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DA CRISE DO WELFARE STATE AO ESTADO MÁXIMO PARA O CAPITAL

Maria Valéria Costa Correia1

Os anos 70 foram marcados por uma grande crise no capitalismo monopolista, com uma forte
recessão da economia capitalista internacional. O padrão de acumulação fordista, baseado na produção
em série e o keynesianismo2 com o pacto de classes que resultou no Welfare State3, não conseguiram
mais deter a tendência à queda da taxa de lucro. A capacidade de acumulação estava fortemente
diminuída. O capital buscou o enfrentamento da sua crise com um novo padrão de acumulação
favorecido pela revolução tecnológica e centrado na externalização da produção via subcontratação e
terceirização e com um modo de regulação correspondente, baseado na desregulação estatal via
privatizações, redução de direitos sociais e trabalhistas, cortes nas políticas de proteção social e
eliminação de parte dos controles do Estado sobre as condições de uso da força de trabalho.
Dias (2004b) destaca que não se trata apenas de uma forma de retomar a possibilidade de
acumulação, mas de alterar a correlação de forças entre capital e trabalho e fundar as formas
atualizadas da dominação capitalista. Para este autor, trata-se de subsumir ainda mais profundamente o
trabalho ao capital e assim fundar as bases das formas atualizadas da dominação capitalista. O eixo da
reestruturação capitalista é a volta da liberdade do mercado cortando as amarras impostas pelo pacto
social-democrata e pelo Estado intervencionista. Ou seja, é uma intervenção da luta de classes contra
as classes trabalhadoras. O retorno do laissez faire em tempos de globalização permite que o fluxo de
capitais se mobilize instantaneamente entre os mercados mundiais favorecendo os monopólios
financeiros que controlam a economia mundial. Isso se processa pela destruição dos direitos sociais e
trabalhistas, eufemisticamente chamados de flexibilização, de terceirização.
Para Chesnais (1996 e 1999) a pretensão do capital financeiro de dominar o movimento do
capital em sua totalidade não apaga a existência dos Estados Nacionais sobre os quais recai a tarefa de

1
Professora Adjunta da Faculdade de Serviço Social da UFAL. Texto integra tese de doutorado O Conselho
Nacional de Saúde e os Rumos da Política de Saúde Brasileira: mecanismo de controle social frente às
condicionalidades dos organismos financeiros internacionais. Recife, 2005, 342f. Tese (Doutorado em Serviço
Social) – Pós-Graduação em Serviço Social na Universidade Federal de Pernambuco, 2005. Atualizada em 2008.
2
Ressalta-se, que o keynesianismo foi a política econômica do período pós-guerra para as tarefas de reconstrução do
capitalismo.
3
Vale ressaltar que o welfare não foi apenas uma estratégia da burguesia que permitiu a superação da maior
crise do capitalismo e fortaleceu seu domínio de classe, também representou uma conquista das classes
subalternas (Cf. BORÓN, 2003).
defesa da propriedade privada. Entretanto, esse processo acentua os fatores de hierarquização entre os
países e redesenham sua configuração, aumentando o abismo entre os que participam na dominação
econômica e política do capital financeiro e os que sofrem essa dominação (Cf. idem, ibidem).
No atual estágio do capitalismo na tentativa de superar sua crise via reestruturação produtiva
baseada em um padrão de acumulação flexível e via desregulação social com a readoção do
liberalismo econômico e político, a burguesia tem conseguido assegurar seu domínio econômico e
político mundialmente manipulando muitas das decisões dos Estados nacionais4. Os grupos detentores
do capital comandam de forma incontrastada os rumos das nações. Este processo tem ameaçado as
democracias constituídas.
Isso não quer dizer que o Estado nacional5 tende a desaparecer, pois como afirma Liguori
(2000), "o Estado e os Estados continuam a ter um papel de primeiro plano na atual economia
internacional em razão do quadro de regras indispensáveis que fornecem. Aliás, o desencadeamento de
uma concorrência mais selvagem e sem fronteiras talvez requeira uma intervenção maior do Estado e
dos Estados, pelo menos no plano das regras”.6
A classe dominante exige para superar a crise contemporânea do capital a anulação dos
mecanismos reguladores que contenham elementos democráticos de controle sobre o movimento do
capital. O objetivo é o desvencilhamento de qualquer amarra que impeça a recuperação da margem de
lucro no processo de acumulação do capital. Como afirma Netto (1993, p. 81):

O que desejam e pretendem não é 'reduzir a intervenção do Estado' mas encontrar as


condições ótimas (hoje só possíveis com o estreitamento das instituições
democráticas) para direcioná-la segundo seus particulares interesses de classe [...] a
proposta do 'Estado mínimo' pode viabilizar o que foi bloqueado pelo
desenvolvimento da democracia política – o Estado máximo para o capital (grifos do
autor).

Nas palavras de Dias (1999, p. 121) "trata-se do ideologicamente Estado Mínimo, que é na
prática o 'Mercado Máximo." A condenação retórica do Estado tem a função de ocultar a sua

4
Concordamos com Liguori (2000) quando coloca que hoje não estamos diante do cancelamento da problemática da
nacionalidade, mas de sua redefinição em termos multiétnicos e multiculturais.
5
Bob Jessop (1998) em seu trabalho A globalização e o Estado nacional, faz uma análise do pensamento de Poulantzas
sobre as funções do Estado nacional no processo de internacionalização do capital, para o qual o Estado nacional é
insubstituível. Bob Jessop (p. 43) afirma que “a função genérica de manter a coesão social ainda é desempenhada no nível
do Estado nacional, no quadro deste conjunto reestruturado e reorientado.”
6
Neste sentido, Liguori (2000) citando Hirst e Thompson afirma que “mercados e empresas não podem existir sem um
poder público que os proteja”.
minimização "em relação às classes trabalhadoras e a sua maximização na sua articulação com a
burguesia" (idem, ibidem).
O Estado tem se colocado cada vez mais a serviço dos interesses do capital. Sader (1999,
p.126) vai chamar esse tipo de Estado de Estado mini-max , ou seja, máximo para o capital - através de
subsídios, créditos, perdão de dívidas, investimentos e obras de infraestrutura dirigidos a apoiar a
acumulação privada, e políticas econômicas e financeiras com conotação de classe evidente -, e
mínimo para o trabalho, através do corte de gastos sociais, da precarização das políticas públicas, do
congelamento dos salários do funcionalismo público, entre outras medidas.
A valorização da sociedade civil7 se insere como desdobramento do processo de reestruturação
capitalista e do seu corolário, o neoliberalismo, que necessita modificar a forma de responder às
refrações da “questão social”, desresponsabilizando o Estado e repassando esta tarefa para a sociedade
civil através das “parcerias”, da disseminação de princípios de “auto ajuda” ou “ajuda mútua”, do
voluntariado, do solidarismo e da filantropia.
Nessa direção, Montaño (2001, p. 22)8 afirma que “a desresponsabilização estatal das respostas
às seqüelas da ‘questão social’ é (supostamente) compensada pela ampliação de sistemas privados:
mercantis (empresariais, lucrativos) e filantrópico-voluntários (do chamado ‘terceiro setor’)”.
A centralidade na sociedade civil9 foi o norte do neoliberalismo dos anos 80, no sentido de
menos Estado, implicando em que a sociedade faça mais, e no sentido da crítica do político,
valorizando a ação das formas privadas da sociedade civil através de seus representantes10. O discurso
sobre o fortalecimento da sociedade civil tem sido apontado, tanto por conservadores e progressistas,
como fator fundamental na nova ordem mundial articulada pelo processo de globalização11. Nesse
sentido, a recorrência à sociedade civil aparece como estratégia de desmonte das organizações
coletivas. Essa passa a ser responsável pelo “encaminhamento de projetos que dêem conta dos
7
Mais sociedade civil e menos Estado, também é defendido por Tocqueville, em nome do “livre associativismo”, e por
Rosanvallon em nome das “organizações da sociedade civil” (Cf. MONTAÑO, 2001).
8
Montaño (2001, p. 15-17) analisando o debate dominante sobre o “terceiro setor”, considera-o “funcional ao processo de
reformulação do padrão de resposta às seqüelas da ‘questão social’, propiciado no interior da estratégia neoliberal de
reestruturação do capital [...] particularmente no que refere ao afastamento do Estado das suas responsabilidades”. Para
ele, “chega-se ao chamado ‘terceiro setor’ como um debate ideológico, ora produzido no interior dos interesses do grande
capital (seguindo os postulados neoliberais), ora surgido numa fração da esquerda resignada mas de (eventual) ‘intenção
progressista’, porém inteiramente funcional ao projeto neoliberal”.
9
Liguori (2000) coloca que após o colapso dos socialismos reais e dos limites manifestados pelo Welfare, o mito da
globalização vem acompanhado com o triunfo do neoliberalismo proclamando o fim do Estado-nação em favor da
transnacionalização, desconsiderando as armas da política e dando centralidade à sociedade civil. Trata-se na prática do
deslocamento de ações governamentais para formas privadas como as ONGs, o Terceiro Setor etc.
10
Ver em Liguori (2000).
11
Cf. Simionatto (s.d.).
complicadores das novas expressões da ‘questão social” (SIMIONATTO, s.d., p. 2). Tomada em
sentido transclassista, essa é deslocada da esfera estatal e atravessada pela racionalidade da esfera do
mercado, sendo em última instância expressão de instituições privadas que controlam o Estado12
Nesse processo, ocorre uma diminuição da intervenção estatal na área social, simultânea ao
repasse da gestão de bens e serviços públicos para a rede privada, tais como saúde e previdência,
mediante a transferência de recursos públicos.
Observa-se a crescente tendência da utilização do fundo público para o financiamento da
acumulação de capital em detrimento do financiamento da reprodução do trabalho. O que está em
curso é o repasse dos custos de reprodução do capital para o conjunto da sociedade e para o próprio
trabalhador, transformando-o em cidadão-consumidor.
A classe dominante tem tido o domínio - mesmo não sendo exclusivo - sobre os aparelhos
privados de hegemonia e tem investido no processo de despolitização da sociedade civil, através de
estratégias para enfraquecer, fragilizar, dividir e cooptar os movimentos populares e sindicais. Entre
estas se destacam os apelos ao voluntariado, à “refilantropização” da assistência, a manipulação dos
Conselhos gestores das políticas públicas e o repasse de serviços ao “terceiro setor”. O Estado vem
transferindo para a sociedade suas responsabilidades.
Do lado dos trabalhadores, assiste-se um refluxo de suas lutas frente ao crescimento das taxas
de desemprego, às contenções de salários, às demissões em massa, à fragmentação do trabalho coletivo
em empregados do grande capital e excluídos do trabalho formal. Com a chamada terceira revolução
industrial nos anos 70 - elevados avanços tecnológicos incorporando a automação no processo
produtivo eliminando força de trabalho -, o desemprego deixa de ser conjuntural, decorrente de uma
fase de depressão, e passa a ser estrutural como mecanismo necessário a qualquer economia de
mercado eficiente.
O processo de mudança do padrão de acumulação capitalista do binômio taylorismo e fordismo
(que vem sendo alterado, mesclado e até mesmo substituído)13 pela acumulação flexível tendo como
exemplos o modelo japonês ou toyotismo14 tem aprofundado a subsunção real do trabalho ao capital

12
Ver em Simionatto (s.d.).
13
Ver em Antunes (2000, p. 229).
14
O toyotismo ou ohnismo (referência a Ohno, engenheiro que o criou na fábrica Toyota), é uma modalidade de
organização do trabalho que tem origem na Toyota, no pós-45, assumindo intensa propagação no Japão como alternativa
colocada por Ohno para resolver o problema da eficácia em tempos de crescimento lento.
com a adoção de técnicas de gestão do capital15 como o just-in-time, kanban, o gerenciamento by stress
(por tensão) ou andon, Quality Network System, entre outras. A tarefa é produzir um trabalhador
subordinado ao capital incorporando-o passivamente à ordem. Objetiva-se “destruir não apenas o
trabalhador coletivo, mas seus coletivos” e “produzir um operário parcelar, descontínuo [...] Para criar
as condições desta nova face da dominação capitalista é preciso liquidar as antigas identidades de
classe e as vigentes relações de trabalho” (DIAS, 1998). De acordo com Dias (1998, p. 51), a maioria
do movimento social em escala planetária carente de referências classistas, “tende, cada vez mais, a
integrar-se à ordem, permanece prisioneiro de concepções econômico-corporativas, reduzindo suas
intervenções nas lutas sociais, privilegiando o campo corporativo, para tentar articular uma defesa no
plano do emprego, de melhores salários etc.”
Para Anderson (2000, p.17), com raras exceções, a classe trabalhadora tem permanecido
passiva nos últimos 20 anos, não só como mera decorrência das transformações econômicas ou
mudanças ideológicas ocorridas, mas como resultado de lutas de classe travadas, tanto na Inglaterra
como nos Estados Unidos, para dominá- la e subjugá- la.
Na Europa os trabalhadores se mantêm na defensiva, talvez por esse motivo o arranjo
institucional que deu suporte ao Welfare State destes países, apesar de ameaçado, não tenha sido
desmontado com a onda neoliberal. Para Vianna (1997, p.166), a força do Estado de bem-estar se
localiza nas instituições democráticas por ele criadas e o seu desmonte precisa do consentimento difícil
de numerosos atores16.
Anderson (2000, p.17) coloca que o capital, através da asfixia do debate público e da diferença
política, tem conseguido lidar com serenidade com os novos desafios colocados pela aspiração
democrática que vem de baixo. Neste sentido, observa que até agora, os movimentos ecológicos e
feministas se mostraram compatíveis com as rotinas de acumulação, porém, considera seus ganhos
reais e bem vindos como "os mais importantes elementos do progresso humano nessas sociedades nos
últimos trinta anos" (ibidem). Este autor, afirma que "o único ponto de partida para uma esquerda
realista nos dias de hoje é um registro lúcido de sua derrota histórica. O capital rechaçou quase

15
Segundo Gounet (1999) a empresa só produz o que é vendido e o consumo condiciona toda a organização da produção.

16
Vianna (1998, p.12-13) observa que existem opções não mercantis e também não estatizantes que mobilizam
organizações comunitárias, movimentos sociais e partidos de esquerda em países tão diversos como Suécia e Itália. É
toda uma práxis da cidadania solidária – trabalho voluntário, uso social de lazer (potencializado pela tecnologia
produtiva), cooperativismo – juntamente com formas empresariais de proteção, que insinuam a construção de um
Welfare Society complementar ao Welfare State.
inteiramente todas as ameaças a seu império [...] Nenhum ator coletivo capaz de medir forças com o
poder do capital está ainda no horizonte" (ibidem). Reconhecer as dificuldades é um passo para superá-
las e não para paralisar-se diante delas. Para Dias (1998, p. 52), a resistência dos trabalhadores supõe
hoje a compreensão dos limites, mas e acima de tudo “a necessidade de superar as determinações
econômico-corporativas que o capital lança sobre eles. Para tanto é estratégico impedir que a ideologia
transforme o trabalhador em um militante da ordem do capital“.
É diante desta realidade que os mecanismos de democracia burguesa precisam ser ampliados e
radicalizados no sentido da construção da hegemonia das classes subalternas.
Concordamos com Dias (1999, p.75-76) quando afirma que

a legalidade, apesar do ocultamento do seu caráter classista pode e deve, na sua


contraditoriedade, ser um espaço de luta, no qual se constroem, ou podem ser construídas as
identidades de classe, os projetos de hegemonia. A democracia, mesmo a mais limitada,
interessa mais aos trabalhadores do que a ditadura mais esclarecida do capital.

Perante a conjuntura de crise do capital em que a classe dominante, para o seu enfrentamento,
tem buscado o “consentimento ativo” das classes subalternas através da propagação da “cultura
política da crise” 17, se faz necessário resgatar o conceito original de sociedade civil em Gramsci, para
subsidiar o debate e as práticas sociais e políticas em torno do controle social. Principalmente, no
Brasil, após a institucionalização de mecanismos de controle social sobre as políticas públicas e sobre
os recursos a elas destinados, para que esses não se tornem mecanismos de formação de
“consentimento ativo” das classes subalternas em torno da conservação das relações vigentes de
domínio da classe dominante. O controle social das classes subalternas sobre as ações do Estado e
sobre o destino dos recursos públicos, torna-se um desafio importante na realidade brasileira para que
se criem resistências à redução das políticas sociais, à sua privatização e mercantilização.

REFORMAS E CONTRA-REFORMAS: O DESMONTE DAS POLÍTICAS SOCIAIS


BRASILEIRAS

17
Ver MOTA (1995).
Utilizamos a expressão “contra-reforma”18 a partir da perspectiva de Borón (1999, p.11)
quando analisa que a vitória do neoliberalismo no campo da cultura e da ideologia, não só impôs
o seu programa, mas, também mudou em proveito próprio o sentido do vocábulo "reforma"

Que antes da era neoliberal tinha uma conotação positiva e progressista – e que,
fiel a uma concepção iluminista, remetia a transformações sociais e econômicas
orientadas para uma sociedade mais igualitária, democrática e humana – foi
apropriado e “reconvertido” pelos ideólogos do neoliberalismo num significante
que alude a processos e transformações sociais de claro sinal involutivo e
antidemocrático (BORÓN, 1999, p.11, grifo do autor).

Assim, pode-se afirmar que "as 'reformas econômicas' postas em prática nos anos recentes
na América Latina são, na realidade, 'contra reformas' orientadas para aumentar a desigualdade
econômica e social e para esvaziar de todo conteúdo as instituições democráticas” (ibidem).
Em 1988, foi inaugurado tardiamente no Brasil pela Constituição Federal um sistema de
seguridade universal, mas na prática se efetivou um sistema seletivo, focalizado, com
características assistencialistas e tendências privatizantes e mercantis.
Por trás deste aparente paradoxo inscrevem-se as propostas de reforma do Estado que
expressam interesses das classes dominantes na sociedade. De um lado, apresentam-se as
propostas de reforma no sentido progressista do bloco das classes subalternizadas, as quais foram
absorvidas, na sua maioria, inicialmente, na Constituição de 88, graças às grandes mobilizações e
alianças que a precederam, e, posteriormente, em algumas Leis Orgânicas que regulamentam as
políticas sociais, também como resultado de embates políticos. Estas propostas, de forma geral,
pretendem obter maior regulação estatal, ampliar os espaços democráticos de participação social,
alargar a esfera pública, descentralizar poder e recursos aproximando-os da sociedade,
universalizar direitos, imprimir maior qualidade aos serviços públicos, alocar o fundo público
para o financiamento da reprodução da força de trabalho aplicando-o em bens e serviços
coletivos que não buscam o lucro, entre outras.
Do outro lado, apresentam-se as propostas de reforma do Estado do bloco da classe
dominante, que são na realidade contra-reformas, no sentido da desregulação estatal,
acompanhadas de uma política de privatização das estatais e dos serviços públicos, estímulo à

18
Behring (2003) utiliza este termo para tratar do processo de "desestruturação do Estado e perda de direitos” no
Brasil a partir da década passada.
flexibilização da produção e do trabalho, encolhimento dos espaços públicos, precarização dos
serviços públicos, maior alocação do fundo público na reprodução da acumulação do capital,
(des)universalização de direitos, descentralização de competências sem o respectivo respaldo
financeiro aos estados e municípios e, enfim, desregulação da economia deixando ao livre jogo
do mercado a “promoção do equilíbrio econômico e social”. São estas propostas que vêm se
efetivando na prática legitimadas pela propagada ‘necessidade da internacionalização da
economia’ que está em consonância com o receituário neoliberal proposto pelos agentes
financeiros internacionais, sob pena de não fornecer novos empréstimos.
Assim, vê-se ameaçado o aparato legal que parecia ter-se conseguido assegurar na
Constituição e nas Leis Orgânicas posteriores. A onda de desmonte deu-se através de Medidas
Provisórias, Leis Complementares, Propostas de Emendas Constitucionais e Projetos de Reforma
da Constituição aprovados no Congresso.
Esta reforma que tem acontecido na contra-mão do assegurado legalmente tem deformado
as políticas sociais garantidas, rebaixando-as a programas focais, assistenciais e seletivos,
dirigidos aos grupos de maior pobreza, esvaziando seu caráter universal. Ao tempo que se tem
aberto ao mercado para o fornecimento de serviços coletivos acessíveis de acordo com o poder de
compra de cada indivíduo, esvaziando o caráter público destes. O mecanismo de restrição do
acesso da população aos serviços sociais públicos via focalização, torna-se bastante ineficaz nos
países latino-americanos em que os pobres constituem a maioria da demanda por estes serviços.
O resultado, segundo Soares (2000a, p.79), tem sido a exclusão dos próprios pobres, ao evitar a
inclusão dos não pobres.
A contra-reforma das classes dominantes tem buscado destruir, na realidade, o
conquistado legalmente, haja vista os retrocessos das políticas sociais.
Observa-se que estes componentes da reforma estão associados aos programas de ajustes
macroeconômicos propugnados pelos agentes financeiros internacionais que buscam o equilíbrio
fiscal do setor público pela estabilização da moeda, privatização de estatais, diminuição dos
gastos previdenciários, redução de políticas sociais retirando seu caráter universalista e abertura
ao mercado do acesso aos serviços coletivos.

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