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Motrivivência Ano XIX, Nº 29, P. 55-74 Dez.

/2007

A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO
EM EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO
INFANTIL NO CONTEXTO HISTÓRICO
DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE
FLORIANÓPOLIS (SC): levantamento
dos eixos teórico-metodológicos e
epistemológicos em documentos da Rede.

THE PRODUCTION OF KNOWLEDGE ABOUT PHYSICAL


EDUCATION IN CHILDREN EDUCATION AT FLORIANÓPOLIS
CONTEXT HISTORY: a survey of theoretical, methodological and
epistemological pillars in documents of the network education.

Carmen Lúcia Nunes Vieira


Francisco Emílio de Medeiros

RESUMO ABSTRACT
O texto apresenta um levantamento The text presents a survey of the
dos principais eixos teórico- theoretical and methodological major
metodológicos referentes à inserção pillars for the Physical Education in-
da Educação Física na Educação sertion in Children Education, related
Infantil, presentes em quatro in four documents of the network
documentos da Rede Municipal education at Florianopolis and in the
de Ensino de Florianópolis e na Deborah Sayão’s Master dissertation.
dissertação de mestrado de Débora There was a re-reading of those docu-
Sayão. Procedeu-se uma re-leitura ments based on a document analysis,
desses documentos com base numa combined with some elements of the
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análise documental combinada thematic analysis, a kind of content


com alguns elementos da análise analysis. The production was a table
temática, uma modalidade de análise with the synthesis of the major the-
de conteúdo. Daí decorreu um oretical and methodological pillars
quadro com sínteses dos principais from the thematic units that are more
eixos teórico-metodológicos a partir visible in the documents analyzed. At
de unidades temáticas que mais
the end, an analytical reading, extrac-
se sobressaem nos documentos
ted from thematic units in the table,
analisados. Por fim, uma leitura
analítica, extraída das unidades starts a reflection exercise about the
temáticas contidas no quadro, major theoretical and methodological
inicia um exercício de reflexão pillars that characterize the Physi-
sobre os principais eixos teórico- cal Education insertion in Children
metodológicos que caracterizam Education at the network education of
a inserção da Educação Física na Florianópolis.
Educação Infantil na Rede Municipal Key-words: Physical Education;
de Ensino de Florianópolis. Children Education; Content Analy-
Palavras-chave: Educação Física; ses; Theoretical and Methodological
Educação Infantil; Análise de Pillars.
Conteúdo; Eixos Teóricos-
metodológicos.

1. Uma re-leitura dos docu- na Educação Infantil se ampliou


mentos ao longo das últimas décadas e os
estudos dos temas desses debates
A Rede Municipal de Ensi- foram sistematizados em documen-
no de Florianópolis (RMEF) contem- tos elaborados pela própria RMEF.
pla a área/disciplina (o campo de Tais documentos são cadernos com
conhecimento) da Educação Física coletâneas de textos elaborados
no âmbito curricular da Educação por consultores, que a partir da
Infantil desde o ano de 1982. Essa formação continuada, oferecida aos
inserção da Educação Física esteve professores/as pela própria RMEF,
orientada por distintos propósitos sistematizam um texto sobre o
e (in)definições, no que se refere à tema debatido nos encontros das
presença desses profissionais, seu formações. Vale destacar também,
papel e seus programas de ação nessa linha de sistematização, a
(SAYÃO, 1996). pesquisa de mestrado desenvolvi-
O debate acerca da es- da pela professora Débora Sayão,
pecificidade da Educação Física que mesmo não constituindo um
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documento elaborado pela RMEF é tos a serem analisados será realizada


de suma importância, pois se trata por uma Análise de Conteúdo. De
de uma investigação que buscou conformidade com Minayo (2004),
compreender a natureza da inserção mais especificamente, utilizaremos
da Educação Física na Educação a técnica de Análise Temática que
Infantil no contexto da RMEF. é uma modalidade da Análise de
Dito isto, uma maneira de Conteúdo. Essa forma de análise
se abordar o que se fez, como se compreende que a idéia de tema
fez e porque se fez, em relação à “[...] está ligada a uma afirmação a
introdução da Educação Física na respeito de determinado assunto.
Educação Infantil da RMEF, é recor- Ela comporta um feixe de relações
rendo a alguns desses documentos, e pode ser graficamente apresentada
com o intuito de captar alguns eixos através de uma palavra, uma frase,
teórico-metodológicos e epistemoló- um resumo.” (MINAYO, 2004, p.
gicos, e é isto o que nos propomos 208). Para autora, realizar uma
realizar neste capítulo. Para tanto,
Análise Temática “[...] consiste em
em termos metodológicos, faremos
descobrir os núcleos de sentido que
uso da técnica de Análise Documen-
compõem uma comunicação cuja
tal combinada com alguns elementos
presença ou freqüência signifiquem
da Análise Temática, uma modalida-
alguma coisa para o objeto analítico
de de Análise de Conteúdo.
Para Lüdke e André (1986, visado.” (MINAYO, 2004, p. 209).
p. 39) os documentos constituem Das três etapas estabe-
uma poderosa fonte de informa- lecidas para a Análise Temática,
ções e acrescentam ainda que eles faremos uso apenas da primeira,
não “[...] são apenas uma fonte de denominada de pré-análise, e da
informação contextualizada, mas segunda, que é conhecida por fase
surgem num determinado contexto da exploração do material, pois as
e fornecem informações sobre esse duas serão suficientes para nos auxi-
mesmo contexto”. Desse modo, liar na formação de um quadro com
uma análise documental orientada as principais unidades temáticas
por este pressuposto poderá con- demarcadoras dos principais eixos
tribuir para a nossa finalidade de teórico-metodológicos contidos nos
encontrar e apontar alguns dos prin- documentos a serem analisados. E
cipais eixos teórico-metodológicos como passo final, efetuar-se-á uma
e epistemológicos que marcam os leitura analítica a partir do quadro.
documentos a seguir. Desse modo, nossa re-
Essa demarcação dos prin- leitura recaiu sobre os seguintes
cipais eixos contidos nos documen- documentos:
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Documento 1 – “A Edu- em Serviço: Partilhando saberes,


cação Física na Educação Infantil”; vislumbrando novas perspectivas,
integra o Caderno Diretrizes Curricu- 2004, p. 29 - 33.
lares para a Educação Física no Ensino
Fundamental e na Educação Infantil, Tais documentos, por te-
publicado em 1996, p. 41 – 65. rem relevância ao tema aqui abor-
Documento 2 – “Educação dado e pela importância no debate
Física na Pré-Escola: Da Especiali- acerca do mesmo, foram lidos e
zação Disciplinar à Possibilidade analisados individualmente. Mas
de Trabalho Integrado”; constitui em alguns momentos, quer pela
a dissertação de Mestrado em Edu- aproximação ou distanciamentos,
cação da professora Débora Sayão, entre si, foram sendo retomados e
apresentada ao Programa de Pós- ou referenciados conforme neces-
Graduação em Educação, Centro de sidade da própria análise, seja pela
Educação, da Universidade Federal complementação ou controvérsia
de Santa Catarina, em 1996. existente entre si, quanto ao direcio-
Documento 3 – “A Educa- namento e apontamentos dos eixos
ção Física na Escola de Educação teórico-metodológicos, quer dizer,
Infantil: A construção da história o entendimento e fundamentação
possível”; compõe o Caderno Edu- teórica que cada texto apresenta
cação Infantil: Uma Necessidade para a Educação Física na Educação
Social, publicado entre 1997 e Infantil, além dos direcionamentos
2000. p. 17 – 23. e apontamentos elaborados nos
Documento 4 – “Infância, textos para a prática pedagógica do
Educação Física e Educação Infan- professor/a de Educação Física na
til”; faz parte do Caderno Síntese da Educação Infantil
Qualificação da Educação Infantil, Iniciemos pelo Caderno de
editado em 2000. Educação Física, Diretrizes Curricu-
Documento 5 – “O Fazer lares para Educação Física no Ensino
Pedagógico do/a Professor/a de Fundamental e na Educação Infantil
Educação Física na Educação Infan- (1996)1, mais especificamente, no
til”; compõe o Caderno Formação seu capítulo II, A Educação Física na

1 Diretrizes Curriculares para a Educação Física no Ensino Fundamental e na Educação Infantil.


Florianópolis, NEPEF/UFSC; PMF/SME/Grupo de Estudos Ampliado de Educação Física, 1996. Este
Caderno de Educação Física, como denominam seus autores, é a materialização do processo e dos
produtos resultantes de um fértil período de discussões e realizações para a Educação Física escolar
em Florianópolis, que foi durante a parceria estabelecida, ao longo de quatro anos, entre
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Educação Infantil (Documento 1), Educação Infantil deve se preocu-


que fornece indicativos e pontos de par em ampliar os conhecimentos
reflexão para a constituição de uma da criança, proporcionando-lhe os
prática da Educação Física na Edu- meios para uma apropriação crítica
cação Infantil. Tal texto tem por ob- da cultura sistematizada pela huma-
jetivo proporcionar aos professores nidade, estimulando a autonomia, a
um referencial teórico que permita criatividade e a solidariedade, pre-
refletir as práticas pedagógicas, pen- dominantemente, pela via da brin-
sando a especificidade das crianças cadeira. Pois a Educação Infantil é
de 0 a 6 anos de idade a partir de compreendida como espaço/tempo
uma perspectiva de crianças como sócio-educativo e como processo de
seres atuantes no mundo. troca de experiências.
Nesse sentido, parte de
uma perspectiva de Educação In- Diante do exposto, a Educação
fantil que considera a criança como Infantil é compreendida como
um ser humano em processo de um espaço sócio-educativo, onde
desenvolvimento que necessita de é fundamental permitir que a
cuidados e educação, que perceba a criança tenha acesso a elemen-
criança em toda sua potencialidade, tos da cultura universal e a na-
e por consequência se afastando da tureza, dentro de um processo
ideia de “jardim de infância” e “pré- de troca de experiências com
escola”, na qual a EI é vista apenas outras crianças e da mediação
como uma “pré-paração” para a do professor, dessa maneira a
escola, para o Ensino Fundamental. criança poderá construir a ela-
borar hipóteses para a compre-
A Educação Física no interior da

o Núcleo de Estudos Pedagógicos da Educação Física da UFSC e a antiga Divisão de Educação


Física da Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis da gestão municipal (Administração
Popular – 1992/1996). “[...] temos a consciência que, apesar de todos os esforços empreendidos,
este Caderno não consegue nem pretende ser um documento definitivo da Educação Física escolar
para Florianópolis, uma vez que, como registro de um processo que não se conclui, tem ele também
um sentido de provisoriedade. Acreditamos, porém, que podemos considerá-lo como ponto de
partida para novos saltos qualitativos que possam ser planejados, visando a melhoria da qualidade
do ensino desenvolvido na rede pública municipal. Acima de tudo, é nosso entendimento que a
possível contribuição a ser dada por este Caderno será maior tanto quanto maior for a disposição
dos professores de Educação Física da Rede Municipal de Ensino de Florianópolis em tê-lo como
uma das referências para a reflexão de sua prática pedagógica. Neste sentido, pensamos que o
Caderno, por ser uma sistematização de tudo o que foi coletivamente produzido, representa uma
síntese possível e provisória com significativa consistência teórica e possibilidade de prática, o que
o faz um documento concreto, exeqüível, feito na e para a Educação Física escolar.” (GRUPO DE
ESTUDOS AMPLIADO DE EDUCAÇÃO FÍSICA, 1996, p. 07).
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ensão e intervenção no mundo, onde prevaleça a liberdade de


propiciando um processo de de- todos os homens. (DOCUMEN-
senvolvimento e aprendizagem TO 1, 1996, p. 45).
mais rico e significativo. (DO-
CUMENTO 1, 1996, p. 42). O Sócio-Interacionismo
considera, portanto, toda bagagem
Quando tece conside- sócio-cultural que a criança traz de
rações sobre o processo de de- seu mundo social, bem como, que
senvolvimento e aprendizagem, as aprendizagens das crianças co-
pauta-se em pressupostos do Sócio- meçam antes mesmo de sua entrada
Interacionismo, concepção de na instituição educacional, o que se
aprendizagem e desenvolvimento
constitui como uma “pré-história”
vinculada aos estudos de Vi-
das aprendizagens escolares.
gostsky. Tal concepção considera a
bagagem sócio-cultural da criança No ponto intitulado, Fa-
e apresenta críticas às concepções zendo história: a Educação Física
até então vigentes na Psicologia da da escola para a “pré-escola”, o
Aprendizagem: primeiramente ao Documento 1 retoma um pouco da
Inatismo que condiciona a aprendi- história da Educação Física e a sua
zagem a fatores biológicos, depois consequente inserção na Educação
ao Ambientalismo/Empirismo que Infantil. Registra 1976 como o ano
restringe o desenvolvimento e a em que o município de Florianó-
aprendizagem ao ambiente e, por polis (SC) inaugura o “Programa
fim, a Gestalt ou Interacionismo Pré-Escolar”, com três unidades
em que o desenvolvimento e a em regiões carentes da cidade. O
aprendizagem coincidem. N a principal objetivo era restabelecer
concepção Sócio-Interacionista a os déficits na aprendizagem (intelec-
aprendizagem é tida como proces- tual), por conta da privação cultural
so fundamental para o desenvolvi-
colocada às crianças dessas áreas. A
mento, pois
ideia era de “pré-parar” as crianças
[...] parte, então, da concep- para a 1ª série da escola de 1º grau
ção de sujeito do materialismo (ensino fundamental). No final da
histórico e dialético: forjado, década de 1970 e início de 1980,
constituído na práxis social e são marcantes a influência e deter-
histórica, vir-a-ser individual e minação da Psicomotricidade, que
coletivo que pode ampliar sua chegou como mensageira do avan-
consciência na perspectiva da çado, do mais inovador, a grande
construção de uma sociedade solução para o fracasso escolar, da
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alfabetização. “Para tanto, era pre- inserção da Educação Física no âm-


ciso treinar as habilidades: esquema bito da Educação Ifantil. A autora,
corporal, percepção temporal, la- além de problematizar o debate da
teralidade, equilíbrio, entre outros, especificidade da Educação Física
passaram a fazer parte do discurso no quadro da pré-escola brasileira
pedagógico.” (DOCUMENTO 1, e das suas referências para crian-
1996, p. 46). ças de 0 a 6 anos, no quadro da
Ocorre uma apropriação própria Educação Física, analisa,
por diferentes profissionais desse dis- como campo empírico, a trajetória
curso teórico-prático, indicado para da experiência da introdução da
trabalhar com a “educação do movi- Educação Física na Educação Infan-
mento”. Além da Psicomotricidade, til na RMEF, desde 1982 até 1995,
o Desenvolvimento e Aprendizagem quando esta disciplina/atividade
Motora e a Recreação destacam-se foi implantada por professores es-
como conteúdos da Educação Física pecialistas2. E, com base nas repre-
nas séries iniciais da escola de 1º sentações das professoras de sala,
grau e, por consequência, vão in- das professoras de Educação Física
fluenciar e se fazer presentes na Edu- e dos documentos elaborados no
cação Física da Educação Infantil. O período acima, buscou identificar a
Documento 1 assinala que essas três especificidade que a Educação Físi-
“tendências” da Educação Física na ca, historicamente, perseguiu para
Educação Infantil apresentam uma si enquanto componente curricular
forte dualidade em relação ao ser da educação de crianças de 4 a 6
humano, separando-o em corpo e anos. Suas análises demonstraram
mente, na verdade, submetendo o que a Educação Física na Educação
físico ao intelecto. Infantil não conseguiu consolidar-
Aqui, nesse momento, é se na RMEF, nem como atividade
inevitável nos reportarmos à pes- e tampouco como disciplina, em
quisa de mestrado de Débora Sayão função de um constante conflito
(Educação Física na Pré-Escola: que a Educação Física provocou
Da Especialização Disciplinar à no interior das creches e núcleos
Possibilidade de Trabalho Integra- de educação infantil.
do) (Documento 2), já que se trata Passemos, então, breve-
de uma investigação pioneira que mente, a destacar alguns aspectos
visou compreender a natureza da relativos a esses conflitos que poderão

2 Professores especialistas é uma referência aos professores de Educação Física.


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nos ajudar na percepção dos eixos tematização deste conhecimento


teórico-metodológicos e epistemo- para o interior do espaço educa-
lógicos da Educação Física na Edu- cional de zero a seis anos, como
cação Infantil presentes no interior objeto da Educação Física, surge
da RMEF. no século XX e a partir da década
Um primeiro aspecto diz de setenta, mais freqüentemente,
respeito ao que a autora denomi- quando é concebida como ‘espe-
nou de pontos de intersecção e cialização’. (DOCUMENTO 2,
1996, p. 24-5).
distanciamento entre a Educação
Física e a Educação Infantil. E uma
Desse modo, sugere que
primeira constatação apresentada
essa inserção recente da Educação
por ela é a de que é o modelo
Física na Educação Infantil ainda
escolar que irá embasar as ações
não produziu críticas substanciais a
curriculares da Educação Física na
ponto de problematizar as práticas
Educação Infantil, cuja referência
existentes.
recai sobre as proposições curri-
Um segundo aspecto desse
culares existentes para as séries
Documento 2 refere-se ao que a au-
iniciais do ensino de 1º grau.
tora denominou de Educação Física
Afirma que ao se aproximar das como componente do currículo pré-
produções teóricas da Educação escolar na RMEF: sua gênese, influ-
Física e da Educação Infantl verifica ências recebidas e as representações
que em ambas “[...] não existe uma do cotidiano pedagógico. Em linhas
‘Educação Física Infantil’ voltada gerais, enfatiza que os problemas e
para as características desta faixa os conflitos, desde a implantação
etária [...]” (DOCUMENTO 2, da Educação Física na Educação
1996, p.12). Ainda nesse contexto, Infantil (em 1982) até a atualidade
esclarece que da pesquisa (em 1995), estão rela-
cionados à visão fragmentada de
[...] o estudo da Educação Física, currículo presentes na pré-escola
enquanto componente curricu- e que a “hora da Educação Física”
lar da Pré-Escola, é algo bastante constitui um exemplo dessa fragmen-
recente. Apesar de inúmeros pe- tação curricular. Uma concepção de
dagogos, filósofos e educadores Educação Física, pautada num mo-
preocupados com a infância te- delo escolarizante, como disciplina
rem considerado a atividade física
escolar, que desconsidera interesses
fundamental para a aprendizagem
e necessidades das crianças, na qual
e o desenvolvimento das crianças,
o tempo (três aulas semanais de 45
a transposição e conseqüente sis-
minutos) é que determina a ativida-
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de e não seu inverso, fragmentando trizes Curriculares para a Educação


os conteúdos, noutros termos, uma Física no Ensino Fundamental e na
Educação Física com lugar e hora Educação Infantil”, e a re-leitura
para acontecer. do último ponto do Documento 1,
E um último aspecto trata- Rumo a uma Nova Práxis: a Edu-
do pela autora diz respeito à impor- cação Física na Educação Infantil,
tância do desafio de superação de que aponta alguns pressupostos
algumas dicotomias. Destaque aqui teórico-metodológicos e epistemo-
para as dicotomias corpo-mente, lógicos direcionados à constituição
sala-pátio e teoria-prática, que de uma prática da Educação Física
afloraram na pesquisa, denotando na Educação Infantil e ao fazer pe-
uma perspectiva compartimentada dagógico de seus professores. Este
de Educação Física e de Pré-escola. enaltece a ideia segundo a qual a
Nessa direção, sinaliza para alguns Educação Física, no âmbito da Edu-
desafios de superação: primeiro cação Infantil, pode contribuir para
romper com o modelo esportivo a leitura de mundo das crianças e na
preconizado pelo Decreto Federal construção de si mesmas. Por isso é
69.450 (1971), já revogado com a preciso, entre outros aspectos, que
Lei 9.394 – LDB (1996), mas ainda “a criança compreenda seu próprio
movimento como marca pessoal,
hoje seu modelo é muito influente
como histórico e como parte da
na prática pedagógica da Educação
produção da humanidade – fenô-
Física; também propõe abandonar
menos da cultura de movimento/
a ideia de atividade como um fim
corporal já sistematizados.” (DO-
em si mesma, que ainda justifica
CUMENTO 1, 1996, p. 71-2). Aqui
a presença da Educação Física na
temos a expressão corporal como
pré-escola apenas para possibilitar
linguagem e como patrimônio da
que as crianças descarreguem suas humanidade. O que nos reporta
energias; e, por fim, o desafio da a concepção de Educação Física
Educação Física deixar de assumir, denominada Crítico-Superadora
exclusivamente, a tarefa de abordar (Coletivo de Autores, 1992). Mas
os problemas de adaptação social também apresenta as contribuições
e intelectual das crianças, pois o de Kunz (1991) – autor da concep-
conhecimento de si e do mundo ção de Educação Física conhecida
integra um processo que se inicia na por Crítico-Emancipatória – como
infância e continua vida afora. uma possível indicação para a prá-
O que nos faz retomar o xis do professor, quando mostra
Caderno de Educação Física, “Dire- alguns “sentidos/significados” que
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o movimento humano traduz pelas de regras, de linguagens, etc., e


suas manifestações. O movimento que tudo isso seja integrante de
humano contém a intenção de um processo de convivência.
quem se movimenta, portanto, da (DOCUMENTO 1, 1996, p. 63)
criança. E deve ser compreendido
como linguagem corporal, que de Por fim, apresenta o traba-
acordo com o referido autor passa lho articulado por projetos/temas
pelos sentidos: comparativo, ex- como possibilidade do trabalho
plorativo, produtivo, comunicativo integrado com o professor de sala.
e expressivo. Mas, deve seguir o A brincadeira, como princípio nor-
interesse e a necessidade da criança teador, possibilita o trabalho em
e, na EI tem sua possibilidade de parceria entre os educadores. Mas,
viabilização pela/na brincadeira. como o próprio documento diz:
Além disso, o Documento
1 trata a brincadeira e a interação Cabe chamar atenção sobre as
com o mundo das coisas físicas especificidades que cada área
como princípios norteadores da do conhecimento traz consigo.
práxis da Educação Infantil. Ainda Na Educação Física, a cultura
ressalta outro ponto de suma impor- corporal de movimento traz no
tância para o trabalho pedagógico seu campo-objeto de conheci-
mento, manifestações corporais
do professor de Educação Física na
já presentes na vida das crian-
Educação Infantil, a ênfase no traba-
ças, que deverão ser tematiza-
lho voltado ao coletivo. Pois assim
das com elas, não só na aula
é possível intensificar o princípio dessa disciplina, como também
da cooperação que poderá levar em outros momentos, atenden-
as crianças a se relacionarem pelo do assim, a perspectiva de arti-
princípio da solidariedade. culação a ser desenvolvida pela
equipe pedagógica. (DOCU-
A solidariedade e a cooperação MENTO 1, 1996, p. 64)
devem ser princípios norteado-
res das opções por conteúdos Outro documento3, A Edu-
e metodologias, considerando cação Física na Escola de Educação
que cada criança traz uma ba- Infantil: A construção da história
gagem sócio-cultural de valores, possível (Documento 3), elaborado

3 A Educação Física na Escola de Educação Infantil: A Construção da História Possível. In: Educação
Infantil: Uma necessidade social. PMF/SME, Florianópolis, 1997 – 2000.
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pela RMEF e sob a coordenação transformações. Alinhando-se à


de Dagmar Barreto, parte de uma segunda posição, o Documento 3
leitura do Caderno de Educação destaca a possibilidade de se pen-
Física, Diretrizes Curriculares para sar uma proposição de Educação
a Educação Física no Ensino Fun- Física na Educação Infantil a partir
damental e na Educação Iinfantil, das concepções de Educação Física,
especialmente no capítulo II, A surgidas nos anos 1980 e 1990 na
Educação Física na Educação Infan- Educação Física brasileira, à me-
til (Documento 1), visando retomar dida que busca refletir sobre uma
o fazer pedagógico da Educação queixa comum entre professores,
Física na Educação Infantil. Para relacionada à dificuldade de colocar
tanto, insere essa leitura numa re- em prática os pressupostos dessas
trospectiva histórica, da antiguidade proposições transformadoras para
à modernidade, apresentando um a Educação Física brasileira.
quadro esquemático “evolutivo” Embora essas concepções
com as principais características da centrem críticas às tendências domi-
história da racionalidade ocidental, nantes na Educação Física das séries
do trabalho, do corpo, da criança e inicias da escola (Psicomotricidade,
da educação. O objetivo é mostrar Desenvolvimento e Aprendizagem
uma breve panorâmica das mu- Motora e a Recreação) é notório no
danças sofridas pela humanidade Documento 3 certo apelo à relati-
desde a antiguidade e estabelecer vização dessas críticas, pautado na
algumas relações com a Educação idéia de que elas apresentam ele-
Física na Educação Infantil, a partir mentos “[...] para o alargamento das
das seguintes questões: Diante possibilidades do se movimentar”
de tantas mudanças no contexto (BARRETO, 1997 – 2000, p. 22).
sócio-histórico da humanidade que Desse modo, aponta para uma posi-
educação proporcionar às crianças ção livre de preconceitos, indicando
de hoje? E, nessa mesma linha de a necessidade de re-significar estas
reflexão, o que propor em termos tendências no fazer da Educação
de Educação Física? Diante desse Física na Educação Infantil. Pode-
dilema, o documento 3 assinala mos considerar tal relativização
duas posições: uma de adaptação da no mínimo contraditória, pois as
escola e da metodologia de ensino concepções progressistas para a
às transformações da sociedade Educação Física brasileira centra-
favoráveis a ordem capitalista e ram suas críticas justamente em tais
outra de construção de um proje- elementos – da Psicomotricidade,
to de resistência ao rumo dessas do Desenvolvimento e Aprendiza-
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gem Motora e da Recreação – como meiro. Estes estudos mais recentes,


limitadores das possibilidades desse relacionados à Educação Infantil na
alargamento. Porém, tal paradoxo nos RMEF, têm uma proposta de Edu-
é apresentado, mas não esclarecido, cação Física em interseção com a
nem tencionado ao longo do texto. Pedagogia da Infância, por isso “não
Outros dois documentos, se coloca numa uniformização das
igualmente importantes para se práticas escolares tradicionalmente
perceber os eixos teórico-meto- centradas no domínio de conteú-
dológicos e epistemológicos pre- dos escolares, e nem tampouco na
sentes na Educação Física junto articulação institucional orientada
a Educação Infantil, são os textos pela antecipação destes conteúdos
elaborados sob a coordenação de para a educação infantil”. (ROCHA,
Débora Sayão. O primeiro compõe p. 29, apud SAYÃO, 2000, p. 36).
um Caderno organizado pela RMEF E são formulados de acordo com
no ano 2000 e contém o texto documentos, também elaborados
Infância, Educação Física e Edu- pela RMEF e retomados como pon-
cação Infantil4 (Documento 4) e o to de partida para reflexões, isto
segundo integra um outro Caderno aparece, explicitamente, no Docu-
elaborado pela RMEF em 2004, mento 4, Infância, Educação Física
contendo o texto: O Fazer Pedagó- e Educação Infantil6. Os referidos
gico do/a Professor/a de Educação textos ressaltam a crítica a uma
Infantil 5 (Documento 5). Trataremos concepção de Educação Infantil no
os referidos textos conjuntamente, modelo “escolarizante”, que tem a
uma vez que consideramos que o disciplina como eixo, que descon-
segundo retoma e complementa sidera os interesses e necessidades
algumas ideias já sugeridas no pri- das crianças, com tempo de duração

4 SAYÃO, D.T. Infância, Educação Física e Educação Infantil. In: Síntese da Qualificação da Educação
Infantil. PMF/SME/DEI. Florianópolis, 2000.
5 _______. O Fazer Pedagógico do/a Professor/a de Educação Física na Educação Infantil. In:
Formação em Serviço: Partilhando saberes, vislumbrando novas perspectivas. PMF/SME/DEI. Flo-
rianópolis, 2004.
6 Para a elaboração do texto tomamos, como ponto de partida, em primeiro lugar, os Subsídios
para a Reorganização Didática da Educação Básica Municipal, através do texto ‘A elaboração
de currículos para a educação infantil, o ensino fundamental e a educação de jovens e adultos:
princípios gerais’, de autoria do Prof. Dr. Gilberto Alves – consultor da Rede Municipal de Ensino
de Florianópolis (RMEF). Em segundo lugar, foi considerado o texto ‘Princípios Pedagógicos para a
Educação Infantil Municipal’, de autoria da Profa. Dra. Eloísa Rocha, também consultora da RMEF.
Além destes dois documentos, consideramos a produção acumulada pela Rede Municipal de En-
sino de Florianópolis, principalmente, aquela expressa nas ‘Diretrizes Curriculares para
Ano XIX, n° 29, Dezembro/2007 67

das aulas pré-determinados, frag- não o tempo determina as atividades.


mentando os conteúdos. Indicam Pois tal modelo limita a capacidade
que a Educação Física na Educação criadora das crianças, deixando o
Infantil necessita ir além de uma dis- direito instituído à brincadeira res-
ciplina que apresenta um conteúdo trito, sujeito apenas à intenção do
com tempo e espaço previamente professor. Os Documentos 4 e 5
estabelecidos. Por isso, é preciso in- ainda reportam-nos à importância
corporar as produções e discussões do Projeto Político Pedagógico (PPP)
acerca da infância “para além do e ao Planejamento como fontes
desenvolvimento motor, da recrea- possíveis de demarcação de outro
ção, da psicomotricidade” (SAYÃO, fazer pedagógico do professor de
2004, p. 31). Sugere-se, também, Educação Física. Temos o PPP como
uma maior aproximação às áreas “elemento definidor das propostas
da Antropologia, da Sociologia, pedagógicas e dos pressupostos
da Filosofia, entre outras, como teórico-metodológicos que estão im-
possíveis “irradiadoras da possibi- plicados no trabalho do/a professor/a
lidade de uma construção de uma (SAYÃO, 2000, p. 38)”.
Educação Física mais próxima das Portanto, levantam ques-
crianças e mais distante das técnicas tões e discussões que contribuem
do esporte de rendimento e das para elaboração de pressupostos
performances instrumentalizantes.” teórico-metodológicos e epistemo-
(SAYÃO, 2000, p. 31). lógicos para Educação Física na
Os Documentos 4 e 5 Educação Infantil, como produtos
tratam, assim como o Documento da experiência do cotidiano das
1 já abordado, a brincadeira como unidades educativas. Em Sayão
princípio norteador do trabalho pe- (2004), são listados pontos que
dagógico com as crianças pequenas. nos apresentam reflexões sobre:
Para tanto é preciso criticar a com- a) Concepção de Educação Física
partimentação do tempo/espaço para como disciplina escolar; b) O dis-
brincadeira. É preciso questionar a tanciamento entre Educação Física
chamada hora-aula. As atividades e a totalidade do trabalho do NEI/
é que devem determinar o tempo e Creche; c) A formação permanente;

a Educação Física no Ensino Fundamental e na Educação Infantil da Rede Municipal de


Florianópolis’, publicado em 1996. Outras propostas da RMEF, redigidas em gestões
anteriores, também foram consideradas. [...] No decorrer do Curso, tomamos como princípio
geral e ponto de partida a construção da Pedagogia da Educação Infantil, conforme consta
no documento elaborado pela Profª. Eloísa Rocha. (SAYÃO, 2000, p.36)”.
68

d) A criatividade que pode avançar com ações pedagógicas contrárias à


a compreensão da área; e) A dimen- visão de Educação Infantil pautada
são brincalhona do adulto: a im- em modelos “escolarizantes”.
portância de rememorar a infância, Em síntese, a partir dessa
pois a aprendizagem se dá em nível re-leitura de alguns documentos
epidérmico; f) A superação tempo/ da RMEF foi possível rever alguns
espaço: destaque para a questão dos eixos teórico-metodológicos e
do tempo como uma discussão epistemológicos que marcaram a
muito importante; e g) Ampliação produção do conhecimento da Edu-
da experiência de movimento das cação Física na Educação Infantil no
crianças que sofre a interferência contexto histórico da RMEF. Nessa
direta do medo do adulto. revisão, é notório encontrar eixos
Nos Documentos 4 e 5, que podem ser caracterizados como
toda crítica recai sobre as práticas de constatação, questionamento e
da Educação Física na Educação crítica e outros mais de proposição,
Infantil que se mantêm enraizadas ruptura e desafio.
em teorias, concepções e programas
baseados, sobretudo, em aborda- 2. Quadro com as sínteses
gens desenvolvimentistas, tal como dos eixos
o discurso da Psicomotricidade, ao
mesmo tempo em que apresenta No quadro, a seguir, estão
debates e reflexões de uma Edu- sintetizados alguns desses eixos
cação Física na Educação Infantil presentes nos documentos revistos,
comprometida com a realização na forma de unidades temáticas (de
de uma leitura e intervenção crítica contexto) que mais se sobressaem
da/na realidade e orientados pela em cada documento.
Pedagogia da Infância, portanto,
Eixos temáticos de constatação, Eixos temáticos de proposição,
Doc.
questionamento e crítica ruptura e desafio

- Perspectiva de Educação Infantil (EI) compreendida


- Registra 1976 como ano em que o município como espaço/tempo sócioeducativo e processo
de Florianópolis (SC) inaugura o “Programa de troca de experiências.
Pré-Escolar”, com três unidades em regiões
carentes da cidade. O principal objetivo era - Propõe que a Educação Física (EF) na EI
restabelecer os déficits na aprendizagem se ocupe de ampliar os conhecimentos da
(intelectual), por conta da privação cultural criança. Estímulo à autonomia, criatividade e a
colocada às crianças dessas áreas. solidariedade, via brincadeira.
Ano XIX, n° 29, Dezembro/2007

- Critica a ideia de EI vista apenas como uma - Propõe o processo de desenvolvimento e


“pré-paração” para a escola, para o Ensino aprendizagem pelo SócioInteracionismo (Vigostsky).
Fundamental.
- Propõe que a EF na EI, contribua para a leitura
- Critica as concepções vigentes de de mundo das crianças e na construção de si
desenvolvimento e aprendizagem oriundas mesmas.
da Psicologia da Aprendizagem: o Inatismo,
o Ambientalismo/Empirismo e a Gestalt e/ou - Indica a concepção de EF Crítico-Superadora
Doc.1 Interacionismo. e a concepção de EF Crítico-Emancipatória,
mas ambas devem considerar o interesse e a
epistemológicos dos documentos

- Critica a determinação do discurso da necessidade da criança, via brincadeira.


Psicomotricidade, Desenvolvimento e
Aprendizagem Motora e da Recreação. - Indica o desafio do trabalho pedagógico que
Essas “tendências” da EF na EI apresentam busque a cooperação, a solidariedade e que isso
Quadro – Principais eixos teórico-metodológicos e

forte dualidade em relação ao ser humano, seja integrante de um processo de convivência.


submetendo o físico ao intelecto.
- Indica o trabalho articulado por projetos/temas
que integrem professor/a de EF e professor/a de
69

sala, tendo a brincadeira como eixo, mas sem


desconsiderar as especificidades de cada área
do conhecimento.
Eixos temáticos de constatação, Eixos temáticos de proposição,
Doc.
questionamento e crítica ruptura e desafio
- Constata que é o modelo escolar que embasa as
- Propõe o desafio de superação das dicotomias
ações curriculares da EF na EI.
corpo-mente, sala-pátio e teoria-prática, que
- Constata que nas produções teóricas da EF e da
denota uma perspectiva compartimentada de EF e
EI não existe uma EF Infantil.
de Pré-escola.
Quadro - Principais eixos teórico-metodológicos

- Constata que a EF é recente na Pré-Escola,


- Propõe romper com o modelo esportivo.
surge só a partir da década de 1970, quando é
- Propõe abandonar a idéia de atividade como um
concebida como especialização.
fim em si mesma, que possibilita apenas a descarga
e epistemológicos dos documentos

- Constata que essa inserção recente ainda não


de energias das crianças.
produziu críticas substanciais a ponto de problematizar
- Desafia a EF deixar de assumir, exclusivamente, a
as práticas existentes.
tarefa de abordar os problemas de adaptação social
Doc.2 - Constata problemas desde a implantação da EF
e intelectual das crianças, pois o conhecimento de
na EI na RMEF, relacionados à visão fragmentada
si e do mundo integra um processo que se inicia na
de currículo presentes na pré-escola. A “hora da
infância e continua vida afora.
EF” constitui um exemplo dessa fragmentação.
- Diante das mudanças no contexto sócio-
- Propõe a relativização da crítica a Psicomotricidade,
histórico da humanidade indaga: que educação
Desenvolvimento e Aprendizagem Motora e
proporcionar às crianças? E o que propor em
Recreação, pois apresentam elementos para o
termos de EF? E constata que há duas posições
alargamento das possibilidades do “se- movimentar”
possíveis a seguir: uma de adaptação da escola
das crianças.
e da metodologia de ensino às transformações da
- Indica uma posição livre de preconceitos e a
sociedade favoráveis à ordem capitalista, e outra
necessidade de re-significar estas tendências no
que é a construção de um projeto de resistência
fazer da EF na EI.
ao rumo dessas transformações.
- Propõe a possibilidade de se pensar uma EF na
Doc.3


- Constata que as concepções transformadoras de EF,
EI a partir das concepções transformadoras de EF,
surgidas nos anos 1980 e 1990, centram críticas às
desde que considere a queixa dos professores
tendências da EF nas séries inicias (Psicomotricidade,
70
relacionada à dificuldade de colocar em prática os


Desenvolvimento e Aprendizagem Motora e a
pressupostos dessas proposições.
Recreação).
Eixos temáticos de constatação, Eixos temáticos de proposição,
Doc.
questionamento e crítica ruptura e desafio

- Indicam que a EF na EI necessita ir além de uma


disciplina que apresenta um conteúdo com tempo e
espaço previamente estabelecidos.
- Propõem que a EF precisa incorporar as produções
e discussões acerca da infância para além do
Desenvolvimento e Aprendizagem Motora, da
- Constatam a possibilidade de uma proposta de EF em Recreação e da Psicomotricidade.
- Sugerem uma maior aproximação às áreas da
interseção com a Pedagogia da Infância, que se distancia
Ano XIX, n° 29, Dezembro/2007

Antropologia, da Sociologia, da Filosofia, visando a


das práticas escolares tradicionalmente centradas no
possibilidade de construção de uma EF mais próxima
domínio de conteúdos escolares e da antecipação destes
das crianças e mais distante das técnicas do esporte
conteúdos para a educação infantil. de rendimento.
Doc.4
- Criticam uma concepção de EF na EI orientada no modelo - Indicam a brincadeira como princípio norteador do
e “escolarizante”, da disciplina escolar, que desconsidera trabalho pedagógico com as crianças pequenas.
Doc.5 os interesses e necessidades das crianças, com tempo de - Desafiam intervir no Projeto Político Pedagógico
duração das aulas pré-determinados e pela fragmentação (PPP) e no Planejamento da Creche/NEI como
dos conteúdos. possibilidade de demarcação de outro fazer
- Questionam a chamada “hora-aula”. pedagógico do/a professor/a de EF.
- Criticam as práticas de EF na EI que se mantêm enraizadas - Apresentam debates e reflexões de uma EF na EI
comprometida com a realização de uma leitura e
e epistemológicos dos documentos

em teorias, concepções e programas baseados, em


intervenção crítica da/na realidade e orientados
abordagens desenvolvimentistas, tal como o discurso da
pela Pedagogia da Infância, portanto, com ações
Psicomotricidade.
Quadro - Principais eixos teórico-metodológicos

pedagógicas contrárias à visão de EI pautada em


modelos “escolarizantes”.
- Propõem que as atividades é que devem determinar
o tempo e não o contrário. Pois tal modelo limita a
capacidade criadora das crianças, deixando o direito
71

instituído à brincadeira restrito e sujeito apenas à


intenção do professor.
72

3. Uma leitura analítica do safio de superação das dicotomias


quadro e fragmentações, corpo e mente,
sala e pátio, teoria e prática, via a
Um primeiro eixo a ser perspectiva do trabalho pedagógi-
destacado diz respeito à pers- co articulado por projetos/temas
pectiva de Educação Iinfantil. entre o/a professor/a de Educação
Os documentos convergem para Física e a professora de sala, ten-
uma crítica à ideia de Educação do a brincadeira como princípio
Infantil vista apenas como uma norteador. Esse eixo aponta para
etapa preparatória para escola. uma possibilidade de saída para
Em contrapartida, esboçam uma questão colocada no parágrafo
perspectiva de Educação Infantil anterior.
compreendida como espaço e Por fim, acrescemos ain-
tempo sócioeducativo de troca da a essa leitura do quadro o eixo
de experiências das crianças. Em que trata do fato das abordagens
relação a este aspecto o Documen- de Educação Física, Crítico-Supe-
to 1 é favorável a uma orientação radora e Crítico-Emancipatória,
da Educação Infantil a partir da ainda terem pouca, ou quase ne-
compreensão do processo de nhuma ressonância no contexto
desenvolvimento e aprendiza- prático da Educação Infantil na
gem do SócioInteracionismo, Rede Municipal de Ensino de
enquanto que os Documentos 4 Florianópolis, como indicada no
e 5 orientam-se por princípios da Documento 3. Esse eixo indica
Pedagogia da Infância, mas estes a necessidade de aprofundar a
últimos não aparecem explícitos compreensão teórica dessas abor-
nos documentos. Parece-nos dagens numa relação de proximi-
que esse eixo da perspectiva de dade com os contextos da prática
Educação Infantil ainda levanta pedagógica de Educação Física na
muitos conflitos e disputas de Educação Infantil.
ordem teórico-epistemológica no O próximo capítulo, que
contexto da RMEF. aborda as memórias da prática
Outro eixo a assinalar é o pedagógica de professores/as
da possibilidade de ruptura e de- de Educação Física na Educação
Ano XIX, n° 29, Dezembro/2007 73

Infantil e sua articulação com SME/Florianópolis, O Grupo,


a formação continuada, poderá 1996.
permitir ao leitor estabelecer KUNZ, E. Educação física: ensino
paralelos com os eixos teórico- & mudanças. Ijuí: Unijuí, 1991.
metodológicos e epistemológicos 207p.
presentes nos documentos aqui LÜDKE, M. e ANDRÉ, M. E.
analisados, bem como perceber A.. Pesquisa em Educação:
as influências e ressonâncias des- abordagens qualitativas. São
ses eixos na prática pedagógica Paulo; EPU, 1986.
de Educação Física na Educação MINAYO, M. C. de S.. O Desafio
Infantil. do Conhecimento: pesquisa
qualitativa em saúde. São Paulo:
Hucitec, 8ª ed., 2004.
SAYÃO, D. T. Educação Física na
REFERÊNCIAS Pré-Escola: da especialização
disciplinar à possibilidade de
BARRETO, D. A educação Física
trabalho pedagógico integrado.
na Escola de Educação Infantil:
a construção da história Dissertação (Mestrado em
possível. In: Educação Infantil: Educação), Florianópolis: PPGE/
uma necessidade social. PMF/ CED/UFSC, 1996.
SME, 1997 – 2000. ______. Infância, Educação Física
COLETIVO DE AUTORES. e Educação Infantil. In: Síntese
Metodologia do ensino de da Qualificação da Educação
educação física. São Paulo: Infantil. Secretaria Municipal
Cortez, 1992. de Educação/SME. Divisão de
GRUPO DE ESTUDOS AMPLIADO Educação Infantil. Prefeitura
DE EDUCAÇÃO FÍSICA. Municipal de Florianópolis/PMF.
Diretrizes Curriculares para Florianópolis, 2000.
a Educação Física no Ensino ______. O Fazer Pedagógico do/a
Fundamental e na Educação Professor/a de Educação Física na
Infantil em Florianópolis/SC. Educação Infantil. In: Formação
Florianópolis, NEPEF/UFSC; em Serviço: Partilhando saberes,
74

vislumbrando novas perspectivas. Educação Infantil. Prefeitura


Secretaria Municipal de Municipal de Florianópolis/PMF.
Educação/SME. Divisão de Florianópolis, 2004.

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