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20 SABER VERA ARQUTETURA se numa apreciagiio meramente estética? E 0 que € esse espago protagonista da arquitetura? Quantas sio as suas dimens6es? Essas sio as perguntas imediatas que se colocam & critica arquitet6nica. Tentemos responder comegando pela tltima, que € amais especifica. ‘Jédissemos que as quatro fachadas de uma casa, de uma igre- ja ou de um palacio, por mais belas que sejam, constituem ape- nas a caixa dentro da qual esté encerrada a jéia arqui caixa pode ser artisticamente trabalhada, ousadamente esculpi- da, decorada com gosto, pode constituir uma obra-prima, continua a ser um invélucro; nos Estados Unidos desenvolveu- se toda uma técnica e uma arte de fazer embrulhos, que € ensina- danas escolas industriais e de commercial design, mas ninguém {jamais pensou em confundir 0 valor da c lo que ela contém. mural, 0 contetido € o espaco interior. Na maioria das vezes, um condiciona o outro (basta lembrar uma catedral gotica ou a maior parte dos edificios autenticamente modern: te de edificios nos quais existe uma ia entre continente e contetido, e basta uma répida andlise para observar que, com alguma freqiéncia, na verdade com freqiiéncia demasiada, o invélucro mural foi objeto de maiores preocupacoes e trabalho do que 0 espaco arqi scoberta da perspectiva, ou seja, da representacio grfica ensdes - altura, profundidade e langura -, podia levat os artistas do século XV a acreditar que possufam finalmente as dimensoes da arquitetura e 0 método de representé-las. Os ediff- cios ilustrados nas pinturas pré-renascentistas so, de fato, acha- tados e tortos; Giotto perdia a paciéncia no momento de colocat fundos arquiteténicos em seus afrescos, mas ele préprio devia compreender que tecnicamente 0 seu sucesso era bastante rela~ tivo, ainda que aproveitasse, de uma maneira até certo pont (© ESPACO, PROTAGONSTA DA ARQUITETURA 24 a, essa sua incapacidade, para sublinhar propésitos cro- 's que ele sabia seriam alterados pelas representagdes tridi- ionais. Na época, a pintura ainda agia sobre duas dimen- rigidez frontal bizantina ia-se arqueando nos rostos das figuras, uma maior capacidade nas passagens pictéricas da luz para as sombras transferia as experiéncias plésticas da escultu- ra para o quadro cromitico; a arquitetura pisana rompia a pri- das fachadas das catedrais e dava uma profundi- dade, além de uma vibratilidade cromética, aos planos murais, No entanto, foi preciso esperar a descoberta da perspectiva para ima representagio adequada dos ambientes interiores € tas exteriores da arquitetura, Uma vez elaborada a pers- lema parecia solucionado: a arquitetura - con- és dimensOes; 0 método € esse, qualquer pessoa De Masaccio, Angelico e Benozzo Gozzoli a Bramante, aos seiscentistas, e continuando até o século XIX, um sem-niimero de pintores alinha-se aos desenhistas e arquitetos na representagio em perspectiva da arquitetura, Quando, no de Fotografias s ‘massa; 0s fotégrafos entdo tomam o lugar dos dese um disparo de sua objetiva sub: apaixonados estudiosos da arquitetura vinham labor Cia criticamente claro ¢ teenicamente alcangado, a mente huma- na descobriui que, além das trés dimensdes da per a, exis {ia uma quarta. E foi a revolugao dimensional cubista do perfodo mediatamente anterior & guerra ue 20.808 demoraremos a ilustrar a quarta dimensio mais do Sense atamente necessério ao nosso assunto. O pintorpari- cane : pz © seguinteraiocino: eu veo represento um Geog melo uma caixa ou uma mesa; vejo-0 de um Sra poms 3 £00 Seu Ttrato nas suas ts dimensbes a par- Thar ao redo dae Ms 3 str casa mas nos, ou cami- ara repress & ca asso mudo o meu ponto de vista, Pectiva, Conn Cbisto desse ponto devo fazer uma nova ‘qiientemente, a realidade do objeto nao se 22 SABER VERA ARQUITETURA esgota nas trés dimensdes da perspectiva: gralmente eu deveria fazer um nimer tos pontos de vista. Existe, poi exprimir essa realidade da quarta dimensao sobrepondo as ima- gens de um mesmo objeto representado de diversos pontos de vista para projetar ao mesmo tempo o seu conjunto, nio nos diz _ E 0s cubistas nao pararam por aqui. Sua ansia de descobrir, de compreender profundamente a realidade de um objeto, 08 a0 Segui da forma extema, exis tem os masculos ¢ 0 esqueleto, a constituiga0 intema. Assim, em -presentam simultaneamente nao s6 os dife- rentes aspectos exteriores de um objeto, digamos uma caixa, mas acaixa aberta, a caixa em planta, a caixa rasgada, ‘A conquista cubista da quarta dimensio é de grande hist6rico, independentemente da avaliagao ¢: negativa, que se pode fazer das pinturas cubistas; pode-se prefe- rir um mosaico bizantino a um afresco de Mantegna sem por isso se desconhecer a importincia da perspectiva no desenvolvinento das pesquisas dimensionais; e assim é possivel nao gostar dos quadros de Picasso, mesmo reconhecendo 0 valor da quarta dimensio, Esta teve uma relago decisiva com a arquitetura, nao tanto pelas tradugdes em termos de edificagao da linguagem pic- ‘rica cubista, numa primeira fase do movimento modemo fran- és e alemao (influéncias melhor ilustradas na obra Moderna hist6ria da arquitetura), mas porque propiciou uma sustentagdo ientifica & exigéncia critica de distinguir entre arquitetura cons- la ¢ arquitetura desenhada, entre arquitetura e cenografia, {que durante longo tempo permaneceu em estado confuso. questio das dimensdes da arquitetura. Viramos uma estatueta em rnossas miios para observé-la de todos os lados, ou andamos em_ torno de um grupo estatudrio para estudi-lo de um lado e de (ESA, PROTAGONSTA DA ARQUTETURA 23 todas as obras de arg , Fequerem o tempo da nossa para serem compreen ema pareceu mais uma caminhada, a quarta dimensé ser caracteristica de nenhuma, € por iss co no se esgota nas quatro dimensdes. Esse novo tem, assim, dois significados tetura e em pintura. Nesta, a quarta dimensdo é uma qualidade represe {que um pintor pode preferir projetar no plano, e que no requer nenhuma participagiio fisica do observador. Na escultura, sucede mesma coisa: 0 “movimento” de uma figura de Boccioni é uma 4 quarta dimensio é suficiente para d et0nico, isto é, o invélucro mural que encerra o espaco. Mas o espago em si ~ a esséncia da arquitetura — transcende os mites da quarta dimensio. Entdo, quantas dimensdes tem este “vi espago? Cinco, dez. Talvez infinitas. Mas, com rel 24 SABER VER A ARQUITETURA ° gunta como € hati arquitetura a edificagao cedor, porque 0 belo e 0 lor compreende que, tendo chegado a este ponto, a per- ira que tem um espaco interior que nos ata mente; a arquitetura feia serd Jégica -, devemos reconhecer que os ia da arquitetura estdo cheios de obser- vvagSes que com a arquitetura, nesse sentido especifico, nada tém em comum. Dedica-se uma infinidade de paginas aos prospectos ‘mas estes siio escultura, pléstica em grande escala, uma fonte, um monumento, ainda que de grandes proporgées, um, portal, um arco de triunfo, so todos feitos da arte que encontra- ‘mos nas hist6rias da arquitetura, que podem ser obras-primas poéticas, mas ndo so arquitetura. A cenografia, a arquitetura pin- tada ou desenhada ndo so arquitetura, nem mais nem menos, ‘como um poema ainda no transposto em versos e apenas narrado ‘em suas linhas gerais no € um poema ou s6 0 € no estado mera- mente internacional; em outras palavras, a experiéncia espacial no € dada enquanto a expresso mecfnica e factual nfo tiver rea- lizado a intuigdo lirica. Pois bem, se tomassemos uma historia da arquitetura qualquer e tiréssemos rigidamente todas as partes em que se nota uma hesitagao na descrigdo de fatos nio-arquitet6ni- os, poderfamos ter certeza de que, de cada cem paginas, pelo ‘menos oitenta deveriam ser suprimidas. Por outro lado, podem surgir aqui dois graves equivocos que no s6 anulariam 0 valor do raciocinio precedente, mas torna- (ESPACO, PROTAGONSTA DA ARQUTETURA 25 riam mesmo ridicula a interpretacdo espacial da arquitetura. Sao eles: ) que a experiéncia espacial arquitetdnica s6 € possivel no ior de um edificio, ou seja, que 0 espaco urbanistico pratica- fe nfo existe ou nao tem valor, ‘que 0 espago nao somente € 0 protagonista da arquitetura, mas esgota a expe 6 interpretagao espa ite como instru- Tuas € pragas, nos becos e parqu mde quer que a obra do homem ha spagos fechados. Se no interior de um edifi- xdo por seis planos (por um soalho, um teto € to ndo significa que nao seja igualm ido por cinco planos em vez de espacial que se obtém percorrendo uma aut uniforme, por quilémetros de planicie desabitada, pode ser defi- vores ou cenérios, é caracterizado pelos mesmos elementos, ue distinguem o espago arquiteténico. Ora, visto que todos os ‘Volumes arquitét6nicos, todos os invélucros murais, constituem um corte na continuidade espacial, é Gbvio que todos 0s edificios colaboram para a criagdo de dois espagos: 0s interio- +s, definidos perfeitamente pela obra arquitetOnica, € 0s exterio- res ou urbanfsticos, encerrados nessa obra e nas contiguas, Entio, ¢ evidente que todos os temas que excluimos da arquite- -a—pontes, obeliscos, fontes, arcos de triunfo, gru- ‘odos entram em jogo na formagao dos espacos ‘0s. Mesmo aqui nao tem importincia o seu valor artis- ular, ou no tem grande importéncia; o que interessa € ‘sua fungao como determinantes de um espago fechado. Que as 26 SABER VER A ARQUTETURA fachadas sejam belas ou feias € até aqui (quer dizer, até termos esclarecido 0 segundo equivoco) secundirio. Como quatro pare- des bem decoradas nao criam por si s6s um ambiente bonito, um ssTupo de magnificas casas pode limitar um péssimo espago urba- nfstico, e vice-versa" segundo equivoco leva 0 raciocinio aos seus limites extre- ‘mos ¢ a0 absurdo, com ilagdes totalmente estranhas As intengdes dos que defendem a interpretagio espacial da arquitetura. Di que 0 espago interior é a esséncia da arquitetura nao signific cfetivamente afirmar que o valor de uma obra arquiteténica se esgota no valor espacial. Cada edificio caracteriza-se por uma pluralidade de valores: econémicos, sociais, 16 nais, antsticos, espaciais e decorativos, e cada um tem. de de escrever hist6rias econémicas da arq sociais, histéri Mas a rea res, € uma sua Mesmo prescindindo dos e fixando a atengo nos f la ndo pode esquecer nenhum deles. (ores econdmicos, sociais e técnicos, Paredes que 0 encerram, nao cria um aml ‘menos enquanto a decoragio nfo for renovada. E comum ver- ‘mos todos os dias uma sala bonita estragada por pinturas feias ou por méveis inadequados ou mesmo por mé iluminagao. Trata-se, sem sombra de diivida, de elementos relativamente pouco im- portantes, poi lade, enquanto 0 jo baseia-se nao s6 no seu valor arquitet6nico especifi- Co, mas em todos os fatores acessOrios, ora esculturais, como na decoragio aplicada, ora pict6ricos, como nos mosaicos, nos aftescos e nos quadtos, ora de decoragao, como nos méveis. Apés um século de arquitetura predominantemente decorati- ‘va, escultural, a-espacial, 0 movimento modemno, em sua magnifi- (OESPACO, PROTAGONSTA DA ARQUITETURA 27 svar 8 arquitetura para o campo que Ihe €pr6- oe dos edi indo ma tese de que os nicos legitimos so os volumétricos © para os valores mgfinico se fixou nos espa- ca tent padrio apreci porque, passa o decorativa, de a contréria a a decoracio campo da arquitetura, para que servi vara descobrir novas idéias ou inven- cura e a pintura se rela do que os motivos econémicos, valores tudo diz resp intamente, como se poderia jul- e vazia unidade das artes. R ‘nos seus lugares de subst de prolongamentos. , antes de mai .pgdes espaciais. O julgamento arqui- forma isso acontece’ gar, afirmando uma £&% cionam-se na equagae * ivos, de da arg! nte, a hist6ria das © 28 SABER VER A ARQUTETURA tet6nico é fundamentalmente um julgamento sobre 0 espaco interior dos edificios. Se ele no pode ser expresso pela falta de ‘espaco intemo, como acontece com 0s varios temas construtivos jj mencionados, o edificio — quer seja 0 Arco de Tito, a Coluna de Trajano, ou uma fonte de Bemini—excede os limites da hist6- ria da arquitetura e passa a integrar, como conjunto volumétrico, ahistéria do urbanismo, e, como valor artstico intrinseco, a his- t6ria da escultura, Se o julgamento sobre o espaco interior for negativo, o edificio faz parte da néo-arquitetura ou da mé arqui- tetura, mesmo que, mais tarde, os seus elementos decorativos possam ser abrangidos pela historia da arte escultOrica, Se o jul- ‘gamento sobre o espago de um edificio for positivo, este entra na hist6ria da arquitetura, mesmo que a decoracio seja ineficaz, quer dizer, mesmo que o edificio, considerado integralmente, no seja totalmente satisfat6rio. Quando, por fim, o julgamento sobre a concepgio espacial de um edificio, sobre sua volumetria das grandes ¢ integras obras, yam os meios expressivos de todas as artes figu- se podemos encontrar na arquitetura as contri- 0 espaco interior, 0 espaco que nos |. Tod ou melhor, pode jungdo da concepcao espacial. Todas as vezes que, . se perde de vista essa hierarquia de valo- res, gera-se a confusao e se acentua a atual desorientagio em matéria de arquitetura Se pensarmos um pouco a respeito, o fato de 0 espago, 0 ser o protagonista da arquitetura é, no fundo, natural, por- que a arquitetura nao € apenas arte nem s6 imagem de vid a vivida por n6s e pelos outros; € também, e sobre- tudo, o ambiente, acena onde vivemos a nossa vida. «frases e pagina: CAPITULO 3 A REPRESENTACAO DO ESPACO Um dia, por volta de 1435, um certo Gutenberg, de Mainz, ‘em pedacinhos de madeira as letras do as justapds para formar pe mundo das obras poéticas e dos escrit priedade e instrumento de uma restit ‘massas populares. Em 1839, um tal Daguerre aplicou os seus conhecimentos, fotoquimicos para reproduzir as imagens de um objeto. Inventou em 1877, inventou um aparelho cilindrico ¢ conse- pela primeira vez, registrar os sons numa limina de esta- ho, Quarenta e trés anos mais tarde, em 1920, realizava-se a primeira transmissao. ica. A arte musical, até entdo & dis- posigdo exclusiva de limitados grupos de conhecedores, difun- dliu-se entre as massas com o fondgrafo e 0 rédio. Assim, num continuo progresso cientifico ¢ técnico dedicado ‘0 enriquecimento do patrim6nio espiritual de um sempre cres- Cente ntimero de homens, a poesia e a literatura, a pintura, a es-

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