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Abstract: Neste trabalho avalia-se através de simulação desvantagem, a baixa sensibilidade para detectar mudanças
computacional, a influência do processo de medição na no processo, é compensada pela grande simplicidade
sensibilidade da carta de controle. Estudou-se o efeito de operacional, o qual a converte numa das cartas mais
contribuições de diferente natureza à incerteza de medição apropriadas para a implantação do controle estatístico de
(i.e. aleatória, sistemática constante, sistemática linear e processos em ambientes pouco favoráveis.
resolução), definindo aquelas com influência mais
A sensibilidade da carta de controle para detectar mudanças
significativa. A partir desses resultados, esboçou-se um
no processo é influenciada pela presença de erros de
critério para avaliar a capacidade de processos de medição a
medição nos dados. Diversos trabalhos tem sido publicados
serem usados em aplicações de CEP, discutindo-os, por
nessa área, analisando o problema desde um ponto de vista
comparação com outros critérios de capacidade existentes.
probabilístico [2, 3, 4]. Esses estudos não consideram a
Palavras chave: Controle estatístico de processos, Incerteza variabilidade amostral dos limites de controle, devida à
de medição, ARL. limitada informação disponível na corrida inicial, utilizam
somente a regra de decisão do ponto fora dos limites de
controle e assumem erros de medição normalmente
1. INTRODUÇÃO distribuídos, com parâmetros constantes ao longo da faixa.
O ideal da qualidade classe mundial é alcançado somente Esses estudos, embora sejam pouco realistas, mostram que o
com processos de produção que operam “... no alvo, com erro de medição reduz significativamente a sensibilidade da
variância mínima”. Para que um processo opere nessa carta de controle às mudanças no processo.
condição, é necessário: Neste trabalho avalia-se a influência do processo de medição
! Eliminar os modos de operação inconsistente; na sensibilidade da carta de controle. O uso da simulação
! Identificar e eliminar as causas especiais de variação; computacional permitiu gerar valores possíveis dos erros
! Reduzir as variações por causas estruturais e comuns. para cada valor do mensurando, a partir do conceito de
incerteza de medição. Considerou-se que o erro está
A forma idônea de realizar essas ações de melhoria é composto por uma componente randômica, i.e. o erro de
aplicando controle estatístico de processos (CEP). O CEP repetitividade, uma componente sistemática constante e uma
utiliza gráficos da série de tempo dos estatísticos de posição componente sistemática que depende linearmente do valor
e dispersão do processo para detectar, em tempo real, do mensurando. O efeito da resolução com que se registram
mudanças da média ou do desvio-padrão. Assim, o rol do os dados foi simulado usando uma função arredondamento,
CEP é detectar sinais em presença de ruído: o ruído devido à adequada para instrumentos com leitura digital.
variação por causa comum. Para que isso seja possível, a
carta de controle apresenta limites de controle, localizados a Os resultados mostram que diferentes contribuições à
uma distância de três desvios-padrão a cada lado da linha incerteza influenciam em forma diferenciada à sensibilidade
média. da carta de indivíduos. Destacam-se como especialmente
prejudiciais os efeitos do erro de repetitividade e da
Existem diversos tipos de cartas de controle, dependendo resolução com que se registram os dados. Incertezas
dos estatísticos usados e da forma em que eles são associadas às contribuições sistemáticas de valor constante
processados e interpretados para identificar sinais de na faixa, não influenciam sobre a sensibilidade, mas podem
mudança. Entre estas, a mais simples é a carta de valores fazer com que o processo opere fora do alvo.
individuais, que substitui às tradicionais cartas de Shewhart Surpreendentemente, para processos que operam centrados
quando é técnica ou economicamente inviável formar no alvo, erros linearmente dependentes do valor do
subgrupos (e.g. destruição do produto na avaliação, mensurando possuem pouca influência na sensibilidade da
produção em pequenos lotes, etc.). Sua principal carta.
Esboça-se um critério para avaliar a capacidade de processos A sensibilidade da carta de indivíduos às mudanças no
de medição a serem usados em aplicações de CEP, processo pode ser quantificada por meio da probabilidade
discutindo-o através de comparações com outros critérios de de intervenção no processo ou por meio do comprimento
capacidade existentes. médio de corrida (ou ARL: Average Run Length), que é o
número médio de unidades ou amostras que passam entre
que se produza uma mudança no processo e a carta a
2. A CARTA DE VALORES INDIVIDUALES detecte.
O objetivo principal da CVI é detectar mudanças na média
O ARL diminui com o aumento de magnitude da mudança,
do processo. Para que isso seja possível, os valores medidos tornando-se essencialmente igual a 1, para mudanças da
em unidades ou amostras obtidas seqüencialmente são média maiores a três desvios-padrão do processo. Para
graficados numa carta, junto aos denominados de limites de
processos sem mudança, i.e. estáveis, o ARL é igual ao
controle, que estabelecem um intervalo provável para a
inverso da probabilidade de alarme falso. A característica
variação puramente amostral. Os limites de controle são
funcional do ARL pode ser alterada usando distintos
calculados a partir do desvio-padrão do próprio processo.
conjuntos de regras de detecção. A regra mais simples e
Walter Shewhart instituiu a utilização de limites 3σ, os quais difundida é a tradicional regra de Shewhart: “o processo está
apresentam um bom balance entre a quantidade de alarmes fora de controle quando um ponto aparece fora dos limites
falsos e a perda de sinais de mudança no processo [5].
de controle 3σ”. Quando se usa somente essa regra, a
No mundo real, o desvio-padrão do processo é probabilidade de se produzir um alarme falso é, para
desconhecido, mas pode ser estimado a partir de um certo processos normalmente distribuídos, aproximadamente
número de valores medidos, sempre que estes sejam obtidos 0.27%. A sensibilidade às mudanças no processo pode ser
durante um intervalo no qual o processo apresenta melhorada usando o conjunto de regras conhecido como “da
estabilidade. Geralmente se recomenda coletar um mínimo Western Electric”, que agrega à regra do ponto fora, outras
100 valores individuais, para estimar os limites de controle três regras de corrida (figura 1).
[6]. No caso específico da carta de indivíduos, usa-se a
amplitude móvel de duas medições sucessivas como Regra 1
estimador do desvio-padrão dentro do subgrupo: LSC
Regra 3
1 n
∑
100
y= ⋅ y (4)
n i =1 i
0
Assim:
0 1 2 3
_
LSC y = y + 3 ⋅ σ
ˆy
Figura 2: Comportamentos teóricos do ARL para limites 3-sigma,
(5) quando se usa a regra 1 (ARLS) e quando se usam as quatro regras
_
LIC y = y − 3 ⋅ σ
ˆy da “Western Electric” (ARLW).
Dadas as diferenças existentes entre as aplicações reais de Distribuição. do
CEP e as condições sob as quais se calcula o ARL, este não
mensurando
deveria ser interpretado como um indicador absoluto da
sensibilidade da carta de controle para detectar mudanças no
processo [7]. No entanto, isso não invalida seu uso, na
comparação da sensibilidade de diferentes tipos de cartas, ou Distrib.
da sensibilidade da mesma carta quando usada sob do erro
diferentes condições. É nesse sentido que ele é utilizado aleatório Erro sistemático
neste trabalho. constante
( )
• Processo de fabricação x ~ N µ p ; σ 0 . Os valores de
Figura 3: Composição do erro de medição para sistemas
dedicados.
µ p e σ 0 caracterizam a distribuição de valores do
A esses erros sistemáticos, agrega-se um erro aleatório puro
mensurando. O valor de µ p varia ao longo da ou de repetitividade, normalmente distribuído:
N (µ 0 ; σ 0 ) durante a
simulação, mantendo o processo
(
E rep ~ N 0; σ rep ) (7)
corrida inicial e mudando para N (µ1 ; σ 0 ) depois da
O valor medido é construído somando o valor do
perturbação da média.
mensurando aos erros de repetitividade, sistemático
• A perturbação da média do processo ∆ = µ1 − µ 0 se constante e sistemático linear, e arredondando para simular
o efeito da resolução. A equação a seguir mostra essa
produz após definidos os limites de controle.
operação, para um evento de resultado da medição:
O problema foi adimensionalizado, definindo µ 0 = 0 e
x + erep + econst + elin (x ) 1
σ 0 = 1 . Então, o tamanho da perturbação relativa da média, y (x ) = R ⋅ Int + (8)
R 2
torna-se δ = (µ1 − µ 0 ) σ 0 .
Onde Int() a função que devolve o inteiro do argumento
A construção e a interpretação da carta de indivíduos foram entre parênteses.
realizadas usando os valores medidos, obtidos a partir dos
valores do mensurando por contaminação com erro de Em metrologia, erros sistemáticos conhecidos são
medição. Assim: corrigidos. Por isso neste trabalho, tornou-se necessário
tratar os erros sistemáticos como residuais (i.e.
• Os limites de controle foram estimados usando a média desconhecidos em valor médio e taxa de variação com o
das amplitudes móveis correspondentes às medições dos valor do mensurando). Esses erros são considerados
100 indivíduos da corrida inicial. geralmente, como contribuições à incerteza de medição. O
• Calcularam-se o RLS (RLW) contando o número de mesmo acontece com o erro de repetitividade, que não pode
valores individuais desde que se produz a perturbação até ser conhecido para cada valor medido.
que a carta, interpretada com a regra 1 (regras da Este trabalho pretende estudar o efeito da incerteza na
Western Electric), fornece o primeiro sinal de fora de sensibilidade da carta de controle. Para isso, o algoritmo
controle. simula o efeito de todos os possíveis erros que são
O modelo de erro de medição usado nesta pesquisa foi consistentes com uma declaração de incerteza determinada
construído para representar o comportamento metrológico (figura 4). Essa simulação é obtida pela mudança do padrão
de sistemas de medição dedicados (figura 3). de erros em cada iteração do laço interno da figura 4,
identificado com “i=1...n”. Essa mudança inclui:
Baseia-se em assumir que no intervalo de variação dos
valores do mensurando, as componentes sistemáticas • A mudança do valor do erro sistemático constante,
residuais de erro podem ser representadas pela soma de um gerando-o aleatoriamente a partir de uma p.d.f. uniforme
erro sistemático constante mais um erro sistemático no intervalo [− Econst ; Econst ] ;
linearmente dependente do valor do mensurando, definido
como zero no alvo de fabricação: • A mudança da pendente C da reta que representa os erros
linearmente dependentes do valor do mensurando, gerada
elin (x ) = C ⋅ (Alvo − x ) (6) aleatoriamente para estar incluída num intervalo
• Estimação dos ε= γ= λ= ρ=
limites de controle σ0 σ0 σ0 σ0
A 0 0 0 0
Perturbação B 0,5 0 0 0
i=1...n da média δ δ=0...3
C 1 0 0 0
D 0 0,87 0 0
Determinação de E 0 1,73 0 0
RLS e RLW
F 0 0 0,87 0
G 0 0 1,73 0
Estimar
ARLS - ARLW H 0 0 0 0,1
I 0 0 0 1
k=1...m
Mudar δ Nas figuras 5 e 6 podem-se observar os resultados da
simulação para processos estáveis. A figura 5 fornece os
4 00
3 00
A R LS
A R LW
valores médios de ARLS com seu intervalo de confiança
2 00 95%, quando a carta é interpretada usando somente a regra 1
1 00
0
ou de Shewhart. A figura 6 traz os valores de ARLW,
0 1 2 3
da incerteza 900
800
A RL S 700
600
δδ εε 500
400
300
A B C D E F G H I
Fim
95 16
90
85 14
80
75 12
70
10
65
60
8
55
A B C D E F G H I
50
A B C D E F G H I
Figura 8: Efeito de diferentes contribuições à incerteza no ARLW,
quando δ=1.
Figura 6: Efeito de diferentes contribuições à incerteza no ARLW,
quando δ=0 (processo estável).
Como nos casos com δ = 0, efeito da resolução não é fácil
de explicar. Cabe destacar aqui, que cartas operadas com
Na figura 6, pode-se observar que o uso das regras de uma resolução igual ao desvio-padrão dos valores do
detecção 2, 3 e 4 torna a carta mais robusta, com referência à mensurando perdem capacidade de detecção,
variação amostral dos limites de controle. Novamente, o independentemente das regras usadas para interpretá-las.
caso I resulta num valor de ARLW significativamente
diferente dos outros. No entanto, nota-se que quando se Com base nestes resultados, foi estudada a variação de ARLS
usam as regras da Western o efeito da resolução é inverso e ARLW com o valor da mudança da média do processo, para
daquele observado na figura 5: agora, a probabilidade de distintos valores de desvio-padrão de erro de repetitividade.
alarme falso é aumentada. Isso pode ser devido ao acúmulo Estes estudos foram realizados para dados obtidos com
de valores iguais na carta, levando que as regras 2, 3 e 4 resolução zero e com resolução igual ao desvio-padrão do
produzam sinais de fora de controle, com maior freqüência. processo (ρ=0 e ρ=1). Isso resultou nos gráficos
tridimensionais das figuras 9 a 12.
Nas figuras 7 e 8 podem-se observar os resultados na
Na figura 9 pode-se observar que o valor de ARLS se
detecção de desvios da média iguais ao desvio-padrão do
mantém constante e arredor de 600 para processos estáveis.
processo. Entre os casos analisados, destacam-se aqueles
Isso resulta numa probabilidade de alarme falso de
com influência de contribuições aleatórias à incerteza (casos
aproximadamente 0,17%. Pode-se observar também que, as
B e C) e com influência da resolução (caso I). Em todos
maiores diferenças entre a performance sem erro e com erro
esses casos se observa um aumento de ARLS e ARLW, ou
se dão para perturbações de processo no intervalo 0,6 ≤ δ ≤
seja, uma deterioração na capacidade de detecção de
1,4. A influência do erro de repetitividade não é expressiva
mudanças no processo. Comparando os casos B e C, pode-
se concluir que quanto maior o desvio-padrão relativo do para detecção de mudanças δ > 1,4.
erro de repetitividade, maior valor de ARLS e ARLW. Isso O comportamento do ARLW e similar do ARLS (figura 10).
pode ser explicado, quando se considera que a carta, cujos Para processos estáveis, o ARLW se mantém arredor de 90,
limites de controle já estão contaminados pela presença do independente do desvio-padrão do erro de repetitividade. A
erro de medição nas 100 valores obtidos na corrida inicial, probabilidade de alarme falso é aproximadamente 1,1%, o
que implica em um alarme falso, a cada 100 valores obtidos
de um processo estável.
ARLS
ARLS
δ ε
ARLw
δ ε
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