por dL ~ é:

 dirigido em uma direção perpendicular ao dL~ e ao vetor posição R


~ do segmento do condutor
ao ponto P , no qual o campo está sendo medido;
~ do segmento e à corrente I que ele carrega;
 diretamente proporcional ao comprimento dL

 inversamente proporcional em módulo ao quadrado da distância R entre o elemento de corrente


e o ponto P .
~ e R.
 proporcional ao seno do ângulo θ entre os vetores dL

A lei de Biot-Savart pode, então, ser expressa pela equação:

~ × âR
IdL ~ ×R
IdL ~
(1.1) ~ =
dH ⇒ .
4πR2 4πR3

A figura 1.2 revela a geometria do problema clássico geral: a intensidade de campo magnético
no ponto 2, dH~ 2 , produzida por um elemento diferencial de corente localizada no ponto 1, I1 dL
~ 1. A
direção de dH~ 2 é para dentro desta página.

2
Prof. Beatriz Bronislava Lipinski Eletromagnetismo II - Notas de Aula
Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 1: O Campo Magnético Estacionário

Figura 1.2:

Na forma integral, a lei de Biot-Savart é dada por:

I ~ × âR
IdL I ~ ×R
IdL ~
(1.2) ~ =
H ⇒ ,
4πR2 4πR3

nesta, deve-se levar em conta que a corrente total que atravessa qualquer superfície fechada é nula;
esta corrente fluindo em torno de um caminho fechado é a fonte de campo magnético que deve
ser considerada. Relembrando: este resultado é consequência direta da equação da continuidade:
∇ · J~ = − ∂ρ v
∂t
= 0, significando que a densidade de corrente é estacionária numa superfície fechada
(não varia no tempo).
Esta lei é ferramenta básica para cálculo de campo magnético criado num ponto, devido a uma
distribuição de corrente. Mas é válida somente em meios uniformes (com mesma permeabilidade
magnética). A intensidade do campo magnético H ~ tem, no SI, unidades de ampères por metro (A/m)
e, no sistema cgs, unidades de Oersted (Oe): 1Oe = 1000

A/m = 79, 58 A/m.

Exemplo 1: Campo magnético devido a um condutor longo retilíneo. Determine o campo mag-
nético H~ num ponto P distante r metros de um condutor infinitamente longo, percorrido por uma
corrente de I ampères. A seguir, calcule o campo a uma distância de 10 cm do condutor quando ele
for percorrido por uma corrente de 0, 1 A.

3
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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 1: O Campo Magnético Estacionário

Dois condutores paralelos

Como já foi visto, correntes geram campos magnéticos e, veremos que fluxos magnéticos exercem
forças sobre cargas em movimento. Então dois condutores paralelos, com corrente experimentam uma
dada for¸ca de atração ou repulsão, segundo os sentidos das correntes.
Dois condutores paralelos conduzindo correntes no mesmo sentido. Pela regra da mão direita,
observa-se que os campo magnéticos dos dois condutores se subtraem no espaço situado entre os
condutores, e se soma fora dos condutores.
Dois condutores paralelos conduzindo correntes em sentidos opostos. Pela regra da mão dire-
ita, observa-se que os campo magnéticos dos dois condutores se somam no espaço situado entre os
condutores, e se subtrai fora dos condutores.
Considerando que não existam materiais ferromagnéticos nas proximidades, pode-se calcular o
campo somando vetorialmente os campos criados por cada corrente.

Exemplo 2: Dois fios retilíneos paralelos estão afastados de d = 40 cm, e são percorridos por
correntes I1 = 100 A e I2 = 60 A, em sentidos opostos. Encontrar a distância x de um ponto P ao
primeiro condutor, onde o campo magnético total seja nulo.

Exemplo 3: Uma espira circular, de raio r, é percorrida pela corrente I. Obter a equação do
campo magnético no centro da mesma.

4
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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 1: O Campo Magnético Estacionário

Exemplo 4: Campo magnético de uma espira circular. Neste exemplo, calcularemos o valor do
campo magnético em um ponto genérico P , situado no eixo de uma espira circular percorrida por
uma corrente constante I, conforme esquema da figura abaixo.

Exemplo 5: As bobinas de Helmholtz são duas bobinas circulares coaxiais, onde seus raios R são
iguais à distância d entre elas, isto é: R = d. Elas são muito conhecidas pelo fato de que o campo
magnético é uniforme ao longo do seu eixo. Calcule a amplitude do campo ao longo do eixo das
bobinas.

Sugestão de estudo: Eletromagnetismo - Hayt & Buck, 6ª Edição: Capítulo 8, Seção 8.1.
Resolver os exercícios E8.1 e E8.2, página 136.

5
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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 1: O Campo Magnético Estacionário

Lei circuital de Ampère

A lei de Ampère, que é uma das leis mais importantes do eletromagnetismo, é a conhecida regra da
mão direita, expressa de uma forma matemática vetorial: a lei circuital de Ampère. Oersted descobriu
que uma corrente elétrica produz um campo magnético, e que para o caso de um fio retilíneo, as linhas
de campo são círculos em planos perpendiculares ao fio. O sentido do campo é dado pela regra da
mão direita: com o polegar no sentido da corrente, os outros dedos dobrados apontam no sentido
~ A intensidade é dada pela distribuição de campo e fluxo magnético no sistema. Assim, a
de H.
~ em um percurso fechado, é igual à soma algébrica das correntes nela¸ dadas
circulação do vetor H,
pelo percurso:
I Z Z
(1.3) ~ · dL
H ~ =I ⇒ J~ · dS
~ = I.

Com esta expressão matemática, a relação campo H ~ e corrente é dada por uma integral de linha,
que é calculada através de uma curva fechada chamada curva amperiana. A corrente I é a corrente
líquida englobada pela curva e onde dL ~ é o caminho de integração, que escolhemos ao redor do fio.
Cabe salientar que fora das leis de Biot-Savart ou Ampère não há nenhum meio analítico de deter-
minar o campo H ~ em função de J. ~ Somente os métodos numéricos, relativamente modernos, podem
determinar H~ em um bom número de casos, sem que tenhamos ainda meios de solucionar todos os
problemas existentes.

Exemplo 6: Campo magnético de um solenóide. Forma-se um campo magnético ao redor de


uma bobina de fio de cobre, chamada solenóide, cujo comprimento é muito maior do que o seu raio, e
consideraremos o solenóide infinito. Usando argumentos de simetria, mostre que os campos entre os
fios e na parte externa do solenóide são nulos e que, no interior do solenóide o campo tem o sentido
indicado pela regra da mão direita.

6
Prof. Beatriz Bronislava Lipinski Eletromagnetismo II - Notas de Aula
Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 1: O Campo Magnético Estacionário

Exemplo 7: Campo de um toróide. No interior do toróide da figura abaixo, aplique a lei de


Ampère, resolva a integral na linha amperiana circular de raio r e Calcule H.

Exemplo 8: Campo magnético dentro de um fio. Consideremos o fio condutor como um cilindro
infinito, de raio R, transportando uma corrente I0 , com densidade uniforme. Calcule o campo no
interior do fio.

7
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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 1: O Campo Magnético Estacionário

~
Rotacional de H

Agora vamos discutir resumidamente o significado físico do operador rotacional aplicado a H. ~


Para fazermos isso, usaremos a concepção do medidor do rotacional ou das pazinhas girantes. Ima-
gine uma correnteza de água através uma de seção transversal na direção z. Considera-se a velocidade
~v da água independente da altura mas aumentando uniformemente desde o valor zero das extremi-
dades até um valor máximo de v0 localizado no centro da corrente de água.
Agora, vamos considerar o menor atrito que nas pás, desconsiderando a influência na velocidade
da água e intoduzir na água uma seta vertical, isto é, paralela ao eixo x. A pá vai girar na direção
anti-horária, do lado direito para o centro. Além disso, partindo de que a velocidade diferencial é
independente de y, a pá vai girar com uma taxa parecida, independentemente de y. Na exata metade
da correnteza, não haverá giro da pazinha para nenhum dos dois lados já que a velocidade é a mesma
para ambos. Agora, se nós examinarmos o gráfico de vx e compará-lo com o movimento da pazinha,
o significado físico do rotacional fica aparente. Isso significa a capacidade do vetor campo para a
rotação da pazinha. Se nós inserirmos a pazinha horizontalmente, isto é, junto do eixo z ou junto
ao eixo y ou em qualquer outra direção paralela ao plano yz, ela não vai girar desde o fundo até a
superficie, pois estão com a mesma força, assim mostra-se que o rotacional para esse campo não tem
uma componente horizontal. O rotacional não faz nada com a curvatura ou com a corrente rotacional
como o nome talvez lembre.
Podemos obter a forma pontual da lei circuital de Ampère,
aplicando-a ao perímetro de um elemento diferencial de área
e encontrando o seu rotacional. Escolhemos as coordenadas
cartesianas e um caminho fechado incremental de lados ∆x e
∆y, como mostra a figura ao lado. Considere que uma corrente
elétrica qualquer gere um campo magnético H ~ de referência no
centro do retângulo, dado por H~ 0 = H 0 âx + H 0 ây + H 0 âz .
x y z
A integral de linha fechada de H~ neste caminho é, aproxi-
madamente, a soma dos quatro valores de H ~ ·∆L
~ em cada lado.
A direção de percurso escolhida, dada na figura, corresponde a uma corrente elétrica na direção âz .
A primeira contribuição é:
(H~ · ∆L)
~ 1−2 = H 1−2 ∆y.
y

O valor de Hy nesta região pode ser avaliada como a soma do valor de referência Hy0 , no centro do
retângulo e a sua taxa de variação em x pela distância ∆x
2
:

∆x ∂Hy
Hy1−2 = Hy0 + . Assim:
2 ∂x
!
~ · ∆L)
~ 1−2 1 ∂Hy
(H = Hy0 + ∆x ∆y.
2 ∂x

8
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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 1: O Campo Magnético Estacionário

Ao longo da aresta 2 − 3:
!
~ · ∆L)
~ 2−3 1 ∂Hx
(H = Hx2−3 (−∆x) = − Hx0 + ∆y ∆x.
2 ∂y

Para a aresta 3 − 4:
!
~ · ∆L)
~ 3−4 1 ∂Hy
(H = Hy3−4 (−∆y) =− Hy0 + (−∆x) ∆y.
2 ∂x

Para a última aresta:


!
~ · ∆L)
~ 4−1 1 ∂Hx
(H = Hx4−1 (∆x) = Hx0 + (−∆y) ∆x. Então:
2 ∂y
!
I
~ · ∆L
~ = ∂Hy ∂Hx
H − ∆x∆y.
∂x ∂y
~ a corrente envolvida é ∆I = Jz ∆x∆y:
Assumindo uma densidade de corrente genérica J,
!
I
~ · ∆L
~ = ∂Hy ∂Hx
H − ∆x∆y = Jz ∆x∆y, ou:
∂x ∂y
H
H~ · ∆L
~ ∂Hy ∂Hx
= − = Jz .
∆x∆y ∂x ∂y
A maior aproximação possível para esta expressão está no limite ∆x, ∆y → 0:
H
H~ · ∆L
~ ∂Hy ∂Hx
lim = − = Jz .
∆x,∆y→0 ∆x∆y ∂x ∂y

Se escolhermos um caminho fechado de forma que a corrente esteja na direção âx , temos:
H
H~ · ∆L
~ ∂Hz ∂Hy
lim = − = Jx ,
∆y,∆z→0 ∆y∆z ∂y ∂z

e para um camnho fechado de forma que a corrente esteja na direção ay :


H
H~ · ∆L
~ ∂Hx ∂Hz
lim = − = Jy .
∆z,∆x→0 ∆z∆x ∂z ∂x

Como J~ = Jx âx + Jy ây + Jz âz , temos a forma pontual da lei circuital de Ampère:
! ! !
∂Hz ∂Hy ∂Hx ∂Hz ∂Hy ∂Hx
J~ = − âx + − ây + − ~ =∇
âz = rot H ~ × H.
~
∂y ∂z ∂z ∂x ∂x ∂y

~ ×H
Acima está a terceira Equação de Maxwell: ∇ ~ = J,
~ aplicada acondições não variantes no tempo.

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Em coordenadas cilíndricas:
! ! !
~ ×H
~ = 1 ∂Hz ∂Hφ ∂Hρ ∂Hz 1 ∂(ρHφ ) 1 ∂Hρ
∇ − âρ + − âφ + − âz .
ρ ∂φ ∂z ∂z ∂ρ ρ ∂ρ ρ ∂φ

Em coordenadas esféricas:
! ! !
~ H
∇× ~ = 1 ∂(Hφ sin θ) ∂Hθ
− âr +
1 1 ∂Hr ∂(rHφ )
− âθ +
1 ∂(rHθ ) ∂Hr
− âφ .
r sin θ ∂θ ∂φ r sin θ ∂φ ∂r r ∂r ∂θ
H
O significado físico da integral H ~ · dL~ = I é muito importante e justifica o fato desta dar
origem a um rotacional. Esta integral é calculada sobre uma linha fechada, definindo uma circulação
de “alguma coisa”, que vem a ser a corrente total que atravessa a área delimitada pela curva fechada.
O rotacional gerado nos fornece os domínios de direções e sentidos do campo magnético gerado por
H
esta corrente. Em analogia com o campo eletrostático, a integral de linha E ~ · dL
~ é nula (como visto
no semestre passado!), significando que não há circulação de campo elétrico em torno co caminho
fechado de integração. Em outras palavras, nenhum trabalho é realizado ao se deslocar uma carga
elétrica de um ponto a outro sobre este caminho fechado. Para o campo magnetostático, há trabalho
realizado pois a circulação de campo magnético não é nula. Esta circulação dá origem a um fluxo de
cargas, caracterizando uma corrente elétrica.

Exemplo 9: Na região z > 0 do espaço há um campo magnético dado por H ~ = 0, 2z 2 âx , sendo
H
nulo, como na figura. Calcule a integral H~ · dL
~ ao longo do quadrado fechado de lado d, centrado
em 0, 0, z1 no plano y = 0, onde z1 > 2d.

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Teorema de Stokes

A segunda Equação de Maxwell é a forma pontual da lei circuital de Ampère e define o campo
magnetostático gerado a partir de uma densidade de corrente. É possível, através de argumentos
simples, deduzir que o contrário também é verdadeiro: a variação de campo magnético gera uma
densidade de corrente elétrica. Este é o princípio de funcionamento de um eletroimã, por exemplo.
Considere uma superfície S dividida em elementos infinitesimais de área, ∆S. Aplicando a
definição de rotacional a um destes elementos de área, temos:
H
H~ · dL
~ ∆S
(1.4) = (∇~ × H)
~ N ⇒ (∇ ~ × H) ~ · âN ,
∆S
na qual o índice N indica a componente de H ~ normla à superfície, dada pela regra da mão direita. O
caminho fechado dL ~ ∆S indica o perímetro da área ∆S.
Após simples manipulação:
I
(1.5) ~ · dL
H ~ ∆S = (∇
~ × H)
~ · âN ∆S ⇒ ~ × H)
(∇ ~ · ∆S.
~

Como estamos interessados em determinar a circulação total de campo em torno do perímetro de


∆S, integramos em S:
I Z
(1.6) ~ · dL
H ~ ∆S = ~ × H)
(∇ ~ · dS,
~
S

com dL ~ sendo o perímetro de S.


Esta última equação é conhecida como o Teorema de Stokes e é capaz de transformar um prob-
lema envolvendo uma integral de linha em um problema de integração de superfície. Esta identidade
é valida para qualquer campo vetorial.

Exemplo 10: Considere a região superficial de uma esfera, delimitada por r = 4, 0 ≤ θ ≤ 0, 1π


~ = 6r sin φâr + 18r sin θ cos φâφ . Calcule os dois
e 0 ≤ φ ≤ 0, 3π. Se o campo no local é dado por H
membros doTeorema de Stokes.

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Fluxo magnético e Densidade de fluxo magnético

O campo magnético H ~ pode ser produzido por uma corrente elétrica ou por uma magnetização
~ do momento de dipolo molecular. A magnetização é uma característica intrínseca de
resultante, M
cada material, e está relacionada com a estrutura atômica e molecular.

Magnetização:

Toda matéria exibe propriedades magnéticas. Até mesmo substâncias como cobre e alumínio,
que normalmente são livres de propriedades magnéticas, são afetadas pela presença de um campo
magnético produzido por qualquer polo de um imã de barra. Dependendo se há uma atração ou
repulsão pelo polo de um ímã, a matéria é classificada como sendo paramagnética ou diamagnética,
respectivamente. Alguns materiais, notavelmente o ferro, mostram uma atração muito grande para o
polo de uma barra permanente de ímã; materiais deste tipo são chamados ferromagnéticos.
Os átomos têm momentos de dipolo magnético em virtude do movimento orbital dos respectivos
elétrons. Além disso, cada elétron tem um momento de dipolo magnético intrínseco associado ao seu
spin. O momento magnético de um átomo depende da disposição dos elétrons no seu interior. Esta
magnetização pode ser puramente devido à interação do campo aplicado com a matéria, conforme
ocorre com os materiais diamagnéticos e paramagnéticos ou pode já existir mesmo na ausência do
campo externo, conforme ocorre com os materiais ferromagnéticos.
O diamagnetismo ocorre em todos os materiais, pois todas as moléculas exibem um momento de
dipolo magnético induzido e antiparalelo ao campo magnético aplicado em virtude da deformação
da distribuição da corrente eletrônica. A sua magnetização tende a enfraquecer o campo externo.
Geralmente o efeito diamagnético nos materiais é mascarado pelo comportamento paramagnético
e ferromagnético. O paramagnetismo resulta da tendência dos momentos magnéticos moleculares
alinharem-se com o campo magnético aplicado, reforçando o campo aplicado. Esses materiais dia-
magnéticos e paramagnéticos têm uma susceptibilidade, em módulo, muito menor que um (χ << 1).
Quando colocarmos um material qualquer num campo magnético uniforme, geralmente no ar,
pode ocorrer três fenômenos distintos:

1. Afastamento - o fluxo passará preferencialmente pelo ar, que é um meio mais permeável. Isso
faz com que apareça uma força que tenderá a repelir o corpo do polo Norte da fonte geradora
de campo. Chama-se diamagnético ao material que apresenta esta propriedade.

2. Estático - as linhas de fluxo não se alteram, e continuarão a passar pelo materiam como se
nada tivesse acontecido. Consequentemente, não existe força atuando sobre o material, que é
denominado paramagnético.

3. Aproximação - as linhas se concentram no material, como aconteceu com o campo elétrico.


Com isto surge uma força que tende atrair fortemente o material do polo Norte. Chamam-se
ferromagnéticos a estes materiais.

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 1: O Campo Magnético Estacionário

Baseando-se neste princípio, dividiram-se os materiais em: paramagnético, diamagnético e ferro-


magnético. Como não temos por objetivo, realizar o estudo microscópico destes materiais, veremos
apenas os princípios que norteiam a magnetização e a permeabilidade magnética.

Paramagnetismo

O paramagnetismo ocorre nas substâncias cujos átomos têm momentos magnéticos permanentes
e interagem uns com os outros apenas de modo fraco. Quando não há campo magnético externo,
estes momentos magnéticos estão orientados ao acaso. Na presença de um campo magnético externo,
os momentos tendem a alinhar-se com o campo, mas esta tendência é contrariada pelo fato dos mo-
mentos ficarem orientados ao acaso em virtude da agitação térmica. A fração dos momentos que se
orienta paralelamente ao campo depende da intensidade do campo e da temperatura. Em temperaturas
muito baixas e em campos externos elevados, quase todos os momentos estão paralelos ao campo.
A energia potencial do momento magnético num campo magnético externo é mínima quando o mo-
mento é paralelo ao campo e máxima quando está antiparalela ao campo.

Diamagnetismo

Foi descoberto por Faraday, quando verificou que um pedaço de bismuto era repelido pelos polos
de um imã, o que indicava que o campo externo do imã provocava um dipolo magnético no bismuto
em direção oposta à do campo. O efeito diamagnético não depende da temperatura. O alinhamento
dos momentos permanentes diminui com o aumento da temperatura para as substâncias paramag-
néticas e ferromagnéticas. Todos os materiais são diamagnéticos em temperaturas suficientemente
elevadas.

Ferromagnetismo

Ocorre no ferro, no cobalto e no níquel, puros e em ligas destes metais uns com os outros e com
alguns outros elementos, e em algumas poucas substâncias mais. Nestas substâncias um pequeno
campo magnético externo pode provocar um grande grau de ordenação dos momentos de dipolo
magnético dos átomos, o que em certos casos, pode persistir mesmo na ausência de campo externo
magnetizador. Isto ocorre em virtude de os momentos de dipolo magnético dos ´atomos destas sub-
stâncias exercerem fortes forças sobre seus vizinhos, de modo que numa pequena região do espaço
os momentos estão alinhados entre si, mesmo sem campo externo.
Em temperaturas acima da temperatura crítica, denominada temperatura Curie, estas forças de-
saparecem, e os materiais ferromagnéticos tornam-se paramagnéticos. A região do espaço sobre a
qual os momentos de dipolos magnéticos estão alinhados é denominado um domínio magnético. A
dimensão do domínio é, usualmente microscópica. Dentro de um domínio todos os momentos mag-
néticos estão alinhados, mas a direção do alinhamento varia de domínio para domínio, de modo que
o momento magnético líquido de uma amostra macroscópica do material é nulo no estado normal.

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 1: O Campo Magnético Estacionário

Spin e momento angular

Rigorosamente, núcleos não apresentam spin, mas sim momento angular (exceção feita somente
ao núcleo do isótopo 1 do hidrogênio, que é constituído de um único próton). Embora o spin possa
ser considerado um momento angular, por terem ambos as mesmas unidades e serem tratados por
um formalismo matemático e físico semelhante, nem sempre o oposto ocorre. O spin é intrínseco,
ao passo que objetos compostos têm momento angular extrínseco. Contudo, motivos históricos e
continuado costume levaram à esse abuso de linguagem, tolerado e talvez tolerável em textos não
rigorosos.
O conceito de spin surgiu da necessidade de se explicar os resultados até então impensados na
experiência de Stern-Gerlach na década de 1920. Nessa experiência, um feixe colimado de átomos
de prata, oriundos de um forno a alta temperatura, atravessavam um campo magnético altamente não-
uniforme. Tal experimento era destinado a medir a distribuição dos momentos magnéticos, devidos
principalmente aos elétrons. Como os átomos, na temperatura em que estavam emergindo do forno,
estavam no seu estado fundamental 1S0 , deveriam sofrer desvios nulos na presença do campo mag-
nético não-uniforme. A distribuição esperada era da perda da coerência espacial do feixe durante o
seu tempo de vôo, do forno de origem até o alvo. Tal não sucedeu, contudo.
O resultado obtido foram duas manchas de depósito de prata sobre o alvo, indicando que o feixe
se dividira em dois durante o percurso. Isso indicou que os átomos de prata do feixe ainda tinham
um grau de liberdade de momento angular, mas que não era o momento angular orbital dos elétrons
no átomo, mas sim um momento angular intrínseco destas partículas. A esse “momento angular in-
trínseco” deu-se o nome de spin (significando giro em Português). Em 1924, Wolfgang Pauli postulou
que os núcleos se comportariam como minúsculos imãs. Mais tarde, experimentos similares, porém
mais sofisticados, aos do Stern-Gerlach determinaram momentos magnéticos nucleares de várias es-
pécies.
Considere uma espira de raio R percorrida por corrente I. Se R é pequeno em relação a x,
2
podemos escrever H = I 2πR 4πx3
.
2m
Definindo a quantidade IπR2 como o momento de dipolo magnético, m, temos H = 4πx 3.

Através da analogia com o dipolo elétrico, podemos escrever as componentes normal e tangecial
~
de H: HN = 2m cos α
e HT = m4πRsin α
3 .
4πR3

Dipolo e carga magnética

Geralmente um imã minúsculo de microscópico para dimensões subatômicas, equivalente a um


fluxo de carga elétrica ao redor de uma esfera. Elétrons que circulam ao redor de núcleos atômicos,
de seus próprios eixos, e de núcleos atômicos carregados positivamente são todos dipolos magnéti-
cos. A soma destes efeitos pode se cancelar, de forma que um determinado tipo de átomo pode não
ser um dipolo magnético. Se eles não se cancelam completamente, o átomo é um dipolo magnético
permanente, como são, por exemplo, os átomos de ferro. Muitos milhões de átomos de ferro, espon-

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 1: O Campo Magnético Estacionário

taneamente, se mantém no mesmo alinhamento para formar um domínio ferromagnético, constituindo


também um dipolo magnético. As agulhas de bússolas magnéticas e imãs de barra são exemplos de
dipolos magnéticos macroscópicos.
Quando um dipolo magnético é considerado como uma corrente arredondada, a magnitude do
momento de dipolo é proporcional a corrente, multiplicado pelo tamanho da área inclusa. A direção
do momento de dipolo, que pode ser representado matematicamente como um vetor, é perpendic-
ularmente afastada do lado da superfície que gira fluxo de carga positiva no sentido anti-horário.
Considerando a volta da corrente como um imã minúsculo, este vetor corresponde à direção do polo
sul ao polo norte. Quando estão livres para girar, os dipolos se alinham de forma que seus momentos
apontem, predominantemente, na direção do campo magnético externo. Os momentos magnéticos do
núcleo e do elétron são quantizados, o que significa que eles podem somente ser orientados no espaço
em certos ângulos discretos em respeito à direção do campo externo.
Momentos de dipolo magnéticos têm dimensões de corrente vezes a área ou energia dividido por
densidade de fluxo magnético. No sistema metro-quilograma-segundo-ampère e SI, a unidade especí-
fica para momento de dipolo é ampère vezes metro quadrado.

Vetor magnetização

~ que é um vetor representativo de


Para os trabalhos práticos, lida-se com o vetor magnetização M
todos os vetores m
~ sobre um volume V . Cada corrente atômica é um pequeno circuito fechado de
dimensões atômicas, e pode ser descrito como um dipolo magnético. Seja m ~ i o momento magnético
do átomo de índice i. Definiremos agora uma quantidade vetorial macroscópica, a magnetização M ~
(momento de dipolo magnético por unidade de volume). Somaremos, vetorialmente sobre todos os
momentos de dipolo num pequeno elemento de volume ∆V e dividiremos o resultado por ∆V :

~ = lim 1 X
(1.7) M m
~ i.
∆V →0 ∆V i

A unidade de M~ é A/m, a mesma unidade do campo magnético. Podemos admitir que a magne-
~ (x, y, z) no sistema cartesiano.
tização seja uma função das coordenadas, como por exemplo M

Exemplo 11: A magnetização de saturação do ferro é 1, 7.106 A/m, e sua densidade é 7970 kg/m3 .
Sabendo que o número de Avogadro vale 6, 025.1026 kg − atomo, e a massa atômica relativa do ferro
é 56, calcular o momento magnético de cada átomo de ferro, em Am2 .

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 1: O Campo Magnético Estacionário

Indução e permeabilidade magnética

Coloquemos uma barra de ferro desmagnetizada dentro de um campo magnético uniforme. Observa-
se o surgimento de polos, imantando a barra de ferro. Esta imantação gera uma magnetização, que
se soma ao campo magnético externo aplicado. O novo campo magnético resultante se denom-
ina indução magnética, ou densidade de fluxo, ou simplesmente indução e se denota pelo símbolo
~ Sua unidade no sistema internacional é o Tesla (T ). Para que ocorra a conservação da en-
B.
ergia, precisaremos de uma constante, que será denominada permeabilidade magnética no vácuo
µ0 = 4π × 10−7 T m/A. A indução magnética B ~ é dada por:

(1.8) ~ = µo (H
B ~ +M
~ ).

No caso do ferro e de outros materiais ferromagnéticos, a magnetização M ~ é, frequentemente,


~ por um fator de vários milhares ou até mais.
muito maior que a intensidade magnética H

A grandeza µo significa a medida do quanto o meio é deformável quando imerso em um campo


magnético e é necessário na equação anterior para tornar as unidades compatíveis com o SI. A
unidade no SI para B~ é o weber por metro quadrado, W b/m2 (1W b = 1V s), ou o tesla (T ), e a
unidade do SI para H~ eM ~ é o ampère por metro (A/m). A unidade cgs para B ~ é o gauss (G) e
1 T = 104 G. No vácuo, temos que B ~ = µ0 H,
~ definido como a permeabilidade magnética do vácuo.
B
Para qualquer outro material, podemos definir µ = H , como sendo a permeabilidade magnética deste
material. Ainda podemos definir a permeabilidade magnética relativa: µ = µµ0 . utilizando a grandeza
~ = µ0 (1 + χH).
susceptibilidade magnética, podemos ainda escrever µ = µ0 (1 + χ), e B ~

Em analogia com a lei de Gauss, Ψ = E


H
~ ·dS
~ = Q , a integral para o cmapo magnético também é
ε0
válida. Porém, até os dias de hoje, não há qualquer comprovação da exixtência de uma fonte genérica
de campo magnético, que seja análoga à carga elétrica. Esta “carga magnética” não existe de fato, pois
as fontes de campo magnético são descritas pela presença de materiaia magnéticos ou magnetizados,
que possuem características particulares e extensíveis. Então, B
H
~ · dS
~ = 0. Aplicando o terorema
da divergência, encontramos:

(1.9) ∇ ~ = 0.
~ ·B

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 1: O Campo Magnético Estacionário

Esta última equação é a quarta equação de Maxwell, que se aplica a campos magnéticos esta-
cionários.
Agora já conhecemos todas as equações de Maxwell na sua forma diferencial (ou pontual), para
campos elétricos e magnéticos estacionários:

(1.10) ~ ·E
∇ ~ = ρv ⇒ Lei de Gauss;
ε0
(1.11) ∇~ ×E~ =0 ⇒ Lei de Faraday;
(1.12) ~ ×H
∇ ~ = J~ ⇒ Lei de Ampère;
(1.13) ~ ·B
∇ ~ =0 ⇒ Lei de Gauss.

Eis as mesmas equações na forma integral:

~= Q =
I Z
(1.14) ~ · dS
E ρv dv ⇒ Lei de Gauss;
S εI 0 V

(1.15) ~ · dL
E ~ =0 ⇒ Lei de Faraday;
I Z
(1.16) ~ · dL
H ~ =I= J~ · dS
~ ⇒ Lei de Ampère;
I S

(1.17) ~ · dS
B ~=0 ⇒ Lei de Gauss.
S

EXERCÍCIOS AVALIATIVOS 1

1. Quais são as principais diferenças entre os campos elétrico e magnético?

2. Imagine que você esteja sentado numa sala com as costas voltadas para a parede, da qual
emerge um feixe de elétrons que se move horizontalmente na direção da parede em frente. Se o feixe
de elétrons for desviado para a sua direita, qual serão a direção e o sentido do campo magnético exis-
tente na sala?

3. Interprete fisicamente os gráficos abaixo.

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Potencial Vetor Magnético

A lei de Gauss para o campo magnético, ∇ ~ ·B


~ = 0, estabelece que o fluxo magnético através
de uma superfície fechada é nulo. Isso significa que não existe monopolo magnético. Quando o
divergente de um cmpo vetorial é nulo, este campo pode ser escrito como sendo o rotacional de outro
campo vetorial:

~ ·∇
∇ ~ ×A
~=0 ⇒ ~ =∇
B ~ × A.
~

~ é dito potencial vetor magnético, do qual pode-se extrair o campo magnético


O campo vetorial A
através do operador diferencial rotacional. Aplicando a lei de Biot-Savart a esta expressão, obtemos
como resultado a expressão:

I ~
µ0 IdL
(1.18) ~=
A .
4πR

Exemplo 12: Mostre que o campo magnético diferencial gerado por um elemento diferencial de
um fio muito longo, percorrido por uma corrente I, orientada no sentido positivo do eixo z é dado por
~ = √Idzρ
dH â .
4π 2 2 3 φ
(ρ +z )

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Potencial Escalar Magnético

~ B
Pela lei de Ampère, temos ∇× ~ = µ0 J.
~ Se a densidade de corrente J~ é nula, temos: ∇×
~ B~ = 0.
Esta última pode ser escrita como ∇ ~ × (∇~ · φ) = 0, na qual Φ é um campo escalar. Em outras
palavras,podemos dizer sem perda de informação, que quando o rotacional de um campo vetorial é
nulo, este campo pode ser escrito como o gradiente de um campo escalar. Assim, o campo magnético
numa região em que J~ = 0 pode ser escreito como:

(1.19) ~ = −µ0 ∇ϕ,


B
~ ·B
na qual ϕ é dito potencial escalar magnético. Da lei de Gauss para o magnetismo, temos ∇ ~ = 0,
temos:

(1.20) ~ · (−µ0 ∇ϕ) = 0


∇ ⇒ ∇2 ϕ = 0.

Exemplo 13: Sabendo que o campo magnético produzido por um dipolo magnético vale
h i
~ µ0
B(~r) = 4π 3(m·~
~ r)~
5
r
− m
~
3
m·~
~ r
, mostre que ϕ = 4πr 3 representa o potencial escalar magnético para o
r r
dipolo magnético.

Orientação de estudo: Eletromagnetismo - Hayt & Buck, 6ª Edição: Capítulo 8, Seções 8.6
e 8.7. Fazer uma leitura crítica e resolver os exercícios E8.8 e E8.9, da página 153.

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Capítulo 2

Forças Magnéticas, Materiais e Indutância

Até agora, tratamos de problemas que só podiam ser resolvidos a partir do conhecimento da con-
figuração da corrente elétrica que gera o campo magnético. Ou seja: se a distribuição de corrente é
conhecida, podemos determinar H, ~ B~ eA ~ em cada ponto do espaço de campo magnético não-nulo.
Uma outra forma de analisar o fenômeno magnetostático, é estudar as forças e os torques que o cmpo
magnético exerce sobre cargas de prova. O primeiro passo, é definir a força magnética gerada por
uma carga em movimento.

Força sobre uma carga em movimento

Lembrando um pouco de Eletromagnetismo I, a força que atua sobre uma carga elétrica esta-
cionária vale

F~ = q E.
~

Quando colocamos esta carga em movimento, além da presença de campo elétrico, também detec-
tamos a presença de um fluxo magnético (ou indução magnética), devido à presença de uma corrente
elétrica. Neste enunciado, encontramos a explicação ao funcionamento dos motores elétricos, e en-
tendemos a indução magnética. Quando uma carga elétrica q se desloca com velocidade ~v , ela gera
um fluxo de campo elétrico e também, um fluxo de campo magnético, com indução magnética B ~
e, sobre ela, atua uma força F~ , que depende do vetor indução magnética e do vetor campo elétrico,
gerado pela própria carga que se move. Esta é a chamada força de Lorentz:

F~ = q(E
~ + ~v × B),
~

sendo a força perpendicular ao plano ocupado por ~v e B. ~ Analisando esta equação, também
podemos ver facilmente que os campos elétrico e magnético, gerados por uma carga em movimento,
~ são ortogonais, o módulo de F~ é dado
são sempre perpendiculares entre si. Quando os vetores ~v e B
por F = qvB. Lembrando um pouquinho da Física II, a velocidade dos portadores de carga (elétrons)
é medida pela corrente elétrica I no condutor. A carga de elétrons num condutor, cuja área da seção

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 2: Forças Magnéticas, Materiais e Indutância

reta é A e cujo comprimento é L, pode ser expressa como qv = IL. Então, temos que o módulo força
que age sobre as cargas pode ser dada por:

F = BIL.

Ilustração:

a) Uma carga pontual de 20 nC está parada em certa região do espaço. Determine a força que atua
~ = −3î + 4ĵ + 6k̂.
sobre ela quando está imersa numa região de campo elétrico E

b) A mesma carga de 20 nC é colocada em movimento com uma velocidade ~v = (3, 2î − 4ĵ +
~ = 2î − 5ĵ + 3k̂. Determine a força
1, 6k̂) × 105 m/s, devido à presença de um campo magnético B
que atua sobre ela devido a este campo magnético.

c) Continuando na situação do item b: qual é a força total que atua sobre esta carga em movi-
mento, devido ao conjunto dos campos elétrico e magnético presentes nesta região?

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 2: Forças Magnéticas, Materiais e Indutância

Força sobre um elemento diferencial de corrente

Tomando um elemento diferencial de carga, dq, podemos definir um elemento de força dF~ :

dF~ = dq~v × B.
~

O elemento de de carga dq envolve um grande número de elétrons envolvidos num pequeno


volume diferencial dV , cujas dimensões devem ser muito maiores que a separação média entre os
elétrons. Então, a força total é meramente a força resultante (a soma de todas as forças) que agem so-
bre cada um dos elétrons. Este é um problema de muitos corpos, pois as forças agem individualmente
sobre cada elétron. Porém, se considerarmos que estes elétrons são elétrons livres que se movem
na superfície de um condutor, podemos desconsiderar o problema de muitos corpos e, sem perda de
generalidade, tratar esta força resultante como uma única força agindo sobre o condutor.

Efeito Hall

Os elétrons livres de um condutor movem-se entre as cargas pos-


itivas fixas dos átomos do material que o formam (os núcleos atômi-
cos). Quando colocamos este consutor em uma região de campo mag-
nético externo não-nulo, o movimento eletrônico é levemente deslo-
cado, pois há uma força magnética externa agindo sobre eles. Porém,
a força coulombiana entre estes elétrons e os núcleos atômicos, que
é muito mais forte que esta força magnética externa, se opõe a tal
desvio. Há então uma força resultante, com a mesma direção que a da
força coulombiana atrativa entre os elétrons livres e os núcleos, cujo
módulo é muito próximo da própria força coulombiana. Em outras
palavras, a força magnética externa não é páreo para a força coulom-
biana atrativa entre os elétrons livres e os núcleos do condutor. Mas
de alguma forma, ela está lá e causa um efeito global sobre o condu-
tor: esta força magnética acaba por ser transferida à rede cristalina do
condutor, causando-lhe uma vibração que provoca mudanças nas dis-
tâncias entre os elétrons livres. O resultado disso, é uma distribuição
de cargas não-homogênea sobre a superfície do condutor. Uma distribuição de cargas não-uniforme
causa uma diferença de potencial entre dois pontos distintos na superfície do condutor. Esta ddp é
conhecida como tensão de Hall e o o efeito em si, é dito efeito Hall.
Considere o condutor da figura abaixo, no qual os portadores de carga têm velocidade de arrasto
~va . Quando este condutor é submetido a um campo magnético externo, B, ~ a força devido a B
~ provoca
um desvio no movimento inicial dos seus portadores de carga. Se o condutor conduz uma corrente
I da esquerda para a direita, devido ao movimento de portadores de carga positiva, existe um campo
magnético B ~ na direção x, orientado no sentido negativo. Os portadores de carga positiva ficam

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 2: Forças Magnéticas, Materiais e Indutância

sujeitos a uma força magnética dada por F~ = q~va × B,


~ que aponta para cima, na direção do eixo z.
Essa força faz com que os portadores se
desloquem para o ponto A da figura, que
se torna positivo, com um potencial elétrico
maior do que no ponto B, situado na parte
de baixo do condutor. A existência desta ddp
provoca o surgimento de um campo elétrico
entre os pontos A e B, orientado para baixo,
na direção z. Este campo el[etrico passa a
atuar sobre os portadores de carga, fazendo
agir sobre eles uma força orientada no sen-
tido negativo de z. Quanto mais cargas são levadas ao ponto A devido à força magnética, maior fica
a ddp entre as faces do condutor, o cmapo elétrico torna-se cada vez maior, até igualar-se à força
magnética. Neste momento, os portadores param de se acumular no ponto A e voltam a mover-se
apenas na direção y. A condição de equilíbrio ocorre quando a força de Lorentz se anula:

F~L = q E
~ z + q~va × B
~ =0 ⇒ ~ z = −~va × B.
E ~

Como estas grandezas são perpendiculares, podemos tomar o módulo desta equação:

Ez = va B.

A ddp entre os pontos A e B é a tensão de Hall, VH , relacionada ao cmapo elétrico através da lei
de Coulomb:

VH = Ez Z ⇒ VH = Zva B.

Se considerarmos a densidade de cargas ρ = NVq , na qual N é o número de partículas em V e


n= N
V
é o número de portadores por unidade de volume, temos:

I = nqAva ,

I
na qual A é a área pela qual a corrente flui, A = XZ. Então: va = nqXZ
,

I IB 1
VH = ZB ⇒ VH = . Definido o coeficeinte Hall, RH = :
nqXZ nqX nq

IB
VH = RH .
X

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 2: Forças Magnéticas, Materiais e Indutância

Força que age sobre um fio que conduz corrente

Partindo da força de Lorentz, F~ = q~v × B,


~ para um fio condutor sobre o qual flui uma corrente
I ao longo do seu comprimento, podemos escrever a força elementar que atua sobre cada um dos
portadores:

~
dL
dF~ = qva dL̂ × B,
~ na qual: |~v | = va = .
dt

Existe, então, um número N de portadores de carga por unidade de volume. Para um elemento
infinitesimal de volume, temos: dV = AdL, com A sendo a área da secção reta do fio. Então a
densidade de portadores é:

n
N= ⇒ n = NV ⇒ dn = N AdL .
V

Assim, a força que age sobre todo o segmento dL do fio é dndF~ :

dF~ = N qAva dL
~ ×B
~.

Sendo ρ = N q a densidade volumétrica de cargas, obtemos:

dF~ = ρAva dL
~ ×B
~ na qual: I = ρAva . Então:

dF~ = IdL
~ ×B
~,

que representa a força total sobre todos os portadores de carga em dL. Se dividirmos esta ex-
pressão por dL, obtemos a força por unidade de comprimento:

dF~ ~
dL ~ dF~ ~.
=I ×B ⇒ = IdL̂ × B
dL dL dL

Ilustração:

Um fio é percorrido por uma corrente I. Um pedaço do fio, de comprimento L está submetido a
um campo magnético externo B ~ uniforme, como mostra a figura. Determine a força magnética que
age sobre o fio e a força magnética por unidade de comprimento.

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 2: Forças Magnéticas, Materiais e Indutância

Força entre elementos diferenciais de corrente

O campo magnético em um ponto P2 do espaço, devido a um elemento de corrente posicionado


no ponto P1 é dado por:

~2 = I1 ~ 1 × âR12 ,
dH 2
dL
4πR12

se substituirmos a força diferencial, que é dada por dF~2 = I2 dL̂2 × B


~ 2 , no ponto P2 , temos:

I1 I2 ~
d(dF~2 ) = µ0 2
~ 1 × âR12 ).
dL2 × (dL
4πR12

Esta é a expressão que calcula o elemento de força infinitesimal entre dois elementos de corrente
infinitesimais.

Ilustração:

Considere duas correntes, I1 = 3 A, no sentido negativo do eixo y e I2 = 4 A, no sentido negativo


do eixo z. Determine a força entre pontos P1 (5, 2, 1) e P2 (1, 8, 5).

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 2: Forças Magnéticas, Materiais e Indutância

Força e torque em circuito fechado

A força de um dipolo magnético, chamado de momento de dipolo magnético, pode ser imaginado
como uma medida da habilidade de um dipolo de se alinhar quando submetido a um campo magnético
externo. Em um campo magnético uniforme, a magnitude do momento de dipolo é proporcional
a soma de torque no dipolo, a qual ocorre quando o dipolo está em ângulos certos para o campo
magnético. O momento de dipolo magnético, frequentemente chamado de momento magnético, pode
ser definido como o máximo de quantia de torque causado por força magnética, nas proximidades de
campo magnético no vácuo. Imagine uma espira, de uma volta, no plano z = 0, com largura W ao
longo do eixo x e comprimento l ao longo do eixo y, imersa em uma região de indução magnética B, ~
uniforme e orientado na direção do eixo x. A espira é percorrida pela corrente I no sentido horário.
As únicas forças aparecem nos lados da espira, e têm módulo F = BIL. O torque relativo a cada
“braço” é dado por:

~Γ = F~ × R
~ ⇒ ~Γ = BILW sin γ,

na qual, define-se m = ILW como o módulo do momento de dipolo magnético m ~ na qual S


~ = I S,
é a área da espira. Então:

~Γ = m ~
~ ×B ⇒ ~Γ = I S
~ × B.
~

Para um circuito fechado qualquer, a forá fica melhor definida como F~ = −I B ~ × dL.
~ Se B~ for
H

uniforme,temos a integral F~ = −I B ~ × dL. ~ Já sabemos do cálculo vetorial que esta última integral
H

é nula. Então a força sobre o circuto fechado é nula. Porém, este não é o resultado final. A força sobre
um elemento de corrente pode ser nula, mas se o campo não for uniforme, podem existir regiões do
circuitos com diferentes densidades lineares e até mesmo volumétricas de corrente, garantindo que
haja uma força não-nula sobre o circuito. Se tomarmos no circuito, dois elementos diferenciais de
corrente, podemos verificar que, mesmo qua a força devido a cada um deles seja nula, o torque total
é diferente de zero. O torque é dado por: ~Γ = R~ × F~ para cada elemento de corrente. O torque total,
resultante dos dois elementos de corrente será: ~Γ = R~ 1 × F~1 + R
~ 2 × F~2 , como as forças são nulas, a
sua soma também é nula, então: F~1 + F~2 = 0. Obtemos, então:

~Γ = R
~ 1 × F~1 − R
~ 2 × F~1 ⇒ ~Γ = (R
~1 − R
~ 2 ) × F~1 ⇒ ~Γ = R
~ 21 × F~1 .

~ 21 liga o ponto de aplicação da força F2 ao ponto de aplicação da força F1 , portanto,


O vetor R
independe da origem dos vetores R~1 e R
~ 2 . Portanto, o torque independe da escolha de uma origem.
O elemento diferencial de torque é dado por:

d~Γ = dm ~
~ × B.

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 2: Forças Magnéticas, Materiais e Indutância

Ilustração:

Considere uma espira retangular de dimensões 1 × 2 m no plano xy, imersa numa região de
indução magnética B ~ 0 = −0, 6î + 0, 8ẑ T . uma corrente I = 4 mA circula pela espira no sentido
anti-horário. Determine o torque sobre a espira.

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 2: Forças Magnéticas, Materiais e Indutância

Condições de fronteira magnéticas

A figura abaixo mostra a fronteira entre dois materiais magnéticos diferentes, de permeabilidades
magnéticas µ1 e µ2 . Os materiais são isotrópicos e homogêneos.

Primeira condição de fronteira:

Aplicando a lei de Gauss sobre a superfície gaussiana cilíndrica, temos:


I
~ · dS
B ~ =0,
S

somente as faces do topo e da base do cilindro contribuem com a integral, pois a área lateral tem vetor
normal perpendicular ao vetor indução magnética, de forma que o produto interno entre eles é nulo.
Então, obtemos:

BN 1 ∆S − BN 2 ∆S = 0 ⇒ BN 1 = BN 2 . Assim, temos:

µ1
HN 2 = HN 1 . Para a magnetização, temos:
µ2

χ2 µ1
MN 2 = MN 1 .
χ1 µ2

Segunda condição de fronteira:

Aplicando a lei circuital de Ampère no caminho retangular da figura, observamos que os lados
~ Assim temos:
menores do retângulo não contribuem com a integral pois são perpendiculares a H.
I
~ · dL
H ~ =I ⇒ Ht1 ∆L − Ht2 ∆L = K∆L, na qual:

~ é definido como uma densidade de corrente linear de módulo K, conduzida pela superfície. Então:
K

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 2: Forças Magnéticas, Materiais e Indutância

Ht1 − Ht2 = K , ~ t1 − H
com: (H ~ t2 ) = âN 12 × K
~ .

~ obtemos:
Para a componente tangencial de B,

Bt1 Bt2
− = K, e para a magnetização:
µ1 µ2

χ2
Mt2 = Mt1 − χ2 K.
χ1

Ilustração:

Suponha que µ1 = 4 µH/m, na região 1 com z > 0 e que µ2 = 7 µH/m na região 2 onde z < 0.
Admita uma densidade de corrente linear na fronteira (z = 0) entre estes dois materiais, dada por
~ = 80î A/m. Se houver uma indução magnética na região de valor B
K ~ 1 = (2î − 3ĵ + k̂) mT , qual é
o valor da indução magnética na região 2?

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 2: Forças Magnéticas, Materiais e Indutância

Indutância e Indutância mútua

Já vimos que o capacitor é um dispositivo apropriado para gerar um campo elétrico e que uma
corrente elétrica cria um campo magnético. Em particular, calculamos o campo magnético de um
solenóide. Este dispositivo está para o magnetismo, assim como o capacitor está para a eletricidade.
Há uma completa analogia entre os dois dispositivos. Assim, correspondendo à capacitância de um
capacitor, podemos definir a indutância (ou auto-indutância), L:


L= ,
I

sendo N o número de espiras do solenóide, Φ o fluxo de campo magnético total na bobina e I a


corrente que passa pelo solenóide. Esta expressão é válida para meios magnéticos lineares, nos quais
o fluxo de campo é proporcional à corrente. A unidade de indutância é o H = henry, equivalente a
um weber-espira por ampère.

Indutância em um cabo coaxial:

Considere o cabo coaxial de raio interno a e raio externo b da figura abaixo, com o eixo principal
ao longo do eixo z.

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 2: Forças Magnéticas, Materiais e Indutância

Indutância em uma bobina toroidal de N espiras:

Se considerarmos uma bobina toroidal, com um enrolamento de N espiras, cujas voltas têm uma
separação da ordem da espessura do filamento, podemos obter a indutância utilizando o mesmo pro-
cedimento acima:

µ0 N I
Bθ = ,
2πρ

µ0 N IS
Φ= ,
2πρ0
µ0 N 2 IS
L= ,
2πρ0
nas quais S é a área da secção reta do toróide.
Porém, se a separação entre as espiras for grande em relação à espessura do filamento enrolado,
cada espira terá a sua própria indutância agindo sobre as demais espiras e, a indutância total não
poderá mais ser tomada como o produto da indutância de uma espira pelo raio médio das espiras,
como feito acima. Neste caso, estamos diante do fenômeno de indutância mútua, onde cada espira
age sobre a outra simultaneamente e devemos olhar a indutância de cada espira separadamente. A
indutância total é dada pela soma discreta das indutâncias de cada espira:

Φ1 + Φ2 + ... + Φi
L= .
I

É óbvio que esta conta não é trivial! Na maioria dos casos, é necessário recorrer a dados expe-
rimentais e grandezas empíricas de caracterização do dispositivo, como os fatores de enrolamento e
suas dimensões.
Uma forma aproximada de calcular a indutância mútua de um dispositivos como estes, é partir
das medidas de energia produzida pela corrente que flui pelos dispositivos:

2WH
L= ,
I2

na qual WH é a energia magnética produzida pela corrente I que flui no filamento do dispositivo.
A expressão de WH só poderá ser deduzida a partir das equações de Maxwell completas (com
variação temporal), as quais viremos mais à frente. Por enquanto, vamos aceitar a sua forma como
um comparativo com a, já deduzida, expressão para a energia elétrica armazenada em um capacitor:

1 Z ~ · Edv
~ 1 Z ~ · Hdv
~ .
WE = D * WH == B
2 vol 2 vol

~ = µH,
Se lembrarmos que B ~ obtemos:

1 Z 1 Z B2
WH = µH 2 dv ou WH = dv .
2 vol 2 vol µ

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 2: Forças Magnéticas, Materiais e Indutância

Então a indutância mútua pode ser expressa como:


R
~ · Hdv
B ~
vol
L= .
I2

Orientação de estudo: Eletromagnetismo - Hayt & Buck, 6ª Edição: Capítulo 9, Seções 9.9
e 9.10. Fazer uma leitura crítica e resolver os exercícios E9.11 da página 181 e E9.12 e E9.13 da
página 185.

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 2: Forças Magnéticas, Materiais e Indutância

EXERCÍCIOS AVALIATIVOS 2

1) Considere uma carga elétrica Q = 18 nC movendo-se num condutor com velocidade de


5.106 m/s na direção ~av = 0, 04î − 0, 05ĵ + 0, 2k̂. Calcule o módulo da força que age sobre a
~ = (−3î + 4ĵ + 6k̂) mT e E
carga devido aos campos B ~ = (−3î + 4ĵ + 6k̂) kV /m.

2) Determine a auto-indutância de um cabo coaxial de 3, 5 m de comprimento e raios 0, 8 mm e


4 mm, preenchido com um material cuja permeabilidade relativa vale 50.

3) Considere o enrolamento de 500 espiras ao redor de uma bobina toroidal, de área transveral
6, 25 cm2 . Se o raio médio do toróide é 2 cm, determine a sua auto-indutância.

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Capítulo 3

Campos Variantes no Tempo e Equações de


Maxwell

Lei de Faraday
Agora, vamos começar a falar sobre o que chamamos propriamente de
Eletromagnetismo = Eletro + magnetismo
ou seja, a interação entre os campos elétrico e magnético de um sistema.

Um pouco de história sempre é bom para valorizarmos o trabalho dos cientistas pioneiros, que
tanto contribuiram para a renovação tecnológica da qual disfrutamos hoje.
No decorrer da vida, Michael Faraday (1791-1867) aprendeu a pesquisar num laboratório de
química. Ele aprendeu igualmente a sobreviver aos insultos decorrentes da sua condição de encader-
nador assalariado, aspirante à integração no mundo da alta sociedade que dominava a ciência. Na
França daquela época foi confirmada, por Ampère e um colega, a espantosa notícia que a corrente
elétrica que circula em um enrolamento espiral também se comportava como um ímã, atraindo pe-
quenos pedaços de ferro. Por essa razão, sua descoberta foi batizada de eletroímã. No decorrer dos
dois séculos anteriores, os filósofos naturalistas tinham descoberto várias semelhanças entre a eletri-
cidade e o magnetismo. O francês Charles-Augustin Coulomb descobrira que ambas as forças tinham
propriedades semelhantes, por diminuírem de intensidade com a distância, exatamente da mesma
forma. O alemão Otto von Guericke descobrira que ambas as forças tinham duas faces, por serem
capazes de atrair alguns objetos e de repelir outros.
Desta feita, refletia Faraday incredulamente, Orsted, Ampère e Arago tinham chegado mais longe,
revelando algo mais profundo sobre as duas forças. A sua espantosa descoberta levantava a possibili-
dade de que a eletricidade e o magnetismo pudessem ser de alguma forma intermutáveis.
No entanto, se a eletricidade podia se comportar como um ímã, faltava-se provar que o contrário
também era verdadeiro: O magnetismo poderia se comportar como a eletricidade? Dito de outra
forma: poderia um ímã produzir eletricidade? Subitamente, encontrar uma resposta para essa per-
gunta tomou-se o Santo Gral da ciência do século XIX.
Faraday observou que o magnetismo produzido pela corrente elétrica exercia sempre a mesma
influência sobre uma bússola magnética: imaginando a bússola deitada sobre uma mesa e a corrente

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Prof. Beatriz Bronislava Lipinski Eletromagnetismo II - Notas de Aula
Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 3: Campos Variantes no Tempo e Equações de Maxwell

elétrica a fluir do chão em direção ao teto, a agulha da bússola girava sempre no sentido, inverso ao dos
ponteiros do relógio, e nunca ao contrário. Não sabia o que isto significava, mas após ter apresentado
o artigo sobre a história da eletricidade e do magnetismo aos Annals of Phylosophy, decidiu averiguar
a questão. À medida que se concentrava, começou a esboçar-se uma imagem mental que explicava
a experiência original de Orsted. Tal como uma corrente ascendente de ar se transforma por vezes
num tornado, especulou se uma corrente ascendente de eletricidade podia produzir redemoinhos de
magnetismo, provocando um ligeiro movimento a qualquer agulha magnética que se encontrasse nas
proximidades.
Faraday percebeu que esta imagem tinha mais de palpite do que de propriamente teoria, mas havia
uma maneira de a testar: se a corrente elétrica produzia de fato um tornado magnético, então os seus
ventos rotativos fariam girar continuamente quaisquer objetos magnéticos que se encontrassem nas
proximidades, e não apenas de forma ligeira, como acontecia com a agulha magnética de Orsted. A
questão era saber como fazer isso acontecer. Após semanas de experimentação, a resposta surgiu.
Primeiro, ele pegou um ímã em forma de barra e alinhou-o com a vertical. Nessa posição, colocou-o
num recipiente com mercúrio, de modo que o ímã passou a flutuar em pé, como uma pequena bóia.
Em seguida colocou um fio condutor no centro do recipiente e fez passar através deste uma corrente
elétrica em direção ao teto. Como resultado, algo notável aconteceu: o ímã-bóia começou a rodar em
tomo do condutor, tal como se fosse arrastado por uma corrente invisível, no sentido anti-horário.
Com esta simples experiência, Faraday matou dois coelhos com uma só cajadada. Confirmou a
sua teoria do tornado magnético e no processo criou o primeiro motor elétrico do mundo. Futura-
mente, os engenheiros encarregar-se-iam de aperfeiçoar a tosca engenhoca concebida por Faraday,
criando motores elétricos que acabariam por bater em potência os motores de vapor que propulsion-
avam a revolução industrial. Mesmo a um século de distância, com motores elétricos a serem pro-
duzidos em todos os tamanhos e feitios, o princípio que os força a girar ainda é o do campo de forças
magnéticas em forma de tornado, reconhecido pela primeira vez pelo prodígio da classe trabalhadora
inglesa.
A sua fama disparou, tal como sucedeu à altura das pilhas voltaicas: para obter eletricidade
em quantidade suficiente para alimentar motores elétricos com potências significativas, os cientis-
tas viram-se forçados a construir baterias de dimensões tais que ocupavam divisões inteiras.
No laboratório, o despretensioso Faraday trabalhava agora mais arduamente do que nunca para
encontrar a resposta a uma questão que o intrigava desde a descoberta do motor elétrico. Se a eletri-
cidade podia produzir magnetismo, porque não seria o inverso verdadeiro? Porque o magnetismo não
poderia produzir eletricidade? Muitos cientistas se puseram à mesma questão, mas não conseguiram
encontrar uma resposta. Nem mesmo Orsted teve sucesso, apesar de ter trabalhado dia e noite para
descobrir o complemento lógico da sua descoberta original. A 29 de Agosto de 1831, Faraday encon-
trou o filão. Começou a enrolar um comprido fio metálico em torno de um segmento de um anel de
ferro e em seguida, fez o mesmo em torno do outro segmento do anel. Se os fios metálicos fossem
ligaduras, o braço circular do anel aparentaria possuir feridas em dois pontos opostos. Como sempre,
o plano de ação de Faraday era bastante simples: faria passar uma corrente elétrica pela primeira
ligadura de fio, produzindo um vento magnético que percorreria todo o anel. Se a dita tempestade

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Prof. Beatriz Bronislava Lipinski Eletromagnetismo II - Notas de Aula
Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 3: Campos Variantes no Tempo e Equações de Maxwell

magnética produzisse uma corrente elétrica na outra ligadura de fio, Faraday teria encontrado aquilo
que todos procuravam: o magnetismo teria criado eletricidade.
Se tal coisa acontecesse, antevia Faraday, provavelmente a corrente elétrica produzida seria ex-
tremamente débil e por isso nunca havia sido detectada. Assim, ligou o segundo segmento a um
amperímetro capaz de detectar o menor vestígio possível de corrente elétrica. Agora era tudo ou
nada. Ao eletrificar o primeiro enrolamento através de uma pilha voltaica, olhou esperançoso para o
amperímetro. O ponteiro moveu-se! “Oscilou e voltou à posição de repouso”, escreveu histérica
e históricamente no registro. Durante uns momentos, Faraday olhou estupefato para o ponteiro.
Voltaria ele a mover-se? Após alguns minutos de espera vã, desistiu. Todavia, ao desligar a pilha
ficou surpreendido ao observar “mais uma vez uma perturbação no amperímetro”. Durante o resto da
noite, Faraday continuou a ligar e a desligar o anel da pilha. A de cada vez que o fazia, o ponteiro do
amperímetro movia-se em espasmos. Finalmente fez-se luz no seu espírito e nesse momento sentiu-
se como o jovem que saltara de alegria numa véspera de Natal, quase vinte anos antes. A corrente
elétrica no primeiro enrolamento produzia um tornado magnético que, por sua vez, produzia uma
corrente elétrica no outro enrolamento. Mas isso acontecia apenas quando a intensidade do tornado
aumentava ou diminuía. Estavam explicados os saltos do ponteiro: de cada vez que Faraday lig-
ava/desligava a pilha, o tornado magnético surgia/desaparecia, produzindo o efeito. Entre esses dois
momentos, desde que os ventos magnéticos se mantivessem estáveis ao longo do anel de ferro, nada
acontecia. Durante os meses seguintes, Faraday passou em revista e refinou o equipamento, chegando
sempre às mesmas conclusões que confirmavam a descoberta original. Em 1831, finalmente, Faraday
- o prodígio da Royal Institution, então com 40 anos de idade, resumia a sua descoberta histórica
numa única frase:

“Sempre que uma força magnética aumenta ou diminui, produz eletricidade. Quanto mais de-
pressa se dá esse aumento ou diminuição, mais eletricidade se produz.”

Embora a eletricidade e o magnetismo se pudessem afirmar individualmente, na verdade estavam


inexplicavelmente associados, surgindo sempre um onde quer que o outro estivesse presente. Seria
por este motivo que a ciência acabaria por batizar esta bizarra relação de forças com um único epíteto
híbrido: eletromagnetismo. Com esta nova forma de encarar a eletricidade e o magnetismo, Faraday
e os seus sucessores concretizaram finalmente uma parte do antigo sonho científico da unificação das
forças da natureza.
O trabalho de unificação dos fenômenos elétricos e magnéticos ficou a cargo de James Clerk
Maxwell, anos após a publicação dos trabalhos de Faraday, que obteve convergência total em quatro
únicas equações, que levam o seu nome. Nas equações completas de Maxwell, leva-se em conta as
variações temporais dos campos elétricos e magnéticos, estabelecendo a relação entre eles:

“Um campo elétrico produz um campo magnético e um campo magnético variável produz um
campo elétrico.”

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 3: Campos Variantes no Tempo e Equações de Maxwell

Equivale a dizer que uma corrente elétrica gera um campo magnético e um campo magnético
variável produz uma corrente elétrica.
Após este breve histórico, começaremos apresentando outro tipo de campo elétrico: o campo
elétrico induzido ou força eletromotriz induzida - fem. Uma força eleromotriz é uma tensão que surge
a partir de condutores que se movem em um campo magnético, ou a partir de campos magnéticos
variantes e é regida pela lei de Faraday (lei de indução de Faraday), mais conhecida como:

dΦ I
~ ~ d Z ~ ~
f em = V = − = E · dL = − B · dS,
dt dt S

na qual dΦdt
é a variação do fluxo magnético no tempo. O valor desta derivada pode ser não-nula em
três situações:
1) no caso de um fluxo variável no tempo através de um caminho fechado estacionário e
2) no caso de um movimento relativo entre um fluxo estacionário e um caminho fechado.
3) no caso de uma combinação entre as duas primeiras.

O sinal negativo indica que a f em-induzida flui no sentido inverso do fluxo de corrente original.
Haverá, portanto, uma redução no fluxo de corrente original ⇒ lei de Lenz.
Em 1832, o jovem físico escocês Maxwell publicou a sua obra de referência Tratado da eletri-
cidade e Magnetismo, na qual traduziu a simples afirmação de Faraday numa equação matemática.
Maxwell empregou a letra B para designar o magnetismo e a letra E para designar a eletricidade. Em-

pregou igualmente o símbolo − ∂t para representar a expressão “a taxa de crescimento ou diminuição
~ para designar “o valor de ...”. Assim sendo, a descoberta de Faraday resumia-
de ...” e o símbolo ∇×
se à seguinte equação:

~
(3.1) ~ ×E
∇ ~ = − ∂B
∂t .
Isto é, a quantidade de eletricidade produzida pelo magnetismo era igual à taxa de aumento ou
diminuição da força causadora. Um campo magnético que varia rapidamente produz uma grande
quantidade de eletricidade, enquanto que um campo magnético que registra variações lentas produz
uma ínfima corrente elétrica. Se o campo magnético se mantiver constante no tempo, não há pro-
dução de eletricidade. Embora tenha se expressado numa linguagem considerada pouco elegante pela
ciência, Faraday olhara para o mundo com olhos de poeta: tinha visto a simplicidade onde existia
complexidade. Juntamente com Orsted, mostrou que a eletricidade podia gerar magnetismo e que o
magnetismo podia gerar eletricidade, uma relação genética tão incestuosa como nenhuma outra exis-
tente na natureza. Quando um condutor se movimenta num fluxo magnético, surge um campo elétrico
induzido devido ao movimento, que é dado por:

(3.2) ~ = ~v × B
E ~,

~ o vetor indução magnética. Assim, o campo elétrico


na qual ~v é a velocidade do condutor e B,
induzido tem duas componentes:

37
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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 3: Campos Variantes no Tempo e Equações de Maxwell

(a) a componente devido à variação temporal do campo magnético, dado pela equação 3.1. Aplicando
o teorema de Stokes a esta equação, encontramos a tensão induzida:

Z ~
∂B I
~
· dS = − E~ · dL
~,
S ∂t

que também representa a lei de Lenz.


(b) a componente devido ao movimento do condutor no espaço, dado pela equação 3.2, que é a tensão
Z Z
~ · dL
E ~ = ~ · dL
(~v × B) ~.

A tensão induzida é a soma das duas contribuições:

Z Z ~
∂B
V = ~ · dL
E ~ − ~.
· dS
L S ∂t

A forma diferencial (ou pontual) desta equação é:

~
~ = − ∂B .
~ × E)
(∇
∂t

As duas últimas são as formas integral e diferencial de uma das quatro equções de Maxwell. Se
observarmos bem: quando B ~ não varia com o tempo, elas se reduzem às equações eletrostáticas:
H
~ · dL
E ~ = 0 e ∇ ~ ×E ~ = 0.

Exemplo:

Uma espira retangular de lados a e b, posicionada no plano do papel, está imersa numa região
de campo magnético B, ~ saindo perpendicularmente ao plano, como mostra a figura. A espira gira
com uma velocidade angular ω ~ . Determine a força eletromotriz induzida e o sentido da corrente no
circuito. Calcule também o valor da corrente induzida em função da resistência elétrica, R, da espira.

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 3: Campos Variantes no Tempo e Equações de Maxwell

Correntes de deslocamento

Agora vamos analisar o que acontece quando um campo elétrico varia no tempo. Partimos da lei
H
circuital de Ampère, H ~ · dL
~ = I, que afirma que a integral de linha de H
~ sobre qualquer caminho
fechado dL ~ corresponde à corrente elétrica que circula por este caminho. Lembre-se: o sentido da
corrente é dado pela regra da mão direita.
Aplicando o teorema de Stokes à integral acima, temos:
I Z Z
~ · dL
H ~ = ~ × H)
(∇ ~ · dS
~ = I = J~ · dS.
~
S S

~ × H)
Então: (∇ ~ = J.
~ Além disso: aplicando o teorema da divergência a R J~ · dS,
~ temos:
S

Z Z
dQ
I = J~ · dS
~ = ~ · J)
(∇ ~ dv = − ,
S V dt

na qual a derivada de Q em relação a t representa a taxa de decaimento do fluxo de portadores de


carga positiva (corrente convencional) para fora da superfície limitada por S, sendo Q a carga total
envolvida pela superfície fechada, definida pela integral de volume. Ou seja: a densidade volumétrica
de carga, ρv = dQ / dv, então:

~ dv = − d
Z Z
~ · J)
(∇ ρv dv,
V dt

a qual, para superfícies constantes no tempo, fica simplesmente:


Z
~ · J)
~ dv = −
Z
∂ρv
(∇ dv,
V ∂t

e obtemos, então a Equação da Continuidade:

~ · J~ = − ∂ρv .

∂t

~
Se lembrarmos das aulas anteriores .... em uma delas tomamos o divergente do rotacional de H:

~ · (∇
∇ ~ × H)
~ = ∇
~ · J~ = 0.

Se compararmos as duas últimas equações, percebemos que há algo de conflitante entre as duas.
O caso em que ∂ρv / ∂v = 0 é uma limitação irreal. Portanto, há a necessidade de realizar uma
correção para o caso dos campos variantes no tempo. Essa correção se faz adicionando um campo
~ à densidade de corrente J.
vetorial G ~ Assim:

~ ×H
∇ ~ = J~ + G,
~

tomando o divergente desta:

39
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~ · (∇
∇ ~ × H)
~ = ∇
~ · J~ + ∇
~ ·G
~ = 0,

sendo, necessariamente:
~ = ∂ρv .
~ ·G

∂t
É importante lembrar que a primeira equação da eletrostática, a lei de Gauss, relaciona o vetor
~ à densidade volumétrica de carga, ρv :
densidade de fluxo elétrico, D,
I
~ · dS
ε0 E ~ = Q, ~ ·D
∇ ~ = ρv , ~ = ε0 E,
D ~

de forma que podemos escrever:

~
∇ ~ = ∂ (∇
~ ·G ~ · D) ~ · ∂D ,
~ = ∇
∂t ∂t

Assim:

~
~ = ∂D ,
G
∂t

e chegamos à relação final da lei circuital de Ampère na forma diferencial (ou pontual):

~
~ = J~ + ∂ D .
~ ×H

∂t

~ / ∂t, tem dimensão de densidade de corrente e foi denominado


O último termo desta equação, ∂ D
por Maxwell, de densidade de corrente de deslocamento, usualmente denotado por J~d e é consequên-
~ Então:
cia de uma variação temporal da corrente de deslocamento, D.

~ ×H
∇ ~ = J~ + J~d .

Devemos lembrar ainda que, a densidade de corrente, J,~ pode se referir a uma densidade de
corrente de condução, J~ = σ E,
~ consequência do movimento de cargas em uma região de densidade
líquida nula de cargas, ou à densidade de corrente de convecção, J~ = ρv dv, que é resultado da
variação da densidade de cargas no volume.
Em um meio não-condutor (σ = 0), no qual nenhuma densidade volumétrica de cargas esteja
presente, J~ = 0 e tem-se:

~ ~
∇ ~ = ∂D
~ ×H e ~ = ∂B ,
~ ×E

∂t ∂t

~ eH
nas quais pode-se observar a simetria entre os vetores E ~ e entre os vetores D
~ e B.
~

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 3: Campos Variantes no Tempo e Equações de Maxwell

Forma diferencial das Equações de Maxwell

Agora já temos condições de tabelar as quatro equações de Maxwell, levando em conta as vari-
ações temporais dos campos elétrico e magnético. A lei de Gauss, tanto para o campo elétrico quanto
para o campo magnético, permanecem inalteradas pois nela, leva-se em conta somente as variações
espaciais dos referidos campos. As equações abaixo são capazes de descrever quaisquer fenômenos
eletromagnéticos.

~ ×E
∇ ~ = − ∂ B~ ⇒ Lei de Faraday
∂t
~ ×H
∇ ~ = J~ + ∂ D~ ⇒ Lei de Ampère-Maxwell
∂t
~ ·D
∇ ~ = ρv ⇒ Lei de Gauss para a eletrostática
~ ·B
∇ ~ =0 ⇒ Lei de Gauss para a magnetostática

A segunda equação esconde a informação sobre a densidade volumétrica de carga, ρv , que pode
ser uma fonte de linhas de fluxo elétrico, se ρV > 0 ou um sorvedouro de linhas de campo elétrico,
se ρv < 0. Assim, não se pode mais dizer que todas as linhas de fluxo começam ou terminam em
uma carga, pois a primeira equação mostra que D ~ eE ~ podem ter circulações se houver um campo
magnético variante no tempo estiver presente. Portanto, as linhsa de fluxo elétrico podem formar
espiras fechadas.
A quarta equação de Maxwell mostra que o divergente de B ~ é nulo, indicando a inexistência de
cargas magnéticas isoladas: não existem monopolos magnéticos. Portanto, o fluxo magnético B ~ é
sempre encontrado em percursos fechados, nunca divergindo ou convergindo para uma fonte pontual,
como é possível para o fluxo elétrico.
O conjunto das quatro equações formam a base de toda a teoria eletromagnética. Elas são
equações diferenciais parciais e relacionam os campos elétrico e magnético um com o outro e cada
~ As
um com suas fontes: a densidade volumétrica de cargas, ρv e a densidade de corrente elétrica, J.
denominações dos quatro campos relacionados nas equações de Maxwell e suas unidades estão na
tabela abaixo:
~
D ⇒ Densidade de fluxo elétrico ou vetor deslocamento ⇒ C/m2
~
E ⇒ Intensidade de campo elétrico ⇒ V /m
~
B ⇒ Densidade de fluxo magnético ou vetor indução magnética ⇒ W b/m2
~
H ⇒ Intensidade de campo magnético ⇒ A/m

Para chegarmos às quatro equações de Maxwell, utilizamos outras equações, as quais chamamos
~ com E
Equações Auxiliares ou Constitutivas, que relacionam o campo D ~ eB~ com H:~

~ = εE
D ~ e ~ = µH
B ~ ,

além destas, outras equações são relevantes: as equações que relacionam a densidade de corrente
de condução, J~ à intensidade de campo elétrico, E ~ e a que relaciona a densidade de corrente de
convecção, J~ à densidade volumétrica de cargas, ρv :

41
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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 3: Campos Variantes no Tempo e Equações de Maxwell

J~ = σ E
~ e J~ = ρv~v .

Nas relações acima, as grandezas ε, µ e σ representam a permissividade elétrica do material, a


permeabilidade magnética do meio e a condutividade elétrica do material, respectivamente. Outros
detalhes que devemos lembrar é que, como visto na discipilna de Eletromagnetismo I, certos materiais
podem sofrer um efeito relevante de polarização elétrica, representado pelo vetor polarização, P~ . E,
como visto em aulas anteriores, certos materiais podem sofrer um efeito relevante de magnetização,
representado pelo vetor magnetização, M~ . nestes casos é necessário somar essas contribuições:

~ = εE
D ~ + P~ e ~ = µ(H
B ~ +M
~),

lembrando que a polarização elétrica pode ser entendida como a soma dos momentos de dipolo
elétrico por unidade de volume e, a magnetização é a soma dos momentos magnéticos dos porta-
dores de carga negativa do material por unidade de volume. O vetor polarização depende de uma
grandeza que caracteriza o material dielétrico, χe , a susceptibilidade elétrica do dielétrico, que mede
o quanto o dielétrico é sensível a um campo elétrico. O vetor magnetização do material depende a
susceptibilidade magnética, χm , que mede o quanto o material é sensível a um campo magnético:

P~ = χe ε0 E
~ e ~ = χm H
M ~ .

Definimos também, grandezas relativas: a constante dielétrica do dielétrico, εr = εε0 e a perme-


abilidade magnética relativa, µr = µµ0 . Definimos ainda, as relações entre ε e χe e µ e χm :

ε µ
εr = 1 + χ e = e µr = 1 + χ m = .
ε0 µ0

Na tabela abaixo encontra-se uma lista das grandezas relacionadas aos vetores polarização elétrica
e magnetização:

P~ vetor polarização C/m2


ε permissividade elétrica do material V /m
ε0 permissividade elétrica do vácuo 8, 85.10−12 F/m
εr permissividade relativa adimensional
χe susceptibilidade elétrica adimensional
M~ vetor magnetização A/m2
µ permeabilidade magnética do material H/m
µ0 permeabilidade magnética do vácuo 1, 26.10−6 H/m
µr permeabilidade relativa adimensional
χm susceptibilidade magnética adimensional

A última equação, que não podemos esquecer, é a força de Lorentz:

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 3: Campos Variantes no Tempo e Equações de Maxwell

F~ = q(E
~ + ~v × B)
~ .

Forma integral das Equações de Maxwell

As formas integrais das equações de Maxwell são usualmente mais fáceis de serem reconhecidas
em termos das leis experimentais, a partir das quais elas foram obtidas pela generalização do processo.
Experimentos exploram grandezas físicas macroscópicas e portanto, os seus resultados são melhor
expressos em termos de relações integrais.
H
E ~ = − R ∂ B~ · dS
~ · dL ~ ⇒ Lei de Faraday
S ∂t
~ · dL
~ = ~ ~ R ~
∂D ~ =I +R ~
∂D ~
S J · dS + S · dS · dS ⇒
H R
H ∂t S ∂t
Lei de Ampère-Maxwell
H
~ · dS
D ~ = εH E ~ · dS
~=q ⇒ Lei de Gauss para a eletrostática
H
~ · dS
B ~=0 ⇒ Lei de Gauss para a magnetostática

Forma harmônica das Equações de Maxwell

Até agora assumimos que a dependência temporal dos campos eletromagnéticos, (E(t), ~ ~
D(t),
~
H(t) ~
e B(t)) é arbitrária. A partir de agora assumiremos que estes campos variam harmonicamente
com o tmpo. Ou seja: a dependência temporal destes campos se dá por forma de ondas senoidais
periódicas no tempo. esta aproximação tem muita aplicação prática no estudo de ondas eletromag-
néticas, como emissão e transmissão de ondas de rádio, tv, banda larga, telefonia fixa e celular, etc,
além de poder ser estendida para a maioria das formas de ondas, através da transformada de Fourier.
Funções senoidais e cossenoidais são expressas como fasores.

Um fasor é um número complexo, z = x + iy, com i = −1. utilizando a fórmula de Euler,
podemos escrever:
q y
z = x + iy = reiφ = r(cos φ + i sin φ) , sendo: r = |z| = x2 + y 2 e: tan φ = ,
x

x é dito parte real e y, a parte imaginária, r é a magnitude e φ, a fase


do fasor z. a representação de z na forma retangular, z = x + iy e na
forma polar, z = reiφ estão ilustradas na figura. A soma e a subtração de
fasores são mais facilmente efetuadas na forma retangular, enquanto que o
produto e o quociente de fasores são melhores efetuados na forma polar.
Para introduzir a dependência temporal, utilizamos a relação:

φ = ωt + θ , reiφ = rei(θ+ωt) ⇒ reiφ = reiθ eiωt) ,

sendo θ uma função qualquer do tempo ou das coordenadas espaciais, podendo ser constante e ω
representa a velocidade angular, dada em rad/s. As partes real e imaginária de z são dadas por:

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 3: Campos Variantes no Tempo e Equações de Maxwell

Re(reiφ ) = r cos (ωt + θ) e Im(reiφ ) = r sin (ωt + θ) .

Podemos ilustrar a utilização de fasores com um exemplo simples: Considere que, a corrente
senoidal dada por I1 (t) = I0 cos(ωt + θ) é igual à parte real da corrente I2 (t) = I0 eiφ = I0 eiθ eiωt . O
termo complexo é dito fasor corrente, IS = I0 eiθ . O subíndice S serve para indicar a forma fasorial
de I(t).
De maneira geral, uim fasor pode ser um escalar ou uma vetor. Se um vetor A(x, ~ y, z, t) é um
campo harmônico no tempo, a forma fasorial de A ~éA ~ S (x, y, z) e a relação entre as duas grandezas
fica dada por:

~ = Re(A
A ~ S eiωt ) .

~ = A0 cos (ωt − βx)ây , podemos escrever o vetor A


Por exemplo: Se A ~ como:

~ = Re(A
A ~ S eiωt ) = Re[(A0 e−iβx ây )eiωt ] ,

~
sendo A0 e−iβx ây a forma fasorial de A.
~ e relação ao
A diferenciação de fasores é bem simles. Para o exemplo anterior, a derivada de A
tempo é:

~
∂A ∂ ~ S eiωt ) = Re(iω A
= Re(A ~ S eiωt ) ,
∂t ∂t

ou seja: para encontrar a derivada temporal de uma grandeza instantânea basta multiplicar sua forma
fasorial por iω e a operação derivada fica equivalente à:

~
∂A
→ ~S ,
iω A
∂t

e a integração corresponde à:

Z ~S
A
~
A∂t → .

Observe atentamente a diferença entre a forma instantânea A(x, ~ y, z, t) e a forma fasorial A


~ S (x, y, t):
a primeira é real e dependente do tempo, enquanto que a segunda é complexa e invariante no tempo.
Aplicando o conceito de fasor às equações de Maxwell para campos variantes no tempo, E(x, ~ y, z, t),
~
D(x, ~
y, z, t), B(x, ~ y, z, t) e ρv (x, y, z, t), obtemos:
y, z, t), J(x,

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 3: Campos Variantes no Tempo e Equações de Maxwell

~ ·D
∇ ~ S = ρvs ⇒
H
~ S · dS
D ~ = R ρvS dv ⇒ Gauss - eletrostática
~ ·B
∇ ~S = 0 ⇒
H
~ S · dS
B ~=0 ⇒ Gauss - magnetostática
~ ×E
∇ ~ S = −iω B~S ⇒
H
~ S · dL
E ~ = −iω R B~ S · dS
~ ⇒ Faraday
~ ×H
∇ ~ S = J~S + iω D
~S ⇒
H
~ S · dL
H ~ = (J~S + iω D
R
~ S ) · dS
~ ⇒ Ampère-Maxwell

Ilustração:

1) Expresse o campo elétrico Ey = 100 cos(108 t − 0, 5z + 30o ) V /m como um fasor.

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Universidade Tuiuti do Paraná

Capítulo 4

Onda Plana Uniforme

Uma das principais aplicações das equações de Maxwell é o estudo da propagação de ondas
eletromagnéticas (EM). A existência deste tipo de onda é prevista pelas equações de Maxwell e foi,
inicialmente, estudada por Henrich Hertz, que após muitos cálculos e experimentos conseguiu gerar
e detectar ondas de rádio.
Ondas são um meio de transportar energia ou informação. Existem ondas mecânicas, de impacto e
eletromagnéticas. Um exemplo de onda mecânica é o som. Este tipo de onda só se propaga em meios
materiais. Uma onda de impacto (ou de choque) é uma onda sônica pulsada, de frequências acima da
frequência audível e também precisa de meios materiais para se propagar. Um exemplo (aterrorizador,
por sinal), são as ondas de choque provocadas por grandes explosões, como de uma bomba atômica.
Ondas eletromagnéticas (EM) não necessitam de meios materiais para se propagarem, podendo se
propagar no vácuo. O exemplo mais cotidiano de onda EM é a luz visível. Porém, existem muito
mais ondas EM se espalhando pelo espaço e ao nosso redor, formando um imenso espectro de ondas
eletromagnéticas: o espectro eletromagnético!.
Cada onda EM é caracterizada pela sua frequência, ν e pelo seu comprimento de onda, λ. O
módulo da velocidade, v, de qualquer onda EM num meio qualquer é dado por v = νλ e no vácuo
(ou no ar) este valor é sempre o mesmo: c = 3.108 m/s, a velocidade da luz. Então: c = νλ, para
qualquer onda que se propaga no vácuo. Assim, todas as ondas eletromagnéticas são “luzes”! Porém,
a sensibilidade visual do ser humano só nos permite enxergar uma pequena faixa destas “luzes”,
chamada de espectro visível.

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 4: Onda Plana Uniforme

Praticamente toda a troca de energia entre a Terra e o resto do Universo ocorre por radiação
(propagação de ondas EM), que é a única que pode atravessar o relativo vazio do espaço. O sistema
Terra-atmosfera está constantemente absorvendo radiação solar e emitindo sua própria radiação para
o espaço. Numa média de longo prazo, as taxas de absorção e emissão são aproximadamente iguais,
de modo que o sistema está muito próximo ao equilíbrio radiativo. A radiação também tem papel im-
portante na transferência de calor entre a superfície da Terra e a atmosfera e entre diferentes camadas
da atmosfera.
Todas as formas de ondas EM compartilham de três características fundamentais:

• são irradiadas a partir de uma fonte (uma antena, por exemplo), sem a necessidade de um meio
de propagação;

• se propagam em altas velocidades, no vácuo: c = 3.108 m/s;

• apresentam propriedades ondulatórias.

A velocidade de propagação de uma onda EM, que se propaga em um meio diferente, é diferente!
Mudou o meio, muda a velocidade de propagação. Até agora, estudamos separadamente, fenômenos
elétricos e magnéticos em meios condutores e isolantes, pois o nosso interesse é estudas os fenômenos
físicos nos materiais que utilizamos para confeccionar nossos dispositivos tecnológicos. Porém, ainda
não estudamos os efeitos que aparecem nesses materiais, quando analisamos a associação dos fenô-
menos eléricos e magnéticos sobre eles. As ondas EM interagem com o meio material no qual ela se

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 4: Onda Plana Uniforme

propaga! Por isso, a velocidade de propagação de uma onda EM muda, de acordo com o material no
qual ela se propaga!
Qualquer fenômeno eletromagnético pode ser descrito a partir das equações de Maxwell, pois são
fenômenos que envolvem ondas EM que se propagam em um determinado meio. Assim, o objetivo
deste capítulo é resolver as equações de Maxwell para ondas EM que se propagam nos seguintes
meios materiais:

Meio de propagação Condutividade Permissividade Permeabilidade


espaço livre σ=0 ε = ε0 µ = µ0
dielétricos sem perdas σ≈0 ε = ε0 εr µ = µ0 µr
dielétricos com perdas σ 6= 0 ε = ε0 εr µ = µ0 µr
bons condutores σ≈∞ ε = ε0 εr µ = µ0 µr

Propagação de ondas no espaço livre

A seguir, trabalharemos com campos magnéticos e elétricos variáveis no tempo, que gerar on-
das eletromagnéticas. Para demonstrar que as equações de Maxwell levam, inevitavelmente, a ondas
eletromagnéticas, é necessário fazer uso das equações de Maxwell na forma diferencial. Começare-
mos com a propagação da onda eletromagnética no vácuo. Limitaremos a este caso particular devido
as dificuldades matemáticas para resolver um sistema de equações de onda.
Devido ao fato de não existirem cargas elétricas ou correntes elétricas no vácuo, as equações de
Maxwell assumem a seguinte forma:

~ ×E
∇ ~ = − ∂ B~ ~ ×B
∇ ~ = µ0 ε0 ∂ E~
∂t ∂t
~ ·E
∇ ~ =0 ∇~ ·B
~ =0

A partir das leis de Faraday e de Ampère, podemos deduzir as equações de onda:

~
∂ 2E ~
∂ 2B
~ = µ 0 ε0
∇2 E e ~ = µ 0 ε0
∇2 B .
∂t2 ∂t2

Faça estas deduções junto com o professor!

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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 4: Onda Plana Uniforme

Na forma cartesiana:
 2~ ~x ~x ~
∂ Ex ∂2E ∂2E 2
 2 + ∂y 2
+ ∂z 2
= µ0 ε0 ∂∂tE2
 ∂x


~ = 2 ~y ∂2E~y ∂2E~y 2 ~
∇2 E ∂ E
∂x2
+ ∂y 2
+ ∂z 2
= µ0 ε0 ∂∂tE2 e

 ∂ 2 E~ z ∂2E~z ∂2E~z 2~

+ + = µ0 ε0 ∂∂tE2

∂x2 ∂y 2 ∂z 2

 2~ ~x ~x ~
∂ Bx ∂2B ∂2B 2
 2 + ∂y 2
+ ∂z 2
= µ0 ε0 ∂∂tB2
 ∂x


~ = 2 ~y ∂2B~y ∂2B~y 2 ~
∇2 B ∂ B
∂x2
+ ∂y 2
+ ∂z 2
= µ0 ε0 ∂∂tB2 .

 ∂2B
 ~z ∂2B~z ∂2B~z ~
∂2B
+ + = µ0 ε0 ∂t2

∂x2 ∂y 2 ∂z 2

A quantidade µε tem o valor do inverso do quadrado da velocidade de propagação da onda no


meio. Ou seja:

1
v=√ .
µε

No vácuo, a onda se propaga com a velocidade da luz, c:

1
c2 = ,
µ 0 ε0

então podemos escrever as equações de onda no vácuo como:

~
1 ∂ 2E ~
1 ∂ 2B
~ =0
− ∇2 E e ~ =0.
− ∇2 B
c2 ∂t2 c2 ∂t2

Para simplificar o estudo do sistema de equações acima, restringiremos a um caso particular, cuja
solução seja relativamente simples. Isto não invalidará os resultados obtidos pois suas soluções valem
para qualquer caso.
Vamos supor que é possível estabelecer campos elétricos e magnéticos que satisfaçam as condições:
campo elétrico uniforme que tenha apenas uma componente na direção y e campo magnético uni-
forme apontando na direção x, para uma onda EM que se propaga na direção z. Ou seja, E(y, t) e
B(x, t), dependentes do tempo e de apenas uma coordenada espacial. Então, temos os campos:

~ =< 0, Ey , 0 >
E e ~ =< Bx , 0, 0 > .
B

Substituindo esses campo nas equações, obtemos:

∂ 2 Ey 1 ∂ 2 Ey ∂ 2 Bx 1 ∂ 2 Bx
= e = .
∂z 2 c2 ∂t2 ∂z 2 c2 ∂t2

O par de soluções sugeridas para este problema é: Ey = E0 sin (k0 z − ωt) e Bx = B0 sin (k0 z − ωt).
A partir destas soluções, podemos chegar numa conclusão muito interessante e importante: a con-
clusão a que Maxwell chegou e que espantou toda a comunidade científica da época: qualquer onda
EM no vácuo se propaga com a velocidade da luz!!

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Faça as contas junto com o professor e verifique a descoberta de Maxwell, que o permitiu unificar
a óptica com o eletromagnetismo:

Exercícios:

1) A equação ∇2 E ~ S , com k0 = ω √µ0 ε0 sendo o número de onda no espaço livre, é


~ S = −k02 E
conhecida como equação vetorial de Helmholtz e representa a forma harmônica da equação de onda
para o campo elétrico no espaço livre. Mostre que ExS = Aei(k0 z+φ) é uma solução desta equação.

~ t) = 200 sin 0, 2z cos 108 tî + 500 cos (0, 2z + 50o ) sin 108 tĵ V /m, calcule:
2) Dado o campo E(z,
~ em P (0; 2; 0, 6) com t = 25 ns;
a) E
~ em P (0; 2; 0, 6) com t = 25 ns;
b) |E|
c) ES em P (0; 2; 0, 6).

3) Um campo H ~ no espaço livre é dado por H(x,


~ t) = 10 cos 108 t − kxây A/m. Determine:
a) k;
b) λ;
c) ν;
~
d) E(x, t) em P (0, 1; 0, 2; 0, 3) em t = 1 ns.

~ S = (40 − i30o )ei20z âx V /m. Determine:


4) Dado E
a) k;
b) ω;
c) ν;
d) λ.

5) Uma onda plana uniforme, de 150 M Hz, no espaço livre, é descrita por
~
HS = (4 + i10)(2âx + iây )e−ikz A/m. Determine:
a) ω;
b) λ;
c) k;
~
d) H(z, t) para z = 20 cm com t = 1 ns.

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EXERCÍCIOS AVALIATIVOS 3

1) Na figura abaixo, B = 0, 2 cos 120πt T . Considere que o condutor que une as duas extremi-
dades do resistor é perfeito. Pode-se admitir que o campo magnético produzido por I(t) é desprezível.
Determine:
a) Vab (t);
b) I(t).

2) Dado o campo B ~ = (0, 5âx +0, 6ây −0, 3âz ) cos 5000t T e uma espira quadrada filamentar com
seus vértices em (2, 3, 0), (2, −3, 0), (−2, 3, 0) e (−2, −3, 0), determine a função que dá a variação
da corrente no tempo, I(t), que flui na direção âφ , se a resistência total da espira é 400 kΩ.

3) Considere a região definida por |x| < 1, |y| < 1 e |z| < 1. Seja εr = 5, µr = 4 e σ = 0. Se
J~d = 20 cos (1, 5 × 108 t − bx)ây µA/m2 , determine:
a) D~ e E;
~
b) B~ e H;
~
c) ∇~ ×H ~ = J~d + J;
~
d) b.

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Propagação de ondas em dielétricos

Um dielétrico com perdas é um meio no qual ondas EM perdem energia à medida que se propagam,
devido à condutividade do meio. Em outras palavras, um dielétrico com perdas é um meio parcial-
mente condutor, que pode ser um dielétrico imperfeito ou um condutor imperfeito, para o qual σ 6= 0.
Considere um dielétrico com perdas, linear, isotrópico, homogêneo e livre de cargas (ρv = 0). A
forma diferencial harmônica das equações de Maxwell reduzem-se à:

~ ·E
∇ ~S = 0 ,

~ ·H
∇ ~S = 0 ,

~ ×E
∇ ~ S = −iωµH
~S ,

~ ×H
∇ ~ S = (σ + iωε)E
~S .

Podemos obter a equação de onda para a onda EM que se propaga neste meio, aplicando o opera-
dor rotacional em ambos os membros da lei de Faraday:

~ ×∇
∇ ~ ×E
~ S = −iωµ∇
~ ×H
~S ,

~ ×∇
utilizando a identidade vetorial ∇ ~ ×A
~ = ∇(
~ ∇~ · A)
~ − ∇2 A
~ e com o auxílio da quarta equação
de Maxwell, obtemos:

~ ∇
∇( ~ ·E
~ S ) − ∇2 E
~ S = −iωµ(σ + iωε)E
~S ,

que pode ser simplificada, utilizando a primeira equação de Maxwell:

~ S − γ 2E
∇2 E ~S = 0 com γ 2 = iωµ(σ + iωε) .

~ S:
utilizando um procedimento similar, obtemos a equação de onda para H

~ S − γ 2H
∇2 H ~S = 0 .

As duas equações de onda acima são as chamadas equações vetoriais homogêneas de Helmholtz
ou equações vetoriais de onda, nas quais γ é dito constante de propagação (por metro) e é uma
grandeza complexa, podendo ser escrita como:

γ = α + iβ ,

nas quais as constantes α e β são encontradas a partir da parte real de γ 2 :

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Re(γ 2 ) = (α + iβ)2 = α2 − β 2 = −ω 2 µε .

Por outro lado, o módulo de γ 2 é dado por



|γ 2 | = β 2 + α2 = ωµ σ 2 + ω 2 ε2 .

Combinando as duas últimas equações, chegamos aos valores finais de α e β:


v s  v s 
u 2 u 2
u µε 
σ u µε 
σ
α=  1+ − 1 e β= ωt  1 + + 1 .
u u
t
2 ωε 2 ωε

A solução para as equações de onda podem ser encontradas de forma mais simples, se conside-
rarmos uma onda que se propaga na direção +âz , com campo elétrico somente na direção âx . Então:
~ S = ExS (z)âx . Substituindo estas na equação de onda, temos:
~v = vz âz e E

~ 2 − γ 2 )ExS (z) = ∂ExS (z) ∂ExS (z) ∂ExS (z)


(∇ 2
+ 2
+ 2
− γ 2 ExS (z) = 0 ,
∂x ∂y ∂z

como o campo varia apenas na coordenada z, as duas primeiras derivadas são nulas e resta apenas:

d2 ExS (z)
− γ 2 ExS (z) = 0 ,
dz 2

que é uma equação diferencial, homogênea e linear, cuja solução possui a forma:

ExS = E0 e−γz + E00 eγz ,

sendo E0 e E00 , constantes a determinar. Para grandes distâncias, z → ∞, o campo deve ser finito,
portanto: E00 = 0. A forma instantânea de E ~ pode ser obtida tomando-sa a parte real da equação
acima:

~ t) = Re[ExS (z)eiωt âx ] = Re[E0 e−αz ei(ωt−βz) âx ] ,


E(z,

ou, de forma equivalente:

~ t) = E0 e−αz cos (ωt − βz)âx .


E(z,

Através do mesmo procedimento, encontramos a expressão para o campo magnético:

~
H(z, t) = Re[Hx S(z)eiωt ây ] = R[H0 e−αz ei(ωt−βz) ây ] ,

estando H0 relacionado com E0 por meio da impedância intrínseca do meio, η, medida em ohms:

53
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E0
η= .
H0

A impedância intrínseca do meio é uma grandeza complexa dada por:


s
iωµ
η= = |η|eiθη , sendo:
σ + iωε
q
µ
ε σ
|η| =   2 1/4 e tan (2θη ) = para 0 ≤ θη ≤ 45o .
σ ωε
1 + ωε

~
A forma final de H(z, t) é:

~ E0 −αz
H(z, t) = e cos (ωt − βz − θη )ây .
|η|

~ t) e H(z,
Comparando as expressões finais para E(z, ~ t), observa-se que os campos elétrico e
magnético são ortogonais: enquanto um deles oscila perpendicularmente ao eixo x, o outro oscila
perpendicularmente ao eixo y, enquanto os dois se propagam na direção z. Além disso, pode-se
observar que a amplitude decresce por meio de um fator e−αz . Por esta razão, a constante α é chamada
de constante de atenuação (ou fator de atenuação) do meio e, para α > 0, representa uma medida da
taxa de decaimento espacial da onda no meio. A unidade de α é o decibéis por metro (dB/m). Uma
atenuação de 1 dB/m corresponde a uma redução de e−1 ≈ 37% do valor original. Outra unidade
utilizada para α é o nepers por metro (N p/m). A relação de conversão entre as duas unidades é:

1 N p = 20 log10 e = 8, 686 dB .

No espaço livre, α = 0, portanto a onda não é atenuada enquanto se propaga, mantendo a sua
amplitude. A atenuação da onda no meio dielétrico com perdas é mostrada na figura abaixo:

A constante β é a medida do deslocamento de fase por unidade de comprimento e é chamada de

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constante de fase ou número de onda. Pode ser espressa através da velocidade da onda, u, e também
através do comprimento de onda, λ:

ω 2π
u= ou λ= .
β β

Pode-se perceber também, através destas expressões finais, que os


campos elétrico e magnético estão sempre defasados, para qualquer
instante de tempo, por um ângulo θη . Esta diferença de fase se dá
devido à impedância intrínseca complexa do meio η. Então, o campo
~ t) está sempre adiantado por um ângulo θη em relação
elétrico E(z,
~
ao campo magnético H(z, t). A razão entre as densidades de corrente
de condução J~s e de deslocamento J~ds em um meio dielétrico com perdas é dada pela tangente de θ:

|J~s | ~S|
|σ E σ
= = = tan θ ,
|J~ds | |iωεE~S| ωε

sendo θ = 2θη e, tan θ a tangente de perdas e θ o ângulo de perdas do meio. Embora não haja uma
fronteira bem definida entre bons condutores e dielétricos com perdas, a grandeza tan θ, ou o próprio
θ, podem ser utilizados para quantificar as perdas de energia em qualquer meio. Um bom dielétrico
(sem perdas ou perfeito) se tan θ for muito pequeno, o que significa σ >> ωε. Do ponto de vista
da propagação de onda, o comportamento característico de um meio depende dos seus parâmetros
constitutivos, σ, ε e µ, além de depender da frequência de operação. Um meio que se comporta como
um bom condutor em baixas frequências pode ser um bom dielétrico em altas frequências.
Da última equação de Maxwell, após alguns arranjos, obtem-se:

~ S = iωε 1 − iσ E
 
~ ×H
∇ ~ S = (σ + iωε)E ~ S = iωεc E
~s ,
ωε

sendo εc a permissividade complexa do meio, dada por:


 
εc = ε 1 − = ε0 − iε00
ωε

de forma que a razão entre ε0 e ε00 seja a tangente de perdas do meio:

ε0 σ
tan θ = 00 = .
ε ωε
ε00
Para o limite em que r
ε0r
<< 1, os coeficientes α e β da constante de propagação, γ, são dados
por:

ωε00
s
µ 0 ε0 q
α≈ r e β ≈ ω µ0 ε0 ε0r .
2 ε0r

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Exercícios:

1) Considere uma onda plana de 1 M Hz propagando-se em água doce (µr = 1 e ε0r = ε0 = 81).
Perceba que, neste caso, ε00 = 0. Isso significa que as perdas de energia são muito pequenas! Se o
campo elétrico é dado por E~ =E ~ x = 0, 1 cos (ωt − βz)âx V /m, determine:
a) ω;
b) β;
c) λ;
d) |~v |;
e) η;
~ x;
f) E
g) H~ y.

2) Um sinal de radar de 10 GHz pode ser representado por uma onda plana uniforme, se con-
siderarmos uma região de propagação suficientemente pequena. Calcule o comprimento de onda e
a atenuação, em nepers/metro, se esta onda se propaga em material cujas características contitutivas
são dadas por:
a) ε0r = 1 e ε00r = 0;
b) ε0r = 1, 04 e ε00r = 9.10−4 ;
c) ε0r = 2, 5 e ε00r = 7, 2

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Vetor de Poynting e potência em ondas EM

Para se calcular a potência em uma onda plana uniforme, é necessário desenvolver um teorema
para o campo eletromagnético, conhecido como teorema de Poynting, postulado em 1884 pelo físico
inglês John H. Poynting. Começamos com o produto escalar entre o campo elétrico e a equação de
Ampère:
 
~
∇ ~ = J~ + ∂ D  · E,
~ ×H ~
∂t

~
E~ ·∇
~ ×H ~ =E ~ · ∂D .
~ · J~ + E
∂t
~ · (E
Utilizando a identidade vetorial ∇ ~ × H)
~ = −E ~ ·∇
~ ×H ~ +H~ ·∇
~ × E,
~ obtemos:

~
~ ·∇
H ~ ×E
~ −∇
~ · (E
~ × H)
~ = J~ · E ~ · ∂D ,
~ +E
∂t

~ = − ∂ B~ , temos:
~ ×E
e, utilizando a lei de Faraday: ∇ ∂t

~
∂B ~
~ ·
−H ~ · (E
−∇ ~ × H)
~ = J~ · E ~ · ∂D
~ +E ou:
∂t ∂t

∂E~ ~
~ · (E
−∇ ~ × H)
~ = J~ · E
~ + εE
~· + µH ~ · ∂H mas:
∂t ∂t
~ 2
εE 2 ~ 2
! !
~ · ∂ E = ε ∂E = ∂
εE e µH~ · ∂ H
=
∂ µH
, assim:
∂t 2 ∂t ∂t 2 ∂t ∂t 2
εE 2 µH 2
!
~ E
−∇( ~ × H) ~+ ∂
~ = J~ · E + .
∂t 2 2
Finalmente, integramos através do volume:

εE 2 µH 2
!
Z
~ ~ ~ ~
Z
~ ∂ Z
− ∇(E × H)dv = (J · E)dv + + ,
vol vol ∂t vol 2 2

aplicando o teorema da divergência:

εE 2 µH 2
!
I
~ ~ ~ ~
Z
~ ∂ Z
− (E × H) · dS = (J · E)dv + + ,
S vol ∂t vol 2 2

na qual:
Z
 (J~ · E)dv
~ ⇒ Potência ôhmica total instantânea, dissipada no volume e
vol

εE 2 µH 2
Z !
 + ⇒ Energia total, armazenada pelos campos elétrico e magnético.
vol 2 2

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A potência dissipada é positiva se ela estiver sendo entregue para a fonte e negativa se estiver
sendo entregue pela fonte. A derivada em relação ao tempo no termo de energia significa a taxa de
acréscimo da energia dentro do volume. A soma destes dois termos é a potência total que flui para
dentro do volume. A potência total que flui para fora do mesmo volume é:
I
~ × H)
(E ~ · dS
~
S

~ ×H
cuja integração é feita sobre a superfície que envolve o volume. O produto E ~ é dito Vetor de
~
Poynting, P:
P~ =E~ ×H ~ ,

interpretado como a densidade de potência instantânea, medida em watt por metro quadrado (W/m2 ).
A direção de P~ indica a direção do fluxo de potência instantânea em um ponto. Se considerarmos
uma onda EM na qual E ~ = Ex0 cos (ωt − βz) e H ~ = Ex0 cos (ωt − βz), temos:
η

~ z = Ex0 cos2 (ωt − βz) .


P
η

~ z ao longo de um ciclo completo, dividida


a potência média instantânea é dada pela integração de P
pleo período:
2
P~ z,med = 1 Ex0 W/m2 e
2 η
a potência média instantânea que flui através de uma superfície S normal ao eixo z é:
2
~ z,med = 1 Ex0 S W .
P
2 η

No caso de dielétricos com perdas, temos:


2 2
~ z,med = 1 Ex0 e−2αz cos (θη ) W/m2
P ~ z,med =
eP
1 Ex0
S e−2αz cos (θη ) W .
2 η 2 η

~ e H,
Utilizando as formas fasoriais de E ~ temos:

~ z,med = 1 Re(E
P ~S × H
~ S∗ ) W/m2 sendo:
2

~ S = Ex0 e−iβz âx


E e ~ ∗ = Ex0 eiθ eiβz ây .
H S
|η|
Exercício:
Calcule:
~ r, t) se ES = 400e−i2x ây V /m no espaço livre.
a) P(~
~ em t = 0 para ~r = (0, 5, 10).
b) P

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Propagação de ondas em bons condutores


σ
Um bom condutor é um material de alta perda e e definido pela quantidade ωε > 100. São
~
materiais de alta condutividade, onde a corrente de deslocamento, Jd , passa a ser desprezivel se
comparada a corrente de condução, J.~ Assim, a constante de propagação em materiais condutores
pode ser aproximada por:

σ
q r
γ ≈ iω µε0 1−i ,
ωε
σ
como ωε
> 100, podemos simplificar para:

σ
q r q
γ ≈ iω µε0 −i = iω −iωµσ ,
ωε

com α = β = πνµσ.
As constantes de atenuação e de fase são iguais e muito grandes. A onda é atenuada rapidamente,
de modo que a propagação em materiais condutores somente pode existir em curtíssimas distâncias,
especialmente em altas freqüências. Como as ondas em altas frequências penetram muito pouco em
condutores, é bastante comum utilizar a aproximação de condutor perfeito para materiais condutores.
Assim, podemos escrever:

~ = Ex0 e−z

πµνσ √
E cos (ωt − z πνµσ)âx ,

para uma onda que se propaga na direção z, cujo campo elétrico vibra na direção x. Se a corrente de
deslocamento pode ser desconsiderada, a corrente de condução pode ser escrita como:

√ √
J~ = σ E
~ = σEx0 e−z πµνσ
cos (ωt − z πνµσ)âx .

Se observarmos esta última equação, percebemos um decréscimo exponencial na densidade de


corrente de condução e na intensidade de campo elétrico e função do comprimento característico de
penetração da onda no meio. para z = 0, o fator exponencial é unitário, decresenco para e−1 ≈ 0, 368
1
quando z = √πνµσ . Esta distância é dita profundidade depenetração (ou profundidade peculiar):

1 1 1
δ=√ = = .
πνµσ α β

Para se ter uma idéia da magnitude da profundidade de penetração da onda, podemos considerar
o cobre como exemplo:

0, 066
δCu = √ ,
ν

para uma onda com frequência 60 Hz: δCu = 8, 53 mm. Ou seja: para cada distância de 8, 53 mm de

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propagação dentro do condutor de cobre, a densidade de potência da onda atenua (0, 368)2 ≈ 0, 135.
Para uma onda de 10000 M Hz, faixa de microondas, δCu ≈ 6, 61.10−4 mm. Esta pequena profun-
didade do efeito peculiar em frequências da ordem de microondas mostra que somente a superfície
do condutor é importante. Um bulk de cobre de dimensões na ordem de centímetros, torna-se um
despedício, quando a onda que interage com ele é da ordem de microondas, pois ela se estinguirá na
sua superfície. Este pedaço de cobre não é um bom condutor para ondas na ordem de microondas. Por
outro lado, um pedaço coberto com uma película de cobre de 0, 000100 de espessura é um excelente
condutor nestas frequências.
O comprimento de onda dentro do material é dado por:

1 √
α=β= = πνµσ , então:
δ

β= e λ = 2πδ .
λ
A velocidade de propagação da onda dentro do material é dada por:

ω
vp = = ωδ .
β

A expressão para a impedância intrínseca de um bom condutor é dada por:


s 0
iωµ
η= ,
σ + iωε

como σ >> ωε0 , temos: s


iωµ
η= ,
σ
que pode ser escrita como:
1 1
η= +i .
σδ σδ
Assim, o campo magnético associado pode ser escrito como:

~ = σδE z π
 
z
H √ x0 e− δ cos ωt − − ây ,
2 δ 4

e a potência média:
1 2z
Pz,med = 2
σδEx0 e− δ .
4
Se aplicarmos este desenvolvimento a um fio condutor de secção reta circular de raio a e compri-
mento L, desde que a >> δ, temos uma resistência dada por:

L
R= .
σSδ

Para um fio de cobre (σ = 5, 8.107 ) com L = 1 km e a = 1 mm, sendo atingida por uma onda

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incidente de 1 M Hz, temos que δ = 0, 0066 mm e a >> δ, então:

1000
R= = 41, 5 Ω .
(2π0, 001)(5, 8.107 )(0, 066.10−3 )

Exercício:

As dimensões de uma certa linha de transmissão coaxial são a = 0, 8 mm e b = 4 mm. O condu-


tor externo tem uma espessura de 0, 6 mm e σ = 1, 6.107 S/m. Determine:
a) A resistência por unidade de comprimento, na frequência de operação de 2, 4 GHz.
b) A condutância e a indutância por unidade de comprimento.

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Polarização de ondas

Até agora, descrevemos o modelo de ondas planas considerando que os campos elétrico e mag-
nético estão fixos em direções ortogonais entre si. Este modelo é capaz de descrever quase que a
totalidade dos fenômenos eletromagnéticos associados à tecnologia de da informação, que utilizamos
no nosso dia-à-dia. Porém, quando tratamos de problemas que envolvem a propagação de ondas em
meios dielétricos, os campo elétrico e magnético podem não ser ortogonais entre si. Uma maneira de
representar esta situação é escrever estes campos com duas componentes no plano ortogonal à direção
de propagação.
Considere uma onda plana se propagando em um meio dielétrico com perdas, de forma que
~ S = (Ex0 âx + Ey0 ây )e−αz e−iβz e H
~v = vz âz , E ~ S = (Hx0 âx + Hy0 ây )e−αz e−iβz . Assim, os campos
elétrico e magnético continuam sendo ortogonais entre si, formando um plano ortogonal à direção de
propagação z, porém orientados fora dos eixos x e y da base ortonormal cartesiana.
A direção do fluxo de potência é dado pelo produto E ~ ×H ~ e está na direção positiva de z, se
Hx0 âx = − Eηx0 âx .
A densidade de fluxo de potência é dada por:

1 ~S × H
~ ∗} ,
Pz,med = Re{E S
2
( )
1 1
Pz,med = Re ∗ {|Ex0 |2 + |Hx0 |2 }e−2αz âz W/m2 ,
2 η
A polarização da onda é definida como a orientação do seu campo vetorial elétrico dentro do
material, em função do tempo e em relação a uma posição fixa no espaço. A idéia que estudamos an-
teriormente, com os campos elétrico e magnético se propagando em uma única direção, corresponde
ao conceito de onda linearmente polarizada: o campo elétrico polarizado na direção x e o campo
magnético polarizado na direção y, por exemplo. O caso que estudamos agora, corresponde a uma
onda plana não-polarizada, ou seja: a direção dos campos são fixadas em uma direção qualquer do
plano xy. Porém, como os campos são vetoriais, é plenamente possível decompor as suas direções de
acordo com uma base ortonormal cartesiana. Por isso o modelo de onda plana linearmente polarizada
é capaz de descrever a maior parte dos fenômenos eletromagnéticos que conhecemos.
Se considerarmos um efeito de diferença de fase φ < π/2 entre as componentes Ex0 e Ey0 do
campo elétrico, o campo total, na sua forma fasorial, pode seer escrito como:

~ S = (Ex0 âx + Ey0 eiφ ây )e−iβz


E e na forma instantânea como:

~ t) = Ex0 cos (ωt − βz)âx + Ey0 cos (ωt − βz + φ)ây .


E(z,

Neste caso, a variação temporal das componentes dos vetores campo elétrico e campo magnético
descrevem uma elipse no plano xy e dizemos que a onda está polarizada elipticamente. Este é, de
fato, o estado mais geral da polarização de uma onda. A polarização linear é um caso de polarização

62
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Universidade Tuiuti do Paraná Capítulo 4: Onda Plana Uniforme

elíptica na qual a diferença de fase φ é nula.


Outro caso especial de polarização é quando existe uma diferença de fase φ = ±π/2, quando
variação temporal das componentes dos campos descrevem uma circunferência no plano xy. Se
φ = π/2, o campo rotaciona circularmente no sentido horário. Dizemos, então, que está onda é
polarizada circularmente à esquerda; se φ = −π/2, o campo rotaciona circularmente no sentido
anti-horário. Dizemos, então, que está onda é polarizada circularmente à direita. Quando a onda se
propaga no sentido positivo de z, podemos escrever o campo elétrico como:

~ S = E0 (âx ± iây )e−iβz ,


E

na qual o sinal positivo está associado à polarização circular à esquerda e o sinal negativo, à polariza-
ção circular à direita.
Quando a onda se propaga no sentido negativo de z, podemos escrever o campo elétrico como:

~ S = E0 (âx ± iây )eiβz ,


E

na qual o sinal positivo está associado à polarização circular à direita e o sinal negativo, à polarização
circular à esquerda.
Esta mesma convenção é utilizada para classificar a polarização elíptica.
Uma das aplicações mais óbvias da utilização de ondas circularmente polarizadas está na emis-
são/recepção de sinais de rádio, televisão e telecomunicações em geral, devido ao fato que, a recepção
de uma onda como esta se torna mais fácil pois não depende da direção da antena. Uma antena de
dipolo necessita que o seu dipolo esteja orientado na direção do campo elétrico do sinal que está
sendo recebido. Se a onda recebida for circularmente polarizada, esta condição se torna dispensável.

EXERCÍCIOS AVALIATIVOS 4

1) A maioria dos aparelhos de microondas operam na frequência de 2, 45 GHz. Suponha que uma
onda como esta passa a se propagar no aço inoxidável, cujo σ = 1, 2.106 S/m e µr = 500. Calcule a
profundidade de penatração da onda.

2) Considere uma onda polarizada circularmente à esquerda no espaço livre, que se propaga pro-
gressivamente na direção z.
~ S e determine uma expressão para H
a) Utilize a expressão para E ~ S.
b) Determine uma expressão para a densidade de potência média da onda, Pz,med em W/m2 .

~ S = 15e−iβz âx + 18e−iβz eiφ ây V /m, calcule:


3) Dada uma onda em que E
~
a) H.
b) Pz,med .

63
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Universidade Tuiuti do Paraná

Capítulo 5

Fundamentos de Antenas e Guias de Ondas

Um guia de onda (GO), em geral, é uma estrutura metálica cilíndrica oca, com secção transversal
geralmente constante (guia uniforme) e com um dielétrico interno homogêneo (normalmente ar ou
gás inerte). Os tipos de GO’s são classificados de acordo com o formato da sua secção transversal:

• guia cilíndrico retangular (GOCR);

• guia cilíndrico circular (GOCC);

• guia elíptico (GOE);

• guia com ressalto (GOR - ou “ridged”, possui saliências).

Os GO’s são os elementos preferidos para a transmissão e processamento de ondas eletromagnéti-


cas de alta frequência ou de potência elevada (como as microondas, por exemplo). Estes dispositivos
oferecem menor perda de energia por unidade de comprimento, tanto para condutores quanto para
dielétricos. A perda por radiação também é menor. As GO’s mais utilizadas são as GOCR e as
GOCC.
Os GO’s podem ser utilizados em microondas, por exemplo, para a transmissão de energia, ou na
fabricação de junções com múltiplas portas, ou ainda na fabricação de uma infinidade de dispositivos
práticos como acopladores, defasadores, atenuadores, isoladores, circuladores, filtros, chaves, etc.
A análise de um GO é feita à partir das Equações de Maxwell, escritas no sistema de coordenadas
adequado para a simetria do GO em estudo, com condições de contorno (CC) que indexam o com-
portamento da onda eletromagnética nas paredes do GO. No caso ideal, em que considera-se que as
paredes são condutores perfeitos, a componente tangencial do vetor campo elétrico da onda se anula
(condições de contorno para o campo elétrico em condutores, visto em Eletromagnetismo I). Cada
configuração espacial de campo satisfaz CC específicas, que caracterizam o modo de propagação
possível da onda no GO considerado.
Uma análise de todos os modos possíveis nos GO’s metálicos usuais revela que existem apenas
duas famílias fundamentais:

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• Modos TE (ou tipo H): ocorrem quando a única componente longitudinal é a do campo mag-
nético, estando todo o campo elétrico no plano transversal à propagação. Supondo que a onda
~ z 6= 0 e E
se propaga na direção z, tem-se: H ~ z = 0;

~z =
• Modos TM (ou tipo E): neste caso, tem-se: E ~ z = 0.
6 0eH

Se, em alguma situação particular, os modos TE e TM, isoladamente não satisfizerem as CC do


GO, uma combinação linear dos dois modos dará a solução geral e completa do problema. Esses
modos combinados, com H ~ z 6= 0 e E
~ z 6= 0, são chamados modos híbridos e costumam ser denotados
por EH ou HE. O modo TEM, com H ~z = 0 e E ~ z = 0 de propagação não ocorre nos GO’s metálicos
usualmente utilizados. Os modos híbridos são muito comuns na propagação via fibras ópticas.
A propagação dentro de um GO se faz, principalmente, via reflexões múltiplas nas paredes metáli-
cas (tubos metálicos) ou nas superfícies de separação dos diferentes dielétricos no interior do GO
(fibras ópticas). Quando um sinal é transmitido através de vários módulos simultaneamente e com a
mesma frequência (sinal monocromático ou monofrequencial), a diferença nas velocidades de propa-
gação de cada modo produz uma distorção, chamada de dispersão intermodal ou monocromática, no
sinal de saída do GO. Quando o sinal tem várias frequências (sinal policromático ou multifrequen-
cial), a distorção ocorrida é dita dispersão cromática ou policromática.
A presença ou ausência de um modo particular em um GO depende, entre outros fatores, dos
dispositivos acoplados, que impoem CC particulares às extremidades do GO (fonte e carga), além de
depender da frequência da operação utilizada.

Equações de onda

As equações de onda para o campo elétrico instantâneo, E(~~ r, t) e seu campo magnético instantâ-
~ r, t), são obtidas à partir das equações de Maxwell variantes no tempo. As equações
neo associado, H(~
de onda para um meio sem perdas, σd = 0 (corrente de deslocamento nula), são escritas abaixo:

~
∂ 2E ~
∂ 2H
~ − µε
∇2 E =0 e ~ − µε
∇2 H =0,
∂t2 ∂t2

que são resolvidas analiticamente de acordo com as CC particulares de cada GO.

GO retangulares

A geometria de um GO retangular é mostrada na figura abaixo. Para resolver as equações de onda


para o problema geral, admite-se as hipóteses de que as componentes de E~ eH ~ são proporcionais a
eiωt−βz , com β = α + iγ e J~ = σ = 0. Então temos:
" # " #
1 ∂Hz ∂Ez 1 ∂Hz ∂Ez
Hx = − 2 β − iωε e Hy = − 2 β + iωε ;
βc ∂x ∂y βc ∂y ∂x

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" # " #
1 ∂Ez ∂Hz 1 ∂Ez ∂Hz
Ex = − 2 β + iωµ e EΦ = − 2 β − iωµ ,
βc ∂x ∂y βc ∂y ∂x
nas quais βc é o número de onda de corte: γ = 0. As componentes Ez e Hz podem ser calculadas à
aprtir das CC nas paredes do GO:

∂ 2 Ez ∂ 2 Ez ∂ 2 Hz ∂ 2 Hz
+ + γ 2 EZ = −ω 2 µεEz e + + γ 2 HZ = −ω 2 µεHz ,
∂x2 ∂y 2 ∂x2 ∂y 2

sendo que uma delas deve ser nula: Ez = 0, Hz 6= 0 para TE ou Ez 6= 0, Hz = 0 para TM.
Os modos TM são dados pela condição Hz = 0, o que suplanta a solução geral da equação para
Ez :

Ez = [c1 sin (Ax) + c2 cos (Ax)][c3 sin (By) + c4 cos (By)] e−βz ,

com CC: Etangencial = 0, portanto: Ez = 0 para x = 0, a e y = 0, b. Tem-se então:

mπ nπ
   
Ez = C sin x sin y e−βz
a b

com m, n ∈ Z + , C = c1 c3 e as constantes A, B, c1,2,3,4 são escolhidas de acordo com a CC para cada


problema particular.
Os modos TE são dados pela condição Ez = 0, o que suplanta a solução geral da equação para
Hz :

Hz = [c1 sin (Ax) + c2 cos (Ax)][c3 sin (By) + c4 cos (By)] e−βz ,

com CC: Etangencial = 0, portanto: Ex = Ex = Ez 0 para x = 0, a e y = 0, b. Tem-se então:

mπ nπ
   
Hz = C cos x cos y e−βz
a b

com m, n ∈ Z + , C = c1 c3 e as constantes A, B, c1,2,3,4 são escolhidas de acordo com a CC para cada


problema particular.
Cada par de valores m, n define um modo. O número de modos depende do formato do GO, da
frequência da onda que se propaga dentro dele e das suas dimensões elétricas e espaciais. Portanto,

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cada onda eletromagnética que se propaga num GO específico, vários modos TM e TE podem coex-
istir e são classificados pelos índices m, n: TMmn e TEmn . A figura abaixo mostra um mapeamento
das linhas de campo para os modos mais relevantes.

GO circulares

A geometria de um GO circular é mostrada na figura abaixo. Para resolver as equações de onda


para o problema geral, admite-se as hipóteses de que as componentes de E ~ eH ~ são proporcionais a
eiωt−βz , com β = α + iγ e J~ = σ = 0. Utilizando coordenadas cilíndricas, temos:

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" # " #
1 ∂Hz iωε ∂Ez 1 β ∂Hz ∂Ez
Hr = − 2 β − e HΦ = − 2 + iωε ;
βc ∂r r ∂Φ βc r ∂Φ ∂r
" # " #
1 ∂Ez iωµ ∂Hz 1 β ∂Ez ∂Hz
Er = − 2 β + e EΦ = − 2 − iωµ ,
βc ∂r r ∂Φ βc r ∂Φ ∂r
nas quais βc é o número de onda de corte: γ = 0. As componentes Ez e Hz podem ser calculadas à
aprtir das CC nas paredes do GO:

∂ 2 Ez ∂ 2 Ez ∂ 2 Hz ∂ 2 Hz
+ + γ 2 EZ = −ω 2 µεEz e + + γ 2 HZ = −ω 2 µεHz ,
∂x2 ∂y 2 ∂x2 ∂y 2

sendo que uma delas deve ser nula: Ez = 0, Hz 6= 0 para TE ou Ez 6= 0, Hz = 0 para TM.
Estas equações não têm solução analítica. Para resolvê-las, utilizam-se as funções de Bessel, que
constituem um método numérico de solução por expansão serial. Os modos TE e TM para estes
guias dependerão da ordem dos polinômios de Bessel, utilizados na aproximação. Em resumo: a
solução das equações de onda para uma guia circular vai depender muito fortemente das condições
iniciais, associadas à escolha correta do método de aproximação, que dependerá dos objetivos pré-
estabelecidos para o guia.
A figura abaixo mostra as linhas de campo para os primeiros modos TE e TM de um guia circular.
Nos guias circulares as perdas de energia são menores em comparação com as perdas de energia
nos guias retangulares. Porém, a polarização da onda num guia circular pode girar involuntariamente,
podendo ocasionar uma leitura enganosa ou ruidosa da informação tansmitida. Nos guias retangu-
lares, o polarização é fixa numa única direção, mantendo a integridade da informação transmitida.

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Exercício:

Determine quantos e quais são os modos que se propagam em um GOCR de dimensões a = 3 cm


e b = 1, 5 cm ao receber uma onda eletomagnética de ν = 24 GHz.

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Noções básicas sobre antenas

As antenas são dispositivos destinados a transmitir ou receber


ondas de rádio. Quando ligadas a um transmissor (de rádio, TV,
radar, etc.) convertem os sinais elétricos em ondas eletromagnéticas.
Quando ligadas a um receptor, captam essas ondas e as convertem
em sinais elétricos que são amplificados e decodificados pelo apare-
lho receptor (de rádio, televisão, radar, etc).
O transmissor produz o sinal na forma de corrente alternada, ou
seja, com rápida oscilação, indo e vindo ao longo de seu condutor. A freqüência da oscilação pode
ir desde milhares de vezes por segundo até milhões de vezes por segundo, e é medida em quilohertz
ou megahertz. Ao oscilar na antena de transmissão, a corrente produz uma onda eletromagnética
em sua volta, que se irradia pelo ar. Quando atinge uma antena receptora, a onda eletromagnética
induz nela uma pequena corrente elétrica que se alterna para a frente e para trás ao longo da antena,
acompanhando as oscilações da onda. Essa corrente é muito mais fraca do que a presente na an-
tena transmissora, mas pode ser amplificada pelo aparelho receptor. A atmosfera encontra-se repleta
de ondas eletromagnéticas de várias freqüências, e todas elas atingem as antenas receptoras. Con-
tudo, cada aparelho receptor possui meios próprios para selecionar uma faixa estreita de freqüência,
podendo sintonizar um sinal em particular. Ao ser sintonizado numa certa faixa de freqüência, o
receptor só responde aos sinais dessa faixa determinada, excluindo as demais.

Cada freqüência está associada a um comprimento de onda. Quanto mais alta a freqüência, menor
é o comprimento de onda (o produto das duas é sempre igual a velocidade da luz). A eficiência de
uma antena depende da relação correta ente seu comprimento físico e o comprimento de onda do
sinal que transmite ou recebe. O ideal é que as antenas tenham exatamente a metade, ou um quarto,
do comprimento de onda que recebem ou transmitem. Os princípios que regem o funcionamento

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das antenas receptoras ou transmissoras são idênticos. As antenas de transmissão podem estar em
posição horizontal ou vertical, mas requerem que as antenas receptoras de suas emissões observem o
mesmo posicionamento. As montadas verticalmente causam pouco efeito nas receptoras horizontais
(e vice-versa).

Os sinais radiofônicos de ondas médias e longas seguem a curvatura da Terra, chegando a se


propagar por centenas e até milhares de quilômetros com relativamente pouca perda de potência. Por
outro lado, os comprimentos de onda menores, como as de freqüência VHF ou UHF, usados para
transmissão de alta fidelidade, estereofonia ou televisão, propagam-se de maneira similar a um feixe
luminoso, limitando seu alcance até a linha do horizonte.
Qualquer que seja a tecnologia da antena, ela adotará alguns conceitos básicos, válidos para seu
projeto e instalação. Estes conceitos são bastante teóricos, mas a aplicação é imediata e fundamental,
como se verá nos próximos capítulos.
Cita-se acima de tudo, o princípio da reciprocidade: uma antena funciona exatamente da mesma
maneira como receptora ou como transmissora. Assim, as sofisticadas teorias desenvolvidas para a
transmissão poderão nos ajudar a entender, projetar e instalar uma antena receptora.
Como já vimos em aulas anteriores, a antena receptora deve ter a mesma polarização da onda
eletromagnética. As transmissões ondas médias AM têm polarização vertical. Televisão VHF e UHF
é polarização horizontal. Mas para transmissões até 30 MHz a polarização não é importante, pois
este tipo de onda é refletido na ionosfera, onde sofre refração e tem sua polarização completamente
atrapalhada. Transmissões via satélite para antenas parabólicas usam alternância de polarização para
separação de canais contíguos.

A antena de dipolo

Campos eletromagnéticos irradiam a partir de distribuições de corrente. Considere um filamento


de corrente (de seção transversa infinitamente pequena) como uma fonte, posicionada dentro de um
meio infinito sem perda. O filamento é tomado como um comprimento diferencial. Ou seja: o

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comprimento do filamento é muito pequeno quando comparado com o comprimento de onda. Em


geral, basta que o comprimento do filamento seja menor que um quarto do comprimento de onda.
Considere o elemento diferencial da figura abaixo, orientado ao longo do eixo z. O sentido positivo
da corrente é tomado na direção âz .

Se admitirmos uma corrente uniforme I0 cos (ωt), desconsiderando os efeitos de borda, o poten-
cial vetor magnético de retardo é dado por:

Z ~
µIdL
~=
A .
4πR

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Quando uma única frequência é utilizada para excitar a antena, com v sendo a velocidade de fase
nesta frequência, temos:
~ = µId âz
A com:
4πR
I = I0 cos (ωt), com o potencial sofrendo um retardo dado R/v, então:

R
  
I = I0 cos ω t − ou, na forma fasorial: IS = I0 e−iωR/v .
v

Então:
µI0 d −iωR/v
Azs = e ,
4πR
a qual escrita em coordenadas esféricas, (ρ, φ, θ):

µI0 d µI0 d
Ars = cos (θ) e−iωr/v e Aθs = − sin (θ) e−iωr/v .
4πr 4πr

Assim, o campo magnético em qualquer ponto P é dado por:

~ S = µH
B ~S = ∇
~ ×A
~S .

Fazendo o rotacional indicado, encontramos:

1 ∂ 1 ∂ArS
HφS = (rAθS ) − e HrS = HθS = 0 ,
µr ∂r µr ∂θ

I0 d 2π 1
 
HφS = sin (θ)e−i2πr/λ i + 2 .
4π λr r
~ ×H
O campo elétrico pode ser encontrado através da expressão ∇ ~ S = iωE
~S:
!
ηI0 d λ 1
ErS = cos (θ)e−i2πr/λ + e:
2π i2πr3 r2
!
ηI0 d λ 1 2π
EθS = sin (θ)e−i2πr/λ 3
+ 2 +i ,
2π i2πr r λr
√ q
com ω = 2πν, νλ = v, v µε = 1 e η = µ/ε.
Se observarmos as expressões acima, percebemos que os campos magnético e elétrico vão a in-
finito nos pontos muitos próximos do elemento de corrente.

Exercício:

Uma antena dipolo no espaço livre tem uma distribuição de corrente linear. Se o comprimento d
é 0, 02λ, que valor de I0 é necessário para:
a) fornecer um campo irradiado de amplitude 100 mV /m na distância de 1 mi em θ = 90o ?
b) irradiar uma potência total de 1 W ?

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Exercícios:

1) Dado o campo H ~ = 300âz cos (3.108 t − y) A/m no espaço livre, determine a f em desen-
volvida na direção âφ em torno do caminho fechado cujos vértices ocupam as posições (0, 0, 0),
(1, 0, 0), (1, 1, 0) e (0, 1, 0).

2) Uma espira quadrada filamentar tem 25 cm de lado e resistência de 125 Ω/m e está situ-
ada no plano z = 0, com vétices em (0, 0, 0), (0.25, 0, 0), (0.25, 0.25, 0) e (0, 0.25, 0), no instante
t = 0. A espira se move com velocidade ~v = 50ây m/s, imersa num campo magnético B ~ =
8 cos (1, 5.108 t − 0, 5x)âz µT . Encontre uma função do tempo que expresse a potência ôhmica que é
entregue à espira.

3) Numa região onde µr = εr = 1 e σ = 0, os potenciais são dados por V = x(z − ct) V e


~ = x z − t âz W b/m, com c√µ0 ε0 = 1.
 
A c
~ × ~a = −µε ∂V .
a) Mostre que ∇ ∂t
~ ~ ~
b) Determine B, H, E e D. ~
c) Mostre que estes resultados satisfazem as equações de Maxwell para J~ = ρv = 0.

~ t) = 1800 cos (107 πt − βz)âx V /m e H(z,


4) Dados os campos E(z, ~ t) = 3, 8 cos (107 πt − βz)ây A/m,
que representam uma onda plana uniforme se propagando aom uma velocidade ~v = 1, 4.108 âz m/s,
em um dielétrico perfeito. Determine β, λ, η, µr e εr .

5) Um condutor tubular oco é constituído de um tipo de latão que possui condutvidade σ =


1, 2.107 S/m. Os raios interno e externo são 9 mm e 10 mm. Calcule a resistência por metro de
comprimento para ondas de frequências: a) ν = 20 M Hz e b) ν = 2 GHz.

~ S = [10e−iβx âz +
6) Uma onda plana uniforme no espaço livre possui um campo elétrico dado por E
15e−iβx ây ] V /m.
a) Descreva a polarização da onda.
b) Calcule H ~ S.
c) Determine a densidade de potência média da onda em W/m2 .

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