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Druidismo

Um Druida Moderno
Artigo de Emma Restall Orr - Tradução exclusiva autorizada © 2003 – Claudio Quintino Crow
© 1999 - originalmente publicado em Druidry: Rekindling the Sacred Fire (literatura interna da British Druid Order)

A cada jornalista, repórter e apresentador de tevê que me entrevista, em algum momento me vejo respondendo a seguinte pergunta:
“Mas como você sabe que o que pratica é o autêntico druidismo ancestral?”

Por vezes, essa pergunta é feita por pura curiosidade; noutras ocasiões, é feita como uma alfinetada naquilo que chamamos de druidismo
moderno e eu costumava hesitar diante dessa pergunta feita assim, sob os refletores, com a figura fálica do microfone próxima demais
para me deixar à vontade, os olhos refletidos das câmeras uma verdadeira invasão de meu espaço íntimo. Hoje, porém, minha resposta
imediata começa com uma risada e um sorriso que quebram qualquer tentativa de defesa. Pois seguramente, se praticássemos hoje o
druidismo que era praticado dois ou três mil anos atrás, não demoraria muito para que a polícia nos descobrisse e nos encarcerasse. Isso
não quer dizer que o druidismo de dois mil anos atrás fosse mais barbárico do que qualquer outra cultura da época; numa época em que
os escritores clássicos descreviam a natureza sacrificial do druidismo, o Circo de Roma era o deleite dos cidadãos romanos com
sangrentas lutas mortais entre animais e prisioneiros. A ética social, o sistema penal e o valor dado à vida eram totalmente
diferentes se comparados aos de hoje. Se tivéssemos alguma chance de saber com exatidão o que nossos ancestrais druidas faziam
em seus rituais, possivelmente a maior parte de suas práticas fosse hoje considerada ilegal, inaceitável e, principalmente,
ineficiente.

Ainda assim, o valor e a vitalidade do druidismo foram preservados porque este era – e ainda é – uma tradição oral . Os druidas
não eram iletrados: suas transações comerciais ocorriam em grego, quando necessário. Contudo, seus ensinamentos e sua sabedoria
jamais foram passados para a palavra escrita. Dessa forma, eles preservaram seus conhecimentos para uma elite intelectual,
protegendo-o do mau uso, preservando sua própria força e estimulando o desenvolvimento da mente através de um treinamento
extensivo em filosofia, matemática, ciências naturais, astronomia, história, poesia e muito mais , registrando tudo nos ‘arquivos’
de suas próprias memórias. Como resultado, apesar de podermos dizer que muito da moderna cultura britânica tem por base a filosofia
druídica ancestral, pouco sabemos hoje das práticas rituais de nossos ancestrais druídicos, obtendo escassas informações a partir de
registros arqueológicos, de textos clássicos e dos textos mais antigos, hoje com cerca de mil anos.

Essa busca por evidências parte do pressuposto de que o druidismo só existiu num período relativamente curto de tempo, que os druidas
eram os sacerdotes dos celtas da Idade do Ferro, praticando uma religião que surge do nada e desaparece com os romanos ou com a
igreja católica. Isso não confere: a evolução de culturas e espiritualidades não funciona dessa forma rígida.

Ao contrário de religiões que têm por base escrituras sagradas ou as palavras de profetas , o druidismo não possui nenhum artifício
que o restrinja a uma certa cultura ou era: o druidismo sempre existiu no aqui e no agora. O livro sagrado dos druidas de dois mil
anos atrás ainda nos está disponível: é a intrincada simplicidade das rochas e dos ventos, da lua a se por sobre o oceano; as flores de
nossa paisagem, as árvores que brotam e perdem suas folhas, o vôo das aves e a dança das abelhas. O livro sagrado dos druidas é
formado pela história de nossos povos, histórias de amor, poder e dor, pelas canções dos invasores cujo sangue e respiração lutaram e se
misturaram aos dos habitantes locais através de guerras e casamentos; e também pelas lendas dos exploradores que retornavam de
jornadas a terras desconhecidas. O livro sagrado dos druidas é nossa própria história contínua. Esse livro não tem começo identificável
e jamais saberemos como ele terminará para além dos véus do futuro.

Se por um lado isto nos traz a liberdade da presença em nossa tradição, por outro lado esta presença é abençoada e colorida por nossa
compreensão do passado e de nosso entendimento da paisagem em que vivemos. Como cada indivíduo que estuda e pratica o
druidismo desenvolve sua própria compreensão e experiência da história de nossa terra, de suas próprias vidas e realidades, o que resulta
é uma diversidade na tradição druídica a um só tempo fascinante e frustrante.

Atualmente, os druidas destilam seus entendimentos do que é druidismo a partir de fontes bastante diferentes, as quais refletem diferentes
locais e ambientes. Alguém que estude os textos medievais galeses, encontrando sua inspiração nas escuras montanhas do norte do País
de Gales, certamente será um druida diferente de outro do sul da Inglaterra, com suas florestas e rios, inspirado por visões de um
sacerdote da terra indomável, vestido em peles e penas; ou de outro mais, que se conecte com o período romano-britânico quando essas
duas culturas se fundiram, ou com o período da chegada do cristianismo, ou mais tarde, com o paganismo saxão, ou com o monoteísmo
solar do Renascimento Druídico do século XVIII. Cada parte da história destas terras, seu clima e seus povos, desde o começo de sua
povoação na Idade do Gelo, é uma fonte válida de informação na busca dos elementos que compõem o druidismo moderno.

(c) 2003, Claudio Quintino / Hera Mágica Cultural – www.heramagica.com.br - Registrado na Biblioteca Nacional – Lei Federal 9.610/98. 1
Proibida a reprodução total ou parcial da obra sem a prévia e expressa autorização por escrito do autor.
Druidismo

A exploração do espectro da diversidade druídica pode ser altamente confusa. Existem correntes no druidismo moderno que possuem
poucos elementos em comum com as demais. Contudo, existem certas crenças básicas que formam a base de toda a tradição
druídica: a mais importante delas é a compreensão de que o druidismo é (ou tem por base) a espiritualidade nativa das ilhas
britânicas. Se podemos chamar os primeiros sacerdotes destas ilhas de ‘druidas’ é em grande parte uma questão puramente semântica;
Júlio César afirmou que o druidismo originou-se na Grã-Bretanha e, apesar de a palavra ‘druida’ possuir raízes que se perdem nas brumas
do tempo, não sabemos se os sacerdotes usavam essa palavra para se designar 500 anos antes da chegada dos romanos ou até mesmo
antes disso.

É questionável afirmar que existia uma única tradição religiosa por toda a Europa da Idade do Ferro. Sabemos, contudo, que o foco da
religião pagã nativa eram as forças da natureza; as evidências mais antigas apontam para a Morte como a fonte principal de poder . É
fácil imaginar o medo que nossos ancestrais nutriam pela morte, cercados que estavam pela sua proximidade constante num ambiente
gélido, dependendo da caça, à mercê das doenças. Entretanto, apesar de seu foco na morte ser inspirado pelo medo dela, podemos
facilmente vislumbrar seu respeito, sua honra e seu maravilhamento diante do poder da morte . Eles certamente sentiam ou
visualizavam a energia do espírito daqueles que haviam morrido. Atualmente, todos nós ainda temos os mesmos sentimentos diante da
morte: ela é uma parte significativa da cultura e da psique humana.

Ainda atribuímos a mesma importância à morte, assim como outros aspectos da natureza também
moldam nossas vidas como moldaram a de nossos ancestrais através dos milênios; entre estes um dos
mais importantes é a Fertilidade, que surge da consciência dos ciclos menstruais e de nascimento dos
animais caçados e criados, bem como da dependência da agricultura. A busca pelos poderes que
controlam esses ciclos e que preservavam a fertilidade da terra, bem como a compreensão dessas
mesmas forças dentro do corpo feminino deu origem a um enfoque religioso que também perdura até
nossos dias como parte fundamental da mente humana e é uma força determinante em nossa sociedade.

A morte, a fertilidade e a força dos Ancestrais e da terra formam a essência de qualquer espiritualidade
da terra. Ao redor desses pilares agregam-se os elementos do clima e da história de um povo, dando a
essa tradição a sua linguagem, suas cores e suas prioridades. A mudança de nosso clima ocasionou o
“milênio chuvoso” antes da chegada dos romanos; a influência da cultura romana antropomorfizou as deidades e alterou as estruturas
sociais; a chegada da deidade e da ética cristã; o retorno do paganismo através dos germânicos e vikings; o intercâmbio de culturas e
idéias através do comércio e das imigrações; a Reforma; o Renascimento; a Idade da Razão, da ciência e da indústria – todos nos
confrontaram com a ameaça da mudança, com benefícios e desvantagens. Seja como for, todos esses momentos estão entremeados
pelas forças da natureza, as forças de nossos ambientes – tanto interno quanto externo – as forças do mundo natural e da mente humana,
as forças da terra, do mar e dos céus, bem como dos ancestrais.

É nossa busca por essas forças que cria uma religião da natureza – e a busca nestas ilhas formou e continua formando a filosofia e
as práticas do druidismo. Contudo, compreender as forças não basta: como druidas nós procuramos uma conexão , uma relação,
percebendo a consciência e o propósito dessas forças na forma de espíritos e/ou deidades. A essência do relacionamento é o
reconhecimento, a interação e a troca; quando vamos além da troca física e mental, através do corpo e das idéias, quando percebemos as
forças envolvidas, reconhecendo o espírito, então a relação assume outra natureza.

Isto se aplica quando a relação é entre um humano e a lua, com sua luz refletida numa lagoa no escuro de
uma floresta, ou entre uma criança e um seixo polido pelas marés numa praia, ou entre uma árvore e o vento
que brinca por entre seus ramos, ou entre o sol poente e o oceano que o devora, ou entre um homem e uma
mulher na nudez do amor. Quando percebemos o espírito, percebemos a força da invulnerabilidade na
natureza. É nesses momentos que temos a oportunidade de trocar energia pura, de entrar em comunhão,
de espírito para espírito, com as forças da natureza . No druidismo, isso é Awen, a essência fluida do
espírito. Numa relação de espírito para espírito, quando permitimos que a força da Awen flua através de nós,
inundando e inspirando nossa criatividade, nós honramos o dom da vida, usando-o bem e plenamente.

Ainda que diferentes druidas percebam a deidade de diferentes formas, honrando deuses diversos (dos
celtas ao cristão, dos greco-romanos aos saxões, dos animistas aos conceituais), a Awen é vista como
originária das forças da natureza que são as deidades – os deuses do trovão, da guerra e da morte, do amor
e da fertilidade, os deuses que são simplesmente energia vital pura. Assim, quando um druida honra o fluxo
de Awen como inspiração divina, usando-a como fonte de sua criatividade e oferecendo os produtos de sua inspiração como presentes
aos deuses, essa é a forma de sua reverência.

2 (c) 2003, Claudio Quintino / Hera Mágica Cultural – www.heramagica.com.br - Registrado na Biblioteca Nacional – Lei Federal 9.610/98.
Proibida a reprodução total ou parcial da obra sem a prévia e expressa autorização por escrito do autor.
Druidismo

Os rituais druídicos são uma dança de interação . Ao criar o espaço sagrado – um santuário de beleza e confiança – os druidas
(sozinhos ou em grupo) buscam pela sua fonte de inspiração – a força da natureza – convidando os espíritos ou deidades dessa força
para estarem presentes no local enquanto simultaneamente formam um ‘recipiente’ mágico no interior do qual eles podem se abrir para
receber a Awen. Para alguns na tradição druídica, este processo é uma jornada meditativa no silêncio de um quarto à luz de velas e
sem distrações; para outros, é no transe no interior de uma floresta, ao redor de uma fogueira e ao som de tambores. A Awen pode ser
recebida em momentos de perfeita comunhão na forma de iluminação ou de visões, como conexão através do coração enamorado e da
sensação de pertencer, como êxtase físico, Eros ou ágape. Não é definida pela forma em que é sentida, mas sim como inspiração
divina – e essa inspiração deve ser usada criativamente para honrar sua fonte.

Como sacerdotisa da tradição druídica, como alguém que coordena uma Ordem, não finjo ser uma grande historiadora ou mitóloga.
Existem outras pessoas muito mais capacitadas do que eu para essas tarefas. Também não sou uma política. O que eu faço é honrar a
terra e a ancestralidade – a minha e a dos demais. Eu ouço e procuro aprender com os outros, com sua compreensão dos poderes da
natureza, através das velhas lendas, através de nossas histórias, através da filosofia das leis naturais. Mas acima de tudo, sou uma
ritualista: eu honro os poderes como eu os percebo, criando minha via de interação com os deuses nos preciosos momentos em
que sentimos Presença. Eu honro o poder do aqui e do agora – este espaço entre o passado e o futuro, o momento intangível no qual
vivemos. Assim fazendo, minha jornada abarca a essência do druidismo – o poder da terra e dos ancestrais – e se torna uma
espiritualidade moderna e, portanto, relevante.

Numa época em que a humanidade está começando a compreender a extensão dos danos que vem causando ao planeta e o poder das
forças da terra e do universo (previsível e imprevisível), sentimos uma grande urgência em nossa psique humana que nos impulsiona a
nos reconectarmos com as forças da natureza que podem ser determinantes para nossa sobrevivência. Não sou daqueles que pregam a
eminência de algum grande cataclisma, mas a visão cotidiana que é parte da filosofia e da prática druídica obedece aos princípios da
sacralidade dos ecossistemas e habitantes de nosso planeta . O Druidismo é, definitivamente, uma espiritualidade verde, pois
promove o cuidado com o ambiente através da responsabilidade pessoal, do aumento da consciência e do pensamento positivo que surge
do relacionamento de espírito para espírito.

Outra razão pela qual o druidismo se desenvolve com tanta rapidez em todo o mundo é por seu enfoque no equilíbrio. Ainda que não
seja necessariamente uma espiritualidade que procure seguir sempre o caminho do meio, a compreensão do todo é fundamental para
o druidismo. Assim como o ciclo do ano no clima temperado das ilhas britânicas se move do verão para o inverno – do crescimento para
a decadência – também no druidismo a escuridão é tão sagrada quanto a luz, a noite tão vital quanto o dia. Nossos rituais podem ser
celebrados nos campos banhados de sol diante de centenas de pessoas, ou ainda na escuridão de uma floresta, na reclusão da noite. A
escuridão é vista como o ventre do potencial: é o solo escuro da terra que nos alimenta e no qual se enraizam as árvores. No druidismo
não existe o conceito de bem ou mal: o que existe é a compreensão de que o apodrecimento é necessário para preparar o
crescimento e que na escuridão encontramos o medo do desconhecido, mas também a liberdade.

É a interação ente as forças da luz e da escuridão que nos traz a força regeneradora da criação, manifesta através da união entre
masculino e feminino, através dos ancestrais símbolos sagrados da Adaga e do Caldeirão, a espada Excalibur e o Santo Graal. Ao
honrarmos os fluxos da natureza como sagrados, ao trabalharmos dentro de uma tradição que tem por foco as forças naturais da
regeneração, da morte e do renascimento através do ciclo de ser, percebemos também a sexualidade como sagrada. Em nenhum
momento existe a noção de que tal união precise ser entre um homem e uma mulher, pois o importante é a comunhão ente duas forças,
dois espíritos. A união de mentes e de corações também, e qualquer relação que inspire criatividade e traga regeneração constitui
a prática viva do druidismo.

Assim, honrando o masculino e o feminino, temos tanto homens quanto mulheres na tradição – ambos desempenhando igualmente os
papéis de sacerdotes e instrutores, conduzindo grupos e groves, compartilhando de suas próprias fontes individuais de inspiração e
beleza.

O druidismo, enquanto espiritualidade moderna, é um reflexo do druidismo ancestral que muitos dão como há muito perdido. Contudo, o
druidismo é a canção de nossos ancestrais – aqueles que há muito se foram e os recém-partidos; o druidismo é a sensação de
maravilhamento que sentimos ao perceber o poder da natureza, a magnificência das montanhas, a beleza dos rios, as cores silvestres nos
campos, a energia do trovão. Nascido na Grã-Bretanha, o druidismo é uma filosofia espiritual carregada em nossos corações, em nossos
genes, nas memórias de todos aqueles que viveram nas terras européias e dali seguiram para praias distantes. O poder do druidismo está
em cada um de nós, e surge através de nossa relação direta e individual com a Natureza, suas leis e sua beleza, no contínuo processo de
criação.

Que assim seja, para sempre.

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