Artigo de Pesquisa Santos AAR, Medeiros ABA, Soares MJGO, Costa MML

Original Research
Artículo de Investigación

AVALIAÇÃO E TRATAMENTO DE FERIDAS: O CONHECIMENTO

DE ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM

NURSING STUDENTS’ KNOWLEDGE OF WOUND EVALUATION AND TREATMENT

EVALUACIÓN Y TRATAMIENTO DE LAS HERIDAS: EL CONOCIMIENTO DE
ACADÉMICOS DE ENFERMERÍA

Antonio Adriano Rodrigues dos SantosI

Ana Beatriz de Almeida MedeirosII
Maria Júlia Guimarães Oliveira SoaresIII
Marta Miriam Lopes CostaIV

RESUMO: Trata-se de um estudo exploratório-descritivo de natureza quantitativa, em que se objetivou averiguar o

conhecimento dos acadêmicos sobre a avaliação e tratamento de feridas. Foi desenvolvido no Centro de Ciências da Saúde
da Universidade Federal da Paraíba. Participaram da pesquisa 70 acadêmicos dos 8o e 9o períodos. Os dados foram
coletados entre os meses de março e maio de 2009, através de um questionário semiestruturado. Os resultados evidencia-
ram que os maiores índices de acertos dizem respeito ao conhecimento dos acadêmicos acerca da importância da
realização da avaliação da lesão. A busca de dados sobre o histórico da ferida foi justificada de forma parcialmente correta
por 53,3% dos que responderam e 52,8% da amostra desconhecem os benefícios dessas informações. Conclui-se que os
conhecimentos adquiridos ao longo do curso foram insuficientes para que esses discentes possam realizar a avaliação das
lesões com o objetivo de prescrever a conduta adequada para os pacientes.
Palavras-Chave: Avaliação em enfermagem; ferimentos e lesões; terapêutica; estudantes de enfermagem.

ABSTRACT: This exploratory, descriptive, quantitative study of nursing students’ knowledge of wound assessment and
treatment was conducted at the Health Sciences Center of Paraíba Federal University. The participants were 70 students in
their 8th and 9th periods. Data were collected from March to May 2009 using a semi-structured questionnaire. The results
revealed that the highest rates of correct answers related to the students’ knowledge of the importance of performing wound
assessment. The reasons given by 53.3% of respondents for researching the wound’s history were partly correct, while 52.8%
of the sample do not know the benefits of this information. It was concluded that the knowledge acquired during the course was
insufficient for these students to perform wound assessment for the purpose of prescribing appropriate behavior to patients.
Keywords: Nursing assessment; wounds and injuries; therapeutics; nursing students.

RESUMEN: Este es un estudio exploratorio-descriptivo de enfoque cuantitativo, que tiene por objetivo la investigación del
conocimiento de los estudiantes sobre la evaluación y el tratamiento de las heridas. Fue desarrollado en el Centro de Ciencias
de la Salud, de la Universidad Federal de Paraíba – Brasil. Participaron de la pesquisa 70 estudiantes del octavo y noveno
períodos. Los datos fueron recogidos entre marzo y mayo de 2009, a través de un cuestionario semi-estructurado. Los
resultados mostraron que las mayores tasas de respuestas correctas se refieren a los conocimientos de los estudiantes sobre la
importancia de hacer la evaluación de la lesión. La búsqueda de datos sobre la historia de la herida ha sido justificada de
manera parcialmente correcta por 53,3% de los que respondieron y 52,8% de la muestra no son conscientes de los beneficios
de esa información. Se concluye que los conocimientos adquiridos durante el curso no fueron suficientes para que esos
estudiantes puedan realizar la evaluación de las lesiones con el fin de prescribir la conducta adecuada para los pacientes.
Palabras Clave: Evaluación en enfermería; heridas y lesiones; terapéutica; estudiantes de enfermería.

I
Enfermeiro Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal da Paraíba e Pesquisador do Grupo de Estudo e Pesquisa em
Tratamento de Feridas. Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Enfermagem Clínica, João Pessoa, Paraíba, Brasil. E-mail:
driobs@gmail.com.
II
Graduanda em Enfermagem. Bolsista Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica. Pesquisadora do Grupo de Estudo e Pesquisa em Tratamento de
Feridas. Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Enfermagem Clínica, João Pessoa, Paraíba, Brasil. E-mail:
biazinha_e@hotmail.com.
III
Enfermeira. Professora Associada da Universidade Federal da Paraíba. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará. Mestre em Saúde Pública.
Docente do Curso de Pós-Graduação em Enfermagem. Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Enfermagem Clínica, João
Pessoa, Paraíba, Brasil. E-mail: mmjulieg@yahoo.com.br.
IV
Enfermeira. Professora Associada da Universidade Federal da Paraíba. Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Federal da Paraíba. Doutora em
Sociologia. Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Enfermagem Clínica, João Pessoa, Paraíba, Brasil. E-mail:
marthamiryam@hotmail.com.

Recebido em: 12/07/2010 – Aprovado em: 03/09/2010 Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2010 out/dez; 18(4):547-52. • p.547
Avaliação e tratamento de feridas
INTRODUÇÃO
A pele é o mais importante elemento de proteção
do organismo contra todo e qualquer tipo de agressão
física e biológica. É o maior órgão do corpo humano,
sendo indispensável para um bom funcionamento dos
processos fisiológicos do organismo. A mesma está
sujeita a agressões que podem levar a alterações na sua
constituição, o que caracteriza uma ferida, levando a
uma possível incapacidade funcional1.
O acadêmico de enfermagem, diante da forma-
ção recebida, tem fundamental importância na
implementação de medidas preventivas e terapêuticas
dos diversos tipos de feridas, sendo, portanto, um
corresponsável nessa tarefa. O enfermeiro, hoje, deve
ser um educador em potencial, pois o
cuidado de enfermagem vai além da visão redu-
cionista de assistência ao doente, uma vez que tem
como foco a saúde sob uma perspectiva holística. Já
que o processo pedagógico da enfermagem, com
ênfase na educação em saúde, encontra-se em evi-
dência. O enfermeiro tem destaque, pois é o princi-
pal atuante no processo de cuidar por meio da edu-
cação em saúde2:55.
No entanto, para isso é necessário um conheci-
mento prévio de como assistir com cuidado os porta-
dores de lesão e de como avaliar e tratar de forma
adequada uma ferida, pois ao enfermeiro cabe a res-
ponsabilidade de conhecer os materiais disponíveis
para avaliação e tratamento de feridas, além de co-
nhecer a anatomia da pele, a fisiologia da cicatrização
e os fatores intrínsecos e extrínsecos ao paciente que
comprometem um processo cicatricial ativo, ou seja,
o enfermeiro deve primar pela integralidade3.
A enfermagem não dá a importância necessária
ao avaliar um paciente portador de lesão, não identi-
ficando os fatores que influenciam no processo
cicatricial. Os profissionais apenas realizam conse-
cutivos curativos em feridas que insistem em não ci-
catrizar e não atentam para o estado nutricional do
paciente, para a presença de infecções ou doenças de
base que retardam a cicatrização4.
A avaliação de feridas, quanto aos mais diver-
sos aspectos, é fundamental para a prescrição de um
tratamento adequado, envolvendo desde a etiologia
até as características clínicas do leito da lesão e área
circundante, bem como as doenças de base do clien-
te. O olhar especializado da enfermagem é fundamen-
tal e indispensável para a determinação de um trata-
mento apropriado das feridas1.
O desenvolvimento deste estudo justifica-se
pela oportunidade de compreender a prática de en-
fermagem, verificando assim o conhecimento adqui-
rido na formação dos acadêmicos de enfermagem no
que diz respeito à prestação dos cuidados necessários
na avaliação e no tratamento das feridas, bem como
p.548 • Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2010 out/dez; 18(4):547-52.
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seus resultados, que serão importantes tanto para o
acadêmico, que terá uma idéia da qualificação que é
recebida durante a sua formação em relação à avalia-
ção e ao tratamento de feridas, sendo algo que merece
maior suporte na formação acadêmica, como para o
profissional enfermeiro, para o qual um estudo como
este pode ser fonte de atualização, pela possibilidade
de vislumbrar mudanças na realização de técnicas
indevidas realizadas em diversas instituições pres-
tadoras de serviço de saúde, com vista ao alcance de
objetivos educacionais que permitam a construção
de competências profissionais.
Mediante o exposto, foram traçados os seguin-
tes objetivos: averiguar o conhecimento dos acadê-
micos sobre a avaliação e o tratamento de feridas.
REFERENCIAL TEÓRICO
Os primeiros estudos sobre cicatrização de feri-
das em ambiente úmido começaram a surgir somente
no final da década de 1950, despertando o interesse
da comunidade científica4.
No Brasil, somente na década de 1990, começa-
ram a surgir os primeiros trabalhos com curativos
úmidos e, no final desta década, entraram no mercado
nacional os produtos específicos para esta finalidade5.
A avaliação e o tratamento de feridas vêm se
tornando uma área cada vez mais específica e cientí-
fica, diferenciando-se progressivamente como uma
especialidade no campo da atenção à saúde4.
Muito se tem discutido sobre os cuidados avan-
çados na saúde, entre os quais a preocupação com a
avaliação e o tratamento das feridas. Mas, para isso,
se faz necessário envolver profissionais enfermeiros
com saberes e práticas específicas, com a finalidade
de proporcionar cuidado individualizado, buscando
compreender o contexto fisiopatológico em que o
paciente se encontra e a terapêutica adequada, sem
deixar de se preocupar com os fatores psicológicos,
sociais e humanizados de cada um6.
É de fundamental importância buscar informa-
ções sobre o histórico e a apresentação da ferida (lo-
calização, tempo, causa, entre outros)7.
Ao se analisar que a pele, além de ser o cartão de
apresentação, é o maior órgão do ser humano, torna-se
evidente a responsabilidade, principalmente do profis-
sional enfermeiro, em promover e cooperar com o orga-
nismo para uma perfeita reconstrução tecidual, porém
entender a cicatrização como um processo endógeno
não implica em descuidar do tratamento tópico.
Muitos enfermeiros não percebem a importân-
cia de avaliar o cliente que apresenta uma lesão de
pele para identificar os fatores que impedem ou re-
tardam a cicatrização. Empenham-se em realizar
infindáveis sessões de curativos em ferimentos que
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não cicatrizam, culpando este ou aquele produto, e não
se apercebem que a causa está, muitas vezes, relacionada
a um status nutricional inadequado, às infecções
subjacentes, às doenças crônicas descompensadas e a
muitos outros fatores que interferem neste complexo
processo sistêmico da cicatrização4.
Na avaliação, deve-se verificar se há fatores locais
que alteram a evolução fisiológica da cicatrização. Aten-
tar para os sinais (exsudação purulenta; hipertermia;
eritema; dor e calor local e edema) que indicam a presen-
ça de infecção, pois a mesma provoca destruição tecidual,
retarda a síntese de colágeno e impede a epitelização7,8. A
avaliação e a verificação da ferida devem ser realizadas a
cada troca de curativo.
Um curativo ideal é aquele capaz de manter alta a
umidade entre a sua interface e a da ferida, remover o ex-
cesso de exsudação, permitir trocas gasosas, fornecer isola-
mento térmico, ser impermeável a bactérias, ser isento de
partículas contaminadas externas à ferida e permitir sua
remoção sem causar trauma na ferida9.
Em caso positivo de evolução da ferida, deve-se
manter os cuidados até a sua completa cicatrização. Os
principais sinais de melhora a serem observados são:
aumento do tecido de granulação; exsudato serossan-
guinolento ou seroso que diminui gradativamente; pre-
sença de tecido de epitelização nas bordas, aumentando
a cada avaliação; ausência de sinais de infecção; dimi-
nuição da profundidade e diâmetro da ferida com recu-
peração dos tecidos afetados, epiderme e derme7.
A preocupação com o tratamento de feridas é an-
tiga e muitos estudos acerca do assunto têm sido desen-
volvidos, o que levou a um grande avanço no conheci-
mento dos diferentes tipos de lesões, do processo de
reparação do tecido lesado, bem como de todos os fato-
res nele envolvidos10.
O enfermeiro deve ter uma visão ampla no que se
refere ao tratamento de uma ferida, e o papel desse profis-
sional não se resume a apenas execução dos curativos,
pois o mesmo preenche uma lacuna importante no trata-
mento de feridas. Afinal, o enfermeiro é quem executa o
curativo diariamente e está em maior contato com o pa-
ciente. Por essa razão sua ação sobrepor-se-á à ação dos
outros componentes da equipe11.
O objetivo do tratamento de uma ferida é a ci-
catrização sem complicações, com a restauração das
funções e prevenção das sequelas, devendo levar em
consideração a busca de uma cicatrização funcional e
estética do paciente facilitando a cura fisiológica e a
prevenção ou eliminação de fatores locais, sistêmicos
ou externos que interfiram no processo de recupera-
ção. Também deve levar em conta o bem-estar físico
e mental do paciente durante todo o processo de tra-
tamento, bem como promover o conforto do pacien-
te, a prevenção de cicatrizes desfigurantes, a regres-
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Santos AAR, Medeiros ABA, Soares MJGO, Costa MML
são da lesão e a promoção de condições ideais para a
geração de um novo tecido7.
Nas duas últimas décadas, diversos estudos foram
realizados na busca de melhores resultados nos tratamen-
tos de feridas. Estes resultados foram alcançados em fun-
ção de uma nova visão epidemiológica do problema e de
uma maior compreensão e conhecimento dos mecanis-
mos fisiológicos e fisiopatológicos envolvidos no proces-
so de início, cronificação e/ou regressão dos diferentes
tipos de feridas, o que favoreceu o surgimento de diversos
produtos que podem ser usados no tratamento dos diver-
sos tipos de feridas7.
O mercado oferece uma diversidade de produtos
para tratamento de feridas que tem provocado insegu-
rança nos profissionais da saúde sobre qual opção é a
mais indicada. O sucesso do tratamento depende da
criteriosa escolha e da adequada utilização dos produtos
selecionados12.
Existem mais de dois mil produtos para tratar feri-
das no mercado, o que torna a escolha do curativo cor-
reto uma tarefa difícil. Nesse sentido, alguns fatores de-
vem ser considerados para uma escolha correta: fatores
relacionados com a ferida e a pele adjacente – etiologia,
tamanho, profundidade, localização anatômica, volu-
me de exsudato, risco ou presença de infecção, condi-
ções da pele adjacente; fatores relacionados com o paci-
ente – condições nutricionais, doenças de base, necessi-
dade de controle da dor, preferências; fatores relaciona-
dos com o curativo – indicação, contraindicação, van-
tagens e desvantagens, disponibilidade, durabilidade,
adaptabilidade e facilidade de uso10.
Existem também alguns tratamentos e produtos
alternativos, como é o caso do uso do açúcar refinado
em feridas abertas, como a úlcera por pressão, atentan-
do sempre para a frequente e periódica troca do curativo
e do açúcar, mantendo a osmolaridade elevada na super-
fície da lesão, sendo esta condição fundamental para
que ocorram os efeitos terapêuticos esperados13.
A enfermagem tem buscado evidências científicas
para resolver problemas da prática assistencial, afinal
muitos produtos têm sido utilizados no tratamento de
feridas, sem que se conheçam com exatidão os mecanis-
mos de ação e resultados do contato destas substâncias
com as lesões. Rever a produção científica dos enfermei-
ros sobre a temática pode contribuir para a utilização e
desenvolvimento de tecnologias de cuidado na área de
tratamento de feridas10.
Após um estudo de análise da produção científica
publicada na Revista Brasileira de Enfermagem de 1970-
2003 sobre tratamento de feridas, concluiu-se que essa
temática constitui um campo enorme de investigação,
o qual tem sido pouco explorado pelos enfermeiros. Esse
fenômeno assume relevância na medida em que a enfer-
magem se ocupa, apenas, da realização dos curativos10.
Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2010 out/dez; 18(4):547-52. • p.549
Avaliação e tratamento de feridas
Na assistência prestada a um paciente com feri-
da, o enfermeiro deve exercer toda a sua autonomia,
pois o mesmo tem a competência técnica e científica
para desempenhar tal cuidado e assim obter êxito.
O processo de autonomia implica que o enfer-
meiro possa interferir no processo de definição das
prioridades na assistência. Sendo, portanto, a avalia-
ção e o tratamento das feridas prioridades eminentes
para uma boa recuperação do paciente, afinal uma
ferida pode ser o indicador de que algo, intrínseco ao
paciente, está irregular14.
A competência do enfermeiro que se propõe a
cuidar e preservar a pele do seu cliente reúne um saber
sobre o ser humano em sua integralidade (física, men-
tal e espiritual), delimitando-o como seu alvo, sua in-
tenção para a escolha dessa área profissional, ou seja, o
enfermeiro deve olhar e ver o seu cliente de forma
holística e não apenas deter-se na ferida de forma iso-
lada, pois fatores intrínsecos a esse cliente influenci-
am diretamente na evolução satisfatória da lesão15.
Resgatar o cuidar na enfermagem é recuperar a
autonomia profissional do enfermeiro, e um dos ca-
minhos para que isso possa ser alcançado será quan-
do o enfermeiro perceber a sua real importância ao
avaliar e tratar uma ferida, afinal o “cuidar, neste con-
texto, é um processo, é a maneira de demonstrar o
saber-fazer, pois requer um conhecimento que quali-
fica o trabalho do enfermeiro”14:224.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo do tipo exploratório-des-
critivo, de natureza quantitativa, que foi desenvolvido
no Centro de Ciências da Saúde, no Campus I da Uni-
versidade Federal da Paraíba, localizado no município
de João Pessoa. A amostra foi constituída por 70 alunos.
Para seleção do conjunto amostral foram obedecidos os
seguintes critérios: estar matriculado e cursando o 8o ou
9o períodos do Curso de Graduação em Enfermagem,
estar presente no período de coleta de dados e aceitar
participar do estudo.
Os dados foram coletados durante as reuniões
agendadas pelas coordenações dos Estágios Supervisio-
nados I e II, no período de março a maio de 2009, medi-
ante a utilização de um questionário. O mesmo foi com-
posto de duas partes: a primeira relativa aos dados
sociodemográficos; a segunda, referente ao conhecimen-
to dos acadêmicos de enfermagem em relação à avalia-
ção e ao tratamento de feridas, composta por questões
objetivas e subjetivas.
A análise dos dados ocorreu entre os meses de
abril e junho de 2009, tendo sido utilizado para com-
putação dos dados o Editor Estatístico Excel versão
Microsoft Windows 2007, cujos resultados foram orga-
p.550 • Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2010 out/dez; 18(4):547-52.
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nizados em gráficos e tabelas, com frequências abso-
lutas e percentuais. O estudo foi aprovado pelo Co-
mitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da
Saúde da Universidade Federal da Paraíba, com o no
de protocolo 063/09. Todos os participantes concor-
daram em participar do estudo, assinando o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, de acordo com a
Resolução no 196/96, do Conselho Nacional de Saú-
de, e a Resolução no 311/2007, do Conselho Federal
de Enfermagem.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com relação aos 70(100%) estudantes de en-
fermagem pesquisados, observou-se que a maioria é
constituída por mulheres, confirmando que a de-
manda de futuros enfermeiros apresenta um perfil
predominantemente feminino — 64(91,4%) aca-
dêmicas. A enfermagem vem, ao longo dos séculos,
sendo entendida como uma profissão afeita ao sexo
feminino, por historicamente a mulher ter sido vis-
ta como possuidora de condições naturais para ze-
lar, ajudar o indivíduo e acalentar crianças, porém,
alguns paradigmas têm sido mudados, pois hoje há
mais homens na enfermagem do que se imagina e do
que alguns estudos revelam 16.
Observou-se também que 63(90%) têm de 21 a 25
anos de idade e somente 7(10%) pertencem à faixa etária
de 26 – 30 anos. Isso demonstra que os profissionais que
estão sendo lançados no mercado são jovens e ainda não
têm grande experiência — o que não justifica a falta de
interesse e/ou conhecimento.
No que concerne à avaliação e ao tratamento de
feridas, percebeu-se que o maior índice de acertos —
68(97%) — refere-se à questão sobre a forma correta de
classificar uma ferida de acordo com o trauma que a
ocasiona. Por sua vez, o maior índice de erros — 49(70%)
— relacionou-se à questão sobre o tipo de cobertura
mais adequado para o tecido de granulação. Em suma, o
índice de acertos variou de 20% a 97% e o índice de
erros variou de 3% a 70%, conforme dados da Tabela 1.
TABELA 1: Distribuição do desempenho dos acadêmicos de
enfermagem conforme o conhecimento (questões) sobre avaliação
e tratamento de feridas. João Pessoa – PB, 2009. (N=70)
Questões Objetivas Acertos Erros
f % f %
Por que é feita a avaliação
de uma ferida? 67 96,0 3 4,0
Identifique cada tipo de exsudato
de acordo com suas características 61 87,0 9 13,0
Caracterize o leito da lesão
identificando a cor do mesmo 34 48,5 36 51,5
Quanto ao mecanismo que ocasiona o
trauma classifique as feridas de acordo
com a sua respectiva descrição 68 97,0 2 3,0
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Esse alto índice de erros dos sujeitos na questão
citada precisa ser revertido/superado, mediante cons-
tante atualização, seja em relação às novas técnicas usa-
das no tratamento de feridas como quanto aos novos
curativos e coberturas. Porém, no questionamento que
correlaciona tipos de coberturas de curativos com suas
indicações, observou-se um maior número de acertos,
pois 40(57%) acadêmicos correlacionaram de forma
correta essas duas variáveis.
No que se refere aos objetivos da avaliação de uma
ferida, tais como: para descrever de forma objetiva o que
está sendo visto; para desenvolver um plano de cuida-
dos com estratégias de tratamento; para monitorar a
eficácia das estratégias de tratamento e acompanhar a
evolução; e para haver documentação sobre o cuidador,
67(96%) acadêmicos concordaram com os objetivos
anteriormente citados e apenas três acadêmicos desco-
nhecem os reais propósitos da avaliação de uma ferida.
Analisou-se ainda o conhecimento dos acadê-
micos acerca das características de uma ferida com
sinais de infecção, tais como: exsudação purulenta
(cor da exsudação, da crosta da superfície da ferida e o
odor dependem da bactéria causadora da infecção),
hipertermia, eritema, dor e calor local e edema7,8.
TABELA 2: Distribuição das respostas dos acadêmicos de
enfermagem acerca das características de uma ferida com sinais
de infecção. João Pessoa – PB, 2009. (N=70)
Ite n s
Sinais de Citados Não citados
In fec ç ã o f % f %
Exsudato purulento 60 85,7 10
Eritema 48 68,6 22
Odor fétido 33 47,1 37
Dor 31 44,3 39
Calor 27 38,6 43
Hipertermia 16 22,8 54
Edema 11 15,7 59
Tumor/Necrose/Fibrina 11 15,7 59
Observou-se que os acadêmicos reconhecem
como sinais de infecção a presença de exsudato puru-
lento citado por 60(85,7%) acadêmicos. O eritema foi
apontado por 48(68,6%) pesquisados. O odor fétido
foi mencionado por 33(47,1%) acadêmicos. A dor foi
citada por apenas 31(44,3%) dos pesquisados e com
um índice bastante significativo de 39(55,7%) que não
souberam reconhecer esse sintoma como um indicativo
de infecção. Outros itens considerados de grande sig-
nificado para caracterizar uma lesão com indicativo de
processo infeccioso são calor, hipertermia e edema;
entretanto, a maioria dos acadêmicos investigados os
desconhecem: 59(84,3%) — para o edema, 54(77,2%)
— para hipertermia e 43(61,4%) — para o calor. Ain-
da houve acadêmicos que citaram características como
tumor, necrose e fibrina como sinais indicativos de
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Santos AAR, Medeiros ABA, Soares MJGO, Costa MML
processo infeccioso na ferida. Ver Tabela 2.
Portanto, percebe-se um índice elevado de des-
conhecimento de características importantes de se-
rem identificadas no processo de avaliação de feridas,
que pode contribuir para que muitas lesões, que po-
deriam ser precocemente tratadas, venham a evoluir
para um estado em que o processo cicatricial seja re-
tardado e consequentemente prolongar o tempo de
reverter o quadro infeccioso.
A avaliação das respostas dadas à questão refe-
rente à importância da busca de informações sobre o
histórico da ferida durante sua avaliação resultou nas
seguintes categorias: a categoria correta, parcialmente
correta e incorreta.
A categoria correta compreende as seguintes res-
postas: é de fundamental importância buscar infor-
mações sobre o histórico e a apresentação da ferida
(localização, tempo, causa, entre outros). A anamnese
no tratamento das lesões é de extrema importância,
pois através da mesma pode-se detectar o tipo de lesão
e qual o procedimento mais adequado àquela ferida, ou
seja, é necessária uma avaliação inicial abrangente, para
que seja traçado um tratamento eficaz. Essas informa-
ções irão servir como parâmetros para a implementação
do tratamento e sua eficácia, assim como para a poste-
rior avaliação evolutiva da ferida7.
A categoria parcialmente correta compreende as
repostas que possuem pelo menos um dos itens con-
siderados na categoria correta. A categoria incorreta
compreende as respostas que não possuem nenhum
dos itens considerados na categoria correta.
14,3
31,4 Diante do exposto, observou-se o conhecimen-
52,9 to dos acadêmicos acerca da importância da busca de
55,7 informações sobre o histórico da ferida. Nesse quesi-
61,4 to, 100% dos participantes responderam sim para o
77,2 questionamento; porém, quando solicitados a justifi-
84,3 car a sua resposta, foram obtidos os seguintes resulta-
84,3
dos: 8(11,5%) não responderam; 33(53,3%) partici-
pantes justificaram a sua escolha de forma parcialmente
correta; 29(46,7%) de maneira incorreta e ninguém res-
pondeu de forma correta, conforme dados da Figura 1.
FIGURA 1: Classificação das respostas dos acadêmicos de
enfermagem acerca da importância de buscar informações
sobre o histórico da ferida. João Pessoa-PB, 2009. (N=62)
Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2010 out/dez; 18(4):547-52. • p.551
Avaliação e tratamento de feridas
Assim, o que se pode observar é que o índice de
erros, somado ao índice daqueles que não souberam
justificar, totaliza 37(52,8%) acadêmicos, ou seja, a
maioria tem consciência da importância da busca de
informações sobre o histórico da ferida, porém não
sabe o porquê dessa busca, seu objetivo e benefícios
que ela pode trazer nos momentos de se instituir,
manter e avaliar um tratamento para determinado
tipo de ferida.
CONCLUSÃO
O enfermeiro deve realizar a avaliação das feri-
das, do paciente e de suas condições, considerando os
fatores que possam influenciar na cicatrização. Ele
deve ter uma visão ampla em relação ao tratamento
de uma ferida, pois o papel desse profissional não se
resume apenas a executar os curativos, mas avaliar e
intervir em cada fase do processo cicatricial, assistin-
do com qualidade.
Na formação, durante o curso de graduação, o
acadêmico de enfermagem deve obter conhecimen-
tos suficientes para, na sua vida profissional, cuidar
de pacientes portadores de ferida. O tratamento de
lesões não é uma ação simples e demanda, além do
comprometimento do profissional com a ética, uma
base de conhecimentos científicos que possam subsi-
diar uma avaliação precisa para que, através do julga-
mento clínico, o profissional venha a tomar decisões
acerca do tratamento mais eficaz.
O presente estudo permitiu avaliar o conhecimen-
to dos graduandos de enfermagem em relação à avalia-
ção e ao tratamento de feridas. Diante disso, a análise e
interpretação dos dados revelaram que os acadêmicos
devem estar em constante atualização, pois eles, mesmo
sabendo das indicações e finalidades de uma determina-
da cobertura, não conseguem relacioná-las às caracte-
rísticas da ferida a ser tratada, além de apresentarem um
déficit de conhecimento considerável acerca da forma
correta de identificar características que indicam ocor-
rência de infecção na ferida e da importância da avalia-
ção e do registro diário de sua evolução.
Ao término deste estudo, foi possível obter uma
melhor compreensão da temática, bem como verificar
que a amostra não possui um conhecimento suficiente
acerca de como avaliar e tratar lesões, o que conse-
quentemente dificultará sua atuação profissional para
a prestação desse cuidado com qualidade. Entende-se,
assim, que é de vital importância que sejam opor-
tunizadas aos alunos do estudo, não somente a realiza-
ção de um curso voltado para suprir o déficit de conhe-
cimento evidenciado, mas a discussão desse conteúdo
nas diversas disciplinas da graduação, ou mesmo a cri-
ação de uma disciplina curricular que contemple essa
temática de modo a abordar todos os aspectos envol-
vidos no processo de cuidar de lesões.
p.552 • Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2010 out/dez; 18(4):547-52.
Artigo de Pesquisa
Original Research
Artículo de Investigación
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Recebido em: 12/07/2010 – Aprovado em: 03/09/2010