Vaz Vaez Gomes PARA INÍCO DE CONVERSA Neste tema você fará um percurso no que diz respeito ao Programa de Garantia de Renda Familiar Mínima do Município de Campinas, com apontamentos dos aspectos metodológicos do estudo do perfil das famílias e os principais resultados de um programa como este. No Brasil, nos últimos anos, tem aumentado a implementação do Programa de Garantia de Renda Familiar Mínima (PGRFM), na esfera municipal, inovando no campo do combate à pobreza e à fome. A experiência que você vai estudar é de um programa implantado na cidade de Campinas, estado de São Paulo. A exemplo desta cidade, o programa já foi implantado em outros municípios e capitais, tais como: Boa Vista, Vitória, Salvador, Ribeirão Preto, Jundiaí e Belo Horizonte e no Distrito Federal (FONSECA, 2009). A experiência de Campinas, desde sua criação, é acompanhada pelo Núcleo de Estudos de Políticas Públicas da UNICAMP, que, segundo Fonseca (2009, p. 132), realizou inúmeros processos de avaliação e “acompanhamento institucional do processo de implementação, estudo do perfil das famílias beneficiadas
(com base nos dados cadastrais do Programa), e um estudo domiciliar de uma amostra de famílias beneficiárias”. São vários programas implementados e com diferentes formas de organização no que se refere, segundo Fonseca (2009, p. 132), “aos objetivos, critérios de seleção, cálculo da renda familiar e valor do benefício, vinculação institucional, modos de operacionalização, contrapartida exigida, formas de acompanhamento, etc.”. O estudo sobre esses PGRFMs se faz necessário para entender se de fato eles têm feito diferença e tirado as famílias da miséria. Continuando Um dos temas que fazem parte das discussões desses programas de transferência de renda é a família e toda a sua complexidade, pois sua população alvo são as crianças e os adolescentes e também a inserção destes em outras políticas, como a educação, por exemplo. A família, de acordo com a autora, é o foco desses programas, e é isso que os distingue do programa de iniciativa do Senador Suplicy. Fonseca (2009, p. 133) afirma que no projeto do Senador “o indivíduo é portador de direitos (e a renda é um destes direitos) e a política social o reconhece como tal, independentemente do seu estado civil, da sua descendência e da natureza de seus vínculos com crianças e adolescentes”. A autora completa afirmando que, independente do “tempo em que resida em algum município do seu país”, o “o indivíduo é cidadão e como tal tem direito a uma renda mínima e de usá-la como melhor lhe aprouver, aumentando à sua maneira seu nível de bem- estar”. Essa compreensão é diferente nos demais programas uma vez que, segundo Fonseca (2009, p. 133), “há um deslocamento do individuo para a família”. Com esta ideia, “espera-se que o receptor da complementação mensal da renda familiar, que tem a titularidade em função de suas crianças menores de 14 anos, não se comporte como um indivíduo” (FONSECA, 2009, p. 133). O fato de ser um programa para famílias pobres não significa que terá simples implementação; pelo contrário, há, sim, a necessidade e a relevância de um estudo, no que se refere tanto ao próprio conceito de programa de renda mínima como ao conceito de família. Esses grupos familiares têm em comum três categorias, de acordo com Fonseca (2009, p. 134), “residem em Campinas há pelo menos dois anos, têm crianças menores de 14 anos e renda familiar per capita inferior a R$ 35,00” e salienta a autora, que estas categorias não homogeneízam a miséria e nem “apagam sua heterogeneidade”, tornando o estudo da maior relevância. O Programa de Garantia de Renda Familiar Mínima do município de Campinas tem um banco de dados que está organizado em três arquivos, com capacidade de aceitar o registro de diversas famílias quando de sua entrada no PGRFM. Vamos Praticar? A organização dos arquivos foi feita da seguinte maneira: o primeiro arquivo corresponde ao material sobre o requerente e seu cônjuge; o segundo compreende informações sobre a composição familiar – Grupo 1 (menores de 14 anos); e o terceiro, a composição familiar – Grupo 2 (maiores de 14 anos e outros) (FONSECA, 2009). Nos aspectos metodológicos do banco de dados, Fonseca (2009, p. 136) informa que se “permite examinar o universo das famílias beneficiadas segundo as principais variáveis socioeconômicas”. Essas variáveis econômicas, segundo Fonseca (2009, p. 137), são “as demográficas, as de renda, as relativas à condição de ocupação dos membros e à localização espacial das famílias no Município” e ainda, completando, os “indicadores sociais, tais como escolaridade, condições de saúde, condição da habitação e acesso a outros programas sociais”. Em relação à chefia das famílias, não será encontrado nada que a classifique, em razão de o banco de dados não trazer informações sobre isso. Não está claro que a presença de um homem no núcleo o torne o chefe e muito menos que o enorme número de mulheres no PGRFM as torne chefes de família. Esse é um debate que Fonseca (2009, p. 138) sugere que se faça com cautela “quando se trata de um programa de complementação de renda familiar, pois quem for reconhecido como chefe certamente terá mais poder na decisão da utilização dos recursos recebidos e dos rendimentos familiares”. Finalizando Essa questão merece cuidado, já que, de acordo com a autora, “em termos metodológicos, a designação externa de uma chefia revela que o pesquisador introduziu suas concepções da relação entre gênero e geração”, ou seja, atribui “aprioristicamente, significados pelos quais outorga, no par conjugal, maior grau de autoridade ao ‘homem’ que à ‘mulher’ e, ao mesmo tempo, introduzindo hierarquizações de geração que se sobrepõem às de gênero” (FONSECA, 2009, p. 138). Enfatizou-se nesse trabalho uma enorme diversidade que o termo família traz para o debate. E, muito além daquilo que os aspectos tratados trouxeram, existem outros destes no campo do emprego, da baixa qualificação, das condições habitacionais, do acesso a outros programas. A outra questão, em relação ao vínculo com o PGRFM, está no fato de que está posto que depois de um ano ele poderá ser reconduzido uma vez, e assim superar a condição da pobreza. Entretanto, a pesquisa demonstrou que este prazo é insuficiente. E, por fim, no PGRFM de Campinas há a informação de um alto número de requerentes muito jovens.