está acontecendo com as tantas romarias nos dias
de hoje para adorar estátuas e coisas que de nada
CATARINA, A ESPOSA DE LUTERO
Na comemoração dos 500 Anos da Reforma
Luterana, nada mais justo do que mencionarmos
também a fiel e dedicada esposa e companheira de
Martinho Lutero, Catarina von Bora.
Num medalhão que Catarina sempre trazia no
pescoço, estavam inscritas as palavras em latim,
que traduzidas para o português, significam o
seguinte: - Dr. Martinho Lutero presenteou à sua
Catarina, a qual nasceu no ano de 1499, no dia 28
de janeiro. Foi esta a primeira data da vida de
Catarina von Bora. Somente 10 anos depois,
quando ela já estava internada no convento de
Nimbschen, nos vem alguns dados, entre estes um
deles que menciona que Catarina já em 1505, com
apenas 6 anos de idade, se encontrava por algum
tempo na escola do convento de Brehna.
Sobre o lugar onde Catarina nasceu, existem
muitas dúvidas, nem um dado exato. O motivo de
Catarina ser tão cedo internada no convento,
poderia ter sido o seguinte: Catarina von Bora era
de família nobre, ela tinha dois irmãos e provavel-
mente uma irmã. Segundo dados obtidos mais
tarde, os pais de Catarina eram Hans e Catarina
von Bora, de Lippendorf. Como muitas famílias
nobres daquela época se encontravam em dificul-
dades financeiras, faziam questão de internar as
filhas em conventos, para assim garantir o futuro
delas, pois o casamento, sem dote, seria difícil.
Internadas num convento, estas jovens
recebiam uma educação esmerada, digna mesmo
de uma condessa, duquesa ou princesa daquele
tempo. O convento de Nimbschen se empenhava
em acolher jovens de famílias nobres, tanto que ali
se encontravam algumas dezenas de jovens de
nobreza, entre elas Catarina von Bora.
O maior tempo empregavam em fazer peni-
tência, rezando e adorando o espantoso número de
relíquias e a variedade que se encontravam no
convento de Nimbschen, com as quais eram enga-
nados os fiéis em sua cegueira espiritual, tal como
servem, nem tão pouco agradam a Deus.
Uma relação dos objetos e relíquias, que
segundo Ernesto Kroker data de 4 de setembro de
1508, do convento de Nimbschen, onde Catariana
se encontrava e certamente também adorava,
teremos a seguir: Crucifixos dos mais variados
tamanhos, hostiários, relicários, cofres, tabuletas
geralmente de metal precioso ou dourados.
Entretanto, ainda mais precioso do que os
recipientes, era o conteúdo dos mesmos. Dizia-se
haver ali: Um pedaço de madeira da manjedoura de
Belém, outro da cruz de Cristo, mas também um
pedacinho da cruz do malfeitor que ficava a direita
de Jesus. Partículas da coroa de espinhos, também
uma coluna onde Jesus fora amarrado, quando o
chicotearam, igualmente uma lasca da mesa onde
Jesus instituiu a Santa Ceia, como um pedaço do
lençol onde Jesus fora enrolado. Havia terra das
sepulturas de Jesus e da virgem Maria, do monte
das Oliveiras, onde Jesus chorou, do Jardim do
Getsêmani, do monte do Calvário e do lugar onde
Jesus estava parado antes de subir ao céu.
Da virgem Maria, existiam cabelos, restos do
seu véu, de sua roupa, até de sua camisola.
Também das vestes da pecadora Maria Madalena,
da camisola da santa Elisabeth e da batina de
S. Bernardo. Do apóstolo Paulo havia até duas
amostras de sangue. Incontáveis eram os objetos,
como dentes, ossos de outros santos que uma ou
outra forma teriam assistido o convento. Tudo isso
atraía milhares de romeiros, que com suas ofertas
davam boa renda ao convento.
Quem nos grandes dias de festa, como no
Natal, Páscoa, Pentecostes ou nos 4 dias de festa
dedicado a virgem Maria peregrinava ao convento,
rezava ajoelhado, e dava boa oferta, recebia por
um grande pecado cometido a indulgência de 40
dias. Por pecados menores a indulgência podia
durar por um ano. Também se fazia anualmente
uma grande festa, tipo Quermesse, que trazia
muitos romeiros e boa renda. Como vemos, coisas
idênticas podemos encontrar em nossos dias.
A obra de Martinho Lutero, de reformar a
igreja, foi justa, porque a cegueira espiritual e a
exploração da ingenuidade das pessoas eram
demais. Quando os primeiros sinais da Reforma
se tornaram conhecidos, também as freiras de
Nimbschen abandonaram o convento, entre elas
estava Catarina von Bora.
Na medida em que a obra da Reforma da
igreja ia se alastrando, ela estava sendo abraçada
por todas as classes de gente. Padres, freiras,
nobres, governantes, trabalhadores, mestres, alu-
nos. Apesar da proibição e até excomungação do
papa e da igreja católica, as perseguições e muitas
mortes como no tempo da inquisição, ninguém foi
capaz de conter o seu fluxo.
Enfim, entre todas as classes havia gente
que desejava e aderia com toda seriedade a Refor-
ma da igreja, pois a ociosidade, a ganância e a
corrupção de muitos clérigos estava aberta demais.
Basta lembrar apenas Tetzel, que negociava indul-
gências como verdadeiro cambista.
No convento onde Catarina se encontrava,
também penetrou qual fino pó dourado a palavra de
Deus: Que o homem é salvo pela fé, não por obras.
Apesar da vigilância das superioras, Catarina e
mais oito jovens nobres, foram as primeiras deste
convento que reconheceram o quanto havia sido
inútil e vazia a sua vida até agora. Depois dos
estudos, sua vida se resumia em rezar, cantar,
fazer penitência, comer e dormir.
Catarina, que por natureza era uma pessoa
de iniciativa e ação, reconhecendo que fora do
convento poderia servir muito mais a Deus, do que
trancada entre aqueles muros, resolveu com mais
aquelas oito freiras, abandonar o convento. A mais
velha tinha 49 anos, Catarina estava com 20. Aban-
donar um convento naqueles tempos era muito
difícil. A pessoa que tirava uma freira do convento,
podia ser castigada com a pena de morte.
Catarina e suas companheiras estavam
desesperadas. Elas pediram aos seus familiares
para ajuda-las, porém estas famílias nobres temiam
o escândalo e também nem todas haviam aderido a
doutrina da Reforma. Sua última esperança foi
Lutero. Expondo a ele o conflito em que se acha-
vam, Lutero por sua vez considerou ser seu dever
cristão atender o pedido. Era preciso elaborar um
plano muito perfeito para uma fuga.
Lutero tinha um conhecido Leonardo Koppe.
Foi a este que ele recorreu. Este cidadão pela sua
coragem, seriedade e posição social seria o indica-
do, também pela sua idade não inspirava suspeita
entre as más línguas. Entre as nove freiras havia
duas que eram parentes do prior do convento de
Grimma, que fica meia hora de Nimbschen, é
possível que este serviu de intermediário, pois era
colega de estudos de Lutero e simpatizante da
Reforma, tanto que mais tarde declinou livremente
seu cargo no convento e tornou-se pastor.
Koppe às vezes fornecia peixe (Hering) para
o convento de Nimbschen em tonéis. Existem
muitas versões sobre a fuga das 9 freiras, a mais
aceitável é Koppe escondeu as freiras entre os
tonéis vazios e os cobriu com uma lona. A fuga de
Catarina von Bora do convento aconteceu na noite
de Páscoa de 1523. Uma vez fora do convento, não
havia perigo de perseguição, pois o convento não
disponha de cavalos, nem gente para seguir as
fugitivas. Chegaram até a cidade de Torgau, onde
descansaram dois dias. Terça-feira depois da
Páscoa as fugitivas seguiram viagem em direção a
Wittenberg. Chegando ali, já ao longe se avistava a
igreja do Castelo de Wittenberg, em cuja porta
Lutero havia pregado as 95 teses.
Ao norte se sobressaia sobre os baixos
telhados, a igreja pastoral onde Catarina, 2 anos
mais tarde entrava como legítima esposa de Lu-
tero. Ao leste se levantava a construção comprida
e simples do convento negro, onde Lutero morava
e onde Catarina iria encontrar a maior felicidade de
sua vida, no amor e na dedicação que ela dispen-
sava ao esposo e aos filhos.
A chegada das 9 freiras em Wittenberg deu
motivo para muitas críticas e as más línguas não
faltavam. Lutero assumiu a responsabilidade e em
carta aberta esclarecia ao povo que o único motivo
da saída dessas moças do convento era o desejo
de liberdade de consciência. Algumas das freiras
depois de um tempo casaram, a maioria com ex-
padres e outras se tornaram professoras.
Catarina ficou em Wittenberg. Na casa do
magistrado Reichenbach, ela foi bem acolhida, o
casal a queria como filha. Ali ela aprendeu como se
deve ser uma dona de casa, que saiba coordenar
uma casa com muitos empregados, onde se fabrica
a própria cerveja, vinho e queijo. O fio para o pano
era fiado à mão e nas noites de inverno as criadas
e também a patroa se dedicavam a este trabalho.
Pão, frutas secas, chucrute e outras conservas,
defumados, linguiças e outros. Tudo isso e muito
mais estava sob o controle da dona de casa.
Muitas vezes Catarina também ajudava na
casa da família Cranach. As senhoras Reichenbach
e Cranach devem ter sido ótimas donas de casa
e Catarina, uma aprendiz muito inteligente. Mais
tarde no convento negro, onde ela dirigia uma
grande casa, ela deu prova disso.
Na casa Cranach se recebia muitas visitas. A
mais ilustre que o cronista menciona, foi o rei
Cristiano II, cunhado do imperador Carlos o Quinto,
ele tinha três coroas: a da Dinamarca, da Suécia e
Noruega. O rei Cristiano permaneceu alguns dias
como hóspede na casa Cranach. Catarina certa-
mente ajudou a servir o ilustre hóspede, e ele a
presenteou com um precioso anel, o que signifi-
cava uma grande distinção.
Na casa de Melanchton, Catarina também era
sempre bem recebida. Foi ali que ela conheceu um
jovem de sobrenome Baumgärtner. Entre Catarina
e Baumgärtner surgiu um romance e a simpatia era
mútua. Nunca foi ressaltado que Catarina era
bonita, mas deve ter sido atrativa suficiente para
encantar o ilustre jovem Baumgärtner. Ao despedir-
se de Catarina, deixou a esperança que voltaria,
o que não aconteceu. Catarina teve sua primeira
grande decepção e sofreu muito.
As freiras que haviam abandonado o con-
vento junto com Catarina quase todas já haviam
encontrado um destino. Umas como professoras,
outras casadas e alguma retornaram aos seus
lares. Lutero estava sempre preocupado em
auxiliá-las, assim como ele também aconselhava
seus ex-colegas padres a se casarem.
Também por Catarina, que continuava em
casa de amigos, ele estava empenhado em encon-
trar um marido para ela, e como Dr. Gaspar Glatz
estava interessado por Catarina, Lutero o apoiou
para que se casasse com ela. Catarina, porém, não
simpatizava com Glatz.
Temendo que Lutero iria pressioná-la, pediu
ajuda a um amigo de Lutero, Nikolau von Armsdorf
e com aquele modo que lhe era particular ela falou:
Não permita que Lutero me case contra minha
vontade com Glatz. Se ainda fosse o senhor, ou
Lutero mesmo, eu bem que aceitaria.
Armsdorf, aproveitando-se das palavras de
Catarina, foi ter com Lutero e aconselhou-o a
casar-se com Catarina. Até aqui Lutero ainda não
havia optado pelo casamento e estranhou as pa-
lavras do amigo, além disso ele achava Catarina
um tanto orgulhosa. Mas as palavras de Armsdorf
transformaram sua opinião e o que antes era indife-
rença, agora se transformou em amor.
Pouco tempo depois Lutero levou sua ‘Käthe’
para o ‘convento negro’ como sua legítima esposa.
Houve muito comentário, uns contra, outros a
favor. No dia 13 de junho de 1525 na presença
dos amigos mais íntimos, no ‘convento negro’, foi
oficiado o casamento de Lutero com Catarina.
Mais tarde exaltava a felicidade do casamento e
não escondia a alegria em ter sua ‘Käthe’. Catarina
abraçou com ânimo e decisão o compromisso de
esposa e dona de casa.
Eles eram pobres, mas a confiança em Deus
e as mãos laboriosas de Catarina não permitiram
que passassem miséria que lhes perturbasse a
felicidade. Por parte de Catarina não temos mani-
festação a esse respeito, Lutero porém numa carta
ao seu amigo Armsdorf, de 11 de agosto de 1526,
escreve: Nunca esperava encontrar em minha
Käthe a companheira tão perfeita, agradeço a Deus
e hoje não trocaria minha pobreza pela fortuna
de um ricaço. Mais tarde Lutero chama Catarina de
estrela da manhã de Wittenberg. Para nós Catarina
é a pioneira da casa pastoral onde a esposa do
pastor deve ser como uma estrela que irradia amor,
bondade, ordem e temor de Deus, tanto no seu lar,
como na comunidade.
Catarina era de um labor incansável, pela
manhã era a primeira a levantar para coordenar o
trabalho entre os criados. No ‘convento negro’
sempre havia muitos hóspedes, desde estudantes
necessitados, até doutores, sem falar nos parentes
pobres e amigos. Todos eram bem acolhidos. Os
aproveitadores também não faltavam.
Em 04/02/1532, o ‘convento negro’ passou a
ser propriedade de Lutero, legado por Frederico o
Sábio. Catarina mantinha um aviário, vacas leitei-
ras, lavoura e uma pequena cervejaria. Tudo isso
era coordenado por ela e dava renda e sustento ao
grande lar de Lutero. Nos aposentos do ‘convento
negro’, os quais se achavam em estado deplorável,
Catarina com a ajuda de uma criada, já havia dado
uma aparência bem melhorada.
Mais tarde com a chegada das crianças, au-
mentou o número de criados e com o crescimento
dos empreendimentos de Catarina as dívidas foram
saldadas e uma leve fartura se fazia sentir. Ela
cuidava de tudo, enquanto Lutero se dedicava aos
seus livros. Hóspedes importantes deixavam, ou
enviavam presentes valiosos para o casal.
Enquanto que Catarina juntava, Lutero sentia
alegria e uma fraqueza em presentear, assim em
certa ocasião quando seus bens estavam minguan-
do, ela chamou Lutero a atenção. Ele respondeu
com toda calma: Confio em Deus e depois dele no
meu ‘senhor’ Käthe. Catarina certa vez ficou muito
doente e todos temiam pela sua vida. Lutero ficou
tão feliz pelo seu restabelecimento que agradecia e
louvava a Deus em alta voz.
O matrimônio de Lutero com Catarina foi
abençoado com seis filhos, três meninas e três
meninos: Johannes nasceu em 07/06/1526, Elisa-
beth nasceu em 10/12/1527, Magdalena nasceu em
04/05/1529, Martin nasceu em 06/11/1531, Paul
nasceu em 28/01/1533 e Margarete nasceu em
17/12/1534.
Enquanto que os negócios da casa estavam
inteiramente nas mãos de Catarina, na educação
dos filhos Lutero como pai assumia a parte maior.
Quando Catarina juntava pela primeira vez as
mãozinhas do pequeno Johannes em oração, ela
tinha diante de si o pequeno catecismo de seu
esposo. Da piedade e força de fé de Catarina
temos muitos exemplos: O primeiro e mais
importante foi quando ela se livrou daquela vida
ociosa do convento. Durante a enfermidade de
Lutero, ela sabia confortá-lo. Quando em 1527 a
peste abalava a cidade e muitos fugiam, Catarina
permaneceu firme ao lado do marido para auxiliar e
confortar os enfermos e moribundos.
No próprio leito de morte que foi lento e
penoso, Catarina permaneceu firme na fé, pedindo
que Deus encurtasse o seu sofrimento. A Bíblia
que no convento não conhecia, depois para ela era
como uma bela floresta onde se detinha para
buscar força e alento diariamente.
No lar de Catarina e Lutero, as lágrimas e a
dor também tiveram seu encontro. A primeira filha,
a pequena Elisabeth viveu apenas 8 meses. Ela
nasceu após as primeiras semanas após a peste e
tudo que Catarina havia presenciado e sofrido junto
aos doentes, poderia ter sido a causa da criança
nascer tão frágil. Os pais choraram muito a morte
da filhinha. Em substituição da pequena Elisabeth,
Catarina e Lutero receberam com muita alegria o
nascimento da filhinha Magdalena.
Lutero era um pai muito amoroso, e quando
se ausentava do lar por mais tempo, enviava lindas
cartinhas principalmente ao pequeno Johannes,
nas quais ele falava das belezas lá no céu.
Também recomendava ao menino ser obediente
aos mestres e mandou um beijo para Muhme Lena
(tia de Catarina de mais idade) que também fora
freira, ela cuidava das crianças e as crianças
gostavam muito dela.
Dos filhos quem mais se salientou, foi Martin,
ele se tornou médico. Lutero amava a música, seus
filhos Martin e Paul eram dotados de grande talento
musical, assim como também todos os membros da
família apreciavam e praticavam a música. O hino
‘Dos altos céus lá venho eu’ foi composto por
Lutero especialmente para os seus filhos e ele era
cantado com muita alegria por eles.
Na casa de Lutero a família se reunia muitas
vezes para cantar. A história nos transmite este
fato também em muitos quadros. O mais famoso de
todos talvez, onde vemos Lutero com o alaúde na
mão rodeado pela família e um amigo, é uma
pintura a óleo de Gustav Adolf Spannenberg no
Museu de Leipzig e data de 1538. O fato de
Catarina tomar parte nestas reuniões é uma prova
que também ela amava a música.
O tempo para Catarina deve ter sido bastante
limitado porque além da administração e coordena-
ção de sua casa que antes fora um convento e por
isso certamente bastante espaçosa, agora estava
sempre cheia de gente, estudantes, visitantes,
amigos e parentes. Todos comiam na casa de
Catarina. Além dos filhos do casal, ainda havia
onze filhos de criação, estes em sua maioria eram
filhos de parentes pobres. Tanto os hóspedes, co-
mo os filhos de criação, nem todos correspondiam
ao bom acolhimento que lhes era dado. Alguns
davam grandes desgostos aos seus benfeitores.
A educação era bastante rígida, pois Lutero
exigia bom comportamento e obediência incondi-
cional. Certa vez ele disse, que era melhor ter um
filho morto do que um filho desobediente. Aplicava
castigo corporal, mas ele dizia, com amor.
Com quatro anos o filho mais velho Hans foi
internado num colégio, mas não para fazer apenas
riscos e desenhos, aqui se fala em línguas, gramá-
tica e música. Como o pequeno Hans não era muito
inteligente, nem aplicado, os pais o transferiram
para um colégio de latim em Torgau. Isto anos mais
tarde em 26 de agosto de 1542.
Apenas 4 semanas Hans estava em Torgau,
quando na manhã de 17 de setembro seus pais
mandaram buscá-lo com muita urgência, sua irmã
Madalena estava enferma e desejava ver o irmão.
Os dois se amavam muito. Partindo a toda pressa,
Hans ainda chegou a tempo de encontrar sua irmã
com vida. Foram 4 dias de vaga esperança, imensa
angústia e profunda dor quando a vida de Mada-
lena se apagava qual flor que murcha.
Madalena era a querida de todos, era dócil,
amorosa, bela e muito obediente. Em ocasião
alguma havia dado desgosto ao pai. Agora junto
ao leito mortal da filha querida Lutero exclama:
‘Quanto eu a amo, porém se queres leva-la meu
Deus querido, será bom saber que ela está contigo,
seja feita a tua vontade’. Dirigindo-se à menina
perguntou: ‘Filhinha querida, eu sei que querias
ficar aqui com teu pai. Gostarias de ir para o outro
Pai?’ Ela respondeu: ‘Sim, querido pai, eu gos-
taria!’ ‘Minha filhinha querida!’ exclamou Lutero e a
Catarina que chorava em voz alta ele falou: ‘Pensa,
para onde ela vai, é melhor’.
Na noite de 19-20 de setembro, Catarina
sonhara que dois belos mancebos buscavam
Madalena para as bodas. Ela contou seu sonho a
Melanchton. Impressionado ele respondeu: ‘Os dois
mancebos são os santos anjos que levarão esta
jovem para as verdadeiras bodas’.
Às 09 horas do dia 20 de setembro, sem
medo, nem dor, nos braços do pai, Madalena mor-
reu. Quando o seu desenlace estava se aproximan-
do, Lutero, esse gigante forte se prostrou de
joelhos junto ao leito, chorando e orando que Deus
a livrasse do mal. De volta do enterro, Lutero falou
aos amigos: ‘Nossa filha está bem de corpo e alma,
nós cristãos não temos do que nos queixar, temos
a certeza da vida eterna’. Na verdade Catarina e
Lutero nunca superaram de todo a morte de sua
querida filha. Catarina chorava por muito tempo e
Lutero 3 anos mais tarde numa carta escreveu:
‘Ainda sofro por Madalena, não consigo esquecê-
la’. Mas, a vida continuava, e Catarina retornou
aos seus afazeres com a mesma energia e força
de vontade, também gozava de saúde.
Lutero a quem nós vemos como um verda-
deiro baluarte, era na verdade um homem muito
doente. Os muitos flagelos e jejuns aos quais e se
submetia quando ainda monge, debilitaram seu
corpo de modo que ninguém dava uma longa vida
para ele. Depois do casamento com os cuidados e
a alimentação adequada que Catarina lhe dispen-
sava, ele se sentia melhor.
Com o correr do tempo, a constante luta
contra os inimigos da Reforma, traição e ingratidão
de pessoas que considerava amigos; debates, con-
ferências, viagens, tudo isso contribuiu para que os
velhos males voltassem. Além disso, ele dizia que
estava cansado, o que é de se compreender. Basta
olhar como um todo para a gigantesca obra escrita
que Lutero deixou para a posteridade.
Lutero sofria de fortes dores de cabeça que o
prostravam ao leito. Uma ferida na perna e mais
tarde um mal de cálculos de rins, ou vesícula,
provocava crises tão fortes que desfalecia. Ele
pedia a Deus que quando chegasse seu fim, o
Senhor abreviasse o seu sofrimento.
No dia 17 de novembro Lutero ocupou a
cátedra pela última vez. Explicando o primeiro livro
de Moisés terminou: ‘Não posso mais, estou fraco,
orem por mim para ter um bem-aventurado fim!’ Em
13 de fevereiro, entre 2-3 horas da madrugada,
Lutero entregou seu espírito a Deus. Suas últimas
palavras foram: ‘Pai, nas Tuas mãos entrego meu
espírito, Tu me salvaste, Deus fiel’.
Catarina, viúva, a princípio estava muito
abatida e sentia muito por não lhe ser permitido dar
carinho e assistência ao seu tão querido esposo
em seus últimos momentos de vida. Pois Lutero
morreu em Eisleben e Catarina se encontrava em
Wittenberg. Como as viagens naquele tempo eram
demoradas, ela só pôde assistir ao enterro do
marido. Com a morte de Lutero parecia que o sol
havia desaparecido da vida de Catarina.
Depois de algum tempo, o indomável espírito
de luta e a preocupação pelos filhos, fez Catarina
retornar as suas atividades. Abriu novamente uma
pensão para estudantes e cuidava das demais
propriedades. Catarina, apesar de muitas virtudes,
também tinha os seus defeitos. Ela era altiva,
orgulhosa e as vezes prepotente. Depois da morte
do pai, os filhos de Lutero deviam ter um tutor, e
muitos amigos de bom gosto teriam aceitado esse
encargo para amparar e auxiliar a família. Catarina
simplesmente não admitiu, ela se achava suficien-
te. Assim sendo, os amigos se sentiram magoados
e começaram a distanciar-se dela.
Como a doutrina da Reforma ainda não esta-
va tão consolidada, os adversários depois da morte
de Lutero achavam que poderiam retomar o campo.
Assim começou a luta. Muitos governantes eram
católicos, instigados pela sua igreja perseguiam
os protestantes. Quando em 9 de novembro se
espalhou a notícia de que o Duque Moritz estava
se aproximando com o seu exército de Wittenberg,
começou uma grande fuga. Também Catarina fugiu
com os seus filhos, para mais tarde voltar, mas
suas propriedades pela invasão do inimigo haviam
sido saqueadas e danificadas.
Foram anos de enorme dificuldade e tristeza
para Catarina depois da morte de Lutero, os anti-
gos amigos a ignoravam e viam com indiferença a
necessidade pela qual ela passava. Catarina ficou
abatida e sua saúde abalada.
No verão de 1552 novamente um surto de
peste abalou Wittenberg, Catarina resolveu mudar-
se com seus filhos para Torgau. Na viagem os
cavalos dispararam, Catarina saltou da carruagem,
mas caiu dentro de uma valeta de água gelada. A
forte queda e o frio a deixaram aleijada.
Durante três meses ela ficou enferma. Cata-
rina orava muito, pedindo a Deus que conservasse
a doutrina para a igreja. Fervorosamente pediu a
Deus um suave fim. No dia 20 de dezembro de
1552 Catarina adormeceu em paz.
Temos aqui, embora muito reduzido, algumas
passagens da vida desta extraordinária mulher que
foi ‘Katharina von Bora Luther’.
Extraído do livro em língua alemã de Ernst Kroke,
traduzido por Wilma Warth e publicado na Revista das
Servas - 1983.
Pastor Edgar Buss Leitzke - Outubro 2017