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O Deus Bendito que nos Escolheu (Ef 1.

1-14)

B. O EVANGELHO ANUNCIADO:

“O evangelho da vossa salvação” é para ser crido (Ef 1.13). Sem a Pa-
1
lavra, Jesus se constitui no caminho desconhecido para o Pai. A Palavra foi regis-
2
trada de modo especial para nos conduzir a Cristo (Jo 20.30-31/Jo 5.39;14.6).

Contudo, há várias mensagens sendo apresentadas como se procedessem das


Escrituras. Portanto, precisamos verificar escrituristicamente, o que de fato é o E-
vangelho. O fundamento e o conteúdo da boa nova transmitida pela Igreja encontra-
se na Palavra de Deus. O conhecimento que Deus deseja que tenhamos Dele está
revelado nas Escrituras. Portanto, o fundamento da proclamação cristã, o “Evange-
lho”, é a Palavra de Deus. Não podemos elaborar um evangelho ao nosso feitio e
gosto: ou o Evangelho procede de Deus ou não é Evangelho.

1) O Evangelho faz parte do propósito Eterno de Deus:

“Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno
para pregar aos que se assentam sobre a terra, e a cada nação, tribo, e língua e po-
vo, dizendo, em grande voz: Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do
seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas”
(Ap 14.6-7).

O Evangelho que anunciamos, não é uma “boa nova” porque simplesmente nos
“faz bem” ou “nos alegra”. A Sua excelência está no fato de ser proveniente de Deus
e, que por isso mesmo, tem o seu valor eterno. A mensagem do Evangelho perma-
nece, assim como toda a Palavra de Deus. Ele não é circunstancial. Pode ser, e cer-
tamente é fato, que aspectos do Evangelho adquiram um sentido especial para nós
em determinadas circunstâncias, quando, por exemplo, estamos aflitos, em dúvida,
grande expectativa, carecendo de consolo ou mesmo, com uma grande sensação de
alegria. Entretanto, nada disso muda a essência do Evangelho.

Nós pregamos o “Evangelho de Cristo” ou, em outras palavras, o “Evangelho e-


terno”, conforme nos foi dado conhecer por intermédio das Escrituras. O Evangelho
é eterno; a sua mensagem se tornou necessária  no que se refere ao seu aspecto

1
“Não há outro guia para a verdade, senão a Bíblia, na medida em que o Espírito nos ajuda
a entendê-la” (William Guthrie, As Raízes de Uma Fé Autêntica, São Paulo: Publicações Evangéli-
cas Selecionadas, 1994, p. 14).
2 30
“ Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste li-
31
vro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para
que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.30-31). “Examinais as Escrituras, porque julgais ter
nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim” (Jo 5.39). “Respondeu-lhe Jesus: Eu
sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6).
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salvador , devido ao pecado (Gn 3.15/Rm 5.12-21).

O Antigo Testamento apresenta o Evangelho como se consumando em Jesus


Cristo. Vejamos apenas alguns textos:

“O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o SENHOR me ungiu para
pregar boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de co-
ração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados” (Is
61.1).
“A Lei e os Profetas vigoraram até João; desde esse tempo, vem sendo anun-
ciado o evangelho do reino de Deus, e todo homem se esforça por entrar nele” (Lc
16.16).
26
“ Um anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Dispõe-te e vai para o lado do
Sul, no caminho que desce de Jerusalém a Gaza; este se acha deserto. Ele se le-
vantou e foi.
27
Eis que um etíope, eunuco, alto oficial de Candace, rainha dos etíopes, o
qual era superintendente de todo o seu tesouro, que viera adorar em Jerusalém,
28
estava de volta e, assentado no seu carro, vinha lendo o profeta Isaías.
29
Então, disse o Espírito a Filipe: Aproxima-te desse carro e acompanha-o.
30
Correndo Filipe, ouviu-o ler o profeta Isaías e perguntou: Compreendes o que
vens lendo?
31
Ele respondeu: Como poderei entender, se alguém não me explicar? E convi-
dou Filipe a subir e a sentar-se junto a ele.
32
Ora, a passagem da Escritura que estava lendo era esta: Foi levado como
ovelha ao matadouro; e, como um cordeiro mudo perante o seu tosquiador, assim
ele não abriu a boca.
33
Na sua humilhação, lhe negaram justiça; quem lhe poderá descrever a gera-
ção? Porque da terra a sua vida é tirada.
34
Então, o eunuco disse a Filipe: Peço-te que me expliques a quem se refere o
profeta. Fala de si mesmo ou de algum outro?
35
Então, Filipe explicou; e, começando por esta passagem da Escritura, anun-
ciou-lhe a Jesus” (At 8.26-35). (Ver também: At 13.26-34; 1Pe 1.10-12).

O Evangelho é Jesus Cristo, Aquele que foi morto antes dos tempos eternos para
salvar o Seu povo: “Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata
ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos le-
garam, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o
sangue de Cristo, conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém mani-
festado no fim dos tempos, por amor de vós que, por meio dele, tendes fé em Deus,
o qual o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu glória, de sorte que a vossa fé e es-
perança estejam em Deus” (1Pe 1.18-21).“Adorá-la-ão todos os que habitam sobre a
terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi
morto desde a fundação do mundo” (Ap 13.8).

Por isso, é que só há um Evangelho: “O Evangelho de Deus”, conforme visto em

3
Vejam-se: Hermisten M.P. Costa, A Inspiração e a Inerrância das Escrituras, 2ª ed. São Paulo: Ca-
sa Editora Presbiteriana, 2008; Idem., Introdução à Teologia Sistemática, São Paulo, 1987, p. 7ss; 21.
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Jesus Cristo e por Ele anunciado (Mc 1.1,14/Gl 1.8-10).

Pedro, atestando a fidedignidade de sua proclamação, diz: “Porque não vos de-
mos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas
(mu=Joj) engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas ocula-
res da sua majestade” (2Pe 1.16). Portanto, a nossa pregação fundamenta-se sem-
pre em fatos reais conforme registrados na Palavra de Deus (Vejam-se: Lc 2.9-11;
1Co 15.1-4,14,15; 1Pe 1.25).

2) A Universalidade da Proclamação e a nossa Responsabilidade:

A fé nada tem de meritória; Deus nos escolheu para salvação, medi-


4
ante a fé na verdade. Deste modo, percebemos como Deus em Sua misericórdia
5
em tudo se antecipou a nós; a fé é dos eleitos de Deus (Tt 1.1). ). Aquele que crê é
um eleito de Deus. Os eleitos “não são eleitos porque creram, mas são eleitos
6
para que cheguem a crer”. No entanto, devemos enfatizar que esta relação
não é mecânica: Eleição & Fé. Deus nos elegeu e nos fez ouvir a mensagem de
salvação, sendo assim, persuadidos pela graça a aceitar o Evangelho da salvação.
“A pregação é o instrumento da fé, por isso o Espírito Santo torna a prega-
7
ção eficaz”. A Palavra nos ensina que, fomos eleitos para que tivéssemos fé; e
esta fé é gerada e sedimentada em nossos corações pelo Espírito por meio do co-
nhecimento de Cristo. E, o conhecimento de Cristo deve ser a nossa vocação incon-
dicional. “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e
a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3).

Paulo considerou todas as outras coisas como perda, diante da realidade sublime
do conhecimento de Cristo; conhecer a Cristo era a sua prioridade; ele declara: “Sim,
deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de
Cristo Jesus meu Senhor: por amor do qual, perdi todas as cousas e as considero
como refugo, para ganhar a Cristo” (Fp 3.8).

4
“A causa eficaz de fé não é a perspicácia de nossa mente, mas a vocação de Deus. E ele
[Pedro] não se refere somente à vocação externa, que é em si mesma ineficaz; mas à vo-
cação interna, realizada pelo poder secreto do Espírito, quando Deus não somente emite
sons em nossas orelhas pela voz do homem, mas, pelo Seu próprio Espírito atrai intimamente
nossos corações para Ele mesmo” (John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan:
Baker Book House, 1996 (reprinted), Vol. 22, (2Pe 1.3), p. 369).
5
Vejam-se: Augustin, On The Gospel of St. John, Tractate 86. In: Philip Schaff & Henry Wace, eds.
Nicene and Post-Nicene Fathers of Christian Church, (First Series), Vol. 7 (Jo 15.16), p. 354. “.... pois
a misericórdia de Deus se lhe antecipa, sendo chamado para que cresse” (Agostinho, A Gra-
ça (II), São Paulo: Paulus, 1999, p. 193). “É em razão de ser misericordioso que Deus primeiro
nos recebe em sua graça, e então prossegue nos amando” [João Calvino, As Pastorais, São
Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 1.2), p. 27].
6
Agostinho, A Graça (II), p. 194. “Deus escolheu os crentes, mas para que o sejam e não por-
que já o eram” [Agostinho, A Graça (II), p. 195]. “Não cremos porque nos escolheu, mas esco-
lheu-nos para crermos, para que não digamos que o escolhemos....” [Agostinho, A Graça (II),
p. 200].
7
João Calvino, Efésios, (Ef 1.13), p. 36.
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“A fé salvadora é um salto à luz porque se baseia no conhecimento do


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Senhor Jesus Cristo”. A fé e o arrependimento são resultado da eleição. Usando
10
outra expressão de Calvino, podemos dizer que a “eleição é mãe da fé”. A fé
não é precondição da eleição, no entanto, ela evidencia e confirma, como um selo, a
11
nossa eleição.

Calvino apresenta uma palavra de advertência e consolo: “O segundo mal ex-


tremo contra o qual devemos nos guardar bem é a especulação. Muita gen-
te inconstante diz: 'Oh! Quanto a mim, nunca saberei se Deus me elegeu e,
portanto, permanecerei ainda em minha perdição'. Sim, mas isso é por falta
de vir a Jesus Cristo. Como conhecemos que Deus nos elegeu antes da cria-
ção do mundo? Crendo em Jesus Cristo. Eu disse antes que a fé procede da
eleição e é o fruto dela, fruto este que demonstra que a raiz está escondida
no interior. Então, qualquer um que creia fica dessa forma assegurado que
Deus operou nele, e a fé é, por assim dizer, a duplicata que Deus nos fornece
do original de nossa adoção. Deus tem seu eterno conselho, e sempre reser-
12
va para si o registro principal e original do qual nos dá uma cópia pela fé”.

O Evangelho é o poder de Deus para a salvação (Rm 1.16); no entanto, ele preci-
sa ser recebido pela fé! Calvino nos adverte: “Não existe nenhuma verdade fora
dele (do Evangelho). Se porventura nos sentirmos sempre tentados a menos-
prezar ou a sentir repugnância pelo evangelho, lembremo-nos de que o seu
poder e eficácia estão no fato de que é por meio dele que nos vem a sal-
vação; assim como alhures ele ensina que o evangelho é o poder de Deus
13
para a salvação dos crentes (Rm 1.16)”.

A eleição divina nos é totalmente estranha até que nos conscientizemos desta re-
alidade pela fé. A fé é a causa instrumental de nossa salvação; todavia, a causa es-
sencial é a nossa eleição. “A fé é um fruto da eleição. Pois não há nenhuma
outra diferença entre nós e os incrédulos senão o fato de Deus nos haver es-
tendido a mão e nos atraído a si por um meio secreto naquele tempo em
14
que estávamos dando-lhe as costas e sendo estranhos a ele (Rm 5.10)”.

Deus chama os seus eleitos por meio da pregação da Palavra. “Deus quer que
o Evangelho seja proclamado ao mundo todo e em todo o tempo para que

8
R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo, Michigan: Subcomision Literatura Cristiana de la Iglesia
Cristiana Reformada, 1985, p. 230.
9
“O arrependimento não está no poder do homem” [João Calvino, Exposição de Hebreus, (Hb
6.6), p. 155]. “Deus é o único Pai no âmbito da fé, porquanto regenera a todos os crentes pe-
la instrumentalidade de sua Palavra e pelo poder de seu Espírito, e é exclusivamente Ele que
confere a fé” [João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 1.2), p. 27].
10
Veja-se: J. Calvino, As Institutas, III.22.10.
11
Vd. João Calvino, As Institutas, III.24.3.
12
João Calvino, Sermões em Efésios, Brasília, DF.: Monergismo, 2009, p. 80.
13
João Calvino, Efésios, (Ef 1.13), p. 35.
14
João Calvino, Sermões em Efésios, p. 76.
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seja congregada a soma total dos eleitos”. A Palavra de Deus é sempre um
ato criador, por meio da qual Deus chama, convence, transforma e edifica os Seus.

Como bem observou R.B. Kuiper (1886-1966): “A eleição requer a evangeli-


zação. Todos os eleitos de Deus têm que ser salvos. Nenhum deles pode pe-
recer. E o evangelho é o meio pelo qual Deus lhes comunica a fé salvadora.
16 17
De fato, é o único meio que Deus emprega para esse fim”. (Ef 1.13).

O meio ordinário de Deus agir é chamando, persuadindo e congregando o Seu


povo por intermédio do Seu povo. Em outras palavras, nós somos instrumentos, “e-
los vitais” no desenvolvimento do propósito salvífico de Deus, proclamando a Sua
18
Palavra de salvação. Deus opera por meio da Sua Palavra, contudo, “só quando
Deus irradia em nós a luz de seu Espírito é que a Palavra logra produzir algum
efeito. Daí a vocação interna, que só é eficaz no eleito e apropriada para
19
ele, distingue-se da voz externa dos homens”.

3) Jonas em Nínive: um estudo de caso:

A Igreja cristã desde o início do segundo século é chamada de “Ca-


20
tólica” (= Universal). No Credo Apostólico, declaramos: "Creio no Espírito Santo;

15
R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, p. 21. (Veja-se, também, p. 39).
16
R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, p. 28.
17
“Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação,
tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa” (Ef 1.13).
18
Vd. J.I. Packer, Evangelização e Soberania de Deus, p. 66-67.
19
João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 10.16), p. 374. A vocação eficaz do eleito, “não con-
siste somente na pregação da Palavra, senão também na iluminação do Espírito Santo” (J.
Calvino, As Institutas, III.24.2). Do mesmo modo, Spurgeon escreveu: “Nós nunca conheceremos
nada enquanto não formos ensinados pelo Espírito Santo, que fala mais ao coração do que
ao ouvido” (C.H. Spurgeon, Firmes na Verdade, Lisboa: Peregrino, 1987, p. 72).
20
A palavra “católico” é uma transliteração do grego kaqoliko/j, que é traduzida por “universal”, “ge-
ral”. Ela só ocorre uma vez no Novo Testamento e, mesmo assim, na forma adverbial, acompanhada
de um advérbio de negação, sendo traduzida por “absolutamente não” (At 4.18).
O termo “católico” dispunha de grande emprego na literatura secular [Ver: Kaqoliko/j: In: William
F. Arndt & F.W. Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian
Literature, 2ª ed. Chicago: University Press, 1979, p. 391; J.N.D. Kelly, Primitivos Credos Cristianos,
Salamanca: Secretariado Trinitario, 1980, p. 454]. No entanto, o primeiro homem a usar a expressão
“católica” para se referir à Igreja, foi Inácio de Antioquia (30-110 AD). Na sua carta à Igreja de Esmir-
na, escrita por volta do ano 110, diz: “Onde quer que se apresente o bispo, ali também esteja a
comunidade, assim como a presença de Cristo Jesus também nos assegura a presença da
Igreja católica” [Inácio de Antioquia, Carta de S. Inácio aos Esmirnenses, 8.2. In: Cartas de Santo
Inácio de Antioquia, 3ª ed. Petrópolis, RJ.: Vozes, 1984, p. 81]. Aqui, Inácio designa de católica a I-
greja universal, representada em cada uma das igrejas locais [Ver: J.N.D. Kelly, Primitivos Credos
Cristianos, p. 454ss.]. Posteriormente, por volta do ano 155 AD., encontramos a mesma expressão na
Carta Circular da Igreja de Esmirna, redigida por um escritor anônimo, que conta como foi o martírio
de Policarpo, bispo de Esmirna. Na introdução ele escreve: “A Igreja de Deus estabelecida em
Esmirna à Igreja de Deus estabelecida em Filomélio e às Igrejas de todos os lugares em que
são partes da Igreja santa e católica....” (O Martírio de Policarpo: In: Henry Bettenson, Documen-
tos da Igreja Cristã, São Paulo: ASTE., 1967, p. 35). A expressão “católica”, só é encontrada no Cre-
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na santa Igreja, católica; na comunhão dos santos....".

Este adjetivo é apropriado à sua realidade. A Igreja é essencialmente universal.

Recordemos um pouco a bem conhecida história do profeta Jonas. Além do livro


21
que leva o seu nome, o profeta só é mencionado em 2Rs 14.25, aludindo à sua
profecia referente ao restabelecimento das fronteiras de Israel no reinado de Jero-
boão II. Era, portanto, contemporâneo dos profetas Oséias e Amós. Ele deve ter pro-
fetizado por volta do ano 760 a.C. A sua missão consistia em clamar contra a cidade
22
de Nínive por causa de seu pecado (Jn 1.1-2; 3.1-2).

O texto nos mostra com uma ponta de ironia, que Jonas se dispôs, contudo, para
fugir do Senhor, da Sua presença... Neste afã, ele se dirige à cidade portuária de
23 24
Jope, e, o texto especifica que ele pagou a sua passagem (Jn 1.3) e foi para
Társis, na Espanha. Deus o mandara para Nínive, cerca de 1300 km ao leste; ele se
dispôs para o oeste. A presença de Deus, devido a Sua ordem o incomodava; o pro-
25
feta não queria obedecer-Lhe (Jn 1.2-3,10; 4.2). Portanto, a presença de Deus era
um incômodo para este homem que amava imensamente o seu país e não conse-
guia se imaginar pregando para aqueles violentos pagãos ninivitas, ainda mais se
estes fossem se converter. Jonas não queria saber de evidências contrárias; ele sa-
bia o que queria, e, o que deseja era fazer a sua vontade, não a de Deus. O melhor,
raciocinava, era fugir para bem longe. Este homem racionalizou tão bem a questão
que mesmo em meio à grande tempestade que assustava até mesmo aos valentes
marinheiros, dormia tranquilo enquanto o navio quase soçobrava, sendo isto profun-
26
damente estranho à tripulação (Jn 1.5-6).

do Apostólico a partir do ano 450 AD. (Cf. Philip Schaff, The Creeds of Christendom, 6ª ed. (Revised
and Enlarged), Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1977, Vol. II, p. 55).
21
“Restabeleceu ele os limites de Israel, desde a entrada de Hamate até ao mar da Planície, segundo
a palavra do SENHOR, Deus de Israel, a qual falara por intermédio de seu servo Jonas, filho de Ami-
tai, o profeta, o qual era de Gate-Hefer” (2Rs 14.25).
22
“Veio a palavra do SENHOR a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Dispõe-te, vai à grande cidade de
Nínive e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até mim” (Jn 1.1-2). “Veio a palavra do SE-
NHOR, segunda vez, a Jonas, dizendo: Dispõe-te, vai à grande cidade de Nínive e proclama contra
ela a mensagem que eu te digo” (Jn 3.1-2).
23
Distava 56 km de Jerusalém.
24
“Jonas se dispôs, mas para fugir da presença do SENHOR, para Társis; e, tendo descido a Jope,
achou um navio que ia para Társis; pagou, pois, a sua passagem e embarcou nele, para ir com eles
para Társis, para longe da presença do SENHOR” (Jn 1.3).
25
“2Dispõe-te, vai à grande cidade de Nínive e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até mim.
3
Jonas se dispôs, mas para fugir da presença do SENHOR, para Társis; e, tendo descido a Jope, a-
chou um navio que ia para Társis; pagou, pois, a sua passagem e embarcou nele, para ir com eles
10
para Társis, para longe da presença do SENHOR. Então, os homens ficaram possuídos de grande
temor e lhe disseram: Que é isto que fizeste! Pois sabiam os homens que ele fugia da presença do
SENHOR, porque lho havia declarado” (Jn 1.2-3,10). “E orou ao SENHOR e disse: Ah! SENHOR!
Não foi isso o que eu disse, estando ainda na minha terra? Por isso, me adiantei, fugindo para Társis,
pois sabia que és Deus clemente, e misericordioso, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e
que te arrependes do mal” (Jn 4.2).
26
“Então, os marinheiros, cheios de medo, clamavam cada um ao seu deus e lançavam ao mar a
carga que estava no navio, para o aliviarem do peso dela. Jonas, porém, havia descido ao porão e se
deitado; e dormia profundamente. Chegou-se a ele o mestre do navio e lhe disse: Que se passa con-
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“Nínive era uma cidade muito importante diante de Deus” (Jn 3.3). Para Jonas,
contudo, eram todos pagãos que deveriam continuar em seus pecados e por isso
mesmo, serem todos destruídos. Nínive era a capital do império Assírio, ela fora fun-
27
dada por Ninrode, bisneto de Noé (Gn 10.11,12), sendo constituída de grandes
guerreiros e que normalmente tomavam os despojos dos seus inimigos vencidos pa-
28 29
ra seu adorno. Era um povo impiedoso e selvagem. Os ninivitas eram também
orgulhos e independentes. A julgar pelo texto de Jn 4.11, que diz haver “mais de
cento e vinte mil pessoas, que não sabem discernir entre a mão direita e a mão es-
30
querda”, estima-se que a população de Nínive fosse cerca de 600 mil. “Do ponto
de vista humano, interpreta Schultz, a Assíria era o último lugar onde um israeli-
31
ta gostaria de dirigir-se, em aventura missionária”.

Na realidade, Jonas era um homem crente, mas que caiu na tentação de subordi-
32
nar o seu chamado às suas idéias e valores. Os valores de Deus não são neces-
sariamente os mesmos nossos. Jonas não estimava aquele povo certamente consi-
derando sua impiedade e paganismo. No entanto, Deus olhava os ninivitas de modo
diferente; Ele os considera importantes, não pela sua riqueza, mas porque os via
como carentes da Sua Palavra.

De forma análoga, no Novo Testamento quando Paulo estava em Corinto, uma


cidade profundamente imoral, Deus lhe diz em visão: “Não temas; pelo contrário, fala
e não te cales; porquanto eu estou contigo e ninguém ousará fazer-te mal, pois te-
nho muito povo nesta cidade. E ali permaneceu um ano e seis meses, ensinando en-
tre eles a palavra de Deus” (At 18.9-11).

Jonas teria de aprender de forma prática o que Deus diria por intermédio de Isaí-
as: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos
caminhos os meus caminhos, diz o Senhor, porque, assim como os céus são mais
altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos ca-
minhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos”(Is
55.8).

Conhecemos bem a história: Jonas prega, e o povo se arrepende, gerando uma

tigo? Agarrado no sono? Levanta-te, invoca o teu deus; talvez, assim, esse deus se lembre de nós,
para que não pereçamos” (Jn 1.5-6).
27
Sobre Nínive e a destruição da Assíria, Vd. J. I. Packer, et. al. eds. O Mundo do Antigo Testamen-
to, Miami, Florida: Vida, 1988, p. 139; John Bright, História de Israel, São Paulo: Paulinas, 1978, p.
418ss.
28
Cf. Nínive: In: John Davis, Dicionário da Bíblia, 4ª ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista,
1973, p. 421a
29
J. I. Packer, et. al. eds. O Mundo do Antigo Testamento, p. 146.
30
Veja-se boa discussão a respeito em C.F. Keil & F. Delitzsch, Commentary on the Old Testament,
Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, (s.d.), Vol. X/1, p. 416; Samuel J. Schultz, História de Israel, São
Paulo: Vida Nova, 1977, p. 364.
31
Samuel J. Schultz, História de Israel, p. 363.
32
Cf. Jerónimo Pott, El Mensaje de los Profetas Menores, Grand Rapids, Michigan: SLC., 1977, p.
38.
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33
grande transformação na cidade (Jn 3.4-10/Mt 12.41). O profeta fica indignado, a
dizer: eu sabia que isto iria acontecer; ao invés de destruir logo este povo maligno, o
Senhor – por ser clemente, benigno, longânimo e, misericordioso –, manda que eu
pregue... Ora, eu preguei para condenação não para conversão. Ele queria que pre-
valecesse o seu senso de justiça: eles são maus; portanto, devem ser condenados.
No entanto, Deus os quer dar uma oportunidade e Jonas, ainda que involuntaria-
34
mente, era o mensageiro. Ele anuncia o desígnio de Deus (Jn 3.4) e depois, se
senta fora da cidade, num lugar estratégico, e aguarda para ver o que aconteceria
35
(Jn 4.5).

Jonas, que se mostra depressivo neste livro, entristecendo-se de contínuo, fican-


do irado e pedindo a morte (Jn 1.12; 4.1,3,4,8,9), só se alegrou quando teve uma
sombra por meio de uma planta (Jn 4.6). A conversão dos ninivitas não o alegrou; o
seu interesse era puramente egoísta; ele nada mais via do que a sua comodidade e
a preservação de seus valores equivocados.

É possível que pensemos também assim: Por que Deus não destrói logo o ímpio?
Por que temos que ter tanto trabalho para evangelizar, para trazer alguém à Igreja?
Por que distribuir folhetos, trabalhar na Igreja? Deus tem o Seu próprio modo de fa-
zer as coisas, o qual, ainda que não entendamos completamente, devemos buscar
em oração, meditação e obediência a compreensão. É preciso ter cuidado para que
não tenhamos a pretensão de ser mais justos do que Deus; querermos que os nos-
sos critérios ultrapassem os de Deus. A clemência e misericórdia de Deus nunca
anulam a Sua justiça. A nossa justiça pode ser motivada por questões muitas vezes
nobres, no entanto, circunscritas à nossa própria situação limitada de conhecimento
da realidade. Portanto, devemos aprender a subordinar o nosso ardor de justiça à
justiça de Deus, a qual é sempre santa e perfeita. Deus é soberano na manifestação
de Sua misericórdia: “Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo
nenhum. Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter miseri-
córdia, e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão (...). Logo, tem ele
misericórdia de quem quer, e também endurece a quem lhe apraz” (Rm 9.14,15,18).

33
“4 Começou Jonas a percorrer a cidade caminho de um dia, e pregava, e dizia: Ainda quarenta dias,
e Nínive será subvertida. 5 Os ninivitas creram em Deus, e proclamaram um jejum, e vestiram-se de
panos de saco, desde o maior até o menor. 6 Chegou esta notícia ao rei de Nínive; ele levantou-se do
7
seu trono, tirou de si as vestes reais, cobriu-se de pano de saco e assentou-se sobre cinza. E fez-se
proclamar e divulgar em Nínive: Por mandado do rei e seus grandes, nem homens, nem animais, nem
bois, nem ovelhas provem coisa alguma, nem os levem ao pasto, nem bebam água; 8 mas sejam co-
bertos de pano de saco, tanto os homens como os animais, e clamarão fortemente a Deus; e se con-
9
verterão, cada um do seu mau caminho e da violência que há nas suas mãos. Quem sabe se voltará
10
Deus, e se arrependerá, e se apartará do furor da sua ira, de sorte que não pereçamos? Viu Deus
o que fizeram, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha di-
to lhes faria e não o fez” (Jn 3.4-10). No Novo Testamento Jesus Cristo chamou a atenção dos judeus
para a conversão dos ninivitas: “Ninivitas se levantarão no juízo com esta geração, e a condenarão;
porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui está quem é maior do que Jonas” (Mt
12.41).
34
“Começou Jonas a percorrer a cidade caminho de um dia, e pregava, e dizia: Ainda quarenta dias,
e Nínive será subvertida” (Jn 3.4).
35
“Então, Jonas saiu da cidade, e assentou-se ao oriente da mesma, e ali fez uma enramada, e re-
pousou debaixo dela, à sombra, até ver o que aconteceria à cidade” (Jn 4.5).
O Deus Bendito que nos Escolheu – Estudos sobre Efésios 1 (9) – Rev. Hermisten – 16/12/09 – 9

ALGUMAS APLICAÇÕES E DESAFIOS:

1) O livro de Jonas nos desafia ao trabalho missionário, tentando olhar o outro


pela misericórdia de Deus. É fundamental que não permitamos que o nosso exclusi-
vismo racial ou mesmo social nos impeça de obedecer à Palavra de Deus.

2) Temos também aqui uma advertência e conforto: Deus leva o Seu Evange-
lho aos homens por meio de homens que, sendo falhos, muitas vezes, titubeiam e se
omitem no cumprimento de seu dever. A vocação de Deus não é um atestado de in-
falibilidade humana e da sacralização de seus vocacionados. A Escritura e a história
têm demonstrando isto de forma abundante.

3) O Evangelho deve ser anunciado a todas as pessoas, independentemente


de sexo, raça, cultura, cor e condição sócio-econômica; quer seja a grandes grupos
36 37
(At 8.5-6), quer seja a um indivíduo em particular (At 8.34-35).

4) A Igreja é católica porque a oferta de salvação é para todos em todas as é-


pocas e lugares. Todos os seres humanos de todos os lugares que responderem
com fé ao anúncio das Boas Novas de salvação serão salvos. A Igreja de Cristo
congrega pessoas de todas as nações, de raças diferentes, de dialetos variados e
condições sociais díspares.

Com isto, não estamos querendo dizer que, para que a Igreja seja católica, preci-
se ter crentes de todas as regiões, antes, o que estamos afirmando, é que a oferta
da graça salvadora anunciada pela Igreja, é para todos os homens. O alcance da
graça salvadora de Cristo assinala a vitória de Cristo sobre todas as barreiras geo-
gráficas, culturais e temporais. Paulo escreve aos gálatas: “Pois todos vós sois filhos
de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em
Cristo de Cristo vos revestistes. Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem
escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo
Jesus” (Gl 3.26-28). (Ver também: Ef 2.18; Cl 3.11). Não há barreiras intransponíveis
para a graça.

Shakespeare (1564-1616), na tragédia Romeu e Julieta, coloca nos lábios de


Romeu, as seguintes palavras dirigidas à Julieta: “Os limites de pedra não ser-
38
vem de empecilho para o amor”.

Deus, na plenitude do seu amor, ao longo da História tem vencido os corações de


pedra, empedernidos pela incredulidade, concedendo um novo coração ao Seu po-
vo. Os corações de pedra não servem de obstáculo para o amor gracioso de Deus.

A Igreja, constituída por aqueles que já tiveram os seus corações transformados,


anuncia o Evangelho, que é o poder transformador de Deus (Rm 1.16).

36
“Filipe, descendo à cidade de Samaria, anunciava-lhes a Cristo. As multidões atendiam, unânimes,
às coisas que Filipe dizia, ouvindo-as e vendo os sinais que ele operava” (At 8.5-6).
37
“Então, o eunuco disse a Filipe: Peço-te que me expliques a quem se refere o profeta. Fala de si
mesmo ou de algum outro? Então, Filipe explicou; e, começando por esta passagem da Escritura,
anunciou-lhe a Jesus” (At 8.34-35).
38
W. Shakespeare, Romeu e Julieta, São Paulo: Abril Cultural, 1978, II.2. p. 43.
O Deus Bendito que nos Escolheu – Estudos sobre Efésios 1 (9) – Rev. Hermisten – 16/12/09 – 10

Por isso, o seu testemunho abrange a todos os homens (Mc 16.15/Rm 10.14):

a) Judeus, Gentios, Intelectuais ou não: (At 17.16-18/1Co 1.26-31).


b) Todas as Nações: (Mc 13.10; Rm 15.18-29/Mt 28.18-20; At 1.8).
c) Samaritanos: (=inimigos mortais) (At 8.5,14,25).
d) Pobres e Simples: (Mt 11.25; Lc 4.18).
e) Pessoas Influentes: (Gl 2.2).

À Igreja cabe a responsabilidade intransferível de pregar o Evangelho a toda cria-


tura. “A mais importante implicação da catolicidade da igreja, observa Kui-
per, é seu solene dever de proclamar o evangelho de Jesus Cristo a todas as
39
nações e tribos da terra”.

5) Cabe aqui uma palavra de advertência e consolo quanto à nossa responsabi-


lidade e limite: Quem será salvo? Quantos serão salvos? São perguntas que não
nos compete fazer. Contudo, a nossa responsabilidade é de cumprirmos a ordem
expressa de Cristo, de anunciar o Evangelho a todas as pessoas, sabendo que a
40
conversão é uma operação do Espírito, que ultrapassa à nossa capacidade. Com-
41
pete-nos apenas pregar, não especular. “Ademais, devemos depreender des-
sa passagem [Ef 1.4-6] que a doutrina da predestinação não serve para nos
arrebatar para as especulações extravagantes, mas para abater todo orgu-
lho em nós, bem como a tola opinião que sempre concebemos do nosso va-
lor e mérito próprios, e para mostrar que Deus tem livre poder sobre nós, bem
como privilégio e domínio soberano, de tal modo que pode reprovar a
42
quem quiser e eleger a quem lhe apetecer”. Recorro mais uma vez à prudên-
cia recomendada por Calvino, inspirado em Agostinho (354-430):

“Se alguém assim se dirige ao povo: ‘Se não credes é porque Deus já os
há predestinado à condenação’, esse não somente alimentaria a negli-
gência como também a malícia. Se alguém também para com o tempo
futuro estenda a asserção de que não hajam de crer os que ouvem, por-

39
R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo, p. 60.
40
Na manhã do domingo de 2 de outubro de 1859, o então jovem ministro Charles Spurgeon (1834-
1892), pregava em Londres sobre “O Sangue do Concerto Eterno” (Hb 13.20). Ao aproximar-se do fi-
nal de sua exposição, diz: “O decreto da eleição é limitado, porém as boas novas abrangem
o mundo todo. A ordem que recebi de Deus é a de proclamar as boas novas a toda criatu-
ra debaixo do céu. A aplicação eficaz do evangelho está restringida aos eleitos de Deus, e
consequentemente pertence à vontade secreta de Deus, porém não é assim com a men-
sagem; esta deve ser anunciada a todas as nações” (C.H. Spurgeon, Sermões no Ano do Avi-
vamento, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1994, p. 60).
41
“A predestinação divina se constitui realmente num labirinto do qual a mente humana é
completamente incapaz de desembaraçar-se. Mas a curiosidade humana é tão insistente
que, quanto mais perigoso é um assunto, tanto mais ousadamente ela se precipita para ele.
Daí, quando a predestinação se acha em discussão, visto que o indivíduo não pode conter-
se dentro de determinados limites, imediatamente, pois, mergulha nas profundezas do oce-
ano de sua impetuosidade” [João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 9.14), p. 329-330]. Ver:
João Calvino, Efésios, (Ef 1.4), p. 26.
42
João Calvino, Sermões em Efésios, p. 82.
O Deus Bendito que nos Escolheu – Estudos sobre Efésios 1 (9) – Rev. Hermisten – 16/12/09 – 11

quanto hão sido condenados, isto seria mais maldizer do que ensinar. (...)
Como nós não sabemos quem são os que pertencem ou deixam de per-
tencer ao número e companhia dos predestinados, devemos ter tal afeto,
que desejemos que todos se salvem; e assim, procuraremos fazer a todos
aqueles que encontrarmos, sejam participantes de nossa paz (...). Quanto
a nós concerne, deverá ser a todos aplicada, à semelhança de um remé-
dio, salutar e severa correção, para que não pereçam eles próprios, ou a
outros não percam. A Deus, porém, pertencerá fazê-la eficaz àqueles a
43
Quem preconheceu e predestinou”.

Calvino entendia que “a pregação é um instrumento para a consecução da


salvação dos crentes” e, que “embora não possa realizar nada sem o Espírito
de Deus, todavia, através da operação interior do mesmo Espírito, ela revela
44
a ação divina muito mais poderosamente”. “Deus, a Si prescrevendo a ilu-
minação da mente e a renovação da mente e a renovação do coração,
adverte ser sacrilégio, se o homem a si arroga alguma parte de uma e outra
45
dessas duas operações”.

Deste modo, a doutrina da eleição longe de ser um obstáculo à evangelização, é


46
na realidade um estímulo vital e consolador. Esta doutrina ainda que nem sempre
tenha sido vista por este ângulo; tendo inclusive alguns tentado justificar a sua inér-
cia partindo de uma interpretação racionalizada, a verdade é que o zelo missionário
de Calvino tem muito a ver com este ensinamento da Escritura. A doutrina da pre-
destinação não tornou a evangelização desnecessária; antes, a torna fundamental,
já que é por meio do Evangelho que Deus chama o seu povo. Calvino, em diversas

43
João Calvino, As Institutas, III.23.14. Comentando 2Tm 2.25, diz: “Visto que a conversão de
uma pessoa está nas mãos de Deus, quem sabe se aqueles que hoje parecem empederni-
dos subitamente não sejam transformados pelo poder de Deus em pessoas diferentes? E as-
sim, ao recordarmos que o arrependimento é dom e obra de Deus, acalentaremos espe-
rança mais viva e, encorajados por essa certeza, aceleraremos nosso labor e cuidaremos da
instrução dos rebeldes. Devemos encará-lo da seguinte forma: é nosso dever semear e regar
e, enquanto o fazemos, devemos esperar que Deus dê o crescimento (1Co 3.6). Portanto,
nossos esforços e labores são por si sós infrutíferos; e no entanto, pela graça de Deus, não
são infrutíferos” [João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (2Tm 2.25), p. 246-247].
Do mesmo modo assevera Packer: “Até onde os cristãos saibam, os reprovados não têm fa-
ce, não nos cabendo tentar identificá-los. Devemos, antes, viver à luz da certeza de que
qualquer um pode ser salvo, se ele ou ela arrepender-se e colocar sua fé em Cristo.
“Devemos ver todas as pessoas que encontramos como possivelmente incluídas entre os
eleitos” (Eleição: In: J.I. Packer, Teologia Concisa: Síntese dos Fundamentos Históricos da Fé Cristã,
São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999, p. 143).
44
João Calvino, Romanos, 2ª ed. São Paulo: Parakletos, 2001, (Rm 11.14), p. 407.
45
João Calvino, As Institutas, IV.1.6.
46
O conceituado teólogo batista Millard Erickson, conclui: “A predestinação não anula o incenti-
vo para a evangelização e as missões. Não sabemos quem são os eleitos e os não eleitos,
portanto, precisamos continuar a divulgar a Palavra. Nossos esforços evangelísticos são os
meios que Deus usa para levar a salvação aos eleitos. A ordenação de Deus para o fim
também inclui a ordenação dos meios para atingir tal fim. O conhecimento de que as mis-
sões são o meio de Deus é uma forte motivação para o empenho e nos dá confiança de
que será bem-sucedido” (Millard J. Erickson, Introdução à Teologia Sistemática, p. 390).
O Deus Bendito que nos Escolheu – Estudos sobre Efésios 1 (9) – Rev. Hermisten – 16/12/09 – 12

partes de seus escritos demonstrou a compreensão de que o Evangelho deveria ser


pregado a todos e, como esta missão ainda não foi completada, obviamente compe-
47
te a nós realizá-la. Bavinck comenta: “O propósito da eleição é a criação de
um organismo, isto é, a renovação, redenção, renovação e glorificação de
uma humanidade regenerada que proclame as excelências de Deus e leve
48
Seu nome sobre sua testa”.

Fiel ao seu princípio de que “....as escolas teológicas [são] berçários de pas-
49
tores”, Calvino, que havia trabalhado com Johannes Sturm (1507-1589) em Es-
50 51 52
trasburgo (1538-1541), criou uma Academia em Genebra (Schola Privata e a
53
Schola Publica) tendo o culto inaugural em 5/6/1559 no templo de Saint-Pierre.

47
Ver: John Calvin, Commentary on the Prophet Micah. In: John Calvin Collection, [CD-ROM], (Al-
bany, OR: Ages Software, 1998), (Mq 4.3), p. 101.
48
Herman Bavinck, Teologia Sistemática, Santa Bárbara D’Oeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 564.
49
J. Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.1), p. 82. Schaff usa essa expressão referindo-se à Academia de
Genebra, um “berçário de pregadores evangélicos” (Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol.
VIII, p. 820).
50
Ver: W. Stanford Reid, Calvin and the Founding of the Academy of Geneva: In: Westminster Theo-
logical Journal, 18, (1955), p. 5. Em Estrasburgo, diferentemente de Genebra, a “escolarização era
uma prioridade suprema” e “alguns dos maiores especialistas em Educação daquele tempo
estavam trabalhando ali” (Ronald S. Wallace, Calvino, Genebra e a Reforma, p. 87). O próprio Jo-
hannes Strurm que foi para Estrasburgo em 1536, criou e organizou o sistema educacional (junho de
1537), organizando o Ginásio de Estrasburgo, fundado em 22/03/1538, sendo o seu primeiro reitor,
mantendo-se neste cargo por 43 anos. O seu lema era: “piedade sábia e eloqüente” (sapiens atque
eloquens pietas) (Cf. Ruy A. da Costa Nunes, História da Educação no Renascimento, p. 182. Ver
também: W. Stanford Reid, Calvin and the Founding of the Academy of Geneva: In: Westminster
Theological Journal, 18, (1955), p. 5).
51
Aprovada a criação em 16/03/1559.
52
Esta com 280 alunos (Cf. Diener-Wyss Apud Gabriele Greggersen, Perspectivas para a Educação
Cristã em João Calvino. In: Fides Reformata, São Paulo: Centro Presbiteriano de Pós-Graduação An-
drew Jumper, 7/2 (2002) 61-83, p. 69).
53
Data da sessão solene de inauguração, presidida por Calvino (Charles Borgeaud, Histoire
l’Université de Genève, Genève: Georg & Cº, Libraires de L’Université, 1900, p. 48; A. Biéler, O Pen-
samento Econômico e Social de Calvino, p. 192; Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VI-
II, p. 805; Calvin, Textes Choisis par Charles Gagnebin, Egloff, Paris, © 1948, p. 302; Thea B. Van
Halsema, João Calvino era Assim, São Paulo: Editora Vida Evangélica, 1968, p. 195). Na ocasião es-
tavam presentes todo Conselho e os ministros. Calvino rogou a bênção de Deus sobre a Academia, a
qual estava sendo dedicada à ciência e religião. Michael Roset, o secretário de Estado, leu a Confis-
são de Fé o os estatutos da escola preparados por Calvino que regeriam a instituição (Leges acade-
miae genevesis). Beza foi proclamado reitor, ministrando uma aula inaugural em latim. A reunião foi
encerrada com uma breve palavra de Calvino dita em francês e oração pelo próprio (Cf. Charles Bor-
geaud, Histoire l’Université de Genève, p. 48-49; Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol.
VIII, p. 805; Thea B. Van Halsema, João Calvino era Assim, p. 195; John T. McNeill, The History and
Character of Calvinism, New York: Oxford University Press, 1954, p. 194). John Knox (1515-1572),
antigo aluno da Academia, escreveria mais tarde a uma amiga (1556), dizendo ser a Igreja de Gene-
bra “a mais perfeita escola de Cristo que jamais houve na terra desde os dias dos Apóstolos” (John T.
McNeill, The History and Character of Calvinism, p. 178; Philip Schaff, History of the Christian Church,
Vol. VIII, p. 263; Idem., The Creeds of Christendom, 6ª ed. Revised and Enlarged, Grand Rapids,
Michigan: Baker Book House, (1931), Vol. I, p. 460; Timothy George, Teologia dos Reformadores, p.
167). Schaff observa que havia uma faculdade em Genebra, desde 1428, chamada “Faculdade Ver-
sonnex” (L’école de Versonnex), que se destinava à preparação de clérigos; no entanto ela havia en-
trado em decadência, sendo reorganizada por Calvino em 1541. A instrução era gratuita (Veja-se:
Charles Borgeaud, Histoire l’Université de Genève, Genève: Georg & Cº, Libraires de L’Université,
O Deus Bendito que nos Escolheu – Estudos sobre Efésios 1 (9) – Rev. Hermisten – 16/12/09 – 13

54
A Academia (Schola Privata e a Schola Publica) iniciou com 600 alunos aumen-
55
tando já no primeiro ano para 900 alunos –, a quem coube a educação dos protes-
tantes da língua francesa, atingindo em sua maioria, alunos estrangeiros vindos da
56
França, Holanda, Inglaterra, da Alemanha, da Itália e de outras cidades da Suíça.
Calvino não concebia a Academia distante da igreja, antes, sustentava dois princí-
pios fundamentais: a unidade da Academia e a união íntima da Academia com a I-
57
greja. Com este propósito, todos os professores estavam sob a jurisdição discipli-
58
nar da igreja devendo subscrever a Confissão de Fé adotada.

Além disso, Genebra se tornou um grande centro missionário, uma verdadeira

1900, p. 13-18). Ainda segundo Schaff, Calvino incentivou a educação fundando diversas escolas es-
trategicamente distribuídas na cidade. As taxas eram baixas até que foram abolidas (1571) conforme
pedido de Beza. “Calvino às vezes é chamado o fundador do sistema de escola pública”. Ele deseja-
va criar uma grande universidade, todavia, os recursos da República eram pequenos para isso, assim
ele se limitou à Academia. Contudo até para criar a Academia ele teve de pedir de casa em casa do-
nativos, conseguindo arrecadar a soma respeitável de 10,024 guilders de ouro. Também, diversos es-
trangeiros que ali residiam contribuíram generosamente, havendo também um genebrino, Bonivard,
que doou toda a sua fortuna à instituição (Cf. Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII,
p. 804-805; Charles Borgeaud, Histoire l’Université de Genève, p. 214.).
54
Esta com 280 alunos (Cf. Diener-Wyss Apud Gabriele Greggersen, Perspectivas para a Educação
Cristã em João Calvino. In: Fides Reformata, 7/2 (2002) 61-83, p. 69).
55
Cf. Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 805. Em 1564 a Schola Privata conta-
ria com cerca de 1200 alunos e a Schola Publica com aproximadamente 300 alunos (Cf. Wilson C.
Ferreira, Calvino: Vida, Influência e Teologia, p. 196; A. Biéler, O Pensamento Econômico e Social de
Calvino, p. 192; Daniel-Rops, A Igreja da Renascença e da Reforma: I. A reforma protestante, São
Paulo: Quadrante, 1996, p. 413; Gabriele Greggersen, Perspectivas para a Educação Cristã em João
Calvino. In: Fides Reformata, 7/2 (2002) 61-83, p. 69.
56
Genebra chegou a abrigar mais de 6 mil refugiados vindos da França, Itália, Inglaterra, Espanha e
Holanda, (Cf. Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 802) aumentando este número
com os estudantes que para lá se dirigiram com a fundação da Academia de Genebra (1559). Lem-
bremo-nos que a população de Genebra era de 9 a 13 mil habitantes (9 mil segundo Reid (W.S. Reid,
A Propagação do Calvinismo no Século XVI: In: W. Stanford Reid, ed. Calvino e Sua Influência no
Mundo Ocidental, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990, p. 52; 12 mil conforme McNeill (J.T.
McNeill, Los Forjadores del Cristianismo, Buenos Aires: La Aurora/Casa Unida de Publicaciones,
[1956], Vol. II, p. 211); 13 mil de acordo com Nichols (Robert H. Nichols, História da Igreja Cristã, São
Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1978, p. 164); em torno de 10 mil (William G. Naphy, Calvin and
the Consolidation of the Genevan Reformation, Louisville: Westminster John Knox Press, 2003, p. 21,
36)). O fato é que em 1550 Genebra dispunha de 13.100 habitantes, saltando para 21.400 em 1560.
Dez anos depois, em 1570, a população voltaria a 16.000. A casa dos 20 mil habitantes só seria ul-
trapassada em 1720, atingindo 20.800 (Cf. Alfred Perrenoud, La Population de de Genève du
Seizième au Début Du Dix-Neuvième Siècle: Étude Démographique, Genève: Libraririe A. Jullien,
1979, Vol. 1, p. 37). Schaff apresenta dados mais específicos relativos a cada período: Cerca de 12
mil habitantes no início do século XVI, aumentando para mais de 13 mil em 1543, tendo um surto de
crescimento de 1543 a 1550, quando a população saltou para 20 mil (Philip Schaff, History of the C-
hristian Church, VIII, p. 802. Vd. também: Tomas M. Lindsay, La Reforma y Su Desarrollo Social, Bar-
celona: CLIE., (1986), p. 117; Thea B. Van Halsema, João Calvino era Assim, p. 193). Segundo Mc-
Grath, em 1550 a população foi estimada em 13.100 habitantes. Em 1560 era de 21.400 habitantes.
(Alister E. McGrath, A Vida de João Calvino, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 145). Biéler
estima 10.300 habitantes em 1537, chegando a 13.000 em 1589 (André Biéler, O Pensamento Eco-
nômico e Social de Calvino, p. 216, 220, 251 (nota 514)).
57
Charles Borgeaud, Histoire l’Université de Genève, p. 79.
58
Elmer L. Towns, John Calvin. In: Elmer L. Towns, ed. A History of Religious Educators, Michigan:
Baker Book House, 1985, p. 170.
O Deus Bendito que nos Escolheu – Estudos sobre Efésios 1 (9) – Rev. Hermisten – 16/12/09 – 14

“escola de missões”, porque os foragidos que lá se instalaram, puderam, posterior-


59
mente, levar para os seus países e cidades o Evangelho ali aprendido. “O esta-
belecimento da Academia foi em parte realizado por causa do desejo de
60
suprir e treinar missionários evangélicos”, informa-nos Mackinnon. Destacamos
que, com exceção de Isaías, todos os comentários de Calvino sobre os profetas
“consistem em sermões direcionados a alunos em treinamento para o trabalho mis-
61
sionário, principalmente na França”.

Acontece que o envio de missionários para outras cidades e países era uma
questão delicada para a qual a Companhia de Pastores manteve, enquanto pôde,
62
sigilo absoluto até mesmo do Conselho Municipal. Os nomes dos missionários e-
63
ram em geral mantidos em sigilo. A primeira vez que tais nomes são mencionados
na Companhia de Pastores de Genebra foi em 22 de abril de 1555, Jehan Vernoul e
Jehan Lauvergeat, enviados para as igrejas dos vales de Piemonte e Jacques Lan-
64
glois Tours, Lausanne e Lyon, onde seria martirizado em 1572.

Outro exemplo: o envio de dois ministros para a missão no Brasil, em resposta ao


65
apelo de Villegagnon, é descrita de forma sumaríssima: O registro simplesmente
66
menciona (25/08/1556) que Pierre Richier († 1580) e M. Guillaume Charretier
67 68
(Chartier) foram enviados. A própria correspondência que vinha dos franceses no
69
Brasil para Calvino, recorria a algum de seus pseudônimos.

59
Para maiores detalhes, ver: Hermisten M.P. Costa, A Academia de Genebra e a Evangelização. In:
Brasil Presbiteriano, São Paulo: Cultura Cristã, janeiro de 2009, p. 4-5.
60
James MacKinnon, Calvin and the Reformation, Londres: Penguin Books, 1936, p. 195.
61
T.H.L. Parker em Prefácio à Versão Inglesa do Comentário de Daniel (João Calvino, O Profeta Da-
niel: 1-6, São Paulo: Parakletos, 2000, Vol. 1, p. 13).
62
Vejam-se detalhes em Alister E. McGrath, A Vida de João Calvino, São Paulo: Cultura Cristã,
2003, p. 211-213.
63
Cf. Alister E. McGrath, A Vida de João Calvino, p. 211.
64
Robert-M. Kingdon, Registres de La Compagnie dês Pasteurs de Genève au Tempos de Calvin,
Genève: Librairie E. Droz, 1962, p. 62-63.
65
Cf. Jean de Léry, Viagem à Terra do Brasil, 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, (1960), p. 51-52.
Léry narra que “Ao receber as suas cartas e ouvir as notícias trazidas, a igreja de Genebra rendeu an-
tes de mais nada graças ao Eterno pela dilatação do reino de Jesus Cristo em país tão longínquo, em
terra estranha e entre um povo que ignorava inteiramente o verdadeiro Deus” (p. 51).
66
Antes de aderir ao protestantismo era monge carmelita e doutor em teologia. Calvino o achava que
ele tinha algum problema no cérebro (Carta a Farel de 14/02/1558). Carta 2814. In: Herman J.
Selderhuis, ed., Calvini Opera Database 1.0, Netherlands: Instituut voor Reformatieonderzoek, 2005,
Vol. 17).
67
Posteriormente Calvino demonstrou ter dúvida quanto à integridade de Chartier. (Carta a Macarius
de 15/03/1558). Carta 2833. In: Herman J. Selderhuis, ed., Calvini Opera Database 1.0, Netherlands:
Instituut voor Reformatieonderzoek, 2005, Vol. 17). Macarius (pastor Jean Macard), no entanto, de-
pois de investigar, atesta a fidelidde de Chartier (Cartas de Macarius a Calvino de 21/03/1558 e
27/03/1558). Cartas 2838 e 2841. In: Herman J. Selderhuis, ed., Calvini Opera Database 1.0, Nether-
lands: Instituut voor Reformatieonderzoek, 2005, Vol. 17).
68
Robert-M. Kingdon, Registres de La Compagnie dês Pasteurs de Genève au Tempos de Calvin,
Genève: Librairie E. Droz, 1962, p. 68.
69
Vejam-se Frans L. Schalkwijk, O Brasil na Correspondência de Calvino. In: Fides Reformata, São
Paulo: Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, IX/1 (2004) 101-128; Vejam-se as
O Deus Bendito que nos Escolheu – Estudos sobre Efésios 1 (9) – Rev. Hermisten – 16/12/09 – 15

A proclamação do Evangelho objetiva glorificar a Deus: “O nome de Deus nun-


ca é melhor celebrado do que quando a verdadeira religião é extensamen-
te propagada e quando a Igreja cresce, a qual por essa conta é chamada
70
‘plantações do Senhor, para que Ele seja glorificado’ [Is 61.3]”.

Este objetivo da Academia faz jus à compreensão missionária de Calvino. Consi-


derando que o reino de Deus envolve todos os povos – Jesus Cristo não foi enviado
apenas aos judeus71 –, a mensagem do Evangelho deve ser anunciada a todos.
Comentando 1Tm 2.4, Calvino afirma: “.... nenhuma nação da terra e nenhuma
classe social são excluídas da salvação, visto que Deus quer oferecer o E-
vangelho a todos sem exceção”.72 À frente: “Aqueles que se encontram sob
o governo do mesmo Deus não são excluídos para sempre da esperança de
salvação”.73 Por isso, “O Senhor ordena aos ministros do Evangelho (que
preguem) em lugares distantes, com o propósito de espalhar a doutrina da
salvação em cada parte do mundo”.74 Analisando uma das implicações da peti-
ção “venha o Teu Reino”, comenta: “Portanto, nós oramos pedindo que venha o
reino de Deus; quer dizer, que todos os dias e cada vez mais o Senhor au-
mente o número dos Seus súditos e dos que nele crêem....”.75

Devemos trabalhar com urgência dentro da esfera que nos foi confiada por Deus.
O que não nos pertence deixemos onde está de modo firme e seguro: sob os cuida-
dos de Deus. Portanto, “como nós não sabemos quem são os que pertencem
ou deixam de pertencer ao número e companhia dos predestinados, deve-
mos ter tal afeto, que desejemos que todos se salvem; e assim, procuraremos
fazer a todos aqueles que encontrarmos, sejam participantes de nossa paz
(...). Quanto a nós concerne, deverá ser a todos aplicada, à semelhança de
um remédio, salutar e severa correção, para que não pereçam eles próprios,
ou a outros não percam. A Deus, porém, pertencerá fazê-la eficaz àqueles a
Quem preconheceu e predestinou”.76

explicações a respeito dos pseudônimos e fac-similes das respectivas assinaturas in: Emile Doumer-
ie
gue, Jean Calvin: Les hommes et les choses de son temps, Lausanne: Georges Bridel & C Editerurs,
1899, Vol. 1, p. 558-573 (Apêndice nº VIII).
70
João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Edições Parakletos, 2002, Vol. 3, (Sl 102.21), p.
581.
71
Cf. John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company,
1996 (Reprinted), Vol. VII, (Is 2.4), p. 99. Do mesmo modo: John Calvin Collection, [CD-ROM], (Al-
bany, OR: Ages Software, 1998), (Mq 4.3), p. 101.
72
João Calvino, As Pastorais, (1Tm 2.4), p. 60. Ver também: John Calvin, Calvin’s Commentaries,
Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996 (Reprinted), Vol. XII, (Ez 18.23), p. 246-
249.
73
João Calvino, As Pastorais, (1Tm 2.5), p. 62.
74
John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996
(Reprinted), Vol. XVII, (Mt 28.19), p. 384.
75
João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa,
São Paulo: Cultura Cristã, 2006, Vol. 3, (III.9.39), p. 124.
76
João Calvino, As Institutas, São Paulo: Cultura Cristã, 1999, III.23.14.
O Deus Bendito que nos Escolheu – Estudos sobre Efésios 1 (9) – Rev. Hermisten – 16/12/09 – 16

O nosso trabalho deve ser feito com total confiança em Deus, sabendo que cabe
a Ele converter o coração do homem e, que a rejeição do Evangelho neste momento
não implica necessariamente na rejeição absoluta. Esta convicção nos estimula a
trabalhar com fervor e alegre perseverança: “Visto que a conversão de uma pes-
soa está nas mãos de Deus, quem sabe se aqueles que hoje parecem em-
pedernidos subitamente não sejam transformados pelo poder de Deus em
pessoas diferentes? E assim, ao recordarmos que o arrependimento é dom e
obra de Deus, acalentaremos esperança mais viva e, encorajados por essa
certeza, aceleraremos nosso labor e cuidaremos da instrução dos rebeldes.
Devemos encará-lo da seguinte forma: é nosso dever semear e regar e, en-
quanto o fazemos, devemos esperar que Deus dê o crescimento (1Co 3.6).
Portanto, nossos esforços e labores são por si sós infrutíferos; e no entanto, pe-
la graça de Deus, não são infrutíferos”.77 A nossa responsabilidade: “.... é nosso
dever proclamar a bondade de Deus a toda nação”.78

Portanto, preguemos sinceramente, de forma inteligente, com amor e entusiasmo.


Quanto aos resultados, estes pertencem a Deus, escapam da nossa esfera de a-
79
ção. Aproveitemos também as oportunidades concedidas por Deus: “.... lembre-
mo-nos de que a porta se nos abriu pela mão de Deus a fim de que procla-
memos Cristo naquele lugar, e não recusemos aceitar o generoso convite
80
que Deus assim nos oferecer”.

São Paulo, 16 de dezembro de 2009.


Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

77
João Calvino, As Pastorais, (2Tm 2.25), p. 246-247.
78
John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996
(Reprinted), Vol. VII, (Is 12.5), p. 403.
79
Vd. João Calvino, As Institutas, II.5.5,7; III.24.2,15.
80
João Calvino, Exposição de 2 Coríntios, São Paulo: Edições Paracletos, 1995, (2Co 2.12), p. 52.

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