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DIVERGENTES OU CONVERGENTES?

COMO A LITERATURA
ESTADUNIDENSE TEM PERCEBIDO OS POSICIONAMENTOS DE SEUS
PRINCIPAIS PARTIDOS.

Flávio Contrera1
flavio.contrera@gmail.com

RESUMO: A percepção da literatura e do público em geral de que o Partido Democrata


defende políticas de orientações mais liberais e o Partido Republicano de orientações mais
conservadoras não é recente, estando associada aos desdobramentos que se seguiram à crise
de 1929 e ao movimento pelos direitos civis dos negros em 1964. Desse modo, esta percepção
envolve clivagens históricas de diferentes pontos de vista econômicos e sociais. Entretanto, a
literatura tende a discordar quanto a existência de diferenças ideológicas importantes entre os
partidos e também em que medida estas possíveis diferenças poderiam influenciar o
comportamento de partidos e eleitores. Tendo isto em vista, nosso objetivo é contrapor os
argumentos de teóricos da escolha racional e do desenvolvimento político com o intuito de
explicar porque a literatura estadunidense se divide sobre essas questões. Por fim, concluímos
que além da corrente teórica a que se filiam os autores, os diferentes contextos históricos sob
os quais escreveram contribuíram decisivamente para que eles construíssem seus argumentos
de modo distinto a respeito da existência de diferenças ideológicas importantes entre os
partidos, embora destaca-se que autores de ambas as correntes consideraram a finalidade de
eleger candidatos e não a competição ideológica como a atividade mais importante dos
partidos.

Palavras-chave: Partidos Políticos; Estados Unidos; Ideologia; Racionalidade.

INTRODUÇÃO
A concorrência entre Democratas e Republicanos é, em grande parte, moldada pelas
diferentes questões que estes partidos priorizam no embate presidencial. Segundo Rockman
(1994) e Eldersveld (2000), haveria um consenso geral de que a natureza e a extensão das
diferenças entre os partidos políticos estadunidenses, no plano interno, eram no passado,
relativamente menos intensas comparadas às de hoje. Eldersveld, particularmente, acredita
que embora nos anos 1950 tenha prevalecido uma noção maior de que havia um consenso na

1
Doutorando em Ciência Política pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Política (PPG-Pol) da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo (FAPESP). Membro do Núcleo de Estudos dos Partidos Políticos Latino-Americanos (NEPPLA).
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política americana, na verdade, sempre houve mais diferenças significativas entre os dois
principais partidos do que os observadores externos puderam suspeitar. Com efeito, em
algumas questões os partidos americanos estariam constantemente divididos, conforme aponta
Rockman (1994) em relação à natureza do estado de bem-estar e à natureza do que se poderia
chamar de desenvolvimento do Estado. De acordo com Pope e Woon (2008), na política
interna, os democratas são vistos como aqueles que melhor lidam com o bem-estar social e
questões de direitos civis, enquanto os republicanos são vistos como os mais capazes de lidar
com o império da lei e com a defesa nacional.
Mas afinal, existem importantes diferenças ideológicas entre os partidos Republicano
e Democrata ou suas agendas tendem a convergir ao centro, prevalecendo a ambiguidade em
suas posições? Estas possíveis diferenças são percebidas pela literatura especializada em
partidos políticos? Em que medida estas diferenças, se existem, são percebidas pelos
eleitores? Nosso objetivo, neste artigo foi apresentar e contrapor os argumentos de teóricos da
escolha racional e do desenvolvimento político com o intuito de explicar porque a literatura
estadunidense se divide sobre essas questões, tomando o cuidado, contudo, em não apontar
conclusões definitivas, tendo em vista o caráter teórico da discussão aqui empreendida.
Embora exista um considerável número de obras focadas naqueles aspectos, optamos
por apresentar e discutir os argumentos de apenas três autores: Leon Epstein (1967), Samuel
Eldersveld (1982) – representantes da teoria do desenvolvimento político – e John Aldrich
(2011) – representante da teoria da escolha racional –, pelo fato de eles escreverem em
décadas e momentos distintos da história estadunidense e sustentarem posições com graus
variados de divergência e convergência. Cada autor dispende maior ou menor atenção a cada
um dos questionamentos que levantamos acima. Sendo assim, nem sempre será possível
comparar a compreensão dos três sobre um determinado fenômeno. Ao final, esperamos ao
menos ter apresentado seus principais argumentos, de modo a oferecer ao leitor uma
compreensão básica da forma como esses autores interpretam o componente ideológico da
competição entre os partidos estadunidenses. Nas próximas duas seções apresentamos e
discutimos as percepções dos teóricos do desenvolvimento político e da escolha racional,
respectivamente. Por fim, apresentamos nossas conclusões.
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A IDEOLOGIA DE REPUBLICANOS E DEMOCRATAS SEGUNDO OS TEÓRICOS


DO DESENVOLVIMENTO POLÍTICO.
Incomodado com as conclusões de Maurice Duverger (1951) a respeito dos partidos
políticos estadunidenses, Leon Epstein escreveu “Political Parties in Western Democracies”,
originalmente publicado em 1967, com o intuito de demonstrar que esses partidos,
frequentemente tratados como subdesenvolvidos de acordo com o padrão de análise europeu,
são na realidade respostas às condições norte-americanas, as quais não podem, na sua
totalidade, serem tratadas como as marcas de uma nação atrasada que, eventualmente, deveria
se assemelhar a Europa.
Compreendendo partido político como “qualquer grupo... que busca eleger os titulares
de cargos governamentais sob um determinado rótulo”, Epstein (2000) se propôs a realizar
um estudo que enfatizava mais os ambientes em que os partidos se formaram, do que os
próprios partidos políticos em si. Estes aspectos, embora importantes, não resumem o livro do
autor. Mais do que estudar os partidos estadunidenses, Epstein realizou um estudo
comparativo e histórico sobre os partidos políticos em vinte democracias ocidentais. Nessa
amostra estão presentes Dinamarca, Suécia, Noruega, Finlândia, Islândia, Grã-Bretanha,
Irlanda, Suíça, Áustria, França, Alemanha Ocidental, Itália, Bélgica, Holanda, Luxemburgo,
Nova Zelândia, Austrália, Canadá e Israel, além dos Estados Unidos. Embora heterogêneos,
estes países são caracterizados pela cultura política ocidental e compartilham pelo menos
certas normas nacionais sobre competição política, desenvolvimento econômico e estrutura
social.
Trata-se, assim, de uma pesquisa inovadora e bem sucedida em muitos aspectos. Em
primeiro lugar, ele observa as diferenças entre os países de sistemas presidencialista e
parlamentarista, concluindo que nos segundos, para haver estabilidade, seriam necessários
partidos mais coesos, enquanto que nos primeiros haveria mais estabilidade com muito menos
coesão entre os partidos. Apesar disto, caso presidência e congresso em sistemas
presidencialistas fossem controlados por partidos diferentes, igualmente coesos e ideológicos,
haveria mais chances para a instabilidade. Em segundo, o autor argumenta que os aspectos do
ambiente em que os partidos se formam são importantes. Questionando o que Duverger
(1951) viu como o “contágio vindo pela esquerda”, Epstein (2000) concluiu que os partidos
europeus estavam perdendo seus membros da massa, tornando-se menos ideológicos, e
confiando cada vez mais no uso dos meios de comunicação de massa. Explicou ainda que os
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Estados Unidos não tiveram um partido socialista porque a classe operária do país era
suficientemente rica e a sociedade suficientemente aberta para que os trabalhadores nunca
quisessem um partido da classe.
Postos estes argumentos, Epstein (2000) enfim derruba a noção de Duverger (1951) de
que os partidos de massa seriam uma norma necessária ou desejável para "modernos" partidos
democráticos. Em sua visão, nem ideologia nem clareza programática constituem uma
explicação suficiente da vida partidária, da competição eleitoral ou do desempenho funcional
de partidos democráticos. Ademais, haveria uma dificuldade de se conciliar os partidos
programáticos com as realidades subjacentes de uma política democrática competitiva,
especialmente quando a competição é apenas entre dois partidos 2. Segundo o autor, a origem
da crença nos partidos programáticos está na suposição de que os partidos devem ser
principalmente formuladores de políticas. Contudo, argumenta que a função de formuladores
de políticas pode atender mal certos tipos de partidos ou atender mal outras funções dos
partidos. Isto porque, ele entende que é pouco provável que um partido tenha o apoio da
maioria genuína do Congresso para aprovar quaisquer políticas particulares. Assim, enfatiza
que, no máximo, um partido vencedor poderia reivindicar autorização para a adoção de
políticas que os seus titulares de cargos preferem. Acrescenta ainda que a preferência dos
eleitores por candidatos de um determinado partido não pode ser considerado como sinônimo
de preferências para as políticas específicas daquele partido.
As dificuldades no caminho dos partidos programáticos para a formulação de políticas
ficam ainda maiores quando a política externa é introduzida, salienta Epstein (2000). Mas isto
não seria apenas o resultado da ignorância da maioria dos eleitores no assunto, visto que estes
possuem pouca informação sobre muitos outros assuntos internos. Em sua visão, haveria uma
base completamente diferente para o tratamento da política externa como uma fonte especial
de dificuldade para os partidos programáticos:

A política externa é particularmente inadequada como tema de debate na


arena da competição eleitoral, não apenas porque ela é difícil e complexa,
mas principalmente porque ela raramente permite alternativas reais de

2
Segundo Epstein, os partidos Democratas e Republicanos quase nunca são considerados como formuladores de
políticas e, na verdade, têm sido muitas vezes criticados por não ter políticas, exceto ad hoc. Esta crítica, para o
autor, tem sido parte integrante de um amplo ataque contra os partidos americanos, entendidos como não-
programáticos e desorganizados. No entanto, destaca que ela pode ser combatida na medida em que os partidos
americanos têm sido muito bem sucedidos, quando julgados não apenas pelo critério de ganhar eleições, mas
também pelos critérios de longevidade e estabilidade.
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escolha. A este respeito, a política externa é diferente em espécie da política


interna (EPSTEIN, 2000, tradução livre).

Esta diferença, para o autor, se deve ao fato de que se as mudanças na política interna
de um governo são geralmente apenas incrementais na prática, a possibilidade de uma política
nitidamente diferente ainda existe. Já em relação à política externa, embora destaque a
essencialidade da existência de partidos programáticos e da importância da diferença de
políticas, afirma que nenhuma dessas significativamente diferentes políticas externas
ameaçaria a coerência e continuidade da busca da nação de seus interesses nacionais. Este
entendimento está baseado na percepção de que mudar radicalmente a política externa de uma
nação ou mesmo ameaçar alterá-la, de qualquer modo mais leve e mais gradual normalmente
aparece fora de questão: “Certamente a ideia de pedir ao eleitorado para mudar a política
externa, preferindo um partido ao invés de outro é bem distante da experiência da maioria das
nações democráticas” (EPSTEIN, 2000).
Há ainda, segundo Epstein (2000), outra dificuldade em relação à política externa, na
medida em que cada partido deveria desenvolver seu próprio programa internacional e este ter
uma ligação programática com a política interna. Historicamente, os partidos tendem a
desenvolver os seus programas, principalmente em torno de questões nacionais e atrair
eleitores em torno dessas questões, aponta o autor. Contudo, entende que se um partido adota
posteriormente posições em política externa, seus seguidores seriam convidados a apoiar
posições que teriam pouco a ver com a atração original do partido programático. Apesar disto,
o autor admite que a ausência de posições partidárias divergentes sobre a política externa não
prova que essa divergência é impossível em uma sociedade democrática. Todavia, postula que
isto sugere que a situação está de acordo com a expectativa de que a política externa seria
inadequada para discordância interpartidária. Assim, Epstein conclui que um consenso
bipartidário ou apartidário é considerado essencial se uma nação persegue uma política
externa eficaz.
Por mais que os argumentos de Epstein (2000) sejam coerentes e, em certo ponto,
convincentes, sua análise não está dissociada e evidentemente, nem haveria de estar, do
contexto político de seu país, que naquele momento estava imerso na Guerra Fria. Mais do
que isso, no momento em que Epstein escreve, os Estados Unidos estavam há pouco tempo
em Guerra com o Vietnã e os partidos políticos passavam por um momento de profunda
convergência de agendas, sobretudo na política externa. Nesse sentido, Rosati e Scott (2011),
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explicam que naquele momento estava em vigor um consenso conhecido como liberal-
conservador, cuja origem remonta aos anos 1930, mas que de fato fora iniciado com a vitória
do candidato republicano à presidência Dwight Eisenhower, em 1952. Enquanto que, naquele
período, Democratas e liberais apresentaram tendências mais conservadoras porque o
macarthismo os forçou a tornarem-se ardentes anticomunistas, a aprovação popular das
políticas democratas do New Deal fez com que os Republicanos aceitassem maior intervenção
governamental na economia e um grau limitado de welfare state. O crescimento do consenso
ideológico produziu um considerável nível de concordância entre Democratas e Republicanos.
Líderes de ambos os partidos eram fortes anticomunistas que apoiavam a política de
contenção e dependência em relação ao uso da força no exterior. Do mesmo modo, candidatos
indicados pelos partidos tendiam a ter fortes credenciais anticomunistas. Em um momento
ímpar como este, não é nada espantosa a conclusão de Epstein de que os partidos
estadunidenses não eram ideológicos ou programáticos, o que é ainda mais contundente
quando a questão de disputa é a política externa, visto que ela não poderia ser eficaz se ambos
os partidos não tivessem se unido em torno da contenção do comunismo.
Desse modo, questionar a afirmação de Duverger (1951) de que os partidos de massa
seriam a norma desejável para os modernos partidos democráticos, adquire também um
aspecto político. Em última análise, Epstein (2000) não questionava apenas o entendimento
dos partidos de massa como modernos, mas também o fato destes partidos adotarem um
discurso mais próximo do socialismo, isto é, do sistema político e ideológico que estava em
conflito com seu país e com todo o “ocidente democrático”. Se ser moderno significava ser
um partido socialista de massa, ideológico e programático, Epstein procurou desconstruir
tanto esta noção evolutiva dos partidos quanto as características que pudessem associar os
partidos estadunidenses com os partidos socialistas.
Contudo, pouco tempo após Epstein publicar sua obra, o custo humano e econômico
da Guerra do Vietnã levou os estadunidenses a questionarem o envolvimento de seu país no
conflito. Estes questionamentos resultaram na quebra do consenso bipartidário e também
provocaram cisões dentro dos próprios partidos. Em consequência, o período que se segue ao
fim do conflito marca uma fase de ressurgimento do ativismo congressual em matéria de
política externa, sendo este caracterizado por mais elementos de dissenso entre os partidos do
que em qualquer outro período anterior.
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Para Rosati e Scott (2011), o pós-guerra do Vietnã tem sido marcado pelo
desalinhamento partidário, no qual nenhum partido majoritário domina e o consenso liberal-
conservador desapareceu. O ataque inicial a este consenso veio da ascensão do liberalismo e
da nova esquerda nos anos 1960 e início dos 1970, que puxou o partido Democrata mais para
a esquerda, com seus candidatos defendendo a retirada das tropas americanos do Vietnã 3. Ao
mesmo tempo, houve uma ascensão de tendências conservadores e de extrema-direita entre os
Republicanos, com a eleição de Richard Nixon em 1968 e de Ronald Reagan nos anos 19804.
Consequentemente, o Partido Democrata veio a refletir uma ideologia mais liberal e uma
perspectiva liberal internacionalista em política externa, enquanto os Republicanos passaram a
representar políticas mais conservadoras, incluindo uma abordagem conservadora
internacionalista na política externa.
Tendo o contexto pós-Vietnã como pano de fundo, Samuel Eldersveld publica, em
1982, a primeira edição do livro “Political Parties in American Society”. De acordo com o
autor, a busca por uma definição aceitável de partido político é bastante complicada e
controversa. Partindo das diferentes ênfases que os estudiosos dão em suas definições de
partido, Eldesrveld (2000) identifica três imagens ou aspectos dessas definições que são
particularmente importantes, estando eles interligados: 1) um grupo que busca o poder através
da vitória nas eleições; 2) um grupo que processa demandas de grupos de interesses; 3) um
competidor ideológico. Como vimos, estes dois últimos aspectos das atividades dos partidos
não foram incluídos na definição de Epstein (2000). Para nós, interessa particularmente a
interpretação que Eldersveld desenvolve a respeito do partido enquanto competidor
ideológico, uma vez que este é um ponto de grande dissenso entre ele e Epstein.
Embora esteja vinculado à abordagem do desenvolvimento político, a compreensão de
Eldersveld (2000) de que os partidos em sociedades democráticas competem em termos
ideológicos provém dos argumentos desenvolvidos por Anthony Downs (1957) em “Uma
teoria econômica da Democracia”, a qual está explicitada na próxima seção deste artigo. Em
consonância com Downs (1999), Eldersveld explica que os partidos olham atentamente para a
3
A ascensão da nova esquerda está ligada aos movimentos sociais dos anos 1960, que lutaram pelos direitos
civis dos negros, contra a discriminação sexual, contra a Guerra no Vietnã, dentre outros temas, mobilizando
sobretudo os estudantes.
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Segundo Mainwaring (1985), na segunda metade dos anos setenta emergiu uma "nova" direita, que interpretava
o erro americano no Vietnã como um enfraquecimento do compromisso de derrotar o desafio comunista. A nova
direita diferia dos republicanos moderados, que dominavam o partido na era pós-1960, tanto na política externa
quanto interna. O autor acrescenta ainda que a política externa beligerante conduzida durante a administração
Reagan não pode ser entendida sem uma referência ao largo apoio da sociedade civil a uma política imperialista
mais ruidosa.
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distribuição da opinião pública entre os eleitores e desenvolvem políticas que os façam obter
o maior número de votos. Nos Estados Unidos, com uma distribuição "normal" da opinião
pública, isto é, com a maioria dos eleitores próximo ao centro do espectro ideológico, os
partidos tenderiam a se aproximar deste espaço.
Entretanto, Eldersveld (2000) pondera que existem limitações nos pressupostos de
Downs (1999) para o mundo real, tais como considerar que todos os eleitores têm posições
políticas, que eles conhecem as posições dos partidos e que votam com base em preferências.
Ou então que os partidos conhecem o mercado político, desenvolvem distintas posições
ideológicas, as comunica de forma eficaz para o público e este adere a aqueles de forma
consistente. Obviamente eleitores e partidos nem sempre se comportam desta maneira, explica
o autor. Mas apesar de tais reservas ele enxerga nesse modelo um valor real, baseado na
compreensão de que os partidos, em qualquer sociedade, devem competir pelo poder através
do desenvolvimento de ideologias distintas e posições políticas.
Para explicar a existência de diferenças ideológicas, ainda que pequenas, entre os
partidos Democrata e Republicano, Eldersveld (2000) utiliza em grande parte dados do
American National Election Studies (ANES). Considerando que a primeira edição do livro foi
publicada em 1982 e a segunda em 2000 os dados estão defasados. Assim, sempre que
possível, os atualizaremos através da consulta a mesma fonte.
Segundo Eldersveld (2000), à época que ele escreveu o livro havia um consenso geral
de que existiam mais diferenças de questões políticas, e provavelmente mais conflitos de
questões intensas entre os partidos do que anteriormente. No início do período pós-guerra
alegou-se que as posições dos eleitores sobre questões políticas não estavam estreitamente
ligadas às decisões de voto, mas que as decisões eram o resultado da identificação partidária e
da avaliação dos candidatos. Desde então, estudiosos viram aumentar o impacto eleitoral das
questões. Para corroborar seu argumento, o autor afirma que desde os anos 1950 aumentou a
proporção de americanos que veem importantes diferenças entre as agendas dos partidos
Republicano e Democrata. Se este dado era significativo em 1982 e em 2000, em 2011 o era
ainda mais, pois segundo os dados do ANES, naquele ano, 78% dos americanos viam
importantes diferenças entre os partidos. O gráfico abaixo descreve a série histórica de dados.
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Gráfico 1 - Porcentagem de americanos que percebem diferenças importantes entre os partidos


Democrata e Republicano (1952 a 2008)

FONTE: American National Election Studies. Disponível em: http://www.electionstudies.org/

Eldersveld (2000) também constata que os americanos mudaram um pouco


ideologicamente ao longo dos anos. Quando perguntado se eles são liberais, conservadores ou
moderados, os inquiridos evidenciaram uma pequena queda no liberalismo e um aumento no
conservadorismo. De fato, esta tendência pró-conservadorismo continuou a aumentar após os
atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. Mas talvez o dado mais marcante desta
enquete do ANES e que não foi citado por Eldersveld, apesar de reforçar seu argumento, seja
o fato de apenas 27% dos americanos (média da série histórica de 1972 a 2011) não se
identificarem com alguma ideologia, o que demonstra um alto grau de identificação
ideológica entre a população. Outros dados do ANES levantados pelo autor, como percepção
ideológica dos partidos no espectro liberal-conservador seguiram a mesma tendência após a
publicação da segunda edição de seu livro. Isto é, depois de 2000 ainda mais americanos
consideraram o partido Republicano como o mais conservador. Eldersveld avaliou também o
quanto os partidos são polarizados em questões políticas. Sua constatação foi a de que os
partidos concordam quanto a garantia dos direitos das mulheres e quanto ao aumento das
despesas de defesa. Além disso, haveria uma discordância não extremada sobre ajuda a
minorias, sobre a crença de que o governo deveria garantir o trabalho das pessoas e de que os
serviços do governo deveriam aumentar. Haveria ainda clivagens em relação a proteção
ambiental, bem-estar social, ajuda externa e até mesmo em questões de moralidade.
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Em seguida, Eldersveld (2000) discute a questão racial para exemplificar que além de
existir algum grau de clivagem entre os partidos, estes podem eventualmente inverter suas
posições. Antes de 1964, 60% dos republicanos no Congresso eram liberais-raciais, em
comparação com apenas 40% dos democratas. Mas após a eleição de 1964 essas posições
foram invertidas. Os republicanos buscaram o apoio dos brancos conservadores,
especialmente no Sul, e os democratas se tornaram muito mais liberais. Ademais, o autor
sustenta que as opiniões dos simpatizantes dos partidos acompanharam essas mudanças. Por
fim, Eldersveld argumenta que apesar dos padrões de resposta sobre a questão racial não
serem extremamente polarizados, eles sugerem que há conflitos importantes de questões
políticas e que estes estariam ligados a diferenças ideológicas básicas que separam os partidos
americanos, seus militantes e o público em geral. Em um período em que parte dos estudiosos
sentenciava o declínio dos partidos ou mesmo seus fins, Eldersveld, em “Political Parties in
American Society”, apresenta uma abordagem mais otimista a respeito da direção do
desenvolvimento dos partidos.
Suas conclusões, apoiadas em estudos anteriores e dados empíricos dão respaldo ao
seu trabalho, embora reconhecemos que ele poderia ter avançado mais na discussão sobre o
vínculo entre a posição ideológica dos eleitores e seu comportamento eleitoral. Mais ainda,
seria interessante verificar empiricamente de que modo as posições dos partidos em questões
políticas influenciam o voto do eleitor. De todo modo, ao sustentar seu argumento com base
em pesquisas de opinião pública, Eldersveld (2000) apresentou uma tese convincente de que
existem diferenças ideológicas, mesmo que moderadas e convergidas ao centro, entre os
partidos e que estas moldam, de alguma forma, a visão que os eleitores tem dos partidos.

A DIMENSÃO IDEOLOGICA DA COMPETIÇÃO BIPARTIDÁRIA NA TEORIA DA


ESCOLHA RACIONAL.
Dentre os três autores aqui estudados, John Aldrich é o único que escreveu a primeira
edição de seu livro já na era pós-Guerra Fria, isto é, em um contexto marcado pela ausência
de uma ameaça vital à segurança dos Estados Unidos, como fora a União Soviética
anteriormente. De acordo com Ornstein (1992), diante deste novo contexto cada partido
estaria lutando para definir uma nova visão de mundo e diferenciar a sua posição daquela do
outro partido. Lindsay (1994) explica que três fatores influenciaram uma maior atuação dos
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partidos no Congresso em relação às matérias de política externa, estes são: 1) diminuição dos
custos eleitorais para se contrapor à política externa presidencial; 2) diluição da linha que
separava a política interna da política externa, por conta da interdependência global; 3)
distanciamento entre os extensos compromissos norte-americanos no exterior e a crescente
diminuição de recursos disponíveis. Dito isto, neste momento pós-bipolar parecia haver
maiores incentivos para os partidos se oporem ideologicamente.
Todavia, a ideologia não está no centro do argumento de Aldrich (1995; 2011), que em
“Why Parties? The Origin and Transformation of Party Politics in America” e em “Why
Parties? A Second Look”, foca sua análise na ambição dos políticos por cargos eletivos.
Diferentemente de Epstein (2000) e Eldersveld (2000), Aldrich tem como fundamento teórico
a escolha racional, cujo modelo explicativo foi desenvolvido por Anthony Downs. O modelo
de Downs (1999) baseia-se no pressuposto de que todo governo procura maximizar seu apoio
político tendo como objetivo a reeleição e que o objetivo daqueles que estão alijados do poder
é vencer as eleições. Sua perspectiva presume que os atores políticos nas democracias
comportam-se racionalmente, de forma semelhante a agentes econômicos em um mercado
para atingir seus objetivos. Nesse sentido, o aspecto mais significativo dos partidos, segundo
o autor, é que eles formulam políticas para ganhar eleições e não ganham eleições para
formular políticas. Desse modo, o político, nesse modelo, nunca busca o poder como um meio
de executar políticas específicas, já que seu único objetivo é colher as recompensas de ocupar
um cargo público per se.
As ideologias, no modelo de Downs (1999), são vistas como um meio para se chegar
ao poder. Num mundo obscurecido pela incerteza, as ideologias seriam úteis tanto aos
eleitores quanto aos partidos. Isto porque elas ajudariam os eleitores a concentrar sua atenção
nas diferenças entre os partidos, diminuindo seus custos de informação. Já os partidos as
considerariam úteis na obtenção do apoio de diversos grupos sociais e na abreviação de
decisões quanto a que políticas obterão o máximo de votos. A partir da análise da estática e da
dinâmica das ideologias partidárias através da distribuição de eleitores ao longo da escala
ideológica esquerda-direita Downs conclui que em sistemas bipartidários os partidos
convergem ideologicamente ao centro e que o medo de perder eleitores extremistas os
impedem de se tornarem idênticos. Neste sistema, os partidos dispõem de um arco muito mais
amplo de políticas do que em um sistema multipartidário. Assim, haveria no sistema
bipartidário uma maior área de políticas que se sobreporiam perto do meio da escala, de modo
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que os partidos se pareceriam muito entre si. Essa tendência à semelhança seria ainda
reforçada por ambiguidade deliberada em relação a cada questão especifica. Contudo,
fomentar a ambiguidade seria, na visão de Downs, o caminho racional para cada partido no
bipartidarismo.
Consonante com Downs (1999), Aldrich (2011) argui que os partidos políticos
funcionam como um instrumento para os políticos que não tem objetivos partidários buscarem
seus objetivos particulares, que são atingidos com o partido no governo. Segundo Aldrich, os
partidos são instituições endógenas, moldadas e constantemente modificadas por atores
políticos ambiciosos que aspiram um cargo público ou buscam se reeleger. Assim, o autor
considera o comportamento dos políticos que compõem o partido como racional, embora não
negue que estes possam agir também com base em princípios e que os partidos sustentam
diferenças ideológicas básicas, como veremos adiante.
Antes, contudo, de desenvolver os pormenores de seu argumento, Aldrich (2011)
explica que os estudiosos preocupados com a compreensão dos partidos se dividem em torno
de três abordagens: 1) partido enquanto coalizações diversas; 2) partido responsável; 3)
partido enquanto instrumento de competição eleitoral.
De acordo com a primeira abordagem os partidos agregam diversos e variados
interesses com o intuito de atrair um número de eleitores suficiente para vencer eleições e
construir coalizações. Ao buscar a maioria dos eleitores, ambos os partidos basear-se-iam em
valores semelhantes, definidos grosseiramente como o credo americano. A esta visão estão
associados autores com Sorauf (1964), V. O. Key (1964) e Eldersveld (1964, 1982), cuja
principal preocupação teórica é o suposto declínio dos partidos.
A segunda abordagem é mais estrita. Ao invés de uma teoria sobre o que os partidos
realmente são, trata-se de uma doutrina que é, por conseguinte, inerentemente normativa.
Quatro características estariam associadas a ideia de “bom partido”: assumir compromissos
políticos com o eleitorado; realizá-los durante o período de seu mandato; quando não eleitos
deveriam encontrar alternativas para as políticas atuais; e ser suficientemente diferentes para
oferecer aos eleitores uma escolha real.
Já a terceira abordagem foca na importância da competição por cargos públicos, que é
vista como uma característica singular dos partidos. Os maiores expoentes dessa visão são
Schlesinger (1991) e Downs (1957), ambos teóricos da escolha racional. No centro da teoria
estão as elites partidárias, os aspirantes à cargos públicos e os detentores de cargos. Aldrich
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(2011) propõe então uma quarta abordagem, também relacionada à escolha racional e que
considera as ambições dos aspirantes e detentores de cargos eletivos como um dos seus blocos
centrais de fundação. Contudo, considera que sua abordagem difere da clássica ao entender a
obtenção de cargos como apenas um dos muitos objetivos possuídos por aqueles com
ambições políticas. Vencer eleições é considerado um fim intermediário, argumenta o autor.
Assim, para muitos, se eleger não é o fim das políticas, mas o começo delas.
A equação fundamental do novo institucionalismo da escolha racional aplicado aos
partidos envolve três variáveis: a comunidade política, o ambiente institucional e o contexto
histórico dos tempos. Nesse ponto, vale ressaltar que assim como Epstein (2000), Aldrich
(2011) entende que os partidos não podem ser entendidos a parte de seu próprio contexto
histórico. O estudo dos partidos políticos é necessariamente também um estudo das
instituições políticas, afirma o autor, que considera como únicas as instituições que definem
os partidos políticos. De todas as maiores instituições políticas nos Estados Unidos, o partido
político é o mais variado em suas regras, regulações e procedimentos – isto é, em sua
organização formal – e em suas tradições e métodos informais. Os atores estão sempre
mudando as regras do jogo para obter mais benefícios. Assim, mobilizar o eleitorado para
alcançar cargos públicos é uma tarefa central para o partido político.
Os partidos também são definidos em relação à democracia republicana dos Estados
Unidos. Aqueles que aspiram e os que detém cargos públicos são os atores mais importantes
nos partidos. Um segundo conjunto de figuras importantes compreende aqueles que possuem
ou tem acesso à recursos cruciais para os aspirantes de cargos, uma vez que criar e manter o
partido competitivo na arena eleitoral custa caro. Os eleitores, em contraste, não são
aspirantes a cargos e nem buscam benefícios seletivos, por isso não são parte de um partido
político, mesmo se eles se identificarem fortemente com um partido e apoiarem
consistentemente seus candidatos. Os eleitores são importantes, de fato, mas como alvos dos
militantes dos partidos. Isto porque os partidos “produzem” candidatos, plataformas e
políticas, que são “consumidos” pelos eleitores em troca do voto. Trata-se de um cálculo
racional que presume que os aspirantes e detentores de cargos usam o partido para atingir seus
fins.
Com isso, Aldrich (2011) não assume que os políticos são invariavelmente auto
interessados em um sentido estrito. Em sua visão, os aspirantes e incumbentes podem dispor
de valores e princípios fundamentais e podem ter preferencias sobre políticas como meios
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para seus fins. Eles também se importam com o cargo aspirado, tanto no que diz respeito à seu
interesse próprio quanto às oportunidades para atingir outros fins que a eleição pode facilitar.
Assim, seus fins superam o mero carreirismo. Na medida em que vencer eleições é um meio
para outros fins, o partido político também é um meio para estes outros fins. Nesse sentido, o
autor argui que os políticos criam, reformam, usam e abusam das instituições partidárias por
que os partidos são projetados visando resolver problemas que os arranjos institucionais atuais
não resolvem. Estes problemas, em sua visão, se enquadram dentro de três categorias gerais e
recorrentes: 1) o problema da ambição e dos aspirantes a cargos eletivos; 2) o problema de se
tomar decisões pelo partido e pela política e; 3) o problema da ação coletiva.
O primeiro problema diz respeito ao partido ter que regular o acesso dos aspirantes a
cargos e regular o conflito entre incumbentes, não apenas em relação aos cargos dentro do
governo, mas também internamente a cada partido. A indicação partidária é necessária para os
aspirantes concorrerem a eleição e as instituições partidárias tem sido desenvolvidas,
reformuladas e re-reformuladas para a regulação da competição. Já o terceiro problema
envolve a capacidade dos candidatos em persuadir membros da comunidade para apoiar suas
candidaturas e mobilizar o maior número possível de apoiadores. Este é um problema de ação
coletiva e o partido político tem sido a solução para dar conta dele.
Propositalmente, o segundo problema foi deixado por último porque ele demanda mais
atenção de nossa parte. Este problema está relacionado ao processo de tomada de decisão
pelos políticos eleitos. Uma vez eleitos, os políticos propõem alternativas, moldam a agenda,
aprovam ou rejeitam legislações e implementam o que eles sancionam. Assim, o processo de
formulação e execução de políticas é altamente partidário. Os partidos no governo são mais
que meras coalizões de indivíduos que possuem a mesma opinião. Eles são instituições
duradouras, salienta Aldrich (2011).
Muito poucos incumbentes mudam suas afiliações partidárias ao longo de sua carreira,
mesmo que tenham discordâncias frequentes internamente. Quando o raro incumbente muda
de partido, esta é invariavelmente para aderir ao partido mais consoante com seus interesses
políticos alternados. Para Aldrich (2011), isto implica em afirmar que há diferenças entre os
dois partidos em um nível fundamental e duradouro em posições políticas, valores e crenças.
Os partidos são instituições projetadas para promover a realização de escolhas coletivas –
escolhas entre aquilo que os partidos diferem e escolhas alcançadas pela regra majoritária. A
teoria que sustenta esta premissa é a da escolha social.
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Segundo Aldrich (2011), em uma democracia republicana, os políticos recorrem às


instituições partidárias para resolver o problema da escolha coletiva. Em outras palavras, os
partidos podem ajudar a atingir o objetivo de alcançar maiorias para implementar políticas tão
bem quanto o objetivo mais difícil e frequente de manter tais maiorias. Essas três situações
aqui descritas tornam-se problemas práticos para os políticos quando eles tendem a afetar
adversamente suas chances de vitória. Mas a existência dos partidos criam incentivos para seu
uso nesse sentido.

CONCLUSÕES
Conforme afirmamos anteriormente, nosso objetivo não foi encontrar respostas
definitivas para as questões que levantamos ao longo deste trabalho, mas sim apresentar e
contrapor os principais argumentos de teóricos do desenvolvimento político (Epstein e
Eldersveld) e da escolha racional (Aldrich) com o intuito de explicar porque a literatura
estadunidense se divide sobre aquelas questões. Em relação ao modo como os partidos se
comportam podemos dizer que não há um consenso. Os três autores consideram a finalidade
de eleger candidatos como uma das atividades mais importantes dos partidos. De fato, para
Epstein (2000) e Aldrich (2011) esta seria mesmo a função central dos partidos, enquanto para
Eldersveld (2000) ela seria acompanhada de outros papéis, como o de competidor ideológico.
Diferentemente de Epstein, Aldrich não nega que os partidos possuem um componente
ideológico, o qual exerce influência na competição entre eles. Eldersveld, por sua vez, apesar
de vincular-se à teoria do desenvolvimento político também entende que a ideologia é um
importante componente na competição entre os partidos e que os eleitores são capazes de
identificá-las e diferenciá-las, o que nos leva a discutir se existem fortes diferenças
ideológicas entre os partidos Democrata e Republicano.
Epstein (2000) não considera os partidos estadunidenses como programáticos e quanto
a política externa, afirma que para esta ser eficaz deve ter continuidade. Assim, nessa esfera
não são esperadas diferenças entre os partidos, embora ele não negue que em alguma ocasião
elas possam existir. Já Eldersveld (2000), partindo da teoria do desenvolvimento político,
afirma que os partidos concentram sua atenção nas políticas que podem lhes render o maior
número de votos, isto é, aquelas relacionadas ao centro do espectro ideológico, espaço onde se
concentra a maioria dos eleitores. Assim, apoiado em pesquisas de opinião pública, o autor
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identifica diferenças básicas entre os partidos, inclusive em questões de política externa, o que
o faz considerar a ideologia como um aspecto importante para a compreensão do
comportamento dos partidos. Aldrich (2011), por fim, sob a perspectiva da teoria da escolha
racional, explica a ambição de candidatos e incumbentes à cargos eletivos e visualiza
diferenças entre os partidos em um nível fundamental e duradouro.
Assim como Epstein (2000), Aldrich (2011) também está preocupado com o contexto
em que os partidos se formam, pois é dentro deles que os partidos devem ser entendidos. De
modo semelhante, entendemos que a preocupação com o contexto também é importante para
a compreensão dos argumentos dos autores. Como afirmamos, Epstein escreveu em um
momento marcado por um forte consenso entre os partidos, o que justifica sua descrença no
componente programático e ideológico deles. Também vimos que a contestação da tese de
Duverger (1951) por Epstein pode estar relacionada a uma contestação, em última análise, dos
próprios partidos socialistas, visto que americanos e soviéticos estavam em plena Guerra Fria.
Já as análises de Eldersveld (2000) e Aldrich aconteceram após a Guerra do Vietnã e após o
fim da Guerra Fria, respectivamente. Uma vez que estes contextos marcaram o ressurgimento
congressual dos partidos em política externa é natural que os autores visualizassem com maior
precisão a existência de diferenças importantes entre os partidos.
Ante o exposto, não podemos afirmar com base apenas nesta reduzida literatura que a
atividade dos partidos enquanto competidor ideológico é tão importante quanto a função deles
em torno de eleger candidatos. Porém, não podemos considerar esse papel como irrelevante,
já que a literatura analisada demonstra haver diferenças entre os partidos, as quais influenciam
a competição eleitoral e são percebidas em algum grau pelos eleitores.

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