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Informativo semanal com reprodução fiel de matérias veiculadas via Internet
Curitiba, 04 de fevereiro a 08 de março de 2006 - n.º 233
SUMÁRIO
Supremo Tribunal Federal ....................................................................................................... 01-81
Superior Tribunal de
Justiça .................................................................................................... 82-174
Últimas Notícias
07/03/2006 - 20:30 - Condenado por crimes sexuais contra menores obtém progressão de regime
Condenado à pena de 20 anos e 10 meses de reclusão por atentado violento ao pudor e crimes contra o Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA), Leonardo Chaim obteve, de ofício, progressão de regime penal durante o
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julgamento do Habeas Corpus (HC) 87495. A decisão unânime da Primeira Turma do Supremo acompanhou o voto
do relator, ministro Eros Grau.
De acordo com o relatório apresentado, o condenado foi preso no início de 1999, em Atibaia (SP), por ter abusado
sexualmente de crianças com idade entre 10 a 14 anos, valendo-se da condição de monitor em acampamento de
sua responsabilidade nas temporadas de férias relativas a julho de 1996 e aos meses de janeiro e julho de 1998.
Após o abuso, enviava imagens (fotografias e filmes) com cenas das crianças enquanto se vestiam, tomavam banho
ou encontravam-se em situações de intimidade no dormitório do acampamento.
A defesa buscava modificar a aplicação da pena e o reconhecimento do caráter relativo da presunção de violência,
aduzindo que ela não é absoluta. Também sustentava que em pelo menos dois dos três fatos criminosos não
deveria ser aplicada a referida presunção, em razão de haver evidência de que os menores possuíam maturidade
suficiente para a prática de atos libidinosos. Nesses pontos, o HC foi indeferido por unanimidade.
07/03/2006 - 19:29 - Primeira Turma decide que pedidos de progressão de regime poderão ser
julgados monocraticamente
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal resolveu questão de ordem suscitada pelo ministro Cezar Peluso e
decidiu que todos os habeas corpus com pedidos de progressão de regime podem ser julgados individualmente pelo
relator. A decisão foi tomada durante o julgamento do Habeas Corpus (HC) 86224 e fundamentada pela decisão
tomada pelo Plenário, no último dia 23 de fevereiro, afastando a proibição da progressão de regime de cumprimento
de pena para condenados por crime hediondo. A proposta de Peluso foi aprovada por unanimidade.
O objetivo é facilitar o julgamento de inúmeras ações que tramitam no Supremo sobre a mesma matéria. Quanto
ao pedido de progressão de regime no HC 86224, os ministros deferiram o habeas para fixar o regime inicialmente
fechado para o cumprimento da pena do condenado por crime hediondo. O relator, ministro Carlos Ayres Britto,
ressaltou que a efetividade da progressão dependerá da análise, por parte do juiz da execução penal, de requisitos
objetivos e subjetivos do preso.
07/03/2006 - 16:51 - Negado habeas corpus a ex-policial condenado por homicídio e tráfico de
drogas
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal negou novo pedido de Habeas Corpus (HC 87156) impetrado em
favor do ex-policial Plácido Gomes Esperança Filho. Ele foi condenado à pena de 27 anos de reclusão pela prática de
homicídio triplamente qualificado, associação para fins de tráfico internacional de entorpecentes e formação de
quadrilha. O réu participou da morte do marítimo e ex-traficante Carlos Antônio Ruff, em 1998, no Rio.
A defesa pedia para que o ex-policial respondesse ao processo em liberdade, afastando a prisão processual. O
ministro-relator, Marco Aurélio, indeferiu o habeas sob o argumento de que o réu representa perigo para a
sociedade e que a prisão deve ser mantida. Ele relatou que a prisão do ex-policial havia sido relaxada em 1999. Mas
em seguida foi aditada a denúncia em razão da morte do ex-traficante Carlos Antônio Ruff, que se dispôs a
colaborar com as investigações.
O ministro ressaltou, ainda, que o paciente permaneceu preso até o julgamento e que, após a condenação, não
haveria razão para a revogação da prisão. “O princípio da não-culpabilidade não se sobrepõe aos parâmetros que
ditaram a prisão, não tendo alcance que os afaste e viabilize a soltura do paciente quando já existente o decreto
condenatório a envolver pena substancial ante a gravidade dos crimes”, disse o relator.
Por fim, o ministro disse que não se trata no caso de exigência de recolhimento para ter-se como admitida a
apelação, mas de manter fora da sociedade cidadão de alta periculosidade.
06/03/2006 - 12:17 - Íntegra da decisão que manteve convênio da Geap para servidores federais
Veja a íntegra da decisão liminar (3 páginas) do ministro Carlos Ayres Britto no Mandado de Segurança
25855, impetrado pela Federação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores em Saúde, Trabalho e Previdência
Social (Fenasps). Com a decisão, proferida no dia 3 de março, fica mantido o convênio de adesão da Fundação de
Seguridade Social (Geap) a servidores da Saúde, da Previdência Social e do Trabalho.
03/03/2006 - 19:44 - Negada liminar que pedia acumulação de vantagens a inativos da Previdência
Social
O ministro Marco Aurélio indeferiu liminar no Mandado de Segurança (MS) 25551, impetrado pela Associação
Nacional dos Servidores da Previdência Social (ANASPS) no Supremo. Com a decisão, foi mantido o entendimento
do Tribunal de Contas da União (TCU) de ausência ao direito de percepção cumulativa da Gratificação de Atividade
pelo Desempenho de Função – GADF com décimos ou quintos, suspendendo os pagamentos para os servidores
inativos e pensionistas da Previdência Social.
De acordo com Marco Aurélio, a decisão do TCU ficou restrita a situações concretas de cumulatividade da
vantagem pecuniária individual com os décimos ou quintos.
A Associação sustentou no MS que a Lei Delegada nº 13/92, ao prever o cálculo de quintos, considerada a
gratificação, demonstra não se tratar da mesma vantagem, afastando a possível duplicidade de ganhos. Alegou,
ainda, a existência de lesão ao devido processo legal, pois os beneficiários da parcela não teriam sido cientificados
para, querendo, participarem do processo então em curso no Tribunal de Contas da União.
O TCU determinou o cumprimento de decisão relacionada ao caso (Acórdão nº 814/2005), com a observância
obrigatória de entendimento de que a gratificação envolvida na espécie não é cumulável com os quintos e os
décimos.
O ministro entendeu que o enfoque do TCU, preliminarmente, estaria correto. Marco Aurélio argumentou que a
gratificação questionada serve ao cálculo de quintos e décimos, onde já se encontra incluído o valor respectivo.
“Logo, auferindo o servidor aposentado ou o pensionista benefício mensal que já é composto de quintos ou
décimos, calculados mediante a integração da gratificação de atividade por desempenho de função, descabe, sob
pena de se incidir em sobreposição, em duplicidade contrária à ordem jurídica, cogitar do pagamento em separado
da parcela”, afirmou o relator.
02/03/2006 - 15:40 - Íntegra do voto do ministro Carlos Ayres Britto sobre progressão de regime de
pena para crimes hediondos
Veja a íntegra do voto do ministro Carlos Ayres Britto no julgamento do Habeas Corpus (HC) 82959, que discutiu a
possibilidade de progressão de regime de cumprimento de pena no caso de crimes hediondos.
24/02/2006 - 19:22 - Suspensa garantia dada pela União ao DF para empréstimo junto ao BIRD
O ministro Cezar Peluso deferiu liminar no Mandado de Segurança (MS) 25853 para a União, suspendendo a
prestação de garantia para o Distrito Federal em empréstimo negociado com o Banco Internacional de Reconstrução
e Desenvolvimento (BIRD). A União impetrou o MS contra liminar concedida no MS 25846, pelo ministro Marco
Aurélio, que obrigou a União a garantir o Distrito Federal em empréstimo obtido junto ao BIRD.
A União alegou que a recusa em conceder a garantia ao DF seria pela situação de irregularidade deste nos
cadastros de controle financeiro mantidos pelos órgãos federais. O DF, de acordo com a União, teria deixado de
prestar contas relativas a convênios anteriores no modo e tempo devidos. Estas contas seriam requisitos
indispensáveis para a prestação da garantia contratual na operação de crédito, de acordo com a Lei de
Responsabilidade Fiscal.
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Sustentou, ainda, a incompetência do ministro Marco Aurélio para proferir a decisão, por entender que o MS
25846 deveria ter sido distribuído por prevenção ao relator da Ação Cível Originária (ACO) 840, ministro Celso de
Mello.
O ministro Cezar Peluso, relator do caso, entendeu que a legalidade de concessão de garantia, por parte da União,
à operação de crédito pactuada pelo DF com BIRD estava condicionada à regular prestação de contas relativas a
convênios anteriormente firmados por ambos os entes federativos.
O relator observou, ao manusear os autos da ACO 840, que a União, obedecendo aos termos da liminar aí
deferida, valeu-se dos dados obtidos no Cadastro de Convênios do Sistema Integrado de Administração Financeira
do Governo Federal (CONCOV/SIAFI).
Peluso verificou também que o ministro Celso de Mello indeferiu, nos autos da ACO 840, pedido de autorização
para garantia ao empréstimo do DF com BIRD, permitindo à União utilizar, para além do CAUC, outros sistemas
operacionais que viabilizassem o controle de convênios e a aferição de adimplemento das prestações assumidas
pelos Estados e Distrito Federal.
“A regularidade das prestações de contas do ente beneficiário [Distrito Federal] constitui, sim, como visto,
condição legal indispensável para a prestação da garantia. E é o que bastaria, aqui, para deferimento da liminar”,
afirmou o ministro.
Cezar Peluso observou ainda que o MS impetrado pelo Distrito Federal não poderia ser conhecido pelo Tribunal.
“Afinal, a decisão prolatada pelo Min. Celso de Mello, na ACO nº 840, comportava impugnação por via de agravo
regimental”, salientou o relator, concluindo que a jurisprudência do Tribunal é no sentido de ser inadmissível
mandado de segurança contra pronunciamento de jurídico proveniente do Pleno, de uma das Turmas, ou um dos
ministros do Supremo, quando tais decisões puderem ser reformadas por meio dos recursos ou de ação rescisória,
no caso de mérito.
23/02/2006 - 19:10 - Confirmada liminar que impede juíza de depor na CPI dos Bingos
O Plenário do Supremo confirmou, em julgamento de mérito, a liminar concedida à juíza da 17ª Vara Federal do
Distrito Federal, Maisa Costa Giudice, para que ela não seja obrigada a prestar depoimento à CPI dos Bingos, no
Senado, sobre processos movidos pela empresa Gtech contra a Caixa Econômica Federal. Os processos têm como
objeto as licitações para as loterias da Caixa.
A CPI queria que a juíza explicasse as decisões judiciais proferidas por ela em ações ajuizadas pela empresa
Gtech. A juíza recorreu ao Supremo por meio do Habeas Corpus (HC) 86581, alegando que a decisão da CPI de
convocá-la seria uma ofensa ao princípio constitucional da separação dos poderes (artigo 2º da Constituição
Federal).
Sustentou, ainda, que a convocação seria uma afronta ao artigo 146, inciso II do Regimento Interno do
Senado, que não admite CPI para investigar matéria pertinente às atribuições do Poder Judiciário.
A relatora da matéria, ministra Ellen Gracie, concedeu liminar em setembro do ano passado para suspender a
convocação da juíza. A ministra Ellen entendeu que “a fiscalização da atuação jurisdicional é incumbência do
próprio Poder Judiciário”. Em setembro último, uma liminar em Mandado de Segurança (MS) 25510 impediu a CPI
de ter acesso aos dados sigilosos relativos às ligações telefônicas, movimentação financeira e declaração fiscal da
juíza.
23/02/2006 - 19:05 - Supremo afasta a proibição de progressão de regime nos crimes hediondos
Por seis votos a cinco, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a inconstitucionalidade do
parágrafo 1º do artigo 2º da Lei 8.072/90 que proibia a progressão de regime de cumprimento de pena nos crimes
hediondos. O assunto foi analisado no Habeas Corpus (HC) 82959 impetrado por Oséas de Campos, condenado a 12
anos e três meses de reclusão por molestar três crianças entre 6 e 8 anos de idade (atentado violento ao pudor).
Na prática, a decisão do Supremo, que deferiu o HC, se resume a afastar a proibição da progressão do regime de
cumprimento da pena aos réus condenados pela prática de crimes hediondos. Caberá ao juiz da execução penal,
segundo o Plenário, analisar os pedidos de progressão considerando o comportamento de cada apenado – o que
caracteriza a individualização da pena.
Como a decisão se deu no controle difuso de constitucionalidade (análise dos efeitos da lei no caso concreto), a
decisão do Supremo terá que ser comunicada ao Senado para que o parlamento providencie a suspensão da eficácia
do dispositivo declarado inconstitucional. O Plenário ressaltou, ainda, que a declaração de inconstitucionalidade não
gerará conseqüências jurídicas com relação a penas já extintas.
Voto-vista
O julgamento do caso foi retomado hoje (23/2) com a leitura do voto-vista da ministra Ellen Gracie. Ela decidiu
acompanhar a divergência levantada pelo ministro Carlos Velloso e indeferiu o habeas. Para Ellen Gracie, ao vedar a
progressão de regime nos crimes hediondos, o legislador nada mais fez do que seguir a trilha do constituinte que
discriminou determinados delitos, privando seus autores de alguns benefícios penais.
“O instituto da individualização da pena não fica comprometido apenas porque o legislador não permitiu ao juiz
uma dada opção”, ressaltou a ministra, e acrescentou que a escolha do juiz em matéria de pena está submetida ao
princípio da legalidade.
Ellen Gracie concluiu que a restrição não apresenta afronta à norma constitucional que preconiza o princípio da
individualização da pena representando apenas opção de política criminal. “É difícil admitir desse grande complexo
de normas que constitui o arcabouço do instituto da individualização da pena e da sua execução, que a restrição na
aplicação de uma única dessas normas, por opção de política criminal, possa afetar todo o instituto”, declarou.
Votos favoráveis
O ministro Eros Grau, que votou em seguida, acompanhou o voto do relator, ministro Marco Aurélio, deferindo o
HC. Eros Grau ressaltou que a proibição da progressão de regime afronta o princípio da individualização da pena.
Sustentou que o legislador não pode impor regra fixa que impeça o julgador de individualizar caso a caso a pena do
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condenado. “O cumprimento da pena em regime integral, por ser cruel e desumano importa violação a esses
preceitos constitucionais”, disse.
Por fim, Grau afirmou que a declaração de inconstitucionalidade da proibição da progressão de regime não
configurará, de modo algum, a abertura de portas dos presídios já que a decisão final caberá ao juiz da execução
penal.
O ministro Sepúlveda Pertence também votou pela inconstitucionalidade da norma. “De nada vale individualizar a
pena no momento da aplicação, se a execução, em razão da natureza do crime, fará que penas idênticas, segundo
os critérios da individualização, signifiquem coisas absolutamente diversas quanto a sua efetiva execução”.
De acordo com Pertence, “ninguém tem dúvidas de que a mesma pena de três anos de reclusão imposta a alguém
que cometeu crime por peculato e ao “vapozeiro” (popular avião) do fornecedor de maconha na favela são coisas
diferentes, se uma pode ser cumprida com os mais liberais substitutivos e a outra terá de ser cumprida pelo
encarceramento em regime fechado durante toda a sua duração”.
Ainda segundo Pertence, “esse movimento de exacerbação de penas como solução ou como arma bastante ao
combate à criminalidade só tem servido a finalidades retóricas e simbólicas”.
Também já haviam reconhecido a inconstitucionalidade da proibição da progressão de regime, votando com o
relator, os ministros Carlos Ayres Britto, Cezar Peluso e Gilmar Mendes.
Voto do relator
O ministro Marco Aurélio entendeu que a garantia de individualização da pena inserida no rol dos direitos
assegurados pelo artigo 5º da Constituição Federal, inclui a fase de execução da pena aplicada e, por isso, não seria
viável afastar a possibilidade de progressão do respectivo regime de cumprimento da pena.
Para o ministro-relator, a edição da lei de tortura (9.455/97), que permite a progressão, indica a necessidade de
igual tratamento para os outros delitos rotulados hediondos e corresponde a uma derrogação implícita da norma do
parágrafo 1º do artigo 2º do mencionado texto legal.
O ministro ainda sustentou, em entrevista coletiva à imprensa, que a pena deve ser fixada considerando a figura
do preso em si, do seu comportamento na própria prisão e que a progressão só será dada àqueles que a
merecerem. Ressalvou que as penas dos crimes hediondos continuam as mesmas e que a decisão do Supremo não
incentiva a prática de novos delitos uma vez que o reincidente deve ser punido com a regressão de regime.
Contra a progressão de regime
O ministro Celso de Mello acompanhou a divergência aberta por Carlos Velloso. Disse entender que o artigo 2º,
parágrafo 1º, da Lei 8072/90 não mantém qualquer relação contrária do que prescreve a Constituição Federal.
Celso de Mello sustentou que a fixação da pena e a estipulação dos limites, que oscilam entre o mínimo e o
máximo, decorrem de uma opção legitimamente exercida pelo Congresso Nacional. “A norma legal em questão, no
ponto em que foi impugnada, ajusta-se ao ordenamento constitucional”, afirmou.
O ministro Nelson Jobim acompanhou a divergência, por entender que o que instruiu a elaboração da Lei 8.072/90
foi a circunstância de que todos os apenados em crimes hediondos, com longa duração de pena que não têm
nenhuma perspectiva de liberação, não têm nenhum constrangimento de praticar crimes dentro do presídio.
21/02/2006 - 19:16 - União deve garantir empréstimo do Banco Mundial ao Distrito Federal
Por decisão do ministro Marco Aurélio, a União deverá retirar o Distrito Federal de seus cadastros de inadimplentes
e dar a garantia necessária para viabilizar a obtenção de crédito externo. Argumenta o governo do DF que os
recursos são para a realização de obras públicas de saneamento básico e urbanização.
A decisão foi tomada em caráter liminar, no Mandado de Segurança (MS) 25846 impetrado pelo Governo do
Distrito Federal (GDF) contra o Ministério da Fazenda, a Secretaria do Tesouro Nacional e a Coordenação-Geral de
Responsabilidades Financeiras e Haveres Mobiliários (Coref).
Na ação, o GDF informou que o governador estava com viagem agendada para a data de hoje (21/2), a fim de
obter empréstimo junto ao Banco Mundial, por intermédio do Banco Internacional para Reconstrução e
Desenvolvimento (BIRD). Informa, ainda, que a celebração do contrato de empréstimo junto às instituições
financeiras internacionais foi autorizado pelo Senado.
Segundo o GDF alegou no mandado de segurança, as pendências apontadas pela União e que originaram a
inscrição do Distrito Federal nos cadastros de inadimplência impediram a concessão da contrapartida da União para
avalizar o empréstimo. Desta forma, o GDF pediu a concessão de liminar para também obter a garantia para a
efetivação do empréstimo.
O Ministério da Fazenda informou que tal garantia só poderia ser dada mediante quitação dos débitos do Distrito
Federal com a União, relativos a convênios para o repasse de recursos federais.
Ao analisar o pedido, o ministro Marco Aurélio observou que a União deverá prestar garantia à unidade da
Federação em operações de crédito junto a bancos internacionais, quando forem atendidas as normas previstas na
Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000).
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Na avaliação do ministro, o parágrafo 1º do artigo 40 da lei condiciona a garantia pretendida ao oferecimento de
contragarantias. “Esse dado por si só respalda o deferimento da liminar requerida, projetando-se para o julgamento
final da impetração a problemática do contraditório”, afirmou Marco Aurélio.
Ao citar a questão do contraditório, o ministro se referiu ao pedido do GDF para que a liminar fosse deferida antes
mesmo da manifestação da União sobre a matéria, por causa da proximidade da data para a assinatura do contrato
com o Banco Mundial.
17/02/2006 - 19:30 - Nova página de pesquisa na internet facilita acesso à informação judiciária
A criação de uma página comum para a pesquisa de decisões dos 91 Tribunais da Justiça brasileira foi
debatida nesta sexta-feira durante o Encontro sobre a Padronização da Pesquisa de Jurisprudência na Internet,
realizado hoje (17/2) na sala de Sessões da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal.
A abertura do encontro foi feita pelo presidente da Corte, ministro Nelson Jobim, que enfatizou a importância do
encontro: “o objetivo é simples, mas grandioso em termos de socialização da informação, e dará mais simplicidade,
eficiência, rapidez e transparência aos tribunais”, observou Jobim.
Segundo o presidente do Supremo, “a reunião é exatamente para criar uma forma de pesquisa uniformizada para
que o usuário do sistema de informação do Judiciário possa abrir qualquer site, de qualquer tribunal, e ter o mesmo
modelo de pesquisa em vez de 91 modelos distintos que inviabilizam o acesso ”.
Durante o encontro, foi apresentada a nova página de pesquisa que a partir de segunda-feira está presente no
site de sete tribunais brasileiros: Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça (STJ), Tribunal Superior do
Trabalho (TST), Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Superior Tribunal Militar (STM), Tribunal Regional Federal da 1ª
Região (TRF1) e Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). Os demais tribunais do país foram
convidados a adotar a nova página em seus sítios na Internet.
A vice-presidente do Supremo, ministra Ellen Gracie, também participou da abertura do encontro e afirmou que a
padronização na pesquisa de Jurisprudência na Internet “é uma mudança fundamental de paradigma de acesso e
compartilhamento à informação”.
O encontro lotou a sala de julgamentos da 1ª Turma do Supremo, com mais de cem inscritos. O funcionamento do
novo modelo de pesquisa na Internet foi demonstrado detalhadamente durante as palestras proferidas no
encontro. A nova página de pesquisa de jurisprudência já está disponível no endereço:
http://www.stf.gov.br/jurisprudencia/pesquisa/
17/02/2006 - 19:23 - Decisão mantém CPI dos Bingos impedida de quebrar sigilos de Okamotto
O ministro Cezar Peluso manteve a suspensão da quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de Paulo
Okamotto, presidente do Sebrae. A decisão foi proferida no Mandado de Segurança (MS) 25812, após a análise do
pedido de reconsideração feito pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos. A comissão pedia ao
relator do caso nova análise da liminar concedida no caso pelo ministro Nelson Jobim, durante as férias forenses.
Após analisar as informações prestadas pela comissão, o relator, ministro Cezar Peluso, apontou que o objeto da
quebra dos sigilos seria a existência de concessão de empréstimos a dirigentes do Partido dos Trabalhadores, entre
eles o presidente da República. Os recursos seriam provenientes do Fundo Partidário e, como tal, ilícitos, porque se
trataria de dinheiro público.
Peluso ressaltou ainda, conforme consta dos autos, que o empréstimo feito ao presidente da República teria sido
quitado por Okamotto, mas sob suspeita de ser com dinheiro alheio. “Daí se vê logo, com não menor clareza, que
se cuida, em substância, de dois fatos determinados, que teriam ocorrido em épocas certas e próximas”, afirmou o
relator.
De acordo com a decisão, Paulo Okamotto não teria apresentado, por vontade própria, nenhum extrato bancário
capaz de confirmar a origem dos saques que teriam viabilizado o pagamento do emprestimo. Tal fato, para o
ministro Cezar Peluso, afastaria, em parte, a suspeita de que tais valores tivessem sido recolhidos para a terceiros,
“quiçá ligados, em cadeia, ao crime de lavagem, para custear gastos de campanha”.
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Por outro lado, Peluso ressaltou que a CPI poderia, antes de recorrer à quebra dos sigilos, ter concedido prazo ao
presidente do Sebrae para que ele fizesse prova da origem lícita dos recursos financeiros. “Não consta que [a
comissão] o concedeu”, afirmou o ministro.
A terceira observação feita por Peluso é de que, por se tratar de acusação de fatos determinados e com datas
certas, a comissão poderia ter fixado período de tempo dos dados cujo sigilo deveria ser levantado ou transferido.
“É que sem tal delimitação temporal a quebra abrangeria toda a vida bancária e fiscal – e, até, telefônica, cuja
pertinência com o objeto da investigação não parece muito nítida -, transformando-se numa devassa ampla, inútil,
impertinente e inconcebível!”, asseverou o ministro.
Assim, o ministro-relator entendeu que as alegações do impetrante sobre a falta de fixação do período em que se
deve ocorrer as transferências de sigilo seriam suficientes para manter a liminar concedida por Nelson Jobim,
presidente do Supremo.
17/02/2006 - 19:03 - Nepotismo conflita com democracia, diz ministro Marco Aurélio
Em entrevista coletiva a jornalistas, na tarde de hoje, o ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal,
reafirmou que é contra o nepotismo. O ministro falou aos jornalistas sobre o voto proferido na sessão plenária de
quinta-feira, quando, por questões técnico-processuais, indeferiu a Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC
12) requerida pela Associação dos Magistrados Brasileiros. Na ação, a AMB pleiteava o reconhecimento da
constitucionalidade da Resolução nº 7 do Conselho Nacional de Justiça, que determina a exoneração de parentes de
juízes, desembargadores e ministros contratados para cargos de confiança. A liminar foi concedida por 9 votos a
um.
Ao falar da posição contrária ao nepotismo, o ministro fez questão de ressaltar que esse entendimento é unânime
no STF. “O Supremo fala a uma só voz que o nepotismo é algo que conflita com ares democráticos e republicanos,
considerada a Constituição Federal”, afirmou o ministro.
O ministro explicou que votou pelo indeferimento da liminar por considerar que o ato (a Resolução) do Conselho
Nacional de Justiça tem caráter administrativo. “Se o ato do Conselho Nacional de Justiça é administrativo, aquele
processo era inadequado, porque a Ação Declaratória de Constitucionalidade pressupõe um ato normativo ou uma
lei, no sentido abstrato, autônomo”, afirmou.
No entendimento do ministro, se a Resolução nº 7 do CNJ, abordada na ação, pudesse ser tomada como ato
normativo, caberia ao Congresso Nacional legislar sobre o tema. Ele ressaltou, no entanto, que, na essência, a
resolução está “em harmonia com a Constituição Federal, com os novos ares democráticos, ou seja, não ao
nepotismo”.
O ministro lembrou voto que elaborou em 1997, no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)
1521, em que manifestou seu posicionamento contrário ao nepotismo, e que será anexado ao voto de ontem, sobre
a ADC.
Leia a íntegra do voto do ministro Marco Aurélio na ADI 1521, julgada pelo Supremo em 1997.
17/02/2006 - 16:58 - Decisão do Supremo sobre nepotismo foi histórica para o CNJ, afirma Jobim
O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Nelson Jobim, afirmou hoje que o Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) obteve uma vitória histórica com a declaração de constitucionalidade, em caráter liminar, da Resolução
nº 7/05 que proibiu a prática de nepotismo no âmbito do Poder Judiciário. A afirmação de Jobim foi feita à
imprensa, durante o intervalo do Encontro sobre a Padronização de Pesquisa de Jurisprudência na Internet,
promovido pelo STF.
Segundo o ministro Jobim, houve dentro do Conselho Nacional de Justiça a discussão sobre o problema da
existência ou não do poder de regulamentar. “Eu sustentei sempre a existência de poder normativo, de
regulamentar do conselho, mas havia alguns setores que não aceitavam, inclusive os tribunais de Justiça. A decisão
de ontem estabeleceu definitivamente algo muito importante”, afirmou o presidente do Supremo e também do CNJ.
Nova resolução
O ministro Nelson Jobim anunciou para março a discussão de uma nova resolução do Conselho que será relativa à
questão do subsídio e do teto no Judiciário. “Ou seja, a aplicação do teto nacionalmente, quer para os tribunais de
Justiça que já adotaram o subsídio, quer para os que não o adotaram, porque é bom ter presente que ter ou não ter
subsídio é relevante com relação ao teto”, afirmou.
Disse ainda o ministro que há alguns pontos com relação ao nepotismo que ainda serão discutidos no CNJ.
Segundo Jobim, são questões pontuais, casos isolados, mas que poderão servir de instrução para todos os tribunais,
por meio de uma norma interpretativa do CNJ.
O presidente do Supremo também ressaltou a importância da discussão sobre o nepotismo no país. Considerou
salutar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 358/05 que tramita na Câmara para impedir o nepotismo nos
Poderes Executivo e Legislativo e situações cruzadas em alguns estados, como uma troca entre parlamentares e
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juízes. “Essas coisas todas poderiam ser tratadas amplamente numa PEC dessa natureza, porque a limitação da
nossa resolução é estritamente dentro do sistema do Judiciário”, concluiu Jobim.
“Vale dizer, a ilegítima apropriação da res (coisa) pública por núcleos familiares, alternando-se em verdadeiras
sucessões dinásticas, constitui situação de inquestionável anomalia a que esta Corte Suprema não pode permanecer
indiferente”, disse Celso de Mello, que finalizou reafirmando voto proferido na ADI 1521, ao comentar que “quem
tem o Poder e a força do estado em suas mãos não tem o direito de exercer, em seu próprio benefício, a autoridade
que lhe é deferida”.
O ministro Sepúlveda Pertence acompanhou integralmente o voto do relator, Carlos Ayres Britto. O ministro
também considerou que é da competência do Conselho Nacional de Justiça “rever ação administrativa dos órgãos
judiciários a ele submetidos”. Pertence ressaltou que não há direito fundamental em discussão quando se trata da
validade da resolução, nem violação aos princípios da impessoalidade e da isonomia, previstos no artigo 37 da
Constituição.
O presidente da Corte, ministro Nelson Jobim, anunciou no início da sessão que não estaria impedido de
manifestar seu voto. O ministro explicou que, embora seja presidente também do Conselho Nacional de Justiça, ele
não vota nas sessões do CNJ, salvo quando há necessidade de desempate. Assim, ao votar, Jobim acompanhou
integralmente o voto do relator da ação e registrou que durante duas décadas (80 e 90) tentou-se implantar no país
uma norma de proibição ao nepotismo.
Voto dissidente
O ministro Marco Aurélio votou pelo indeferimento da liminar na ADC 12. Segundo o ministro, o Conselho
Nacional de Justiça não tem poder normativo e não poderia substituir-se ao Congresso Nacional. “O CNJ, ao editar a
Resolução, o fez totalmente à margem das atribuições previstas na Constituição Federal, e não vejo possibilidade de
se deferir uma liminar que acaba potencializando a Resolução do próprio Conselho”, justificou.
16/02/2006 - 17:03 - ANPR contesta decisão que suprime auxílio-moradia em caso de promoção de
13
membros do MPU
A Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) impetrou Mandado de Segurança (MS 25838) no
Supremo, com pedido de liminar, contra decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) que considerou ilegal a
concessão de auxílio-moradia a membros do Ministério Público da União (MPU) em caso de promoção com
deslocamento. O ministro Carlos Ayres Britto é o relator da ação.
Em atendimento à decisão do TCU, o procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, editou a Portaria nº
8/06, segundo a qual o auxílio-moradia previsto em lei complementar (LC nº 75/93) se restringe aos “membros do
Ministério Público da União lotados nas localidades cujas condições de moradia são consideradas particularmente
difíceis ou onerosas”. A norma anterior (Portaria nº 495/95) previa o pagamento do auxílio também em casos de
promoção com mudança de cidade, durante os quatro primeiros anos. Com a nova portaria, editada em janeiro, 41
membros do MPU deixaram de receber o benefício.
Assim, a ANPR requer a concessão de medida liminar que suspenda os efeitos da decisão do TCU e da Portaria nº
8/06 da Procuradoria Geral da República. No mérito, pede a suspensão definitiva da decisão e da portaria
impugnadas, bem como o restabelecimento do auxílio-moradia em caso de promoção com deslocamento.
15/02/2006 - 20:09 - Arquivada ação da Anoreg contra ato do TJ/SE sobre pagamento de taxas de
cartórios
Por maioria de votos, o plenário do Supremo Tribunal Federal arquivou (não conheceu) a Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) 3132, ajuizada pela Associação dos Notários e Registradores do Brasil (Anoreg) contra
ato do presidente do Tribunal de Justiça de Sergipe.
A norma questionada pela Anoreg (Portaria nº 0001 do presidente do TJ/SE) determinava que o pagamento das
taxas relativas aos serviços de cartórios fosse feito por meio de boleto bancário, retirado do sistema informatizado
do próprio Tribunal, para ser pago no Banco do Estado de Sergipe.
Na ação, a Anoreg alegou ofensa ao princípio constitucional da proporcionalidade. Sustentou ainda que a matéria
deveria ser fruto de lei federal (art. 236, § 2º, da CF). Ao julgar o caso, o ministro relator, Sepúlveda Pertence,
entendeu que não houve conflito de constitucionalidade que justificasse o julgamento da ação pelo Supremo. Já o
ministro Marco Aurélio apontou conflito entre a Portaria do TJ/SE com o artigo 236 da Constituição e, por esta
razão, votou pelo conhecimento da ação, mas foi voto vencido.
15/02/2006 - 18:58 - Mantida lei de Santa Catarina sobre registro eletrônico de reclamações
O plenário do Supremo Tribunal Federal julgou improcedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 2638,
ajuizada pelo governador do Estado de Santa Catarina contra a Lei Estadual 12.137/02, promulgada pela Assembléia
Legislativa estadual.
A lei cria novos procedimentos administrativos ao obrigar o Estado a registrar em documento eletrônico quaisquer
pedidos de providências ou de informações solicitados à Administração Pública. O governo do Estado alegou que
houve invasão da competência privativa do chefe do Poder Executivo na criação da lei. Alegou ainda prejuízos para
o Estado para a protocolização digital de informações.
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Ao julgar a ação, o ministro relator, Eros Grau, entendeu não haver violação à Constituição Federal. Segundo o
ministro, a lei estadual não versa sobre organização administrativa do Estado e também não usurpa competência do
chefe do Poder Executivo.
Quanto à alegação de criação de gastos aos cofres públicos, o ministro entendeu que a lei não cria despesas
imediatas e que em seu artigo 4º, a própria lei condiciona a implantação do sistema à autorização do governador do
Estado. Nesse sentido, o ministro Eros Grau votou pela improcedência da ação e foi acompanhado pelos demais
ministros da Corte, mantendo assim a constitucionalidade da lei estadual atacada.
15/02/2006 - 18:22 - Lei catarinense sobre ecossistemas é declarada inconstitucional pelo Supremo
O Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade dos artigos 3º, 4º, 5º e 6º da Lei Estadual nº
11.222/99 que regula a política de preservação, recuperação e utilização sustentável dos ecossistemas do Complexo
Lagunar Sul em Santa Catarina. A votação unânime, acompanhando o voto do ministro-relator, Joaquim Barbosa,
ocorreu hoje (15/2) no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 2707.
O governador de Santa Catarina questionou a constitucionalidade dos artigos 3º, 4º, 5º e 6º da norma, que
criaram, estruturaram e atribuíram a criação de uma comissão ao Poder Executivo. O procurador do Estado alegou
que esses dispositivos ofenderiam os artigos 2º, 61 e 169 da Constituição Federal, pois somente projeto de lei de
iniciativa do governador poderia versar sobre a matéria.
O ministro Joaquim Barbosa, ao votar, entendeu que os dispositivos constitucionais questionados
estabelecem deveres ou interferem na estrutura do Executivo estadual. Para o relator, a Assembléia Legislativa de
Santa Catarina legislou de maneira a interferir de maneira significativa na estrutura do Poder Executivo, violando o
princípio constitucional dos poderes. Por fim, Barbosa declarou a inconstitucionalidade dos artigos contestados.
15/02/2006 - 17:55 - Lei que confere meia entrada para doadores de sangue é constitucional
Os doadores regulares de sangue no Estado do Espírito Santo têm direito a meia entrada em todos os locais
públicos de cultura, esporte e lazer mantidos pelas entidades e órgãos da administração direta e indireta. A Lei
estadual nº 7.735/04, que institui o benefício, foi julgada constitucional pelo plenário do Supremo Tribunal Federal
(STF).
Por maioria, os ministros concluíram pela improcedência da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3512
proposta pelo governador do Estado contra a norma editada pela Assembléia Legislativa. No julgamento ficou
vencido o ministro Marco Aurélio.
Em seu voto, o ministro-relator, Eros Grau, disse que a lei atacada é apenas uma tentativa de incentivar as
pessoas a doar sangue e considerou constitucionais todos os seus dispositivos. Ele afastou o argumento
apresentado pelo governador de que a concessão de meia entrada seria uma remuneração ao doador de sangue, o
que é proibido pela Constituição Federal.
ADI 2302
O Tribunal também julgou a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 2302 proposta pelo governador do Estado
do Rio Grande do Sul contra a Lei Estadual nº 11.456/00 que cria o Museu do Gaúcho. Por unanimidade, foi
considerada procedente a ação já que a lei trata de matéria de iniciativa privativa do Poder Executivo.
15/02/2006 - 17:49 - Supremo mantém quebra de sigilo de corretora investigada pela CPMI dos
Correios
O ministro Celso de Mello indeferiu o pedido de reconsideração feito pela empresa São Paulo Corretora de Valores
Ltda. no Mandado de Segurança (MS) 25832. O ministro entendeu que a interdição de uso, pelos integrantes da
CPMI dos Correios, dos dados sigilosos pertinentes à corretora, tornaria inócua a quebra de sigilo, legitimamente
determinada pela comissão, além de configurar em indevida restrição ao poder investigatório desse órgão
parlamentar.
A corretora pediu liminar, com o objetivo de ser determinado aos membros da CPMI dos Correios, quando da
inquirição de Jorge Ribeiro dos Santos, que não revelem os dados sigilosos a que tiveram acesso.
Em pedido alternativo, a empresa requereu a emissão de ordem para que a CPMI realize sessão reservada durante
o depoimento de Jorge Santos, com acesso vedado à imprensa, limitando-se o fluxo de pessoas na sessão à
presença dos integrantes da CPMI, do depoente e de seu defensor, de forma a assegurar o sigilo dos dados e
informações da empresa.
Sobre esse pedido, o relator, ministro Celso de Mello entendeu que não competiria ao Poder Judiciário, sob pena
de ofensa ao princípio constitucional da separação de poderes, substituir a CPMI dos Correios para restringir a
publicidade da sessão.
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“Na realidade, a postulação em causa, se admitida, representaria claro (e inaceitável) ato de censura judicial à
publicidade e divulgação das sessões dos órgãos legislativos em geral, inclusive das Comissões Parlamentares de
Inquérito”, afirmou Celso de Mello.
O ministro ressalvou em sua decisão que o direito de acesso às informações de interesse coletivo ou geral, a que
fazem jus os cidadãos e, também, os meios de comunicação social, qualifica-se como instrumento viabilizador do
exercício da fiscalização social a que estão sujeitos os atos do poder público.
15/02/2006 - 15:07 - Mantido acórdão do TCU que reconhece aos servidores federais o direito à
incorporação de quintos
O ministro Eros Grau do Supremo Tribunal Federal (STF) negou seguimento (arquivou) ao Mandado de Segurança
(MS) 25763 impetrado pela União contra acórdão do Tribunal de Contas da União (TCU). O TCU havia reconhecido a
legalidade da incorporação aos vencimentos dos servidores federais de quintos e décimos no período entre abril de
1998 e setembro de 2001 o que foi questionado pelo governo federal.
Na ação, a Advocacia Geral da União pedia, liminarmente, a suspensão dos efeitos do acórdão TCU nº 2.248/2005
a fim de que não fosse concedido o benefício.
Em sua decisão, o ministro Eros Grau sustentou que a incorporação de qualquer parcela aos vencimentos dos
servidores federais só poderia ser procedida pela Administração, a quem é facultado acolher ou não o entendimento
firmado pela Corte de Contas.” Vê-se para logo que o ato impugnado carece de efeitos concretos que permitam a
apreciação pelo Supremo na via do mandado de segurança”, disse. O ministro acrescentou que a eventual
concessão do ms não teria o efeito de anular ou inibir as incorporações determinadas pela Administração e que há
falta de interesse de agir da União.
Eros Grau disse, ainda, que o TCU proferiu o acórdão impugnado no quadro da competência a ele
constitucionalmente estabelecida. Segundo o ministro, a via mandamental “não consubstancia nova oportunidade de
recurso, com o fito de substituir decisões administrativas definitivas, porém instrumento de controle da legalidade
dos atos administrativos”.
14/02/2006 - 19:24 - Ex-diretor de Furnas obtém salvo-conduto para depor na CPMI dos Correios
O ex-diretor de Furnas Centrais Elétricas, Dimas Toledo, obteve salvo-conduto no Supremo Tribunal Federal que
lhe garante o direito de se manter em silêncio em depoimento marcado para amanhã (15/2) na CPMI dos Correios.
A liminar foi concedida pelo ministro Joaquim Barbosa no Habeas Corpus (HC) 88020, impetrado preventivamente
pela defesa do ex-diretor de Furnas.
Dimas Toledo é investigado em inquérito policial que tramita na Superintendência Regional de Polícia Federal no
Estado do Rio de Janeiro e deverá comparecer à comissão para prestar esclarecimentos sobre a existência ou não
da ‘Lista de Furnas’, que traria nomes de políticos que supostamente teriam recebido da empresa recursos para
campanhas eleitorais.
Em seu despacho, o ministro Joaquim Barbosa verificou que o pedido de liminar está acompanhado de toda a
documentação relativa ao inquérito criminal na PF do Rio de Janeiro, pelo qual se apura suposto esquema de
arrecadação ilícita de recursos em Furnas.
Como Dimas Toledo comparecerá à CPMI na condição de pessoa investigada pela Polícia Federal, o ministro
determinou que lhe seja assegurado o direito constitucional de ficar calado para não produzir provas contra si
próprio. “Nessa medida, entendo que o paciente poderá invocar a garantia contra a auto-incriminação para não
prejudicar sua defesa em eventual ação penal resultante do inquérito mencionado”, afirmou o ministro Barbosa.
O ministro ressaltou que o entendimento do Tribunal é tomado “na exata medida para não permitir que, sob a
proteção de ordem concedida preventivamente, testemunhas convocadas para prestar depoimentos em CPI se
eximam de seu dever legal”. Desta forma o ministro concedeu a liminar, com a ressalva de que a decisão não
isenta o ex-diretor de Furnas de comparecer à comissão para prestar depoimento.
Leia a íntegra da decisão do ministro Joaquim Barbosa no HC 88020.
14/02/2006 - 16:26 - Afastada proibição da progressão de regime a condenados por crime hediondo
e tráfico de drogas
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal decidiu, por unanimidade, afastar a proibição da progressão de
regime ao julgar questão de ordem em dois habeas corpus (HCs 87623 e 87452). Os ministros reconsideraram
decisões liminares anteriores que indeferiam o pedido, e concederam o benefício a um condenado pelo crime de
extorsão mediante seqüestro (artigo 159, parágrafo 1º, do Código Penal), e a um réu que praticou tráfico ilícito de
entorpecentes (artigo 12 c/c art. 18, III da Lei 6368/76).
A defesa dos réus alegava que a proibição de progressão de regime prevista na Lei dos Crimes Hediondos (artigo
2º, parágrafo 1º, da Lei 8.072/90) e equiparados contraria o direito à individualização da pena.
O relator dos processos, ministro Marco Aurélio, ressaltou que a constitucionalidade do dispositivo da norma que
proíbe a progressão encontra-se em discussão no Plenário do Supremo no HC 82959. Na avaliação dos ministros da
Primeira Turma, enquanto o Supremo não discute a matéria em definitivo deve ser afastada a proibição da
progressão de regime.
A questão está em saber se é inconstitucional o parágrafo 1º do artigo 2º da Lei nº 8.072/90 – que prevê regime
integralmente fechado de cumprimento da pena para condenados pela prática de crime hediondo, tortura, tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins e terrorismo – em confronto com a Lei n 9.455/97 (Lei dos Crimes de
Tortura). O parágrafo 7º, do artigo 1º dessa lei menciona que o réu iniciará o cumprimento da pena em regime
fechado.
10/02/2006 - 20:01 - Mantida quebra de sigilo de investigado pela CPMI dos Correios
Decisão do ministro Carlos Ayres Britto, do Supremo, manteve a quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico do
empresário Lúcio Bolonha Funaro, investigado pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios
por suposto envolvimento nos crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, em operações ligadas ao repasse
de recursos públicos a partidos políticos e parlamentares. A decisão refere-se ao Mandado de Segurança (MS)
25718, que teve pedido de liminar negado pelo ministro.
No MS, a defesa de Lúcio Funaro pedia a suspensão da quebra de sigilos requerida pela CPMI, alegando desvio de
finalidade por parte da comissão. De acordo com o ministro, as informações prestadas pela comissão no curso do
MS reforçam a tese de que “os episódios supostamente protagonizados pelo autor guardam estreito vínculo com os
fatos principais que servem de objeto à investigação da CPMI/Correios”.
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Ao negar a liminar, o relator entendeu não haver no caso, em juízo sumário, “nem a ilegalidade nem a abusividade
do ato adversado” (requerimento 1477/05 da CPMI). Carlos Ayres Britto afirmou que o requerimento contém
suficiente fundamentação e está vinculado aos fatos investigados. “O histórico dos precedentes apontam para uma
ambiência negocial envolta em suspeições de dissimulação de origens de capitais e da prática dos crimes de
lavagem de dinheiro e de evasão de divisas, de permeio com suspeita de participação no usufruto de recursos
oriundos do esquema de financiamento irregular de partidos políticos operado pelo Sr. Marcos Valério Fernandes de
Souza”, concluiu o ministro.
10/02/2006 - 15:27 - Delegado condenado por prática de tortura questiona poder de investigação
do MP
O delegado de polícia Juarez Francisco Mendonça, condenado a 5 anos e sete meses pelo crime de tortura, em
Iraí (RS), impetrou Habeas Corpus (HC 87979) no Supremo. Ele pede a nulidade do processo, a partir do
recebimento da denúncia, ou a suspensão da ação penal até que o Supremo decida se o Ministério Público (MP) tem
ou não poder de investigação. O réu também requer liminar para que possa responder ao processo em liberdade. O
mesmo pedido foi negado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Consta da denúncia que o delegado e mais dois agentes da Polícia Civil submeteram a tortura três presos
suspeitos de roubo e receptação de veículos. O crime ocorreu na madrugada de 4 de junho de 1998, na delegacia
de Iraí (RS). No habeas corpus, o delegado, que atua em causa própria, questiona a legalidade da investigação feita
pelo Ministério Público. “A produção de qualquer prova fora da instrução processual criminal regular importa na
inobservância do devido processo legal, da garantia ao exercício da ampla defesa e do contraditório”, ressalta. O
ministro Celso de Mello é o relator do habeas.
Debate
O poder de investigação do Ministério Público está em discussão no Supremo no Inquérito (INQ) 1968, contra o
deputado federal Remi Trinta (PL/MA). O julgamento do processo foi suspenso com o pedido de vista do ministro
Cezar Peluso. O relator, ministro Marco Aurélio, votou pela rejeição da denúncia. Disse que o inquérito foi
formalizado no âmbito do MP, que chegou a realizar diligências investigatórias no caso. Já os ministros Joaquim
Barbosa, Eros Grau e Carlos Ayres Britto entenderam que o Ministério Público não pode presidir inquéritos policiais
mas tem poder constitucional de realizar investigações criminais.
09/02/2006 - 19:09 - Plenário mantém decisão do TCU que julgou ilegal aposentadoria de juiz
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classista
Por unanimidade, o plenário do Supremo negou Mandado de Segurança (MS 25064) a juiz classista do TRT da 2ª
Região que pedia o restabelecimento dos proventos de sua aposentadoria. O magistrado temporário impetrou o MS
contra acórdão do Tribunal de Contas da União (TCU) que julgou ilegal e negou registro ao ato concessivo de sua
aposentadoria.
O relator da ação, ministro Carlos Ayres Britto, afirmou que o TCU não admitiu a contagem de tempo fictício para
a concessão da aposentadoria ao juiz classista em relação a período trabalhado em atividade insalubre. Sem essa
contagem, o juiz contaria apenas com 25 anos e oito dias de serviços prestados o que impediria a aposentadoria
voluntária com proventos proporcionais.
No relatório, Ayres Britto afirmou que a aposentadoria do juiz classista se deu em 1995 e, sendo assim, a Lei
6.903/81 se aplicaria integralmente ao caso. Essa norma, segundo o relator, proíbe a contagem de tempo de serviço
em dobro ou em outras condições especiais. Assim, nesse sistema legal (modificado posteriormente pela Lei
9.528/97 – que determinou a filiação obrigatória dos juízes classistas ao Regime Geral de Previdência Social) os
juízes temporários tinham direito à aposentadoria estatutária somente com o preenchimento dos requisitos para
tanto.
Ayres Britto negou o MS e foi acompanhado pelos ministros Eros Grau, Joaquim Barbosa, Cezar Peluso, Gilmar
Mendes, Marco Aurélio, Celso de Mello e Sepúlveda Pertence.
08/02/2006 - 20:05 - Ex-diretor da Prece obtém habeas corpus para depor na CPMI dos Correios
O engenheiro Renato Guerra Marques, ex-diretor da Prece Previdência Complementar, obteve Habeas Corpus
preventivo (HC 87975) no Supremo que lhe garante o direito à não auto-incriminação em depoimento à Comissão
Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios. Ele foi convocado para depor nesta quinta-feira, às 10 horas,
na Câmara dos Deputados. A CPMI investiga supostas irregularidades em transações financeiras realizadas pelo
fundo de pensão dos funcionários da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro.
Ao deferir a liminar, o ministro Gilmar Mendes afirmou que a orientação do Supremo é no sentido de assegurar o
direito de o investigado não se incriminar perante as CPIs, o que tem sido, segundo o ministro, objeto de críticas da
sociedade e dos meios de comunicação pois se confere ao depoente o direito de não fornecer informações
imprescindíveis às investigações.
No entanto, Gilmar Mendes, ressalta a importância dada pela Constituição Federal aos direitos fundamentais. “A
idéia de que os direitos individuais devem ter eficácia imediata ressalta, portanto, a vinculação direta dos órgãos
estatais a esses direitos e o seu dever de guardar-lhes estrita observância”, comenta o ministro.
Mendes acrescenta que o direito ao silêncio, que assegura a não produção de prova contra si mesmo, constitui
pedra angular do sistema de proteção dos direitos individuais e materializa uma das expressões do princípio da
dignidade da pessoa humana. Assim, afirma que esse princípio proíbe a utilização ou transformação do homem em
objeto dos processos e ações estatais. “O Estado está vinculado ao dever de respeito e proteção do indivíduo contra
exposição a ofensas ou humilhações”, assinala o ministro.
Por fim, o ministro assegura o direito ao silêncio ao ex-diretor da Prece mas ressalva que ele terá a obrigação de
prestar informações com relação aos fatos que não impliquem auto-incriminação.
08/02/2006 - 19:10 - Bem de família de fiador pode ser penhorado, entende o plenário
O único imóvel (bem de família) de uma pessoa que assume a condição de fiador em contrato de aluguel pode ser
penhorado, em caso de inadimplência do locatário. A decisão foi tomada por maioria pelo plenário do Supremo
Tribunal Federal que rejeitou um Recurso Extraordinário (RE 407688), no qual a questão era discutida.
No recurso, o fiador M.J.P. contestou decisão do Segundo Tribunal de Alçada Civil de São Paulo, que havia
determinado a penhora de seu único imóvel para o pagamento de dívidas decorrentes de contrato de locação. O
tribunal paulista entendeu que a Lei 8.009/90 protege o bem de família, mas faz uma ressalva, no entanto, para os
casos em que o imóvel é dado como garantia pelo fiador, em contrato de aluguel (artigo 3º, inciso VII).
A questão chegou ao Supremo porque o fiador, inconformado com a decisão do tribunal paulista, recorreu
alegando que o dispositivo da Lei 8.009/90 ofende o artigo 6º da Constituição Federal, alterado pela Emenda
Constitucional 26/2000, que incluiu a moradia no rol dos direitos sociais amparados pelo texto constitucional.
O julgamento
Durante o julgamento pelo plenário do STF, os ministros debateram duas questões: se deve prevalecer a
liberdade individual e constitucional de alguém ser ou não fiador, e arcar com essa respectiva responsabilidade, ou
se o direito social à moradia, previsto na Constituição, deve ter prevalência.
Isso implicaria dizer se o artigo 3º, inciso VII da Lei 8.009/90 estaria ou não em confronto com o texto
constitucional, ao permitir a penhora do bem de família do fiador, para o pagamento de dívidas decorrentes de
aluguel.
O relator da matéria, ministro Cezar Peluso, entendeu que a Lei 8.009/90 é clara ao tratar como exceção à
impenhorabilidade o bem de família de fiador. Segundo o ministro Peluso, o cidadão tem a liberdade de escolher se
deve ou não avalizar um contrato de aluguel e, nessa situação, o de arcar com os riscos que a condição de fiador
implica.
O ministro Peluso não vê incompatibilidade entre o dispositivo da lei e a Emenda Constitucional 26/2000 que trata
do direito social à moradia, ao alterar o artigo 6º da Constituição Federal. O voto do ministro Peluso foi
acompanhado pelos ministros Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes, Ellen Gracie, Marco Aurélio, Sepúlveda Pertence e
Nelson Jobim.
A divergência
O ministro Eros Grau divergiu do relator, no sentido de afastar a possibilidade de penhora do bem de família do
fiador. O ministro citou como precedentes dois Recursos Extraordinários (RE 352940 e 449657) relatados pelo
ministro Carlos Velloso (aposentado) e decididos no sentido de impedir a penhora do único imóvel do fiador. Nesses
dois recursos entendeu que o dispositivo da lei ao excluir o fiador da proteção contra a penhora de seu imóvel feriu
o princípio constitucional da isonomia.
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Esse entendimento também foi citado pelos ministros Carlos Ayres Britto e Celso de Mello, que acompanharam a
divergência aberta pelo ministro Eros Grau. Os três votos divergentes no julgamento foram no sentido de que a
Constituição ampara a família e a sua moradia e que essa proteção consta do artigo 6º da Carta Magna, de forma
que o direito à moradia seria um direito fundamental de 2ª geração, que tornaria indisponível o bem de família para
a penhora.
Mas prevaleceu o entendimento do relator. Por 7 votos a 3, o plenário acompanhou o voto do ministro Cezar
Peluso e negou provimento ao Recurso Extraordinário, mantendo, desta forma, a decisão proferida pelo Tribunal de
Alçada de São Paulo, que determinou a penhora do bem de família do fiador.
08/02/2006 - 18:57 - Supremo suspende emenda estadual (PR) sobre indenização por ato de
exceção
O plenário do Supremo Tribunal Federal declarou hoje (8/2) a inconstitucionalidade da Emenda 14/01 da
Constituição do Paraná, que prevê indenização por prejuízos decorrentes de ato de exceção ocorrido no período
revolucionário. A decisão foi tomada por unanimidade no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade 2639,
de relatoria do ministro Nelson Jobim.
A emenda, promulgada pela Assembléia Legislativa do Paraná, e questionada pelo então governador Jaime Lerner,
determinava o pagamento administrativo da indenização aos atingidos por atos de exceção durante o período da
ditadura militar. O pagamento poderia ser feito, também, mediante compensação tributária.
O ministro Nelson Jobim lembrou, ao votar, que o constituinte federal, ao tentar reparar o dano causado pelos
atos de exceção, elaborou o disposto nos artigos 8º e 9º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
(ADCT). Esses artigos tratam da anistia em favor dos que foram vítimas de atos de exceção institucionais ou
complementares e que de alguma forma sofreram prejuízo em suas atividades profissionais, em seus direitos ou por
motivos políticos.
De acordo com Jobim, a norma estadual “estabelece uma nova forma de anistia, mais ampla e abrangente do que
aquela prevista na Constituição Federal”. A emenda, disse o ministro, cria obrigação ao Estado do Paraná a
indenizar por ato que teria sido praticado pela União.
Jobim esclareceu ainda que não há nenhuma previsão indenizatória na Constituição Federal àqueles que sofreram
perda ou cessação de renda em razão do ato de exceção. “A hipótese da emenda 14 do Estado do Paraná amplia o
disposto na Constituição Federal”.
08/02/2006 - 18:43 - Íntegra de voto do ministro Marco Aurélio no julgamento sobre Cofins
O ministro Marco Aurélio divulgou a íntegra dos votos que elaborou no julgamento dos Recursos Extraordinários
(REs 357950, 390840, 358273 e 346084) que tratavam da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social
(Cofins). Os REs foram julgados pelo plenário do Supremo em novembro de 2005, quando os ministros declararam,
por maioria, a inconstitucionalidade de dispositivo da Lei nº 9.718/98, que instituiu nova base de cálculo para a
incidência de PIS (Programa de Integração Social) e Cofins.
Veja a íntegra dos votos do ministro:
RE 346084 (6 páginas)
RE 357950 (11 páginas)
RE 358273 (11 páginas)
RE 390840 (13 páginas)
08/02/2006 - 16:48 - Suspenso dispositivo de lei de Minas Gerais sobre concurso para cartórios
O plenário do Supremo Tribunal Federal suspendeu liminarmente dispositivos da Lei 12.919/98, de Minas Gerais,
que estabelecem títulos a serem considerados em concurso para cartórios no Estado. A decisão foi tomada na Ação
Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3580, proposta pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza.
A ação contestou o inciso I do artigo 17 da lei , e a expressão “e apresentação de temas em congressos
relacionados com serviços notariais e registrais”, prevista no inciso II do mesmo artigo. Os incisos impugnados
previam que candidatos que desempenhassem atividades em cartórios extrajudiciais ou
apresentassem trabalhos em congressos relacionados aos serviços notariais de registro teriam uma melhor
classificação no concurso. Para o procurador-geral, a lei mineira desiguala os candidatos e concede privilégios
injustificáveis com as normas constitucionais.
Na análise liminar, o relator da ADI, ministro Gilmar Mendes, entendeu haver violação ao princípio constitucional
da isonomia, e deferiu o pedido, sendo acompanhado pelos demais ministros.
07/02/2006 - 20:30 - Gravação clandestina com fins de defesa não constitui prova ilícita, diz
Supremo
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Por decisão unânime da Primeira Turma do Supremo (HC 87341), o servidor municipal de Londrina (PR) G.C.
responderá pelo crime de falsidade ideológica. Ele exercia o cargo de secretário da Junta de Serviço Militar da
cidade e foi acusado de ter exigido a quantia de R$ 200 em troca de emissão de certificado de dispensa de
incorporação. O servidor teria alegado, falsamente, excesso de contingente como justificativa para a dispensa. O
flagrante foi exibido por uma emissora de televisão para todo o país com a utilização de uma microcâmera por um
alistando.
A defesa impetrou habeas corpus no Superior Tribunal Militar que negou pedido de trancamento de ação penal.
No STF, o réu alegou a ilicitude da prova obtida com a gravação clandestina. Sustentou, ainda, que o crime
configuraria, em tese, corrupção passiva, o que sustentaria a falta de justa causa para a ação.
No entendimento do relator, ministro Eros Grau, a gravação com o objetivo de defesa não constitui prova ilícita,
segundo jurisprudência do Supremo. Além disso, o ministro afirma que novas provas foram obtidas durante a
investigação – interrogatório e oitiva de testemunhas, que fundamentam a ação penal. Segundo Eros Grau, a fita
foi incluída nos autos somente após a produção das outras provas.
07/02/2006 - 19:32 - Mantida ação penal contra segurança denunciado pela morte de jovem em
carnaval fora de época
A Primeira Turma do Supremo negou o pedido de trancamento de ação penal que tramita na Justiça de
Pernambuco contra I.M.O. e outros denunciados pela morte de um jovem durante a Garanheta – o carnaval fora de
época de Garanhuns (PE).
A Turma negou o pedido de liminar em Habeas Corpus (HC 87293) ajuizado pela defesa de I.M.O. Ele trabalhava
como segurança de um bloco carnavalesco durante a festa. Segundo os autos, ele teria participado das agressões
contra Ricardo Alexandre Dantas, de 18 anos, e teria disparado um tiro que culminou na morte do rapaz.
A defesa alegou inépcia da denúncia, por falta de justa causa. Argumentou que na peça acusatória há apenas os
nomes e qualificações dos denunciados, sem que haja na descrição do crime os respectivos nomes das pessoas
acusadas para que pudessem exercer a ampla defesa.
O relator da ação, ministro Eros Grau, acolheu o parecer do Ministério Público, segundo o qual a denúncia
preenche as condições do artigo 41 do Código de Processo Penal – descreve o fato e suas circunstâncias, qualifica
os acusados, classifica o crime e apresenta o rol de testemunhas. Os demais ministros acompanharam o relator para
indeferir o HC. A decisão foi unânime.
07/02/2006 - 19:25 - Supremo determina o retorno de juízes ao TRF do Rio e arquiva ação penal
O juiz federal José Ricardo de Siqueira Regueira e o desembargador federal Antônio Ivan Athié, do Tribunal
Regional Federal da 2ª Região (Rio de Janeiro e Espírito Santo), obtiveram Habeas Corpus (HCs 84468 e 84488) no
Supremo que lhes garante o retorno aos cargos. Os dois magistrados foram afastados de suas funções porque
respondiam a processo criminal no Superior Tribunal de Justiça (STJ) por crime de falsidade ideológica (artigo 299
do Código Penal). Eles foram denunciados por suposta fraude na distribuição de processos visando ao
favorecimento de empresas.
A decisão, unânime, da Primeira Turma do Supremo, foi pelo trancamento da ação penal e a conseqüente
cassação da ordem que teria determinado o afastamento dos juízes. Os ministros acompanharam o voto do relator,
Cezar Peluso, que considerou inepta a denúncia contra os magistrados.
Para Peluso, os fatos imputados aos juízes não encontram adequação ao tipo da falsidade ideológica. “Não há na
denúncia nenhuma base para se cogitar do crime pois esta não descreve condutas que praticadas pelo paciente
[juiz] poderiam consubstanciar participação em falsidade ideológica cometida pelos advogados que elaboraram os
recursos”, ressalta o ministro.
O relator acrescenta que quanto às alusões à comunhão de desígnios de propósitos e à associação dos
denunciados em esquema de favorecimento “são fórmulas vazias que não precisam como se teria dado tal
comunhão, qual a suposta contribuição de cada um, nem quais os elementos que corroborariam na unidade de
desígnios”.
Segundo Peluso, a denúncia também não apresenta indícios de que os magistrados teriam participado de um
suposto esquema fraudulento tendente a reformar suas próprias decisões.
A acusação contra os juízes do TRF é de que eles teriam participado do esquema de advogados do Espírito Santo
que se valiam de expedientes como a propositura de inúmeros recursos idênticos até que um deles caísse em juiz
que melhor agradasse a parte. De acordo com o ministro Sepúlveda Pertence, “essas chincanas já eram de estar
superadas”. Ressaltou, no entanto, que não há como deixar de considerar atípicas as acusações.
07/02/2006 - 16:52 - Governador do Paraná contesta norma que reduziu carga tributária no Rio
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O governador do Estado do Paraná, Roberto Requião, ajuizou Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 3664),
com pedido de liminar, contra norma do Estado do Rio de Janeiro que teria concedido benefício fiscal aos
contribuintes que exerçam, com exclusividade, a atividade industrial de refino de sal para alimentação. O relator da
ação é o ministro Cezar Peluso.
O objeto da ADI são dispositivos (artigo 36, parágrafo único e artigo 40) do Regulamento do Imposto sobre
Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre a Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e
Intermunicipal e de Comunicação (RICMS), modificado pelo Decreto nº 28.104/01. Com a alteração, o Estado do Rio
teria concedido benefício fiscal - crédito presumido - para os contribuintes que refinem sal para alimentação,
determinando que o valor do ICMS devido seja calculado por meio da aplicação direta do percentual de 2% sobre a
receita bruta mensal.
Requião alega que uma das conseqüências disso é a redução da carga tributária da operação de saída do sal
refinado, inclusive em operações interestaduais destinadas ao Paraná. “Ficam os Estados destinatários das
mercadorias sujeitos a arcar com o crédito do imposto não recolhido no estado de origem”, argumenta. Afirma,
ainda, que o benefício fiscal só poderia ter ser concedido por meio de convênio entre as unidades da Federação e
que, no caso, houve desrespeito ao pacto federativo, entre outros princípios constitucionais, e estímulo à guerra
fiscal entre os estados.
06/02/2006 - 19:03 - Empresário obtém salvo-conduto para depor na CPI dos Bingos
O empresário do setor de locação de veículos Roberto Carlos da Silva Kurzweil obteve salvo-conduto no Supremo
Tribunal Federal para prestar depoimento na condição de investigado na CPI dos Bingos e se abster de responder a
qualquer questão que implique em auto-incriminação. O depoimento está marcado para esta terça-feira (7/2) na
CPI dos Bingos no Senado Federal.
A liminar foi concedida no Habeas Corpus (HC) 87920 pela ministra Ellen Gracie. A decisão garante a Kurzweil o
direito de não assinar o termo de compromisso com a verdade, bem como o de não ser preso. O empresário
poderá silenciar diante de perguntas que possam incriminá-lo.
Em sua decisão, a ministra Ellen observou que o empresário deve ser ouvido na condição de investigado.
Ressaltou que contra ele “já foram aprovados pela mesma CPI dois requerimentos ‘de quebra de seus sigilos
bancário, fiscal e telefônico’, ambos suspensos por esta Corte”, afirmou.
Salientou ainda que o entendimento do Supremo é de que as comissões parlamentares de inquérito “detêm o
poder instrutório das autoridades judiciais – e não maior que o destas”. Ao deferir a liminar e determinar o salvo-
conduto ao empresário, a ministra Ellen considerou a garantia constitucional da não-auto-incriminação.
06/02/2006 - 17:45 - Celso de Mello arquiva ADI sobre união estável entre homossexuais, mas
ressalta relevância do tema
A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 3300) que discutia no Supremo o reconhecimento, como entidade
familiar, das uniões estáveis entre homossexuais foi arquivada pelo ministro Celso de Mello. Segundo o ministro, a
ação proposta por duas entidades paulistas – a Associação da Parada do Orgulho dos Gays, Lésbicas, Bissexuais e
Transgêneros de São Paulo e a Associação de Incentivo à Educação e Saúde de São Paulo – contestava norma legal
que já não estava mais em vigor, sendo extinta, portanto, por razões técnicas.
Na decisão, no entanto, o relator afirmou tratar-se de relevante questão constitucional, e entendeu caber
ao Supremo discutir e julgar a legitimidade constitucional do tema, em novo processo, como a argüição de
descumprimento de preceito fundamental (ADPF).
As duas associações pediam a declaração de inconstitucionalidade do artigo 1º da Lei nº 9.278/96 que, ao regular
dispositivo da Constituição Federal (parágrafo 3º do artigo 226), reconheceu como entidade familiar, unicamente, “a
união estável entre o homem e a mulher”. Alegaram que tal artigo era discriminatório e excluía, da proteção que a
Constituição dispensa às famílias, as uniões afetivas entre pessoas do mesmo sexo.
Ao analisar o pedido, Celso de Mello lembrou que o novo Código Civil, de 2002, revogou a lei impugnada. O artigo
1.723 do código reproduziu o artigo 1º da Lei nº 9.278/96, reconhecendo que a família é formada pela união
estável entre homem e mulher. Como o dispositivo impugnado já não estava em vigor quando a ação foi ajuizada,
esta tornou-se inviável e, por isso, teve de ser arquivada, conforme a jurisprudência do Supremo.
Superada a questão técnica que determinou o arquivamento da ADI, o ministro passou a discorrer sobre a
“extrema importância jurídico-social da matéria”. Registrou que a doutrina, com base em princípios fundamentais
como os da dignidade da pessoa humana, da liberdade, da autodeterminação, da igualdade, do pluralismo, da
intimidade e da não-discriminação, “tem revelado admirável percepção do alto significado de que se revestem tanto
o reconhecimento do direito personalíssimo à orientação sexual, de um lado, quanto a proclamação da legitimidade
ético-jurídica da união homoafetiva como entidade familiar, de outro, em ordem a permitir que se extraiam, em
favor de parceiros homossexuais, relevantes conseqüências no plano do Direito e na esfera das relações sociais.”
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“Essa visão do tema, que tem a virtude de superar, neste início de terceiro milênio, incompreensíveis resistências
sociais e institucionais fundadas em fórmulas preconceituosas inadmissíveis, vem sendo externada, como
anteriormente enfatizado, por eminentes autores, cuja análise de tão significativas questões tem colocado em
evidência, com absoluta correção, a necessidade de se atribuir verdadeiro estatuto de cidadania às uniões estáveis
homoafetivas”, afirmou Celso de Mello. Assim, o ministro declarou extinta a ADI, pela “ocorrência de insuperável
razão de ordem formal”, deixando claro que a questão pode ser discutida por “meio processual adequado”.
Informativo STF
Brasília, 20 de fevereiro a 3 de marçode 2006 - Nº 417.
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Este Informativo, elaborado a partir de notas tomadas nas sessões de julgamento das Turmas e do Plenário, contém resumos não-oficiais de
decisões proferidas pelo Tribunal. A fidelidade de tais resumos ao conteúdo efetivo das decisões, embora seja uma das metas perseguidas neste
trabalho, somente poderá ser aferida após a sua publicação no Diário da Justiça.
SUMÁRIO
Plenário
ADI e Princípio da Não-Cumulatividade - 2
Aplicação do CDC aos Bancos - 2
Aplicação do CDC aos Bancos - 3
Composição de Membros de Tribunal de Justiça: Fixação de Teto e Iniciativa
Sursis Processual e Concurso de Crimes - 2
Lei 8.072/90: Art. 2º, § 1º - 4
CPI: Ato Jurisdicional e Princípio da Separação dos Poderes
Protocolo Descentralizado e Instância Extraordinária
Remuneração de Servidores e Princípio da Reserva de Lei
1ª Turma
Auditoria Militar e Cumulação de Competências
Promoção: Não-Extensão a Inativos
Afastamento de Cargo e Devolução de Remuneração
2ª Turma
Alegações Finais: Inversão e Direito de Defesa
Novação de Título Prisional: Prejudicialidade e Vários Fundamentos
Aplicação de Multa e Juízo de Admissibilidade
Clipping do DJ
Transcrições
Imunidade Parlamentar e Enunciado da Súmula 3 do STF (RE 456679/DF)
ADPF e Princípio da Subsidiariedade (ADPF 76/TO)
PLENÁRIO
ADI e Princípio da Não-Cumulatividade - 2
Em conclusão de julgamento, o Tribunal julgou improcedente pedido formulado em ação direta de
inconstitucionalidade proposta pelo Governador do Estado de Santa Catarina contra a Lei estadual 11.362/2000, de
iniciativa parlamentar, que determina que a concessão de redução de base de cálculo ou de isenção, facultada pelo
Convênio ICMS 36/92, às operações internas com os insumos agropecuários nele especificados, implica a
manutenção integral do crédito fiscal relativo à entrada dos respectivos produtos — v. Informativo 382. Entendeu-se
que a lei impugnada excepcionou, com autorização dos Convênios ICMS 36/92 e 89/92, e em consonância com o §
2º do art. 155 da CF, a regra geral de estorno do crédito (CF, art. 155, § 2º: “II – a isenção ou não-incidência, salvo
determinação em contrário da legislação: ... b) acarretará a anulação do crédito relativo às operações anteriores;”).
ADI 2320/SC, rel. Min. Eros Grau, 15.2.2006. (ADI-2320)
SEGUNDA TURMA
Alegações Finais: Inversão e Direito de Defesa
A Turma deferiu habeas corpus impetrado contra acórdão do STJ que, rejeitando o alegado constrangimento
ilegal, denegara o writ ao fundamento de que o equívoco na inversão de apresentação das alegações finais,
posteriormente corrigido pelo magistrado, não acarreta nulidade do julgado, principalmente quando inexiste prejuízo
para a defesa. No caso concreto, o escrivão de cartório constatara que a juntada das alegações finais aos autos se
dera de forma inversa, em virtude de o juiz ter aberto vista primeiramente à defesa e, após, ao assistente de
acusação. Em face disso, determinara-se novo prazo para as alegações finais da defesa, que, entretanto, não foram
apresentadas. Por conseguinte, intimara-se o defensor constituído para que ratificasse as alegações já expostas e
oferecesse alegações finais também para o co-réu, sob pena de ser-lhe nomeado defensor dativo. Diante da inércia
do causídico, a autoridade judiciária nomeara defensor dativo, omitindo-se, todavia, quanto à ratificação ou
aditamento daquelas alegações já apresentadas. O defensor dativo, por sua vez, apresentara alegações finais
somente para o co-réu, não se manifestando sobre as já constantes dos autos. Preliminarmente, acolheu-se questão
30
de ordem suscitada pelo Min. Gilmar Mendes, relator, no sentido de se invalidar o julgamento realizado em
14.2.2006, porquanto suprimida a possibilidade de realização de sustentação oral por parte da impetrante, devendo,
em conseqüência, renovar-se esse mesmo julgamento. Prosseguindo, salientou-se que o direito de defesa constitui
pedra angular do sistema de proteção dos direitos individuais e materializa uma das expressões do princípio da
dignidade da pessoa humana e, havendo justo receio de serem tais direitos infringidos, eles devem assumir máxima
efetividade na ordem constitucional. Destarte, considerando a constatação da inversão na ordem de apresentação
das alegações finais, bem como a inércia dos defensores constituídos, entendeu-se, diante das peculiaridades do
caso, ser inadmissível submeter o direito de defesa da paciente aos efeitos da ausência de apresentação de efetiva
defesa técnica.
HC 87111/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, 21.2.2006. (HC-87111)
C L I P P I N G D O D J - 24 de fevereiro de 2006
ADI N. 1.007-PE
RELATOR: MIN. EROS GRAU
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI N. 10.989/93 DO ESTADO DE
PERNAMBUCO. EDUCAÇÃO: SERVIÇO PÚBLICO NÃO PRIVATIVO. MENSALIDADES ESCOLARES.
FIXAÇÃO DA DATA DE VENCIMENTO. MATÉRIA DE DIREITO CONTRATUAL. VÍCIO DE INICIATIVA.
1. Os serviços de educação, seja os prestados pelo Estado, seja os prestados por particulares, configuram serviço
público não privativo, podendo ser desenvolvidos pelo setor privado independentemente de concessão, permissão
ou autorização.
2. Nos termos do artigo 22, inciso I, da Constituição do Brasil, compete à União legislar sobre direito civil.
3. Pedido de declaração de inconstitucionalidade julgado procedente.
* noticiado no Informativo 409
ADI N. 2.751-RJ
RELATOR: MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: CONSTITUCIONAL. VEÍCULOS DE TRANSPORTE COLETIVO DE PASSAGEIROS. LEI 3.756, DE 2002, DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO.
I. - Lei 3.756/2002, do Estado do Rio de Janeiro, que autoriza o Poder Executivo a apreender e desemplacar
veículos de transporte coletivo de passageiros encontrados em situação irregular: constitucionalidade, porque a
norma legal insere-se no poder de polícia do Estado.
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II. - Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente.
* noticiado no Informativo 367
ADI N. 2816-SC
RELATOR: MIN. EROS GRAU
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI N. 11.373/00 DO ESTADO DE SANTA
CATARINA. ENVIO SIMULTÂNEO, AOS INFRATORES, DE MULTA E FOTO DO MOMENTO DA INFRAÇÃO.
COMPETÊNCIA LEGISLATIVA. INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO.
1. Os Estados-membros detêm competência para a edição de leis sobre procedimentos administrativos.
2. É inconstitucional a interpretação que obriga a instalação do sistema fotossensor em todo o território estadual.
3. Pedido de declaração de inconstitucionalidade julgado parcialmente procedente.
* noticiado no Informativo 379
ADI N. 3.259-PA
RELATOR: MIN. EROS GRAU
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI N. 6.570/03 DO ESTADO DO PARÁ.
SERVIÇOS DE LOTERIAS. REGRAS DE EXPLORAÇÃO. SISTEMAS DE CONSÓRCIOS E SORTEIOS E
DIREITO PENAL. COMPETÊNCIA EXCLUSIVA DA UNIÃO PARA LEGISLAR SOBRE A MATÉRIA.
INCONSTITUCIONALIDADE.
1. Ao mencionar “sorteios” o texto da Constituição do Brasil está aludir ao conceito de loteria. Precedente.
2. Lei estadual que disponha sobre espécies de sorteios usurpa competência exclusiva da União.
3. Flagrante incompatibilidade entre a lei paraense e o preceito veiculado pelo artigo 22, inciso X, da CB/88.
4. A exploração de loterias constitui ilícito penal. A isenção à regra que define a ilicitude penal da exploração da
atividade vinculada às loterias também consubstancia matéria de Direito Penal. Compete privativamente à União
legislar sobre Direito Penal — artigo 22, inciso I, CB/88.
5. Pedido de declaração de inconstitucionalidade procedente.
* noticiado no Informativo 413
HC N. 85.144-SC
RELATOR: MIN. EROS GRAU
EMENTA: HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. QUESITOS FORMULADOS EM SÉRIES DISTINTAS. CRIMES
DIVERSOS. RESPOSTAS CONTRADITÓRIAS. NULIDADE. INOCORRÊNCIA. EXECUÇÃO DA PENA CONDICIONADA AO
TRÂNSITO EM JULGADO. RECURSO DE APELAÇÃO EXCLUSIVO DA DEFESA. REFORMATIO IN PEJUS.
1. Crime de homicídio duplamente qualificado. Quesitos de séries distintas, cujas respostas negaram, de um lado, a
tese de legítima defesa putativa, sustentada com esteio no depoimento da única testemunha presencial e, de outro,
o crime de falso testemunho atribuído a ela em razão de seus depoimentos discrepantes.
2. O único quesito da segunda série, relativo ao crime de falso testemunho, não tem relação com os quesitos da
primeira série, especificamente o que afastou a tese de legítima defesa putativa. Não há, assim, que se falar em
nulidade decorrente de respostas contraditórias.
3. Constando da sentença que a execução está condicionada ao trânsito em julgado, fica vedada a expedição do
mandado de prisão em decorrência do não-provimento do recurso de apelação exclusivo da defesa.
Ordem concedida, parcialmente.
RE N. 262.673-MG
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
RECURSO EXTRAORDINÁRIO - PREQUESTIONAMENTO - CONFIGURAÇÃO - RAZÃO DE SER. O prequestionamento
não resulta da circunstância de a matéria haver sido argüida pela parte recorrente. A configuração do instituto
pressupõe debate e decisão prévios pelo Colegiado, ou seja, emissão de juízo sobre o tema. O procedimento tem
como escopo o cotejo indispensável a que se diga do enquadramento do recurso extraordinário no permissivo
constitucional. Se o Tribunal de origem não adotou entendimento explícito a respeito do fato jurígeno veiculado nas
razões recursais, inviabilizada fica a conclusão sobre a violência ao preceito evocado pelo recorrente.
PROVENTOS - REDUÇÃO - CONTRIBUIÇÃO - TRIBUTOS. A incidência de tributos não implica a redução dos
proventos da aposentadoria, ficando afastada a possibilidade de se concluir pela violência ao princípio da
irredutibilidade.
RE N. 441.318-DF
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
POLÍTICA JUDICIÁRIA - MACROPROCESSO - ESTÍMULO. Tanto quanto possível, considerado o direito posto, deve
ser estimulado o surgimento de macroprocesso, evitando-se a proliferação de causas decorrentes da atuação
individual.
LEGITIMIDADE - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - MINISTÉRIO PÚBLICO - CARTÕES DE CRÉDITO - PROTEÇÃO ADICIONAL -
DISPOSIÇÃO CONTRATUAL. O Ministério Público é parte legítima na propositura de ação civil pública para
questionar relação de consumo resultante de ajuste a envolver cartão de crédito.
* noticiado no Informativo 407
RHC N. 84.308-MA
RELATOR: MIN. SEPÚLVEDA PERTENCE
EMENTA: I. Habeas corpus: crime de latrocínio praticado por índio: competência da Justiça estadual: precedente:
HC 80.496, 1ª T., 12.12.2000, Moreira, DJ 06.04.2001.
II. Instrução processual e cerceamento de defesa: infração penal praticada por indígena: não realização de perícias
antropológica e biológica: sentença baseada em dados de fato inválidos: nulidade absoluta não coberta pela
preclusão.
1. A falta de determinação da perícia, quando exigível à vista das circunstâncias do caso concreto, constitui nulidade
da instrução criminal, não coberta pela preclusão, se a ausência de requerimento para sua realização somente pode
ser atribuída ao Ministério Público, a quem cabia o ônus de demonstrar a legitimidade ad causam dos pacientes.
2. A validade dos outros elementos de fato invocados pelas instâncias de mérito para concluírem que os pacientes
eram maiores de idade ao tempo do crime e estavam absolutamente integrados é questão passível de exame na via
do habeas corpus.
3. A invocação de dados de fato inválidos à demonstração da maioridade e do grau de integração dos pacientes,
constitui nulidade absoluta, que acarreta a anulação do processo a partir da decisão que julgou encerrada a
instrução, permitindo-se a realização das perícias necessárias.
33
III. Prisão preventiva: anulada a condenação, restabelece-se o decreto da prisão preventiva antecedente, cuja
validade não é objeto dos recursos.
* noticiado no Informativo 413
RHC N. 86.681-DF
RELATOR: MIN. EROS GRAU
EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PORTE DE ARMA. VACATIO LEGIS TEMPORÁRIA. ABOLITIO
CRIMINIS. INOCORRÊNCIA.
1. Os artigos 30 e 32 do Estatuto do Desarmamento referem-se a possuidores e proprietários de armas de fogo. O
artigo 29 e seu parágrafo único dispõem sobre a autorização para o porte de arma de fogo. Aos possuidores e
proprietários a lei faculta, no artigo 30, a regularização, mediante comprovação da aquisição lícita, no prazo
assinalado. O artigo 32 obriga, aos que não puderem demonstrar a aquisição lícita, a entrega da arma à Polícia
Federal, no prazo que estipula.
2. O artigo 29 e seu parágrafo único, da Lei n. 10.826/2003, dizem respeito às pessoas autorizadas a portar armas
de fogo. Dispõem sobre o término das autorizações já concedidas (caput) e a propósito da renovação (parágrafo
único), desde que atendidas as condições estipuladas nos seus artigos 4º, 6º e 10.
3. O prazo legal estipulado para regularização das autorizações concedidas não configura vacatio legis, do que
decorreria a abolitio criminis temporária, no que tange ao crime de porte de arma de fogo por pessoa não
autorizada.
4. A vingarem as razões recursais, chegar-se-ia ao absurdo de admitir, no prazo fixado para regularização das
autorizações, o porte de arma de fogo por pessoas e entidades não arroladas nos incisos I a IX do artigo 6º da Lei
n. 10.826/2003.
Recurso ordinário em habeas corpus a que se nega provimento.
* noticiado no Informativo 412
RE N. 313.060-SP
RELATORA: MIN. ELLEN GRACIE
LEIS 10.927/91 E 11.262 DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO. SEGURO OBRIGATÓRIO CONTRA FURTO E ROUBO DE
AUTOMÓVEIS. SHOPPING CENTERS, LOJAS DE DEPARTAMENTO, SUPERMERCADOS E EMPRESAS COM
ESTACIONAMENTO PARA MAIS DE CINQÜENTA VEÍCULOS. INCONSTITUCIONALIDADE.
1. O Município de São Paulo, ao editar as Leis l0.927/91 e 11.362/93, que instituíram a obrigatoriedade, no âmbito
daquele Município, de cobertura de seguro contra furto e roubo de automóveis, para as empresas que operam área
ou local destinados a estacionamentos, com número de vagas superior a cinqüenta veículos, ou que deles
disponham, invadiu a competência para legislar sobre seguros, que é privativa da União, como dispõe o art. 22, VII,
da Constituição Federal.
2. A competência constitucional dos Municípios de legislar sobre interesse local não tem o alcance de estabelecer
normas que a própria Constituição, na repartição das competências, atribui à União ou aos Estados. O legislador
constituinte, em matéria de legislação sobre seguros, sequer conferiu competência comum ou concorrente aos
Estados ou aos Municípios.
3. Recurso provido.
* noticiado no Informativo 411
RE N. 361.829-RJ
RELATOR: MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. ISS. LEI COMPLEMENTAR: LISTA DE SERVIÇOS: CARÁTER TAXATIVO.
LEI COMPLEMENTAR 56, DE 1987: SERVIÇOS EXECUTADOS POR INSTITUIÇÕES AUTORIZADAS A FUNCIONAR
PELO BANCO CENTRAL: EXCLUSÃO.
I. - É taxativa, ou limitativa, e não simplesmente exemplificativa, a lista de serviços anexa à lei complementar,
embora comportem interpretação ampla os seus tópicos. Cuida-se, no caso, da lista anexa à Lei Complementar
56/87.
II. - Precedentes do Supremo Tribunal Federal.
III. - Ilegitimidade da exigência do ISS sobre serviços expressamente excluídos da lista anexa à Lei Complementar
56/87.
IV. - RE conhecido e provido.
* noticiado no Informativo 413
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C L I P P I N G D O D J - 3 de março de 2006
HC N. 83.545-SP
RELATOR: MIN. CEZAR PELUSO
EMENTA: SENTENÇA PENAL. Capítulo decisório. Condenação. Pena privativa de liberdade. Reclusão. Fixação. Soma
dos fatores considerados na dosimetria. Erro de cálculo. Estipulação final de pena inferior à devida. Trânsito em
julgado para o Ministério Público. Recurso de apelação da defesa. Improvimento. Acórdão que, no entanto, aumenta
de ofício a pena, a título de correção de erro material. Inadmissibilidade. Ofensa à proibição da reformatio in peius.
HC concedido para restabelecer o teor da sentença de primeiro grau. Não é lícito ao tribunal, na cognição de
recurso da defesa, agravar a pena do réu, sob fundamento de corrigir ex officio erro material da sentença na
somatória dos fatores considerados no processo de individualização.
* noticiado no Informativo 411
RE N. 392.559-RS
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
EMENTA: Recurso Extraordinário. 2. Serviço prestado antes do advento da Lei no 9.032, de 1995. Caracterização
como especial. Atividade insalubre prevista nos Decretos nos 53.831, de 1964 e 83.080, de 1979. Desnecessidade
do laudo exigido pela citada lei. 3. Recurso extraordinário a que se nega provimento.
* noticiado no Informativo 415
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais aprofundada do pensamento do Tribunal,
divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
Não importa aqui tomar posição na polêmica: seja qual for a natureza da inviolabilidade - excludente da própria
criminalidade do fato, da responsabilidade do agente ou da simples punibilidade do crime -, o certo é que, na
medida em que incide sobre as conseqüências penais de um fato típico, para excluí-las, em relação ao denunciado:
cuida-se, pois, de norma penal nova e mais favorável, o que leva à extinção da punibilidade, tomada a abolitio
criminis, no art. 107, III, C. Penal, com o sentido lato que o art. 5º, XL, da Constituição Federal impõe.
(...).”
III
Pelos mesmos fundamentos, Sr. Presidente, considerando superada a Súmula 3, e com base no art. 53, § 2º c/c os
arts. 27, § 1º, e 32, § 3º, da Constituição, nego provimento ao recurso: é o meu voto.
39
* acórdão pendente de publicação
**nome suprimido pelo Informativo
Com relação ao aspecto da demonstração da controvérsia judicial relevante sobre a aplicação do preceito
fundamental questionado (item “e”), a argüente suscita, tão-somente, a inexistência de outro meio eficaz.
Nesse particular, o desenvolvimento do princípio da subsidiariedade, ou da idéia da inexistência de outro meio
eficaz, dependerá da interpretação que o STF venha a dar à lei. A esse respeito, destaque-se que a Lei no
9.882/1999 impõe que a argüição de descumprimento de preceito fundamental somente será admitida se não
houver outro meio eficaz de sanar a lesividade (art. 4o, § 1o).
À primeira vista, poderia parecer que somente na hipótese de absoluta inexistência de qualquer outro meio eficaz
para afastar a eventual lesão poder-se-ia manejar, de forma útil, a argüição de descumprimento de preceito
fundamental.
É fácil ver que uma leitura excessivamente literal dessa disposição, que tenta introduzir entre nós o princípio da
subsidiariedade vigente no direito alemão (recurso constitucional) e no direito espanhol (recurso de amparo),
acabaria por retirar desse instituto qualquer significado prático.
De uma perspectiva estritamente subjetiva, a ação somente poderia ser proposta se já se tivesse verificado a
exaustão de todos os meios eficazes de afastar a lesão no âmbito judicial.
Uma leitura mais cuidadosa há de revelar, porém, que na análise sobre a eficácia da proteção de preceito
fundamental nesse processo deve predominar um enfoque objetivo ou de proteção da ordem constitucional
objetiva. Em outros termos, o princípio da subsidiariedade - inexistência de outro meio eficaz de sanar a lesão -,
contido no § 1o do art. 4o da Lei no 9.882/1999, há de ser compreendido no contexto da ordem constitucional
global.
Nesse sentido, caso se considere o caráter enfaticamente objetivo do instituto (o que resulta, inclusive, da
legitimação ativa), meio eficaz de sanar a lesão parece ser aquele apto a solver a controvérsia constitucional
relevante de forma ampla, geral e imediata.
No direito alemão, a Verfassungsbeschwerde (recurso constitucional) está submetida ao dever de exaurimento das
instâncias ordinárias. Todavia, a Corte Constitucional pode decidir de imediato um recurso constitucional, caso se
demonstre que a questão é de interesse geral ou se demonstrado que o requerente poderia sofrer grave lesão caso
recorresse à via ordinária (Lei Orgânica do Tribunal, § 90, II).
Como se vê, a ressalva constante da parte final do § 90, II, da Lei Orgânica da Corte Constitucional alemã confere
ampla discricionariedade tanto para conhecer das questões fundadas no interesse geral (allgemeine Bedeutung),
quanto daquelas controvérsias baseadas no perigo iminente de grave lesão (schwerer Nachteil).
Assim, tem o Tribunal Constitucional admitido o recurso constitucional, na forma antecipada, em matéria tributária,
tendo em vista o reflexo direto da decisão sobre inúmeras situações homogêneas (BVerfGE 19/268 (273); BVerfGE
62/338 (342); v. também Schlaich, Klaus. Das Bundesverfassungsgericht, 4a ed., 1997, p. 162). A Corte considerou
igualmente relevante a apreciação de controvérsia sobre publicidade oficial, tendo em vista o seu significado para
todos os partícipes, ativos e passivos, do processo eleitoral (BVerfGE 62/230 (232); BVerfGE 62/117 (144); Schlaich,
cit., p. 162). No que concerne ao controle de constitucionalidade de normas, a posição da Corte tem-se revelado
enfática: “apresenta-se, regularmente, como de interesse geral a verificação sobre se uma norma legal relevante
para uma decisão judicial é inconstitucional” (BVerfGE 91/93 (106)).
No direito espanhol, explicita-se que cabe o recurso de amparo contra ato judicial desde que “se hayan agotado
todos los recursos utilizables dentro de la vía recursal” (Lei Orgânica do Tribunal Constitucional, art. 44, I). Não
obstante, a jurisprudência e a doutrina têm entendido que, para os fins da exaustão das instâncias ordinárias, “não
é necessária a interposição de todos os recursos possíveis, senão de todos os recursos razoavelmente úteis”
(Almagro, José. Justicia Constitucional, Comentarios a la Ley Orgánica del Tribunal Constitucional, 2a ed., Valência,
1989, p. 324.).
Nessa linha de entendimento, anotou o Tribunal Constitucional Espanhol: “Al haberse manifestado en este caso la
voluntad del órgano jurisdicional sobre el mismo fondo de la cuestión planteada, há de entenderse que la finalidad
del requisito exigido en el art. 44, 1, ‘a’, de la LOTC se há cumplido, pues el recurso hubiera sido en cualquier caso
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ineficaz para reparar la supuesta vulneración del derecho constitucional conocido” (auto de 11.2.1981, n. 19
[Almagro, José. Justicia Constitucional, Comentarios a la Ley Orgánica del Tribunal Constitucional, 2a ed., Valência,
1989, p.325]). Vê-se, assim, que também no direito espanhol tem-se atenuado o significado literal do princípio da
subsidiariedade ou do exaurimento das instâncias ordinárias, até porque, em muitos casos, o prosseguimento nas
vias ordinárias não teria efeitos úteis para afastar a lesão a direitos fundamentais.
Observe-se, ainda, que a legitimação outorgada ao Ministério Público e ao Defensor do Povo para manejar o recurso
de amparo reforça, no sistema espanhol, o caráter objetivo desse processo.
Tendo em vista o direito alemão, Schlaich transcreve observação de antigo Ministro da Justiça da Prússia segundo a
qual “o recurso de nulidade era proposto pelas partes, porém com objetivo de evitar o surgimento ou a aplicação de
princípios jurídicos incorretos” (Schlaich, Klaus. Das Bundesverfassungsgericht, 4a ed., 1997, p. 184). Em relação ao
recurso constitucional moderno, movido contra decisões judiciais, anota Schlaich: “essa deve ser também a tarefa
principal da Corte Constitucional com referência aos direitos fundamentais, tendo em vista os numerosos e
relevantes recursos constitucionais propostos contra decisões judiciais: contribuir para que outros tribunais logrem
uma realização ótima dos direitos fundamentais” (Schlaich, Klaus. Das Bundesverfassungsgericht, 4a ed., 1997, p.
184).
Em verdade, o princípio da subsidiariedade, ou do exaurimento das instâncias, atua também nos sistemas que
conferem ao indivíduo afetado o direito de impugnar a decisão judicial, como um pressuposto de admissibilidade de
índole objetiva, destinado, fundamentalmente, a impedir a banalização da atividade de jurisdição constitucional
(Rüdiger, Zuck. Das Recht der Verfassungsbeschwerde, 2.ed. Munique,1988, pp. 13 e ss).
Conforme tenho sustentado no âmbito dogmático, no caso brasileiro o pleito a ser formulado pelos órgãos ou entes
legitimados dificilmente versará - pelo menos de forma direta - sobre a proteção judicial efetiva de posições
específicas por eles defendidas. A exceção mais expressiva reside talvez na possibilidade de o Procurador-Geral da
República, como previsto expressamente no texto legal, ou qualquer outro ente legitimado, propor a argüição de
descumprimento a pedido de terceiro interessado, tendo em vista a proteção de situação específica.
Ainda assim, o ajuizamento da ação e a sua admissão estarão vinculados, muito provavelmente, ao significado da
solução da controvérsia para o ordenamento constitucional objetivo, e não à proteção judicial efetiva de situações
singulares.
Nesse cenário, tendo em vista o caráter acentuadamente objetivo da argüição de descumprimento, o juízo de
subsidiariedade há de ter em vista, especialmente, os demais processos objetivos já consolidados no sistema
constitucional. Destarte, assumida a plausibilidade da alegada violação ao preceito constitucional, cabível a ação
direta de inconstitucionalidade ou de constitucionalidade, não será admissível a argüição de descumprimento. Em
sentido contrário, em princípio, não sendo admitida a utilização de ações diretas de constitucionalidade ou de
inconstitucionalidade - isto é, não se verificando a existência de meio apto para solver a controvérsia constitucional
relevante de forma ampla, geral e imediata -, há de se entender possível a utilização da argüição de
descumprimento de preceito fundamental.
É o que ocorre, fundamentalmente, nos casos relativos ao controle de legitimidade do direito pré-constitucional, do
direito municipal em face da Constituição Federal e nas controvérsias sobre direito pós-constitucional já revogado ou
cujos efeitos já se exauriram. Nesses casos, em face do não-cabimento da ação direta de inconstitucionalidade, não
há como deixar de reconhecer, em princípio, a admissibilidade da argüição de descumprimento.
Não se pode admitir que a existência de processos ordinários e recursos extraordinários deva excluir, a priori, a
utilização da argüição de descumprimento de preceito fundamental. Até porque o instituto assume, entre nós, feição
marcadamente objetiva.
Nessas hipóteses, ante a inexistência de processo de índole objetiva, apto a solver, de uma vez por todas, a
controvérsia constitucional, afigurar-se-ia integralmente aplicável a argüição de descumprimento de preceito
fundamental. É que as ações originárias e o próprio recurso extraordinário não parecem, as mais das vezes, capazes
de resolver a controvérsia constitucional de forma geral, definitiva e imediata. A necessidade de interposição de um
sem número de recursos extraordinários idênticos poderá, em verdade, constituir-se em ameaça ao livre
funcionamento do STF e das próprias Cortes ordinárias.
A propósito, assinalou Sepúlveda Pertence, na ADC no 1 (ADC 1/DF, Rel. Min. Moreira Alves, j. 1.12.93, DJU
16.6.95), que a convivência entre o sistema difuso e o sistema concentrado “não se faz sem uma permanente
tensão dialética na qual, a meu ver, a experiência tem demonstrado que será inevitável o reforço do sistema
concentrado, sobretudo nos processos de massa; na multiplicidade de processos a que inevitavelmente, a cada ano,
na dinâmica da legislação, sobretudo da legislação tributária e matérias próximas, levará se não se criam
mecanismos eficazes de decisão relativamente rápida e uniforme; ao estrangulamento da máquina judiciária, acima
de qualquer possibilidade de sua ampliação e, progressivamente, ao maior descrédito da Justiça, pela sua total
incapacidade de responder à demanda de centenas de milhares de processos rigorosamente idênticos, porque
reduzidos a uma só questão de direito”.
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A possibilidade de incongruências hermenêuticas e confusões jurisprudenciais decorrentes dos pronunciamentos de
múltiplos órgãos pode configurar uma ameaça a preceito fundamental (pelo menos, ao da segurança jurídica), o
que também está a recomendar uma leitura compreensiva da exigência aposta à lei da argüição, de modo a admitir
a propositura da ação especial toda vez que uma definição imediata da controvérsia mostrar-se necessária para
afastar aplicações erráticas, tumultuárias ou incongruentes, que comprometam gravemente o princípio da segurança
jurídica e a própria idéia de prestação judicial efetiva.
Ademais, a ausência de definição da controvérsia ou a própria decisão prolatada pelas instâncias judiciais poderá ser
a concretização da lesão a preceito fundamental. Em um sistema dotado de órgão de cúpula, que tem a missão de
guarda da Constituição, a multiplicidade ou a diversidade de soluções pode constituir-se, por si só, em uma ameaça
ao princípio constitucional da segurança jurídica e, por conseguinte, em uma autêntica lesão a preceito
fundamental.
Assim, tendo em vista o perfil objetivo da argüição de descumprimento, com legitimação diversa, dificilmente poder-
se-á vislumbrar uma autêntica relação de subsidiariedade entre o novel instituto e as formas ordinárias ou
convencionais de controle de constitucionalidade do sistema difuso, expressas, fundamentalmente, no uso do
recurso extraordinário.
Como se vê, ainda que aparentemente pudesse ser o recurso extraordinário o meio eficaz de superar eventual lesão
a preceito fundamental nessas situações, na prática, especialmente nos processos de massa, a utilização desse
instituto do sistema difuso de controle de constitucionalidade não se revela plenamente eficaz, em razão do limitado
efeito do julgado nele proferido (decisão com efeito entre as partes).
Desse modo, é possível concluir que a simples existência de ações ou de outros recursos processuais - vias
processuais ordinárias - não poderá servir de óbice à formulação da argüição de descumprimento. Ao contrário, tal
como explicitado, a multiplicação de processos e decisões sobre um dado tema constitucional reclama, as mais das
vezes, a utilização de um instrumento de feição concentrada, que permita a solução definitiva e abrangente da
controvérsia.
É outro, porém, o caso dos autos!
Conforme pode se observar na espécie, a argüente não utilizou qualquer instrumento processual ou ação de
impugnação autônoma do ato imputado como manifestamente inconstitucional.
Poder-se-ia cogitar, portanto, até mesmo da tempestiva impetração de mandado de segurança (CF, art. 5o, LXIX)
contra os atos de nomeação realizados pelo Governador do Estado de Tocantins.
Na verdade, almeja-se reparar lesão a direito supostamente reconhecido com relação a situações singulares, a
saber: a nomeação de dois desembargadores estaduais em suposta violação à disposição constitucional do “quinto
constitucional” (CF, art. 94 e parágrafo único).
No caso concreto, porém, conforme alertara o próprio relator, Min. Nelson Jobim, quando do arquivamento dos
autos da ADI no 1.970-TO, a situação singular poderia ser sido ampla e eficazmente discutida na via ordinária.
Reitero que, na ocasião da declaração do prejuízo do pedido da ADI no 1.970-TO, em decisão monocrática de
04.03.2001 (DJ de 27.04.2001), o relator asseverou que:
“Este Tribunal já se manifestou em casos semelhantes: ‘... ocorrendo a revogação superveniente da norma atacada
em ação direta, esta perde o seu objeto, independentemente de a referida norma ter, ou não, produzido efeitos
concretos.’ (ADI 2097, MOREIRA ALVES). ‘REVOGAÇÃO DA LEI ARGÜIDA DE INCONSTITUCIONAL. Prejudicialidade
da ação por perda do objeto. A revogação ulterior da lei questionada realiza, em si, a função jurídica constitucional
reservada à ação direta de expungir do sistema jurídico a norma inquinada de inconstitucionalidade. EFEITOS
concretos da lei revogada, durante sua vigência. Matéria que, por não constituir objeto da ação direta, deve ser
remetida às vias ordinárias. A declaração em tese de lei que não mais existe, transformaria a ação direta em
instrumento processual de proteção de situações jurídicas pessoais e concretas. Ação direta que, tendo por objeto a
Lei 9.048/89 do Estado do Paraná, revogada no curso da ação, se julga prejudicada.’ (ADIMC 709, PAULO
BROSSARD). Ainda: ADI’s 648 e 818, NERI DA SILVEIRA. Em face do exposto, julgo prejudicada a ação, por perda
do objeto (RISTF, art. 21, §1º). Arquive-se.” (ADI no 1.970-TO, Rel. Min. Nelson Jobim, DJ de 27.04.2001)
Frise-se, ademais, que, da decretação de prejudicada da ADIn, passaram-se quase 5 (cinco) anos.
Tal hipótese pode ser constatada no presente caso. Na espécie, impugnam-se não as Leis Complementares
Estaduais no 16/1998 e no 34/2002, mas os atos concretos do Governador do Estado do Tocantins delas
resultantes, quais sejam: as nomeações dos Desembargadores LUIZ APARECIDO GADOTTI E JACQUELINE ADORNO
DE LA CRUZ BARBOSA.
De acordo com jurisprudência firmada por este Tribunal, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil
seria legitimado, inclusive, para impetrar eventual mandado de segurança ou para ajuizar outro meio judicial
cabível.
Isso não significa, porém, que se possa perder a dimensão de que a ADPF é destinada, basicamente, a resguardar a
integridade da ordem jurídico-constitucional.
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Destarte, não tendo havido qualquer impugnação dos atos singulares ordinários, que, reitere-se, in casu, seria apta
para solver a controvérsia de forma plena, não há como justificar, na espécie, a utilização da ADPF em face do
disposto no art. 4º, § 1º, da Lei nº 9.882/99. Parece evidente que referido instituto, cuja nobreza é dispensável
destacar, não pode ser utilizado para suprir inércia ou omissão de eventual interessado.
Como o instituto da ADPF assume feição eminentemente objetiva, o juízo de relevância deve ser interpretado como
requisito implícito de admissibilidade do pedido.
Seria possível admitir, em tese, a propositura de ADPF diretamente contra ato do Poder Público, nas hipóteses em
que, em razão da relevância da matéria, a adoção da via ordinária acarrete danos de difícil reparação à ordem
jurídica. O caso em apreço, contudo, revela que as medidas ordinárias à disposição da ora requerente - e, não
utilizadas - poderiam ter plena eficácia.
Ressalte-se que a fórmula da relevância do interesse público, para justificar a admissão da argüição de
descumprimento (explícita no modelo alemão), está implícita no sistema criado pelo legislador brasileiro.
No presente caso, afigura-se de solar evidência a falta de relevância jurídica para a instauração da ADPF.
Assim, tendo em vista a existência, pelo menos em tese, de outras medidas processuais cabíveis e efetivas para
questionar os atos em apreço, entendo que o conhecimento do presente pedido de ADPF não é compatível com
uma interpretação adequada do princípio da subsidiariedade.
Nestes termos, indefiro, liminarmente, a petição inicial (Lei no 9.868/1999, art. 4o). Conseqüentemente, nego
seguimento ao presente pedido de argüição de descumprimento de preceito fundamental por entender que a
postulação é manifestamente incabível, nos termos e do art. 21, § 1o do RISTF. Por conseguinte, declaro o prejuízo
do pedido de medida liminar postulado.
Publique-se.
Arquive-se.
Brasília, 13 de fevereiro de 2006. Ministro GILMAR MENDES Relator
*decisão publicada no DJU de 13.2.2006
Assessora responsável pelo Informativo - Anna Daniela de A. M. dos Santos e Silva - informativo@stf.gov.br
Informativo STF
Brasília, 13 a 17 de fevereiro de 2006 - Nº 416.
Este Informativo, elaborado a partir de notas tomadas nas sessões de julgamento das Turmas e do Plenário, contém resumos não-oficiais de
decisões proferidas pelo Tribunal. A fidelidade de tais resumos ao conteúdo efetivo das decisões, embora seja uma das metas perseguidas neste
trabalho, somente poderá ser aferida após a sua publicação no Diário da Justiça.
SUMÁRIO
Plenário
Extradição e Inimputabilidade
Meia Entrada e Doadores de Sangue
Vício de Iniciativa e Administração Pública - 1
Vício de Iniciativa e Administração Pública - 2
Identificação de Responsáveis por Obras e Proteção do Consumidor
Vício de Iniciativa e Servidor Público
Simulador de Urna Eletrônica e Proibição - 1
Simulador de Urna Eletrônica e Proibição - 2
Serviços Notariais e de Registro e Cobrança de Emolumentos
Protocolo Digital de Informações
Servidor Público: Acordos e Convenções de Trabalho - 1
Servidor Público: Acordos e Convenções de Trabalho - 2
ADC e Vedação ao Nepotismo - 1
ADC e Vedação ao Nepotismo - 2
1ª Turma
Art. 37, § 1º da CF e Promoção Pessoal - 2
RMS e Art. 515, § 3º, do CPC - 1
RMS e Art. 515, § 3º, do CPC - 2
Súmula 283 do STF e Desnecessidade de Cargo
Pensão Especial Vitalícia e Direito Adquirido
Súmula 699 e Agravo de Instrumento em RE Criminal
Petição por Meio de Cópia de Assinatura - 2
Imunidade de Advogado e Relações Contratuais com Cliente
Professor e Aposentadoria Proporcional Especial
Estabilidade Provisória de Dirigente Sindical
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Tráfico de Entorpecentes e Competência
RE e Momento de Comprovação da Tempestividade
2ª Turma
Assistente de Acusação e Intervenção em HC
Cargo em Comissão e Aposentadoria - 4
IPTU e Terras da União
Exercício da Advocacia e Devido Processo Legal
PIS e COFINS: Conceito de Faturamento e ED
RE e Causa Petendi Aberta
Inconstitucionalidade de Lei e Segurança Jurídica
EC 20/98 e Acumulação de Cargos - 1
EC 20/98 e Acumulação de Cargos - 2
Transcrições
CPI - Inquirição em Sessão reservada - Pretensão do impetrante - Censura judicial - Inadmissibilidade (MS 25832 MC/DF)
CPI - Garantias constitucionais que lhe são oponíveis - Presença de advogado (HC 88015 MC/DF)
Fiador em Contrato de Locação e Penhorabilidade de Bem de Família (RE 407688/SP)
PLENÁRIO
Extradição e Inimputabilidade
O Tribunal, por maioria, deu provimento a agravo regimental interposto contra decisão que, nos autos de
extradição, requerida pelo Governo da Itália, de nacional italiano condenado naquele país pelos crimes de formação
de quadrilha finalizada ao tráfico de substâncias entorpecentes, concurso em extorsão e concurso em lesões graves,
indeferira pedido de instauração de incidente de insanidade mental do extraditando. Salientando-se o fato de que a
insanidade fora reconhecida na sentença condenatória proferida pelo Tribunal de Roma, que lhe aplicara medida de
segurança, entendeu-se necessária a suspensão do processo, a fim de se aferir a persistência da inimputabilidade
do extraditando, na forma do previsto no art. 149 do CPP. Vencido o Min. Joaquim Barbosa que negava provimento
ao recurso ao fundamento de que o incidente de insanidade mental não se aplica aos processos de extradição, visto
que a imputabilidade do agente, por ser matéria afeta à culpabilidade, não influencia na tipicidade do delito,
devendo, ademais, a questão da insanidade ser apreciada pelo Estado requerente. Agravo provido para que o
processo baixe em diligência para a instauração do incidente de insanidade mental.
Ext 932 AgR/Governo da Itália, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, rel. p/ acórdão Min. Marco Aurélio,
15.2.2006. (Ext-932)
PRIMEIRA TURMA
Art. 37, § 1º da CF e Promoção Pessoal - 2
A Turma, concluindo julgamento de agravo regimental em recurso extraordinário, manteve decisão monocrática
do Min. Marco Aurélio, relator, que negara seguimento ao recurso, ao fundamento de pretender-se o reexame de
elementos probatórios. No caso concreto, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, em embargos infringentes,
julgara procedente pedido formulado em ação popular ajuizada contra prefeito, por afronta aos princípios da
impessoalidade e da moralidade administrativa (CF, art. 37, § 1º), em razão de publicações com caráter de
promoção pessoal — v. Informativo 407. Ressaltou-se o que assentado no acórdão impugnado, no sentido de
tratar-se de publicidade com promoção pessoal. Vencido o Min. Eros Grau que dava provimento ao regimental para
dar seguimento ao recurso extraordinário, por entender que se debatia, na espécie, o enquadramento normativo
dos fatos e não a reapreciação de provas.
RE 366983 AgR/SP, rel. Min. Marco Aurélio, 14.2.2006. (RE-366983)
RMS e Art. 515, § 3º, do CPC - 1
A Turma retomou julgamento de medida cautelar em ação cautelar na qual se pretende a concessão de efeito
suspensivo a recurso extraordinário interposto contra decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios
que, por ilegitimidade ad causam, extinguira, sem julgamento de mérito, mandado de segurança impetrado pela ora
requerida. No caso concreto, fora interposto recurso ordinário em mandado de segurança perante o STJ, que
reconhecera a legitimidade da impetrante e, com fundamento no art. 515, § 3º, do CPC [“Nos casos de extinção do
processo sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão
exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento”], apreciara desde logo o mérito da causa,
concedendo a segurança. Contra essa decisão, os autores interpuseram recurso extraordinário, não admitido pelo
Tribunal a quo, resultando na apresentação de agravo de instrumento, que, apesar de protocolizado na origem, não
chegara ao Supremo até o ajuizamento da presente cautelar. Alega-se, na espécie, com base em precedentes do
STF, a inaplicabilidade do disposto no aludido art. 515, § 3º, do CPC ao recurso ordinário. O Min. Marco Aurélio,
relator, ad referendum da Turma, deferiu a liminar para suspender os efeitos do acórdão proferido pelo STJ.
Entendeu que o § 3º do art. 515 do CPC, acrescentado pela Lei 10.352/2001, não se aplica em recurso ordinário
constitucional referente a mandado de segurança denegado na origem, porquanto tal artigo refere-se às hipóteses
de competência originária do juízo e não de Tribunal Superior.
AC 813 MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 14.2.2006. (AC-813)
SEGUNDA TURMA
Assistente de Acusação e Intervenção em HC
O servidor público ofendido propter officium e regularmente admitido como assistente da acusação em ação penal
pública condicionada tem legitimidade para recorrer da decisão que defere habeas corpus. Com base nesse
entendimento, a Turma, rejeitando embargos de declaração opostos de decisão que deferira habeas corpus
impetrado por denunciado pela suposta prática de crime de difamação, reconheceu a legitimidade da embargante,
magistrada supostamente ofendida, que atuara como assistente da acusação nos autos da ação penal pública
condicionada. Atentou-se para uma peculiaridade do caso, qual seja, a de que a juíza, sentindo-se difamada em
razão do exercício do cargo, preferira representar ao Ministério Público, tendo-se, assim, deflagrado a ação penal
pública condicionada. No entanto, se tivesse optado pela ação penal privada, e esta tivesse sido trancada por via do
HC, não se poderia obstar a intervenção da suposta ofendida no writ impetrado pelo querelado, já que avultaria, na
hipótese, o interesse daquela pelo prosseguimento da ação penal. Concluiu-se, dessa forma, que a opção feita pela
suposta ofendida não poderia prejudicá-la. Precedente citado: RE 387974/DF (DJU de 26.3.2004).
HC 85629 ED/RS, rel. Min. Ellen Gracie, 14.2.2006. (HC-85629)
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais aprofundada do pensamento do Tribunal,
divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
Em suma: são estas as razões que me levam a indeferir o pedido de reconsideração de fls. 40/41.
Transmita-se, à Presidência da CPMI dos Correios, cópia da presente decisão, em complementação ao Ofício de fls.
37.
Publique-se.
Brasília, 14 de fevereiro de 2006 (23:45h).
Ministro CELSO DE MELLO – Relator - * decisão pendente de publicação
CPI - Garantias constitucionais que lhe são oponíveis - Presença de advogado (Transcrições)
HC 88015 MC/DF*
RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO
EMENTA: COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO (CPI). PRIVILÉGIO CONSTITUCIONAL CONTRA A AUTO-
INCRIMINAÇÃO: GARANTIA BÁSICA QUE ASSISTE À GENERALIDADE DAS PESSOAS. A PESSOA SOB INVESTIGAÇÃO
(PARLAMENTAR, POLICIAL OU JUDICIAL) NÃO SE DESPOJA DOS DIREITOS E GARANTIAS ASSEGURADOS PELA
CONSTITUIÇÃO E PELAS LEIS DA REPÚBLICA. DIREITO À ASSISTÊNCIA EFETIVA E PERMANENTE POR ADVOGADO:
UMA PROJEÇÃO CONCRETIZADORA DA GARANTIA CONSTITUCIONAL DO “DUE PROCESS OF LAW”. A PRIMAZIA
DA “RULE OF LAW”. A PARTICIPAÇÃO DOS ADVOGADOS PERANTE AS COMISSÕES PARLAMENTARES DE
INQUÉRITO E O NECESSÁRIO RESPEITO ÀS PRERROGATIVAS PROFISSIONAIS DESSES OPERADORES DO DIREITO
(MS 25.617/DF, REL. MIN. CELSO DE MELLO, DJU 03/11/2005, V.G.). O POSTULADO DA SEPARAÇÃO DE PODERES
E A LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DO CONTROLE, PELO JUDICIÁRIO, DAS FUNÇÕES INVESTIGATÓRIAS DAS
CPIs, SE E QUANDO EXERCIDAS DE MODO ABUSIVO. DOUTRINA. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA.
DECISÃO: Trata-se de “habeas corpus” preventivo, que, impetrado contra a “CPMI dos Correios”, objetiva preservar
o “status libertatis” do ora paciente, por ela convocado a depor em sessão a ser realizada no próximo dia 15 de
fevereiro.
Busca-se, com a presente ação de “habeas corpus”, a obtenção de provimento jurisdicional que assegure,
cautelarmente, ao ora paciente, (a) o direito de ser assistido por seu Advogado e de com este comunicar-se durante
o curso de seu depoimento perante a referida Comissão Parlamentar de Inquérito e (b) o direito de exercer o
privilégio constitucional contra a auto-incriminação, sem que se possa adotar, contra o ora paciente, como
conseqüência do regular exercício dessa especial prerrogativa jurídica, qualquer medida restritiva de direitos ou
privativa de liberdade, não podendo, ainda, esse mesmo paciente, ser obrigado “a assinar Termo de Compromisso
na condição de testemunha” (fls. 11).
Passo a apreciar o pedido de medida liminar formulado nesta sede processual.
E, ao fazê-lo, defiro a postulação em causa, nos termos referidos no parágrafo anterior (“a” e “b”), notadamente
para o fim de assegurar, ao ora paciente, além do direito de ser assistido e de comunicar-se com o seu advogado,
também o direito de permanecer em silêncio e de não produzir provas contra si próprio, se e quando inquirido sobre
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fatos cujo esclarecimento possa importar em sua auto-incriminação, sem dispensá-lo, contudo, da obrigação de
comparecer perante o órgão parlamentar ora apontado como coator.
CPI E O PRIVILÉGIO CONSTITUCIONAL CONTRA A AUTO-INCRIMINAÇÃO.
Tenho enfatizado, em decisões proferidas no Supremo Tribunal Federal, a propósito da prerrogativa constitucional
contra a auto-incriminação (RTJ 176/805-806, Rel. Min. CELSO DE MELLO), e com apoio na jurisprudência
prevalecente no âmbito desta Corte, que assiste, a qualquer pessoa, regularmente convocada para depor perante
Comissão Parlamentar de Inquérito, o direito de se manter em silêncio, sem se expor - em virtude do exercício
legítimo dessa faculdade - a qualquer restrição em sua esfera jurídica, desde que as suas respostas, às indagações
que lhe venham a ser feitas, possam acarretar-lhe grave dano (“Nemo tenetur se detegere”).
É que indiciados ou testemunhas dispõem, em nosso ordenamento jurídico, da prerrogativa contra a auto-
incriminação, consoante tem proclamado a jurisprudência constitucional do Supremo Tribunal Federal (RTJ 172/929-
930, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE - RDA 196/197, Rel. Min. CELSO DE MELLO – HC 78.814/PR, Rel. Min. CELSO
DE MELLO, v.g.).
Cabe acentuar que o privilégio contra a auto-incriminação - que é plenamente invocável perante as Comissões
Parlamentares de Inquérito (OVÍDIO ROCHA BARROS SANDOVAL, “CPI ao Pé da Letra”, p. 64/68, itens ns. 58/59,
2001, Millennium; UADI LAMMÊGO BULOS, “Comissão Parlamentar de Inquérito”, p. 290/294, item n. 1, 2001,
Saraiva; NELSON DE SOUZA SAMPAIO, “Do Inquérito Parlamentar”, p. 47/48 e 58/59, 1964, Fundação Getúlio
Vargas; JOSÉ LUIZ MÔNACO DA SILVA, “Comissões Parlamentares de Inquérito”, p. 65 e 73, 1999, Ícone Editora;
PINTO FERREIRA, “Comentários à Constituição Brasileira”, vol. 3, p. 126-127, 1992, Saraiva, v.g.) - traduz direito
público subjetivo, de estatura constitucional, assegurado a qualquer pessoa pelo art. 5º, inciso LXIII, da nossa Carta
Política.
Convém assinalar, neste ponto, que, “Embora aludindo ao preso, a interpretação da regra constitucional deve ser no
sentido de que a garantia abrange toda e qualquer pessoa, pois, diante da presunção de inocência, que também
constitui garantia fundamental do cidadão (...), a prova da culpabilidade incumbe exclusivamente à acusação”
(ANTÔNIO MAGALHÃES GOMES FILHO, “Direito à Prova no Processo Penal”, p. 113, item n. 7, 1997, RT - grifei).
É por essa razão que o Plenário do Supremo Tribunal Federal reconheceu esse direito também em favor de quem
presta depoimento na condição de testemunha, advertindo, então, que “Não configura o crime de falso testemunho,
quando a pessoa, depondo como testemunha, ainda que compromissada, deixa de revelar fatos que possam
incriminá-la” (RTJ 163/626, Rel. Min. CARLOS VELLOSO - grifei).
Com o explícito reconhecimento dessa prerrogativa, constitucionalizou-se, em nosso sistema jurídico, uma das mais
expressivas conseqüências derivadas da cláusula do “due process of law”.
Qualquer pessoa que sofra investigações penais, policiais ou parlamentares, ostentando, ou não, a condição formal
de indiciado – ainda que convocada como testemunha (RTJ 163/626 – RTJ 176/805-806) -, possui, dentre as várias
prerrogativas que lhe são constitucionalmente asseguradas, o direito de permanecer em silêncio e de não produzir
provas contra si própria, consoante reconhece a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (RTJ 141/512, Rel.
Min. CELSO DE MELLO).
Esse direito, na realidade, é plenamente oponível ao Estado, a qualquer de seus Poderes e aos seus respectivos
agentes e órgãos. Atua, nesse sentido, como poderoso fator de limitação das próprias atividades de investigação e
de persecução desenvolvidas pelo Poder Público (Polícia Judiciária, Ministério Público, Juízes, Tribunais e Comissões
Parlamentares de Inquérito, p. ex.).
Cabe registrar que a cláusula legitimadora do direito ao silêncio, ao explicitar, agora em sede constitucional, o
postulado segundo o qual “Nemo tenetur se detegere”, nada mais fez senão consagrar, desta vez no âmbito do
sistema normativo instaurado pela Carta da República de 1988, diretriz fundamental proclamada, desde 1791, pela
Quinta Emenda que compõe o “Bill of Rights” norte-americano.
Na realidade, ninguém pode ser constrangido a confessar a prática de um ilícito penal (HC 80.530-MC/PA, Rel. Min.
CELSO DE MELLO). Trata-se de prerrogativa, que, no autorizado magistério de ANTÔNIO MAGALHÃES GOMES
FILHO (“Direito à Prova no Processo Penal”, p. 111, item n. 7, 1997, RT), “constitui uma decorrência natural do
próprio modelo processual paritário, no qual seria inconcebível que uma das partes pudesse compelir o adversário a
apresentar provas decisivas em seu próprio prejuízo...”.
O direito de o indiciado/acusado (ou testemunha) permanecer em silêncio - consoante proclamou a Suprema Corte
dos Estados Unidos da América, em Escobedo v. Illinois (1964) e, de maneira mais incisiva, em Miranda v. Arizona
(1966) - insere-se no alcance concreto da cláusula constitucional do devido processo legal.
A importância de tal entendimento firmado em Miranda v. Arizona (1966) assumiu tamanha significação na prática
das liberdades constitucionais nos Estados Unidos da América, que a Suprema Corte desse país, em julgamento
mais recente (2000), voltou a reafirmar essa “landmark decision”, assinalando que as diretrizes nela fixadas
(“Miranda warnings”) – dentre as quais se encontra a prévia cientificação de que ninguém é obrigado a confessar ou
a responder a qualquer interrogatório – exprimem interpretação do próprio “corpus” constitucional, como advertiu o
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então “Chief Justice” William H. Rehnquist, autor de tal decisão, proferida, por 07 (sete) votos a 02 (dois), no caso
Dickerson v. United States (530 U.S. 428, 2000), daí resultando, como necessária conseqüência, a intangibilidade
desse precedente, insuscetível de ser derrogado por legislação meramente ordinária emanada do Congresso
americano (“... Congress may not legislatively supersede our decisions interpreting and applying the
Constitution ...”).
Cumpre rememorar, bem por isso, que o Pleno do Supremo Tribunal Federal, ao julgar o HC 68.742/DF, Rel. p/ o
acórdão Min. ILMAR GALVÃO (DJU de 02/04/93), também reconheceu que o réu não pode, em virtude do princípio
constitucional que protege qualquer acusado ou indiciado contra a auto-incriminação, sofrer, em função do legítimo
exercício desse direito, restrições que afetem o seu “status poenalis”.
Esta Suprema Corte, fiel aos postulados constitucionais que expressivamente delimitam o círculo de atuação das
instituições estatais, enfatizou que qualquer indivíduo submetido a procedimentos investigatórios ou a processos
judiciais de natureza penal “tem, dentre as várias prerrogativas que lhe são constitucionalmente asseguradas, o
direito de permanecer calado. ‘Nemo tenetur se detegere’. Ninguém pode ser constrangido a confessar a prática de
um ilícito penal” (RTJ 141/512, Rel. Min. CELSO DE MELLO).
Em suma: o direito ao silêncio – e de não produzir provas contra si próprio - constitui prerrogativa individual que
não pode ser desconsiderada por qualquer dos Poderes da República.
Cabe enfatizar, por necessário - e como natural decorrência dessa insuprimível prerrogativa constitucional - que
nenhuma conclusão desfavorável ou qualquer restrição de ordem jurídica à situação individual da pessoa que invoca
essa cláusula de tutela pode ser extraída de sua válida e legítima opção pelo silêncio. Daí a grave - e corretíssima -
advertência de ROGÉRIO LAURIA TUCCI (“Direitos e Garantias Individuais no Processo Penal Brasileiro”, p. 370,
item n. 16.3, 2ª ed., 2004, RT), para quem o direito de permanecer calado “não pode importar em
desfavorecimento do imputado, até porque consistiria inominado absurdo entender-se que o exercício de um direito,
expresso na Lei das Leis como fundamental do indivíduo, possa acarretar-lhe qualquer desvantagem”.
Esse mesmo entendimento é perfilhado por ANTÔNIO MAGALHÃES GOMES FILHO (“Direito à Prova no Processo
Penal”, p. 113, item n. 7, nota de rodapé n. 67, 1997, RT), que repele, por incompatíveis com o novo sistema
constitucional, quaisquer disposições legais, prescrições regimentais ou práticas estatais que autorizem inferir, do
exercício do direito ao silêncio, inaceitáveis conseqüências prejudiciais à defesa, aos direitos e aos interesses do réu,
do indiciado ou da pessoa meramente investigada, tal como já o havia proclamado este Supremo Tribunal Federal,
antes da edição da Lei nº 10.792/2003, que, dentre outras modificações, alterou o art. 186 do CPP:
“Interrogatório - Acusado - Silêncio. A parte final do artigo 186 do Código de Processo Penal, no sentido de o
silêncio do acusado poder se mostrar contrário aos respectivos interesses, não foi recepcionada pela Carta de 1988,
que, mediante o preceito do inciso LVIII do artigo 5º, dispõe sobre o direito de os acusados, em geral,
permanecerem calados (...).”
(RTJ 180/1125, Rel. Min. MARCO AURÉLIO - grifei)
No sistema jurídico brasileiro, estruturado sob a égide do regime democrático, não existe qualquer possibilidade de
o Poder Público (uma Comissão Parlamentar de Inquérito, p. ex.), por simples presunção ou com fundamento em
meras suspeitas, reconhecer, sem prévia decisão judicial condenatória irrecorrível, a culpa de alguém.
Na realidade, os princípios democráticos que informam o modelo constitucional consagrado na Carta Política de
1988 repelem qualquer comportamento estatal que transgrida o dogma de que não haverá culpa penal por
presunção, nem responsabilidade criminal por mera suspeita (RT 690/390 - RT 698/452-454).
É por essa razão que “Não podem repercutir contra o réu situações jurídico-processuais ainda não definidas por
decisão irrecorrível do Poder Judiciário, especialmente naquelas hipóteses de inexistência de título penal
condenatório definitivamente constituído” (RTJ 139/885, Rel. Min. CELSO DE MELLO).
Não constitui demasia enfatizar, neste ponto, que o princípio constitucional da não-culpabilidade também consagra,
em nosso sistema jurídico, uma regra de tratamento que impede o Poder Público de agir e de se comportar, em
relação ao suspeito, ao indiciado, ao denunciado, ao réu ou a qualquer pessoa, como se estes já houvessem sido
condenados definitivamente por sentença do Poder Judiciário.
Em suma: cabe ter presente, no exame da matéria ora em análise, a jurisprudência constitucional que tem
prevalecido, sem maiores disceptações, no âmbito do Supremo Tribunal Federal:
“- O privilégio contra a auto-incriminação - que é plenamente invocável perante as Comissões Parlamentares de
Inquérito - traduz direito público subjetivo assegurado a qualquer pessoa, que, na condição de testemunha, de
indiciado ou de réu, deva prestar depoimento perante órgãos do Poder Legislativo, do Poder Executivo ou do Poder
Judiciário.
- O exercício do direito de permanecer em silêncio não autoriza os órgãos estatais a dispensar qualquer tratamento
que implique restrição à esfera jurídica daquele que regularmente invocou essa prerrogativa fundamental.
Precedentes.
O direito ao silêncio - enquanto poder jurídico reconhecido a qualquer pessoa relativamente a perguntas cujas
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respostas possam incriminá-la (nemo tenetur se detegere) - impede, quando concretamente exercido, que aquele
que o invocou venha, por tal específica razão, a ser preso, ou ameaçado de prisão, pelos agentes ou pelas
autoridades do Estado.
- Ninguém pode ser tratado como culpado, qualquer que seja a natureza do ilícito penal cuja prática lhe tenha sido
atribuída, sem que exista, a esse respeito, decisão judicial condenatória transitada em julgado.
O princípio constitucional da não-culpabilidade, em nosso sistema jurídico, consagra uma regra de tratamento que
impede o Poder Público de agir e de se comportar, em relação ao suspeito, ao indiciado, ao denunciado ou ao réu,
como se estes já houvessem sido condenados definitivamente por sentença do Poder Judiciário. Precedentes.”
(RTJ 176/805-806, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno)
A PARTICIPAÇÃO DO ADVOGADO PERANTE A COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO.
Impende assinalar, de outro lado, tendo em vista o pleito deduzido em favor do ora paciente - no sentido de que se
lhe assegure o direito de ser assistido por seu Advogado e de com este comunicar-se durante o curso de seu
depoimento perante a “CPMI dos Correios” –, que cabe, ao Advogado, a prerrogativa, que lhe é dada por força e
autoridade da lei, de velar pela intangibilidade dos direitos daquele que o constituiu como patrono de sua defesa
técnica, competindo-lhe, por isso mesmo, para o fiel desempenho do “munus” de que se acha incumbido, o
exercício dos meios legais vocacionados à plena realização de seu legítimo mandato profissional.
Na realidade, mesmo o indiciado, quando submetido a procedimento inquisitivo, de caráter unilateral (perante a
Polícia Judiciária ou uma CPI, p. ex.), não se despoja de sua condição de sujeito de determinados direitos e de
garantias indisponíveis, cujo desrespeito põe em evidência a censurável face arbitrária do Estado cujos poderes,
necessariamente, devem conformar-se ao que impõe o ordenamento positivo da República, notadamente no que se
refere à efetiva e permanente assistência técnica por Advogado.
Esse entendimento - que reflete a própria jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, construída sob a égide da
vigente Constituição (MS 23.576/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJU 07/12/99 e DJU 03/02/2000 – MS 23.684/DF,
Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, DJU 10/05/2000 - MS 25.617-MC/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJU
03/11/2005, v.g.) - encontra apoio na lição de autores eminentes, que, não desconhecendo que o exercício do
poder não autoriza a prática do arbítrio, ainda que se cuide de mera investigação conduzida sem a garantia do
contraditório, enfatizam que, em tal procedimento inquisitivo, há direitos titularizados pelo indiciado que não podem
ser ignorados pelo Estado.
Cabe referir, nesse sentido, dentre outras lições inteiramente aplicáveis às Comissões Parlamentares de Inquérito, o
autorizado magistério de FAUZI HASSAN CHOUKE (“Garantias Constitucionais na Investigação Criminal”, p. 74, item
n. 4.2, 1995, RT), de ADA PELLEGRINI GRINOVER (“A Polícia Civil e as Garantias Constitucionais de Liberdade”, “in”
“A Polícia à Luz do Direito”, p. 17, 1991, RT), de ROGÉRIO LAURIA TUCCI (“Direitos e Garantias Individuais no
Processo Penal Brasileiro”, p. 383, 1993, Saraiva), de ROBERTO MAURÍCIO GENOFRE (“O Indiciado: de Objeto de
Investigações a Sujeito de Direitos”, “in” “Justiça e Democracia”, vol. 1/181, item n. 4, 1996, RT), de PAULO
FERNANDO SILVEIRA (“Devido Processo Legal - Due Process of Law”, p. 101, 1996, Del Rey), de ROMEU DE
ALMEIDA SALLES JUNIOR (“Inquérito Policial e Ação Penal”, p. 60/61, item n. 48, 7ª ed., 1998, Saraiva) e de LUIZ
CARLOS ROCHA (“Investigação Policial - Teoria e Prática”, p. 109, item n. 2, 1998, Saraiva).
Assume inquestionável valor, bem por isso, presente o contexto ora em análise (direitos do indiciado e prerrogativas
profissionais do Advogado perante a CPI), a lição de ODACIR KLEIN (“Comissões Parlamentares de Inquérito - A
Sociedade e o Cidadão”, p. 48/49, item n. 4, 1999, Sergio Antonio Fabris Editor), que tanta expressão deu, quando
membro do Congresso Nacional, à atividade legislativa:
“O texto constitucional consagra o princípio de que ninguém é obrigado a se auto-incriminar.
Dessa forma, estará agindo no mínimo autoritariamente quem, participando de uma CPI, negar o direito ao silêncio
à pessoa que possa ser responsabilizada ao final da investigação.
Em seu interrogatório, o indiciado terá que ser tratado sem agressividade, truculência ou deboche, por quem o
interroga diante da imprensa e sob holofotes, já que a exorbitância da função de interrogar está coibida pelo art. 5º,
III, da Constituição Federal, que prevê que ‘ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou
degradante’.
Aquele que, numa CPI, ao ser interrogado, for injustamente atingido em sua honra ou imagem, poderá pleitear
judicialmente indenização por danos morais ou materiais, neste último caso, se tiver sofrido prejuízo financeiro em
decorrência de sua exposição pública, tudo com suporte no disposto na Constituição Federal, em seu art. 5º, X.
.......................................................
Na condição de indiciado, terá direito à assistência de advogado, garantindo-se ao profissional, com suporte no art.
7º da Lei 8.906/94 - Estatuto da Advocacia e da OAB - comparecer às reuniões da CPI (VI, d), nelas podendo
reclamar, verbalmente ou por escrito, contra a inobservância de preceito de lei, regulamento ou regimento (XI).”
(grifei)
Extremamente oportunas, sob tal aspecto, as observações feitas pelo ilustre Advogado paulista e ex-Secretário da
60
Justiça do Estado de São Paulo, Dr. MANUEL ALCEU AFFONSO FERREIRA (“As CPIs e a Advocacia”, “in” “O Estado
de S. Paulo”, edição de 05/12/99, p. A22):
“Nem se diga, no lastimável argumento repugnante à inteligência e comprometedor do bom senso, que a presença
ativa dos advogados nas sessões das CPIs frustraria os seus propósitos investigatórios. Fosse assim, tampouco
chegariam a termo as averiguações policiais; ou os inquéritos civis conduzidos pelo Ministério Público; ou, ainda, as
inquirições probatórias administradas pelo Judiciário. Com plena razão, magistrados, promotores e delegados jamais
alegaram a Advocacia como obstáculo, bem ao contrário, nela enxergando meio útil à descoberta da verdade e à
administração da Justiça.” (grifei)
Registre-se, ainda, por necessário, que, se é certo que a Constituição atribuiu às CPIs “os poderes de investigação
próprios das autoridades judiciais” (CF, art. 58, § 3º), não é menos exato que os órgãos de investigação
parlamentar estão igualmente sujeitos, tanto quanto os juízes, às mesmas restrições e limitações impostas pelas
normas legais e constitucionais que regem o “due process of law”, mesmo que se cuide de procedimento instaurado
em sede administrativa ou político-administrativa, de tal modo que se aplica às CPIs, em suas relações com os
Advogados, o mesmo dever de respeito – cuja observância também se impõe aos Magistrados (e a este Supremo
Tribunal Federal, inclusive) – às prerrogativas profissionais previstas no art. 7º da Lei nº 8.906/94, que instituiu o
“Estatuto da Advocacia”.
O Advogado - ao cumprir o dever de prestar assistência técnica àquele que o constituiu, dispensando-lhe orientação
jurídica perante qualquer órgão do Estado - converte, a sua atividade profissional, quando exercida com
independência e sem indevidas restrições, em prática inestimável de liberdade. Qualquer que seja o espaço
institucional de sua atuação (Poder Legislativo, Poder Executivo ou Poder Judiciário), ao Advogado incumbe
neutralizar os abusos, fazer cessar o arbítrio, exigir respeito ao ordenamento jurídico e velar pela integridade das
garantias jurídicas - legais ou constitucionais - outorgadas àquele que lhe confiou a proteção de sua liberdade e de
seus direitos, dentre os quais avultam, por sua inquestionável importância, a prerrogativa contra a auto-
incriminação e o direito de não ser tratado, pelas autoridades públicas, como se culpado fosse, observando-se,
desse modo, as diretrizes, previamente referidas, consagradas na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.
Se, não obstante essa realidade normativa que emerge do sistema jurídico brasileiro, a Comissão Parlamentar de
Inquérito - ou qualquer outro órgão posicionado na estrutura institucional do Estado - desrespeitar tais direitos que
assistem à generalidade das pessoas, justificar-se-á, em tal específica situação, a intervenção, sempre legítima, do
Advogado, para fazer cessar o ato arbitrário ou, então, para impedir que aquele que o constituiu culmine por auto-
incriminar-se.
O exercício do poder de fiscalizar eventuais abusos cometidos por Comissão Parlamentar de Inquérito contra aquele
que por ela foi convocado para depor traduz prerrogativa indisponível do Advogado no desempenho de sua
atividade profissional, não podendo, por isso mesmo, ser cerceado, injustamente, na prática legítima de atos que
visem a neutralizar situações configuradoras de arbítrio estatal ou de desrespeito aos direitos daquele que lhe
outorgou o pertinente mandato.
A função de investigar não pode resumir-se a uma sucessão de abusos nem deve reduzir-se a atos que importem
em violação de direitos ou que impliquem desrespeito a garantias estabelecidas na Constituição e nas leis. O
inquérito parlamentar, por isso mesmo, não pode transformar-se em instrumento de prepotência nem converter-se
em meio de transgressão ao regime da lei.
Os fins não justificam os meios. Há parâmetros ético-jurídicos que não podem e não devem ser transpostos pelos
órgãos, pelos agentes ou pelas instituições do Estado. Os órgãos do Poder Público, quando investigam, processam
ou julgam, não estão exonerados do dever de respeitar os estritos limites da lei e da Constituição, por mais graves
que sejam os fatos cuja prática motivou a instauração do procedimento estatal.
CONTROLE JURISDICIONAL E SEPARAÇÃO DE PODERES.
Nem se diga, de outro lado, na perspectiva do caso em exame, que a atuação do Poder Judiciário, nas hipóteses de
lesão, atual ou iminente, a direitos subjetivos amparados pelo ordenamento jurídico do Estado, configuraria
intervenção ilegítima dos juízes e Tribunais na esfera de atuação do Poder Legislativo.
Eventuais divergências na interpretação do ordenamento positivo não traduzem nem configuram situação de conflito
institucional, especialmente porque, acima de qualquer dissídio, situa-se a autoridade da Constituição e das leis da
República.
Isso significa, na fórmula política do regime democrático, que nenhum dos Poderes da República está acima da
Constituição e das leis. Nenhum órgão do Estado - situe-se ele no Poder Judiciário, ou no Poder Executivo, ou no
Poder Legislativo - é imune à força da Constituição e ao império das leis.
Uma decisão judicial - que restaura a integridade da ordem jurídica e que torna efetivos os direitos assegurados
pelas leis - não pode ser considerada um ato de interferência na esfera do Poder Legislativo, consoante já
proclamou o Plenário do Supremo Tribunal Federal, em unânime decisão:
“O CONTROLE JURISDICIONAL DE ABUSOS PRATICADOS POR COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO NÃO
61
OFENDE O PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES.
- A essência do postulado da divisão funcional do poder, além de derivar da necessidade de conter os excessos dos
órgãos que compõem o aparelho de Estado, representa o princípio conservador das liberdades do cidadão e
constitui o meio mais adequado para tornar efetivos e reais os direitos e garantias proclamados pela Constituição.
Esse princípio, que tem assento no art. 2º da Carta Política, não pode constituir nem qualificar-se como um
inaceitável manto protetor de comportamentos abusivos e arbitrários, por parte de qualquer agente do Poder
Público ou de qualquer instituição estatal.
- O Poder Judiciário, quando intervém para assegurar as franquias constitucionais e para garantir a integridade e a
supremacia da Constituição, desempenha, de maneira plenamente legítima, as atribuições que lhe conferiu a própria
Carta da República.
O regular exercício da função jurisdicional, por isso mesmo, desde que pautado pelo respeito à Constituição, não
transgride o princípio da separação de poderes.”
Desse modo, não se revela lícito afirmar, na hipótese de desvios jurídico-constitucionais nas quais incida uma
Comissão Parlamentar de Inquérito, que o exercício da atividade de controle jurisdicional possa traduzir situação de
ilegítima interferência na esfera de outro Poder da República.”
(RTJ 173/805-810, 806, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
A exigência de respeito aos princípios consagrados em nosso sistema constitucional não frustra nem impede o
exercício pleno, por qualquer CPI, dos poderes investigatórios de que se acha investida.
A observância dos direitos e garantias constitui fator de legitimação da atividade estatal. Esse dever de obediência
ao regime da lei se impõe a todos - magistrados, administradores e legisladores.
O poder não se exerce de forma ilimitada. No Estado democrático de Direito, não há lugar para o poder absoluto.
Ainda que em seu próprio domínio institucional, portanto, nenhum órgão estatal pode, legitimamente, pretender-se
superior ou supor-se fora do alcance da autoridade suprema da Constituição Federal e das leis da República.
O respeito efetivo pelos direitos individuais e pelas garantias fundamentais outorgadas pela ordem jurídica aos
cidadãos em geral representa, no contexto de nossa experiência institucional, o sinal mais expressivo e o indício
mais veemente de que se consolida, em nosso País, de maneira real, o quadro democrático delineado na
Constituição da República.
A separação de poderes - consideradas as circunstâncias históricas que justificaram a sua concepção no plano da
teoria constitucional - não pode ser jamais invocada como princípio destinado a frustrar a resistência jurídica a
qualquer ensaio de opressão estatal ou a inviabilizar a oposição a qualquer tentativa de comprometer, sem justa
causa, o exercício, pela pessoa que sofre a investigação, do seu direito de requerer a tutela jurisdicional contra
abusos que possam ser cometidos pelas instituições do Estado, não importando se vinculadas à estrutura do Poder
Legislativo, do Poder Executivo ou do Poder Judiciário.
A investigação parlamentar, judicial ou administrativa de qualquer fato determinado, por mais grave que ele possa
ser, não prescinde do respeito incondicional e necessário, por parte do órgão público dela incumbido, das normas,
que, instituídas pelo ordenamento jurídico, visam a equacionar, no contexto do sistema constitucional, a situação de
contínua tensão dialética que deriva do antagonismo histórico entre o poder do Estado (que jamais deverá revestir-
se de caráter ilimitado) e os direitos da pessoa (que não poderão impor-se de forma absoluta).
É, portanto, na Constituição e nas leis - e não na busca pragmática de resultados, independentemente da
adequação dos meios à disciplina imposta pela ordem jurídica - que se deverá promover a solução do justo
equilíbrio entre as relações de tensão que emergem do estado de permanente conflito entre o princípio da
autoridade e o valor da liberdade.
O que simplesmente se revela intolerável, e não tem sentido, por divorciar-se dos padrões ordinários de submissão
à “rule of law”, é a sugestão - que seria paradoxal, contraditória e inaceitável - de que o respeito pela autoridade da
Constituição e das leis possa traduzir fator ou elemento de frustração da eficácia da investigação estatal.
Sendo assim, tendo em consideração as razões expostas, e sem dispensar o ora paciente da obrigação de
comparecer perante a “CPMI dos Correios”, defiro o pedido de medida liminar, nos precisos termos expostos nesta
decisão, em ordem a assegurar, cautelarmente, a esse mesmo paciente, (a) o direito de ser assistido por seu
Advogado e de com este comunicar-se durante o curso de seu depoimento perante a referida Comissão Parlamentar
de Inquérito e (b) o direito de exercer o privilégio constitucional contra a auto-incriminação, sem que se possa
adotar, contra o paciente em questão, como conseqüência do regular exercício dessa especial prerrogativa jurídica,
qualquer medida restritiva de direitos ou privativa de liberdade, não podendo, ainda, tal paciente, ser obrigado “a
assinar Termo de Compromisso na condição de testemunha” (fls. 11).
Comunique-se, com urgência, o teor deste ato decisório, ao eminente Senhor Presidente da “CPMI dos Correios”.
2. Requisitem-se informações ao órgão ora apontado como coator, encaminhando-se-lhe cópia da presente decisão.
Publique-se.
Brasília, 14 de fevereiro de 2006.
62
Ministro CELSO DE MELLO - Relator
*decisão pendente de publicação
Informativo STF
Brasília, 6 a 10 de fevereiro de 2006 - Nº 415.
64
Este Informativo, elaborado a partir de notas tomadas nas sessões de julgamento das Turmas e do Plenário, contém resumos não-oficiais de
decisões proferidas pelo Tribunal. A fidelidade de tais resumos ao conteúdo efetivo das decisões, embora seja uma das metas perseguidas neste
trabalho, somente poderá ser aferida após a sua publicação no Diário da Justiça.
SUMÁRIO
Plenário
ICMS e Transporte Rodoviário de Passageiros
Serviços Notariais e de Registro: Concurso Público e Princípio da Isonomia
Fiador em Contrato de Locação e Penhorabilidade de Bem de Família
Anistia e Vício Material
Extinção de Punibilidade: Estupro de Vítima Menor de 14 Anos e União Estável - 2
Desapropriação: Laudo de Vistoria e Termo Inicial para Impugnação
Prazo para Registro de Aposentadoria e Princípios do Contraditório e da Ampla Defesa
1ª Turma
Princípio do Promotor Natural e Delegação pelo PGR
Falsidade Ideológica e Inépcia da Denúncia
Pedido de Extensão e Órgãos Judiciários Distintos
2ª Turma
Prescrição da Pretensão Punitiva Antecipada
Direito Adquirido e Aposentadoria Especial
Clipping do DJ
Transcrições
Processamento de RE Retido (Pet 3598 MC/RJ)
Dirigente Sindical e estabilidade provisória (AI 454064/PA)
PLENÁRIO
ICMS e Transporte Rodoviário de Passageiros
O Tribunal iniciou julgamento de ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pela Confederação Nacional do
Transporte - CNT contra os artigos 4º; 11, II, a e c; 12, V e XIII, da Lei Complementar 87/96 (Lei Kandir) que,
respectivamente, elenca os contribuintes do ICMS, estabelece o local da operação ou da prestação de serviço de
transporte, para os efeitos da cobrança do imposto e definição do estabelecimento responsável, bem como fixa o
momento de ocorrência da hipótese de incidência do tributo. Preliminarmente, o Tribunal assentou a legitimidade da
requerente, nos termos do que consignado no julgamento da ADI 1912/RJ (DJU de 21.5.99). Quanto ao mérito, o
Min. Nelson Jobim, relator, entendeu que a norma impugnada apresenta insuficiência de identificação dos
elementos fundamentais da relação tributária, o que impede a aplicação dos princípios constitucionais relativos ao
ICMS. Em face disso, e na linha do que decidido no julgamento da ADI 1600/DF (DJU de 20.6.2003), deu pela
procedência do pedido formulado para declarar a inconstitucionalidade, com eficácia ex nunc, da instituição do ICMS
sobre a prestação de serviços de transporte terrestre de passageiros. Após o voto do Min. Sepúlveda Pertence, que
acompanhava o do relator, pediu vista dos autos o Min. Gilmar Mendes.
ADI 2669/DF, rel. Min. Nelson Jobim, 8.2.2006. (ADI-2669)
PRIMEIRA TURMA
Princípio do Promotor Natural e Delegação pelo PGR
A Turma deferiu dois habeas corpus impetrados, respectivamente, em favor de juiz e de desembargador federais
do TRF da 2a Região, denunciados pela suposta prática do crime de falsidade ideológica (CP, art. 299, na forma do
art. 69 c/c o art. 29) consistente em indevida aceitação de prevenção para o julgamento de processos em curso
naquele Tribunal e, quanto ao segundo paciente, na determinação de desentranhamento e arquivamento de
agravos devolvidos à origem em virtude de pedidos de desistência. No caso concreto, o Órgão Especial do STJ
recebera as denúncias e afastara os pacientes do exercício de suas funções. Impugnava-se, na espécie, sob
alegação de ofensa ao princípio do promotor natural, a validade da portaria do Procurador-Geral que, com base no
art. 48, II e parágrafo único, da LC 75/93, designara o Subprocurador-Geral signatário das denúncias para oficiar
nos inquéritos em que se fundaram as peças acusatórias. Sustentava-se, ainda, falta de justa causa para a ação
penal, uma vez que a denúncia descrevera fato atípico, presumindo concurso de agentes e dolo. Inicialmente, por
maioria, na linha do que decidido no julgamento do HC 84630/RJ (v. Informativo 413, acórdão pendente de
publicação), rejeitou-se a citada alegação de ofensa ao princípio do promotor natural, por considerar que a ação
penal fora apresentada pelo órgão incumbido de propô-la, qual seja, o Procurador-Geral da República, por seu
delegado nomeado na forma da lei. Vencido, no ponto, o Min. Marco Aurélio.
HC 84468/ES e HC 84488/ES, rel. Min. Cezar Peluso, 7.2.2006. (HC-84468) (HC-84488)
Falsidade Ideológica e Inépcia da Denúncia
No tocante à ausência de justa causa, entendeu-se que os fatos atribuídos aos pacientes não encontram
adequação ao tipo da falsidade ideológica. Em relação ao juiz federal, asseverou-se que quando ele anunciara a sua
competência para conhecer e julgar determinado feito, a prevenção realmente existia ou era assim considerada.
Afirmou-se, no ponto, que os autos foram distribuídos ao paciente por indicarem, com erronia, número referente à
ação originária por ele relatada, sendo que, posteriormente à aceitação da prevenção, foram realizadas retificações,
revelando que os processos se referiam a ações originárias diversas. Com relação ao desembargador federal,
asseverou-se que a sua conduta estaria em conformidade com o regimento interno do Tribunal de origem, o qual
determina a baixa do feito à instância inferior, para arquivamento, após o julgamento do agravo. Ademais,
assentou-se que as insinuações difusas constantes das denúncias não autorizariam nova classificação típica e que
não existiriam elementos sequer para substanciar a participação dos pacientes em falsidade ideológica cometida por
advogados que elaboraram as iniciais dos processos distribuídos no TRF da 2ª Região. Aduziu-se, também, não
haver descrição necessária sobre o concurso de agentes, bem como sobre a comunhão de desígnios. HC deferido
para julgar ineptas as denúncias oferecidas e trancar os processos penais instaurados contra os pacientes. Por fim,
explicitou-se que o trancamento dos processos penais torna sem efeito o afastamento dos pacientes de suas
funções judicantes.
HC 84468/ES e HC 84488/ES, rel. Min. Cezar Peluso, 7.2.2006. (HC-84468) (HC-84488)
SEGUNDA TURMA
Prescrição da Pretensão Punitiva Antecipada
O STF, diante da falta de previsão legal, tem repelido o instituto da prescrição antecipada ou em perspectiva,
consistente no reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva do Estado, com fundamento na pena presumida,
antes mesmo do término da ação penal, na hipótese em que o exercício do ius puniendi se revela, de antemão,
inviável. Com base nesse entendimento, a Turma negou provimento a recurso ordinário em habeas corpus em que
se alegava a ocorrência da prescrição antecipada e a supressão de instância decorrente de decisão do TRF da 1ª
Região que, ao dar provimento a recurso em sentido estrito interposto pelo Ministério Público Federal, recebera
denúncia apresentada contra o paciente, reformando, assim, decisão de juiz federal que, em razão do
reconhecimento da prescrição antecipada, declarara extinta a punibilidade do réu. Entendeu-se precoce reconhecer-
se a prescrição da pretensão punitiva com suporte na presunção de futura e incerta pena, uma vez que no curso da
instrução criminal poderiam ser provadas circunstâncias judiciais desfavoráveis ao paciente. Aplicou-se, ademais, o
entendimento firmado no Enunciado da Súmula 709 da Corte (“Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o
acórdão que provê o recurso contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento dela.”), para rejeitar-
se a alegação de supressão de instância. Precedentes citados: RHC 76153/SP (DJU de 27.3.98); HC 82155/SP (DJU
de 7.3.2003); HC 83458/BA (DJU de 6.2.2004).
RHC 86950/MG, rel. Min. Joaquim Barbosa, 7.2.2006. (RHC-86950)
C L I P P I N G D O D J - 10 de fevereiro de 2006
ADI N. 687-PA
RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO
E M E N T A: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - AUTONOMIA DO ESTADO-MEMBRO - A
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO-MEMBRO COMO EXPRESSÃO DE UMA ORDEM NORMATIVA AUTÔNOMA - LIMITAÇÕES
AO PODER CONSTITUINTE DECORRENTE - IMPOSIÇÃO, AO PREFEITO MUNICIPAL E RESPECTIVOS AUXILIARES,
DO DEVER DE COMPARECIMENTO, PERANTE A CÂMARA DE VEREADORES, SOB PENA DE CONFIGURAÇÃO DE
CRIME DE RESPONSABILIDADE - PRESCRIÇÃO NORMATIVA EMANADA DO LEGISLADOR CONSTITUINTE ESTADUAL
- FALTA DE COMPETÊNCIA DO ESTADO-MEMBRO PARA LEGISLAR SOBRE CRIMES DE RESPONSABILIDADE -
OFENSA À AUTONOMIA MUNICIPAL - TRANSGRESSÃO AO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES -
COMPETÊNCIA DA CÂMARA MUNICIPAL PARA PROCESSAR E JULGAR O PREFEITO NOS ILÍCITOS POLÍTICO-
ADMINISTRATIVOS - ORGANIZAÇÃO MUNICIPAL - ESFERA MÍNIMA DE INGERÊNCIA NORMATIVA DO ESTADO-
68
MEMBRO AUTORIZADA PELA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA - EXIGÊNCIA DE OS TRIBUNAIS DE CONTAS
ENCAMINHAREM RELATÓRIOS TRIMESTRAIS DE SUAS ATIVIDADES AO PODER LEGISLATIVO - PLENA ADEQUAÇÃO
AO MODELO FEDERAL CONSAGRADO NO ART. 71, § 4º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA - AÇÃO DIRETA
JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE.
CONSTITUIÇÃO ESTADUAL E AUTONOMIA DO MUNICÍPIO.
- A Constituição estadual não pode impor, ao Prefeito Municipal, o dever de comparecimento perante a Câmara de
Vereadores, pois semelhante prescrição normativa - além de provocar estado de submissão institucional do Chefe
do Executivo ao Poder Legislativo municipal (sem qualquer correspondência com o modelo positivado na
Constituição da República), transgredindo, desse modo, o postulado da separação de poderes - também ofende a
autonomia municipal, que se qualifica como pedra angular da organização político-jurídica da Federação brasileira.
Precedentes.
INFRAÇÕES POLÍTICO-ADMINISTRATIVAS: INCOMPETÊNCIA LEGISLATIVA DO ESTADO-MEMBRO.
- O Estado-membro não dispõe de competência para instituir, mesmo em sua própria Constituição, cláusulas
tipificadoras de ilícitos político-administrativos, ainda mais se as normas estaduais definidoras de tais infrações
tiverem por finalidade viabilizar a responsabilização política de agentes e autoridades municipais. Precedentes.
COMPETÊNCIA PARA O PROCESSO E JULGAMENTO DE PREFEITO MUNICIPAL: INFRAÇÕES POLÍTICO-
ADMINISTRATIVAS E ILÍCITOS PENAIS.
- Compete, exclusivamente, à Câmara de Vereadores, processar e julgar o Prefeito Municipal nas infrações político-
administrativas, assim definidas em legislação emanada da União Federal, podendo impor, ao Chefe do Executivo
local, observada a garantia constitucional do “due process of law”, a sanção de cassação de seu mandato eletivo.
Precedentes.
- O Tribunal de Justiça do Estado, ressalvadas as hipóteses que se incluem na esfera de atribuições jurisdicionais da
Justiça Federal comum, da Justiça Militar da União e da Justiça Eleitoral, dispõe de competência originária para
processar e julgar os Prefeitos Municipais nas infrações penais comuns.
LEGITIMIDADE DA COMPETÊNCIA DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA PARA JULGAR AS CONTAS DO TRIBUNAL DE
CONTAS DO ESTADO.
- Reveste-se de plena legitimidade constitucional a norma inscrita na Carta Política do Estado-membro que atribui, à
Assembléia Legislativa, competência para efetuar, em sede de fiscalização financeira, orçamentária, contábil,
operacional e patrimonial, o controle externo das contas do respectivo Tribunal de Contas. Doutrina. Precedentes.
- O Tribunal de Contas está obrigado, por expressa determinação constitucional (CF, art. 71, § 4º), aplicável ao
plano local (CF, art. 75), a encaminhar, ao Poder Legislativo a que se acha institucionalmente vinculado, tanto
relatórios trimestrais quanto anuais de suas próprias atividades, pois tais relatórios, além de permitirem o exame
parlamentar do desempenho, pela Corte de Contas, de suas atribuições fiscalizadoras, também se destinam a expor,
ao Legislativo, a situação das finanças públicas administradas pelos órgãos e entidades governamentais, em ordem
a conferir um grau de maior eficácia ao exercício, pela instituição parlamentar, do seu poder de controle externo.
Precedente.
MUNICÍPIOS E TRIBUNAIS DE CONTAS.
- A Constituição da República impede que os Municípios criem os seus próprios Tribunais, Conselhos ou órgãos de
contas municipais (CF, art. 31, § 4º), mas permite que os Estados-membros, mediante autônoma deliberação,
instituam órgão estadual denominado Conselho ou Tribunal de Contas dos Municípios (RTJ 135/457, Rel. Min.
OCTAVIO GALLOTTI - ADI 445/DF, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA), incumbido de auxiliar as Câmaras Municipais no
exercício de seu poder de controle externo (CF, art. 31, § 1º).
- Esses Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios - embora qualificados como órgãos estaduais (CF, art. 31,
§ 1º) - atuam, onde tenham sido instituídos, como órgãos auxiliares e de cooperação técnica das Câmaras de
Vereadores.
- A prestação de contas desses Tribunais de Contas dos Municípios, que são órgãos estaduais (CF, art. 31, § 1º), há
de se fazer, por isso mesmo, perante o Tribunal de Contas do próprio Estado, e não perante a Assembléia
Legislativa do Estado-membro. Prevalência, na espécie, da competência genérica do Tribunal de Contas do Estado
(CF, art. 71, II, c/c o art. 75).
SUCESSÃO E SUBSTITUIÇÃO DO PREFEITO E DO VICE-PREFEITO DO MUNICÍPIO.
- Não cabe, ao Estado-membro, sob pena de frontal transgressão à autonomia constitucional do Município,
disciplinar, ainda que no âmbito da própria Carta Política estadual, a ordem de vocação das autoridades municipais,
quando configuradas situações de vacância ou de impedimento cuja ocorrência justifique a sucessão ou a
substituição nos cargos de Prefeito e/ou de Vice-Prefeito do Município.
A matéria pertinente à sucessão e à substituição do Prefeito e do Vice-Prefeito inclui-se, por efeito de sua natureza
mesma, no domínio normativo da Lei Orgânica promulgada pelo próprio Município.
- Não se reveste de validade jurídico-constitucional, por ofensiva aos postulados da autonomia do Município (CF,
69
arts. 29 e 30) e da separação de poderes (CF, art. 2º c/c o art. 95, parágrafo único, I), a norma, que, embora
inscrita na Constituição do Estado-membro, atribui, indevidamente, ao Juiz de Direito da comarca, que é autoridade
estadual, a condição de substituto eventual do Prefeito Municipal.
* noticiado no Informativo 362
MS N. 25.460-DF
RELATOR: MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: CONSTITUCIONAL. SERVIDOR PÚBLICO. VANTAGEM DEFERIDA POR SENTENÇA JUDICIAL TRANSITADA
EM JULGADO. TRIBUNAL DE CONTAS: DETERMINAÇÃO NO SENTIDO DA EXCLUSÃO DA VANTAGEM. COISA
JULGADA: OFENSA. CF, ART. 5º, XXXVI.
I. - Vantagem pecuniária incorporada aos proventos de aposentadoria de servidor público, por força de decisão
judicial transitada em julgado: não pode o Tribunal de Contas, em caso assim, determinar a supressão de tal
vantagem, por isso que a situação jurídica coberta pela coisa julgada somente pode ser modificada pela via da ação
rescisória.
II. - Precedentes do Supremo Tribunal Federal.
III. - Mandado de segurança deferido.
Rcl N. 2.224-SP
RELATOR: MIN. SEPÚLVEDA PERTENCE
EMENTA: Reclamação: procedência: usurpação da competência do STF (CF, art. 102, I, a).
Ação civil pública em que a declaração de inconstitucionalidade com efeitos erga omnes não é posta como causa de
pedir, mas, sim, como o próprio objeto do pedido, configurando hipótese reservada à ação direta de
inconstitucionalidade de leis federais, da privativa competência originária do Supremo Tribunal.
Rcl N. 2.636-RJ
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
EMENTA: Reclamação. 2. Alegação de descumprimento da decisão proferida no HC 81769. 3. Pena. Dupla
valoração. Internacionalidade do delito considerado no cálculo da pena base e como causa especial de aumento. 4.
Correção levada a efeito pelo juiz sentenciante, que excluiu da fundamentação da pena base a internacionalidade,
contudo, manteve o mesmo quantum. 5. Reclamação improcedente. 6. Concessão de habeas corpus de ofício para
que se proceda à nova dosimetria da pena-base, ante a impossibilidade desta ser igual à inicialmente glosada.
* noticiado no Informativo 400
HC N. 86.565-SP
RELATOR: MIN. SEPÚLVEDA PERTENCE
EMENTA: I. Habeas Corpus: incompetência do Supremo Tribunal.
Não cabe ao Supremo Tribunal conhecer originariamente de questões suscitadas pelo impetrante - majoração da
pena-base e aumento decorrente de qualificadoras - que não foram antes submetidas ao Superior Tribunal de
Justiça.
II. Sentença condenatória: fixação do regime inicial de cumprimento de pena com base em circunstâncias judiciais
desfavoráveis: fundamentação idônea.
1. Malgrado invocada a gravidade abstrata do delito, ainda que, equivocadamente, a título de “uma maior
fundamentação”, não é dado dissociar o tópico atinente à fixação do regime daquele que, precedentemente,
justificara a fixação da pena acima do mínimo legal e ao qual se remete a sentença.
2. Não é o habeas corpus a via própria para aferir, in concreto, da ponderação dessas circunstâncias pelas
instâncias de mérito.
HC N. 86.751-CE
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
70
EMENTA: Habeas Corpus. 2. Homicídio qualificado. 3. Alegação de ausência dos requisitos para decretação da prisão
preventiva. 4. Ordem devidamente fundamentada. A revelia nos processos do Tribunal do Júri justifica a decretação
da prisão cautelar para garantia da instrução criminal (CPP, art. 312). 5. Primariedade e bons antecedentes não
afastam a prisão cautelar. Precedentes. 6. Indeferimento da ordem.
* noticiado no Informativo 412
RE N. 411.998-SE
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
EMENTA: Recurso extraordinário. 2. Adicional de etapa alimentar. Extensão aos militares inativos. Impossibilidade.
Verba de natureza indenizatória. Inexistência de caráter genérico. 3. Recurso extraordinário conhecido e provido.
* noticiado no Informativo 403
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais aprofundada do pensamento do Tribunal,
divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
É que, para que não subsista a proteção deferida pelo art. 8º, VIII, da Constituição, torna-se necessário que o
empregador comprove a ocorrência de situação configuradora de força maior, apta a afastar a possibilidade de
incidência da mencionada garantia constitucional.
Tal, porém, não sucedeu na espécie, como resulta claro dos acórdãos emanados tanto do E. TRT/8ª Região (fls.
172) quanto do E. Tribunal Superior do Trabalho (fls. 412), cabendo destacar, no ponto, a decisão proferida pelo
órgão de cúpula da Justiça do Trabalho, quando, ao examinar a controvérsia ora em análise, pôs em evidência a
circunstância – extremamente relevante – de que a mera extinção do estabelecimento do empregador, “sem
comprovação de motivação de ordem técnica, econômica ou financeira” (fls. 412), não basta para liberar a empresa
“do pagamento de uma indenização compensatória” (fls. 412).
Não cabe, agora, ao Supremo Tribunal Federal, em sede recursal extraordinária, reexaminar questão de fato -
soberanamente decidida pelo Tribunal ora recorrido (RTJ 147/330, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – RTJ 153/1019, Rel.
Min. MARCO AURÉLIO – AI 278.646-AgR/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.) -, para, em função dessa análise,
que supõe discussão sobre matéria de caráter eminentemente probatório (inadmissível no âmbito do apelo
extremo), reconhecer demonstrada a ocorrência de fatores de ordem técnica, econômica e/ou financeira que o E.
Tribunal Superior do Trabalho reputou não comprovados (fls. 412).
Sendo assim, e pelas razões expostas, nego provimento ao presente agravo de instrumento, eis que se revela
inviável o recurso extraordinário a que ele se refere.
Publique-se.
Brasília, 19 de dezembro de 2005.
Ministro CELSO DE MELLO
Relator
*decisão publicada no DJU de 10.2.2006
73
Informativo STF
Brasília, 1º a 3 de fevereiro de 2006 - Nº 414.
Este Informativo, elaborado a partir de notas tomadas nas sessões de julgamento das Turmas e do Plenário, contém resumos não-oficiais de
decisões proferidas pelo Tribunal. A fidelidade de tais resumos ao conteúdo efetivo das decisões, embora seja uma das metas perseguidas neste
trabalho, somente poderá ser aferida após a sua publicação no Diário da Justiça.
SUMÁRIO
Plenário
Reclamação e Recurso Extraordinário Retido
Reclamação: Deferimento de Liminar em ADI e Efeito Vinculante - 1
Reclamação: Deferimento de Liminar em ADI e Efeito Vinculante - 2
1ª Turma
2ª Turma
Clipping do DJ
Transcrições
Direito à vida e à saúde - Pessoa carente - Fornecimento gratuito de medicamentos - Dever constitucional do Poder Público (RE 393175/RS)
Homoafetividade - União entre pessoas do mesmo sexo - Qualificação como entidade familiar (ADI 3300 MC/DF)
PLENÁRIO
Reclamação e Recurso Extraordinário Retido
O Tribunal, por maioria, negou provimento a agravo regimental interposto contra decisão que negara seguimento
a reclamação ajuizada contra acórdão do TRF da 4ª Região que, admitindo recurso extraordinário, determinara sua
retenção com base no art. 542, § 3º, do CPC (“Art. 542. ... § 3o O recurso extraordinário, ou o recurso especial,
quando interpostos contra decisão interlocutória em processo de conhecimento, cautelar, ou embargos à execução
ficará retido nos autos e somente será processado se o reiterar a parte, no prazo para a interposição do recurso
contra a decisão final, ou para as contra-razões.”). Pretendia o reclamante o afastamento da aplicação da regra do
aludido dispositivo com a outorga de efeito suspensivo até o julgamento do recurso extraordinário interposto contra
acórdão proferido em agravo de instrumento que mantivera decisão denegatória de pedido de tutela antecipada em
ação ordinária de anulação de lançamento de créditos fiscais. Salientando-se que a reclamação não serve para
corrigir decisões eventualmente contrárias à jurisprudência genérica da Corte e que, no caso, o reclamante não
especificara em que sentido restara configurada a usurpação da competência do Supremo, nem apontara nenhuma
decisão desatendida pelo Tribunal a quo, entendeu-se não observados os pressupostos de admissibilidade da
reclamação (CF: “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição,
cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: ... l) a reclamação para a preservação de sua competência e
garantia da autoridade de suas decisões;”). Vencidos os Ministros Marco Aurélio e Sepúlveda Pertence que, por
considerar usurpada a competência do Supremo para apreciar a matéria versada no extraordinário, davam
provimento ao regimental.
Rcl 3800 AgR/PR, rel. Min. Ellen Gracie, 2.2.2006. (Rcl-3800)
O Min. Eros Grau, relator, não conheceu do regimental em face da ausência de impugnação ao fundamento central
da decisão agravada, qual seja, a de que o efeito vinculante é conferido pela Lei 9.868/99 somente às decisões
concessivas de medida liminar. Ressaltou, ainda, que o pedido da reclamação volta-se contra a sentença proferida
pelo juízo federal e não contra o acórdão do TJDF, que transitara em julgado em data anterior ao ajuizamento da
reclamatória, havendo de incidir, no caso, o Enunciado da Súmula 734 da Corte (“Não cabe reclamação quando já
houver transitado em julgado o ato judicial que se alega tenha desrespeitado decisão do Supremo Tribunal
Federal.”). Em divergência, o Min. Nelson Jobim, deu provimento ao agravo para restaurar a decisão pela qual
deferira a liminar na reclamação para suspender a eficácia das decisões proferidas pelo juízo federal, ao fundamento
de que, com o indeferimento da liminar na ADI, há a presunção da constitucionalidade da lei impugnada,
considerado o reconhecimento da implausibilidade do pedido formulado. O julgamento foi suspenso com o pedido
de vista do Min. Gilmar Mendes.
Rcl 2121 AgR-AgR/DF, rel. Min. Eros Grau, 2.2.2005. (Rcl-2121)
PRIMEIRA TURMA
Não houve sessão ordinária da Primeira Turma.
SEGUNDA TURMA
C L I P P I N G D O D J - 3 de fevereiro de 2006
ADI N. 2.733-ES
RELATOR: MIN. EROS GRAU
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI N. 7.304/02 DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO. EXCLUSÃO DAS MOTOCICLETAS DA RELAÇÃO DE VEÍCULOS SUJEITOS AO PAGAMENTO DE
PEDÁGIO. CONCESSÃO DE DESCONTO, AOS ESTUDANTES, DE CINQUENTA POR CENTO SOBRE O
VALOR DO PEDÁGIO. LEI DE INICIATIVA PARLAMENTAR. EQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO DOS
CONTRATROS CELEBRADOS PELA ADMINISTRAÇÃO. VIOLAÇÃO. PRINCÍPIO DA HARMONIA ENTRE OS
PODERES. AFRONTA.
1. A lei estadual afeta o equilíbrio econômico-financeiro do contrato de concessão de obra pública, celebrado pela
Administração capixaba, ao conceder descontos e isenções sem qualquer forma de compensação.
2. Afronta evidente ao princípio da harmonia entre os poderes, harmonia e não separação, na medida em que o
Poder Legislativo pretende substituir o Executivo na gestão dos contratos administrativos celebrados.
3. Pedido de declaração de inconstitucionalidade julgado procedente.
* noticiado no Informativo 407
ADI N. 3.055-PR
RELATOR: MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRÂNSITO. VEÍCULOS: LEI 11.766/97 DO ESTADO DO PARANÁ:
INCONSTITUCIONALIDADE. CF, ART. 22, XI.
I. - Legislação sobre trânsito: competência privativa federal: CF, art. 22, XI.
II. - Lei 11.766, de 1997, do Estado do Paraná, que torna obrigatório a qualquer veículo automotor transitar
permanentemente com os faróis acesos nas rodovias do Estado do Paraná, impondo a pena de multa aos que
descumprirem o preceito legal: inconstitucionalidade, porque a questão diz respeito ao trânsito.
III. - ADI julgada procedente.
* noticiado no Informativo 410
Inq N. 1.326-RO
RELATOR: MIN. CEZAR PELUSO
EMENTAS: 1. PRESCRIÇÃO CRIMINAL. Prazo. Pretensão punitiva. Denúncia contra deputado federal. Oferecimento
durante a vigência da redação original do art. 53 da Constituição da República. Solicitação de licença à Câmara dos
Deputados e sobrestamento do feito. Despacho do Ministro Relator. Suspensão do curso da prescrição. Demora na
apreciação do pedido por falta de cópias do inquérito. Irrelevância. Licença indeferida. Impedimento jurídico ao
curso do processo penal. Suficiência. Superveniência da Emenda Constitucional nº 35/2001. Retomada do fluxo do
prazo. Prescrição não consumada da ação penal. Preliminar repelida. Até o advento da Emenda Constitucional nº
35/2001, reputava-se suspenso o curso da prescrição da pretensão punitiva desde a data do despacho do Ministro
Relator que solicitava licença para instauração de ação penal contra membro do Congresso Nacional.
2. AÇÃO PENAL. Propositura contra Deputado Federal. Crime de corrupção ativa, em concurso de pessoas.
Materialidade comprovada. Indícios suficientes de autoria. Art. 333, cc. art. 29, ambos do CP. Descrição do fato
correspondente ao tipo penal. Denúncia apta. Elemento subjetivo do tipo. Impossibilidade de análise prévia. Matéria
por apreciar no curso da instrução. Denúncia recebida. Aplicação do art. 41 do CPP. Se a denúncia, alicerçada em
elementos do inquérito, contém a descrição clara e objetiva do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias e a
classificação do delito, possibilitando a ampla defesa do réu, deve ser recebida, sem prejuízo da apuração do
elemento subjetivo do tipo no curso da ação penal.
* noticiado no Informativo 407
MS N. 24.785-DF
RELATOR P/ O ACÓRDÃO: MIN. JOAQUIM BARBOSA
EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. TOMADA DE CONTAS ESPECIAL NO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO.
DETERMINAÇÃO DE RENOVAÇÃO DO PROCEDIMENTO DE LICITAÇÃO. PRORROGAÇÃO DO PRAZO DE VIGÊNCIA
DO CONTRATO. DISCRICIONARIEDADE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. INEXISTÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E
CERTO. SEGURANÇA DENEGADA.
Ato do Tribunal de Contas da União que determinou à Administração Pública a realização de nova licitação.
Prorrogação do vigente contrato por prazo suficiente para que fosse realizada nova licitação. A escolha do período a
ser prorrogado, realizada de acordo com o disposto no contrato celebrado, insere-se no âmbito de
discricionariedade da Administração. Segurança denegada.
HC N. 84.560-PR
RELATOR: MIN. EROS GRAU
EMENTA: HABEAS CORPUS. JÚRI. QUESITOS. REDAÇÃO DEFICIENTE E INVERSÃO: INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE
PROTESTO EM ATA. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL: IMPROCEDÊNCIA.
1. Apesar de impertinente a indagação, no primeiro quesito, de que o paciente promoveu asfixia por
estrangulamento de sua esposa, fazendo uso de objeto semelhante a uma corda, não é correta a afirmação de que
os quesitos das circunstâncias agravantes antecederam aos das circunstâncias atenuantes, até porque, além de a
potencialidade lesiva do objeto, nas circunstâncias, ser a de causar asfixia, os jurados responderam negativamente
ao quesito genérico das atenuantes.
2. Tendo o juiz explicitado aos jurados o significado da adjetivação penal “motivo torpe” e indagado se
necessitavam de mais esclarecimentos, sem que nenhum deles tenha se manifestado, é de concluir-se que o
Conselho de Sentença não foi levado a erro ou perplexidade. Matéria, ademais, preclusa por falta de protesto em
ata.
3. O acórdão proferido na apelação não foi omisso quanto às teses deduzidas nas razões recursais, vez que foram
efetivamente examinadas tanto nele quanto nos respectivos embargos de declaração.
Ordem denegada. * noticiado no Informativo 401
HC N. 85.200-RJ
RELATOR: MIN. EROS GRAU
EMENTA: HABEAS CORPUS. EXTORSÃO MEDIANTE SEQÜESTRO. PACIENTE PRESA EM SÃO PAULO, RESPONDENDO
À AÇÃO PENAL NO RIO DE JANEIRO. CONDENAÇÃO. CERCEAMENTO DE DEFESA: AUSÊNCIA DA RÉ NOS ATOS
PROCESSUAIS. IMPOSSIBILIDADE DE ENTREVISTAR-SE COM A DEFENSORA NOMEADA EM OUTRA UNIDADE DA
FEDERAÇÃO.
1. Paciente condenada por crime de extorsão mediante seqüestro. Ação penal em curso no Rio de Janeiro. Paciente
presa em São Paulo. Ausência de contato com o processo em que figurou como ré. Impossibilidade de indicar
testemunhas e de entrevistar-se com a Defensora Pública designada no Rio de Janeiro. Cerceamento de defesa.
2. A falta de recursos materiais a inviabilizar as garantias constitucionais dos acusados em processo penal é
inadmissível, na medida em que implica disparidade dos meios de manifestação entre a acusação e a defesa, com
graves reflexos em um dos bens mais valiosos da vida, a liberdade.
3. A circunstância de que a paciente poderia contatar a Defensora Pública por telefone e cartas, aventada no ato
impugnado, não tem a virtude de sanar a nulidade alegada, senão o intuito de contorná-la, resultando franco
prejuízo à defesa, sabido que a comunicação entre presos e pessoas alheias ao sistema prisional é restrita ou
proibida.
Ordem concedida.
* noticiado no Informativo 408
HC N. 86.102-SP
RELATOR: MIN. EROS GRAU
EMENTA: HABEAS CORPUS. CRIME DE IMPRENSA. INCOMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL. COMPETÊNCIA
TERRITORIAL: DEFINIÇÃO.
1. O artigo 61 da Lei n. 9.099/95 é categórico ao dispor que não compete aos Juizados Especiais o julgamento dos
casos em que a lei preveja procedimento especial. É a hipótese dos crimes tipificados na Lei n. 5.250/67.
2. A competência territorial é definida em razão do local onde é realizada a impressão do jornal ou periódico (Lei de
Imprensa, artigo 42).
Ordem concedida.
* noticiado no Informativo 403
HC N. 87.027-RJ
RELATOR: MIN. SEPÚLVEDA PERTENCE
EMENTA: Defesa: prova testemunhal produzida mediante carta precatória.
1. É da jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal que, à luz do art. 222, do C.Pr.Penal, para a produção da
prova testemunhal em comarca diversa, basta seja a defesa intimada da expedição da carta precatória, incumbindo-
lhe o ônus de informar-se, no juízo deprecado, da data designada para o ato. Precedentes.
2. Se não encontrada a testemunha, é imprescindível que a defesa tenha ciência inequívoca do retorno da carta
precatória, não cabendo reclamar prova do prejuízo, que se materializa com a condenação advinda. Precedente (HC
77
76.062, 2ª T., Jobim, RTJ 179/297).
* noticiado no Informativo 413
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais aprofundada do pensamento do Tribunal,
divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
RE 393175/RS*
RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO
EMENTA: PACIENTES COM ESQUIZOFRENIA PARANÓIDE E DOENÇA MANÍACO-DEPRESSIVA CRÔNICA, COM
EPISÓDIOS DE TENTATIVA DE SUICÍDIO. PESSOAS DESTITUÍDAS DE RECURSOS FINANCEIROS. DIREITO À VIDA
E À SAÚDE. NECESSIDADE IMPERIOSA DE SE PRESERVAR, POR RAZÕES DE CARÁTER ÉTICO-JURÍDICO, A
INTEGRIDADE DESSE DIREITO ESSENCIAL. FORNECIMENTO GRATUITO DE MEDICAMENTOS INDISPENSÁVEIS EM
FAVOR DE PESSOAS CARENTES. DEVER CONSTITUCIONAL DO ESTADO (CF, ARTS. 5º, “CAPUT”, E 196).
PRECEDENTES (STF). RECONHECIDO E PROVIDO.
DECISÃO: O presente recurso extraordinário busca reformar decisão proferida pelo E. Tribunal de Justiça do Estado
do Rio Grande do Sul, consubstanciada em acórdão assim ementado (fls. 94):
“CONSTITUCIONAL. DIREITO À VIDA. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS. FALTA DE PROVA IDÔNEA QUANTO
AO RISCO DE VIDA. IMPOSSIBILIDADE.
1. É desnecessário, para acudir à via jurisdicional, esgotar ou pleitear na instância administrativa. O fornecimento
gratuito de medicamentos, pelo Estado, exige que o remédio seja excepcional e indispensável à vida do paciente.
2. APELAÇÃO DESPROVIDA. SENTENÇA REFORMADA.” (grifei)
Entendo assistir plena razão aos recorrentes, que são irmãos, pois o desacolhimento de sua pretensão recursal
poderá gerar resultado inaceitável sob a perspectiva constitucional do direito à vida e à saúde. É que - considerada
a irreversibilidade, no momento presente, dos efeitos danosos provocados pelas patologias que afetam os
recorrentes (que são portadores de esquizofrenia paranóide e de doença maníaco-depressiva crônica) - a ausência
de capacidade financeira que os aflige impede-lhes, injustamente, o acesso ao tratamento inadiável e ao
fornecimento dos medicamentos a que têm direito e que se revelam essenciais à preservação da integridade do seu
estado de higidez mental e de sua própria vida, porque os seus antecedentes pessoais registram episódios de
tentativa de suicídio.
Na realidade, o cumprimento do dever político-constitucional consagrado no art. 196 da Lei Fundamental do Estado,
consistente na obrigação de assegurar, a todos, a proteção à saúde, representa fator, que, associado a um
imperativo de solidariedade social, impõe-se ao Poder Público, qualquer que seja a dimensão institucional em que
atue no plano de nossa organização federativa.
A impostergabilidade da efetivação desse dever constitucional autoriza o acolhimento do pleito recursal ora deduzido
na presente causa.
Tal como pude enfatizar em decisão por mim proferida no exercício da Presidência do Supremo Tribunal Federal, em
contexto assemelhado ao da presente causa (Pet 1.246/SC), entre proteger a inviolabilidade do direito à vida e à
saúde, que se qualifica como direito subjetivo inalienável assegurado a todos pela própria Constituição da República
(art. 5º, “caput” e art. 196), ou fazer prevalecer, contra essa prerrogativa fundamental, um interesse financeiro e
secundário do Estado, entendo - uma vez configurado esse dilema - que razões de ordem ético-jurídica impõem ao
julgador uma só e possível opção: aquela que privilegia o respeito indeclinável à vida e à saúde humanas.
Cumpre não perder de perspectiva que o direito público subjetivo à saúde representa prerrogativa jurídica
indisponível assegurada à generalidade das pessoas pela própria Constituição da República. Traduz bem jurídico
constitucionalmente tutelado, por cuja integridade deve velar, de maneira responsável, o Poder Público, a quem
incumbe formular - e implementar - políticas sociais e econômicas que visem a garantir, aos cidadãos, o acesso
universal e igualitário à assistência médico-hospitalar.
O caráter programático da regra inscrita no art. 196 da Carta Política - que tem por destinatários todos os entes
políticos que compõem, no plano institucional, a organização federativa do Estado brasileiro (JOSÉ CRETELLA
JÚNIOR, “Comentários à Constituição de 1988”, vol. VIII/4332-4334, item n. 181, 1993, Forense Universitária) - não
pode converter-se em promessa constitucional inconseqüente, sob pena de o Poder Público, fraudando justas
expectativas nele depositadas pela coletividade, substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento de seu
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impostergável dever, por um gesto irresponsável de infidelidade governamental ao que determina a própria Lei
Fundamental do Estado.
Nesse contexto, incide, sobre o Poder Público, a gravíssima obrigação de tornar efetivas as prestações de saúde,
incumbindo-lhe promover, em favor das pessoas e das comunidades, medidas - preventivas e de recuperação -,
que, fundadas em políticas públicas idôneas, tenham por finalidade viabilizar e dar concreção ao que prescreve, em
seu art. 196, a Constituição da República.
O sentido de fundamentalidade do direito à saúde - que representa, no contexto da evolução histórica dos direitos
básicos da pessoa humana, uma das expressões mais relevantes das liberdades reais ou concretas - impõe ao Poder
Público um dever de prestação positiva que somente se terá por cumprido, pelas instâncias governamentais, quando
estas adotarem providências destinadas a promover, em plenitude, a satisfação efetiva da determinação ordenada
pelo texto constitucional.
Vê-se, desse modo, que, mais do que a simples positivação dos direitos sociais - que traduz estágio necessário ao
processo de sua afirmação constitucional e que atua como pressuposto indispensável à sua eficácia jurídica (JOSÉ
AFONSO DA SILVA, “Poder Constituinte e Poder Popular”, p. 199, itens ns. 20/21, 2000, Malheiros) -, recai, sobre o
Estado, inafastável vínculo institucional consistente em conferir real efetividade a tais prerrogativas básicas, em
ordem a permitir, às pessoas, nos casos de injustificável inadimplemento da obrigação estatal, que tenham elas
acesso a um sistema organizado de garantias instrumentalmente vinculadas à realização, por parte das entidades
governamentais, da tarefa que lhes impôs a própria Constituição.
Não basta, portanto, que o Estado meramente proclame o reconhecimento formal de um direito. Torna-se essencial
que, para além da simples declaração constitucional desse direito, seja ele integralmente respeitado e plenamente
garantido, especialmente naqueles casos em que o direito - como o direito à saúde - se qualifica como prerrogativa
jurídica de que decorre o poder do cidadão de exigir, do Estado, a implementação de prestações positivas impostas
pelo próprio ordenamento constitucional.
Cumpre assinalar, finalmente, que a essencialidade do direito à saúde fez com que o legislador constituinte
qualificasse, como prestações de relevância pública, as ações e serviços de saúde (CF, art. 197), em ordem a
legitimar a atuação do Ministério Público e do Poder Judiciário naquelas hipóteses em que os órgãos estatais,
anomalamente, deixassem de respeitar o mandamento constitucional, frustrando-lhe, arbitrariamente, a eficácia
jurídico-social, seja por intolerável omissão, seja por qualquer outra inaceitável modalidade de comportamento
governamental desviante.
Todas essas razões levam-me a acolher a pretensão recursal deduzida nos presentes autos, ainda mais se se
considerar que o acórdão ora recorrido diverge, frontalmente, da orientação jurisprudencial que o Supremo Tribunal
Federal firmou no exame da matéria em causa (RTJ 171/326-327, Rel. Min. ILMAR GALVÃO – AI 462.563/RS, Rel.
Min. CARLOS VELLOSO – AI 486.816-AgR/RJ, Rel. Min. CARLOS VELLOSO – AI 532.687/MG, Rel. Min. EROS GRAU –
AI 537.237/PE, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE - RE 195.192/RS, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – RE 198.263/RS, Rel.
Min. SYDNEY SANCHES – RE 237.367/RS, Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA – RE 242.859/RS, Rel. Min. ILMAR GALVÃO
– RE 246.242/RS, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA – RE 279.519/RS, Rel. Min. NELSON JOBIM – RE 297.276/SP, Rel.
Min. CEZAR PELUSO – RE 342.413/PR, Rel. Min. ELLEN GRACIE – RE 353.336/RS, Rel. Min. CARLOS BRITTO – AI
570.455/RS, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.):
“PACIENTE COM HIV/AIDS - PESSOA DESTITUÍDA DE RECURSOS FINANCEIROS - DIREITO À VIDA E À SAÚDE -
FORNECIMENTO GRATUITO DE MEDICAMENTOS - DEVER CONSTITUCIONAL DO PODER PÚBLICO (CF, ARTS. 5º,
CAPUT, E 196) - PRECEDENTES (STF) - RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO.
O DIREITO À SAÚDE REPRESENTA CONSEQÜÊNCIA CONSTITUCIONAL INDISSOCIÁVEL DO DIREITO À VIDA.
- O direito público subjetivo à saúde representa prerrogativa jurídica indisponível assegurada à generalidade das
pessoas pela própria Constituição da República (art. 196). Traduz bem jurídico constitucionalmente tutelado, por
cuja integridade deve velar, de maneira responsável, o Poder Público, a quem incumbe formular - e implementar -
políticas sociais e econômicas idôneas que visem a garantir, aos cidadãos, inclusive àqueles portadores do vírus HIV,
o acesso universal e igualitário à assistência farmacêutica e médico-hospitalar.
- O direito à saúde - além de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas - representa
conseqüência constitucional indissociável do direito à vida. O Poder Público, qualquer que seja a esfera institucional
de sua atuação no plano da organização federativa brasileira, não pode mostrar-se indiferente ao problema da
saúde da população, sob pena de incidir, ainda que por censurável omissão, em grave comportamento
inconstitucional.
A INTERPRETAÇÃO DA NORMA PROGRAMÁTICA NÃO PODE TRANSFORMÁ-LA EM PROMESSA CONSTITUCIONAL
INCONSEQÜENTE.
- O caráter programático da regra inscrita no art. 196 da Carta Política - que tem por destinatários todos os entes
políticos que compõem, no plano institucional, a organização federativa do Estado brasileiro - não pode converter-se
em promessa constitucional inconseqüente, sob pena de o Poder Público, fraudando justas expectativas nele
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depositadas pela coletividade, substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento de seu impostergável dever, por um
gesto irresponsável de infidelidade governamental ao que determina a própria Lei Fundamental do Estado.
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA DE MEDICAMENTOS A PESSOAS CARENTES.
- O reconhecimento judicial da validade jurídica de programas de distribuição gratuita de medicamentos a pessoas
carentes, inclusive àquelas portadoras do vírus HIV/AIDS, dá efetividade a preceitos fundamentais da Constituição
da República (arts. 5º, caput, e 196) e representa, na concreção do seu alcance, um gesto reverente e solidário de
apreço à vida e à saúde das pessoas, especialmente daquelas que nada têm e nada possuem, a não ser a
consciência de sua própria humanidade e de sua essencial dignidade. Precedentes do STF.”
(RTJ 175/1212-1213, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Sendo assim, pelas razões expostas, e acolhendo, ainda, o parecer da douta Procuradoria-Geral da República (fls.
131/132), conheço e dou provimento ao presente recurso extraordinário (CPC, art. 557, § 1º - A), em ordem a
julgar procedente a ação ordinária ajuizada pela parte ora recorrente, restabelecendo, desse modo, por inteiro, a r.
sentença proferida pelo magistrado estadual de primeira instância (fls. 64/69).
Publique-se.
Brasília, 1º de fevereiro de 2006.
Ministro CELSO DE MELLO - Relator
* decisão pendente de publicação
Homoafetividade - União entre pessoas do mesmo sexo - Qualificação como entidade familiar
ADI 3300 MC/DF*
RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO
EMENTA: UNIÃO CIVIL ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO. ALTA RELEVÂNCIA SOCIAL E JURÍDICO-
CONSTITUCIONAL DA QUESTÃO PERTINENTE ÀS UNIÕES HOMOAFETIVAS. PRETENDIDA QUALIFICAÇÃO DE TAIS
UNIÕES COMO ENTIDADES FAMILIARES. DOUTRINA. ALEGADA INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 1º DA LEI Nº
9.278/96. NORMA LEGAL DERROGADA PELA SUPERVENIÊNCIA DO ART. 1.723 DO NOVO CÓDIGO CIVIL (2002),
QUE NÃO FOI OBJETO DE IMPUGNAÇÃO NESTA SEDE DE CONTROLE ABSTRATO. INVIABILIDADE, POR TAL
RAZÃO, DA AÇÃO DIRETA. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA, DE OUTRO LADO, DE SE PROCEDER À FISCALIZAÇÃO
NORMATIVA ABSTRATA DE NORMAS CONSTITUCIONAIS ORIGINÁRIAS (CF, ART. 226, § 3º, NO CASO).
DOUTRINA. JURISPRUDÊNCIA (STF). NECESSIDADE, CONTUDO, DE SE DISCUTIR O TEMA DAS UNIÕES ESTÁVEIS
HOMOAFETIVAS, INCLUSIVE PARA EFEITO DE SUA SUBSUNÇÃO AO CONCEITO DE ENTIDADE FAMILIAR: MATÉRIA
A SER VEICULADA EM SEDE DE ADPF?
DECISÃO: A Associação da Parada do Orgulho dos Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros de São Paulo e a
Associação de Incentivo à Educação e Saúde de São Paulo - que sustentam, de um lado, o caráter fundamental do
direito personalíssimo à orientação sexual e que defendem, de outro, a qualificação jurídica, como entidade familiar,
das uniões homoafetivas - buscam a declaração de inconstitucionalidade do art. 1º da Lei n 9.278/96, que, ao
regular o § 3º do art. 226 da Constituição, reconheceu, unicamente, como entidade familiar, “a união estável entre
o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de
constituição de família” (grifei).
As entidades autoras da presente ação direta apóiam a sua pretensão de inconstitucionalidade na alegação de que a
norma ora questionada (Lei nº 9.278/96, art. 1º), em cláusula impregnada de conteúdo discriminatório, excluiu,
injustamente, do âmbito de especial proteção que a Lei Fundamental dispensa às comunidades familiares, as uniões
entre pessoas do mesmo sexo pautadas por relações homoafetivas.
Impõe-se examinar, preliminarmente, se se revela cabível, ou não, no caso, a instauração do processo objetivo de
fiscalização normativa abstrata. É que ocorre, na espécie, circunstância juridicamente relevante que não pode deixar
de ser considerada, desde logo, pelo Relator da causa.
Refiro-me ao fato de que a norma legal em questão, tal como positivada, resultou derrogada em face da
superveniência do novo Código Civil, cujo art. 1.723, ao disciplinar o tema da união estável, reproduziu, em seus
aspectos essenciais, o mesmo conteúdo normativo inscrito no ora impugnado art. 1º da Lei nº 9.278/96.
Uma simples análise comparativa dos dispositivos ora mencionados, considerada a identidade de seu conteúdo
material, evidencia que o art. 1.723 do Código Civil (Lei nº 10.406/2002) efetivamente derrogou o art. 1º da Lei nº
9.278/96:
Código Civil (2002) “Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher,
configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.”
Lei nº 9.278/96 “Art. 1º. É reconhecida como entidade familiar a convivência duradoura, pública e contínua de um
homem e uma mulher, estabelecida com objetivo de constituição de família.”
Extremamente significativa, a tal respeito, a observação de CARLOS ROBERTO GONÇALVES (“Direito Civil Brasileiro
– Direito de Família”, vol. VI/536, item n. 3, 2005, Saraiva):
80
“Restaram revogadas as mencionadas Leis n. 8.971/94 e n. 9.278/96 em face da inclusão da matéria no âmbito do
Código Civil de 2002, que fez significativa mudança, inserindo o título referente à união estável no Livro de Família e
incorporando, em cinco artigos (1.723 a 1.727), os princípios básicos das aludidas leis, bem como introduzindo
disposições esparsas em outros capítulos quanto a certos efeitos, como nos casos de obrigação alimentar (art.
1.694).” (grifei)
A ocorrência da derrogação do art. 1º da Lei nº 9.278/96 – também reconhecida por diversos autores (HELDER
MARTINEZ DAL COL, “A União Estável perante o Novo Código Civil”, “in” RT 818/11-35, 33, item n. 8; RODRIGO DA
CUNHA PEREIRA, “Comentários ao Novo Código Civil”, vol. XX/3-5, 2004, Forense) – torna inviável, na espécie,
porque destituído de objeto, o próprio controle abstrato concernente ao preceito normativo em questão. É que a
regra legal ora impugnada na presente ação direta já não mais vigorava quando da instauração deste processo de
fiscalização concentrada de constitucionalidade.
O reconhecimento da inadmissibilidade do processo de fiscalização normativa abstrata, nos casos em que o
ajuizamento da ação direta tenha sido precedido – como sucede na espécie – da própria revogação do ato estatal
que se pretende impugnar, tem o beneplácito da jurisprudência desta Corte Suprema (RTJ 105/477, Rel. Min. NÉRI
DA SILVEIRA – RTJ 111/546, Rel. Min. SOARES MUÑOZ – ADI 784/SC, Rel. Min. MOREIRA ALVES):
“Constitucional. Representação de inconstitucionalidade. Não tem objeto, se, antes do ajuizamento da argüição,
revogada a norma inquinada de inconstitucional.”
(RTJ 107/928, Rel. Min. DECIO MIRANDA - grifei)
“(...) também não pode ser a presente ação conhecida (...), tendo em vista que a jurisprudência desta Corte já
firmou o princípio (...) de que não é admissível a apreciação, em juízo abstrato, da constitucionalidade ou da
inconstitucionalidade de norma jurídica revogada antes da instauração do processo de controle (...).”
(RTJ 145/136, Rel. Min. MOREIRA ALVES - grifei)
Cabe indagar, neste ponto, embora esse pleito não tenha sido deduzido pelas entidades autoras, se se mostraria
possível, na espécie, o ajuizamento de ação direta de inconstitucionalidade proposta com o objetivo de questionar a
validade jurídica do próprio § 3º do art. 226 da Constituição da República.
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou-se no sentido de não admitir, em sede de fiscalização
normativa abstrata, o exame de constitucionalidade de uma norma constitucional originária, como o é aquela
inscrita no § 3º do art. 226 da Constituição:
“- A tese de que há hierarquia entre normas constitucionais originárias dando azo à declaração de
inconstitucionalidade de umas em face de outras é incompossível com o sistema de Constituição rígida.
- Na atual Carta Magna, ‘compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição’ (artigo
102, ‘caput’), o que implica dizer que essa jurisdição lhe é atribuída para impedir que se desrespeite a Constituição
como um todo, e não para, com relação a ela, exercer o papel de fiscal do Poder Constituinte originário, a fim de
verificar se este teria, ou não, violado os princípios de direito suprapositivo que ele próprio havia incluído no texto
da mesma Constituição.
- Por outro lado, as cláusulas pétreas não podem ser invocadas para sustentação da tese da inconstitucionalidade
de normas constitucionais inferiores em face de normas constitucionais superiores, porquanto a Constituição as
prevê apenas como limites ao Poder Constituinte derivado ao rever ou ao emendar a Constituição elaborada pelo
Poder Constituinte originário, e não como abarcando normas cuja observância se impôs ao próprio Poder
Constituinte originário com relação às outras que não sejam consideradas como cláusulas pétreas, e, portanto,
possam ser emendadas. Ação não conhecida, por impossibilidade jurídica do pedido.” (RTJ 163/872-873, Rel. Min.
MOREIRA ALVES, Pleno - grifei)
Vale assinalar, ainda, a propósito do tema, que esse entendimento – impossibilidade jurídica de controle abstrato de
constitucionalidade de normas constitucionais originárias – reflete-se, por igual, no magistério da doutrina (GILMAR
FERREIRA MENDES, “Jurisdição Constitucional”, p. 178, item n. 2, 4ª ed., 2004, Saraiva; ALEXANDRE DE MORAES,
“Constituição do Brasil Interpretada”, p. 2.333/2.334, item n. 1.8, 2ª ed., 2003, Atlas; OLAVO ALVES FERREIRA,
“Controle de Constitucionalidade e seus Efeitos”, p. 42, item n. 1.3.2.1, 2003, Editora Método; GUILHERME PEÑA DE
MORAES, “Direito Constitucional – Teoria da Constituição”, p. 192, item n. 3.1, 2003, Lumen Juris; PAULO
BONAVIDES, “Inconstitucionalidade de Preceito Constitucional”, “in” “Revista Trimestral de Direito Público”, vol.
7/58-81, Malheiros; JORGE MIRANDA, “Manual de Direito Constitucional”, tomo II/287-288 e 290-291, item n. 72,
2ª ed., 1988, Coimbra Editora).
Não obstante as razões de ordem estritamente formal, que tornam insuscetível de conhecimento a presente ação
direta, mas considerando a extrema importância jurídico-social da matéria – cuja apreciação talvez pudesse
viabilizar-se em sede de argüição de descumprimento de preceito fundamental -, cumpre registrar, quanto à tese
sustentada pelas entidades autoras, que o magistério da doutrina, apoiando-se em valiosa hermenêutica
construtiva, utilizando-se da analogia e invocando princípios fundamentais (como os da dignidade da pessoa
humana, da liberdade, da autodeterminação, da igualdade, do pluralismo, da intimidade, da não-discriminação e da
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busca da felicidade), tem revelado admirável percepção do alto significado de que se revestem tanto o
reconhecimento do direito personalíssimo à orientação sexual, de um lado, quanto a proclamação da legitimidade
ético-jurídica da união homoafetiva como entidade familiar, de outro, em ordem a permitir que se extraiam, em
favor de parceiros homossexuais, relevantes conseqüências no plano do Direito e na esfera das relações sociais.
Essa visão do tema, que tem a virtude de superar, neste início de terceiro milênio, incompreensíveis resistências
sociais e institucionais fundadas em fórmulas preconceituosas inadmissíveis, vem sendo externada, como
anteriormente enfatizado, por eminentes autores, cuja análise de tão significativas questões tem colocado em
evidência, com absoluta correção, a necessidade de se atribuir verdadeiro estatuto de cidadania às uniões estáveis
homoafetivas (LUIZ EDSON FACHIN, “Direito de Família –Elementos críticos à luz do novo Código Civil brasileiro”, p.
119/127, item n. 4, 2003, Renovar; LUIZ SALEM VARELLA/IRENE INNWINKL SALEM VARELLA, “Homoerotismo no
Direito Brasileiro e Universal – Parceria Civil entre Pessoas do mesmo Sexo”, 2000, Agá Juris Editora, ROGER RAUPP
RIOS, “A Homossexualidade no Direito”, p. 97/128, item n. 4, 2001, Livraria do Advogado Editora – ESMAFE/RS;
ANA CARLA HARMATIUK MATOS, “União entre Pessoas do mesmo Sexo: aspectos jurídicos e sociais”, p. 161/162,
Del Rey, 2004; VIVIANE GIRARDI, “Famílias Contemporâneas, Filiação e Afeto: a possibilidade jurídica da Adoção
por Homossexuais”, Livraria do Advogado Editora, 2005; TAÍSA RIBEIRO FERNANDES, “Uniões Homossexuais:
efeitos jurídicos”, Editora Método, São Paulo; JOSÉ CARLOS TEIXEIRA GIORGIS, “A Natureza Jurídica da Relação
Homoerótica”, “in” “Revista da AJURIS” nº 88, tomo I, p. 224/252, dez/2002, v.g.).
Cumpre referir, neste ponto, a notável lição ministrada pela eminente Desembargadora MARIA BERENICE DIAS
(“União Homossexual: O Preconceito & a Justiça”, p. 71/83 e p. 85/99, 97, 3ª ed., 2006, Livraria do Advogado
Editora), cujas reflexões sobre o tema merecem especial destaque:
“A Constituição outorgou especial proteção à família, independentemente da celebração do casamento, bem como
às famílias monoparentais. Mas a família não se define exclusivamente em razão do vínculo entre um homem e uma
mulher ou da convivência dos ascendentes com seus descendentes. Também o convívio de pessoas do mesmo sexo
ou de sexos diferentes, ligadas por laços afetivos, sem conotação sexual, cabe ser reconhecido como entidade
familiar. A prole ou a capacidade procriativa não são essenciais para que a convivência de duas pessoas mereça a
proteção legal, descabendo deixar fora do conceito de família as relações homoafetivas. Presentes os requisitos de
vida em comum, coabitação, mútua assistência, é de se concederem os mesmos direitos e se imporem iguais
obrigações a todos os vínculos de afeto que tenham idênticas características.
Enquanto a lei não acompanha a evolução da sociedade, a mudança de mentalidade, a evolução do conceito de
moralidade, ninguém, muito menos os juízes, pode fechar os olhos a essas novas realidades. Posturas
preconceituosas ou discriminatórias geram grandes injustiças. Descabe confundir questões jurídicas com questões
de caráter moral ou de conteúdo meramente religioso.
Essa responsabilidade de ver o novo assumiu a Justiça ao emprestar juridicidade às uniões extraconjugais. Deve,
agora, mostrar igual independência e coragem quanto às uniões de pessoas do mesmo sexo. Ambas são relações
afetivas, vínculos em que há comprometimento amoroso. Assim, impositivo reconhecer a existência de um gênero
de união estável que comporta mais de uma espécie: união estável heteroafetiva e união estável homoafetiva.
Ambas merecem ser reconhecidas como entidade familiar. Havendo convivência duradoura, pública e contínua entre
duas pessoas, estabelecida com o objetivo de constituição de família, mister reconhecer a existência de uma união
estável. Independente do sexo dos parceiros, fazem jus à mesma proteção.
Ao menos até que o legislador regulamente as uniões homoafetivas - como já fez a maioria dos países do mundo
civilizado -, incumbe ao Judiciário emprestar-lhes visibilidade e assegurar-lhes os mesmos direitos que merecem as
demais relações afetivas. Essa é a missão fundamental da jurisprudência, que necessita desempenhar seu papel de
agente transformador dos estagnados conceitos da sociedade. (...).” (grifei)
Vale rememorar, finalmente, ante o caráter seminal de que se acham impregnados, notáveis julgamentos, que,
emanados do E. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul e do E. Tribunal Regional Federal da 4ª Região,
acham-se consubstanciados em acórdãos assim ementados:
“Relação homoerótica – União estável – Aplicação dos princípios constitucionais da dignidade humana e da
igualdade – Analogia – Princípios gerais do direito – Visão abrangente das entidades familiares – Regras de inclusão
(...) – Inteligência dos arts. 1.723, 1.725 e 1.658 do Código Civil de 2002 – Precedentes jurisprudenciais. Constitui
união estável a relação fática entre duas mulheres, configurada na convivência pública, contínua, duradoura e
estabelecida com o objetivo de constituir verdadeira família, observados os deveres de lealdade, respeito e mútua
assistência. Superados os preconceitos que afetam ditas realidades, aplicam-se, os princípios constitucionais da
dignidade da pessoa, da igualdade, além da analogia e dos princípios gerais do direito, além da contemporânea
modelagem das entidades familiares em sistema aberto argamassado em regras de inclusão. Assim, definida a
natureza do convívio, opera-se a partilha dos bens segundo o regime da comunhão parcial. Apelações desprovidas.”
(Apelação Cível 70005488812, Rel. Des. JOSÉ CARLOS TEIXEIRA GIORGIS, 7ª Câmara Civil - grifei)
“(...) 6. A exclusão dos benefícios previdenciários, em razão da orientação sexual, além de discriminatória, retira da
82
proteção estatal pessoas que, por imperativo constitucional, deveriam encontrar-se por ela abrangidas. 7. Ventilar-
se a possibilidade de desrespeito ou prejuízo a alguém, em função de sua orientação sexual, seria dispensar
tratamento indigno ao ser humano. Não se pode, simplesmente, ignorar a condição pessoal do indivíduo,
legitimamente constitutiva de sua identidade pessoal (na qual, sem sombra de dúvida, se inclui a orientação sexual),
como se tal aspecto não tivesse relação com a dignidade humana. 8. As noções de casamento e amor vêm
mudando ao longo da história ocidental, assumindo contornos e formas de manifestação e institucionalização
plurívocos e multifacetados, que num movimento de transformação permanente colocam homens e mulheres em
face de distintas possibilidades de materialização das trocas afetivas e sexuais. 9. A aceitação das uniões
homossexuais é um fenômeno mundial – em alguns países de forma mais implícita – com o alargamento da
compreensão do conceito de família dentro das regras já existentes; em outros de maneira explícita, com a
modificação do ordenamento jurídico feita de modo a abarcar legalmente a união afetiva entre pessoas do mesmo
sexo. 10. O Poder Judiciário não pode se fechar às transformações sociais, que, pela sua própria dinâmica, muitas
vezes se antecipam às modificações legislativas. 11. Uma vez reconhecida, numa interpretação dos princípios
norteadores da constituição pátria, a união entre homossexuais como possível de ser abarcada dentro do conceito
de entidade familiar e afastados quaisquer impedimentos de natureza atuarial, deve a relação da Previdência para
com os casais de mesmo sexo dar-se nos mesmos moldes das uniões estáveis entre heterossexuais, devendo ser
exigido dos primeiros o mesmo que se exige dos segundos para fins de comprovação do vínculo afetivo e
dependência econômica presumida entre os casais (...), quando do processamento dos pedidos de pensão por
morte e auxílio-reclusão.”
(Revista do TRF/4ª Região, vol. 57/309-348, 310, Rel. Des. Federal João Batista Pinto Silveira - grifei)
Concluo a minha decisão. E, ao fazê-lo, não posso deixar de considerar que a ocorrência de insuperável razão de
ordem formal (esta ADIN impugna norma legal já revogada) torna inviável a presente ação direta, o que me leva a
declarar extinto este processo (RTJ 139/53 – RTJ 168/174-175), ainda que se trate, como na espécie, de processo
de fiscalização normativa abstrata (RTJ 139/67), sem prejuízo, no entanto, da utilização de meio processual
adequado à discussão, “in abstracto” – considerado o que dispõe o art. 1.723 do Código Civil –, da relevantíssima
tese pertinente ao reconhecimento, como entidade familiar, das uniões estáveis homoafetivas.
Arquivem-se os presentes autos.
Publique-se. Brasília, 03 de fevereiro de 2006.
Ministro CELSO DE MELLO - Relator
* decisão pendente de publicação
"Quando estive na CCJ, recebi aplausos e condenações. Os aplausos são daqueles que estão próximo de sair e as
condenações são daqueles que, estando na fila, terão de esperar o momento para chegar lá. São opiniões que
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considero, mas isso não me incomoda. Os meus queridos amigos do primeiro grau, por exemplo, que me têm dado
apoio, são contrários à emenda", disse.
E prosseguiu: "Porém, temos que pensar e agir no interesse público da maioria do povo brasileiro. A mim mesmo,
quando apresentei essa posição, saíram artigos me condenando. As pessoas no Brasil ainda padecem dessa
doutrina política em que os pontos de vistas são confundidos com interesses pessoais. Eu estou muito à vontade;
quanto a mim, já disse que não vou ficar lá até os 70 anos de idade", afirmou o ministro Vidigal.
A audiência na comissão contou também com participação do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU)
Ubiratan Aguiar, que defendeu a mesma posição do presidente do STJ. Durante sua exposição, o presidente do
STJ apresentou uma relação de juristas que passaram pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e que foram
aposentados ao completar 70 anos de idade.
A emenda constitucional que tramita nessa comissão tem por finalidade alterar dispositivo constitucional e, como
conseqüência, aumentar o limite de aposentadoria de 70 para 75 anos de idade. O deputado João Castelo (PSDB-
MA), relator da matéria na comissão especial, foi instado pelo ministro Vidigal a apresentar relatório substitutivo
aprovando a emenda.
A reunião da comissão especial ficou sob o comando do deputado Jader Barbalho (PMDB-PA). Antes do
encerramento da audiência, Barbalho abriu espaço para a intervenção do líder do PV na Câmara, Sarney Filho.
(MA).
"Eu me inscrevi para registrar a minha enorme satisfação em poder participar dessa reunião com o ministro
Ubiratan Aguiar e com o ministro Vidigal, colega de turma da UNB e da militância política. Uma pessoa que,
quando chegou, democratizou as ações do Judiciário, colocou o tribunal para trabalhar em dois turnos. Levou a
questão da Justiça para ser discutida, democratizou e deu transparência ao Judiciário. Ele é um dos grandes
responsáveis por essa inflexão", disse o deputado Sarney Filho.
E prosseguiu: "Gerar benefícios para a população, que é objeto das decisões da Justiça, e também para a
democracia, que depende de uma Justiça que vai ao encontro dos anseios da sociedade. Parabenizar também o
relator João Castelo. É agora relator de uma matéria importante. Devemos estender a todos essa possibilidade de
se aposentar aos 75 anos de idade."
Ao término da reunião, o presidente da comissão disse que, na próxima audiência pública, o presidente do
Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Nelson Jobim, irá comparecer para fazer uma explanação sobre o tema.
Roberto Cordeiro - (61)3319 8268
No caso concreto, conforme acentuou o Tribunal de origem, a Fazenda Nacional recolheu "o valor do tributo em
atraso, acrescido de juros de mora e correção monetária, antes de qualquer procedimento fiscal". Ademais, não há
qualquer referência no sentido de ter sido realizada prévia declaração dos débitos. Desse modo, é de ser
confirmada a decisão que reconheceu a denúncia espontânea.
Processo: Resp 737328
Kena Kelly - (61) 3319-8595
O TRF da 3ª Região negou o pedido de P. R. de A., afirmando que a Justiça Federal é competente para processar
e julgar o delito de divulgação de imagens pornográficas de crianças e adolescentes pela internet, nos casos em
que, iniciada sua execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente,
nos termos do artigo 109, inciso V, da Constituição da República. O Tribunal afirmou que a alegação da atipicidade
dos fatos imputados a P. R. de A. não ficou comprovada nos autos.
De acordo com o TRF da 3ª Região, a quebra do sigilo dos dados cadastrais do acusado junto à provedora de
acesso à internet não configura constrangimento ilegal, uma vez que determinada por autoridade judicial com base
na necessidade de apuração da autoria dos fatos investigados em inquérito policial.
P. R. de A. interpôs, então, recurso no STJ. Ao julgar o caso, o relator do processo, ministro Hélio Quaglia Barbosa,
argumentou que o trancamento do inquérito policial em sede de recurso em habeas-corpus é medida excepcional,
somente admitida quando constatada a atipicidade da conduta ou a negativa da autoria.
Além de concordar com a decisão do TRF da 3ª Região e negar o pedido do acusado, o ministro recomendou a
realização imediata da perícia requerida pelo Ministério Público ao Juízo da 4ª Vara Criminal Federal de São Paulo,
sob pena de trancamento da ação penal.
Processo: RHC 18116
Andréia Castro - (61) 3319-8256
Segunda Seção
COMPETÊNCIA. SINDICATO. ACORDO JUDICIAL.
Um sindicato, na qualidade de substituto processual, ajuizou reclamação trabalhista e firmou acordo
judicial. Sucede que o substituído reputa esse acordo prejudicial a seus interesses, o que o levou a
impetrar a presente ação de indenização de danos morais e materiais. Dessarte, é evidente não se
tratar de relação trabalhista entre as partes no bojo desta ação, mas sim de suposto prejuízo pela
indevida atuação do sindicato. Diante disso, a Seção entendeu competente para processar e julgar a
ação o juízo de Direito e não o trabalhista. CC 53.874-MG, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes
Direito, julgado em 8/3/2006.
Terceira Seção
MS. ANISTIADO. REPARAÇÃO ECONÔMICA. MONTANTE RETROATIVO.
Cuida-se de mandado de segurança em que se alega o descumprimento parcial da portaria do
ministro da Justiça que declarou o impetrante anistiado político. Malgrado implantada a reparação
econômica com a inclusão do anistiado em folha de pagamento, não houve, ainda, o adimplemento
dos atrasados, que se tornaram devidos em razão do caráter retroativo atribuído ao ato declaratório.
Num primeiro momento, inclinou-se a Seção a interpretar tal pretensão como se cobrança fosse, não
152
se podendo satisfazê-la mediante impetração de madado de segurança. Um dos julgados foi
submetido à apreciação do STF e lá se concluiu que se tratava não de simples cobrança de atrasados,
mas, sim, da necessidade de ver cumprida, em toda sua extensão, portaria editada por autoridade
competente. A questão passou a ser decidida na Seção, sob o novo enfoque. O Min. Relator entendeu
que, também no presente caso, está configurada a omissão atribuída ao ministro do Estado da
Defesa. Nos termos da Lei n. 10.559/2002, dispunha tal autoridade de sessenta dias para
providenciar a inclusão do anistiado em folha de pagamento e realizar a quitação do montante
retroativo, o que não foi cumprido, incorrendo em omissão. Trata-se de omissão que se renova
continuamente, daí ser despropositada a alegação de se ter operado a decadência do direito à
impetração. Também a inexistência dos recursos financeiros necessários ao adimplemento integral da
obrigação é questão já superada à vista da existência de crédito específico para o pagamento dos
anistiados. Com esse entendimento, a Seção concedeu a segurança a fim de determinar à autoridade
coatora que implemente a reparação econômica do montante retroativo. MS 11.238-DF, Rel. Min.
Nilson Naves, julgado em 8/3/2006.
Primeira Turma
ARREMATAÇÃO. VÍCIO. DESCONSTITUIÇÃO. AÇÃO PRÓPRIA.
A Turma entendeu que, considerando a expedição de carta de arrematação com transcrição no
registro imobiliário e posterior transferência a terceiro, somente em ação própria cabe a
desconstituição da arrematação concluída (CPC, art. 694). Por ser incabível, resta prejudicado o
pedido de nulidade do processo executivo na forma de petição nos próprios autos da ação fiscal.
Precedentes citados: REsp 426.106-MG, DJ 11/10/2004; AgRg no REsp 165.228-SP, DJ 25/9/2000, e
REsp 36.397-CE, DJ 29/11/1993. REsp 577.363-SC, Rel. Min. Denise Arruda, julgado em
7/3/2006.
Segunda Turma
AG. CÓPIAS NÃO-ASSINADAS. REGULARIZAÇÃO.
Trata-se de agravo de instrumento (art. 544, CPC) interposto com o intuito de fazer subir o recurso
especial, mas, na formação do instrumento, a cópia da petição de interposição do REsp e o
substabelecimento do mandato para tal fim não estavam devidamente assinados pelo causídico.
Porém, nos autos do processo principal, as peças originais foram devidamente assinadas. Assim
sendo, a Turma, ao prosseguir o julgamento, por maioria, entendeu que a instrumentalidade das
formas não pode sacrificar o direito maior a que serve o processo. A flexibilização na aplicação das
normas formais tem o intuito de salvaguardar o direito material, ainda mais quando não houver
prejuízo para a parte contrária e o ato alcançar sua finalidade. Logo, deu-se provimento ao agravo e
determinou-se a subida do REsp. AgRg no Ag 680.480-SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em
7/3/2006.
Terceira Turma
CONTRATO. PERMUTA. INCORPORAÇÃO. ART. 920 DO CC/1916.
A impugnação em torno do art. 920 do CC/1916 tem força apenas para que seja observado o limite
nele previsto. REsp 742.475-SP, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, julgado em
7/3/2006.
Quarta Turma
INDENIZAÇÃO. DANO MATERIAL E MORAL. CORRENTISTA.
Trata-se de retiradas de dinheiro da conta-corrente sem o conhecimento do correntista (autor),
ocasionando a devolução de cheques sem provisão e despesas de tarifas bancárias. Tudo, sem que o
banco, ora recorrente, prestasse qualquer esclarecimento ao autor. Só após ele levar o caso ao
conhecimento do Judiciário é que o banco tardiamente lhe teria ressarcido parcialmente o valor
retirado da sua conta-corrente. Conforme ressaltou o Min. Relator, as instâncias ordinárias
155
concluíram pela conduta ilícita do banco e, com base no CDC, reconheceram o direito à indenização
por dano moral e material. Isso posto, a Turma, por concordar com esses fundamentos, não
conheceu do recurso. REsp 651.086-RJ, Rel. Min. Jorge Scartezzini, julgado em 7/3/2006.
Quinta Turma
LIVRAMENTO CONDICIONAL. MANIFESTAÇÃO. CONSELHO PENITENCIÁRIO.
Após a Lei n. 10.792/2003, que deu nova redação ao art. 112 da LEP, a concessão de livramento
condicional prescinde de manifestação prévia do conselho penitenciário. Fica ao critério do juízo de
execuções dispensá-la ou não. HC 46.426-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 7/3/2006.
Sexta Turma
PRISÃO DOMICILIAR. REGIME FECHADO.
O paciente, ora com mais de 77 anos de idade, foi condenado a sete anos de reclusão pelo crime de
atentado violento ao pudor, pena a ser cumprida em regime integralmente fechado. Recolhido desde
2004, agora pleiteia sua prisão domiciliar em razão de seu estado de saúde: padeceria de sérias
156
doenças cardíacas e precisaria de tratamento contínuo impossível de ser ministrado no
estabelecimento prisional em que se encontra recolhido, além de necessitar usar fraldas descartáveis.
É certo que a jurisprudência deste Superior Tribunal tem admitido, excepcionalmente, a concessão da
prisão domiciliar aos condenados em cumprimento de pena em regime fechado, porém quando
comprovada plenamente sua necessidade. No caso, o gerente do presídio de fato afirma que, naquele
estabelecimento, não há local adequado ao tratamento, mas também deixa claro que o paciente pode
ser atendido nas unidades de saúde da região, como já sucedeu, o que afastaria a concessão de tal
benesse. Assim, perfilando esse entendimento, a Turma, ao prosseguir o julgamento, denegou, por
maioria, a ordem. O Min. Nilson Naves, vencido juntamente com Min. Paulo Medina, concedia a
ordem, em suma, em razão de que, na hipótese, a pena imposta perdeu seu caráter de reeducacão.
Precedentes citados: HC 40.272-MS, DJ 26/9/2005; HC 41.935-MG, DJ 23/5/2005, e HC 33.777-RJ,
DJ 8/11/2004. HC 49.627-SC, Rel. Min. Hélio Quáglia Barbosa, julgado em 7/3/2006.
comissoes.permanentes@stj.gov.br
Terceira Seção
158
COMPETÊNCIA. CONFLITO. JUÍZO FEDERAL. JUIZADO ESPECIAL.
A Turma, ao prosseguir o julgamento, reafirmou, por maioria, que é deste Superior Tribunal a
competência para dirimir o conflito em questão, envolvendo juízo federal e juizado especial federal,
ambos sediados no mesmo estado-membro. Anotou que, sob o aspecto jurisdicional, o juizado
subordina-se à Turma Recursal e não ao TRF, tal como o juízo federal. Por fim, declarou competente
o juizado especial federal, em suma, porque o valor da causa não ultrapassa o limite de sessenta
salários mínimos (Lei n. 10.259/2001, art. 3º) e também por não se cuidar de impugnação a ato
administrativo. CC 47.516-MG, Rel. Min. Nilson Naves, julgado em 22/2/2006.
Primeira Turma
REPETIÇÃO DE INDÉBITO. JUROS MORATÓRIOS.
A atual jurisprudência deste Superior Tribunal é no sentido de que, em se tratando de repetição de
indébito, devem ser aplicados juros moratórios ao percentual de 1% ao mês. Precedente citado: REsp
714.650-MG, DJ 14/11/2005. AgRg no Ag 718.214-RJ, Rel. Min. José Delgado, julgado em
21/2/2006.
Terceira Turma
EXIBIÇÃO. DOCUMENTO. EXTRATO BANCÁRIO.
Cuida-se de ação de exibição de documentos que busca a apresentação de extratos bancários
referentes a conta de poupança. Diante disso, não há como a instituição financeira condicionar a
exibição ao pagamento da respectiva tarifa bancária, ao argumento de que já remetera mensalmente
esses extratos ao autor. REsp 653.895-PR, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, julgado
em 21/2/2006.
Quarta Turma
AÇÃO REVISIONAL. COMPETÊNCIA. FORO DE ELEIÇÃO.
O foro competente para processar e julgar ação revisional de benefícios previdenciários contra a Previ
é o foro de sua sede no Rio de Janeiro, independentemente de figurar no pólo passivo o Banco do
Brasil S/A, com sede na capital federal, uma vez que essa não é o foro de domicílio dos autores, que
moram em diversos estados da Federação, nem o lugar de celebração do contrato ou de sua
execução (CPC, art. 100, IV, a). É facultado à demandante residente em Sobradinho-DF requerer o
desmembramento do feito em momento oportuno. Precedentes citados: REsp 331.783-DF, DJ
17/6/2002, e REsp 707.136-DF, DJ 30/5/2005. REsp 780.342-DF, Rel. Min. Jorge Scartezzini,
julgado em 21/2/2006.
Sexta Turma
ACESSO. AUTOS. DEFENSOR. PRODUÇÃO. PROVAS.
Não caracteriza cerceamento de defesa se o advogado do investigado teve acesso aos autos,
conhecendo as provas existentes contra ele. Ademais, o acesso às provas se dá após sua produção e
não enquanto elas estão sendo coligidas, pois não pode o defensor interferir nas investigações ou
participar delas. Contudo, na decretação da prisão preventiva, não houve suficiente fundamentação.
Assim, a Turma concedeu em parte a ordem para revogar a prisão imposta ao paciente. Precedentes
citados: HC 29.098-PB, DJ 3/11/2003, e HC 38.361-MT, DJ 3/10/2005. HC 47. 704-SP, Rel. Min.
Nilson Naves, julgado em 21/2/2006.
MP. ILEGITIMIDADE.
O Ministério Público não tem legitimidade para impetrar mandado de segurança com o objetivo de
conferir efeito suspensivo a agravo em execução, uma vez que, em observância ao princípio do
162
devido processo legal, não pode o órgão ministerial restringir o direito do acusado além dos limites
conferidos pela legislação. Ademais, o art. 197 da Lei de Execuções Penais estabelece que agravo em
execução não possui efeito suspensivo. Precedentes citados: RMS 15.675-SP, DJ 1º/7/2004; RMS
18.516-RS, DJ 18/10/2004, e HC 23.852-SP, DJ 5/4/2004. HC 45.297-SP, Rel. Min. Hélio Quaglia
Barbosa, julgado em 21/2/2006.
comissoes.permanentes@stj.gov.br
Primeira Turma
CRÉDITO-PRÊMIO. IPI. REMESSA. PRIMEIRA SEÇÃO.
A Turma entendeu remeter à Primeira Seção o julgamento do recurso referente a crédito-prêmio de
IPI. REsp 652.379-RS, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, em 16/2/2006.
Segunda Turma
163
JUROS DE MORA. TAXA SELIC.
A partir de 1º/1/1996, os juros de mora passaram a ser devidos com base na taxa Selic, consoante
dispõe o art. 39, § 4º, da Lei n. 9.250/1995, não mais tendo aplicação o art. 161 c/c o art. 167,
parágrafo único, do CTN. A Turma, ao prosseguir o julgamento, negou provimento ao recurso.
Precedentes citados: EREsp 291.257-SC, DJ 6/9/2004; EREsp 399.497-SC, DJ 7/3/2005; EREsp
425.709-SP, DJ 7/3/2005; REsp 653.324-MG, DJ 27/9/2004, e REsp 542.164-RS, DJ 3/11/2003.
REsp 286.465-MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 14/2/2006.
Terceira Turma
ECA. ADOÇÃO PLENA. DESTITUIÇÃO. PÁTRIO PODER.
A questão consiste em saber se, em caso de adoção plena, antes se faz necessária a prévia
destituição do pátrio poder mediante procedimento próprio. Note-se que, no caso, o pedido de
adoção foi feito por quem já detinha a guarda da menor gêmea (o irmão permaneceu com a mãe
biológica) e não houve pedido explícito nos autos quanto à desconstituição do pátrio poder. Há
também o inconformismo da mãe biológica contra essa adoção, que foi reconhecida no Tribunal a
quo, o qual ainda afirmou ser dispensável a destituição prévia porque a adoção automaticamente
extingue o pátrio poder. Isso posto, a Turma, ao prosseguir o julgamento, por maioria, considerou
que a perda do pátrio poder deve ser decretada em procedimento próprio autônomo como cautela
imposta, pela gravidade da medida a ser tomada (perda do vínculo da criança com a família natural),
com repercussões na sua vida sócio-afetiva, sob pena de serem desrespeitados os princípios do
contraditório e do devido processo legal (ECA, arts. 24, 32, 39 a 52, destacando-se o art. 45 e ainda
os arts. 155 a 163). Ao final, deu provimento ao recurso para julgar a autora do pedido de adoção
carecedora do direito à ação por impossibilidade jurídica processual do pedido, mas ressalvou que a
situação da criança não seja alterada e esta permaneça na guarda da autora. REsp 283.092-SC,
Rel. originário Min. Humberto Gomes de Barros, Rel. para acórdão Min. Castro Filho,
julgado em 14/2/2006.
Quarta Turma
RESPONSABILIDADE CIVIL. PENSÃO. AMPUTAÇÃO. DEDOS. RETORNO. TRABALHO.
O trabalhador, ao manipular uma prensa carente de peça essencial a sua segurança, sofreu a redução
de 30% de sua capacidade laborativa em conseqüência da perda de vários dedos da mão. Sucede
que retornou ao trabalho ao exercer sua antiga função, com melhor remuneração, em várias
empresas, até na mesma em que havia sofrido a lesão irreversível. Esse fato levou o Tribunal a quo,
apesar de majorar a verba correspondente aos danos morais e estéticos, a negar seu pleito de
indenização (pensionamento) referente ao dano patrimonial (lucros cessantes), ao fundamento, em
suma, da falta de prejuízo. Diante desse panorama, ao retomar o julgamento e lastrear-se na
jurisprudência do STJ, a Turma firmou que a melhor interpretação a ser dada ao art. 1.539 do
CC/1916 não permite a vinculação da redução da capacidade laborativa aos salários percebidos pelo
trabalhador após o sinistro. Anotou ser evidente a depreciação de sua aptidão para o trabalho, o que
o leva a despender maior esforço físico e mental, maior sacrifício, para execução das tarefas que lhe
são habituais, fato que, no futuro, pode acarretar-lhe decesso. Por fim, conheceu do recurso e aplicou
o direito à espécie (art. 257 do RISTJ), ao fixar o pensionamento mensal e vitalício da vítima em 30%
do salário que recebia à época do infortúnio, acrescidos de juros moratórios de 6% ao ano e correção
monetária, além de determinar a constituição de capital para a garantia de pagamento nos termos da
recente Súm. n. 313-STJ. O Min. Jorge Scartezzini, em minucioso voto-vista, no qual discorre sobre
as classificações dos danos, acompanhou a Turma, porém ressalvou seu posicionamento pessoal de
que, no caso, há que se comprovarem, efetivamente, os danos patrimoniais ou econômicos surgidos
da ofensa à integridade corporal para que seja cabível a indenização, em razão da configuração de
dano material emergente (v.g. perda de emprego, rebaixamento salarial, alijamento da função), pois
não se deve ressarcir a redução eventual da capacidade laboral, pretensamente, a título de lucro
cessante, já que das amputações não se pode concluir a certeza da perda de trabalho ou redução
166
salarial, ou, em realidade, a título de dano hipotético, diante da suposição de que haverá maior
sacrifício no cumprimento dos trabalhos, visto que a lesão física, em si mesma considerada, já
constitui dano estético e, como tal, deve ser remunerada. Precedentes citados: REsp 402.833-SP, DJ
7/4/2003; REsp 478.796-RJ, DJ 16/2/2004, e REsp 588.649-RS, DJ 8/11/2004. REsp 536.140-RS,
Rel. Min. Barros Monteiro, julgado em 14/2/2006.
Quinta Turma
CONCURSO. POLÍCIA MILITAR. ALTURA MÍNIMA. EXIGÊNCIA. EDITAL.
A Turma proveu o recurso reafirmando nos termos do voto da Min. Relatora, que, embora a vedação
da exigência de idade, sexo e altura em edital de concurso público não seja absoluta em razão das
peculiaridades inerentes à exigência do cargo em disputa, a orientação firmada do STF é no sentido
de que o critério discriminatório esteja expressamente previsto em lei regulamentadora da carreira.
Outrossim, em se tratando de mandado de segurança preventivo, não tem a decadência com fulcro
no disposto no art. 18 da Lei n. 1.533/1951. Precedentes citados do STF: AgRg no Ag 518.863-DF, DJ
11/11/2005, e AI 480.510-DF, DJ 24/6/2004; do STJ: REsp 765.024-SP, DJ 12/12/2005, e AgRg no
Ag 554.654-DF, DJ 3/5/2004. RMS 20.637-SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 16/2/2006.
Sexta Turma
INTERNET. SALA DE BATE-PAPO. AUSÊNCIA. SIGILO.
Consta dos autos que a Interpol interceptou conversa do acusado em “sala de bate-papo” na internet,
no momento em que foi noticiada a transmissão de imagens pornográficas de crianças e
adolescentes. Esse fato resultou na instauração de inquérito policial que, ao final da investigação
policial, concluiu pela ausência de provas quanto à autoria do recorrente, porém o MP requereu novas
diligências no material apreendido do paciente. O voto do Min. Relator ressaltou que a conversa na
“sala de bate-papo” da internet não está amparada pelo sigilo das comunicações, pois acontece em
ambiente virtual que é de acesso irrestrito e destinado a conversas informais, assim não houve a
alegada violação. Isso posto, a Turma negou provimento ao pedido de trancamento do inquérito
policial, com a recomendação de que o juízo monocrático determine a imediata realização da perícia
requerida nos computadores apreendidos. RHC 18.116-SP, Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa,
julgado em 16/2/2006.
comissoes.permanentes@stj.gov.br
168
Informativo Nº: 0273
Período: 6 a 10 de fevereiro de 2006.
As notas aqui divulgadas foram colhidas nas sessões de julgamento e elaboradas pela Assessoria das Comissões Permanentes
de Ministros, não consistindo em repositórios oficiais da jurisprudência deste Tribunal.
Primeira Seção
PIS. COMPENSAÇÃO.
Cuida-se de acórdão que admitiu a compensação do PIS tão-somente com parcelas vencidas ou
vincendas dessa contribuição social. O Min. Relator proveu o recurso, aplicando à espécie a Lei n.
10.637/2002. O Min. Castro Meira entendeu que, no caso concreto, deve ser observada a legislação
vigente à época do ajuizamento da ação (Leis ns. 8.383/1991 e 9.430/1996), não sendo possível o
julgamento da causa à luz do direito superveniente, ressalvando-se o direito da parte autora de
proceder à compensação dos créditos pela via administrativa, em conformidade com as normas
posteriores, desde que atendidos os requisitos próprios. Em conseqüência, a lide não pode ser julgada
com base na Lei n. 10.637/2002 – que dispensou a necessidade de requerimento perante a Secretaria
da Receita Federal – se a ação, com pedido de compensação tributária, foi proposta quando ainda
vigente o art. 74 da Lei n. 9.430/1996, em sua redação originária. Com esse entendimento, a Seção,
ao prosseguir o julgamento, negou, por maioria, provimento ao recurso. Precedentes citados: EREsp
434.143-BA, e EREsp 488.992-MG, DJ 7/6/2004. REsp 695.301-MG, Rel. originário Min. José
Delgado, Rel. para acórdão Min. Castro Meira, julgado em 8/2/2006.
Terceira Seção
AÇÃO ORDINÁRIA COLETIVA. SINDICATOS. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. FAZENDA
PÚBLICA. EXECUÇÃO. SENTENÇA.
A Seção, por maioria, rejeitou os embargos ao entendimento de que, nas execuções individuais de
sentença genérica contra a Fazenda Pública, embargadas ou não, proferida em ação ordinária coletiva
movida por sindicato, são devidos os honorários de advogado, afastada a incidência do art. 1º-D da
Lei n. 9.494/1997. Outrossim, independentemente da legitimidade dos sindicatos como substituto
processual para promover a execução de tutela coletiva, cada interessado tem legitimidade para a
liquidação e execução do valor da indenização que lhe é devida individualmente, pelo que
indispensável contratar advogado. Ressalvado o entendimento do Min. Nilson Naves, sustentando
posição pelo não-cabimento dos honorários na tutela coletiva, em execução contra a Fazenda Pública,
quando não embargada. Precedentes citados: REsp 658.155-SC, DJ 15/9/2005; REsp 700.429-PR, DJ
10/10/2005; Ag 672.244-PR, DJ 29/8/2005; EREsp 475.566-PR, DJ 13/9/2004; REsp 465.573-PR, DJ
22/8/2005, e REsp 672.433-RS, DJ 14/11/2005. EREsp 720.839-PR, Rel. Min. Felix Fischer,
julgados em 8/2/2006.
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Primeira Turma
IPTU. REPETIÇÃO. INDÉBITO. INCONSTITUCIONALIDADE. EFEITO EX TUNC.
Em retificação à notícia do REsp 689.040-RJ (v. Informativo n. 272), leia-se: O provimento
jurisdicional de declaração de inconstitucionalidade gera nulidade da norma que, em regra, terá efeito
ex tunc. Pelo princípio do art. 27 da Lei n. 9.868/1999, que pode também ser aplicado em controle
incidental, há casos em que, em circunstâncias excepcionais e para preservar outros valores
constitucionalmente relevantes, o juiz poderá restringir os efeitos do controle de constitucionalidade.
Na hipótese, todavia, reconheceu-se a inconstitucionalidade do tributo IPTU do município do Rio de
Janeiro (art. 67 da Lei municipal n. 691/1984), devendo tal declaração, segundo a jurisprudência do
STJ e do STF, ter eficácia ex tunc e não ex nunc. Precedentes citados do STF: AgRg na AI 440.881-RJ,
DJ 5/8/2005; AgRg na AI 501.706-RJ, DJ 6/5/2005; AgRg na AI 449.535-RJ, DJ 13/5/2005; do STJ:
AgRg no REsp 725.945-RJ, DJ 17/10/2005. REsp 689.040-RJ, Rel. Min. Teori Albino Zavascki,
julgado em 2/2/2006.
Segunda Turma
PRESCRIÇÃO. INDENIZAÇÃO. PARQUE ECOLÓGICO.
O Estado entendeu criar o parque ecológico da Serra do Mar, impondo, como consabido, restrições ao
uso das propriedades particulares. Assim, por via oblíqua, assumiu o ônus de indenizá-las na mesma
proporção das limitações. Isso posto, a Turma, ao prosseguir o julgamento, por maioria, entendeu
que a respectiva ação de desapropriação indireta tem prazo prescricional vintenário. A Min. Eliana
Calmon, em seu voto-vista, aduziu que, na hipótese, o Estado, efetivamente, não retirou a posse da
área do proprietário e que há que se analisar, caso a caso, se havia potencial econômico para
exploração da terra que se tenha por inviabilizada. Entendeu, ainda, que a ação, na hipótese,
assemelha-se à ação reivindicatória, de natureza real, daí o prazo prescricional de vinte anos.
Precedentes citados do STF: RE 109.853-SP, DJ 19/12/1991; RE 73.683-PR, DJ 26/4/1972, e RE
77.177-SP, DJ 11/12/1978. REsp 193.251-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
7/2/2006.
Quarta Turma
RESPONSABILIDADE CIVIL. MANUTENÇÃO. NOME. REGISTRO. PROTEÇÃO. CRÉDITO.
QUITAÇÃO. DÍVIDA.
O banco recorrido responde civilmente por não efetuar, em curto prazo, o pedido de cancelamento do
registro negativo do devedor em serviço de cadastro de proteção ao crédito, quando foi efetuada a
quitação da dívida. Na espécie, é de duzentos e treze reais o valor do cheque que originou a inscrição
e o indevido não-cancelamento. Assim, a Turma conheceu e deu provimento ao recurso e fixou o
valor da indenização por danos morais em quinhentos reais. Precedentes citados: REsp 299.456-SE,
DJ 2/6/2003; REsp 437.234-PB, DJ 29/9/2003, e REsp 292.045-RJ, DJ 8/10/2001. REsp 777.004-
RJ, Rel. Min. Jorge Scartezzini, julgado em 7/2/2006.
Quinta Turma
MS. MAGISTRADO. ESTÁGIO PROBATÓRIO. PROCESSO. VITALICIAMENTO.
O recorrente impetrou mandado de segurança devido à sua exoneração do cargo de magistrado. A
Turma negou provimento ao recurso, ao entendimento de que não configura ilegalidade a participação
no julgamento do mandamus de integrantes do Órgão Especial que concluiu pela exoneração de
magistrado ao analisar o processo de vitaliciamento, pelo motivo de não terem sido os votos desses
integrantes decisivos no julgamento do decisum, haja vista a denegação da ordem por ampla maioria.
Durante o estágio probatório, o magistrado não está sob o abrigo da garantia constitucional da
vitaliciedade, podendo ser exonerado desde que não demonstrados os requisitos próprios para o
exercício da função jurisdicional, tais como idoneidade moral, aptidão, disciplina, assiduidade,
eficiência e outros, circunstância aferível por processo especial de vitaliciamento, assegurado o direito
de defesa prévia. As disposições do art. 27 da Loman são aplicáveis, tão-somente, aos magistrados
possuidores da garantia de vitaliciedade. Precedentes citados: RMS 6.675-MG, DJ 1º/9/1997, e RMS
8.249-PE, DJ 22/6/1998. RMS 18.205-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 7/2/2006.
Sexta Turma
MENOR. CÔMPUTO. TEMPO. TRABALHO RURAL.
Deve ser computado para fins previdenciários o comprovado trabalho rural do menor de 14 anos em
regime de economia familiar. A proibição do trabalho de menores não deve ser interpretada de
maneira a causar-lhes prejuízo. Apesar de tal categoria não estar inserida no rol de segurados
constante do art. 11 da Lei n. 8.213/1991, isso não quer dizer que deva ficar desamparada, negando-
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se-lhe a contagem do tempo de serviço trabalhado no campo. Ademais, a contagem do respectivo
período não implica a declaração da inconstitucionalidade do mencionado dispositivo legal nem sua
aplicação retroativa, porquanto o cômputo decorre, simplesmente, da interpretação sistêmica do
ordenamento jurídico. Com esse entendimento, a Turma negou provimento ao agravo. Precedente
citado: REsp 649.510-SC, DJ 17/12/2004. AgRg no REsp 444.167-RS, Rel. Min. Nilson Naves,
julgado em 9/2/2006.