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LÓGICA E ONTOLOGIA
EM PEDRO DA FONSECA
A n t ó n i o M a n u e l M a r tin s
ISBN 972-31-0631-0
Junho de 1994
NOTA PREVIA
0. Introdução ................................................................... 9
1. A obra de Fonseca ....................................................... 15
1.1 As Instituções Dialécticas e a Isagoge Filosófica .......... 16
1.2 Os Comentários à Metafísica de Aristóteles ................. 22
1. 2. 1 O proémio dos CMA ..................................................... 28
1. 2. 2 Texto, tradução e ‘explanatio’ ......................................... 33
1. 2. 3 As quaestiones............................................................... 35
1.3 A metafísica como filosofia prim eira............................ 39
1. 4 Lógica e filosofia primeira ............................................ 46
1. 4. 1 As “quaestiones” em torno da dialéctica ....................... 47
1 . 4. 2 O lugar das categorias ................................................... 56
Bibliografia 377
INTRODUÇÃO
1 Para ter uma ideia, ainda que muito superficial, da quantidade de autores subsu
midos sob a designação ‘aristotelismo’ e do muito quo está por fazer neste campo basta
consultar a bibliografia reunida por Ch. Lohr relativa ao período que vai de 1400 a 1650:
Ch. lohr, “Renaissance Latin Aristotle’s Commentaries:Authors A-B” in: Studies in the
R en a issa n ce 21 (1974)228-289; “Authors C”, R e n a issa n ce Q u a rte rly 28( 1975) 689-741;
“Authors D-F”, lb 29 (1976)714-745; “Authors G-K”, lb. ,30 (1977)681-741; “Authors L-M”,
lb, 31 ( 1978)532-603; “Authors N-Ph”, lb, 32(1979)529-581; “Authors Pi-Sm”, lb,
33(1980)623-734; “Authors So-Z”’ lb, 35(1902)184-256
2 Estamos a pensar nos numerosos artigos publicados na Revista Portu guesa de F ilo
sofia, entre outras, e nos trabalhos de M. B. Pereira e nos de A. A. Coxito bem como nas
edições que mencionaremos na nota seguinte. Para mais pormenores, consultar a bibliogra
fia final e a do nosso artigo, “Fonseca, P.” , in LOGOS 11 (Lxa, 1990).
INTRODUÇÃO 11
1 Uma referência muito sumária a alguns destes problemas pode ler-se no nosso
artigo “Conimbricenses”, in: Logos I, Lisboa, 1989.
AS IN S T IT U IÇ Õ E S D IA L É C T IC A S 17
2 “Dieser programmatisch reine Aristotelismus verlegt sich jedoch nicht auf die
philologische Kommentierung des Textes sondern sucht das System des Organon
teilweise durch Zeitbedingte Modeworte in seinem ureigenen Sinngehalt zu erfassen...”
W. Risse, L o g i k d e r N e u z e i t I, 363-
AS IN S T IT U IÇ Õ E S D IA L É C T IC A S 19
1 Idem, ib., 169. A discussão mais recente sobre os paradoxos da implicação estrita
está ligada à inclusão dos teoremas TIO e T i l nos sistemas de Lewis, designadamente no
sistema S5. De facto, nos P r i n c i p i a M a t h e m a t i c a , a implicação é entendida como uma re
lação veritativo-funcional entre P e Q que se verifica sempre que, de facto, não é o caso
que P é verdadeiro e Q é falso. Em Lewis trata-se de uma relação entre P e Q quando
não é possível que P seja verdadeiro e Q falso. A polémica, de facto, remonta ao séc IV
A.C. quando se confrontaram as teses de Diodorus Cronus e de Filon de Mégara. Cf. J.
Vuillemin, N é c e s s i t é o u c o n t i n g e n c e . L ’a p o r i e d e D i o d o r e e t l e s s y s t è m e s p h i l o s o p h i q u e s .
Paris, 1984. Desde então se opunham duas interpretações diferentes da relação de impli
cação, uma interpretação meramente veritativo-funcional e uma interpretação modal. A
questão de fundo tem que ver com a própria interpretação da lógica. Não se trata de
negar a legitimidade e a operacionalidade da lógica das funções de verdade. O que se
contesta é a redução de toda a lógica àquele fragmento da lógica que não se vê como
possa fornecer meios para uma justificação filosoficamente satisfatória das noções centrais
de validade e de derivação.
2 Escusado será dizer que os textos e autores não mencionados nem sempre são
os menos importantes para uma adequada compreensão de uma obra. Sobre a proble-
22 A OBRA DE FONSECA
1 “Nam etsi facilius nobis foret res ipsas per se seorsum tractare et multis etiam
fortasse gratius; idcirco tarnen ea scribendi rationem secuti non sumus quod nescio quo
pacto Philosophiae studiosos a lectione Aristotelis auertat, quem tarnen qui familiärem
non habet, haud magnos unquam in Philosophiae progressus faciat”. Fonseca, C M A I,
Admonitio Lectoris.
24 A OBRA DE FONSECA
matica separata, quae ab illo inducta sunt: quae disputado cum a multis saeculis parum
utilitas afferat et ex dictis utcumque intelligi possit, fere ab huius operis enarratoribus
praetermittitur”. Fonseca, C M A I, col.36.
1. 2. 1 O Proém io dos C M A
1 Esta distinção acabou por receber alguma atenção, nos nossos dias, em virtude
das investigações de W. Jaeger e das suas teses sobre a evolução do pensamento de
Aristóteles. Cf. I. Düring, A ristóteles. Heidelberg, 1966, 556-557 e W. K. C. Guthrie, A
H is to ry o f G reek P h ilo sop h y , VI. Aristotle. An encounter. Cambridge, 1981, 53-59.
OS C O M E N T Á R IO S Á M E T A F ÍS IC A 29
mestre da arte de filosofar. Platão, na sua obra, foi, talvez, mais elo
quente, mas não nos deixou articulada ou sistematizada nenhuma
parte da filosofia ou de qualquer outro ramo do saber. Pelo contrá
rio, em Aristóteles encontramos já um trabalho de construção siste
mática em vários domínios. Assim, Fonseca indica com o principais
campos de realização da actividade sistematizante de Aristóteles a
poética, a retórica, a filosofia da natureza e a dialéctica designada
mente no âmbito da silogística. A propósito da silogística aristoté-
lica, Fonseca, antecipando o célebre juízo de Kant sobre a mesma,
acrescenta: “ ...ipse primus et inuenit, et ita persecutus est ut nemo
post eum quicquam quod alicuius momenti sit, adijcere potuerit”
CCMA I, 12).
Tudo isto significa, entre outras coisas, que Fonseca não tem
uma concepção aporética da filosofia nem interpreta o texto aristo-
télico nessa linha. O que não significa que a sua obra esteja isenta
de aporias como, aliás, já acontece com a de Aristóteles. Simples
mente, esta escolha de Aristóteles por parte de Fonseca significa,
neste contexto, uma compreensão da filosofia com o saber sistemá
tico e ordenado, um saber que pode ser ensinado e aprendido.
Mais adiante, no cap. 5 do proém io, Fonseca procura explicar
porque é que os primeiros doutores da Igreja preferiram as filoso
fias estóica e platónica. Tudo leva a crer que as consideravam mais
próximas da visão cristã em pontos essenciais com o a moral, a
origem do mundo, a imortalidade da alma e a providência divina.
Fonseca, porém, crê poder afirmar que, não obstante a primeira im
pressão em contrário, Platão e os estóicos estão realmente mais
afastados da posição cristã do que Aristóteles. A questão da origem
do mundo e da providência divina são as duas excepções que Fon
seca está disposto a considerar.
Nos restantes capítulos do proém io (4, 6-8), aborda generica
mente o conceito de filosofia em Aristóteles para depois se pronun
ciar sobre o tema da filosofia primeira. N o último capítulo, apre
senta a sua interpretação, em síntese, do esquema da Metafísica.
Relativamente ao objecto da metafísica, Fonseca antecipa já al
gumas ideias chave que constituem o núcleo da “quaestio” dedi
cada ao mesmo tema na sequência de T 1. Logo no início do cap. 6
do proém io afirma que Aristóteles se propôs tratar, na Metafísica,
OS C O M E N T Á R IO S Á M E T A F ÍS IC A 31
1 “Instituit Aristoteles tradere in hoc opere cognitione rerum earum quae nec
materia constant nec in materia existunt, omniumque attributorum quae illis cum caeteris
rebus sunt communia”. Fonseca, C M A I, 25.
32 A OBRA DE FONSECA
1. 2. 3 As Q u a e stio n e s
Este é, s e m d ú v id a , o n ív e l e m q u e F o n s e c a le v a m ais lo n g e a
te m a tiza ç ã o d a p r o b le m á tic a m e ta fís ica e, p o r isso m e s m o , o lu ga r
p r iv ile g ia d o para r e c o n h e c e r a sua p ró p ria p o s iç ã o filo s ó fic a . A
quaestio é u m a fo rm a literária q u e se e n c o n tra c o m fre q u ê n c ia e m
o b ra s filo s ó fic a s d a é p o c a e q u e terá tid o , p o rve n tu ra , a sua o r ig e m
na disp u ta escolar. S u p õ e já u m c e r to grau d e fa m ilia rid a d e c o m o s
tem as a a b o rd a r e te m c o m o característica g e n é r ic a a c o n tra p o s iç ã o
d e várias teses re la tiv a m e n te à q u e s tã o e m d e b a te . F o n s e c a in tegra-
se nesta tra d içã o m as s e m s e g u ir u m e s q u e m a r íg id o e u n ifo rm e.
A ssim , ca d a quaestio in clu i d ive rsa s s e c ç õ e s e m n ú m e ro va riá ve l.
Em te rm o s q u a n tita tivo s p o d e r ía m o s d iz e r q u e , nas c e n to e n o v e n ta
Este prefácio não se encontra na edição de Colónia que temos estado a usar e a
que é mais acessível, hoje. Trata-se de um texto pequeno que nos dá algumas indicações
com interesse sobre a redacção dos C M A e a sua ligação com os planos do Curso Co-
nimbricense. Por exemplo, ai se confirma explicitamente o facto de Fonseca ter redigido
grande parte da obra em Roma: “reliquum huius operis cuius bonam partem aliquot ante
annos Romae scripsi...”. Além do mais, é claro que pelo menos o trabalho de estabeleci
mento do texto grego da M e ta fís ica não poderia ter sido feito em Portugal, dada a ine
xistência, entre nós, de códices do texto aristotélico. Mas o mesmo se poderia dizer da
enorme bibliografia que as q u a estion es pressupõem.
38 A OBRA DE FONSECA
1 K.-O. Apel, “Transcendental semiotics and the paradigma of first philosophy”, in:
P h ilo s o p h ic a l E x c h a n g e2/4 (1978) 3-22. E. Tugendhat, V orlesu n ge n z u r E in fü h r u n g in
d ie S p ra ch a n a ly tisch e P h ilo sop h ie. Frankfurt, 1976.
2 Cf. os textos citados na nota anterior. Para uma primeira apreciação critica do
projecto de Tugendhat, ver L. B. Puntel, “Idee und Problematik einer formalen Se
mantik”, in: Z e its c h r .f. P h ilo s . F o rs ch u n g 31 (1977) 413-427.
3 K.-O. Apel, op. cit.; E. Tugendhat, op. cit., passim, em particular 43, 47s, 77-83.
Sobre os três “macroparadigmas da filosofia ocidental - Ser, Consciência e Linguagem”
no contexto de uma compreensão ecuménica da história do pensamento, ver M. B.
Pereira, P re fá c io à versão portuguesa de “A visão d e D e u s ” d e N ic o la u d e Cusa , Coimbra,
1988, 1-78.
FILOSOFIA PRIMEIRA: METAFÍSICA 41
1 Fonseca, CMA I, 7.
FILOSOFIA PRIMEIRA: METAFÍSICA 43
2 “...cum omnia principia sint per se nota”. Fonseca, CMA III, 1. VI, c. 1, q. 2, p. 24.
3 “Hinc factum est ut scientia ipsa, quae his libris traditur, simplici nomine appel-
lari soleat a recentioribus m etaphysica, quasi Post Naturalium aut supra naturalium scien
tia, cum ab Aristotele saepe appelletur p r im a philosophia-, alias absolute p h ilo s o p h ia ,
quasi praecipua pars philosophiae ut 4 lib. huius operis cap. 2 et 3, et lib. I Physicorum
extremis pene uerbis; alias th e o lo g ia quid de diuinis rebus disserat, ut libro 6 capite 1 et
lib. 11 cap. 6, alias sa p ie n tia quod primas rerum causas teneat ut in ipsa huius operis
praefatione, et cap. 2, lib. 3, alias d o m in a et p rin c e p s reliquarum et cui caeteras contradi-
cere nefas sit ueluti duobus proxime citatis locis et I Post., cap.7, ut quae omnium princi
pia confirmei ac stabiliet”. Fonseca, C M A I, 29 (sublinhado nosso).
44 A OBRA DE FONSECA
1 Fonseca, I D. I, 2.
1 Fonseca, I. D . I, 3.
2 Fonseca, CMA I, 1. II, c. 3, q. 4, col. 529.
3 “Haec quaestio facile hac una assertione explicabitur: D ia le c tic a m n o n esse
52 A OBRA DE FONSECA
totam exercitationem Dialecticam in sola materia Dialéctica ponunt et diutius quam par
est, in ea uersantur, persimiles uidentur esse iis qui in libra et lancibus probe examinan-
dis totam librae utilitatem sitam esse crederent, neque unquam lancibus quicquam
ponderarent. Itemque iis qui totum id temporis, quod ad scribendum datur, in aptando
calamo consumunt. Nam ut hi nulla forma incisionis contenti usque eo saepe calamum
incidunt, dum qua parte scribant uix ullam relinquant; sic illi cum nouis in dies intra
huius artis fines commentis inuestigandis dant operam, aliquid semper latere arbitrari
quod longiori studio et maiore industria erui possit, turn demum ad alias artes comparan-
das se conuertunt cum eis tempus ad illud agendum oportunum deest”. Fonseca, CAÍA I,
1. II, c. 3, q. 4, col. 534-5.
1 Fonseca, CMA I, 1. II, c. 3, q. 4, col. 535.
LÓGICA E FILOSOFIA PRIMEIRA 55
quibus hoc loco Aristoteles praedicamenta distinguit fundantur in modis essendi per
quos illa prius natura distinguuntur quam per modos praedicandi”. Id., loc. cit., 418.
0. Introdução ................................................................... 9
1. A obra de Fonseca ....................................................... 15
1.1 As Instituções Dialécticas e a Isagoge Filosófica .......... 16
1.2 Os Comentários à Metafísica de Aristóteles ................. 22
1. 2. 1 O proémio dos CMA ..................................................... 28
1. 2. 2 Texto, tradução e ‘explanatio’ ......................................... 33
1. 2. 3 As quaestiones............................................................... 35
1.3 A metafísica como filosofia prim eira............................ 39
1. 4 Lógica e filosofia primeira ............................................ 46
1. 4. 1 As “quaestiones” em torno da dialéctica ....................... 47
1 . 4. 2 O lugar das categorias ................................................... 56
Bibliografia 377