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Introdução
Até então, as atividades com cavalos não possuíam uma terapêutica estabelecida. No
correr da primeira metade do século XX, muitos estudos foram feitos e que
comprovavam as muitas boas vantagens que uma prática com os cavalos poderia
oferecer. Em 1954, surgiu na Noruega a primeira equipe multidisciplinar de
equoterapia, que contava com um tratador de cavalos, um psicólogo e um fisioterapeuta
(Silva, 2006).
A equipe multidisciplinar deve ser o mais ampla possível (Bueno & Monteiro, 2011).
São essenciais profissionais de psicologia e fisioterapia, em especial, com uma
formação que os habilite a lidar com os cavalos. Não sendo possível, é muito importante
que as práticas sejam acompanhadas por pessoas capacitadas no tratamento com os
animais.
Além disso, mesmo que não seja possível que outros profissionais estejam presentes no
momento da equoterapia, cada caso precisa ser acompanhado, de acordo com suas
particularidades, pelos profissionais competentes, como médicos, terapeuta ocupacional,
nutricionista, preparador físico, entre outros.
É interessante destacar que a equoterapia é uma das poucas práticas onde os pais ou
responsáveis podem acompanhar diretamente e até mesmo participar das atividades.
Muitas vezes, os responsáveis acompanham o praticante em outras terapias, tais como
terapia fonoaudiológica, psicológica, entre outras, mas não tem a oportunidade de
acompanhar a sessão de perto. A partir disso, fica evidente a importância de valorizar a
experiência, tanto do praticante, quanto do seu acompanhante (Silva, 2006).
Para que os equinos realizem as atividades da forma como se espera que realizem, eles
precisam ter o seu bem-estar garantido. Mas, não somente o seu bem-estar físico, pois
outros fatores podem influenciar suas sensações. Na maioria dos casos, o que os
animais realmente precisam para se sentirem bem é de um ambiente que lhes permita
agir naturalmente, assim, a melhor forma de contribuir para que tenham
comportamentos considerados normais, é proporcionando-lhes a maior liberdade
possível para que todas as suas emoções básicas sejam satisfeitas (Grandin & Johnson,
Do que os animais precisam?, 2010).
O cavalo é um animal que está sempre pronto para fugir e dar coices e sua emoção
dominante é o medo. Geralmente, recorre à fuga para sobreviver e pode ser considerado
um animal arisco, pois é arredio e se assusta com extrema facilidade, o que faz dele um
animal enormemente traumatizável. Isso se deve ao fato de que é o sentido da visão que
lhe diz se um predador é perigoso ou não (Grandin & Johnson, Comportamento dos
Cavalos, 2010).
A docilidade não é natural dos equinos, é preciso acostumar o potro ao humano desde
seu nascimento. Um bom treinamento inclui habituá-lo lentamente às novas sensações,
como a sela, a rédea e o cavaleiro. Assim, o trabalho englobado pela equoterapia se
inicia bem antes da chegada do praticante, pois o cavalo precisa estar dócil e
acostumado à presença dos humanos (Grandin & Johnson, Comportamento dos
Cavalos, 2010).
Na maioria das vezes, o que desperta mais medo em um cavalo é a visão, mas é preciso
estar atento à isso pois os outros sentidos também podem ser causadores de medo neste
animal. Uma equipe bem preparada de equoterapaia precisa estar atenta aos sinais que
o equino pode apresentar de que está com medo. Um cavalo assustado balança muito o
rabo, quanto mais medo ele sente, mais rápido ele o balança. Suor e olhos esbugalhados
também podem ser sinais de medo aos quais a equipe deve estar constantemente atenta
(Grandin & Johnson, Comportamento dos Cavalos, 2010).
Hoje a equipe é coordenada pelo psicólogo primeiro sargento Alberto Pereira da Silva,
também possui educador físico, Thor Dietrich, fisioterapeuta, pedagogo, equitador
(????). Foi uma conquista do atual coordenador a inclusão de policiais militares cuja
formação profissional compõe a especificidade sugerida pela literatura a uma equipe
multidisciplinar de equoterapia. Hoje o serviço dispõe de uma equipe multidisciplinar
capaz de abarcar a complexidade dos casos atendidos com maior propriedade.
O público majoritário do serviço são pessoas com deficiências, entretanto, também são
atendidos outros diagnósticos como depressão, autismo, dificuldade escolar, etc. O
serviço se destina a pacientes que tem encaminhamento médico, com laudo. Também
são atendidos pelo serviço pessoas em tratamento de reabilitação, internadas em uma
clínica para dependentes químicos da polícia militar. Além disso, existem instituições
com as quais o centro de equoterapia possui uma relação de parceria estabelecida, como
a Apae e Pestalozzi. A seleção dos praticantes é feita por ordem de inscrição. O serviço
conta com uma fila de espera bem longa, uma vez que não tem capacidade de atender a
demanda. Os parentes de militares, no entanto, têm atendimento preferencial no serviço.
Dia 2 – 27/04/2016
Dia 3- 02/05/2016
Neste dia, observamos a prática deste método terapêutico pela primeira vez. O
praticante era uma criança com diagnóstico de Síndrome de Down. Uma colega foi
convidada a participar da sessão e brincou um pouco com o menino, com uma bola.
Quando a sessão dele acabou e o praticante se retirou, nós demos início às atividades
programadas para o dia, continuar a aproximação com os cavalos.
Um colega escolheu uma luva com cerdas para tratar do cavalo, o que denotaria que ele
não estava muito inclinado a se aproximar, porém, como ele se colocava próximo e
tocava o animal com a outra mão, percebe-se que esta não pode ser uma análise
definitiva e deve-se ter calma para se chegar a uma conclusão.
Uma escova de cerdas curtas poderia indicar que a pessoa está se sentindo confortável e
quer se aproximar do cavalo. Uma escova de cerdas duras pode indicar que a pessoa não
está muito preocupada se a atividade será prazerosa ou não para o animal.
Depois disso, cada voluntário foi convidado a fechar os olhos e acariciar o cavalo como
preferisse com a mão esquerda e manter a mão direita sempre parada e em contato com
o bicho. Depois de um tempo, Alberto os conduzia ligeiramente para que mudasse de
posição ou trocassem de lugar.
Dia 4- 09/05/2016
Alberto nos explicou que ele não pode, devido ao sigilo profissional que existe entre
psicólogo e paciente, guardar os laudos de qualquer jeito. Todos os laudos que ele
recebe ficam em gavetas trancadas.
Além disso, e essa é uma questão muito importante, as informações que irão compor o
prontuário do praticante devem ser julgadas cuidadosamente, pois os prontuários são de
livre acesso a quem desejar lê-los. Após essas conversas, nós pudemos ler alguns
prontuários. Muitos deles estavam bastante desatualizados. Aberto disse que planeja
revisá-los em breve.
Algumas das fichas das anamnéses realizadas com praticantes ou seus responsáveis
chamaram a atenção. Algumas perguntas não estavam respondidas, ou estavam com
respostas curtas, sem muitas explicações.
Dia 5 – 16/05/2016
A criança tem 4 anos e já demonstrava interesse pelos cavalos. Três voluntários foram
chamados para convencê-lo à montar, processo que aconteceu com muito mais
facilidade do que aconteceria num início típico de sessão, devido à familiaridade do
menino com o cavalo. Em seguida, a equipe assumiu o controle das atividades
desempenhadas pela criança mas sempre convidando algum voluntário para auxiliar.
Um novo praticante também chegou neste dia e passou algum tempo ao nosso lado
alimentando os cavalos e acariciando-os enquanto o psicólogo realizava a anamnese
com sua mãe.
Dia 6 – 30/05/2016
Este ensaio não aconteceu da mesma forma que uma sessão regular aconteceria, mas foi
importante para percebermos o andamento do trabalho em equoterapia assim como os
imprevistos que podem surgir no decorrer.
Referências
Grandin, T., & Johnson, C. (2010). Comportamento dos Cavalos. In: T. Grandin, & C.
Johnson, O Bem-Estar dos Animais: Proposta de uma vida melhor para todos os
bichos (pp. 109-140). Editora Rocco;
Grandin, T., & Johnson, C. (2010). Do que os animais precisam? In: T. Grandin, & C.
Johnson, O Bem-Estar dos Animais: Proposta de uma vida melhor para todos os
bichos (pp. 7-29). Editora Rocco.
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
Francine Santos
2016