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Identidade e sentido para a alma

brasileira
O arquétipo trickster pode ser definido como um
elemento que integra o inconsciente coletivo,
representado por personagens da mitologia, do
folclore, da literatura, da poesia, do teatro e do cinema
8 de agosto de 2017 Caroline Svitras 0 Comentário

Por Thiago Domingues* | Fotos retiradas da revista | Adaptação web Caroline Svitras

“O que nos reserva o futuro?” É com essa indagação que Carl Gustav Jung inaugura as
linhas de Presente e Futuro (Jung, O. C., Vol. X/I§488). O pensador de Zurique lembra
que, em momentos de profundas interrogações políticas e incertezas econômicas e
espirituais, como o atual, o ser humano volta seus olhos para o futuro. Como
Zaratustra, com seu “desejo de eternidade”, vive-se o impulso, resgatado pela poesia
de Rimbaud, de “atravessar o limiar de uma consciência ordinária, a fim de atingirmos
o tesouro cuja existência pressentimos no fundo” (Perrot, 1998, p. 22).
A importância de se trazer a contribuição do arquétipo do trickster para, a partir dele,
falar sobre subversão não violenta, mediação de opostos, identidade e sentido no âmbito
da cura da alma brasileira diz respeito ao diálogo que esse arquétipo propõe com todas
as estruturas narrativas, as formas de socialização e os modos de subjetivar que, mesmo
esgotados e reduzidos a estereótipos, ainda guardam, em sua essência, o gérmen do
novo e a possibilidade do recomeço.

O trickster é uma das “pessoas psicológicas” que compõem o inconsciente coletivo,


encarnado por personagens de inúmeras histórias da mitologia, do folclore, da literatura,
presente na poesia, no teatro, no cinema e nas produções da cultura criativa em geral. A
essas imagens pode-se chamar arquetípicas, posto que elas remetem às “representações
simbólicas da psique total, entidade maior e mais ampla que supre o ego da força que
lhe falta” (Henderson, 2008, p. 144). É importante salientar que, para Jung, toda
afirmação sobre o arquétipo deve ser feita a partir da riqueza polissêmica das metáforas
e dos símbolos, já que os arquétipos “pertencem à autocontradição interna e à
duplicidade das metáforas míticas […]; são incognoscíveis e conhecíveis através de
imagens” (Hillman, 2010, p. 304). Assim, o que se conhece do arquétipo é o seu
numen, isto é, a energia emanada do arquétipo que o atravessa e a consequente
modificação fruto de seu impacto sobre a consciência.

Nesse ponto depara-se


com uma importante sensibilidade poética e um giro epistemológico notável por parte
de Jung. É importante lembrar que o pensador suíço lida com as fantasias arquetípicas
do inconsciente coletivo já em seu cotidiano psiquiátrico no hospital de Burghölzli, na
Suíça, validando assim seu percurso teórico com pacientes esquizofrênicos e, desse
modo, evidenciando uma de suas maiores contribuições à chamada Psicologia
Analítica, qual sejam, o caráter e a concepção estética e criadora de imagens que
caracterizam a atividade da psique. A possibilidade de socialização dos pacientes
psiquiátricos, na visão de Jung, estava baseada em uma ética do cuidado que
favorecesse a comunicação e o acolhimento dessas fantasias e delírios, em relação com
a cultura e sociedade.

Ao desenvolver a noção de arquétipo, inspirada nessas possibilidades “poiéticas” e


mitológicas percebidas em seus pacientes de Burghölzli, Jung definiu o termo como um
substrato psicológico comum a toda humanidade, procurando assim confrontar e
ressignificar o já estabelecido literalismo e o consequente estigma da loucura que ele
ativa. Suas premissas teóricas estão fundamentadas na experiência empírica e inspiradas
em consistentes categorias filosóficas, mas ganham profundidade e potência quando
sentidas a partir da realidade poética, simbólica e metafórica da psique.

Além dessa concepção mitopoética, prospectiva e homeostática da psique, também é


importante frisar que, para a Psicologia Analítica, os arquétipos pertencem à esfera da
psique objetiva (inconsciente coletivo), enquanto os complexos são representações
mentais unidas por experiências afetivas de intensa carga emocional para o indivíduo,
fazendo parte da psique subjetiva, isto é, do inconsciente pessoal.

Rompimento
O trickster é retratado, nas histórias tradicionais, como um personagem capaz de
romper automatismos alienantes e de promover insights profundos que conduzem à
mudança significativa. Em muitas narrativas da mitologia universal, ele é representado
por personagens zoomórficos, tais como corvo, coiote, lebre ou hiena, isto é, animais
cujas qualidades não são a força ou a ferocidade ou violência, mas a mobilidade, a
astúcia e a leveza. No Brasil, ele aparece representado por personagens bem conhecidos,
como os folclóricos Saci Pererê e Pedro Malasartes. O trickster é essencialmente um
questionador, um outsider que, dotado de muita energia e dinamismo, sempre convida
os personagens mais convencionais à desnaturalização de suas condutas e à
sensibilização quanto a temas estabelecidos a priori. Mesmo a incoerência de um
momento histórico é explicitada por tricksters sumamente famosos, como o Carlitos, de
Charles Chaplin, o Macunaíma, de Mário de Andrade, e a dupla João Grilo e
Chicó, de Ariano Suassuna.

Sua função psicológica na narrativa também é a de conscientizar egos inflados e fixados


na pobreza do literalismo conceitual, a exemplo da personagem do conto dos Irmãos
Grimm, que se sente livre para afirmar, contra todo o senso comum, que “o rei está
nu”. As trapalhadas e confusões que emergem desse personagem marginal e
questionador são derivadas de seu caráter mediador e, por isso, seu movimento é filho
da revelação imaginativa e do erro propositivo, sendo, em última instância, de caráter
restaurador. Como linha de força desse arquétipo, movendo-se para além das
percepções racionais do ego heroico, pode-se dizer que seu maior compromisso seja o
de revelar o sentido real das coisas, para além das representações, oportunismos,
dualismos e estratégias de manipulação.

O alívio que esse personagem promove nas narrativas que descortinam contextos
emocionalmente engessados ou estéreis relaciona-se com sua habilidade de oferecer,
pela via do lúdico, do inusual e do cômico, uma resposta de transformação adequada,
porém, muitas vezes imprevista e brusca, embora raramente violenta, já que esse anti-
herói sombrio está intimamente ligado ao discurso desviante e anti-hegemônico, com o
flanar de asas que nos leva para longe de conexões esgotadas e das verdades
consagradas.
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Psique Ciência & Vida Ed. 136

Adaptado do texto “Identidade e sentido para a alma brasileira”

*Thiago Domingues é bacharel em Psicologia, poeta e cofundador do projeto de poesia


Comum A2 e pós-graduado em Filosofia Contemporânea e História (Umesp). Atende
em consultório particular em Santo André, onde também coordena grupos de estudos e
atividades sobre o pensamento de Carl Gustav Jung. Contato e informações pelo e-mail:
thiago.cdomingues@gmail.com

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