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para o
desenvolvimento
agrícola
dos países ACP
N.o 63
Outubro 2004
Formação agrícola
Um novo chão fértil 1
Transformação
Acrescentar valor
aumenta o lucro 3
Rastreabilidade
Um percurso sinalizado 4
PALOP 6
BREVES 8
REFERÊNCIAS 11
PUBLICAÇÕES 12
ENTRE NÓS 14
PONTO DE VISTA
A
criança aprende sempre os primeiros zindo simultaneamente mais? Como integrar-se
dos mercados europeus, tanto em
rudimentos de agricultura quando nos circuitos económicos mundializados? Para
matéria de preferências como em
acompanha os pais aos campos de responder a estas questões, as trocas de conhe-
relação às normas sanitárias e
cultura. Nos países ACP, esta aprendizagem fa- cimento no seio das famílias ou entre vizinhos
habituar-se a registar
miliar constitui ainda, quase em todo o lado, o já não são suficientes. Os procedimentos empí-
escrupulosamente como conduzem as
único modo de formação para a profissão de ricos, certamente bem adaptados ao meio, são
culturas. O seu ofício requer
produtor. Esta forma de transmissão de saberes demasiado lentos. Quando se encontra uma so-
capacidades cada vez mais variadas e
e de práticas deu provas durante muito tempo. lução, frequentemente já está ultrapassada. Lá,
complexas. Da formação de base à
À medida que a sociedade e a economia evo- onde a sida ceifa a geração dos activos, os mais
formação contínua ou à difusão da
luíam lentamente, os camponeses procuravam novos já não podem beneficiar da experiência
produção integrada, é um vasto
adaptar-se a estas mudanças. Actualmente as dos seus primogénitos. É igualmente o caso nas
campo onde tudo, ou quase tudo,
evoluções são muito rápidas ou mesmo brutais. regiões onde os conflitos provocaram desloca-
está por fazer.
Na maior parte dos países de África, os agri- ções prolongadas dos camponeses.
cultores deparam-se com mudanças e desafios Os intervenientes exteriores revelam-se in-
enormes: como alimentar uma população, so- dispensáveis para dar um impulso à formação.
bretudo urbana, que cresce rapidamente? Como Todos os peritos são unânimes em dizer que é
preservar os solos e os recursos naturais produ- urgente formar daqui a 30 anos uma nova ge-
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Formação agrícola •
ração de agricultores capazes de adoptar novas vide o país, assentava no mesmo princípio: lon- formação conjunta proposta pela Agricultura
práticas profissionais, à semelhança do que fi- gas discussões com a população rural para per- Rural e Modernização (APM África) e pelo
zeram os agricultores europeus do pós-guerra, mitir precisar os seus pedidos de formação e Centro de Investigação Agronómica para o De-
actores de uma verdadeira revolução agrícola. identificar os interessados. senvolvimento (CIRAD), para reforçar as suas
Mas se as grandes palavras não faltam, as ac- Assim, apercebemo-nos de que as preocupa- capacidades de intervenção na elaboração das
ções levadas a cabo permanecem ainda muito ções dos agricultores ultrapassam em muito as políticas agrícolas.
pontuais e apenas tocam uma porção ínfima de simples técnicas para melhorar a produtividade O outro eixo de reflexão diz respeito aos mo-
agricultores. Na maior parte dos países de das suas culturas. Desejam conhecer os merca- dos de aprendizagem dos agricultores. O agri-
África, todo o sistema de formação profissional dos e os preços, saber negociar e como se cultor apenas reterá e colocará em prática os co-
agrícola deve ser repensado e reconstruído. podem organizar em cooperativas… Todas as nhecimentos que lhe possam ser úteis. Sem
Os sistemas de vulgarização agrícola imple- estas questões preocupam-nos mais do que as uma forte motivação associada a um interesse
mentados após as independências caíram todos técnicas de cultivo. imediato para resolver um problema ou, indo
em desuso nos anos 80, com o fim das socie- Existem igualmente hoje em dia numerosas mais longe, para melhorar o seu futuro, os es-
dades de desenvolvimento às quais se encontra- profissões a montante e a jusante da agricul- forços de formação serão em vão. E para con-
vam frequentemente ligados. Considerados de- tura: aprovisionamento de factores de produ- vencer um agricultor frequentemente descon-
masiado dispendiosos, inadaptados e ineficazes, ção, armazenagem e transformação, gestão do fiado perante as novidades, nada melhor que
foram abandonados pelos parceiros de desen- crédito… Todas estas actividades para-agrícolas outro agricultor.
volvimento. Nada veio substituí-los à excepção, motivam os jovens mais instruídos. Considera- As viagens formam
durante algum tempo, dos projectos baseados das actividades mais valorizadas, poderiam dis- os agricultores
no famoso método “Formação e visita” enalte- suadi-los de partir para a cidade. No Senegal,
Isto explica o sucesso da
cido pelo Banco Mundial, que
formação dos agricultores
assenta numa rede de conse-
pelos próprios agricultores tal
lheiros no terreno e em agri-
como é praticada, por exem-
cultores retransmissores das
plo, nos Camarões. Recebido
mensagens. Embora mais pró-
em casa de um agricultor for-
ximo dos utilizadores, este sis-
mador, o produtor estabelece
tema adaptava-se mal à diversi-
ligações fortes com o seu
dade das actividades rurais.
alter ego com o qual trabalha
Actualmente, existem poucos
durante um mês. Posterior-
sistemas nacionais de formação
mente a estas viagens de es-
de agricultores. Apenas a for-
tudo, constatou-se uma difu-
mação de investigadores e de
são muito rápida de novos
quadros superiores ainda bene-
conhecimentos. As trocas de
ficia de financiamentos.
experiências entre campone-
Assiste-se actualmente, em
ses são sempre frutuosas
contrapartida, a um desenvol-
mesmo que tenham limita-
vimento de iniciativas levadas a
ções em matéria de inovação.
cabo por ONG e organizações
O importante é “abrir os sa-
camponesas. De natureza dis-
beres” e “encorajar o cruza-
tinta, defendem todas porém a
mento” como se pode ler no
necessidade de uma aborda-
estudo sobre aprendizagem,
gem participativa. Não se trata A formação das mulheres ilustrada por Barbara
publicado recentemente por Inter-Réseaux, um
mais de impor aos agricultores técnicas total- van Amelsfort que ganhou o 2,o prémio
do nosso concurso artístico (ver p. 14). local de trocas de experiências sobre o desen-
mente definidas. A participação de agrupa-
volvimento rural. É também por este motivo
mentos de agricultores na definição das suas o Centro Inter-Profissional de Formação para que as formações não se realizam mais em cam-
próprias necessidades tornou-se a regra. Mas as Profissões Agrícolas (CIFA) agrupa organi- pos experimentais ou em estações de investiga-
ainda é necessário que disponham de meios e zações camponesas, entidades privadas, estabe- ção, mas mais frequentemente nas parcelas dos
tempo. Assim, o Instituto de Investigação Agrí- lecimentos públicos e empresas fornecedoras de agricultores. Nos campos-escola da FAO, os
cola do Quénia (KARI), consciente do fraco factores de produção e de materiais. Assegura agricultores conduzem eles próprios as suas ex-
impacto dos seus trabalhos nos produtores lo- a formação contínua de conselheiros em agri- perimentações sobre as técnicas de cultivo.
cais, que apenas adoptavam em número muito cultura, próximos das preocupações dos pro- Estas experiências de formação multiformes
reduzido as soluções técnicas desenvolvidas, dutores e das experiências profissionais de cada mais próximas dos agricultores revelam-se fre-
lançou em 2000 uma iniciativa para responder um. Criado em 1995, o CIFA tem no seu ac- quentemente eficazes em pequena escala, mas
às necessidades tecnológicas ou de informação tivo uma melhor organização dos sectores do dificilmente conseguem, por falta de meios ou
dos agricultores (ATIRI). O projecto ajuda as arroz e do tomate no vale do rio Senegal e um de vontade política, estender-se a um país in-
comunidades rurais ou os agrupamentos de aumento significativo da produtividade. teiro. Os grandes organismos de ajuda tornaram-
agricultores a formular os seus pedidos junto O agricultor já não é considerado como um -se no entanto recentemente conscientes da ur-
dos diversos serviços agrícolas públicos ou pri- mero técnico a quem se deve ensinar a produ- gente necessidade de investir neste espaço, que
vados. Os instrumentos, serviços ou outros que zir mais, mas como um homem que deseja me- vai da escola primária à formação profissional.
lhes são então propostos são por conseguinte lhorar a sua vida social, cultural e económica, A organização das Nações Unidas para a Edu-
muito melhor adaptados e portanto valoriza- desenvolvendo as suas capacidades profissio- cação, Ciência e Cultura (Unesco), traçou, em
dos. Em quatro anos, foram directamente im- nais. Os líderes das organizações camponesas, colaboração com a FAO, um programa-piloto
plicados 15 000 agricultores de diversas locali- que representam os agricultores junto dos go- “Educação para as populações rurais” que ajuda
dades do país e lançadas dezenas de inovações. vernos e dos investidores, também têm neces- os países que desejem reforçar este sector. Os
sidades de formação. Cerca de vinte e cinco jovens e as mulheres são os alvos privilegiados.
Responder aos pedidos
responsáveis de organizações federativas locais, Segundo um estudo recente do Banco Mundial,
Na Costa do Marfim, o Centro das Profis- regionais ou nacionais da África Ocidental fre- uma melhor instrução primária para as mulhe-
sões Rurais, lançado há 10 anos, e considerado quentaram deste modo os seis módulos da res poderia fazer progredir a produção agrícola
um modelo na região antes do conflito que di- Universidade Rural Africana (UPAFA), uma em 24%. Talvez se deva começar por aqui.
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Transformação Juntar-se à onda
Mas o juntar-se a este sector não está isento
J
ane Nawuliro esticava um magro rendi- de 50% do comércio de NTAE seleccionados valor acrescentado através da exportação de
mento trabalhando horas a fio com uma (processados e parcialmente processados), e o mangas e ananás processados e da casca da al-
máquina de costura no canto de um potencial para crescimento futuro é considerá- farrobeira da Guiana (Hymenaea courbail),
quarto alugado. Hoje em dia ela dirige um vel. “As recompensas estão lá”, disse David também designada jatoba e conhecida pelas
próspero negócio, secando papaia, ananás e ba- Hallam, responsável do Tropical Products Ser- suas propriedades medicinais. Mas embora as
nana que vende à empresa ugandesa Fruits of vice da FAO, numa entrevista à Esporo. “Um análises dos mercados externos revelem boas
Nile, que está associada a uma companhia bri- processamento simples como a secagem, lava- oportunidades para estes produtos, a má em-
tânica de alimentos saudáveis. Nawuliro não gem e embalagem para a venda a retalho pode balagem e imagem do produto têm significado,
está sozinha no aproveitamento das oportuni- gerar um enorme valor acrescentado”. Carne até à data, uma penetração de mercado negli-
dades oferecidas pelo que os peritos de marke- preparada ou marinada rende muito mais do genciável.
ting designam de “factor de valor acrescentado”. que o produto cru. Legumes seleccionados, la-
Existem actualmente no Uganda cerca de 60 vados e bem apresentados são significativa-
destes secadores solares, metade dos quais ope- mente valorizados, e existe um forte potencial
rados por camponeses. de mercado para piripiri, ervas e especiarias lo-
Num número crescente de países ACP, os cais, quando processadas em produtos como
produtores estão a diversificar para produtos de molhos e condimentos. Nas Fiji, a viabilidade
valor acrescentado mais lucrativos. Novos em- de produzir produtos de valor acrescentado à
preendimentos, produzindo de tudo, das espe- base de peixe, como tiras ou palitos fritos e
ciarias aos cosméticos, estão a impulsionar as pasta de peixe, está a ser investigada.
economias rurais, onde a agricultura tradicio-
nal já não compensa. Em teoria, esta aborda- Experimentando produtos
gem é ideal para produtores rurais de pequena não alimentares
escala, oferecendo boas perspectivas de rendi-
O florescente mercado dos remédios e cos-
mento, e para o emprego local. Muitos dos em-
méticos naturais oferece um amplo leque de
preendimentos ugandeses de secadores solares
produtos de valor acrescentado. Para além de
expandiram-se empregando pessoal, como no
produzir mel, os apicultores podem usar a cera
caso de Nawuliro que emprega agora várias
da abelha para fazer cremes e amaciadores para
mulheres.
cabelo. No Mali e no Níger, os camponeses
estão a ganhar dinheiro com óleos essenciais
Pondo de lado o intermediário
extraídos da planta de vétivér.
No negócio de valor acrescentado, os pro- Acrescentar valor a um produto pode amor-
Foto: © Fruits of the Nile
dutores de pequena escala maximizam o seu tecer o choque da queda de preços. Os produ-
papel na cadeia de abastecimento, e por isso tores de Granada foram ameaçados por uma
aumentam a sua quota de lucro. Se certas con- acentuada descida no preço da noz-moscada
dições forem cumpridas, a globalização e a li- antes da Granada Cooperative Nutmeg Asso-
beralização do comércio podem oferecer aos ciation (GCNA) começar a diversificar em pro-
produtores ACP a possibilidade de aceder aos dutos com valor acrescentado. Uma destilaria
mercados internacionais. Em Granada, um para produção de óleo de noz-moscada gera Por contraste, o Jamaica Scientific Research
spray para aliviar as dores feito à base de noz- rendimentos anuais de 300 000 US$. A GCNA Council (SRC) desenvolveu com sucesso uma
-moscada, Nut-Med, é vendido na Internet a está a desenvolver também uma manteiga de gama de produtos de culturas locais, incluindo
mais de 500 000 utilizadores no Reino Unido noz-moscada, um subproduto da destilação. banana-pão e rodelas de fruta-pão e licores,
e Estados Unidos da América. “Tem um enorme potencial para a produção de compotas e geleias de azedas, goiaba e manga.
Segundo a Organização das Nações Unidas produtos terciários como sabões, champôs, cre- Os factores-chave neste sucesso foram a ajuda
para a Agricultura e Alimentação (FAO), o co- mes para a pele, gel, agentes de limpeza e per- técnica no processamento e no marketing, com
mércio de exportações agrícolas não tradicio- fumes”, afirmou Reginald Andall, do Caribbean marcas e embalagem. “Hope Gardens Sorrel
nais (NTAE) vale actualmente pelo menos Agricultural Research Development Institute – Chutney” é apenas um dos produtos de azedas
30 biliões de US$ anuais, e está a crescer. Os Instituto para o Desenvolvimento e Investiga- vendido como pãezinhos quentes na América
países em desenvolvimento representam cerca ção da Agricultura das Caraíbas – (CARDI). do Norte.
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Rastreabilidade
Um percurso
sinalizado
Para vender no mercado europeu será obrigatório, a partir de
Janeiro de 2005, poder seguir o percurso de cada planta ou
Fotos: © Syfia International
animal desde o campo até ao prato. Uma exigência
complicada e onerosa para os produtores dos países ACP, que
se debatem para cumprir as novas regras.
P
ara os países ACP, não há mais lugar os seus itinerários técnicos, a reduzir ou alterar
para hesitações, porque o cutelo está os seus tratamentos, a verificar ou reconstruir
prestes a cair: em Janeiro de 2005, a ras- as instalações de armazenagem dos produtos da
treabilidade será obrigatória para todos os pro- pesca e a instalar organismos de controlo. Pro-
dutos alimentares que entrem na União Euro- cedimentos estes que se revelam indispensáveis
peia (UE). Isto significa que se deve poder para que os exportadores sejam acreditados para
identificar a origem de qualquer produto ven- vender para a UE.
dido nos países da UE e refazer o seu percurso. Os países que se atrasaram já foram penali-
Do campo ou do estábulo ao prato, isto é da zados. Como é o caso de Cabo Verde cujos pei-
produção ao consumo, cada fruto, cada legume, xes e lagostas foram embargados durante três
cada peixe… é acompanhado em todas as eta- anos pelo facto de não respeitarem as normas
pas. Se um género alimentar se revelar impró- sanitárias, ou do Benin cujos camarões foram
prio, torna-se assim possível saber em que etapa rejeitados pela UE.
é que houve um problema e qual o produtor A rastreabilidade é uma exigência suplemen-
que está em causa, e conhecer a data de produ- tar. Dentro de alguns meses, todos os produ-
ção e o lote contaminado. Depois, encontrar as tos agrícolas, pecuários, da aquacultura ou da
mercadorias da mesma origem junto de outros pesca deverão ser cuidadosamente etiquetados
distribuidores e retirá-las rapidamente da venda. e identificados com documentos muito preci-
Os europeus são cautelosos e assim o campo sos, contendo todas as informações específicas
de aplicação desta exigência é muito vasto. De- a cada mercadoria, particularmente os diversos
verá ser possível reconstituir o percurso não só tratamentos fitossanitários aplicados, no caso
dos géneros alimentares mas também dos ali- das plantas, ou os medicamentos administra-
mentos para animais e de todas as outras subs- dos, no caso de animais.
tâncias susceptíveis de serem incorporadas na
alimentação dos homens ou do gado, e isto em Uma revolução cultural
todas as etapas da produção, da transformação Na UE, respeitar à letra estas medidas, que
e da distribuição. dizem respeito também à armazenagem e ao
acondicionamento, é por si só difícil, e a sua
Consumidores mais desconfiados aplicação sai cara aos pequenos agricultores.
Esta exigência muito pesada para os expor- Para os exportadores dos países do Sul, consti-
tadores dos países ACP junta-se às normas sa- tui um quebra-cabeças e é uma verdadeira re-
nitárias e aos limites máximos de resíduos volução cultural o que lhes é pedido. É preciso
(LMR) a respeitar por todos aqueles pretendam estar familiarizado com os textos e as directivas
vender na EU, sob pena de serem excluídos do comunitárias e saber lidar com tudo isso. Ao
mercado. Estas normas decretadas pela União agricultor que não sabe ler nem escrever, é-lhe
e em particular pela Direcção Geral de Saúde pedido um esforço colossal para anotar escru-
e Protecção dos Consumidores (DG SANCO) pulosamente tudo o que faz no seu campo: que
respondem às exigências crescentes dos euro- sementes utiliza? Em que data semeou? Qual o
peus em matéria de segurança alimentar. Entre adubo e o pesticida que aplicou? Em que datas?
outros escândalos, o das vacas loucas contri- Quando foi a colheita? Um verdadeiro diário
buiu para reforçar a desconfiança dos consu- de bordo da sua cultura.
midores. Inquietos pela sua saúde, pretendem Mas sem estes registos, o feijão-verde, as ba-
ter todas as garantias sobre o que comem. nanas, os amendoins ou os ananases destes
Os países ACP bem tentaram defender a sua agricultores nunca chegarão ao consumidor eu-
causa, invocando as dificuldades de pôr em prá- ropeu. Pois os distribuidores, que arriscam pe-
tica estas medidas, para que a UE reavaliasse as sadas multas ao colocarem à venda produtos
suas decisões ou atrasasse a sua aplicação. Tudo que não correspondam às normas, desejam ter
em vão. Numerosas normas, em particular todas as garantias do seu lado.
sobre os resíduos de pesticidas, encontram-se já Adaptar-se para continuar a exportar exige
em vigor, tendo forçado os produtores a rever assim investimentos importantes para os pro-
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• Rastreabilidade
dutores ACP, mas esta é a única solução para gras aos seus fornecedores. É o caso, por exem-
poder vender os seus produtos numa Europa “Este feijão tem uma mãe” plo, da EUREPGAP, uma associação que reúne
alargada a 25 países que compra actualmente produtores e retalhistas europeus. Estabelece
7 mil milhões de euros de produtos agrícolas A velha Alizèta, presidente do agrupa- um quadro de boas práticas agrícolas e define
aos países ACP. Para alguns, como os exportado- mento de mulheres de Sourgou em Bur- a norma mínima aceitável para a grande distri-
kina, explica a rastreabilidade à sua ma-
res de fruta e vegetais ou de produtos de peixe neira: “Este feijão tem uma mãe. Sabe-se
buição na Europa, que assegura 80% das ven-
da Namíbia e Senegal, o mercado da UE é vital. quantas vezes lhe deu o peito, como o ali- das de frutos e legumes frescos. Para satisfazer
Para assegurar a rastreabilidade, é necessário mentou e tratou. Francamente, pode-se a procura dos consumidores, estes operadores
proceder à reorganização da rede de abasteci- dizer que a história deste feijão é mais co- querem certificar-se de que oferecem aos seus
nhecida que a de uma criança da aldeia”.
mento e assegurar a formação dos agricultores. clientes produtos alimentares frescos, garanti-
Quando Seydou Zongo, o agente da União
Alguns exportadores já deram este passo, em de Cooperativas Agrícolas e Hortícolas do damente saudáveis. Impõem desde logo aos
particular as grandes empresas onde a produ- Burkina Faso (UCOBAM), veio explicar-lhes seus fornecedores critérios muito exigentes a
ção é cuidadosamente enquadrada. Tomemos o que deviam fazer, as mulheres pensaram respeitar em matéria de rastreabilidade, registo
o exemplo da Société d’exploitation de pro- que estava a fazer troça delas. Mas rapi- dos dados, gestão do solo, utilização de adubos,
damente o bom senso prevaleceu e apli-
duits agricoles et maraîchers (SEPAM), em caram à letra as suas instruções. tratamentos pós-colheita, etc.
Keur Ndiaye Lô, perto de Dakar, no Senegal. “Como os clientes europeus exigem todos Assim, pode-se ler no site da EUREPGAP
No seu grande entreposto, milhares de caixas estas mudanças, somos obrigados a se- que durante os tratamentos “os produtores
de tomate-cereja aguardam sair para França e guir”, reconhece Alizèta. Com a ajuda de devem estar equipados com vestuário de pro-
quatro secretárias do agrupamento, alfa-
Itália. As indicações nas embalagens são preci- tecção apropriado de acordo com as instruções
betizadas em francês, S. Zongo marca cada
sas. “O número no cartão da embalagem per- parcela, atribui um número a cada mulher, indicadas na etiqueta” ou “que um sistema de
mite reconstituir o percurso desde o local de indica a variedade plantada, precisa o registo deve ser definido para cada campo,
colheita até à Europa”, explica Jean-Réne Ter- adubo e os pesticidas utilizados, a data e pomar ou estufa a fim de permitir um registo
rasse, director de produção. “Cada parcela tem o número de colheitas… permanente das culturas e das actividades agro-
“Cada lote de feijões que exportamos
a sua marca identificadora, o que permite ana- nómicas levadas a cabo nesses locais”. Nos paí-
para a Europa é numerado. Pode-se saber
lisar tudo”, acrescenta Malick Mbengue, o “Se- em que parcela foi cultivado, por quem, ses ACP, apenas as grandes empresas conseguem
nhor rastreabilidade” da SEPAM. em que condições, que produtos foram vender para estas grandes cadeias de retalho.
Outros apressam-se para estarem prontos utilizados, etc.”, diz, com uma ponta de O cumprimento das normas sanitárias e da
orgulho, Rodolphe Djiguemdé, responsá-
antes da data fatídica. Diversos organismos, dos rastreabilidade é vital para os países ACP que
vel pelo departamento de qualidade e de
quais alguns financiados pela UE, ajudam os registo de proveniência de UCOBAM. Me- exportam para a Europa. Os produtores, muito
produtores a adaptar-se a estas novas exigên- tade dos 600 hectares de feijão-verde de distantes das preocupações dos consumidores
cias. É o caso, designadamente, da Comissão exportação do Burkina Faso estão prontos europeus, têm dificuldade em compreender a
para 2005. Estes esforços suplementares
de Ligação Europa-África/Caraíbas/Pacífico importância e o rigor e muitos apenas reagem
são pouco valorizados, como explica Dji-
(COLEACP) e o seu Programa Iniciativa Pes- guemdé, “o feijão que foi seguido passo quando forçados. Os dias estão contados e não
ticidas (PIP) (Ver Esporo 57) que ajuda as em- a passo não custa mais caro que os outros há escolha para garantir a quota de mercado.
presas privadas a atravessar esta difícil barreira. no mercado europeu. Os nossos esforços Como diz David Byrne, o comissário da pasta
não são incorporados nos preços. Permi-
Desde o final de 2003 que os consultores do da saúde e da protecção dos consumidores na
tem apenas manter-nos nesse mercado.”
PIP tem trabalhado com a associação de ex- UE, “ao ajudar os países em desenvolvimento
portadores da Jamaica e com empresas da Re- a respeitar as normas comunitárias de segu-
pública Dominicana, terceiro maior exportador rança alimentar, ajudamo-los simultaneamente
particular as pequenas estruturas locais para as
ACP de frutos e vegetais para a UE. a produzir produtos mais seguros para si pró-
quais os investimentos exigidos são muito gran-
No Quénia, os agricultores do centro do país prios”. Mas isso é outra história.
des e o tempo dado para fornecer a informa-
tiveram uma formação intensiva sobre rastrea- Ver Referências, p. 11.
ção requerida muito curto.
bilidade, de Maio a Setembro de 2004. Se-
gundo o director da Agricultura para a provín-
As normas dos importadores
cia, David King’ori, esta formação deverá Dos campos do Burkina Faso
permitir-lhes respeitar a data limite de Janeiro Como se isso não fosse suficiente, os impor- ao consumidor europeu a curta vida
de 2005. Mas nem todos o conseguirão, em tadores impõem por sua vez as suas próprias re- do feijão-verde é controlada
Fotos: © Syfia International
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Palop •
PRODUÇÃO INTEGRADA
Muitos agricultores tendem a crer que as pragas e doenças apenas podem ser controladas se, ao
primeiro sintoma de um ataque, correrem a pulverizar as suas culturas com pesticidas químicos.
M
as a experiência mostra que em ção que implica da parte do agricultor a ne- Observações nos talhões experimentais.
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• Palop
rais das pragas, sem esquecer à partida os
graus de tolerância”, dando exemplo da es-
pectacular recuperação de diversas fazendas
de café na Bahia (Brasil), onde se conseguiu
aumentar a resistência das plantações às pra-
gas e doenças mais importantes, através de
fertilizações equilibradas;
• na Esporo 57 o artigo intitulado A protecção
integrada na agricultura tropical aborda o
controlo das viroses da mandioca em Mo-
çambique e em S. Tomé e Príncipe;
• a ilustração deste artigo, retirada da publica-
ção abaixo referida, faz-nos compreender
que este exército de combatentes das pragas,
que trabalha gratuitamente a favor do agri-
cultor, deve ser poupado às agressões que o
uso indiscriminado de pesticidas de largo es-
pectro pode desencadear;
• a análise, em cada caso particular, da interac-
ção entre as pragas e os seus inimigos natu-
rais no campo cultivado, tem de ser sempre
o ponto de partida para qualquer actuação,
que pode passar pelo reforço da resistência da
cultura (actuando no seu equilíbrio vegeta-
tivo), pela criação de condições de cresci-
mento das populações de inimigos naturais
presentes (por ex.: através do “mulching”
para garantir a sua multiplicação), pelo uso
de insecticidas de origem vegetal (por ex.: ex-
tracto de folha de amargozeira – Azadirachta
indica ) ou pela utilização, se não houver
outra solução, de pesticidas químicos, mas es-
pecíficos em relação ao tipo de praga, com
efeito residual curto e, tanto quanto possível,
com interferência limitada sobre a população
Desenho de Edmund Opare (Gana)
1 – Besouro do solo; 2 – Mosca que paira no ar (larva e adulto); 3 – Asa redonda; 4 – Louva-a-Deus;
5 – Percevejo assassino (pulgão); 6 – Aranha caçadora; 7 – Joaninha; 8 – Vespa parasita; Empresa comercial
9 – Formiga predadora. premiada
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Breves •
A FAO lança ferramenta
para gestão
A palavra aos inventores rurais
da informação ■ Raros são os encontros onde os tar as suas pesquisas e as suas expe- cês hesitante, sempre com orgulho,
■ O Information Management agricultores são os principais prota- riências: 17 inovações originais e como conseguiram os resultados.
Resource Kit (IMARK) oferece
material pedagógico
gonistas. Mas no seminário-feira da eficazes das quais três foram pre- O público, constituído por agri-
informatizado completo para os inovação em Segou, no Mali, que miadas. cultores, investigadores e parceiros
cursos à distância sobre gestão de desenvolvimento, assistiu com
da informação agrícola. Criados
pela Organização das Nações
grande interesse a estas exposições
Unidas para a Alimentação e a muito concretas. Formaram-se rapi-
Agricultura (FAO) em conjunto damente grupos de trabalho por sec-
com outras organizações, os
tor em função das necessidades.
cursos IMARK são concebidos
como uma série de módulos em Todos concordaram num ponto:
CD-ROM, apoiados por um fórum como difundir estas inovações?
electrónico de discussão, que
Criando laços, convidando organi-
permite aos participantes trocar
opiniões, partilhar a informação zações de agricultores inovadoras,
e ajudar-se mutuamente. Os efectuando viagens de estudo, ac-
cursos interactivos em cinco tuando em associação com os media.
Foto: Ibrahim Tiemogo © CTA
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• Breves
✍ Adet Agricultural Research Centre
Uma ideia refrescante garante PO Box 08, Bahi Dar
Agricultores ensinam
agricultores
Etiópia
menores perdas Fax: +251 1 46 1294 ■ Zai la Sida é o nome de uma
associação de agricultores de
E-mail: fentahunmen@yahoo.com
Yattenga, uma região árida no
arrefecimento provo- norte do Burkina Faso, que
cado pela evapora- construiu na região, desde 1997,
ção para travar a
decomposição me-
As garras cinco escolas para ensinar outros
agricultores a praticar o zai
tabólica e a degra- mortíferas melhorado, uma técnica ancestral
de recuperação de solos. Os
dação fúngica. A cursos são gratuitos e começam
arca é constituída do desmodium em Janeiro após o fim dos
Ilustração: C. Ollagnon
trabalhos rurais. Têm a duração
por paredes du-
plas de tijolo se-
de folha de um dia e decorrem uma vez
por mês. Os agricultores-
paradas por um prateada -estudantes vêm de todo o
Burkina Faso. Na estação das
espaço de 15 cm
chuvas as escolas de campo são
cheio com areia
■ Os agricultores do Quénia têm mantidas pelos membros da
do rio molhada. A associação. A sua produção é
mostrado relutância em cultivar
areia é regada de ma- vendida para comprar os factores
Crotalari grahamiana, um arbusto de produção e o equipamento
nhã e ao final da tarde
muito útil para melhorar a fertili- necessário ao funcionamento da
■ Um dispositivo desenvolvido por para manter os valores de escola. Actualmente, o zai é
dade do solo, por receio de atrair
investigadores na Etiópia poderá temperatura e húmidade. Foram praticado por todo o Yatenga e
grandes populações de Amphicallia expandiu-se ao Níger e à Nigéria.
ajudar os produtores hortícolas a utilizados pimentos verdes e laran-
pactolicus, um insecto que se ali- Os campos encrostados estão
aumentar o tempo de conservação jas para testar a sua eficácia. Um novamente verdes e as culturas
dos seus frutos e vegetais e reduzir lote similar foi mantido à tempera- resistem melhor à seca.
as perdas devidas à deterioração. tura ambiente como controlo. Após
Adaptado de um modelo indiano, 9 dias, todos os produtos conserva- Boas novas para África
apresenta-se como uma grande arca dos à temperatura ambiente esta- ■ Foi criada, pela Associação
e utiliza materiais pouco dispendio- vam impróprios para consumo, en- Mundial de Rádios Comunitárias
(WACRB), com o apoio da FAO,
sos disponíveis localmente, como ti- quanto que 86,3% dos produtos uma agência de informação
giene e microbiologia. Aos forman- seja necessária a utilização de pes- um grande número de conflitos
dos foram também dados conselhos ticidas dispendiosos e nocivos. ligados ao pastoreio no Burkina
para melhorar o processo de produ- Logo que os insectos tocam na Faso. Outros feitos notáveis da
rede incluem a criação de
ção e a apresentação do produto Desmonium, ficam prisioneiros. As
caminhos para o gado, a
para venda: não armazenar amen- borboletas que acidentalmente poi- delimitação de zonas de
doim triturado, trabalhar em cima sem na árvore ficam presas nos pastoreio e o estabelecimento de
de uma mesa e não uma simples pêlos das folhas e do caule. De comités rurais de negociação.
tábua… se forem escrupulosamente forma idêntica, as larvas jovens à
Factores
seguidos pelos fabricantes e vende- procura de alimento e as mais de-
de produção locais
dores, a koba ravina pode conservar- senvolvidas prestes a metamorfo-
■ A higiene e a qualidade dos pro- ■ Não é mais necessário ir até à
-se 3 dias à temperatura ambiente e sear-se ficam presas nesta armadi-
cidade comprar fertilizantes,
dutos alimentares tradicionais ven- 10 dias se for refrigerada, e isto sem lha. Utilizada em rotação, a C. basta ir à loja de factores de
didos nas ruas deixam muito a de- risco para o consumidor. Os fabri- Grahamiana, que fixa o azoto, é produção da sua aldeia e
sejar, apesar de poucos parecerem cantes adoptaram estas medidas ra- capaz de fornecer a quase totali- comprar o que for necessário.
A Fedération des producteurs
importar-se com isto. Contudo, por pidamente. Os muitos fabricantes e dade do azoto necessário às cultu- du Niger – Federação dos
vezes basta pouca coisa para os me- vendedores de alimentos tradicio- ras subsequentes, milho neste caso, Produtores do Níger – que
lhorar. Foi o que demonstrou o Ins- nais existentes nas ruas de África po- para os agricultores quenianos. representa 300 agrupamentos, já
titut Pasteur de Madagascar (IPM), diam seguir o seu exemplo por Fornece ainda lenha e desempenha criou 17 lojas deste tipo, muito
apreciadas pelos agricultores que
que analisou 120 amostras de koba forma a assegurar melhor qualidade um importante papel na luta con- aí encontram também conselhos
ravina, um bolo popular feito à base e preservação da comida de rua. tra as ervas daninhas. e formação.
ESPORO 63 • PÁG. 9
Breves •
Fertilizante
de jacinto-d’água
Tisanas secretas
■ Agora que o jacinto d´água
pode ser usado para fabricar ■ Em numerosos países ACP, as
composto, os horticultores das plantas medicinais fornecem remé-
margens do Níger estão a limpar dios ao alcance das comunidades
rapidamente o rio desta planta
invasora. Actualmente, 13 locais. Elas representam igualmente
cooperativas de horticultores um ganha-pão para os pequenos
produzem o composto. A técnica produtores, preservando ainda a
é simples. Primeiro, cava-se uma
biodiversidade. Na África do Sul,
fossa na qual se lança palha,
depois o jacinto d’água investigadores pensam que três
finamente cortado e, finalmente, plantas da província do Cabo
individuais de sementes miúdo, milho e sorgo. Foram fei- mina. A Arabidopsis thaliana tem a
melhoradas. O serviço nacional
de sementes do Mali (SSNM)
tas sessões de demonstração em vantagem de se reproduzir natural-
fornece as sementes aos diversas regiões do país. Foi editado mente por autopolinização mas
produtores, supervisiona o um guia de utilização na língua sendo androestéril a sua expansão
processo de produção e local, mostrando as vantagens des- pode ser facilmente controlada,
certifica-as. Em seguida, a AOPP
compra as sementes que são tes silos que reduzem consideravel- afirmam os cientistas que a desen-
vendidas nas lojas das aldeias. mente as perdas pós-colheita. volveram.
ESPORO 63 • PÁG. 10
• Referências
E por último, se deseja saber
É
sempre indo à fonte que se jante. Felizmente que há organis- et pays et territoires d’outre-mer
consegue a melhor infor- mos para ajudar os países ACP a de- (SFP) – Melhoria do estado sanitá-
Para mais informações:
mação. Então, comece por cifrá-las e sobretudo a implementá- rio dos produtos da pesca para os
consultar o dossier sobre a segurança -las. Se está no sector hortícola, o países ACP e países e territórios do
Codex alimentarius
ultramar –, que visa facilitar o acesso www.codexalimentarius.net/web
destes países aos mercados europeus
COLEACP
melhorando os controlos sanitários www.coleacp.org
à exportação. Para obter informa- Unité de Gestion du Programme
ções concretas sobre as condições de Initiative Pesticides (UG/PIP)
98, rue du Trône (boîte 3)
acesso a estas ajudas é necessário
1050 Bruxelles
contactar as delegações da UE. Belgique
Mais abrangente é o Mécanisme Fax: +32.2.514.06.32
pour l’élaboration des normes et E-mail: pip@coleacp.org
ESPORO 63 • PÁG. 11
Publicações •
Microcrédito, grandes
necessidades
Luta integrada: passar a palavra
■ As instituições de microfinança Os agentes de vulgarização
tem desempenhado nos últimos
quinze anos um importante agrícola enfrentam um ver-
papel de financiamento das dadeiro desafio: ajudar os pequenos
actividades rurais, mas continuam
agricultores a aumentar a sua pro-
de uma forma global mal
adaptadas às necessidades dução alimentar a custo reduzido,
especificas do sector agrícola e preservando simultaneamente os
em particular das pequenas
explorações familiares. O que
recursos naturais. Que não é tarefa
pode ser feito, atendendo a que fácil, sabe quem se dedica a este
a liberalização obriga a que se trabalho. Os parasitas e as doenças
adaptem e se modernizem? Um
CD-ROM bilingue (francês e são um dos problemas que mais
inglês) reúne as actas do preocupam os agricultores, e mui-
seminário de Dacar de 2002 e tos deles acreditam que a única so-
apresenta as conclusões do
programa de investigação lução efectiva é pulverizar com pes- 38 pp.
“Microfinança e agricultura ticidas químicos. Este conjunto de ISBN 9956 17 002 X / 9988 0 1085 0
familiar” conduzido pelo CIRAD N.o CTA 1192 (francês) / 1180 (inglês)
quatro pequenos livros procura 10 unidades de crédito
e pelo Comité d’échange, de
réflexion et d’information sur les ajudar os agentes de vulgarização
systèmes d’épargne et de crédit na tarefa, por vezes difícil, de pas- Guide n.o 2: La pratique de la lutte
(CERISE), uma rede com base em intégrée dans la production de
França visando a promoção do
sar a palavra sobre a luta antipara- céréales et de légumineuses /
microfinanciamento. sitária integrada, actualmente con- Integrated pest management
siderado o método mais eficaz em practices for the production of
Le financement de l’agriculture
cereals and pulses
familiale dans le contexte de la matéria de protecção fitossanitárias
libéralisation. Quelle contribution 64 pp.
de la microfinance? / The preservando o ambiente. ISBN 9956 17 003 8 / 9988 0 1086 9
financing of family farming in the Estes guias (em francês e inglês), N.o CTA 1193 (francês) / 1178 ( inglês)
context of liberalisation. What 10 unidades de crédito
escritos por Anthony Youndei, um
can be the contribution of
microfinance? dos melhores agentes de vulgariza- Guide n.o 3: La lutte intégrée en
Por B. Wampfler, C. Lapenu ção da luta integrada em África, ex- production des plantes à racines et
e M. Roesch tubercules et des bananiers plantains /
põem os princípios-base do mé- Integrated pest managements
Actes du séminaire international
de Dakar / Results from the todo, descrevendo de seguida as practices for the production of roots
and tubers and plantains
research programme and estratégias adaptadas às diferentes
international workshop 54 pp.
proceedings, 21 – 24 Janvier
categorias de culturas. Cada um ISBN 9956 17 004 6 / 9988 0 1087 7
2002, CD-ROM, CIRAD, 2003 destes pequenos livros identifica os N.o CTA 1194 (francês) / 1179 (inglês)
ISBN 2 87614 556 1 Guides de vulgarisation de la lutte 10 unidades de crédito
principais parasitas e doenças dum intégrée / Integrated pest
15 € – Librairie du CIRAD
TA 283/04, Avenue Agropolis
dado grupo de culturas, bem como management extension guides Guide n° 4: La pratique de la lutte
34398 Montpellier Cedex 5 os seus inimigos naturais. Redigidos Por A. Youdeowei intégrée en production maraîchère /
França – Fax: +33 4 67 61 55 47 Co-edição CTA/GTZ/MOFA/PPRSD Integrated pest management
numa linguagem cristalina, contêm 2004 practices for the production of
E-mail: librairie@cirad.fr
desenhos dos parasitas e dos seus vegetables
predadores. O seu formato prático Guide n.o 1: Principes de la lutte 56 pp.
Comunicar em Ciência intégrée: l’obtention de cultures ISBN 9956 17 005 4 / 9988 0 1088 5
■ É conhecida a dificuldade dos e cómodo permite levá-los nas visi- saines / Principles of integrated pest N.o CTA 1195 (francês) / 1177 (inglês)
jovens universitários na redacção tas de campo aos agricultores. management: Growing healthy crops 10 unidades de crédito
de um relatório, na preparação
de uma intervenção oral ou
ainda ao elaborar uma
dissertação de mestrado ou de
doutoramento. Tal sucede não Lidar com a doença do cacau
por falta de conhecimentos, mas
simplesmente porque não vocar estragos na produção de resultado da pesquisa. A equipa
aprenderam a exprimir-se.
cacau na Costa do Marfim, o também desenvolveu testes que
A presente obra, redigida na
sequência de um curso sobre maior produtor mundial de cacau. irão acelerar em muito a velocidade
redacção científica destinado aos Numa tentativa de conter esta com que são identificadas as plan-
investigadores dos PALOP,
organizado pelo CTA, que teve
doença de uma vez por todas, in- tas resistentes. Para além de pro-
lugar na Répública de Cabo vestigadores dos Camarões, Costa porcionar esperança para produ-
Verde em 2001, apoia passo a do Marfim, França e Trinidad uni- tores ameaçados pela doença, o
passo, ao longo dos seus nove
capítulos, quem pretenda ram forças para encontrar formas projecto e a investigação dele re-
transmitir não apenas as suas de produzir árvores do cacau com sultante proporcionam também li-
ideias com rigor, mas levar a sua maior resistência ao Phytophtora. ções e técnicas para prevenir outras
exigência mais longe, produzindo
também (porque não?) belos Este livro (em inglês) é o resultado doenças do cacau, tais como a vas-
textos. de um projecto de 5 anos, que teve soura de bruxa, monília, e Oncoba-
Comunicar em Ciência – como como base o centro francês de in- sidium theobromae.
redigir e apresentar trabalhos
vestigação Centre de coopération Improvement of cocoa tree resistance
científicos
Por Madeira, Ana Carla ■ Todos os anos, até 30% das co- internationale en recherche agro- to Phytophthora diseases
e Maria Manuel Abreu lheitas mundiais de cacau perdem- nomique pour le développement Por C Cilas & D Despréaux (eds.)
Escolar Editora, 2004, 155 p. CIRAD, 2004. 176 p.
ISBN 972 592 165 8 – 10,5 €
-se devido ao míldio, uma doença (CIRAD). Os cientistas fizeram ISBN 2 87614 562 6
Escolar Editora causada por diversas espécies do gé- grandes progressos nos seus esfor- € 23 – CIRAD – TA 283/04
Rua do Vale Formoso, 37 nero Phytophtora. A espécie mais ços para produzir árvores de cacau Avenue Agropolis
1949-013 Lisboa, Portugal 34389 Montpellier Cedex 5 – França
Fax: + 351 218 681 183 virulenta e que maiores prejuízos com maior resistência, e algumas va- Fax: +33 4 67 61 55 47
E-mail: dinternal@dinternal.pt causa, a P. Megakarya, está a pro- riedades já foram plantadas como E-mail: librairie@cirad.fr
ESPORO 63 • PÁG. 12
• Publicações
ESPORO 63 • PÁG. 13
Entre nós •
Concurso artístico
As mulheres e a informação
antes de mais
P
arece que o apelo, lançado na Esporo
57, que encorajava a participação fe-
minina no concurso artístico organi-
zado pelo CTA por ocasião do seu vigésimo
aniversário, foi ouvido. Os primeiros prémios
foram de facto concedidos a duas laureadas.
A única condição para a participação era estar
implicado no sector do desenvolvimento rural
num país ACP/EU.
“Quando tomei conhecimento através de
um colega que o CTA organizava um concurso
de desenho, não hesitei.” É com o encoraja-
mento dos seus quatro filhos que esta mãe de 1.o prémio
família do Togo se lançou ao trabalho seguindo rido neste número, no artigo sobre a formação
a sua inspiração: “Fiz o que pensei”, confessa a (ver página 2).
A revista Esporo Sr.ª Marceline Srakassou, custando-lhe a crer As duas laureadas, através das suas criações,
Informação
para o
N.o 63
Outubro 2004
ter ganho o primeiro prémio. Tinha, contudo, mostraram-se sensíveis à comunicação, à circu-
bimestral do Centro
Formação agrícola
Um novo chão fértil
Transformação
Acrescentar valor
aumenta o lucro
Rastreabilidade
Um percurso sinalizado
PALOP
BREVES
1
8
todas as hipóteses de o alcançar, uma vez que lação de informação e à troca de experiências,
Técnico de Cooperação
REFERÊNCIAS 11
ENTRE NÓS 14
PONTO DE VISTA
Foto: C. Fovet © CIRAD
Organismos geneticamente
modificados
África, a nova fronteira? 16
Um novo chão
A formação dos
agricultores está no
coração deste número da
A
criança aprende sempre os primeiros bretudo urbana, que cresce rapidamente?
relação às normas sanitárias e rudimentos de agricultura quando Como preservar os solos e os recursos naturais
pelos Acordos de
único modo de formação para a profissão de
complexas. Da formação de base à vizinhos já não são suficientes. Os procedi-
produtor. Esta forma de transmissão de saberes
formação contínua ou à difusão da mentos empíricos, certamente bem adaptados
e de práticas deu provas durante muito tempo. ao meio, são demasiado lentos. Quando se en-
produção integrada, é um vasto
À medida que a sociedade e a economia evo- contra uma solução, frequentemente já está ul-
campo onde tudo, ou quase tudo,
luíam lentamente, os camponeses procuravam trapassada. Lá, onde a sida ceifa a geração dos
está por fazer.
adaptar-se a estas mudanças. Actualmente as activos, os mais novos já não podem beneficiar
evoluções são muito rápidas ou mesmo brutais. da experiência dos seus primogénitos. É igual-
Na maior parte dos países de África, os agri- mente o caso nas regiões onde os conflitos pro-
cultores deparam-se com mudanças e desafios vocaram deslocações prolongadas dos campo-
enormes: como alimentar uma população, so- neses.
ESPORO 63 • PÁG. 1
ESPORO 63 • PÁG. 14
• Entre nós
A
nna Sherwood integrou durante lândia. O seu itinerário ilustra o seu gosto pela
CTA
cerca de dois anos a equipa de todos mudança. Britânica de nascença, deixa a Eu- PO Box 380
e todas que, no CTA, trabalham nos ropa para ir estudar inglês e história no Ca- 6700 AJ Wageningen
bastidores para que a Spore/Esporo seja uma re- nadá, na Universidade de Toronto. Em 1993, Pays-Bas
Fax: + 31 317 460067
vista de qualidade, irrepreensível e atraente, no regressa ao velho continente. Anna Sherwood
E-mail: spore@cta.int
conteúdo e no estilo. Coordenadora do pro- será a responsável, no seio do Departamento
grama das publicações institucionais no seio do das Florestas da FAO, em Roma, pelas publi- Assinatura da Esporo
Departamento de Produtos e Serviços de In- cações da Unidade de Florestação Comunitária ■ Para receber a versão impressa
formação, animou com os seu dinamismo co- e do programa internacional • A assinatura é gratuita para as
municativo e sorridente a equipa responsável Arbres, forêts et communau- organizações e pessoas residentes nos países
ACP (África,
pela redacção da Spore/Esporo, nas suas versões tés rurales – Árvores, flo-
Caraíbas e Pacífico) e na UE:
impressa e electrónica e pelo Relatório Anual restas e comunidades CTA Spore subscriptions,
do Centro. Muito profissional, sempre fiável e rurais. A Itália apenas a PO Box 173
aparentemente imperturbável, foi assim que reterá durante oito 6700 AJ Wageningen
Pays-Bas
Anna cumpriu a sua missão no CTA. anos. Rumo a Norte ou spore@cta.int
Paixão pelas publicações e amor pelo rigor, para a Holanda e • A assinatura é paga para os restantes
a Anna também adora cinema e viajar. Foi a Wageningen. Para endereços: 36 € por ano (6 números):
esta segunda paixão que acabou por ceder. Em onde quer que Assinatura a subscrever junto do distribuidor
comercial (ver em baixo).
Julho, partia para uma viagem de vários meses vá, após o seu
■ Receber o resumo gratuito por e-mail
pela Ásia, Austrália e Nova Zelândia. Um pos- regresso de Subscreva a edição e-mail (90 kb) em:
tal da China, em Agosto, dava-nos conta que viagem, de- http://esporo.cta.int
tinha escalado a Grande Muralha, explorava sejamos-lhe ou envie um e-mail em branco para
Pequim e que a sua próxima etapa seria a Tai- boa sorte. join-esporo-pr@lists.cta.int
Para a versão unicamente de texto:
join-esporo-text-pr@lists.cta.int
■ Leia a Esporo no seu ecrâ
• na internet: spore.cta.int
@
nhecimentos para partilhar. Mas alguns Reproduza a Esporo com autorização
deles parecem incapazes de transmitir as • Para fins não comerciais, os artigos da
suas ideias sem utilizarem camadas im- Esporo podem ser livremente reproduzidos
penetráveis de gíria técnica. E isso é uma sob a condição de ser mencionada a fonte.
pena, visto que a boa comunicação pode Agradecemos o envio de uma cópia para a
contribuir muito para o melhoramento redacção.
da produtividade e da segurança ali- • Para fins comerciais terá de ser solicitada
mentar. autorização prévia.
ESPORO 63 • PÁG. 15
Ponto de vista •
África, a nova
fronteira?
Marian Mayet é uma jurista ambiental
e directora do African Center Em África, a engenharia genética está a fazer incursões, muitas
for Biosafety (ACB) – Centro Africano
para a Biossegurança, uma ONG vezes sob a forma de ajuda alimentar e ao desenvolvimento.
sediada em Joanesburgo. O ACB está
empenhado em expor os riscos que
À medida que o debate sobre GM aquece, um crítico apela a
declara serem colocados pela mais transparência e mais consulta aos agricultores e aos
engenharia genética no continente
africano. consumidores africanos.
A
engenharia genética fez uma entrada ços internos. Os agricultores locais podem de- de desenvolvimento como a US Agency for In-
rápida na agricultura dos Estados sistir de produzir excedentes, forçando os go- ternational Development (USAID) – Agência
Unidos, Argentina, Canadá, China, vernos a importar o défice produtivo. Em al- dos Estados Unidos para o Desenvolvimento
Brasil e África do Sul, sendo estes países res- ternativa, pode levar um governo a negligenciar Internacional – que têm por objectivo ajudar os
ponsáveis por 99% das culturas geneticamente o seu próprio sector agrícola, contando com a países em desenvolvimento a aceder e dominar
modificadas (GM) produzidas globalmente. ajuda ou as importações em vez de promover o as ferramentas da biotecnologia moderna, em
Estes países cultivam culturas GM que são es- desenvolvimento agrícola local. Pode também particular a engenharia genética. Estas são ge-
sencialmente resistentes a certos herbicidas ou introduzir um gosto por um determinado ali- ralmente feitas em parceria com companhias
insectos. Futuras plantas transgénicas poderão mento, que não é produzido localmente, e con- que estão a desenvolver e a produzir culturas
oferecer um leque muito mais vasto de produ- sequentemente minar o potencial de longo GM. Assim, os críticos acusam estas iniciativas
tos, incluindo aplicações em terras montanho- prazo para auto-sustentabilidade. Crucial- de poder servir os objectivos de promover as
sas, florestas, jardinagem, nutrição, farmacolo- mente, a ajuda alimentar está intimamente li- culturas GM em África, sem a devida fiscaliza-
gia, controlo biológico, produção de químicos gada ao escoamento de excedentes alimentares ção em termos de biossegurança ou a partici-
industriais e bioterapêutica. altamente subsidiados para os povos mais vul- pação pública que estas tecnologias necessitam.
Os proponentes advogam que transferindo neráveis e pobres do planeta.
os genes de um organismo para o outro, a en- Sangrando o potencial tradicional
genharia genética pode ultrapassar os constran- Uma porta de entrada
Com demasiada frequência, a decisão de in-
gimentos produtivos da produção convencio- pelas traseiras
troduzir tecnologias GM em África é tomada
nal. Defendem que as culturas transgénicas irão O uso de alimentos GM na ajuda alimentar com pouco ou nenhum debate ou consulta às
reduzir o uso de pesticidas e aumentar a segu- deu uma nova dimensão ao debate. A ajuda ali- pessoas que irão sofrer as consequências – os
rança alimentar nos países em desenvolvimento. mentar GM é vista como providenciando uma agricultores e consumidores africanos. O for-
As culturas GM são assim frequentemente de- importante “porta do cavalo” para a introdução necimento de ajuda alimentar GM e a explo-
fendidas como resposta às necessidades de mi- de organismos geneticamente modificados são de iniciativas que promovem as culturas
lhões de pessoas que não têm alimento sufi- (OGM) nos países em desenvolvimento, espe- GM em África terão sérias consequências para
ciente. cialmente em África. Os riscos colocados pelos o futuro da alimentação e da agricultura, e para
alimentos GM são extremamente contenciosos, milhões de agricultores, no continente. As cul-
Qual a utilidade da ajuda
turas GM representam um risco para a saúde,
alimentar GM?
No meio deste entusiasmo pela engenharia
«A inocuidade ambiente e modos de vida, permitindo contudo
o controlo das empresas GM sobre a agricul-
genética tem havido pouco espaço para a refle- destes elementos tura. E no entanto, as culturas GM não são se-
xão crítica. O salto para a engenharia genética quer necessárias, sendo a riqueza e os conheci-
acarreta consigo um leque alargado de questões não foi mentos dos agricultores imensos.
sobre biossegurança, incluindo riscos para saúde Como os participantes da Southern African
e ambientais, e impactos socioeconómicos mais demonstrada» Bishop Conference – Conferência dos Bispos
amplos. Isto requer a aceitação dos direitos de da África Austral – disseram: “A assunção de
propriedade intelectual sobre organismos vivos, em primeiro lugar porque a indústria GM foi que necessitamos criar novas variedades de cul-
a privatização da investigação pública e investi- incapaz, até à data, de fornecer provas conclu- turas recorrendo às tecnologias de engenharia
gação e desenvolvimento dispendiosos a expen- sivas de que os alimentos GM são seguros. genética ignora o facto de que existe um po-
sas da inovação baseada no agricultor. Já por duas vezes irrompeu a controvérsia tencial não explorado na abundância de varie-
Ao invés, estamos a assistir a tentativas agres- sobre a remessa de ajuda alimentar GM em dades (de sementes) existentes. Em África, por
sivas, em especial por parte de certos países e da África. Durante a crise alimentar na África Aus- exemplo, conhecem-se mais de dois milhares
indústria da engenharia genética, para impor as tral em 2001/2002, a Zâmbia impôs uma in- de sementes, tubérculos, frutos e outras plan-
culturas GM em África sob a aparência de luta terdição sobre a aceitação de ajuda alimentar tas alimentares nativas. Estes têm alimentado as
contra a fome. O potencial das agro-indústrias GM, e diversos outros países da África Austral pessoas durante milhares de anos, mas a maio-
lucrarem com a fome em África, com o pretexto impuseram diversas restrições. Já este ano, An- ria não está a receber actualmente qualquer
do fornecimento de ajuda alimentar, assistência gola e Sudão introduziram restrições à ajuda ali- atenção científica”.
técnica, investimento de capital na investigação mentar GM. Estes países são quase sempre con-
agrícola, capacidade de empreendimento e fi- frontados com uma falsa escolha entre a E-mail: mariammayet@mweb.co.za
nanciamento de iniciativas de biodiversidade, é aceitação de alimentos GM ou enfrentar terrí-
enorme. veis consequências, enquanto que alternativas
A crítica mais frequente sobre a ajuda ali- não GM quase sempre existem a nível nacional, As opiniões expressas neste Ponto de vista
mentar refere-se ao seu impacto na segurança regional e internacional. são as do autor e não reflectem
alimentar local. A ajuda alimentar actua como Existem diversas iniciativas importantes a de- forçosamente as ideias do CTA.
um desincentivo ao provocar a descida dos pre- correr no continente, financiadas por agências
ESPORO 63 • PÁG. 16