Sei sulla pagina 1di 6

28 de Fevereiro de 2017

Dia Internacional de Combate às LER/Dort

Maria Maeno – médica, pesquisadora da Fundacentro


Daniela Sanches Tavares – psicóloga e advogada, tecnologista da Fundacentro
Cristiane Queiroz Barbeiro Lima – ergonomista, tecnologista da Fundacentro

Relendo o que escrevemos por ocasião desta data em 2016, percebemos que não
conseguiríamos acrescentar nada substancial. Para quem quiser ler ou relembrar, clique no
link https://www.cut.org.br/system/uploads/ck/files/LER-DORT-28-fev-2016-final-2.pdf.

Destacamos o processo de visibilidade social das Lesões por Esforços Repetitivos/


Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/Dort) ocorrido na década de 1990
no Brasil, impulsionado pela integração de movimentos promovidos pelas entidades sindicais
de trabalhadores e a produção de textos científicos. Os primeiros protocolos do Ministério da
Saúde e da Previdência Social, também dessa época, traduziam uma compreensão de que a
eclosão desses adoecimentos ocorria pela organização e gestão do trabalho que impunham
aos trabalhadores um ritmo de trabalho além de suas possibilidades físicas e psíquicas.

Lembramos as conquistas normativas, mas ressaltamos a derrota decorrente do


aumento do desequilíbrio de forças entre o capital e os trabalhadores, traduzido pelas
terceirizações, intensificação e ritmo acelerado de trabalho, com consequências nefastas à
saúde de quem trabalha nos mais diferentes ramos de atividades, seja pelo desgaste físico
e/ou psíquico decorrente de exigências traduzidas em metas inatingíveis, avaliações de
desempenho com repercussões sobre a remuneração, humilhações, sensação de impotência e
assédio moral.

No setor público, a diminuição de concursos e aumento de terceirizados,


acompanhados pela invasão da lógica da gestão privada, impõe uma realidade na qual os
trabalhadores enfrentam prescrições inexequíveis, uma máquina emperrada pela burocracia,
um processo de avaliação de desempenho voltado a punições disciplinares e uma penalização
salarial, sem que se reflita sobre a missão do poder público de garantir os direitos de cidadania
conquistados na Constituição Federal.

Os processos produtivos e de serviços que mantêm a exigência de movimentos


repetitivos, como linhas de montagem e embalagem, frigoríficos, bancos, teleatendimento,
entre outros, são cenários ainda de desgaste e ocorrência de afecções musculoesqueléticas
crônicas, incapacitantes e acompanhadas de sofrimento e transtornos psíquicos.

Este texto fará uma breve análise dos dados nacionais referentes ao que há de
registros nacionais de doenças relacionadas às LER/Dort.
A primeira fonte de dados a ser considerada será a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS),
realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada em 20131. Da
população estimada pela PNS, 2,29%, isto é, 3.568.095 pessoas com mais de 18 anos
declararam ter tido diagnóstico de LER/Dort feito por médico. Para termos uma ideia do que
isso representa, a mesma pesquisa mostrou que o diabetes, doença altamente prevalente na
população e merecedora de inúmeros cuidados por parte do Ministério da Saúde, foi apontada
por 6,2% e a depressão diagnosticada por profissional de saúde por 7,6%. Desses diagnósticos
o único especificamente relacionado ao trabalho é o das LER/Dort.

A outra fonte de dados é a da Previdência Social, que inclui somente os segurados do


Seguro de Acidentes do Trabalho (SAT). O Anuário Estatístico de Previdência Social (AEPS) não
apresenta os transtornos musculoesqueléticos como LER/Dort, mas por doenças específicas.
As estatísticas dependem, assim, da seleção que é feita. Para este texto, foram considerados
os seguintes diagnósticos: dorsalgias, lesões do ombro, sinovites e tenossinovites,
mononeuropatias dos membros superiores, outros transtornos dos tecidos moles, não
classificados em outra parte, outras entesopatias, outros transtornos articulares não
classificados em outra parte.

Os números citados neste texto referem-se a dados corrigidos pela Previdência Social,
demonstrados no AEPS do ano posterior, com exceção daqueles referentes a 2013 e 2015. Os
dados corrigidos de 2013, publicados no AEPS de 2014, apresentam provável equívoco, com
queda de 95% em relação ao ano anterior. Dessa forma, preferimos considerar os dados de
2013, não corrigidos, publicados no AEPS de 2013. Os dados referentes a 2015 não foram
corrigidos ainda e deverão ser publicados no AEPS de 2016.

Em 2006, antes da adoção do nexo técnico epidemiológico (NTEp), foram registrados


16.981 casos de diagnósticos referentes a LER/Dort, totalizando 56,2% dos casos de doenças
ocupacionais2. De 2006 para 2007, com o advento do NTEp, houve um aumento previsível e
esperado de quase 526%. O aumento continuou em 2008, quando o crescimento registrado foi
de 163% sobre 2007 e de 857% sobre 2006 (Gráfico 1).

Pode-se perceber uma tendência à queda dos registros de LER/Dort a partir de 2009,
havendo uma queda de aproximadamente 27,5% no período de 2009 a 2014 e de 47,6% no
período de 2009 a 2015.

1
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/pns/2013/
2
Até 2006, todos os casos de doenças com caracterização ocupacional pelo INSS tinham CAT. Com a
introdução do NTEp, abriu-se a possibilidade de se caracterizar casos ocupacionais mesmo sem a CAT.
Gráfico 1 – Total de LER/Dort, com CAT e sem CAT, por ano

160000
140000
120000
100000
80000
LER/Dort
60000
40000
20000
0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Fonte: Anuário Estatístico da Previdência Social de 2006 a 2015 (AEPS de 2006 a 2015)
Obs.: Dados corrigidos pela Previdência Social segundo o AEPS do ano seguinte ao ano de
ocorrências. Os dados referentes a 2013 e 2015 expostos neste gráfico não foram corrigidos.

Também se observa que o reconhecimento da grande maioria das LER/Dort continua


se dando graças ao critério do nexo técnico epidemiológico (NTEp), em torno de 85% do total
das LER/Dort registradas (Gráfico 2). Caso a Previdência Social não tivesse adotado o NTEp,
85% dos casos atualmente reconhecidos permaneceriam ocultos e sem CAT emitida. Essas
LER/Dort reconhecidas pelo NTEp, em relação ao total das doenças ocupacionais também
reconhecidas por esse mesmo critério, representavam 54,2% e 62,5% nos anos de 2007 e
2008, respectivamente, mas a partir de 2009, vêm permanecendo em torno de 35%.
Paralelamente observa-se queda das LER/Dort com CAT emitida (Gráfico 3). Pergunta-se: se as
condições de trabalho favoráveis à ocorrência das LER/Dort permanecem e até têm se
agravado com a intensificação do trabalho, do ritmo extenuante, das cobranças por metas
consideradas inexequíveis, por que a queda brusca desse percentual entre 2008 e os anos
seguintes, e em particular de 2008 para 2009, quando a queda foi de 25,6%? Por que a
diminuição brusca do peso das LER/Dort dentre outras doenças ocupacionais caracterizadas
pelo critério do NTEp?
Gráfico 2 – LER/Dort com CAT emitida e sem CAT por ano

140000

120000

100000

80000
LER/Dort com CAT
60000 LER/Dort sem CAT

40000

20000

0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Fonte: Anuário Estatístico da Previdência Social de 2006 a 2015 (AEPS de 2006 a 2015)
Obs.: Dados corrigidos pela Previdência Social segundo o AEPS do ano seguinte ao ano de
ocorrências. Os dados referentes a 2013 e 2015 expostos neste gráfico não foram corrigidos.

Gráfico 3 – LER/Dort com CAT emitida

20000
18000
16000
LER/Dort com CAT

14000
12000
10000
8000
6000
4000
2000
0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Ano

Fonte: Anuário Estatístico da Previdência Social de 2006 a 2015 (AEPS de 2006 a 2015)
Obs.: Dados corrigidos pela Previdência Social segundo o AEPS do ano seguinte ao ano de
ocorrências. Os dados referentes a 2013 e 2015 expostos neste gráfico não foram corrigidos.

Se tomarmos como referência a PNS, segundo a qual mais de 3,5 milhões de pessoas
referiram que tinham tido diagnóstico médico de LER/Dort e o maior registro dessas afecções
pela Previdência Social, de pouco mais de 145 mil em 2008, fica fortemente sugerida uma
discrepância muito grande. A despeito da devida cautela necessária para se fazer qualquer
comparação entre dados de dois bancos de dados com diferenças substanciais,
recomendamos a leitura de texto produzido por pesquisadores da Fundacentro, em que se
estimou 245% a mais de referências a acidentes do trabalho na PNS do que nos registros da
Previdência Social. 3 Embora em relação às LER/Dort não se tenha feito essa comparação por
falta de dados na PNS sobre o ano de diagnóstico, os dados dos AEPS e os relatos de
trabalhadores, suas entidades sindicais, profissionais de segurança e saúde no trabalho das
empresas nos permitem afirmar que a subnotificação é significativa.

E o que fazer, para que situações crônicas não se perpetuem, aprofundando a


distância entre os registros de LER/Dort e a realidade do mundo do trabalho?

O primeiro fenômeno, o subdiagnóstico, está ligado a aspectos do sistema de atenção


à saúde do trabalhador vigente no país. Consideremos os 3 pilares sempre lembrados na
prevenção de doenças em geral: a informação e o auto-cuidado, o afastamento das causas e o
acesso a serviços de saúde e ao tratamento precoce.

No caso presente, a informação talvez seja o menor problema. Será que a grande
maioria dos trabalhadores de frigoríficos, de bancos e de linhas de montagem já não sabe o
que causa as LER/Dort? Ao verem tantos colegas com dores, com diagnósticos de tendinites e
similares, arriscaríamos a afirmar que a maioria deles sabe que as exigências e a organização
do trabalho que os levam a executar movimentos rápidos e repetitivos e a permanecer tempo
prolongado em determinada posição causam dores. Uma abordagem empobrecida e
distorcida da promoção de saúde, focada em estilo de vida e escolhas pessoais, acabam
incutindo na cabeça dos adoecidos que a culpa foi deles, que não souberam cuidar de si
próprios. Esse é um ponto crucial mesmo, pois o que os trabalhadores no cotidiano não sabem
é o que fazer para que esse processo de adoecimento seja interrompido. Devem reclamar?
Recusar-se a trabalhar? Ou trabalhar em um outro ritmo, compatível com suas possibilidades?
Essas condutas são amparadas por lei, mas representam simplesmente a demissão na vida
real. Ou devem aderir a ginásticas laborais, que não previnem LER/Dort? Ou fazer ioga, que
tampouco previne as LER/Dort? Ou devem incutir em suas cabeças que afinal, é o tricô,
bordado, uso de celular que causam tais ou quais doenças?

Quanto ao afastamento das causas das dores decorrentes de LER/Dort, é fácil perceber
que se trata de um assunto da mais alta complexidade. Alterar os fundamentos da gestão e
organização do trabalho escolhidas pelas empresas, pautadas na otimização de recursos para
que se obtenha o aumento de lucros, não é tarefa de cada trabalhador individualmente.

E o que ocorre quando procuram o médico do trabalho das empresas ou mesmo


serviços conveniados de saúde? Podem até ter o diagnóstico de tendinites e tenossinovites,
mas a relação com o trabalho, na maioria das vezes, é omitida, para que não se responsabilize
o processo de trabalho por um dano à saúde e tampouco as transformações necessárias são
sequer aventadas. O Sistema Único de Saúde (SUS), cujos profissionais não têm vínculo com as
empresas, poderia então, atuar de forma efetiva, como preconiza o protocolo do Ministério da

3
http://www.fundacentro.gov.br/arquivos/projetos/estatistica/boletins/boletimfundacentro1vfinal.pdf
Saúde. No entanto, sabotado pelos que veem na saúde um excelente meio de lucrar e sem um
verdadeiro apoio da sociedade, o SUS não se constitui em uma rede potente de diagnóstico de
doenças ocupacionais. Dessa forma, os trabalhadores não possuem uma rede de serviços que
traduza suas dores decorrentes do trabalho em diagnósticos ocupacionais que possam ser
devidamente registrados, havendo um grande subdiagnóstico e subnotificação de doenças
ocupacionais.

Quando, já incapacitados para o trabalho, devido não à falta de informação ou de


consciência, mas à impossibilidade de mudar a forma de trabalhar, imposta pelas empresas,
são forçados a se afastar e são encaminhados ao INSS, geralmente não tem a CAT emitida,
como mostram os dados da Previdência Social.

Em síntese, há uma insuficiência de arcabouço institucional que garanta o


cumprimento dos direitos constitucionais dos trabalhadores e também a efetivação do papel
do Estado de realizar a vigilância dos riscos á saúde, para que aspectos centrais da organização
e gestão do trabalho, danosos à saúde, se modifiquem e para que se viabilize uma rede
potente de diagnóstico precoce independente da tutela das empresas, de caracterização
ocupacional e garantia dos direitos dela decorrentes.

No entanto, em vez de prover um arcabouço institucional que possa dar concretude à


vigilância e prevenção das doenças e acidentes de trabalho, o Estado tem optado pelos
artifícios de bônus e ônus tributários para fazer com que as empresas diminuam seus índices
de acidentes e doenças. Assim, ao não se fiscalizar a concretude das condições de trabalho,
mas apenas índices, que não traduzem a realidade, o Estado tem estimulado, de forma
desacertada, os empregadores a recorrerem a um caminho mais curto e de sucesso garantido:
cuidar apenas dos índices, independentemente de sua correspondência ou não com a
realidade. Ou seja, o sistema de premiação e punição financeira tem feito, muito
provavelmente, com que as empresas ocultem mais ainda seus índices reais, para que possam
usufruir dos bônus oferecidos.

As reformas trabalhista e previdenciária, ora em questão no país, trazem apreensões


para os segmentos sociais que se preocupam com o aprofundamento da precarização do
mundo do trabalho, com a fragilização do arcabouço de proteção à saúde do trabalhador, e
consequentemente com o provável aumento do número e gravidade dos acidentes e doenças
relacionadas ao trabalho.

Agradecimentos aos colegas Cezar Akiyoshi Saito e Marco Bussacos,

do Serviço de Estatística da Fundacentro.

Potrebbero piacerti anche