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Relendo o que escrevemos por ocasião desta data em 2016, percebemos que não
conseguiríamos acrescentar nada substancial. Para quem quiser ler ou relembrar, clique no
link https://www.cut.org.br/system/uploads/ck/files/LER-DORT-28-fev-2016-final-2.pdf.
Este texto fará uma breve análise dos dados nacionais referentes ao que há de
registros nacionais de doenças relacionadas às LER/Dort.
A primeira fonte de dados a ser considerada será a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS),
realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada em 20131. Da
população estimada pela PNS, 2,29%, isto é, 3.568.095 pessoas com mais de 18 anos
declararam ter tido diagnóstico de LER/Dort feito por médico. Para termos uma ideia do que
isso representa, a mesma pesquisa mostrou que o diabetes, doença altamente prevalente na
população e merecedora de inúmeros cuidados por parte do Ministério da Saúde, foi apontada
por 6,2% e a depressão diagnosticada por profissional de saúde por 7,6%. Desses diagnósticos
o único especificamente relacionado ao trabalho é o das LER/Dort.
Os números citados neste texto referem-se a dados corrigidos pela Previdência Social,
demonstrados no AEPS do ano posterior, com exceção daqueles referentes a 2013 e 2015. Os
dados corrigidos de 2013, publicados no AEPS de 2014, apresentam provável equívoco, com
queda de 95% em relação ao ano anterior. Dessa forma, preferimos considerar os dados de
2013, não corrigidos, publicados no AEPS de 2013. Os dados referentes a 2015 não foram
corrigidos ainda e deverão ser publicados no AEPS de 2016.
Pode-se perceber uma tendência à queda dos registros de LER/Dort a partir de 2009,
havendo uma queda de aproximadamente 27,5% no período de 2009 a 2014 e de 47,6% no
período de 2009 a 2015.
1
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/pns/2013/
2
Até 2006, todos os casos de doenças com caracterização ocupacional pelo INSS tinham CAT. Com a
introdução do NTEp, abriu-se a possibilidade de se caracterizar casos ocupacionais mesmo sem a CAT.
Gráfico 1 – Total de LER/Dort, com CAT e sem CAT, por ano
160000
140000
120000
100000
80000
LER/Dort
60000
40000
20000
0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Fonte: Anuário Estatístico da Previdência Social de 2006 a 2015 (AEPS de 2006 a 2015)
Obs.: Dados corrigidos pela Previdência Social segundo o AEPS do ano seguinte ao ano de
ocorrências. Os dados referentes a 2013 e 2015 expostos neste gráfico não foram corrigidos.
140000
120000
100000
80000
LER/Dort com CAT
60000 LER/Dort sem CAT
40000
20000
0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Fonte: Anuário Estatístico da Previdência Social de 2006 a 2015 (AEPS de 2006 a 2015)
Obs.: Dados corrigidos pela Previdência Social segundo o AEPS do ano seguinte ao ano de
ocorrências. Os dados referentes a 2013 e 2015 expostos neste gráfico não foram corrigidos.
20000
18000
16000
LER/Dort com CAT
14000
12000
10000
8000
6000
4000
2000
0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Ano
Fonte: Anuário Estatístico da Previdência Social de 2006 a 2015 (AEPS de 2006 a 2015)
Obs.: Dados corrigidos pela Previdência Social segundo o AEPS do ano seguinte ao ano de
ocorrências. Os dados referentes a 2013 e 2015 expostos neste gráfico não foram corrigidos.
Se tomarmos como referência a PNS, segundo a qual mais de 3,5 milhões de pessoas
referiram que tinham tido diagnóstico médico de LER/Dort e o maior registro dessas afecções
pela Previdência Social, de pouco mais de 145 mil em 2008, fica fortemente sugerida uma
discrepância muito grande. A despeito da devida cautela necessária para se fazer qualquer
comparação entre dados de dois bancos de dados com diferenças substanciais,
recomendamos a leitura de texto produzido por pesquisadores da Fundacentro, em que se
estimou 245% a mais de referências a acidentes do trabalho na PNS do que nos registros da
Previdência Social. 3 Embora em relação às LER/Dort não se tenha feito essa comparação por
falta de dados na PNS sobre o ano de diagnóstico, os dados dos AEPS e os relatos de
trabalhadores, suas entidades sindicais, profissionais de segurança e saúde no trabalho das
empresas nos permitem afirmar que a subnotificação é significativa.
No caso presente, a informação talvez seja o menor problema. Será que a grande
maioria dos trabalhadores de frigoríficos, de bancos e de linhas de montagem já não sabe o
que causa as LER/Dort? Ao verem tantos colegas com dores, com diagnósticos de tendinites e
similares, arriscaríamos a afirmar que a maioria deles sabe que as exigências e a organização
do trabalho que os levam a executar movimentos rápidos e repetitivos e a permanecer tempo
prolongado em determinada posição causam dores. Uma abordagem empobrecida e
distorcida da promoção de saúde, focada em estilo de vida e escolhas pessoais, acabam
incutindo na cabeça dos adoecidos que a culpa foi deles, que não souberam cuidar de si
próprios. Esse é um ponto crucial mesmo, pois o que os trabalhadores no cotidiano não sabem
é o que fazer para que esse processo de adoecimento seja interrompido. Devem reclamar?
Recusar-se a trabalhar? Ou trabalhar em um outro ritmo, compatível com suas possibilidades?
Essas condutas são amparadas por lei, mas representam simplesmente a demissão na vida
real. Ou devem aderir a ginásticas laborais, que não previnem LER/Dort? Ou fazer ioga, que
tampouco previne as LER/Dort? Ou devem incutir em suas cabeças que afinal, é o tricô,
bordado, uso de celular que causam tais ou quais doenças?
Quanto ao afastamento das causas das dores decorrentes de LER/Dort, é fácil perceber
que se trata de um assunto da mais alta complexidade. Alterar os fundamentos da gestão e
organização do trabalho escolhidas pelas empresas, pautadas na otimização de recursos para
que se obtenha o aumento de lucros, não é tarefa de cada trabalhador individualmente.
3
http://www.fundacentro.gov.br/arquivos/projetos/estatistica/boletins/boletimfundacentro1vfinal.pdf
Saúde. No entanto, sabotado pelos que veem na saúde um excelente meio de lucrar e sem um
verdadeiro apoio da sociedade, o SUS não se constitui em uma rede potente de diagnóstico de
doenças ocupacionais. Dessa forma, os trabalhadores não possuem uma rede de serviços que
traduza suas dores decorrentes do trabalho em diagnósticos ocupacionais que possam ser
devidamente registrados, havendo um grande subdiagnóstico e subnotificação de doenças
ocupacionais.