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Prof.

: Luiz Lessa

ANO
2017

AMARANTE, Paulo. Saúde Mental e Atenção Psicossocial. 2.ed. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2007.

1
2
O autor propõe um trajeto desde as bases da psiquiatria e do manicômio até os projetos atuais de
construção de um novo lugar social para as pessoas em sofrimento mental. Para tal, inicialmente, o autor
faz algumas considerações sobre o SENTIDO DA EXPRESSÃO “SAÚDE MENTAL”:

1) Saúde mental como UM CAMPO OU ÁREA DE CONHECIMENTO E DE ATUAÇÃO TÉCNICA


NO ÂMBITO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE: vigorosamente complexo, plural,
intersetorial e ainda marcado pela transversalidade de saberes. Não se procura afirmar um
paradigma verdadeiramente único e definitivo dos saberes que efetivamente compõem a natureza
do campo da saúde mental. Diferentes saberes podem se entrecruzar determinando um espectro
amplo de conhecimentos: psiquiatria,psicologia, psicanálise, antropologia, sociologia, filosofia,
história, geografia, e ainda manifestações religiosas, ideológicas, éticas de cada cultura, etc.ESSA
PERSPECTIVA É TÃO RICA E POLISSÊMICA QUE TORNA DIFÍCIL DELIMITAR AS
FRONTEIRAS DOS CONHECIMENTOS E SABERES ENVOLVIDOS. Isso leva a uma reflexão
sobre VERDADE. Paulo Amarante se refere ao uso que Laing faz de uma figura ambígua ou
equívoca (dois perfis frente a frente) geralmente mencionada para brincar de ilusão de ótica e
mostrar como “a forma inicial de ver uma coisa determina todas as nossas relações subsequentes
com ela” (p.16).
A natureza do campo da saúde mental vem contribuindo para que comecemos a pensar de forma
diferente: NÃO MAIS COM UM PARADIGMA DE VERDADE ÚNICA E DEFINITIVA, MAS EM TERMOS
DE COMPLEXIDADE, SIMULTANEIDADE, DE TRANSVERSALIDADE DE SABERES, DE
“CONSTRUCIONISMO”, DE “REFLEXIVIDADE”.

Diferentes focos ou perspectivas, permitem:


diferentes pontos de vista, diferentes descrições, diferentes teorias, diferentes formas de ação

2) Trabalhar hoje no campo polissêmico e plural da saúde mental significa estar voltado para o
estado mental dos sujeitos e das coletividades. ASSIM, QUALQUER TENTATIVA DE
CATEGORIZAÇÃO NO MODO DE PENSÁ-LO “É ACOMPANHADA DO RISCO DE UM
REDUCIONISMO E DE UM ACHATAMENTO DAS POSSIBILIDADES DA EXISTÊNCIA HUMANA E
SOCIAL”, dadas as condições altamente complexas que dizem respeito a esse campo– trabalhar na
saúde mental não significa mais, como outrora, trabalhar com doença mental e manicômios
O QUE É SAÚDE E DOENÇA ?

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como “estado de completo bem-estar físico,
mental e social”. Não é suficiente dizer que doença é ausência de saúde ou vice-versa, pois esse
seria um modelo científico dualista-racionalista de ver as coisas (erro X verdade). Esse aspecto
fica claro quando se pensa a questão da normalidade, dos buracos negros, dos enigmas da
origem da vida e do universo.
3) Há uma grande e importante DIFERENÇA entre A PERSPECTIVA ATUAL e a mais ANTIGA
SOBRE TRABALHAR NA SAÚDE MENTAl: antes significava trabalhar com doenças mentais, em
hospícios, ambulatórios e emergências de crise psiquiátrica, isto é, “loucos agressivos, em
ambientes carcerários, desumanos, de isolamento e segregação”. Essa perspectiva vem se
modificando radicalmente e vem se consolidando cada vez mais um novo modo de lidar com o
sofrimento mental, pautado em acolhimento, cuidado efetivo e construção consequente de
um novo lugar social para a diversidade, para a diferença.

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O contexto do campo da saúde mental e da atenção psicossocial proposto
assume uma perspectiva utópica:

TRANSFORMAR A RELAÇÃO ENTRE A SOCIEDADE E A LOUCURA, QUESTIONANDO O MODELO


DE CUIDADO VIGENTE BEM COMO OS CONCEITOS E SABERES QUE FUNDAMENTAM E
LEGITIMAM TAIS PRÁTICAS. Trata-se de um objetivo e de um projeto de luta, sobretudo no Brasil,
onde o autor irá finalmente se ater.

Revisitando o ALIENISMO, ciência pioneira no estudo dos transtornos mentais, a fim de


caracterizar o processo de apropriação da loucura pela medicina com a constituição do saber
psiquiátrico e, por conseguinte, de sua principal instituição, o HOSPÍCIO, procurando assim abordar
os principais conceitos e práticas que fundaram o PARADIGMA PSIQUIÁTRICO.
Nessa discussão, a REVOLUÇÃO FRANCESA é apontada como um marco na história da
humanidade pelas muitas transformações econômicas, sociais e políticas que provocou, bem como pela
introdução do debate em torno dos direitos humanos e do conceito de cidadania que acabaram por
repercutir enormemente na área da medicina, sobretudo na história da psiquiatria e da loucura.

O AUTOR DISCUTE ESTAS MODIFICAÇÕES A PARTIR DA INSTITUIÇÃO “HOSPITAL”.

A imagem que nos evoca hoje o hospital é a de um lugar por excelência para o exercício da
medicina, geralmente desenhado com corredores de enfermarias repletas de doentes deitados em camas e
assistidos por médicos e enfermeiros.
Entretanto, criado inicialmente na Idade Média com base em ensinamentos religiosos, o hospital
não foi sempre assim. Desde o hospital pioneiro no século IV, os hospitais eram fundamentados na fé,
esperança e especialmente na caridade, e tinham, por isso, como OBJETIVO PRINCIPAL oferecer
abrigo, alimentação e assistência religiosa aos pobres, mendigos, desabrigados e doentes.

No século XVII, em 1656, com a constituição do Hospital Geral, os hospitais deixaram de ser
espaços exclusivamente filantrópicos e de assistência social para cumprir uma função de ordem
social e política mais explícita: A FUNÇÃO DE CONTROLE, DE DISCIPLINA.

Trabalhando com Foucault para circunscrever o advento do Hospital Geral como A Grande
Internação ou O Grande Enclausuramento, em função das suas PRÁTICAS SISTEMÁTICAS E
GENERALIZADAS DE ISOLAMENTO E SEGREGAÇÃO: no Hospital Geral eram internados toda a
sorte de pessoas que contradiziam a ordem social do momento, particularmente os pobres, não
importando para tal o gênero, a natalidade, a condição hábil ou não para o trabalho, se doente ou
convalescente, curável ou incurável.Nesse saco de gatos, estava também o louco.
O Hospital Geral foi fundamental para definir um novo lugar social para o louco e
também para a loucura na sociedade ocidental

Até aquele momento, a loucura era tomada por explicações religiosas (atribuída aos deuses
ou demônios) e o seu lugar eram as ruas, florestas, guetos, igrejas e hospitais.A partir daquele
momento, os hospitais NÃO ERAM MAIS EXCLUSIVAMENTE FILANTRÓPICOS, MAS
CUMPRIAM FUNÇÃO DE ORDEM SOCIAL E POLÍTICA. As internações no Hospital Geral
deveriam acontecer por procura espontânea, ou arbitrariamente determinadas por autoridades
reais e judiciais, ou ainda pelas indicações dos diretores dos estabelecimentos. Com um poder
absoluto que lhes era delegado, um poder entre a polícia e a justiça, os diretores dos hospitais
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podiam decidir,julgar e executar, sem possibilidade de apelação,toda a população de sua
abrangência, pois todos, e não apenas os que já estavam internados, eram uma clientela potencial
da instituição.
Entretanto, com a Revolução Francesa, os hospitais passaram a ser objeto de profundas mudanças.
Tendo como lemas revolucionários igualdade/ liberdade/ fraternidade, ideais que sintetizavam a noção de
cidadania, muitos médicos foram atuar nos Hospitais Gerais a fim de humanizá-los e adequá-los à
modernidade: todos os espaços sociais deveriam ser democratizados, o que naturalmente incluía os
hospitais. Com esse intuito, acabaram por transformá-los em instituições propriamente médicas. Assim,
muitos internos foram libertos, outras instituições assistenciais foram criadas, como orfanatos, reformatórios
e escolas normais, e a intervenção médica, antes eventual, passou a ser regular e constante. Agrupando
as doenças e observando seu curso e evolução, produziu-se um saber sobre elas que até então não
havia sido possível.

Esse processo é chamado de MEDICALIZAÇÃO DO HOSPITAL e engloba duas frentes


concomitantes: o hospital foi apropriado pela medicina e se tornou a principal instituição
médica, e a medicina se tornou um saber e uma prática predominantemente hospitalares que
possibilitaram o nascimento da anatomoclínica.

A medicalização do hospital ocorreu em fins do século XVIII, operada a partir da DISCIPLINA


enquanto tecnologia política, e marcou fortemente a natureza do modelo biomédico da medicina
ocidental. Nesse modelo, a relação do médico é com a doença, pois é a doença o objeto abstrato e
natural e não o sujeito da experiência da doença.
A disciplina, no âmbito da instituição, ocorria a partir da rigorosa distribuição espacial dos internos
seguida do controle sobre o desenvolvimento das ações das pessoas e não sobre o resultado dessas
ações, que deveriam ser perpetuamente vigiadas (lembrar o Panóptico, de Bentham). Além disso, tudo o
que ocorria na instituição deveria ser continuamente registrado. O hospital encerrava em si ao mesmo
tempo um espaço de exame tal como um laboratório de pesquisa, espaço de tratamento (enquadramento
das doenças e doentes, disciplina do corpo terapêutico e das tecnologias terapêuticas) e espaço de
reprodução do saber médico (lugar de ensino e aprendizagem).O médico havia enfim subtraído da
filantropia e do clero o poder administrativo do hospital e se transformou num de seus personagens
fundamentais, sendo inclusive quem detinha agora o poder máximo no hospital.
Esse novo modelo produziu um saber original sobre as doenças, mas sobre uma doença que
já havia sofrido a ação prévia de institucionalização: a doença sobre a qual se produzia um saber já era
uma doença produzida e transformada pela intervenção médica, ou seja, não se tratava mais de doença
isolada em estado puro.

Resumindo O HOSPITAL PERDE CADA VEZ MAIS SUAS FUNÇÕES DE CARIDADE E


FILANTROPIA (IDADE MÉDIA) E DE CONTROLE SOCIAL (HOSPITAL GERAL DO ANTIGO REGIME DO
SÉCULO XVII) PARA ASSUMIR A FUNÇÃO MEDICALIZADA DO SÉCULO XVIII. O MODELO MÉDICO,
NESSA PERSPECTIVA, ASSUME UMA POSTURA HOSPITALOCÊNTRICA, ESPECIALÍSTICA,
VERTICALIZADA E HIERARQUIZADA, CENTRADA NA DOENÇA E NÃO NOS SUJEITOS que têm as
doenças.

A substituição da sociedade absolutista (monárquica, totalitária, clerical) pela sociedade


disciplinar destinou um novo papel às instituições: a disciplina dos corpos, a introjeção das
normas do pacto social construído entre pares, a normalização dos cidadãos e da própria noção
de cidadania. Assim é que os hospitais – antes lugar de mortificação e ‘des-historicização’ –
tornaram-se lugar de verdade, de saber, de positividade.

Nesse contexto, quatro anos após a Revolução Francesa, Pinel assume a direção do Bicêtre, uma
das unidades do Hospital Geral de Paris e inicia a fundação da psiquiatria, ou o que é denominado
MOVIMENTO ALIENISTA.
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Pinel participava dos Ideólogos, um grupo bastante significativo no pensamento filosófico francês
daquela época, cujas influências provinham principalmente de Locke e Condillac. As influências de Locke
orientavam tanto a pressuposição de uma natureza livre e independente dos homens, quanto uma busca
por uma base verdadeiramente científica para os fenômenos da realidade tendo como referência o modelo
da História Natural. Segundo esse modelo, o conhecimento depende da observação empírica dos
fenômenos. Dito de outro modo, o homem objetiva o conhecimento a partir de suas impressões sobre as
experiências consigo próprio e com o seu exterior – trata-se de um método analítico-filosófico que
pressupõe que todo conhecimento humano tem sua origem primeiro nas sensações e que somente depois
formam-se as idéias, primeiro as mais simples e depois as mais complexas.É preciso portanto relacionar o
ato perceptivo com a linguagem. E é nesse contexto que também se encaixam as influências de Condillac
na prática pineliana: a ciência encontrará sua ordem e verdade na observação sucessiva da natureza, pois
ela indica por si mesma as qualidades dos objetos a serem analisados.
Pinel introduziu muitas inovações na prática dos hospitais lançando o que ficou conhecido
como as bases da síntese alienista: escreveu o primeiro livro da psiquiatria, elaborou a primeira
nosografia (classificação das enfermidades), consolidou o conceito de alienação mental,estabeleceu a
profissão de alienista, fundou os primeiros hospitais psiquiátricos,propôs o tratamento moral como primeiro
modelo de terapêutica e o isolamento como pré-condição para o tratamento.
A ação inicial de Pinel é direcionada para libertar os loucos das correntes e submetê-
los a um tratamento asilar, que por sua vez requer completo ISOLAMENTO. Na sua
concepção, tal reclusão não implicava em perda de liberdade, mas possibilitava justamente a restituição
da liberdade que fora subtraída ao homem pela alienação (a idéia da natureza livre do homem pregada por
Locke).É preciso isolar para conhecer, hospitalizar para observar, estudar, comparar, analisar e classificar:
o isolamento associado a tratamento e à produção de conhecimento. NA MEDIDA EM QUE A ALIENAÇÃO
MENTAL SERIA UM DISTÚRBIO NO EQUILÍBRIO DAS PAIXÕES, E QUE O HOSPITAL DE ALIENADOS
PODERIA REPRESENTAR UM ESTABELECIMENTO ONDE SERIA POSSÍVEL SUBMETER O
ALIENADO A “REGRAS INVARIÁVEIS DE POLÍCIA INTERIOR”, O HOSPITAL SERIA, ELE PRÓPRIO,
UMA INSTITUIÇÃO TERAPÊUTICA.
A ALIENAÇÃO MENTAL era compreendida como um distúrbio no equilíbrio das paixões, um estar
fora de si, uma alienação das próprias vontades e desejos, cujas causas provinham do meio social. Como
consequência, produz-se uma desarmonia na mente e na possibilidade objetiva de discernir sobre o erro e
de perceber a realidade, não se tratando, no entanto, de uma perda absoluta da razão. Justamente por
esse motivo, por supor ainda uma parcela de razão no alienado, Pinel acreditava que o afastando das
interferências externas seria possível submetê-lo a um tratamento mais adequado e igualmente a
observações, comparações, análises e estudos mais apurados para consolidar assim um diagnóstico o
mais preciso.
O tratamento mais adequado, na visão de Pinel, era o TRATAMENTO MORAL que, com ordem e
disciplina, colocaria regras para a mente encontrar de novo uma organização, tanto em relação aos seus
objetivos,quanto em relação às verdadeiras emoções e pensamentos.Medidas de horários, de condutas, de
disciplina de modo geral, bem como de trabalho terapêutico (o trabalho tinha um papel bastante singular
nessas épocas de primórdios do capitalismo), eram então impostos aos alienados no intuito de reeducar-
lhes a mente, afastar os delírios e ilusões e chamar a consciência à realidade.

O hospital pineliano (ou sinônimos: casa de alienados, hospital psiquiátrico),


nesse sentido de instituição disciplinar, é uma instituição terapêutica;
É ELE PRÓPRIO O REMÉDIO E NÃO UM MEIO PARA TRATAR.

Todavia, mesmo que Pinel tenha desacorrentado os loucos, propondo sua liberdade, eles
permaneceram enclausurados, não mais por caridade (o hospital filantrópico da Idade Média), é verdade,
ou tampouco por repressão (o Hospital Geral da sociedade disciplinar do século XVII), mas por um
imperativo terapêutico (o hospital psiquiátrico medicalizado do movimento alienista do século XVIII):“o que
existiu foi uma metamorfose da natureza da instituição” (p.35).

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Pinel opta pelo termo alienação mental e não doença mental por supor a loucura obscura e
impenetrável, um processo, portanto, de natureza distinta da doença que se pode procurar a sede
anatômica. Contudo, sob a condição de perda do juízo ou da capacidade de discernir a realidade, a
alienação mental passa a ser associada à idéia de periculosidade. Esquirol, discípulo de Pinel, chega a
listar dentre as funções do hospício “garantir a segurança pessoal do louco e de suas famílias” (p.35). Essa
associação produziu naturalmente uma atitude social de medo e discriminação para com o louco até os
dias de hoje (as outras funções do hospício listadas por esquirol: libertá-los das influências externas,
vencer suas resistências pessoais, submetê-los a um regime médico, impor-lhes novos hábitos intelectuais
e morais).

Tenon aponta a diferença entre:


Hospital de loucos – o próprio hospital é remédio;
Hospital de feridos – o hospital é um meio de tratar

João Pinheiro Silva, alienista brasileiro do início do séc. XX:


Asilos para alienados são análogos a estabelecimentos de educação porque
se propunham a reeducar comportamentos e mentes desregradas

PROBLEMA IMPORTANTE (ATENÇÂO!!!):


Amarante destaca no movimento alienista a construção, pelos mesmos atores sociais, de DOIS
CONCEITOS ANTAGÔNICOS: ALIENAÇÃO MENTAL E CIDADANIA. Segundo o autor, na origem do
conceito, um alienado estaria impedido de ser um cidadão. O conceito de cidadania implica numa
responsabilidade e possibilidade de conviver e partilhar com os outros de uma mesma estrutura política e
social. O conceito de alienação mental, por sua vez, considera que o alienado é despossuído de razão
plena, condição elementar para definir a natureza humana. O alienado perde o livre-arbítrio e,
consequentemente, a liberdade, e a sua capacidade e possibilidade de exercer a cidadania (o que só
vem a reforçar a idéia do louco como perigoso). Nessa perspectiva, para ser cidadão, é preciso estar
em plena posse da razão, o que não é de modo algum suposto ao alienado. Para que o alienado recupere
a cidadania, é necessário recuperar a razão... e isso seria feito mediante o isolamento e então o tratamento
moral.

Nos primeiros anos do alienismo, o hospital psiquiátrico era, sem dúvida, o melhor recurso
terapêutico para a alienação mental. E o alienismo pineliano se propagou pelo mundo, sobretudo após a
promulgação da lei francesa de 1838, a primeira lei de assistência aos alienados, levando à criação e à
reprodução em diferentes países dos princípios e estratégias adotados e estimulados por Pinel.
Contudo, é claro que havia críticas dos contemporâneos de Pinel que se estendiam não apenas ao
alienismo, mas ao próprio modelo positivista da ciência que o originou e legitimou, visto que o isolamento e
o tratamento moral representavam paradoxos com os ideais libertários da Revolução Francesa.O aparato
alienista de saber-poder parecia no mínimo estranho ao sequestrar e aprisionar aqueles que
pretendia libertar. “Como tão pouco saber pode gerar tanto poder?”, é o questionamento de
Foucault (p.37).
Em contrapartida ao sucesso inicial dos primeiros asilos para alienados, rapidamente superlotados,
viu-se uma queda na credibilidade do hospital psiquiátrico e da própria psiquiatria. Isto se deve à
dificuldade em estabelecer os limites entre a loucura e a sanidade, aos hospícios ainda cumprirem uma
função de segregação social da população marginalizada e haver, além disso, constantes denúncias de
violências contra os internos.
Uma primeira tentativa de resgatar o potencial terapêutico da instituição psiquiátrica: criar
colônias de alienados. As colônias foram construídas em grandes áreas agrícolas onde os alienados
podiam ser submetidos ao trabalho terapêutico. Os “nutrícios” eram os seus cuidadores. Nessa proposta,
acreditava-se no trabalho como o meio terapêutico mais precioso para estimular a vontade e a energia, e

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consolidar “a resistência cerebral tentando fazer desaparecer os vestígios do delírio” (p.39). O entusiasmo
com essa proposta fez com que, no Brasil, por exemplo, fossem criadas dezenas de colônias. A de
Juquery, em São Paulo, chegou a ter 16 mil internos!!!!!Logo, logo foi possível perceber que as colônias
eram iguais aos asilos tradicionais: nada de aldeia de pessoas livres, com sua própria história e cultura,
mas instituições asilares de recuperação pelo trabalho.

A partir da II Guerra Mundial tiveram início os primeiros movimentos de Reforma Psiquiátrica

Esses movimentos são discutidos conforme o objetivo em relação à psiquiatria:


(1)ou adequando ou ajustando o modelo assistencial asilar;
(2)ou modernizando-o em direção à saúde mental na comunidade;
(3)ou rompendo com as bases do modelo científico que inaugurou e legitimou a intervenção psiquiátrica no
meio social.

A II Guerra teve um papel importantíssimo nesse contexto, pois foi a partir daí que as pessoas
passaram a refletir mais significativamente sobre a natureza humana, sobretudo no que diz respeito à
crueldade e solidariedade existentes entre os homens.
Particularmente os hospícios e as condições de vida oferecida aos internos eram muito
próximos da realidade dos campos de concentração: constatava-se absoluta ausência de dignidade
humana.

Nasceram então as primeiras experiências de Reforma Psiquiátrica, sendo algumas mais


marcantes e de reconhecida influência ainda hoje.

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Quanto à Experiências País /
Posição instituição de Reforma Fig. de Contexto Como acontece Objetivo Prerrogativa básica
psiquiátrica Psiquiátrica destaque
O potencial dos
pacientes é utilizado
no tto através de Todos na instituição
Envolver os pcts no
reuniões de têm uma função
Excesso de jovens tto e debater todos
discussões de terapêutica
soldados os aspectos
dificuldades, projetos (técnicos, familiares,
internados p/ tto de relacionados à
Grã- e planos de cada um, pcts), pois a
problemas instituição, c/ ênfase
Bretanha bem como da instituição precisa
emocionais, na atuação da
/ Bion, instituição, além da lutar contra a
Comunidade escassez de equipe, p/ evitar
Reichma realização de hierarquização e
Terapêutica profissionais; situações de
ne assembléias verticalidade dos
O fracasso do necessidade de abandono, descuido
Maxwell reunindo pcts e papéis sociais que
modelo recuperar mão de e violência, e
Jones funcionários. Há marcavam a
assistencial obra para o projeto promover
encorajamento para assistência
tradicional de reconstrução horizontalidade e
expressão dos tradicional nas
estava na forma nacional. democratização nas
sentimentos e tb a instituições
de gestão do relações.
realização de grupos psiquiátricas.
hospital; a
operativos e de
1º grupo solução portanto
discussões.
é introduzir
escuta polifônica
mudanças na
(ampliação de ref. Promover um
instituição de
Situação social e teóricos), coletivo terapêutico,
modo que esta
econômica precária acolhimento (equipe tal como na exp.da
possa ser
agravada pela e instituição como comunidade
efetivamente Psicoterapia
ocupação e suporte e ref., trab. terapêutica, e, O hospital
terapêutica Institucional
destruição pelos terapêutico diferentemente, psiquiátrico é uma
(ou Coletivo
França / exércitos nazistas; (possibilidade dos promover uma escola de liberdade;
Terapêutico,
Tosquell hospitais psiq. bem pcts participarem e transversalidade nas não existe uma
como
es danificados, s/ assumirem relações (encontro e escola como essa
Tosquelles
ideais ou qq responsabilidade), confronto dos papéis na vida social
preferia
possibilidade de clube terapêutico a fim de corrente.
chamar)
exercer sua (promoção de lazer), problematizar as
verdadeira função ateliês ou oficinas de hierarquias e
terapêutica. trabalho e arte hegemonias
(reorg.da dinâmica institucionais).
psíquica).
Posição Quanto à Experiências País / Contexto Como acontece Objetivo Prerrogativa básica

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instituição de Reforma Fig. de
psiquiátrica Psiquiátrica destaq
ue
- Criação dos Centros de
Saúde Mental (CSM)
-Promover
distribuídos em diferentes
continuidade
setores administrativos das
terapêutica
regiões francesas, conforme o
A experiência da após alta
contingente populacional
psicoterapia hospitalar p/ O modo de cuidado
(houve uma setorização);
institucional se evitar inumano e anti-
França - Trabalho em equipe;
mostrava limitada reinternação ou social do hospício
Psiquiatria / -O espaço interno do hospital tb
no final dos 50’s, mesmo a agrava o sofrimento
O modelo de Setor Bonnaf foi subdividido: uma enfermaria
início dos 60’s, internação de mental; é preciso
hospitalar é como referência para cada
em relação a um novos casos; promover o cuidado
estava setor;
trabalho externo - Incentivar a fora do manicômio.
esgotado e -Acompanhamento terapêutico
ao manicômio aproximação
deveria tornar- dos pcts por uma mesma
das pessoas de
se obsoleto a equipe multiprofissional, tanto
mesmo setor;
partir da no hospital qto no local de
construção de residência (explora
2º grupo serviços positivamente o vínculo).
assistenciais O país enfrentava -Transposição da noção de -Reduzir as A doença mental é
alternativos mts problemas prevenção da medicina preventiva doenças uma desordem
mais sociais e p/ a psiq. (1ª, 2ª e 3ª); mentais nas linear, isto é, evolui
qualificados: políticos. Censo - Busca de suspeitos que poderiam comunidades e conforme a história
uma de 1955 sobre as desenvolver uma patologia mental; promover o natural da doença:
desmontagem condições de -Identif.precoce da doença; estado de qto mais cedo
“pelas Psiquiatria assistência nos -Intervenção em situação de crise, saúde mental; identificada, mais
evolutiva ou acidental, pois pode
beiradas” Preventiva hosp. psiq: -Promover a rapidamente pode
EUA/ ocasionar desadaptação social
ou Saúde precariedade, (desvio ou estado pré-patológico); desinstitucionali ser prevenida. E, se
Caplan
Mental violência e maus- -eq. de saúde mental exercendo zação (ainda junto às ações
Comunitária tratos. papel de consultores comunitários desospitalizaçã preventivas, as
Pres.Kennedy (identificar e intervir em crises ind, o: reduzir alternativas extra-
decreta em 1963: fam e sociais; tempo de hospitalares forem
redirecionamento -Implantar centros de saúde internação potencializadas, o
da política de mental, HD’s, leitos psiq. em hosp. enovas hosp. psiq. pode se
assistência psiq. geral, lares abrigados, etc. hospitalizações, tornar obsoleto e
nos EUA. dar altas). cair em desuso.

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Quanto à Experiências de País / Fig.
Posição instituição Reforma de Contexto Como acontece Objetivo Prerrogativa básica
psiquiátrica Psiquiátrica destaque

Não entendem a doença A experiência patológica ñ


Insuficiência
mental como objeto ocorre no ind. enqto corpo
transformadora
natural (tal como o faz a ou mente doente, mas nas
das práticas de Implementar de fato
psiquiatria tradicional) e relações entre ele e a
comunidade um projeto crítico à
por isso ñ propõem um tto sociedade, e o hosp. psiq.
terapêutica e psiquiatria
tradicional (remissão de reproduz e radicaliza as
psicoterapia apontando como um
sintoma ou readaptação mesmas estruturas
institucional. equívoco a
social). Preconizam a opressoras e patogênicas
Perceberam que metodologia de
Inglaterra/ vivência da exp.da da organização social.
o discurso dos conhecimento
Antipsiquiatria Laing, loucura c/ auxílio, OBS:Goffman, crítico da
pcts denunciava baseada nas
A expressão Cooper acompanhamento e instit. e do modelo teórico
conflitos e ciências naturais (a
“reforma” é proteção do terapeuta: da psiq. ficou mt
contradições natureza humana é
inadequada, entendem que o sintoma associado à antipsiq.pq
tanto na instit. mt mais complexa) e
pois foram por si só já expressa uma esmiuça mecanismos de
psiq. de tto complexificando a
experiências possibilidade de carreira moral,
como tb na fam. noção de
que iniciaram reorganização interior. estigmatização ou
e na sociedade desinstitucionalizaç.
processos de Propõem o conceito de mortificação do eu,
(ênfase na
rompimento duplo vínculo no cerne da decorrentes de
relação).
com o exp. esquiz. cronificação institucional
3º grupo paradigma psiq. Comunidade
-Desconstruir o
tradicional; terap.e
manicômio Desconstruir e
colocaram em psicot.instituc:
concomitantemente à superar o aparato
xeque tanto o estratégias
construção de serviços manicomial: o
modelo intermediárias A instituição psiquiátrica
substitutivos (CSM) hospício, e tb a
científico de com seus processos de
regionalizadose de base estrutura de saberes
psiquiátrico, desmontagem mortificação e des-
territorial, pautados na e poderes que
como suas da estrutura historicização é tal como a
tomada de sustentam a
instituições manicomial. serpente da fábula “o
responsabilidade(base existência do
assistenciais Psiquiatria Itália Influenciado por homem e a serpente”. O
estratégica); isolamento, da
Democrática /Basaglia Foucault e grande erro da psiq. foi
-Promover possibilidade segregação e da
Goffman, separar a doença como
real de reabilitação e patologização da
Basaglia inova um objeto fictício da
inclusão social através experiência humana
negando a psiq. existência global e
das cooperativas de (isso incluio modo
enqto ideologia complexa dos sujeitos e
trabalho ou da construção como as sociedades
e buscando do corpo social
de residências; lidam c/ as pessoas
desmontar e
-Transcender a reorg. do em sofrimento
superar o
modelo assistencial p/ mental)
aparato manic.
alcançar a sociedade.
tradicional.

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Após revisar historicamente os movimentos de reforma psiquiátrica mais marcantes, Paulo
Amarante procura ampliar o entendimento das dimensões e estratégias do campo da saúde mental e
atenção psicossocial associando-o a um processo social complexo.
Para tal, o autor lembra Rotelli:

O campo da saúde mental e atenção psicossocial é um processo social complexo (e


não um sistema fechado) que está em constante transformação e movimento; “é algo que
caminha e se transforma permanentemente” (.

HÁ NESSE SENTIDO SEMPRE NOVAS SITUAÇÕES A SEREM ENFRENTADAS E NOVOS


ATORES SOCIAIS A SEREM ENCAMPADOS, POIS DIFERENTES DIMENSÕES ESTÃO SE
ENTRELAÇANDO SIMULTANEAMENTE,
E A TODO MOMENTO.
Justamente por essa COMPLEXIDADE as transformações NÃO devem se limitar à
mudanças SOMENTE NO MODELO DE ASSISTÊNCIA VIGENTE (ou em propostas de
reformulações de serviços). O QUE PRECISA ESTAR EM QUESTÃO É O MODELO PSIQUIÁTRICO
CLÁSSICO, NASCIDO NO MODELO BIOMÉDICO, QUE TEM UMA TERAPÊUTICA CENTRADA NA
HOSPITALIZAÇÃO, e que desenha um sistema bastante próximo de instituições correcionais à
medida que é baseado fundamentalmente na vigilância, controle e disciplina, e por isso repleto
de dispositivos de punição e repressão.
Destaca-se que SUPERAR ESSE MODELO NÃO É EXATAMENTE O OBJETIVO EM SI. Essa
superação é, na verdade, consequência de princípios e estratégias.Sendo assim, as diversas propostas
e iniciativas apontadas por Amarante nos três grupos de experiência de reforma psiquiátrica (ver
tabelas), tornam cada vez mais clara a necessidade de um direcionamento para um SISTEMA de saúde
mental e atenção psicossocial.
Amarante propõe quatro dimensões para pensarmos o campo da saúde mental e atenção
psicossocial, centrando sua discussão sobretudo na experiência brasileira de Reforma Psiquiátrica:
a)teórico-conceitual; b)técnico-assistencial; c) jurídico-política; d)sociocultural.

DIMENSÃO TEÓRICO-CONCEITUAL( ou epistêmica) – acreditava-se que o que se


conseguia saber pela ciência já seria suficiente para determinar uma ação/intervenção. Atualmente não
é mais assim, pois se entende que há um conjunto de aspectos, até alheios à ciência, que interferem na
formulação de estratégias (ex: ideologias, religiões, éticas, etc). No contexto epistemológico no qual a
psiquiatria foi fundada, a realidade era um dado natural capaz de ser apreendido e revelado em sua
plenitude. Ciência significava produzir um saber neutro, positivo, que seria expressão unívoca de
verdade. Isso determinou, no caso da psiquiatria, um olhar para a doença mental como um objeto
natural: ocupar-se das doenças e esquecer-se dos sujeitos. No entanto, sabendo-se hoje que a ciência
engloba e se entrelaça com diferentes aspectos, pensa-se no seu contexto como estando em plena
transformação, o que inclui, é claro, a psiquiatria. Nada mais natural do que o processo de Reforma
Psiquiátrica como efeito das transformações da própria ciência, e não da invenção caprichosa
de psiquiatras insatisfeitos. Colocar a DOENÇA PSIQUIÁTRICA ENTRE PARÊNTESES, tal como a
proposta de Basaglia na experiência italiana de reforma, significa colocar um conceito entre
parênteses, fazer uma “REDUÇÃO ANALÓGICA” ,no conceito inspirado de Husserl. Trata-se de
uma atitude epistêmica: suspender um determinado conceito para poder entrar em contato com
a experiência dos sujeitos que estavam coisificados, invisíveis, opacos. Fazer isso é romper de
fato com o modelo teórico-conceitual da psiquiatria que adotou o modelo das ciências naturais
(ex. da pct que queria um pente), e, ademais, é possível constatar O DUPLO DA DOENÇA
MENTAL, isto é, os estigmas e preconceitos relacionados à doença mental (referir-se, por
exemplo, ao paciente pelo seu sintoma. “Nada mais é do sujeito: tudo se refere à doença”).

Colocar a doença entre parênteses traz conseqüências SOBRE A DIMENSÃO TÉCNICO-


ASSISTENCIAL– nos depararmos com o sujeito em toda a sua complexidade e vicissitudes. Isso
reverbera no modo como vamos nos referir à sua experiência (“sujeito em sofrimento psíquico”, e não
“doença mental” ou “transtorno mental” ou “desordem mental”). E também tem efeitos nos serviços que
serão implantados: dispositivos estratégicos, de acolhimento, de cuidado e de trocas sociais, lugares de
sociabilidade e de produção de subjetividades que lidam com pessoas e não com doenças. Esse olhar
possibilita ampliar sem dúvida a noção de INTEGRALIDADE no campo da saúde mental e
atenção psicossocial.

SOBRE A DIMENSÃO JURÍDICO-POLÍTICA– se o paciente é agora percebido como um


sujeito em sofrimento psíquico, começa-se a poder pensar que loucura não é sinônimo de
periculosidade, irracionalidade, incapacidade civil ou incapacidade para o exercício de cidadania, e
torna-se prontamente necessário todo um outro conjunto de desafios e estratégias, como revisar as
legislações (do código penal, civil, por ex.) que se referem de forma nociva à experiência da loucura.
Amarante destaca o Loas (Lei Orgânica da Saúde) justamente como um benefício financeiro que
representa um obstáculo às estratégias de inclusão social, pois o paciente que o recebe não
pode exercer nenhum tipo de atividade profissional. O autor ressalta por outro lado a expressão
singular que assume a questão dos direitos humanos e como um passo decisivo nessa direção foi
dado com a promulgação da lei 10.216 que, embora não tenha assegurado a aspiração mais
fundamental do projeto original de extinguir progressivamente os manicômios, dispõe sobre os
direitos dos pacientes, redireciona o modelo de assistência em saúde mental e ainda inclui o
Ministério Público Estadual nas questões da saúde mental ao colocar que ele deve ser
comunicado das internações involuntárias no prazo máximo de 72 horas. TODAVIA, PARA FALAR
DE CIDADANIA E DIREITOS, APONTA AMARANTE, NÃO BASTA APROVAR LEIS: “É PRECISO
MUDAR MENTALIDADES, MUDAR ATITUDES, MUDAR RELAÇÕES SOCIAIS” (P.71). E TAMBÉM
NÃO SE TRATA DE TER TOLERÂNCIA, MAS RECIPROCIDADE E SOLIDARIEDADE, DE
TRANSFORMAR E INOVAR BUSCANDO CONTRIBUIR SEMPRE PARA A CONSTRUÇÃO DE UM
NOVO IMAGINÁRIO SOCIAL EM RELAÇÃO À LOUCURA E AOS SUJEITOS EM SOFRIMENTO.

“FRANCO BASAGLIA OBSERVAVA QUE ERA IMPORTANTE QUESTIONAR NÃO SOMENTE “O


MANICÔMIO NEM A PSIQUIATRIA COMO CIÊNCIA, MAS TUDO O QUE, PARTINDO DO
TERRITÓRIO REPELIA A DOENÇA E A CONFIAVA À PSIQUIATRIA E AO MANICÔMIO”.

Trata-se, por isso, na DIMENSÃO SOCIOCULTURAL, de envolver a sociedade na discussão da


Reforma Psiquiátrica. Atividades culturais, políticas, acadêmicas, esportivas, dentre outras, promovem o
debate e instigam os atores sociais a participar e a refletir. São exemplos os eventos que comemoram o
dia 18 de maio como o Dia da Luta Antimanicomial, as alas de pacientes organizadas em escolas de
samba no Carnaval, camisetas com frases sobre a loucura, televisões e rádios comunitárias, grupos
musicais, teatro do oprimido, etc. Todo esse incentivo à participação da sociedade nas discussões
sobre saúde mental se deu desde os primeiros eventos que marcaram o início do processo de Reforma
Psiquiátrica no Brasil: Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental; 8ª Conferência Nacional de
Saúde; Constituição de 1988; Lei 8.080; as três Conferências Nacionais de Saúde Mental (1987,1992,
2001), entre outros.

Uma vez associado o campo da saúde mental e atenção psicossocial à ideia de um processo
social complexo que abrange uma integralidade cada vez maior, Amarante aponta alguns caminhos
e tendências das políticas a esse respeito no Brasil, indicando a utopia como um objetivo e um
projeto de luta para A CONSTRUÇÃO DE UM NOVO LUGAR SOCIAL PARA AS PESSOAS EM
SOFRIMENTO MENTAL.

Nesse intuito, o autor observa a complexidade e riqueza das ações e inter-relações entre as
dimensões que analisou anteriormente através de ALGUNS EIXOS FUNDAMENTAIS:

13
14
Eixos Como acontece Prerrogativa Adendo
-A crise resulta de uma
série de fatores que
Em serviços de atenção envolvem terceiros (e não
psicossocial (CAPS), estruturas uma situação de grave -Ver Portaria 336 que institui
Atenção à crise e flexíveis e multiprofissionais, de disfunção que precisa ser as diferentes modalidades
os serviços de base territorial, que possibilitam “domada”); de CAPS;
atenção acolhimento e o cuidado -Qto mais de base -Atuar no território significa
psicossocial organizado em rede (rede de territorial, mais os serviços transformar o lugar social da
relações entre sujeitos), na lógica atuam no espaço social (e loucura.
da tomada de responsabilidade. tb mais precisam
considerar a
intersetorialidade).
-Depois de mts anos
vivendo institucionalizadas,
muitas pessoas ñ querem Ver Lei 10.708 e Portaria
Subsídios financeiros +
sair da instituição, muitas ñ 106, que versa sobre os
residências em diferentes graus
têm família ou mesmo suas “serviços residenciais
Residencialidade de complexidade (depende da
famílias ñ mais as desejam terapêuticos”.
e processo de autonomia das pessoas) +
em casa;
desinstitucionaliz acompanhamento de equipes
-O processo de OBS: Amarante chama
ação multiprofissionais que ajudam na
desinstitucionalização atenção p/ o risco de
construção de autonomia e
promove uma institucionalização das
independência.
transformação radical se os residências.
pacientes são envolvidos e
implicados.
O trabalho é uma
Projetos de geração de renda estratégia de cidadania, Ver Lei 9.867, que institui as
Cooperativas, para pessoas em autonomia e de cooperativas sociais.
centros de acompanhamento na rede, emancipação social (e ñ
convivência e geralmente através de uma atividade terapêutica OBS: é uma iniciativa de
empresas sociais cooperativas ou empresas prescrita, orientada, ou inclusão pelo trabalho e pela
sociais. uma forma de recreação p/ geração de renda.
ocupar o tempo ocioso).
Prestar atenção primária -É tb uma estratégia de
em saúde promove saúde desmedicalização:
Uma equipe (1 médico e possibilita reverter o a) pq oferece alta
generalista + 1 enfermeiro +1 aux modelo assistencial capacidade resolutiva
enfermagem +4 a 6 agentes de predominantemente (dispensa enc.p/ outros
saúde) acompanha 800 famílias biomédico, centrado na dispositivos, desestimulando
promovendo saúde, defesa da doença e no tto. No âmbito uma carreira de doente);
vida, educação da comunidade e da saúde mental, a b) evita iatrogenias
Estratégia Saúde
desenvolvendo práticas de estratégia saúde da causadas por interesses
da Família
pensar e de lidar com saúde. P/ família, alcança a médico-industriais
conduzir casos de saúde mental, radicalidade da -Trabalha na lógica de
passam por capacitação e desinstitucionalização. complexidade invertida (tem
recebem “apoio matricial” de Os problemas de uma dispositivos simples de
equipes compostas por comunidade não são cuidado, mas não por isso
profissionais de saúde mental. necessariamente desqualificados; há portanto
problemas médico- complexidade na rede
sanitários. básica)

15
EXERCÍCIOS

1) Assinale a alternativa correta no que diz respeito ao campo da saúde mental e atenção psicossocial,
tal como proposto por Paulo Amarante:
(a) é um campo plural marcado por relações profundamente horizontais;
(b) é um campo polissêmico que se preocupa em não reduzir as possibilidades de existência dos
sujeitos;
(c) é um campo que se refere diretamente ao trabalho em hospícios, ambulatórios e emergências
psiquiátricas;
(d) é um campo paradigmático que trabalha na lógica de uma verdade única e definitiva.

2) Indique a opção que mais se aproxima da lógica paradigmática da Grande Internação do século XVII:
(a) humanização dos espaços de enclausuramento;
(b) medicalização da experiência de loucura;
(c) controle e disciplina social;
(d) prestar caridade às pessoas mais necessitadas.

3) A tríade que pode ser corretamente associada ao movimento alienista do final do séc. XVIII é a
seguinte:
(a) hospício – alienação mental – isolamento;
(b) medicalização do hospital – sujeito – tratamento moral;
(c) segregação – nosografia – caridade;
(d) médico – filantropia – olhar sobre a doença.

4) Assinale a alternativa que melhor contextualiza o tratamento moral preconizado por Pinel:
(a) trabalho nas lavouras agrícolas nos moldes das grandes colônias para redimissão dos pecados
morais;
(b) isolamento, hábitos disciplinares e regrados para reequilibrar terapêuticamente as paixões;
(c) institucionalização e trabalho remunerado para reeducação da mente no caminho dos bons
costumes;
(d) perda da liberdade, hábitos disciplinares e educativos para refrear a tendência à racionalização
excessiva.

5) De modo geral, os desdobramentos que se seguiram às duas guerras mundiais acarretaram uma
comoção da sociedade frente à situação dos hospícios porque:
(a) se preconiza a internação em massa
(b) há uma opção política pela segregação
(c) se retomam as práticas de bem-estares anteriores
(d) estes evocam os campos de concentração
(e) há um consenso na política social e econômica em relação à saúde mental

6) Os movimentos internacionais de Reforma Psiquiátrica atuaram, segundo Paulo Amarante, em três


frentes. Uma delas visava adequar ou ajustar o modelo assistencial asilar incluindo todos da instituição
no tratamento englobando então as experiências de comunidade terapêutica na Inglaterra e a
psicoterapia institucional na França. Uma outra frente procurou modernizar o modelo de assistência
asilar através da implantação de alternativas extra-hospitalares. Quais foram as experiências que
caracterizaram essa frente, em particular?
(a) antipsiquiatria na Inglaterra e psiquiatria democrática na Itália;
(b) psiquiatria de setor na França e psiquiatria preventiva nos EUA;
(c) antipsiquiatria na Inglaterra e psiquiatria preventiva, nos EUA;
(d) antipsiquiatria na Inglaterra e psiquiatria de setor na França.

7)A Psiquiatria Preventiva americana tem como elementos significativos, além da teoria da crise, as
ideias de:
(a) intervenção precoce e despotencialização do hospital psiquiátrico;
16
(b) prevenção e escuta polifônica;
(c) desordem mental e atendimento centrado no doente;
(d) padrão de conduta e promoção da saúde.

8) Colocar entre parênteses a doença mental é deixar em suspensão o conceito biomédico


fundamentado no modelo das ciências naturais que dá sustentação à psiquiatra. Este ato permite entrar
em contato com a experiência dos sujeitos e constatar:
(a) de fato uma desordem mental com o sintoma em sua forma pura;
(b) o duplo da doença mental com os preconceitos e estigmas construídos ao longo da
institucionalização;
(c) a baixíssima aderência ou engajamento dos pacientes numa relação transferencial;
(d) o sujeito que sofre por estar submerso nas iatrogenias institucionais

9) A reorientação do modelo assistencial da saúde mental e atenção psicossocial no Brasil abarca


diferentes estratégias para melhor circunscrever o campo social complexo em que se dá. Assinale o
circuito que está em acordo com esta afirmativa:
(a) ambulatório – emergência – internação – ambulatório – emergência – internação;
(b) emergência – internação – CAPS – emergência – internação;
(c) internação –residência terapêutica – emergência – internação;
(d) internação – residência terapêutica – CAPS

10)A Grande Internação foi uma das respostas do século XVII à seguinte situação:
(a) valorização do homem e emergência da ordem social medieval
(b) necessidade de tratamento dos desvalidos sociais
(c) tendência revolucionária de inclusão social
(d) desorganização social e crise econômica

11) Considerando-se os movimentos francês e inglês de reforma psiquiátrica, Psicoterapia Institucional


e Comunidade Terapêutica, respectivamente, não é correto afirmar que:
(a) subvertem a lógica da prática sobre a doença mental, que antes era predominantemente de
especulação sobre a doença
(b) ambos estavam preocupados com os efeitos nocivos da institucionalização da loucura
(c) propiciavam a coletivização das atividades, bem como a análise de todos na instituição
(d) preconizavam um ambiente institucional de tolerância e liberdade de comunicação
(e) foram dois marcos nos movimentos de reforma psiquiátrica

12) A Psiquiatria de Setor tentou romper com a centralização no hospital psiquiátrico, por meio de:
(a) deslocamento da atenção para serviços extra hospitalares e prevenção das doenças mentais
(b) investimento nos serviços psiquiátricos nos hospitais gerais e valorização da continuidade do
tratamento
(c) tratamento do hospital psiquiátrico e divisão das equipes de atendimento do paciente em função de
seu quadro clínico
(d) busca de uma assistência descentralizada em pequenas zonas e criação de uma multiplicidade de
serviços comunitários

13) A reforma psiquiátrica, na versão americana do plano de saúde mental do governo Kennedy,
propicia:
(a) total eficácia na desinstitucionalização a partir da construção dos Centros de Saúde Mental
Comunitária
(b) transformações assistenciais substanciais
(c) ampliação do território psiquiátrico para a comunidade
(d) predominância de atividades para cura e reabilitação
(e) questionamento sobre o arcabouço teórico da psiquiatria

17
14) É correto afirmar que o ato terapêutico da perspectiva da reforma italiana define-se como:
(a) ruptura da objetivação e cristalização no papel de doente, e no percurso lento e cotidiano da
restituição da sua subjetividade, através da desinstitucionalização da doença mental
(b) abordagem biopsicossocial, principalmente no que diz respeito à população de risco
(c) pedagogia institucional, calcada no modelo das comunidades terapêuticas
(d) aprimoramento das técnicas institucionais de modo a encarar a realidade dos problemas da loucura
(e) olhar clínico, ponto de partida de todo o planejamento terapêutico, primordialmente psicanalítico

15) O movimento italiano de reforma, iniciado com Basaglia, diferencia-se do movimento francês e do
movimento inglês através do seguinte aspecto:
(a) promove a territorialização
(b) confronta o hospital psiquiátrico para promover a desospitalização
(c) defende o princípio da democratização
(d) atrela o louco à idéia de periculosidade
(e) critica o paradigma psiquiátrico para promover uma ampla desinstitucionalização

16) Assinale a seqüência mais coerente com a lógica das transformações ocorridas no hospital desde a
sua criação na Idade Média:
(a) instituição de caridade – instituição filantrópica – instituição de base territorial;
(b) instituição de caridade – instituição disciplinar – instituição médica – instituição a ser superada;
(c) instituição religiosa – instituição de controle social – instituição extra-hospitalar;
(d) instituição filantrópica – instituição médica – instituição de controle social – instituição a ser negada.

17) No processo de reforma psiquiátrica brasileira os serviços são considerados tanto mais de base
territorial quanto mais forem capazes de:
(a) processar atendimentos à clientela que habita e trabalha em sua área de abrangência;
(b) desenvolver relações com os vários recursos existentes no âmbito de sua comunidade;
(c) desenvolver habilidades para atuar seu espaço geográfico;
(d) contribuir para definição dos perfis assistenciais de cada dispositivo da rede.

18)A dimensão estratégica de intervenção para o processo brasileiro de reforma psiquiátrica é:


(a) terapêutica;
(b) familiar;
(c) sociocultural;
(d) subjetiva.

19)A assunção da integralidade das questões relativas ao cuidado no campo da saúde de cada território
refere-se:
(a) à tomada de responsabilidade;
(b) ao acolhimento terapêutico;
(c) à escuta polifônica;
(d) à desinstitucionalização.

20)Um dispositivo de cuidados para efetivar-se como base territorial deve priorizar o princípio
estratégico de:
(a) atenção psicossocial;
(b) eqüidade;
(c) intersetorialidade;
(d) residencialidade.

21)Ao considerar a atenção básica em saúde como estratégia de desmedicalização, o autor se refere à
medicalização como:
(a) utilização de medicamentos para responder a toda situação entendida como patológica;
(b) predomínio de profissionais médicos nos dispositivos de saúde;
(c) intervenções médicas iatrogênicas capazes de produzir ou agravar doenças;
(d) apropriação por parte do sistema de todos os problemas da comunidade como médico-sanitários.

18
22)O princípio de intersetorialidade da política de saúde mental brasileira refere-se às estratégias que
perpassam:
(a) setores das políticas de assistência social e da saúde em geral e mental em especial;
(b) setores sociais tanto do campo da saúde quanto das políticas públicas em geral e da sociedade
como um todo;
(c) serviços da rede de saúde em geral e de saúde mental dispostos no território de abrangência;
(d) serviços comunitários de atenção básica em saúde mental.

23)A utilização de recursos como assembleias, reuniões de equipe, clubes de pacientes, escuta
polifônica, acolhimento, adotados como desmontagem da lógica manicomial é característica do
movimento de:
(a) comunidade terapêutica;
(b) psicoterapia institucional;
(c) psiquiatria democrática;
(d) psiquiatria de setor.

24)O processo de reforma psiquiátrica que continha em si a luta contra a hierarquização ou


verticalidade dos papéis sociais, imprimindo em todos os atores a verve terapêutica foi:
(a) comunidade terapêutica;
(b) psicoterapia institucional;
(c) saúde mental comunitária;
(d) coletivo terapêutico.

25)Ao conjunto de estratégias do movimento de reforma da psiquiatria democrática para tomar o lugar
das instituições clássicas aplica-se a expressão:
(a) serviços alternativos;
(b) serviços paralelos;
(c) serviços estratégicos;
(d) serviços substitutivos.

26)O conceito de crise construído a partir das noções de adaptação e desadaptação social que
permitiram a ampliação da ação da psiquiatria para além da noção mais restrita da doença mental foi
estratégica para o processo da:
(a) psiquiatria democrática;
(b) antipsiquiatria;
(c) psiquiatria preventiva;
(d) psiquiatria de setor.

27) A psiquiatria, no seu nascimento, postula o isolamento do louco, como:


(a) punição para a infração por ele cometida;
(b) garantia jurídica da sua liberdade;
(c) sequestro da sua cidadania;
(d) condição para tratá-lo.

28) A antipsiquiatria se afirmou como expressão do movimento de reforma psiquiátrica ao assumir a


seguinte posição:
(a) refutar a explicação sociogenética da doença mental;
(b) questionar a própria doença mental e a psiquiatria;
(c) propor o fim da psiquiatria;
(d) postular a divisão do eu.

29) Dentre os eixos propostos por Amarante para circunscrever a riqueza do campo da saúde mental e
atenção psicossocial no Brasil estão os CAPS, os serviços residenciais terapêuticos, os projetos de
geração de renda e estratégias de saúde da família, todos direcionados pela territorialização e tomada
de responsabilidade. Nesse contexto, é correto afirmar que:
(a) afirmam o trabalho da rede básica na lógica de uma complexidade invertida;
19
(b) o fato de serem fundamentalmente alternativos ao modelo assistencial tradicional, a lógica de
cuidado com base nesses eixos incita a participação da sociedade nas estratégias de cuidado
cotidianas;
(c) os CAPS são voltados exclusivamente para a recepção de uma clientela grave em quadro agudo a
fim de melhor realizar os encaminhamentos para o hospital psiquiátrico de referência;
(d) incluem de uma vez por todas a diferença subjetiva no corpo social.

30) No que tange à saúde mental e atenção psicossocial, atuar no território hoje, no Brasil, significa:
(a) Resgatar o potencial terapêutico manicomial também fora dos hospícios;
(b) Ressignificar o lugar social da loucura;
(c) Desmistificar a internação psiquiátrica;
(d) Diminuir a interferência de familiares e amigos de pacientes psiquiátricos na piora de seus quadros
psicopatológicos.

31) O objetivo principal de Amarante em seu livro “Saúde mental e atenção psicossocial” é:
(a) Discutir os efeitos das diferentes experiências de reforma psiquiátrica no mundo ocidental e
principalmente no Brasil;
(b) Organizar a história do nascimento da psiquiatria e dos manicômios;
(c) Construir um percurso que facilite compreender o lugar social almejado hoje para as pessoas em
sofrimento mental;
(d) Colocar a doença psiquiátrica entre parênteses a fim de bem compreender e apreender o duplo da
doença mental.

32) Dentre as estratégias desenvolvidas hoje no Brasil no campo da atenção psicossocial, assinale a
alternativa que mais se distancia das propostas das políticas de saúde mental:
(a) Implementação de estratégias de saúde da família;
(b) A implementação de serviços centralizados e bem especializados;
(c) As portarias 106 e 336, assim como a Lei 10.216 e a 9.867;
(d)O trabalho na perspectiva da tomada de responsabilidade.

33) O modelo tradicional de tratamento psiquiátrico resume-se muito bem na seguinte expressão:
(a) Hospitalocêntrico;
(b) Descentralizador;
(c) Complexidade;
(d) Correicional.

34) Compõem os mecanismos de institucionalização muito criticados e questionados pela


antipsiquiatria:
(a) Carreira moral; estigmatização; mortificação do eu;
(b) Complexidade da existência-sofrimento; trabalho prioritariamente no território;
(c) Tomada de responsabilidade; trabalho em rede de atenção psicossocial;
(d) Transversalidade de saberes, uma vez que promovem confrontos e debates inconclusivos.

35) Sobre os princípios da Psiquiatria Preventiva desenvolvida amplamente nos EUA como uma
experiência de reforma psiquiátrica, assinale a alternativa incorreta:
(a) Os serviços alternativos aos hospitais psiquiátricos transformaram-se em grandes captadores e
encaminhadores para os próprios hospitais psiquiátricos;
(b) Supunha-se que os princípios desenvolvidos e preconizados por Caplan nessa experiência deveriam
ser tal como uma bíblia;
(c) O trabalho de base comunitária visava o estabelecimento de equipes funcionando como consultores
comunitários, devendo intervir, entre outros, em situações de crise;
(d) Buscavam sempre romper com o paradigma fundante da psiquiatria tradicional.

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36) Assinale uma crítica pertinente à experiência de reforma psiquiátrica conhecida como Psiquiatria
Preventiva:
(a) Promoveu a medicalização da ordem social;
(b) Interrompeu o processo de desinstitucionalização que já vinha ocorrendo há muitos anos, desde
antes das duas grandes guerras mundiais;
(c) Priorizou as situações de crise evolutiva em detrimento das situações de crise acidentais;
(d) Impedia a evolução natural da doença mental ao priorizar a intervenção em situações de crise.

37) O modelo hospitalar da Idade Média pressupunha:


(a) Ordenação disciplinar do espaço social;
(b) Isolamento para fins de tratamento;
(c) Hospedaria filantrópica;
(d) A necessidade urgente de desinstitucionalização.

38) Pelo que dispõe a Lei 10.216|2001, mais conhecida como Lei Paulo Delgado, a internação
psiquiátrica involuntária deve ser:
(a) Decretada pelo Poder Judiciário em anuência com a autoridade sanitária municipal;
(b) Comunicada ao Ministério Público Estadual no prazo de setenta e duas horas;
(c) Compreendida pelo usuário e consentida por algum membro de sua família;
(d) Autorizada por médico inscrito no Conselho Federal de Medicina;
(e) Vedada a portadores de deficiência mental.

39) Os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) diferenciam-se em CAPS I, II, III, CAPSi e CAPSad e
devem desenvolver ao máximo uma atuação no território. Nesse sentido não é possível incluir a
seguinte alternativa:
(a) Construção de ateliês pelo espaço social, pela cidade afora;
(b) Promoção de alianças sociais com associações civis, comerciais;
(c) Disponibilização de leitos para atendimento à crise;
(d) Normatização da produção terapêutica adequando-a à norma social.

40) Sobre a estratégia de saúde da família, é incorreto afirmar que:


(a) Comporta como objetivo principal a reversão do modelo assistencial predominantemente biomédico
que prioriza a doença e o tratamento;
(b) Trabalha numa lógica de complexidade invertida, pois sustenta uma gama complexa de ações na
rede básica de atenção à saúde;
(c) Ter um olhar prioritário para as doenças dos doentes e assim evitar encaminhamentos para níveis
mais complexos de cuidado;
(d) Deve desestimular a carreira de doente tanto quanto a medicalização da vida.

41) O processo de reforma psiquiátrica brasileira considera rede de atenção como:


(a) articulação entre serviços de saúde no território;
(b) organização espaço-temporal das diferentes ações dos diversos atores;
(c) sistema sanitário global onde está inserido o dispositivo de atenção psicossocial;
(d) série de pontos de encontro, de trajetórias, de cooperação entre setores sociais envolvidos na
atenção.

Gabarito:
1)b; 2)c; 3)a; 4)b; 5)d; 6)b; 7)a; 8)b; 9)d; 10)d;
11)b; 12)d; 13)c; 14)a; 15)e; 16)b; 17)b; 18)c; 19)a; 20)c;
21)d; 22)b; 23)c; 24)a; 25)d; 26)c; 27)d; 28)b; 29)a;30)b;
31)c; 32)b; 33)a; 34)a; 35)d; 36)a; 37)c; 38)b; 39)d; 40)c; 41)d.

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