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Apesar de ter sido trazida da Áustria já há dois anos, especialmente para gerar
o sucessor ao trono de D. João V, rei de Portugal, a rainha D. Maria Ana Josefa
parece não conseguir engravidar. Sendo o rei um símbolo de virilidade, ela é
quem é considerada infértil e, consequentemente, a única culpada pelo facto
de o rei ainda não ter tido herdeiros. Quando, ao cair da noite, o rei se prepara
para ir ao quarto da rainha para mais uma tentativa, chega ao palácio D. Nuno
da Cunha, bispo inquisidor, acompanhado de um velho frade franciscano,
António de S. José, que propõe uma solução para o problema do rei. Diz o
frade que a rainha engravidaria assim que o rei prometesse construir um
convento para os frades da ordem dos franciscanos na vila de Mafra. Feita a
promessa, o casal real vai finalmente para o quarto.
Não somente por causa da gravidez de cinco meses, mas também por estar de
luto pela morte de seu irmão, a rainha Maria Ana deixa de frequentar o grande
auto-de-fé na praça do Rossio em Lisboa, evento muito popular, que já há dois
anos não ocorria. Ali seriam castigados pela Inquisição diversos casos de
heresia.
Enquanto isso, no palácio, para decepção do rei, a rainha dá à luz uma menina,
Maria Xavier Francisca Leonor Bárbara, que é baptizada por sete bispos.
Apesar de o frade António de S. José já ter morrido quando do nascimento da
criança, a promessa do rei de construir o convento seria mantida.
Baltasar, que sempre dormia no lado direito da enxerga, procura saber por que
Blimunda sempre comia pão ao acordar, antes mesmo de abrir os olhos. Ele já
tinha tentado descobrir o mistério através do padre Bartolomeu Lourenço que,
apesar de conhecer a verdadeira razão, não a quis revelar, dizendo apenas
que voar é um mistério pequeno se comparado ao mistério de Blimunda. Certa
manhã, tentando desvendar esse mistério de uma vez por todas, Baltasar
esconde o pão de Blimunda que, ao acordar, começa a procurá-lo
desesperadamente. Finalmente, depois de receber o pão das mãos de
Baltasar, Blimunda revela que tem o poder de "olhar por dentro das pessoas", o
que podia fazer somente quando estava em jejum. No dia seguinte, para
provar-lhe seu poder (ou infortúnio), Blimunda, ainda em jejum, sai à rua com
Baltasar, evitando olhá-lo, já que antes tinha prometido não "olhá-lo por
dentro". Dentre as coisas que vê, Blimunda descreve a gravidez de uma
mulher, o que existe no subsolo, o órgão sexual de um jovem, apodrecido por
doença venérea, e até mesmo uma moeda enterrada no chão.
Baltasar e Blimunda, depois que o padre parte, decidem mudar-se para Mafra,
terra natal de Baltasar. Antes de partir, o casal decide assistir, ao invés de mais
um auto-de-fé que seria realizado na praça do Rossio, a uma outra festa
popular, a tourada. Assim como os autos-de-fé, as touradas sempre
terminavam com um forte cheiro de carne queimada, proveniente do churrasco
realizado no final da festa. Ao chegar à casa da família em Mafra,
acompanhado de Blimunda, Baltasar é recebido por sua mãe, Marta Maria, já
que João Francisco, seu pai, estava trabalhando no campo. Baltasar fica
sabendo que sua única irmã, Inês Antónia, estava casada com Álvaro
"Pedreiro" Diogo. Dos dois filhos desse casal, apenas um sobreviveria, sendo
que o outro morreria ao atingir a mesma idade em que o infante D. Pedro, filho
de D. João V, também morreria, anos mais tarde.
Depois da partida do italiano que, tendo prometido que voltaria trazendo seu
cravo e o tocaria para o casal e para a passarola, o padre Bartolomeu
Lourenço começa a trabalhar em um sermão que estava preparando para a
festa do Corpo de Deus. Nesse sermão, que a princípio receberia a aprovação
e até mesmo a admiração dos padres e censores do Santo Ofício, o padre
questiona os fundamentos da doutrina cristã da trindade divina.
Dois meses depois de terem chegado a Mafra, Baltasar decide voltar ao Monte
Junto, onde haviam deixado a máquina de voar. Ele a encontra no mesmo
lugar, mas necessitando de alguns reparos. A partir de então, ele faria visitas
frequentes ao local, cuidando da manutenção da máquina, sempre com uma
certa esperança de reencontrar o padre. Algum tempo depois, Domenico
Scarlatti chega a Mafra, onde fora visitar as obras do convento, ficando
hospedado na casa de um visconde. Ao se cruzarem na rua, Blimunda e
Scarlatti, tentando evitar as suspeitas dos moradores, que poderiam achar
estranho duas pessoas de níveis sociais tão diferentes se conhecerem,
conversam às escondidas. O músico trazia a notícia da morte do padre
Bartolomeu de Gusmão em Toledo, Espanha, para onde ele havia fugido no dia
19 de Novembro, o dia da tempestade em Lisboa. Em seguida, enquanto no
palácio o rei medita sobre suas riquezas, celebra-se em Mafra uma missa para
um grande número de trabalhadores.
Depois de quase quatro anos em Mafra, Blimunda pela primeira vez pede a
Baltasar para acompanhá-lo em uma de suas visitas periódicas ao Monte
Junto. Depois de lá chegarem, resolvem passar a noite para que, ao
amanhecer, Blimunda, ainda em jejum, se certificasse de que as vontades
ainda estavam guardadas dentro de cada uma das duas esferas.
Finalmente, o rei decide que a sagração da basílica deveria ser realizada dois
anos mais tarde, no dia vinte e dois de Outubro de 1730, quando ele
completasse 41 anos, estivesse ou não a obra concluída. Com a ampliação do
projecto, tornara-se necessário que se recrutasse um grande número de
trabalhadores, dentre os quais muitos seriam levados a fazer o trabalho contra
a própria vontade, o que causaria grande tristeza a muitas famílias de toda a
região. Simultaneamente, as famílias reais de Portugal e de Espanha logo se
preparariam, em 1729, para se unirem através de dois casamentos.
http://portalliterario.sites.uol.com.br/memorial_do_convento.htm