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O rombo da educação é o cabide de empregos de 46 bilhões de reais

Gustavo Ioschpe
Há uns dois meses, quis descobrir o total de funcionários do setor da educação no
Brasil. O número de professores é bem conhecido dos pesquisadores, pois está na casa
dos 2 milhões há alguns anos, mas não sabia quantos seriam os funcionários do setor
que não são docentes.
Tenho um verdadeiro arsenal de dados estatísticos sobre a educação brasileira e
internacional. Procurei em todos, inclusive em algumas sinopses estatísticas da
educação básica, que são arquivos com mais de 200 planilhas, que informam até
quantas turmas do ensino fundamental com menos de 4 horas/aula por dia há no
Acre. Mas o número de funcionários não aparece em nem um único documento. Não
está disponível para consulta em lugar algum. Fiz então uma consulta direta ao Inep,
órgão do MEC responsável por avaliações e estatísticas. A resposta solícita veio no
mesmo dia: incluindo professores, são mais de 5 milhões de funcionários na área da
educação no Brasil, pouco mais de 4 milhões deles na rede pública.
Fiquei embasbacado com esse dado. Não apenas pelo gigantismo do número total –
seus 5 milhões de membros fazem com que essa seja a quarta maior categoria
profissional do Brasil, atrás apenas dos agricultores, vendedores e domésticas –, mas
especialmente pelo fato de termos 3 milhões de funcionários longe da sala de aula, um
número 50% maior do que o de professores.
Imaginei que essa relação entre funcionários e professores seria menor em países com
sistemas de educação mais eficientes. Dito e feito, até em um nível maior do que eu
imaginara. Segundo os dados mais recentes do Education at a Glance, levantamento
feito pela OCDE (disponível em twitter.com/gioschpe), a relação entre funcionários e
professores em seus países-membros é de 0,43. No Brasil, falando apenas do setor
público, essa relação é de 1,48. Ou seja, enquanto lá há um funcionário para cada dois
professores, aqui a relação é quase três vezes e meia maior. Isso significa que, se o
Brasil tivesse a mesma relação professor/funcionário dos países desenvolvidos, haveria
706000 funcionários públicos no setor, em vez dos 2,4 milhões que temos. Como é
difícil imaginar que precisemos de mais funcionários que as bem-sucedidas escolas dos
países desenvolvidos, isso faz com que tenhamos 1,7 milhão de pessoas excedentes no
sistema educacional, recebendo todo mês salários que vêm do nosso bolso. Se
presumirmos que os funcionários recebem o mesmo salário médio que os professores
(infelizmente não há dados oficiais a respeito do país todo, mas a conversa com alguns
secretários da Educação me sugere que essa é uma hipótese válida), isso significa um
desperdício de inacreditáveis 46 bilhões de reais, ou 1,3% do PIB, todo ano, o que
certamente é mais do que todos os escândalos de corrupção da última década
somados. É simples chegar a esse número: basta saber quanto o Brasil investe em
educação por ano e que porcentagem disso é investida em folha salarial. Ambos os
dados estão disponíveis no Education at a Glance, e o cálculo completo está disponível
no meu Twitter.
A importância desse dado, porém, vai muito além da simples montanha de recursos
que são desperdiçados. Ele ajuda a explicar algo ainda mais importante para o futuro
do Brasil: a razão pela qual nossa educação vai tão mal.
O primeiro fator impactado por essa gastança é o salário do professor. Esse dado
explica como o Brasil pode, ao mesmo tempo, investir tanto em educação e ter
professores tão insatisfeitos com o seu rendimento. (A propósito, cruzando os dados
da OCDE com o PIB brasileiro, o salário médio mensal do professor na rede pública é
de 2262 reais. Cuidado com os discursos do pessoal que fala do "salário de fome".) Se
se demitissem os funcionários excedentes e o salário deles fosse transferido aos
professores, a remuneração destes aumentaria 73%, para 3906 reais mensais.
O segundo impacto é o poder político desse grupo. Se já seria difícil a algum político ir
contra a vontade dos 2 milhões de professores, o que dizer então de um grupo que, na
verdade, tem 5 milhões de membros, a grande maioria sindicalizada e politizada? Não
é de espantar que os políticos dispostos a encarar a briga com a categoria tenham sido
invariavelmente derrotados. Não é de espantar, também, que a categoria consiga fazer
greves tão volumosas e barulhentas.
A terceira realidade claramente descortinada por esses dados é a utilização política do
setor de educação. Não é possível chegar a esse nível sem que haja um esforço
deliberado de contratações desnecessárias. Contratações que só ocorrem porque os
profissionais da educação são frequentemente utilizados como instrumento político de
seus padrinhos. Muitos viram simples massa de manobra e fonte de votos, outros –
especialmente nos cargos de direção e supervisão regional – acabam se tornando
verdadeiros cabos eleitorais de lideranças regionais.
A quarta conclusão é ainda mais séria. Ela diz respeito à relação entre gastos com
educação e a qualidade do ensino ministrado. A maioria dos estudos sobre o tema
demonstra não haver relação significativa entre o volume de recursos gastos em
educação e a qualidade do ensino. No Brasil, onde a maior parte do gasto é canalizada
para aumentar o número de profissionais na rede e dar melhor remuneração àqueles
que já estão nela, não é de surpreender que o constante aumento de gastos no setor
nos últimos dez anos tenha sido acompanhado de estagnação. Os resultados do
Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) foram piores em 2007, último ano
disponível, do que em 1997. Se já é difícil promover melhorias nos países em que o
recurso é bem aplicado, imagine no Brasil, onde o dinheiro financia um gigantesco
cabide de empregos. O mais desalentador é que, em meio a tão contundentes
evidências de que o aumento dos investimentos não tem trazido resultados na
melhoria do aprendizado dos alunos, testemunhamos a todo momento a patética
pregação para aumentar o valor investido em educação dos atuais 5% do PIB para 7%
(o que já seria um fenomenal aumento de 40%, ou 73 bilhões de reais por ano, em
valores de 2010). Não ocorre a ninguém que custa pouco o que realmente melhora o
ensino: reformular os cursos universitários de formação de professores,
profissionalizar a gestão das escolas, adotar um currículo nacional, permitir a criação
de novas modalidades no ensino médio, melhorar o material didático e cobrar a
utilização de práticas de sala de aula comprovadamente eficazes. É preciso disposição
para encarar as tarefas que exigem trabalho e coragem para enfrentar as resistências
corporativas. Mas sobre isso os bravos gastadores de plantão não querem nem ouvir
falar. Não dá voto. Não sei exatamente como se sentiram os passageiros do Titanic que
ouviam a orquestra a tocar enquanto o navio fazia água, mas suspeito que a minha
estupefação e desalento sejam parecidos com o sentimento deles. Com a agravante de
que, cada vez que compro algo ou pago impostos, estou financiando o iceberg.

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Fonte: Revista Veja, 12 de outubro de 2011 - Edição 2238

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