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maldito deus

arrancando
esses poemas de
minha cabeça
Charles
Bukowski
maldito deus
arrancando
esses poemas de
minha cabeça

Fernando Koproski
seleção e tradução
Todos os direitos desta edição são reservados a Viveiros de Castro Editora Ltda.
Este livro segue as normas do Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa de 1990, adotado no Brasil em 2009.

Os poemas desta edição foram selecionados dos seguintes livros:


• Burning in water, drowning in flame: selected poems 1955–1973,
Copyright © 1974 by Charles Bukowski
• Shakespeare never did this, Copyright © 1979 by Charles Bukowski
• Dangling in the tournefortia, Copyright © 1981 by Charles Bukowski
• War all the time: Poems 1981-1984, Copyright © 1984 by Charles Bukowski
• You get so alone at times that it just makes sense, Copyright © 1986 by Charles Bukowski
• The roominghouse madrigals: early selected poems 1946-1966,
Copyright © 1988 by Charles Bukowski
• Betting on the muse: poems and stories, Copyright © 1996 by Charles Bukowski
• Bone palace ballet: new poems, Copyright © 1997 by Charles Bukowski
• Open all night: new poems, Copyright © 2000 by Charles Bukowski
• The night torn mad with footsteps: new poems, Copyright © 2001 by Charles Bukowski
• Sifting through the madness for the word, the line, the way: new poems, Copyright © 2002
by Charles Bukowski
• The flash of lightning behind the mountain: new poems, Copyright © 2004
by Charles Bukowski
• Slouching toward Nirvana, Copyright © 2005 by Charles Bukowski
• Come on in!, Copyright © 2006 by Charles Bukowski
• The pleasures of the damned: poems, 1951-1993, Copyright © 2007 by Charles Bukowski
• The continual condition, Copyright © 2009 by Charles Bukowski

cip-brasil. catalogação-na-fonte
sindicato nacional dos editores de livros, rj

B949m
Bukowski, Charles, 1920-1994
Maldito deus arrancando esses poemas de minha cabeça / Charles Bukowski; seleção
e tradução Fernando Koproski. – 1. ed. – Rio de Janeiro: 7Letras, 2015.
Tradução dos originais em inglês
Texto em inglês com tradução paralela em português
isbn 978-85-421-0361-8
1. Poesia americana. I. Koproski, Fernando, 1973-. II. Título.
15-23934 cdd: 811
cdu: 821.111(73)-1

2015
Viveiros de Castro Editora Ltda.
Rua Visconde de Pirajá, 580/sl. 320 | Ipanema
Rio de Janeiro | rj | cep 22.410-902
Tel. (21) 2540-0076 | editora@7letras.com.br | www.7letras.com.br
sumário

A maneira mais curta, mais bonita e mais explosiva, 9

nossos olhos transaram


the laughing heart 15 o coração rindo
yes, I am 17 sim, eu estou
in other words 23 em outras palavras
rose, rose 27 rosa, rosa
beauty gone 31 beleza perdida
to Jane Cooney Baker, 33 para Jane Cooney Baker,
died 1-22-62 falecida em 22/1/62
once in a while 37 de vez em quando
poem for Brigitte Bardot 45 poema para Brigitte Bardot
liberated woman 49
mulher liberada
and liberated man e homem liberado
red hot mail 53 correio ardente
dusty shoes 61 sapatos empoeirados
the descent of the species 65 a decadência da espécie
the whores of Hamburg 71 as putas de Hamburgo
the faithful wife 75 a esposa fiel
bayonets in candlelight 87 baionetas à luz de velas
a maldição
the pleasures of the damned 93 os prazeres dos malditos
the curse 95 a maldição
a clean, well-lighted place 99 um lugar limpo e bem iluminado
now, Ezra, 105 ora, Ezra,
my style 109 meu estilo
to the whore 111 para a puta
who took my poems que levou meus poemas
the talkers 113 os faladores
a note upon modern poesy 117 uma nota sobre a poesia moderna
the word 121 a palavra
Toulouse 129 Toulouse
the continual condition 133 a situação contínua
wine pulse 135 vinho pulsante
my atomic stockpile 139 meu arsenal atômico
total madness 141 loucura total
mind and heart 153 coração e mente

as nossas vidas um buquê de sangue


running on empty 159 esvaziando
the elephants of Vietnam 163 os elefantes do Vietnã
poem for nobody 165 poema para ninguém
regardless 169 indiferente
an empire of coins 173 um império de moedas
my friend 181 meu amigo
one learns 185 aprende-se

the sun wields mercy 189 o sol comanda a misericórdia

like a dolphin 195 como um golfinho

my last winter 197 meu último inverno

sun coming down 199 o sol se pondo

it is not much 203 não é muito


I fought them from 207
lutei com eles desde
the moment I saw light a hora que vi a luz
something’s knocking
213
algo está batendo
at the door na porta

one for the shoeshine man 217 uma para o engraxate

o súbito clarão da palavra

my madness 225 minha loucura

some people 231 algumas pessoas

old man, dead in a room 233 um velho, morto no quarto

eaten by butterflies 237 devorado por borboletas

the blackbirds are rough today 241 hoje os melros estão difíceis

now 247 agora

bone palace ballet 251 balé do palácio de ossos

everything hurts 255 tudo dói

one for the old boy 259 uma para o velho amigo

goldfish 263 peixe-dourado


my big night on the town 265 a minha grande noite na cidade
explosion 271 explosão
small talk 275 conversa fiada
how is your heart? 279 como vai o coração?
betting on the muse 283 apostando na musa

extras
Notas do tradutor, 291
Notas da produção, 293
Notas biográficas, 297
a maneira mais curta, mais bonita
e mais explosiva

Reza a lenda que Charles Bukowski começou a escrever poesia


aos 35 anos, após ser internado com uma forte hemorragia num
hospital público de Los Angeles. Devido aos excessos etílicos,
Bukowski vomitava sangue continuamente. Após ficar três dias
à beira da morte, finalmente recebeu uma transfusão sanguínea
e algum tempo depois teve alta.
Ao sair do hospital, conta que sua percepção parecia alte-
rada, de certa forma ele se sentia numa estranha calmaria. Con-
forme se sentava na frente da máquina de escrever, percebeu
que subitamente o que ele escrevia não seguia mais até o limite
da página e virava linha, como em uma narrativa. As linhas
agora se quebravam antes, orientando-se por outra pulsação,
ritmo ou arritmia. Não era mais prosa o que ele escrevia e sim
o começo de sua poesia. E assim, depois desse dia dramático
em que quase morreu, Bukowski subitamente passou a escrever
mais e mais poesia.
Reza a lenda que, para qualquer poeta que se preze, pouco
importa se a lenda é apenas lenda ou pura verdade. O que
importa, e você há de concordar comigo, leitor, é que é uma boa

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história. E boas histórias não faltam na biografia e obra do velho
Buk. Até esse dia, o então jovem Buk tinha publicado não mais
que dois ou três contos em revistas literárias da época, tais como
a Story e a Portfolio, quando tinha 24 e 26 anos, respectivamente.
Depois dessas publicações, abandonou a escrita por dez anos,
intervalo de tempo em que passou a se dedicar a tarefas, segundo
ele mesmo afirma, “sem qualquer sensação de glória”, tais como
beber, sair com mulheres loucas, uma após a outra, e viajar pela
América. Conforme conta numa entrevista publicada na London
Magazine em 1974, a respeito daquele período: “Beber e morar
com mulheres se tornou a minha forma de arte”.
Após esse episódio da hemorragia, ocorrido em abril de
1955, o fato é que Bukowski passou a escrever poesia de forma
compulsiva. A experiência de quase morte certamente refletiu
em sua escrita, desencadeando uma fase bem produtiva. Tanto
que ao longo dos anos e em paralelo à publicação de seus livros
de prosa, isto é, os seis romances e as diversas coletâneas de
contos, o autor publicou mais de trinta livros de poesia. Hoje
Bukowski é considerado um dos poetas mais influentes da
América e certamente um dos escritores contemporâneos mais
conhecidos pelo grande público.
Não é de surpreender que a sua obra poética encontre
grande receptividade entre os leitores mesmo tantos anos após
sua morte. Após a estreia no verso em 1960, com Flower, fist and
bestial wail, Bukowski passou a desenvolver uma poesia cada
vez mais voltada ao cotidiano, que falasse diretamente do dia a
dia de pessoas comuns. De fato, é da complexidade incomum
das relações afetivas que se desenvolvem entre essas pessoas,
tornadas personagens, que Bukowski arquiteta o esqueleto de
sua poética. Ou seja, o mundo real não era excluído de sua poe-
sia, mas sim objetivado.
Desde o início de sua trajetória, o autor não escondia seu
desapontamento com a tendência da poesia tradicional a pre-

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ciosismos. Demonstrava sua desaprovação, posicionando-se
contra a ornamentação excessiva da arte poética. Em certo
ensaio, referindo-se aos autoproclamados “poetas” de sua
época, afirma sua insatisfação: “As coisas mais comuns e reais
são inconcebíveis para eles”.
Dessa forma, de 1960 a 1994, Bukowski procurou desen-
volver uma poesia sensivelmente comunicativa que falasse do
cotidiano e da vida real e que, sobretudo, falasse diretamente
a qualquer pessoa, sem afetações, preciosismos ou acrobacias
inúteis devido a experimentos vazios de linguagem. Não é à toa
que o autor se referisse à poesia como “a maneira mais curta,
mais bonita e mais explosiva”. É dessa intersecção entre beleza e
concisão que vem a explosão da poesia bukowskiana.
Essa explosão, desencadeada em mais de trinta livros de
versos, encontra ressonância nos tempos atuais por tratar de
temas imperecíveis, tais como o relacionamento entre homem
e mulher, pais e filhos, uma infância torturante, a proximidade
da morte, tanto a própria morte vivenciada e pressentida, como
a de um amor, ou a das várias vidas desperdiçadas em sua busca
pelo sonho americano.
Pelo que presenciei ao organizar e traduzir as antologias
poéticas Essa loucura roubada que não desejo a ninguém a não
ser a mim mesmo amém, Amor é tudo que nós dissemos que não
era e Maldito deus arrancando esses poemas de minha cabeça,
posso dizer que as ondas de choque dessa explosão ainda se
encontram em expansão entre nós. A cada verso simples,
intenso e liricamente desafiador que encontro nos poemas do
velho Buk, percebo o quanto essa obra poética ainda irá nos
provocar, instigar a pensar, fazer respirar e significar.

Fernando Koproski

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nossos olhos transaram
the laughing heart

your life is your life.


don’t let it be clubbed into dank
submission.
be on the watch.
there are ways out.
there is light somewhere.
it may not be much light but
it beats the
darkness.
be on the watch.
the gods will offer you
chances.
know them, take them.
you can’t beat death but
you can beat death
in life,
sometimes.
and the more often you
learn to do it,
the more light there will
be.
your life is your life.
know it while you have
it.
you are marvelous
the gods wait to delight
in
you.

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o coração rindo

a sua vida é a sua vida.


não deixe ela levar porrada até uma submissão
repulsiva.
esteja atento.
existem saídas.
há luz em algum lugar.
pode não ser muita luz mas
ela vence a
escuridão.
esteja atento.
os deuses te oferecerão
oportunidades.
conheça-as, agarre-as.
você não pode vencer a morte mas
você pode vencer a morte
em vida,
às vezes.
e quanto mais você
aprender a fazer isso,
mais luz
haverá.
a sua vida é a sua vida.
conheça ela enquanto a
tem.
você é maravilhoso
os deuses esperam pra se deliciar
com
você.

15
yes, i am

no matter what woman I’m with


people ask me,
are you still with her?

my average relationship lasts


two-and-one-half years:
with war
inflation
unemployment
alcoholism
gambling
minor poverty
and my own degenerate personality
I think I do well enough.

I like reading the Sunday papers in bed with her.


I like orange ribbons tied around the cat’s neck.
I like sleeping up against a body that I know well.
I like black slips tossed on the foot of my bed
at 2 in the afternoon.
I like seeing how the photos turned out.

I like to be helped through the holidays:


4th of July, Labor Day, Halloween, Thanksgiving,
Christmas, New Year’s.
women know best how to ride those rapids
and they are less afraid of love than I am.

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sim, eu estou

não importa com qual mulher eu esteja


as pessoas me perguntam,
você ainda está com ela?

meus relacionamentos duram em média


dois anos e meio:
com guerra
inflação
desemprego
alcoolismo
jogatina
miséria
e minha própria personalidade degenerada
acho que estou indo bem.

gosto de ler os jornais de domingo na cama ao lado dela.


gosto de laços laranjas ao redor do pescoço do gato.
gosto de dormir abraçado a um corpo que conheço bem.
gosto de camisolas pretas no pé da cama
às 2 da tarde.
gosto de ver como as fotos saíram.

gosto que me ajudem a passar os feriados:


o dia da independência, dia do trabalho, dia das bruxas, ação de graças,
natal, ano-novo.
as mulheres sabem melhor como passar por essas correntezas
e elas têm menos medo do amor do que eu.

17
my women make me laugh where professional comedians
fail.

there is the comfort of walking out to buy a


newspaper together.

I take much pleasure in being alone


but there is also a strange warm grace in not being alone.

I like sharing boiled red potatoes late at night.

I like eyes and fingers keener than mine that can


untie the knots in my shoelaces.

I like letting her drive the car on dark nights


when the road and the way are too much for me.
the car radio on
we light cigarettes and talk about small things
and now and then we
fall silent.

I like hairpins left on the table and


on the bathroom floor.
I like sharing these same walls with
the same woman.

I dislike the insane and useless fights which sometimes


occur
and I dislike myself at those times
giving nothing
understanding nothing.

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minhas mulheres me fazem rir onde humoristas profissionais
fracassam.

é agradável sair para comprar um


jornal juntos.

há um grande prazer em estar sozinho


mas há também um encanto estranho e caloroso em não estar sozinho.

gosto de dividir batatas vermelhas cozidas de madrugada.

gosto de olhos e dedos mais afiados que os meus que podem


desatar os nós de meus cadarços.

gosto de deixar ela dirigir nas noites escuras


quando a estrada e o caminho são demais pra mim.
com o rádio do carro ligado
acendemos cigarros e conversamos sobre pequenas coisas
e de vez em quando
ficamos em silêncio.

gosto de grampos de cabelo largados na mesa e


no chão do banheiro.
gosto de dividir essas mesmas paredes com
a mesma mulher.

não gosto das brigas loucas e inúteis que às vezes


acontecem
e não gosto de mim mesmo nessas horas
não oferecendo nada
não entendendo nada.

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alone or together
I like boiled asparagus
and radishes
and green onions.
I like running my car through a car wash.
I like it when I have $10 to win on a six-to-one
shot.
I like my little radio which plays
Shostakovich, Brahms, Beethoven, Mahler.

but I also like it when there’s a knock on the door and


she’s there.

no matter what woman I’m with


people ask me,
are you still with her?

they must think I bury them


one at a time in
the Hollywood Hills.

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