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TECNOLOGIA SOCIAL
Introdução 12
sumário
Tecnologia Social e suas implicações
1. Tecnologia Social implica compromisso com a transformação social
2. Tecnologia Social implica a criação de um espaço de descoberta de
demandas e necessidades sociais
3. Tecnologia Social implica relevância e eficácia social
4. Tecnologia Social implica sustentabilidade socioambiental e econômica
5. Tecnologia Social implica inovação
6. Tecnologia Social implica organização e sistematização
7. Tecnologia Social implica acessibilidade e apropriação das tecnologias
8. Tecnologia Social implica um processo pedagógico
para todos os envolvidos
9. Tecnologia Social implica o diálogo entre diferentes saberes
10. Tecnologia Social implica difusão e ação educativa
11. Tecnologia Social implica processos participativos de planejamento,
acompanhamento e avaliação
12. Tecnologia Social implica a construção cidadã do processo democrático
Referências bibliográficas 42
Bendita sejas,
poderosa matéria,
evolução irresistível,
realidade sempre nascendo,
que a cada momento fazes
em estilhaços nossos limites
e nos obrigas a procurar
cada vez mais profundamente a verdade.
APRESENTAÇÃO
Uma particularidade dessas ações, metodologias, processos, produtos e servi- objetivo ampliar o debate sobre Ciência, Tecnologia, Inovação e Sociedade. Neste
ços é que são construídos num diálogo profícuo entre o saber acadêmico e uma primeiro número, procuramos explicitar os diversos aspectos envolvidos na
pluralidade de outros saberes, que geralmente reunimos, talvez de maneira sim- Tecnologia Social (TS), inspirando-nos em reflexões construídas em anos de par-
plista, sob a denominação de “saber popular”. As pesquisas são, nestes casos, in- ceria com organizações da sociedade civil brasileira; inspirando-nos também em
teiramente articuladas com a sociedade e se produzem pelo aprendizado mútuo práticas de TS desenvolvidas pelo Instituto de Tecnologia Social (ITS) ou por orga-
de especialistas e, na expressão de Ivan Rocha Neto, dos “protagonistas do dia a nizações parceiras. Nos próximos números, trataremos de temas como as estraté-
dia”. Assim, a inclusão já está presente no próprio reconhecimento do direito de gias de TS inseridas em processos de Desenvolvimento Local Participativo e Sus-
todo cidadão de obter e produzir conhecimento e de se autodeterminar. Nessa tentável, Agricultura Familiar, Educação e Ajudas Técnicas/Políticas Assistivas.
dinâmica, elaboram-se mecanismos poderosos para alavancar o processo de É assim que, articulando centenas de pessoas e dezenas de ONGs e com o
transformação social que o País tanto necessita e que pode representar um salto apoio do MCT, o ITS identifica, pesquisa e divulga experiências construídas no
qualitativo nas condições de vida da população. diálogo permanente entre comunidades organizadas e pesquisadores científi-
Ao longo da nossa história, o empenho do Estado brasileiro em adicionar o cos, lideranças populares e universidades. É na atitude dialógica do saber aca -
vetor “social” à produção de Ciência, Tecnologia e Inovação se deveu muito mais dêmico com o saber popular que os diferentes atores sociais aprendem a ser, a
a iniciativas pontuais do que a uma política integrada e continuada de desenvol- conhecer e a fazer, enfrentando os desafios da realidade. E, como diz Elen
vimento social e humano. Os esforços para criar uma infra-estrutura com este Geraldes, “não há retorno possível: ao experimentar um saber plural fecundado
objetivo são bastante recentes e ainda precisam ser ampliados e fortalecidos para pelo cotidiano, a universidade se humaniza... Que os clássicos sejam lidos e que
que correspondam às dimensões de nossas necessidades. Destacam-se a criação, a história seja vivida; sem hierarquias”.
em 2003, da Secis/MCT – Secretaria de Ciência e Tecnologia para a Inclusão Colocar C&T a serviço da vida, fazer acontecer o desenvolvimento social e
Social do Ministério de Ciência e Tecnologia e a sua atuação no apoio a organiza- humano, aproximar os problemas das soluções. Esse é o nosso propósito ao par-
ções da sociedade civil e na difusão de C&T no País. tilhar com vocês este registro de Tecnologia Social, que está aberto a contribui-
Nossa marcha para nos tornarmos capazes de criar um verdadeiro sistema ções, críticas e sugestões. Boa leitura!
de Inovação Social já começou. Precisaremos aceitar o grande desafio de ampliar
práticas e estratégias de C&T para lidar com problemas como: a exclusão social no Irma Passoni
acesso e produção do conhecimento; a fome – mesmo com os avanços consegui- Gerente-executiva do ITS
O Instituto de Tecnologia Social (ITS)
nasce de um desafio: buscar, por
meio de Ciência e Tecnologia (C&T),
soluções foi anterior à aproximação
com a C&T. Naquele momento, já havia
um esforço de compreensão da reali-
te forma: a partir do reconhecimento
de necessidades concretas, colhem-se
os dados sobre a realidade, geram-se
soluções às necessidades e demandas dade complexa que se vivia, mas ainda informações precisas (que são a estru-
da sociedade brasileira, de modo a tor- não se enxergava a centralidade que o turação desses dados de modo a confe-
ná-la mais justa e menos desigual. As conhecimento pode ter no processo de rir-lhes uma função no processo),
injustiças sociais que enfrentamos to- construção de soluções efetivas para os produz-se conhecimento (fazendo
dos os dias exigem ações urgentes e problemas. Alguns momentos impor- convergir as informações numa com-
eficazes para a inclusão social e a solu- tantes marcaram este percurso. Ini- preensão mais completa da realidade e
ção de problemas efetivamente en- cialmente, destaca-se o relatório final de suas possíveis transformações) e,
frentados pela população. É da neces- da Comissão Parlamentar Mista de finalmente, desenvolve-se a inteli-
sidade que procuramos extrair a força Inquérito (CPMI) “Causas e Dimen- gência necessária para alavancar as
de transformação, mas esta só se torna sões do Atraso Tecnológico no Brasil”, transformações. A inteligência é então
possível com o desenvolvimento de presidida pelo senador Mário Covas e compreendida como o conhecimento
uma inteligência que atue no foco dos relatada pela deputada federal Irma com potencial transformador; é ao
problemas e potencialize ao máximo Passoni, atual gerente-executiva do mesmo tempo saber e saber fazer. 13
os esforços de cada um de nós. ITS, em 1992. No ano seguinte, fun- A TS está cada vez mais em pauta,
INTRODUÇÃO Do ponto de vista dos movimentos dou-se o IIISis – Instituto Internacio- em virtude, principalmente, dos exce-
mento de técnicas, métodos, produtos e pessoas. Embora não tenha problema Ciência e Tecnologia têm sempre im- em dez anos os gastos mundiais che-
processos, visem em geral a trazer me- de congestionamento nas linhas, o pactos socioambientais. Atualmente, guem a pouco mais de US$ 7 trilhões, o
lhorias à sociedade. No entanto, é pre- metrô pode enfrentar superlotação nos está cada vez mais presente o esforço que resultaria em forte recessão glo-
ciso considerar que não existe tecnolo- chamados “horários de pico”. É muito pelo avanço da responsabilidade socio- bal. O relatório explicita que os países
gia que seja “100% boa”, isto é, que menos poluente que o carro; porém, ambiental de empresas, governos e da industrializados – como EUA e as
traga apenas benefícios para todas as consome muita energia – e então é pre- sociedade em geral. Isto não está acon- emergentes China e Índia, mas tam-
pessoas, sem efeitos negativos. As tec- ciso saber de onde vem e como essa tecendo por acaso. Vivemos um mo- bém países europeus – são os maiores
nologias trazem também efeitos que vão energia é produzida, para se averiguar mento em que não é mais possível ser- responsáveis pela emissão de carbono,
além dos previstos, ou que afetam o qual é o seu impacto. mos ingênuos. Se continuarmos como embora os maiores prejudicados com
mundo e as pessoas de uma maneira Assim, o fato de que o desenvolvi- estamos, vamos devastar nosso plane- o provável aumento dos níveis dos
que a análise simples de seus objetivos mento tecnológico sempre traz impac- ta, tornando-o inabitável. E também oceanos sejam países subdesenvolvi-
imediatos não mostra. Ela também gera tos socioambientais e, dependendo do vamos condenar uma parcela conside- dos, que não dispõem de recursos para
resíduos e impactos não benéficos. caso, pode determinar de maneira rável da população à miséria e à fome. socorrer as milhões de pessoas que
Um exemplo: o carro. O carro pode marcante toda a vida em sociedade é a Em 2 de fevereiro de 2007, o Grupo deverão ficar desabrigadas em virtude
facilitar a vida, ao transportar pessoas e primeira razão pela qual ele nunca é Intergovernamental para as Mudanças das catástrofes climáticas.
cargas com grande velocidade e razoá- neutro. Outra razão é que os próprios Climáticas (Intergovernmental Panel Estes relatórios mostram uma reali-
vel segurança. Só que, para exercer essa benefícios não são distribuídos e usu- on Climate Change – IPCC), da Orga- dade que confirma as teorias defendi-
função, o carro consome combustível – fruídos igualmente por toda a socie- nização das Nações Unidas (ONU), di- das pelo sociólogo alemão Ulrich Beck,
gasolina, por exemplo – e produz resí- dade. Um produto sempre nasce tendo vulgou relatório que atribui às ações da Universidade de Munique, em seu
duos. O ar poluído que respiramos no em vista um público, mesmo quando humanas a responsabilidade sobre as livro A Sociedade do Risco, lançado em
centro da cidade de São Paulo – onde isso não é explicitado. E, mesmo quan- mudanças climáticas observadas em 1986 com grande repercussão em todo
fica a sede do ITS –, é também conse- do se considera a hipótese de que o nosso planeta, conhecidas pelo nome o mundo. Em entrevista concedida ao
qüência da Tecnologia, e faz com que público poderia ser mais amplo, é pre- de “aquecimento global”. Segundo es- jornal francês Le Monde (publicada na
muitas pessoas tenham problemas res- ciso que existam reais condições de te relatório, a julgar pelos níveis de Folha de S.Paulo em 20 de novembro de
2001), Beck diz que, neste livro, desen- segundo critérios técnicos e objetivos. Efetivamente, nos ambientes polí- dade de incorporar tecnologias origi-
volveu “uma argumentação segundo a Acontece que as inovações técnicas ticos mais diversos bem como entre nalmente destinadas à guerra jamais
qual a ciência e a tecnologia são hoje a são produzidas e aplicadas num mun- especialistas em políticas públicas, servirá para justificar a indústria béli-
causa dos principais problemas da do em que diferentes sujeitos, com observa-se um crescente reconheci- ca. A engenharia militar só produz
sociedade industrial”. Segundo o autor, diferentes lugares e interesses soci- mento da importância da democracia, muitas tecnologias porque lhe são
“A produção e a distribuição dos ‘bens’, ais, vão se relacionar, buscando o não apenas como alicerce jurídico ins- dedicados investimentos descomu-
das riquezas, se baseiam num princípio equilíbrio dos conflitos. O direciona- titucional, mas também por seu poten- nais. Se estes mesmos recursos fossem
regulador de escassez. O problema vem mento que se dá à pesquisa tem, cial operativo. Ou seja, por sua capa- investidos para a produção da paz, não
do fato de que as instituições da so- então, conseqüências diretas na so- cidade de fazer com que a formulação, a há dúvida de que teríamos solucionado
ciedade industrial não foram pensadas ciedade. Os caminhos do desenvolvi- implementação e a abrangência das ou minimizado boa parte dos proble-
para tratar da produção e da dis- mento tecnológico são fruto de escol- políticas públicas se desenvolvam de mas sociais globais.
tribuição dos ‘males’, isto é, dos riscos e has feitas socialmente, dentro dos forma mais eficiente e sólida. É por todos estes fatores que defen-
acasos ligados à produção industrial”. mecanismos de representação e pres- Neste sentido, observa-se que a demos que as necessidades e deman-
A noção de responsabilidade socio- são social que historicamente se con- qualidade de vida e bem-estar da so- das sociais devem ser fontes priori-
ambiental aponta para a necessidade figuram. O desenvolvimento tecno- ciedade dependem em grande parte do tárias para as pesquisas científico-tec-
de se tratar em toda a sua complexi- lógico participa, portanto, das com- grau de cidadania ativa ou participativa. nológicas, no sentido de se buscarem 23
22 dade a gestão do desenvolvimento tec- posições de forças da sociedade, dos Conforme pontuou o economista as soluções mais eficazes para a
nológico, de maneira a minimizar os seus embates políticos. Amartya Sen, prêmio Nobel de Econo- inclusão dos diversos setores – atual-
do o processo. Aponta-se então para uma solução como sendo a “única” fomes” para uma parte da sociedade, mocrática da sociedade. Mais que isso,
um fato: a Ciência não é neutra como possível, é freqüente que, depois que por um período determinado, explica- a própria pesquisa deve ser vista como
se acreditava até poucas décadas atrás. grupos prejudicados denunciem os se menos pela escassez ou diminuição um processo pedagógico de construção
Segundo López Cerezo (1998), profes- danos que sofreram ou que podem vir da produção de alimentos – justificati- da sociedade num diálogo envolvendo
sor da Universidade de Oviedo (Espa- a sofrer, outros cientistas se posicio- va que se poderia esperar de um econo- todos os seus atores sociais. É nesta
nha) e coordenador acadêmico da Re- nem apontando soluções diferentes. mista politicamente correto – do que necessária construção coletiva que os
de de Investigação Ciência, Tecnologia Isso ocorre porque, como diz Boaven- pela fragilidade da democracia. Isto é, conflitos sociais vão buscar, constan-
e Sociedade (Organização dos Estados tura de Souza Santos, “para problemas as fomes (de conhecimento, inclusive) temente, o seu equilíbrio.
Ibero-Americanos), acreditava-se que complexos, existe sempre mais de tendem a ser superadas ou mi- A razão pela qual este processo ainda
a Ciência geraria quase que automati- uma solução” (2004). O fato de não nimizadas nas sociedades em que há ocorre apenas de maneira periférica,
camente benefícios sociais, por um haver consenso quanto às pesquisas democracia e participação cidadã. apesar de sua extrema importância,
mecanismo simples que podia ser científicas e às soluções tecnológicas É certo também que as tecnologias reside em parte na própria estrutura so-
resumido na seguinte fórmula: mostra que não se pode confundir podem vir a ter usos e impactos posi- cial da educação e da pesquisa no Brasil.
objetividade com neutralidade. Pois tivos que não estavam necessariamen- Afinal, as melhores universidades – e,
+ ciência = + tecnologia as tomadas de decisão que se revestem te entre os objetivos das pesquisas que paradoxalmente, muitas delas são públi-
= + riqueza = + bem-estar social de um caráter de “pureza técnica” as geraram. Exemplos claros são os de cas – são freqüentadas majoritariamente
muitas vezes refletem interesses soci- algumas tecnologias de guerra, como o por membros das classes sociais mais
Era como se não fosse necessário ais que transcendem o campo de C&T. telefone celular (desenvolvido para altas, que não vivem na pele os problemas
buscar o bem-estar, ele seria uma Assim, o desenvolvimento econômico melhorar a comunicação em campo de mais graves que urgem por soluções. Por
conseqüência natural da pesquisa e o democrático devem vir juntos, um batalha) e o GPS (desenvolvido para outro lado, ainda sobrevive em muitos
científica. Se C&T fossem neutras, de não precede o outro. E o desenvolvi- guiar mísseis com precisão aos seus setores do meio acadêmico o mito de que
uma objetividade “absoluta”, como se mento tecnológico está totalmente alvos), que depois acabaram se rever- a Ciência deve ser “pura”, sem se deixar
pensava, haveria um único caminho inserido nesta dinâmica, não sendo de tendo em melhorias importantes para influenciar nem prestar contas à so-
“correto” para o desenvolvimento, modo algum algo que se possa isolar. a sociedade. No entanto, esta capaci- ciedade na qual está inserida.
Hoje em dia, já se aceita que as cação). A tal ponto que não ter acesso a as diferenças entre os países desen- Dentre as transformações que leva-
soluções tecnológicas precisam ser ava- computadores significa estar excluído volvidos e em desenvolvimento se rão à configuração de uma sociedade
liadas não apenas por sua sofisticação de muitos campos de interação social e, convertam num abismo insuperável” mais inclusiva, uma melhor distribui-
técnica e seu potencial mercadológico, do ponto de vista do mercado de trabal- (citado em IIISis, 2001). ção do capital intelectual tem uma po-
mas também pelo seu impacto socio- ho, estar em grande desvantagem. Daí a necessidade urgente de se sição central. Isso passa, por exemplo,
ambiental. Consideramos, no entanto, Hoje, muitos países ricos têm ampliarem e se criarem novos meca- por uma valorização de saberes que,
que isso deve ter um peso realmente transferido os setores produtivos e ad- nismos de inclusão social, que seja embora importantes, muitas vezes são
relevante. Assim, o pensamento e a ação ministrativos a países que oferecem uma inclusão pelo conhecimento. Sem menosprezados, como os conheci-
em TS implicam não apenas minimizar um custo menor, e realizam em seu ter- dúvida, o Estado tem um importante mentos de populações tradicionais –
os impactos socioambientais negativos, ritório apenas o trabalho de pesquisa e papel a exercer neste sentido, mas não indígenas, quilombolas, ribeirinhas
mas principalmente a busca direta e desenvolvimento, que é economica- só ele. As universidades, a sociedade etc. Muitos desses conhecimentos,
metódica de impactos positivos para o mente o mais valioso. Os exemplos civil e mesmo as empresas têm uma aliás, já têm sido incorporados em
conjunto da sociedade e tendo em vista mais notáveis de países que hoje absor- responsabilidade comum e podem pesquisas científicas, com grandes
a sustentabilidade a longo prazo, inclu- vem boa parte dos trabalhos menos beneficiar-se com a inclusão. Em to- vantagens econômicas.
sive para as futuras gerações. A trans- valorizados são a China, para a pro- das estas instâncias, há setores que
formação da sociedade e o amplo bene- dução industrial, e a Índia, para trabal- vêm aprofundando essa discussão. Tecnologia Social:
24 fício social não podem ser protelados a hos administrativos e de serviços. É bom que se diga, no entanto, que um outro modo de pensar e agir 25
um futuro hipotético, mas devem ser Algo similar ocorre internamente inclusão não quer dizer a absorção dos A seguir, procuraremos elucidar de ma-
buscados imediatamente como um no Brasil. Por um sistema gerador de excluídos pelos atuais incluídos. Sig- neira mais detida aquilo que chamamos
objetivo previsto em metodologia. De exclusão que vai desde a dificuldade nifica a construção conjunta, com a de Tecnologia Social. Compreenda-se
um ponto de vista mercadológico, não de acesso à educação de qualidade até democratização não só das informa- que, ao fazer aderir a palavra “social” à
se trata de ir contra o mercado, mas de a falta de acesso da grande maioria da ções mas do processo de produção de “tecnologia”, pretende-se trazer a
enxergar o próprio mercado em per- população ao mundo digital, ainda é conhecimento como um todo. E assim dimensão socioambiental, a construção
spectiva. A inclusão social representa, uma elite que produz e veicula co- também a produção de soluções às do processo democrático e o objetivo de
em grande medida, o desenvolvimento nhecimento acadêmico no país. Isso necessidades e demandas sociais. A solucionar as principais necessidades
de novos mercados. não significa que a população não pro- inclusão é mais que um dado técnico, da população para o centro do processo
duza uma diversidade enorme de con- é um fenômeno cultural amplo. É pre- de desenvolvimento tecnológico.
A sociedade da informação hecimentos e técnicas, mas estes con- ciso criar as condições para que as so- Assim, a TS busca recompor o código de
A tendência de nossa época é que os hecimentos têm maior dificuldade de luções sejam de fato elaboradas, aces- valores que orienta a pesquisa e o
trabalhos repetitivos não sejam mais sobreviver quando devem entrar em sadas e apropriadas por todos. Hoje, desenvolvimento de inovação, agindo
feitos pelas pessoas. Na chamada so- competição com outros, num mundo quem tem acesso ao conhecimento é em função dos interesses da sociedade
ciedade da informação, o bem mais marcado pela alta sofisticação técnica quem terá os melhores trabalhos, num sentido amplo e inclusivo.
valioso é o conhecimento e a capacida- aliada à exclusão social. mais bem remunerados e com mel-
de de lidar com ele e produzi-lo. O di- Conforme advertia, já em 1996, hores condições, pois estará mais
nheiro, o trabalho e os serviços são Pekka Tarjore (então secretário geral capacitado a lidar com um mundo em
pautados pela tecnologia da informa- da União Internacional das Telecomu- rápida transformação e poderá inter-
ção, que permite hoje uma fluidez que nicações), “se a comunidade mundial ferir de maneira mais eficaz na socie-
seria inimaginável tempos atrás, uma não intervir, existe o perigo real de que dade. É isso que Thomas Stewart cha-
circulação extremamente rápida de ca- a sociedade mundial da informação só ma de “capital intelectual”, o valor
pital e informações ao redor do mundo. seja mundial por sua dominação; de econômico que a capacidade de ad-
Cada vez mais nossas vidas serão per- que o mundo se divida em duas catego- quirir e produzir conhecimento rep-
meadas pelas chamadas NTICs (novas rias, a saber: os ‘ricos em informação’ resenta para uma pessoa, uma empre-
tecnologias de informação e comuni- e os ‘pobres em informação’; e de que sa, um país.
Breve histórico Na vertente em que a TS se insere,
ALGUMAS EXPERIÊNCIAS DO ITS
uma referência importante foi o que se DESENVOLVIMENTO LOCAL PARTICIPATIVO
as TSs são “técnicas e metodologias”, Neste sentido, muitas ações de TS dos e/ou ficam sem solução. Percebe- ônibus é melhor que o carro. Por sua
“produtos e processos”, como quais- envolvem, logo de início, mobilização se a necessidade de se criarem meca- vez, um ônibus movido a biodiesel ou
quer tecnologias, elas também envol- e conscientização. O objetivo é des- nismos ou instâncias em que as dife- a gás natural é ainda melhor, em
vem de maneira intrínseca um modo pertar a democracia ativa e canalizar rentes vozes sociais possam ser ouvi- comparação com o ônibus a diesel
próprio de pensar e agir. Muitas ve- energias no sentido da busca de solu- das nos processos decisórios que convencional, pois é menos poluente
zes, é no modo de aplicação que uma ções e da garantia de direitos. Inicia- envolvem C&T. e seu combustível é renovável.
tecnologia torna-se social. Este “mo- se assim um processo pedagógico, Os diferentes atores sociais, seja É imprescindível, para que uma
do” é então compreendido como uma criando condições para que os grupos por suas capacidades e formações tecnologia tenha características de TS,
abordagem sistêmica que leva em envolvidos se apropriem dos seus próprias, seja pelos lugares que ocu- que ela seja capaz de resolver os pro-
conta todo um conjunto de fatores, direitos e partam ativamente em busca pam na sociedade, desenvolvem olha- blemas ou necessidades sociais para
desde o reconhecimento das necessi- de satisfação a suas necessidades. res distintos para uma mesma reali- os quais foi desenvolvida e, assim,
dades e da mobilização para a mudan- dade. Saber ouvir o que cada um tem a promover real melhoria nas condi-
ça, até os métodos de gestão e a eficá- 2. Tecnologia Social dizer é, portanto, fundamental para se ções ou na qualidade de vida do públi-
cia da solução tecnológica desenvol- implica a criação de um espaço compor uma visão mais completa dos co beneficiado. Esta melhoria passa
vida, passando pela avaliação de de descoberta de demandas fenômenos socioambientais. Uma so- pela inclusão social e/ou pelo fortale-
impactos socioambientais e a busca e necessidades sociais ciedade só será democrática quando cimento da autonomia, entendida
direta de impactos positivos para o O ponto de partida de qualquer ação todos os setores que a compõem tive- como o poder de decidir o próprio
conjunto da sociedade. em TS são as necessidades e deman- rem espaço para se manifestar. destino e de viver pelo próprio esfor-
das da população. Assim, como atitu- ço, sem depender da rede de assistên-
1. Tecnologia Social de básica, são necessários olhos e 3. Tecnologia Social cia social estatal.
implica compromisso ouvidos bem abertos para a realidade implica relevância e eficácia social É neste sentido que a TS deve ser
com a transformação social e para as diferentes maneiras de se As tecnologias passam a ser valoriza- reconhecida como um direito funda-
Para se desenvolver TS é preciso, an- sentir e observar o mundo. A trans- das não tanto pelo seu grau de sofisti- mental e estratégico para a sobrevi-
tes de tudo, querer transformar o formação só pode ocorrer a partir de cação técnica, mas por sua eficácia na vência e a garantia da qualidade de
vida de milhões de pessoas excluídas mano precisa dos recursos que pode ser conseguido, por exemplo,
das condições mínimas da existência encontra no meio ambiente, por isso por sua inserção no mercado. Tec- ALGUMAS EXPERIÊNCIAS DO ITS
INCUBAÇÃO DE EMPREENDIMENTOS
humana. A TS está estreitamente mesmo deve utilizá-los de maneira nologias de interesse público podem SOLIDÁRIOS COM TECNOLOGIA SOCIAL
ancorada no direito ao acesso e à pro- não-predatória. Mas o planeta Terra ainda ser integradas em políticas EM OSASCO
dução de conhecimento, à educação e à deixa de ser visto como um simples públicas, obtendo, assim, financia- A Incubação de Empreendimentos Solidários represen-
ta, para muitas pessoas de baixa renda na cidade de
autodeterminação. Por sua finalidade, fornecedor de insumos para ser con- mento estatal.
Osasco, uma alternativa para romper o ciclo da pobreza
vincula-se também aos direitos à vida, siderado como a nossa morada, com a e, pelo trabalho, alcançar uma condição de vida melhor.
à alimentação e à saúde. É assim que se qual devemos estar integrados. Daí a 5. Tecnologia Social Nesta cidade localizada na Região Metropolitana de
tem, no horizonte do pensamento e importância de se buscarem fontes de implica inovação São Paulo, a incubação e o fomento à Economia Popu-
lar e Solidária fazem parte da estratégia de Desen-
das ações com TS, a realização do ser matéria-prima e de energia renová- Considerando-se que sempre têm co-
volvimento, Trabalho e Inclusão da prefeitura. É uma
humano como um todo, aumentando veis, de se estabelecerem novos pa- mo ponto de partida necessidades e política pública, que leva o nome de programa Osasco
sua auto-estima e sua felicidade. drões de consumo e de se ter um cui- demandas sociais, as pesquisas em TS Solidária e pretende dar o “passo adiante” dos progra-
Tendo isto em vista, compreende-se dado especial com os resíduos desde a não podem existir desvinculadas de mas de transferência de renda – como o Bolsa Família
(federal), o Renda Cidadã (estadual) e o Renda Mínima
por que as necessidades e demandas produção até o consumo ou utilização seus resultados na sociedade. A me-
(municipal), entre outros –, ao promover a emancipa-
sociais devem ser fontes prioritárias de das tecnologias. lhoria efetiva das condições de vida é, ção das pessoas que estão na pobreza, com inclusão
questões para as investigações científi- Para se garantir que isso aconteça, afinal, um de seus objetivos primei- no trabalho.
32 cas. Uma vez que a produção de conhe- inclusive com monitoramento, as ros. Por essa razão, pode-se afirmar O papel de ONGs como o ITS, que presta assessoria
técnica ao projeto, é municiar os futuros empreende-
cimento e de inovações esteja compro- avaliações de riscos e impactos am- que as práticas que envolvem TS
dores com os conhecimentos necessários para a sus-
metida com a transformação da socie- bientais, sociais, econômicos e cultu- encontram-se em sintonia com a tentabilidade de seus negócios e sua inserção em um
TECNOLOGIA SOCIAL
dade no sentido da promoção da justiça rais passam a ser elementos necessá- definição de “inovação” presente nas outro mercado possível, justo e solidário.
social, aumentam-se as chances de se rios integrados na produção e aplica- “Disposições preliminares” da Lei “Incubação” é o nome que se dá a todo este processo
educativo prático. Neste programa, significa oferecer
obter um desenvolvimento sustentável. ção de tecnologias e dos conhecimen- Federal 10.973/04: “introdução de
os meios e os instrumentos necessários para que os
Ressalte-se que muitos dos países mais tos científicos. E assim, trabalhar novidade ou aperfeiçoamento no grupos interessados em formar empreendimentos soli-
inovadores em termos de tecnologia para que as chamadas “externalida- ambiente produtivo ou social que dários se organizem e se desenvolvam, de forma sus-
são também aqueles que têm sido mais des” sejam cada vez mais “internali- resulte em novos produtos, processos tentável. É um processo que envolve a capacitação
técnica e em autogestão, o aprendizado pela prática e
bem-sucedidos em dar solução aos zadas”. Isso acontece, por exemplo, ou serviços”.
pela convivência, a assessoria de especialistas e o
seus problemas sociais, e isso se deve, quando se desconsidera um prejuízo No entanto, quando se fala em ino- suporte aos negócios formados, com a garantia de
entre outras razões, a que foram sensí- ambiental decorrente de um processo vação, no campo da TS, não se pensa acesso a tecnologias e instrumentos que permitam aos
veis a eles em suas pesquisas científi- produtivo, transferindo “para fora” necessariamente em tecnologia “de empreendedores “andar com as próprias pernas”,
como o microcrédito e as redes de produção, distribui-
co-tecnológicas. (ou para toda a sociedade) o custo que ponta”. Ela pode efetivamente repre-
ção, comercialização e consumo.
haveria em produzir de maneira sentar um avanço do ponto de vista das
4. Tecnologia Social implica ambientalmente correta. À medida fronteiras do conhecimento, mas isso OFICINA-ESCOLA TÊXTIL E PÃO SOL
sustentabilidade socioambiental que se eliminem as externalidades, não é um valor em si. O foco principal Desde o começo de 2006, no bairro Rochdale, periferia
da cidade, funciona a Oficina-Escola de confecção e
e econômica produtos ambientalmente muito no- está em sua eficácia e relevância social,
costura, montada pela prefeitura para oferecer capaci-
Sociedade e meio ambiente são partes civos tendem a tornar-se economica- de modo a representar uma inovação tação técnica e qualificação profissional para grupos
integradas de uma mesma totalidade. mente inviáveis. relativa ao grupo beneficiário. de mulheres que, até então, contavam com os progra-
A sociedade existe num meio ambien- A sustentabilidade econômica, por Acreditamos que a geração de ino- mas públicos de transferência de renda (Programas
Redistributivos) como única fonte de renda estável.
te e este só ganha sentido quando é sua vez, implica que a TS pode buscar vações sociais será tanto maior, quan-
Na oficina, essas mulheres aprendem técnicas de cos-
integrado no desenvolvimento social. a rentabilidade e a geração de riqueza. to mais as demandas e necessidades tura, ganham habilidade nas máquinas, incorporam
Assim, a questão da preservação am- Para que possa garantir a inclusão so- sociais se tornarem temas de pesqui- qualidade no produto que fazem e vão descobrindo, na
biental, que é um aspecto fundamen- cial e a melhoria das condições de sas científico-tecnológicas. Primei- convivência, na discussão, no trabalho, laços de
tal, passa a ser tratada a partir do con-
ceito de sustentabilidade. O ser hu-
vida, a TS pode precisar produzir suas
condições de sustentabilidade, o que
ramente porque, como se sabe, as
soluções para os problemas sociais
amizade e de solidariedade que poderão ser decisivos
para o desafio que irão enfrentar: o de montar
não estão dadas. Porém, também as importante para que sejam incorpo-
empreendimentos de Economia Popular e Solidária em
soluções encontradas pelas próprias rados ao processo de desenvolvimen-
ALGUMAS EXPERIÊNCIAS DO ITS
Osasco. A prefeitura de Osasco, em parceria com a TECNOLOGIA ASSISTIVA
Associação Eremim, organizou-as para que confec- populações passarão a ser mais co- to e aplicação de TS. OU AJUDAS TÉCNICAS
cionassem uniformes escolares para 47 mil alunos do nhecidas, podendo gerar e inspirar A sistematização da experiência Até pouco tempo atrás, nossa sociedade estava pouco
ensino público fundamental, de modo a utilizar o poder ou nada preparada para lidar com a diversidade de
de compra do município para fortalecer a iniciativa e
novas soluções. O uso da inteligência como um todo é importante, não ape-
necessidades que as pessoas têm ou passam a ter no
potencializar os resultados dos investimentos públicos. pode e deve potencializar novas solu- nas por proporcionar rigor no acom- decurso de suas vidas. Em decorrência disso, ainda
Como contrapartida, as participantes do projeto rece- ções, que sejam acessíveis, eficazes e panhamento e na avaliação dos proje- hoje direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros –
bem uma bolsa de R$ 450 por mês, mais vale-transporte. sustentáveis, construídas num pro- tos, como também para que possa direito de ir e vir, à informação, à escola, à cultura, ao
Os grupos que participam do Pão Sol, projeto que é lazer, ao trabalho, entre outros – não têm sido garanti-
fruto de parceria da prefeitura de Osasco com o ITS,
cesso democrático e inclusivo. gerar aprendizagens que sirvam de
dos para uma parcela significativa da população. As
trilham um caminho parecido. Aprendem técnicas de referência para novas experiências. pessoas com deficiências e os idosos já conquistaram
panificação e confeitaria nas aulas-laboratório, reali- 6. Tecnologia Social implica organi- Ao descrever os métodos, técnicas, muitos avanços, e a legislação exige que os equipa-
zadas em uma cozinha industrial, e também se dedi- zação e sistematização produtos e processos de uma TS, tor- mentos, serviços e espaços de uso público sejam aces-
cam à formação teórica e em cidadania. Em dezembro síveis a todos. Mas ainda há muito o que avançar em
de 2006, muitas alunas, mesmo antes de terminar a
A TS leva em conta um amplo conjun- namos esta tecnologia acessível a um
termos de soluções práticas e mudanças de cultura.
capacitação, já estavam levando o que aprenderam no to de fatores, compreendidos de ma- maior número de pessoas, aumentan- A Tecnologia Assistiva – ou ajudas técnicas – refere-se
projeto (novas receitas, técnicas de higienização e neira sistêmica, o que implica uma do sua capacidade de solucionar pro- às pesquisas e ações (produtos, instrumentos, estraté-
cuidados com a apresentação dos alimentos) para concepção sofisticada de tecnologia. A blemas sociais. gias, serviços e práticas) que vêm em auxílio principal-
incrementar seus pequenos negócios, montados, em mente de pessoas com deficiência e pessoas idosas,
geral, dentro de casa, na informalidade. Assim, acres-
elaboração de planos de desenvolvi-
para prevenir, compensar, reduzir ou neutralizar as difi-
centam ao seu ganha-pão um ingrediente que faltava: mento estruturados torna-se impres- 7. Tecnologia Social implica
culdades e obstáculos de acesso que a sociedade, tal
profissionalismo. Para ajudar a sustentação das cindível para que todos estes fatores acessibilidade e apropriação como ela se configura, coloca a elas, e assim melhorar
famílias, no período de formação, elas recebem uma sejam contemplados e possam intera- das tecnologias sua autonomia e qualidade de vida.
bolsa de R$ 180 mensais. A inclusão buscada pelas TSs, sem No Brasil, além de 24,6 milhões de portadores de defi-
gir organicamente. A clareza e a preci-
são nos métodos utilizados oferece acessibilidade, seria um contra- ciência identificados pelo Censo 2000, a população de
senso. O baixo custo e a facilidade de idosos ultrapassa os 16 milhões. Em 20 anos, deverá ser
grandes vantagens quando é neces- de 32 milhões, número que colocará o país como o
acesso são valores a serem buscados,
sário enxergar as múltiplas relações sexto em população idosa no mundo (IBGE).
pois podem ser essenciais para o seu Essas cifras dão a dimensão da demanda por Tec-
implicadas no desenvolvimento so-
sucesso. Tome-se o exemplo do “soro nologia Assistiva no Brasil. Seja porque não encontram
cioambiental e econômico. Assim, a caseiro”. Ele é constituído de água, sal as informações ou a orientação adequada sobre as
ação organizada e consciente torna-se e açúcar, coisas que a maioria de nós ajudas técnicas que procuram, seja pelo alto custo
um pressuposto das TSs. tem em casa. O custo é praticamente destas tecnologias (muitas vezes são produtos impor-
Há ainda uma especificidade que tados), o fato é que muitas pessoas com deficiência
zero e qualquer um pode aprender a
poderiam ser beneficiadas, mas não estão sendo.
merece atenção. A TS tem como ca- fazer. E a sua eficácia na prevenção da
racterística a conjugação de diferentes desidratação infantil é enorme. Trata- O ITS E A TECNOLOGIA ASSISTIVA
saberes num processo multidiscipli- se então de uma Tecnologia Social Ampliar o apoio à pesquisa e ao desenvolvimento de
nar. Alguns desses saberes – como altamente acessível. produtos pode ser um passo importante para que o
Brasil avance na produção de suas próprias soluções e
métodos tradicionais de cultivo, por Isso não quer dizer que toda TS o acesso à Tecnologia Assistiva se democratize. Com
exemplo – são desenvolvidos ao longo deva ser barata, mas apenas que o essa perspectiva, a Secretaria da C&T para a Inclusão
de muitos anos de experimentação, baixo custo facilita o acesso e deve ser Social do Ministério da Ciência e Tecnologia
sem que tenha havido a necessidade valorizado por isto. Há situações em (Secis/MCT) e o ITS deram início, no ano de 2005, à
Pesquisa Nacional de Tecnologia Assistiva. O levanta-
de uma sistematização em moldes que tecnologias de alto custo são utili- mento procurou identificar as instituições que estu-
científicos. É a experiência de gera- zadas em projetos cujas metodologias dam, produzem e disseminam Tecnologia Assistiva no
ções que permitiu o desenvolvimento têm características de TS. Para citar Brasil. O objetivo foi gerar informações capazes de
de métodos integrados a determina- um exemplo, veja-se o caso da ONG subsidiar políticas de apoio às iniciativas de CT&I que
promovam a inclusão social das pessoas com deficiên-
do ambiente e a determinada cultura. Pró-Batalha, que defende o rio Ba- cia e/ou idosos.
A sistematização destes saberes é talha (um afluente do Tietê). Em suas
ações, a Pró-Batalha utilizou-se de priaram dessa tecnologia que, ao fim e
Os resultados da primeira etapa da pesquisa foram TEMAS URGENTES
divulgados, em março de 2006, no Portal Nacional de serviços de geo-referenciamento por ao cabo, representaria um benefício PARA A TECNOLOGIA SOCIAL
Tecnologia Assistiva – www.assistiva.org.br. Tanto os sistema GPS (fazendo uso de satélite, enorme à saúde da população. Para que
resultados quanto o questionário da pesquisa conti- entre outros equipamentos), que são tivesse características de TS, seria pre- • Segurança alimentar
nuam disponíveis. • Geração de trabalho e renda
caros e foram disponibilizados pelo ciso que a vacinação fosse feita na
O portal foi desenvolvido e é gerido pelo ITS. A idéia • Economia solidária
dessa ferramenta é facilitar a troca de conhecimentos Centro de Tecnologia em Geopro- forma de uma campanha informativa e • Microcrédito produtivo
sobre as iniciativas existentes na área, interligando cessamento – CTGEO, de Lins. O GPS, democrática, ao invés de um decreto • Meio ambiente
quem pesquisa, quem produz, quem faz a gestão públi- neste caso, tornou-se uma TS. imposto de cima pra baixo. • Tecnologia assistiva
ca e quem usa Tecnologia Assistiva. Construído de • Agricultura familiar
Outro aspecto importante a se con-
acordo com as normas de acessibilidade do Governo • Agroecologia
Federal e os princípios do Desenho Universal, o portal siderar é que a acessibilidade será tanto 8. Tecnologia Social implica • Sementes crioulas
é acessível a qualquer pessoa. maior quanto mais a população envol- um processo pedagógico • Raças animais crioulas
Na segunda etapa de implantação do portal, será cons- vida se apropriar dos meios de produ- para todos os envolvidos • Reforma agrária
truído um Catálogo Brasileiro de Ajudas Técnicas, reu- • Saneamento básico
ção e reprodução das TSs, pois dessa A dimensão pedagógica é transversal
nindo informações sobre os produtos disponíveis no • Educação
País. Já a terceira fase deverá contemplar os serviços maneira se apodera do processo. a todas as ações que envolvem TS. • Desenvolvimento Local Participativo
existentes para o atendimento a esta população. Muitas vezes, esta apropriação não Não pensamos apenas nas atividades • Saúde pública
implica ser capaz de produzir a tecno- de capacitação e treinamento que • Moradia popular
36 logia. Também há apropriação no sempre estão presentes. Mas sim no • Promoção da igualdade em relação à raça,
ao gênero e às pessoas com deficiência
aprendizado, na compreensão do sen- fato de que a TS se constrói num
tido e das implicações sociais que uma espaço de aprendizagem em que
TECNOLOGIA SOCIAL
cipação nas instâncias locais, assim tem contemplados. riscos de efeitos danosos ao meio populações se constrói neste proces-
como nas regionais e nacionais. Num outro plano, é preciso supe- ambiente e à sociedade decorrentes so, em que se consolidam sua atuação
Quanto mais localizada for a ação, rar o desprezo que muitas vezes se tem de inovações tecnológicas. As campa- na esfera pública e o seu direito à
mais importante será a participação pelos saberes populares. Para citar um nhas informativas têm a capacidade autodeterminação. Caso seja necessá-
direta dos envolvidos. Mas mesmo nas exemplo, foi na luta por sua sobrevi- de envolver a sociedade nos proces- ria preparação específica para garan-
esferas mais altas, a democracia se vência, enxergando a possibilidade de sos, promovendo o debate público tir a qualidade da participação, deve-
beneficia. Alguém que tenha partici- gerar renda onde outros só viam qualificado, em todos os níveis. Neste se prover imediatamente os cursos e
pado de um processo decisório na detritos, que pessoas com pouco estu- sentido, o trabalho de divulgação – oficinas de capacitação pertinentes.
esfera local estará melhor preparado do desenvolveram diversas maneiras por publicações, pela internet, pela Outra vantagem é que todos aque-
para o aprendizado implicado nas de se reciclar lixo, sem qualquer imprensa e pelo “boca-a-boca”, entre les que participam das etapas de pla-
escolhas numa eleição ou num plebis- apoio, antes que isso fosse visto como outros – exerce um papel de primor- nejamento, acompanhamento e ava-
cito, por exemplo. algo fundamental à sobrevivência das dial importância na sociedade. liação se responsabilizam pelo êxito
grandes metrópoles. As pesquisas Além disso, é preciso que a TS faça do projeto. A chance de que as pes-
9. Tecnologia Social implica científicas sobre reciclagem podem e parte da formação dos futuros cida- soas envolvidas se empenhem é
o diálogo entre diferentes saberes devem ser realizadas, trazendo ganhos dãos, para que saibam compreendê-la maior, pois se percebem contempla-
Os diferentes atores de nossa socieda- enormes à sociedade. Mas essas pes- e talvez se tornem mais receptivos a dos e implicados.
de têm pontos de vista distintos que, quisas terão vantagens se souberem enfrentar as grandes dificuldades
juntos, podem gerar uma visão mais aprender com a experiência dos cata- encontradas quando se busca o pensa- 12. Tecnologia Social
completa de nossa realidade. Assim, dores de materiais recicláveis. mento e a ação sistêmicos e que con- implica a construção cidadã
um morador de uma favela, por exem- Todos têm a ganhar com essa inte- templam as várias vozes sociais. Essa do processo democrático
plo, tem um conhecimento de sua rea- ração, em que os diferentes atores se formação se dá em ações educativas Autonomia é o contrário de desigual-
lidade que não pode ser substituído por vêem participando na produção do diretas, que podem ocorrer desde o dade. Atores sociais são autônomos
nenhum estudo acadêmico ou visão de saber, no fortalecimento do bem ensino fundamental até a universida- quando estão em condições igualitá-
fora. Mas também quer dizer que um comum e na conquista de direitos. de. Podem ser parte direta do currícu- rias de decidir sobre seus próprios
destinos e de participar na construção
do destino coletivo. A adoção de for-
VALORES DA TECNOLOGIA SOCIAL
mas democráticas de tomada de deci-
são, a partir de estratégias especial- 01 Inclusão cidadã
mente dirigidas à mobilização e à par- 02 Participação
ticipação popular, é um caminho que
traz grandes vantagens, mas não é 03 Relevância social
fácil. Pois o processo democrático é
04 Eficácia e eficiência
construído a cada momento, por um
aprendizado continuado. 05 Acessibilidade
A participação da sociedade civil na
formulação de políticas públicas refe- 06 Sustentabilidade (econômica e ambiental)
rentes a C&T mostra-se, por isso 07 Organização e sistematização
mesmo, essencial. A interação virtuo-
sa das implicações apresentadas 08 Dimensão pedagógica
40 acima tende a fomentar o espírito
09 Promoção do bem-estar
democrático, que muitas vezes se
difunde “por contágio”. A experiência 10 Inovação
do ITS é a de que, na medida em que as
TECNOLOGIA SOCIAL