O objetivo desta discussão é apresentar o monismo tardiano, que critica
o antropocentrismo contido nas correntes idealistas e, apresentar o conceito de
“mônadas”, criado por Leibniz e reformulado por Tarde. Junto a isso, discorrer sobre a diferença da noção de ser e movimento (devir a ser) em Tarde e Aristóteles.
Gabriel Tarde se opõe ao dualismo “matéria/espírito” e adota o monismo
espiritualista como o princípio fundamental da realidade, sendo as mônadas os elementos que constituem esta realidade. As mônadas são diferentes entre si, ou seja, há uma descontinuidade dos elementos, mas há uma aparente homogeneidade do ser quando as mônadas se juntam.
Com efeito, ela implica, em primeiro lugar, a redução a uma só destas
duas entidades, a matéria e a espírito, confundidas na segunda, e ao mesmo tempo a multiplicação prodigiosa dos agentes integralmente espirituais do mundo. Em outras palavras, ela supõe a descontinuidade dos elementos e a homogeneidade de seu ser. (TARDE, 2007, p.53)
Ao contrário de Durkheim, Tarde considera o organismo como sociedade,
ou seja, cada mônada é constituída por uma sociedade de mônadas, que, por sua vez, estas mônadas também são constituídas por sociedade de mônadas ad infinitum.
Esta infinita diferenciação das mônadas supõe um movimento imanente,
que é do desejo de formar sociedades, mas esta homogeneidade é momentânea, logo há um processo de diferenciação. Tarde atribuí um princípio ontológico à crença e ao desejo, que são forças da alma que devem ser objetiváveis no mais alto grau e derivam em afirmação e vontade.
“É nesse sentido que o monismo preconizado por Tarde é vitalista e se
define pela atribuição de um estatuto ontológico à crença e ao desejo, os quais ele concebe como potências imanentes às mônadas [...].” (VARGAS, 2003, p.174)
A concepção de potência e ato de Tarde é diferente do conhecido estudo
das causas de Aristóteles. A concepção de Tarde, além de idealista, não reconhece sentido no “ser”, mas no “ter”, pois “nada é. Tudo está.” Não importa a essência das mônadas, mas as relações entre elas. A única coisa em-si é a diferença, que é a substância das coisas. Crença e desejo são infinitas potências imanentes às mônadas, que devem se objetivar, mas, diferente de Aristóteles, nem todas potências se objetivam. As potências que se objetivam, ou seja, se movimentam para formar sociedades, mudam não apenas as suas características, mas seu ser.
Aristóteles, para resolver o problema do movimento entre Heráclito, que
defendia o devir (mobilidade constante do ser), e Parmênides, que defendia o ser (imutabilidade do ser), sintetiza o ser e o devir, propondo o ser enquanto potência e o ser enquanto ato.
Aristóteles propõe que se faça uma distinção quanto ao ser.
Este não é apenas o que já existe em ato, mas também é o que pode vir a ser em ato, ou seja, o que existe em potência. Assim, sem contrariar qualquer princípio lógico, ele estabelece que uma substância, em um dado momento, apresenta certas características e, em outro momento, apresenta características diferentes. (SANTOS, 2013, p.113)
Para Aristóteles, ao contrário de Tarde, o ser existe, e a potência do ser,
ao efetuar-se em ato, não muda a essência do ser, mas apenas suas características. Já em Tarde, o movimento interno das mônadas muda seu ser, já que o ser está em constante mudança ele é um não-ser, ou seja, para Tarde, não existe ser-em-si, a única essência que existe é a diferença.
Referências:
Gabriel TARDE. Monadologia e sociologia - e outros ensaios. Tradução de
Paulo Neves. Organização e Introdução de Eduardo Viana Vargas. São Paulo, Cosac & Naify, 2007.
Santos, M. E. B. C. A relação entre ato e potência na metafísica de Aristóteles.
Revista Húmus, [S.I], v. 3, n. 7, p. 111-121, 2013. Vargas, Eduardo Viana. Multiplicando os agentes do mundo: Gabriel Tarde e a sociologia infinitesimal. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS, São Paulo, v. 19, n. 55, p. 172-176, jun. 2004.