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FENOMENOLÓGICA DE MERLEAU-PONTY
INTRODUÇÃO
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Professor Mestre Assistente do Departamento de Educação Física da Universidade
Federal de Sergipe. Doutorando em Educação NPGED/UFS.
Por se tratar de um fenômeno universal, a educação pode ser compreendida e
analisada a partir de diferentes enfoques. No entanto, apesar da sua diversidade de aspectos,
é imprescindível destacá-la como um dos setores da vida humana que está constantemente
relacionada às condições sociais e ao esquema de valores vigentes na sociedade. O ato
educativo está relacionado a uma determinada sistematização que o homem produz com o
objetivo de desenvolver suas aptidões físicas e intelectuais, assim como seus sentimentos
sociais, estéticos e morais (Cambi, 1999, p.30). Entende-se, então, que a educação, seja
qual for a sua definição, estará ligada a uma representação daquilo que se pode constituir
como base da vida humana. Através de princípios educativos, o homem procura direcionar
seu pensamento e sua ação na tentativa de estruturar sua identidade e encontrar sentido para
sua existência. Historicamente, ele vem acumulando diversas interpretações sobre a sua
própria natureza e, deste modo, a educação e a filosofia estiveram e permanecem
intimamente ligadas. Assim, pode-se afirmar que todo pensamento educacional,
indiscutivelmente, está alicerçado numa concepção de homem e de mundo que se
materializa a partir de princípios educativos, fornecendo a base para o entendimento mais
amplo definindo-lhe o sentido e estabelecendo a sua finalidade.
O entendimento da perspectiva fenomenológica, de um modo em geral, situa o
homem como um ser-no-mundo. Ser um sujeito no mundo é desenvolver a criatividade e se
humanizar a partir de sua existência, possuindo singularidade, capacidade e,
principalmente, intencionalidade. Dentro desta lógica, o homem deixa de ser entendido
como a soma de partes, mas sim, um sistema de interação que se relaciona.
Vivemos em um mundo em que necessitamos voltarmos para nós mesmos para
organizarmos nosso modo de existir. No início, todo homem em sua fase embrionária conta
unicamente com sua carga biológica, para aprender e realizar as múltiplas opções de
interação com o ambiente, sua estrutura mental ainda se apresenta despreparada para
orientar-se no processo da sua própria existência. Aos poucos através das experiências
sociais vai transformando em novo ser, ou melhor, em ser humano, para se chegar a esse
estágio precisamos de um processo educativo, ou seja, o homem não pode se tornar homem
senão pela educação.
É de grande importância destacar que o indivíduo, dentro do processo
educacional, não só recebe informações como também possui a capacidade de reflexão para
interpretar o meio em que vive, possibilitando, assim, o desabrochar da consciência,
percebendo-se como um ser único capaz de conduzir sua própria vida com autonomia. Essa
é uma das condições para que o indivíduo torne-se um sujeito livre e independente, pois o
homem carrega em potência uma gama de conhecimentos que já estão inseridos em seu
aspecto natural. Porém, nem todos despertam para isso, ou mesmo ficam sabendo de sua
existência. No processo de despertar da consciência, o homem torna-se aquilo que
realmente é, transcendendo as determinações da vida coletiva. É um processo através do
qual o homem torna-se um ser único, autônomo e responsável por si mesmo.
O corpo é sempre um testemunho vivo da permanente existência de um mundo
sensível, constantemente percebido, mesmo que este seja posto em dúvida. Só se é possível
conceber o corpo numa perspectiva fenomenológica, libertando-o das amarras do
pensamento puramente objetivo ou subjetivo. Apontamos para a necessidade de trazer para
o âmbito de nossas reflexões sobre educação, as experiências do próprio corpo como
dimensão fundamental da existência humana. E se o corpo for acusado de apenas
estabelecer um conhecimento equivocado ou ambíguo, por não atender as exigências de um
pensamento claro e evidente, não podemos negar que ele nos proporciona um
conhecimento primordial acerca de nós mesmos e do mundo.
Construir a identidade como um ser-no-mundo faz parte de uma descoberta de si
mesmo, estabelecendo normas próprias que tenham significado para a sua existência. Sendo
assim, a sua formação humana será construída de forma integral, através de uma educação
voltada para o despertar de uma consciência geral partindo do seu corpo. O corpo próprio
enquanto princípio educacional poderá contribuir para a reeducação ou aprimoramento do
ser humano a partir dos padrões próprios, e no desenvolvimento das potencialidades de
forma integral.
A formação do sentido de singularidade compreende a construção do sentido de
pessoa e da possibilidade de romper com a representação de corpo massificado,
padronizado, mecânico e de ações repetitivas, destituídas de significação. Surge, então, a
necessidade de se voltar a si mesmo para organizar um modo próprio de existir, a partir das
orientações que já se encontram na consciência de cada um. Como adverte Merleau-Ponty:
Quer se trate do corpo do outro o de meu próprio corpo, não tenho outro
meio de conhecer o corpo humano senão vivê-lo, quer dizer, retomar por
minha conta o drama que o transpassa e confundir-me com ele. Portanto,
sou meu corpo, exatamente na medida em que tenho um saber adquirido
e reciprocamente, meu corpo é como um sujeito natural, como um esboço
provisório do meu ser total. (Merleau-Ponty, 1994, p.269).
O movimento humano deve ser fundado na motricidade humana, de forma que
não haja separação entre a realização mecânica e a significação para o sujeito que se
movimenta. Todo movimento é inteligente, e deve ser intencional, possuindo sentido e
significado. Essa intencionalidade deve ser despertada, ao solicitar a realização de
movimentos pelos alunos. O educador precisa considerar que, ao realizar movimentos, os
alunos são sujeitos cuja condição corporal marca sua singularidade e autonomia. Assim,
uma educação de base fenomenológica chama para si a responsabilidade de preencher os
vazios deixados por uma Educação Mecanicista. Assim, tal entendimento de corpo
ultrapassa a perspectiva do corpo objeto, tão divulgada séculos atrás e ainda hoje existente,
chegando a uma concepção do corpo sujeito, não uma massa inerte, mas um corpo vivo,
que sente, pensa e age de maneira própria.
Em suas teorias, Merleau-Ponty destaca a noção de corpo e motricidade, a
reabilitação do sensível nas nações humanas e a consciência de corpo como interpretação
perceptiva da nossa vivência. Não há causalidade na relação entre corpo e consciência,
trata-se de uma dialética de intenções, onde a unidade do ser humano é expressa no corpo.
Há um rompimento com o dualismo entre os níveis concreto e abstrato, ou seja, corpo e
espírito. E é através do corpo que o homem se relaciona com o mundo. Ele não está no
mundo como um objeto, mas como presença viva em movimento.
A visão da fenomenologia é de que o corpo não é algo material, que não tem
movimento próprio, mas somos o corpo, um ser no mundo, uma unidade existencial, onde
não há separação entre psiquismo e biológico. Pode-se considerar que nós não somos
apenas um corpo biológico. Somos um corpo muito mais complexo. Somos um corpo que
se manifesta, expressa, se identifica, comunica, cria. Um corpo no mundo capaz de tomar
suas próprias decisões diante da vida, capaz de ser consciente. Um corpo repleto de
significado, cultura, ideologia.
O corpo é o nosso meio geral de ter um mundo. Ora ele se limita aos
gestos necessários à conservação da vida e, correlativamente, põe em
torno de nós um mundo biológico; ora, brincando com seus primeiros
gestos e passando de seu sentido próprio a um sentido figurado, ele
manifesta através deles um novo núcleo de significado: é o caso dos
hábitos motores como a dança. Ora enfim a significação visada não pode
ser alcançada pelos meios naturais do corpo; é preciso então que ele se
construa um instrumento, e ele projeta em torno de si um mundo cultural.
(MERLEAU-PONTY 1999, p. 2037)
Desta forma podemos compreender que o corpo não age por si só. É através dos
movimentos vitais que surge o sujeito e as suas intenções. As suas ações revelam seus
significados e constrói o seu comportamento, criando a sua história, a sua cultura perante a
sociedade em que vive, ou seja, além de atender as suas necessidades vitais, o movimento
corporal atende também as suas necessidades sociais, cria-se então, movimentos
simbólicos, ou seja, uma linguagem corporal.
Partindo da idéia de que o homem é um ser influenciado, influenciador e
mutável, e sendo assim, cultural pode-se concluir que a educação é o meio para que o corpo
perceba-se como uma unidade capaz de vivenciar a totalidade existente nele mesmo. É a
sensibilidade que leva o homem a se recuperar e perceber de forma profunda a sua
existência, O diálogo, a reflexão sobre ele mesmo no mundo leva-o a sua aproximação com
ele mesmo, ou seja, a integralidade a partir do pensamento e da ação consciente.com o
sensível, de maneira integral, sentindo e pensando e agindo de forma consciente. Sendo
assim, o movimento deve ter um significado, caso contrário, o corpo passa a condição de
objeto, de coisa, sem originalidade
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS