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CONTRACONTROLE SOCIAL: UMA EXTENSÃO

DO BEHAVIORISMO RADICAL
A EDUCAÇÃO POLfTICA POPULAR*

Celso Pereira de Sá * *

1. Introdução; 2. Sobre as possibilidades de contracontrole


social; 3. Estado atual da questão; 4. Pressupostos teóricos
específicos; 5. Procedimentos metodológicos; 6. Discussão
dos resultados; 7. Conclusões.

1. Introduçlo

Uma participação preliminar acerca do estudo ora finalmente desenvolvido foi feita,
já em 1980, sob o título de Controle e contracontrole do comportamento na cons-
trução de uma sociedade democrática, no simpósio sobre A Investigação e a Inter-
venção Psicológicas em um País em Desenvolvimento: Algumas Possibilidades So-
cialmente Relevantes, constante da programação da XXXII Reunião Anual da S0-
ciedade Brasilllira para o Progresso da Ciência (SBPC). O livro Psicologia do contro-
le social (Sá, 1979) fora publicado há menos de um ano, e seu autor cogitava então
de lhe dar prosseguimento através de um projeto acadêmico de mais longo alcance.
Tal projeto acabaria por revelar-se, senão de tio longo alcance, pelo menos como
de execução a bastante longo prazo, visto que a equipe básica de pesquisai foi cons-
tituída naquele mesmo ano de 1980, e somente cinco anos depois seu trabalho pôde
ser dado por conclu ído. Ressalve-se, entretanto, que outros escritos próprios ante-
riores - Sá (1982, 1983,1984) e Sá et alii (1984) - representaram de alguma forma
etapas pertinentes do projeto, que foram sendo vencidas no decorrer desse período.

• Resumo do estudo empfrico da tese de doutorado O behaviorismo radical de B. F. Skinner


e sua aplicabilidade socialmente relevante, apresentada ao ISOP/FGV, novo 1985.

.. Doutor em psicologia, pela FGV; diretor do Instituto de Psicologia da Uerj; professor no


IESAE/FGV.

I A equipe definitiva de pesquisa ficou formada por Ricardo Vieiralves de Castro, Edson Viz-
zoni, Jussara de Carvalho Soares, Marisa dos Santos Viale, Renato Casar MoU. e Sergio da Co,.
ta Oliveira.

Forum educ., Rio de Janeiro, 10(2) :43-73, abr./jun.86


As considerações tecidas nesse primeiro informe no âmbito da SBPC indicavam que,
na exploração da "possibilidade e fecundidade de aplicação das noções de controle
e contracontrole do comportamento", seria focalizado basicamente "o desenvolvi-
mento de esforços intencionalmente dirigidos a uma meta específica dentro da pro-
blemática teórica e prática mais ampla da mudança social", qual fosse a da "convi-
vência democrática"_ Tal foco de interesse justificava-se, de um ponto de vista aca-
dêmico sócio-politicamente engajado, em função do próprio momento histórico
pelo qual passava a sociedade brasileira; eram os incertos primórdios da então cha-
mada "lenta e gradual abertura democrática". Esclarecia-se ainda que o termo em-
pregado, convivência democrática, fora preferido ao outro mais tradicional de "es-
tado democrático" justamente por, em uma congruência mais nítida com a perspec-
tiva psicológica behaviorista radical, "conotar um entranhamento, uma difusão,
dos princípios democráticos por toda a extensão da sociedade em questão, e não
apenas a sua dinâmica no aparato institucional do governo".

Dado que a formulação do problema concreto da aplicabilidade socialmente rele-


vante do behaviorismo radical permaneceu, pelo menos em suas linhas gerais, inal-
terada ao longo das etapas intermediárias já aludidas, sua redação original apresen-
tada na reunião da SBPC sob o rótulo de Possibilidades concretas de contracontrole
social será agora reproduzida. Em seguida a tal demonstração histórica de persistên-
cia temática, será então oportuna e necessária a ampliação de sua discussão teórica,
assim como o estabelecimento dos pressupostos e limitações operacionais para a
condução do estudo exploratório proposto.

2. Sobre as possibilidades de contracontrole social

Deixando de lado a discussão da questão mais geral da realidade e universalidade


do controle do comportamento como postuladas por Skinner, cabe, para os propó-
sitos do momento, a ressalva de que o emprego de técnicas de controle social com
finalidades exploratórias, ou seja, em proveito exclusivo do controlador e em detri-
mento do controlado, é obviamente anterior ao advento de uma ciência e uma tec-
nologia do comportamento nos moldes skinnerianos. A história mostra-nos isso, co-
mo também nos mostra que as relações entre o controle e o contracontrole rara-
mente parecem ter atingido um satisfatório grau de equil íbrio. Segundo Skinner, a li-
teratura da liberdade e as concepções tradicionais da democracia, que aparentemen-
te consubstanciariam tal equilíbrio, resultam ilusórias. Diz ele:

"~ fácil opor objeções ao controle do comportamento humano aplicando os slogans


da democracia. Mas a revolução democrática no governo e na religião foi dirigida
unicamente contra um determinado tipo de controle. Os homens foram libertados
dos governantes que se serviam de certas técnicas baseadas no uso da força ou da
ameaça da força. Não se segue, daí, que os homens tenham sido libertados de todo
controle, e são precisamente as outras formas de controle, para as quais resulta ina-

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dequado o esquema da revoluçA'o democrática o que devemos aprender agora a re-
frear (Skinner, 1955, p. 27).

Como se pode ver nessa citaçA'o, o que Skinner denuncia nA'o é a democracia, como
querem freqüentemente fazer crer alguns de seus críticos, e sim o caráter inócuo do
discurso tradicional de luta pela democracia. Certamente, esse discurso de eficácia
provada com relaçA'o ao controle pela força chegou a se desdobrar para fazer frente
a técnicas subseqüentemente aperfeiçoadas, como no caso da passagem do trabalho
escravo para o trabalho assalariado, que, se nA'o é imediatamente aversivo, o é a cur-
to prazo, pelo menos para a grande maioria dos segmentos ocupacionais da nossa
sociedade. Skinner contesta, entretanto, a eficácia de desdobramentos desse gêne-
ro que se farA'o continuamente necessários, já que a construção de uma sociedade
democrática nA'<> pode ser vista como uma obra acabável em qualquer tempo futuro.

Outra restriçA'<> possível à literatura democrática tradicional resulta da constaçA'o


de que, pela própria natureza abstrata de sua terminologia, ela tem sido vulnerável
a uma ampla apropriaçA'o ideológica por parte dos controladores espúrios. A estraté-
gia vigente na sociedade totalitária do livro 1984, como retratada por Orwell, da
"manutençA'o das crenças simultâneas de que a democracia era impossível e de que
o partido governante era o guardiA'o máximo da democracia" parece, na verdade,
bastante comum em países reais que se encontrem em um nível incipiente de desen-
volvimento social, pol ítico e econômico. Ao invés, portanto, de considerar que as
principais instituiçl5es sociais que controlam o comportamento humano repousem
sobre princípios abstratos - o governo, na soberania; a religiA'o, na virtude; a econo-
mia, na utilidade; a educaçA'o, na sabedoria; a psicoterapia, na saúde mental- deve
ser mais vantajoso vê-Ias todas como complexas e algo distintas tecnologias compor-
tamentais, passíveis assim de uma análise operante capaz de ensejar a formulaçA'o de
formas eficazes de contracontrole em seus próprios âmbitos de influência social. Em
Ciência e comportamento humano (1953), Skinner discorre circunstanciadamente
sobre as técnicas mais comuns de controle governamental, religioso, econômico,
educacional e psicoterápico, bem como sobre as iniciativas de contracontrole que
têm emergido para lhes fazer frente.

Para compensar uma expectativa prematura e excessivamente otimista quanto ao


futuro das relações entre controle e contracontrole, possivelmente engendrada pela
perspectiva psicológica comportamental como aqui exposta, parece oportuna a
transcriçA'o de uma passagem algo mais sombria da obra de Skinner'

"Estamos preparados para fazer frente a medidas coercitivas, mas nA'o contamos
com nenhum recurso tradicional frente a outras medidas que, amplamente - espe-
cialmente com a ajuda da ciência - podem chegar a ser muito mais poderosas e
perigosas" (Skinner, 1956, p. 33).

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Essa citação tem implicações muito importantes, desconcertantes mesmo, para o
presente trabalho, porquanto a "ciência do comportamento" skinneriana tem ela
própria contribu ído, e não pouco, para tornar crescentemente eficazes as técnicas
de controle. Isto quer dizer que um desequilíbrio adicional nas relações entre con-
trole e contracontrole é provocado pelas contribuições da psicologia skinneriana.
Holland (1973), em um artigo muito adequadamente intituladoLServirán los princí-
pios conductuales para los revolucionários?, considera mesmo que aqueles que se
encontram em melhores condições para usar a tecnologia comportamental sâ'o jus-
tamente os detentores do poder pol ítico e econômico, razão pela qual alguns cien-
tistas do comportamento, havendo já abandonado a antiga racionalização da neutra-
lidade científica e se encontrando comprometidos na luta pela justiça social, acaba-
ram por fechar seus laboratórios. Esse autor descortina, não obstante, uma outra
possibilidade de atuação para tais cientistas politicamente engajados. Diz Holland:

"Podemos fazer uma tentativa de transmitir ao povo as nossas descobertas; e pro-


mover aplicações que sejam mais adequadas às suas necessidades do que às necessi-
dades da elite. O mais importante a esse respeito é que o cientista do comportamen-
to analise a operação de controle comportamental em nossa sociedade e comunique
essa análise a outros para que estejam melhor preparados para o contracontrole.
Com esse fim, deverá analisar também os efeitos potenciais de diferentes formas de
contracontrole. Em segundo lugar, deverá idealizar uma tecnologia intrinsecamente
adaptada para se usar na luta" (Holland, 1973, p. 273-4).

A primeira das providências propostas parece ter sido precisamente o que pretendeu
Skinner com a publicação de seu livro Beyond freedom and dignity (1971), infeliz-
mente não muito bem-sucedido, como depõe ainda Holland~

,,~ uma lástima que as pessoas às quais mais diz respeito a luta pela justiça conside-
rem Skinner e os condicionadores operantes como o inimigo, perdendo assim a
oportunidade de usar um poderoso instrumental para a análise do controle exercido
dentro do sistema a que se opõem" (Holland, 1973, p. 274).

Com relação à segunda providência, tratar-se-ia certamente de uma tecnologia de


tipo "caseiro", sem grande sofisticação material em termos de aparelhagens mecâni-
cas precisas ou recursos de computação eletrônica.

Para concluir essas breves considerações acerca de uma promissora estratégia de jus-
ta intervençâ'o no difícil processo político-social brasileiro, não será demais fazer a
transcrição de uma última passagem, particularmente realista e instrutiva, da obra
de Skinner:

"Como vimos, aqueles que não utilizam o poder de maneiras aversivas ou explora-
tórias não se abstêm de fazê-lo porque sejam compassivos ou porque possuam senti-
do ético ou interesse pelo bem-estar dos demais, e sim porque estão submetidos a

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contracontrole. A democracia é uma versfo do contracontrole planejada para solu-
cionar o problema da manipulaçAO" (Skinner, 1974, p. 218 - traduçlo espanhola).

... Participar do esforço de construção de uma sociedade democrática consiste, assim,


em exercer contracontrole, principalmente no sentido de forçar sua institucional i-
zaçAO nos mais variados domínios da vida social.

3. Estado atual da questlo

As expl ícitas e animadoras exortaçaes de Holland (1973) quanto ao emprego politi-


camente responsável e tecnicamente promissor da noçAO de contracontro/e, como su-
marizadas no informe preliminar do presente estudo junto à SBPC, parecem nAO ter
provocado qualquer repercussa'o significativa durante os mais de 10 anos que trans-
correram desde a sua formulação original. O próprio conceito em si, mesmo sem as
implicaçõas pol ítico-sociais aqui enfatizadas, aparenta nAO ter recebido muita aten-
çAO. Uma recente busca bibliográfica realizada pelo Instituto Brasileiro de Informa-
ç!o em Ciência e Tecnologia (lbict/CNPq), utilizando o Dia/og /nformation Retrie-
vaI Service sobre o acervo do Psycinfo database, foi capaz de recuperar não mais
que uma dúzia de referências envolvendo de alguma forma o contracontrole; isto,
dentro de um conjunto mais amplo de matérias sobre o behaviorismo radical publi-
cadas nos últimos dez anos em revistas especializadas de diversas partes do mundo.

Mais decepcionante ainda, para os propósitos do presente trabalho, é a constataçlo


de que oito dessas 12 referências - Seay, Suppa, Schoen e Roberts (1984), Lauver,
Holiman e Kazama (1982), Guntern (1981), Zwart e Lisman (1979), Moyer (1976,
1978). Balsam e Bondy (1978) Davison (1973) - sAO absolutamente irrelevantes.
A maioria utiliza o conceito de contracontrole no contexto da terapia comporta-
mental, equiparando-o à própria noção de resist6neia como empregada na prática
psicanalítica. O contracontrole vem a ser, assim definido como "a extensa'o em que
um cliente pode resistir aos esforços de um terapeuta para modificá-lo". Relata-se
também que muitos profissionais vêem "a terapia como uma luta pelo terapeuta
para dominar a resistência do cliente e suas tentativas de contracontrole". Um dos
textos, utilizando o termo em uma situação institucional e definindo-o ainda como
oposiç!o ou resistência à intervenç!o comportamental, aponta negativamente o
contracontrole como responsável por preju ízos diversos - consumo de tempo, ele-
vaç!o do custo dos programas, etc. - e apresenta estratégias alternativas de progra-
maç!o para mitigar o seu desenvolvimento. Dois desses artigos, que nAO se enqua-
dram no ca!"lPO da aplicação prática, e sim no da pesquisa em psicologia social, sim-
plesmente tomam o contracontrole como sinônimo de reatineia; chegando-se, em
um desses experimentos, a correlacionar "medidas" (na verdade, inferências duvi-
dosas) de contracontrole com graus da escala essencialmente cognitivista do /oeus
of controlo

Contracontrole social 47
Dos restantes quatro artigos dessa já reduzida safra, três deles - Thyer (1984), Mon-
tesinos, Cuvo e Preciado (1983) e Greer (1982) - fazem um emprego conceitual-
mente fidedigno do termo contracontrole e focalizam questões concernentes de fa-
to ao behaviorismo radical, a saber: a) o ensino teórico-conceitual, e não meramente
técnico, da análise experimental do comportamento a profissionais não-psicólogos
dedicados à assistência humana; b) a investigação de problemas éticos. legais e insti-
tucionais relacionados à terapia comportamental na América Latina, através de
questionários enviados a profissionais atuando no Brasil, Colômbia, Chile, Repúbli-
ca Dominicana, Equador, México, Peru e Uruguai; c) o exercrcio de contracontrole
por parte da Association for Behavior Analysis (ABA) sobre a American Educatio-
nal Research Association (AERA), no sentido de forçar o reconhecimento de que
muitos dos aspectos estudados por pesquisadores educacionais (com financiamento
da AERA, que controla os fundos federais norte-americanos para pesquisa e treina-
mento) são efetivamente derivados da análise experimental do comportamento; e
que, conseqüentemente, doutores em análise comportamental devem ser incorpora-
dos aos programas de pesquisa educacional,para ensinar aos demais pesquisadores
as complexidades do behaviorismo radical. Não obstante a oportuna aplicação do
princípio do contracontrole, particularmente neste último trabalho esta se faz mais
diretamente em proveito do behaviorismo radical em si próprio, permanecendo a
intervenção socialmente relevante nos assuntos humanos apenas como uma decor-
rência impl ícita do êxito de tais estratégias contracontroladoras propostas.

Assim, o estado atual da questão da aplicabilidade pol ítica direta da noção de con-
tracontrole, pelo menos como evidenciado nos termos bibliográficos disponíveis,
terminaria representado por um único artigo, de 13 páginas, publicado em 1977.
Mas nem isso ocorre, pois esse trabalho da autoria de Hayes e Maley (1977) - Coer-
cion: legal and bahavioral issuês - é essencialmente descritivo-analítico, e não pres-
critivo; não conduz, sugere ou induz a iniciativas de contracontrole social. O con-
tracontrole, na verdade, é considerado por Hayes e Maley apenas como uma variável
dependente, cuja intensidade eles constatam decrescer em função do aumento da
coerção.

Em termos, portanto, de aproveitamento da experiência alheia prévia, não se tem


aqui nada de específico com que começar. O próprio Holland, em seu breve artigo
L Servirán los princípios conductuales para los revolucionarios? (1973, só apresen-
ta uma estratégia particular ilustrativa do exercício do contracontrole social. E não
é sequer uma boa ilustração, visto estar mais apta a servir a finalidades terroristas
imediatas do que ao persistente processo de construção de uma sociedade demo-
crática. Restará talvez à presente pesquisa a compensação - não aqdemicamente
desprezível - da originalidade; mas, por isso mesmo, acompanhada do enorme peso
da responsabilidade, acadêmica sim, mas principalmente político-social.

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4. Pressupostos teóricos específicos

A esta altura, em que já se acumulou um razoável número de reflexões nlo só sobre


a importancia da aplicação dos princípios skinnerianos a problemas sociais de sig-
nificativa magnitude, mas também sobre as dificuldades inerentes a tal empresa,
cumpre apresentar um primeiro esboço da forma de intervença'o aqui tentada e jus-
tificá-Ia em termos de sua viabilidade potencial. Dentro da proposta de Holland
(1973) de se "dar prioridade àqueles aspectos da análise comportamental aplicada
que tenham a possibilidade de ser usados pela generalidade das pessoas", e na'o ape-
nas pelas elites dominantes, a primeira prescriça'o é a de que se "analise a operaça'o
do controle comportamental vigente na sociedade", assim como "os efeitos poten-
ciais de diferentes formas de contracontrole" (p. 273-274). Em segundo lugar, ainda
de acordo com Holland, dever-se-ia projetar uma tecnologia comportamental intrin-
secamente adaptada à luta pela justiça social. Admitindo-se a pertinência de tais re-
quisitos, a intervença'o pretendida deve caracterizar-se como um processo de educa-
ç50 popular, através do qual o próprio povo se capacite ao exercício mais eficaz do
contracontrole social.

o que se quer enfatizar com essa perspectiva educacional é o despropósito de qual-


quer empreendimento alternativo pelo qual simplesmente algum conjunto de tecno-
logias específicas de contracontrole, possivelmente planejado por um grupo restrito
de psicólogos behavioristas politicamente progressistas, fosse posto em uso por
"operadores treinados" onde e quando a necessidade se apresentasse. Igualmente fa-
dadas ao insucesso seriam as iniciativas de "brindar" os beneficiários identificáveis
do contracontrole com meras especificações operacionais dessas tecnologias, como
se fossem "receitas de bolos". Realmente, a única forma efetiva de intervença'o con-
tracontroladora que ora se vislumbra consiste em um procedimento educacional po-
tencialmente generalizável. Nesse sentido, o objeto de ensino na'o foi constituído
estritamente pelos fatos e leis funcionais empíricas da análise experimental do CO~
portamento, e sim preferencialmente pelos pressupostos básicos, conceitos e princí-
pios relacionais do behaviorismo radical, que por sua própria natureza de formula-
ção filosófica ou teórica ampla, autoriza a generalizaça'o explicativa e mesmo a es-
peculaça'o acerca da totalidade das questões humanas. Pretende-se ainda que o ensi-
no adequado dos princípios teóricos dessa perspectiva psicológica comportamental
seja estendido a proporções cada vez maiores da populaça'o socialmente oprimida e
explorada. Por ensino adequado a esses segmentos populacionais entende-se aqui uma
prática educativa simplificada dos princípios teóricos, e não simplificadora da reali-
dade social como quis entender um crítico apressado do projeto. A compreensa'o
anal ítica proporcionada pelos princípios explicativos simples de uma dada realida-
de, longe de simplificá-Ia em si mesma, faz com que ela tenda a se apresentar em
toda a sua inerente complexidade ao detentor de tal poder de an6lise.

Contracontrole social 49
Que essa simplificação do conhecimento seja simultaneamente possível e útil é al-
go que pode ser convenientemente ilustrado por um trabalho de Farris, Kent e Hen-
derson (1970) sobre o ensino da ciência do comportamento nas escolas primária e
secundária. Embora referida originalmente a uma outra e específica realidade social,
a argumentação dos autores para a inclusão desse ensino no nível escolar indicado
apresenta·se válida, sem dúvida alguma, para qualquer grande contexto social urba-
no. Dizem Farris e seus colaboradores (1970):

"Nossa sociedade exige cada vez mais que seus cidadãos tenham um melhor
conhecimento da ciência (... ) Devido a isso e à quantidade cada vez maior de infor-
mação científica que há que assimilar, é evidente que se deve começar a proporcio-
nar uma educação científica eficaz tão logo seja possível na vida acadêmica do es-
tudante. (... )

A necessidade que as ciências sociais e comportamentais têm de ser compreendidas


é ainda mais obrigatória. Os problemas sociais exigem solução e, em geral, as tarefas
que implicam o emprego de pessoas estão aumentando rapidamente tanto em núme-
ro como em complexidade. ~ evidente que muitas das soluções para esses problemas
devem provir da aplicação constante dos métodos da ciência ao comportamento dos
homens. Nossos jovens estão sendo preparados adequadamente para essa
tarefa? ( ... ).

Na escola secundária, a educação científica se compõe primordialmente de cursos


de biologia, química e física. ( ... ) Tradicionalmente, à parte um curso de estudos
sociais, as ciências sociais e do comportamento não estão ao alcance do estudante"
(p.463-4).

Face a essas considerações, os referidos autores apresentaram então, em 1970, um


informe inicial sobre um vasto programa de investigação, dentre cujos objetivos já
atingidos encontra-se a demonstração e comprovação de que a análise experimental
do comportamento pode ser ensinada eficazmente ao nível escolar elementar e mé-
dio. Esse projeto foi desenvolvido durante cinco semanas sob a forma de um curso
especial de verão para 30 alunos com idades variando entre oito e 12 anos, nas
instalações da Western Michigan University. O curso tomou como modelo aquele
aplicado durante muitos anos ao nível universitário por Keller e Schoenfeld, e o
resultado foi o de que "em circunstâncias comparáveis o desempenho dos (... )
estudantes da escola primária se assemelhava ao dos alunos do primeiro ano da
universidade" (Farris, Kent e Henderson, 1970, p. 471).

Uma segunda ilustração, tão importante quanto a anterior e até mais pertinente do
ponto de vista social, é fornecida por Ulrich (1973) em um artigo sobre o papel da
universidade como agente de mudança social através dos procedimentos de modifi-
cação do comportamento. Trata-se de um dos muitos programas de extensão comu-

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nitária iniciados e conduzidos pelo Departamento de Psicologia da Western Michigan
University, então chefiado por Ulrich; qual seja, a implantação de um conjunto edu-
cacional, constituído por um jardim de infância, uma escola primária e uma creche,
que recebeu o sugestivo nome de Learning Village. Um dos seus subprogramas con-
sistia no treinamento de estudantes secundaristas, principalmente oriundos de
meios sociais desprivilegiados, para ensinar e trabalhar em Village empregando pro-
cedimentos de modificaç~o do comportamento.

Certamente, um aspecto de extremo interesse nessas intervenções ilustrativas é o da


modificaç~o do comportamento verbal. Farris, Kent e Henderson (19701 apontam-
na como uma das mudanças mais importantes que se produziram no comportamen-
to de seus jovens alunos (oito a 12 anos de idade, relembre-sel, embora tal objetivo
não tenha sido proposto explicitamente no programa. Apenas se insistia, através da
correção inicial de afirmações inadequadas pelos instrutores, em que "o modo como
falamos acerca dos acontecimentos é importante para a comunicação básica" (p.
471 I. No presente projeto de educação popular, por outro lado, o comportamento
verbal vem a constituir n~o só o foco principal da intervençA'o, como também o seu
instrumento exclusivo. Essa concentração sobre o comportamento verbal exige, en-
tretanto, um alongamento específico das considerações teóricas, na medida mesmo
em que diversos críticos o vêem como o calcanhar-de-aquiles do behaviorismo radi-
cai, ou então como uma espécie de deus ex machina com que se supriria suas supos-
tas deficiências no campo dos chamados "processos cognitivos".

Provavelmente, os melhores advogados da importância do comportamento verbal no


controle do comportamento em geral ~o Rozynko, Swift, Swift e Boggs (19731,
através das considerações que emitem em seu artigo Controlled environments for
social change. A perspectiva assumida por esses autores acerca das relações entre o
comportamento verbal e o comportamento como um todo, em conformidade qua-
se completa com os pressupostos básicos do behaviorismo radical, é assim colocada
em suas próprias palavras:

"Embora possa ser dito que as causas últimas do comportamento repousam no am-
biente externo, uma vasta proporç~o do controle do comportamento é internalizada
e é funç~o de sistemas verbais encobertos e manifestos (pensamento e falaI. (... 1,
os sistemas verbais que possuímos e partilhamos est~o diretamente relacionados aos
nossos outros comportamentos sociais e determinam nossa concepção do mundo
em que vivemos. Um homem faz muito do que faz como uma função do que ele
pensa (ou dirial que é real" (Rozynko et alii, 1973, p. 75-761.

A conformidade com os pressupostos behavioristas radicais só não. pode ser consi-


derada absoluta porque Skinner n~o autoriza o emprego do termo "internalização",
dada sua conotação algo mentalista. Mas, passando à interpretaç~o dos aspectos
mais específicos das relações sociais humanas, como na esclarecedora passagem que
se segue, encontra-se uma total compatibilidade com as formulações skinnerianas
originais:

Contracontrole social 51
"O que dizemos que está 'errado' com a sociedade, ou com o nosso próprio compor-
tamento ou o de alguma outra pessoa, é também funça'o do sistema verbal que
aprendemos em nossa comunidade, e o que dizemos a outros e a nós mesmos deter-
minará onde procuraremos as soluções. Na nossa presente sociedade o que dizemos
é uma parte significativa do problema. Nosso principal mecanismo de controle tem
sido alguma forma de punição, e muito dela é verbal. A puniça'o como um meio de
controle é ensinada em nossas comunidades, e se tornou uma parte integrante de
nosso sistema ético" (Rozynko et alii, 1973, p. 76-77).

Quanto à produção das mudanças sociais que caracterizam como efetivamente rele-
vante a aplicação do behaviorismo radical aos assuntos humanos, aqueles autores
atribuem as seguintes importantes funções ao comportamento verbal:

"O comportamento verbal cria a nossa realidade, estabelece os nossos reforçadores


e, em grande extensão, controla o nosso comportamento não-verbal. No início do
processo de mudança social ta'o necessário à sobrevivência da sociedade, devemos
nos orientar primeiro para o problema de como mudar tanto o nosso comporta-
mentp verbal manifesto quanto o encoberto, e em que direça'o" (Rozynko et alii,
1973, p. 84).

Resta, entretanto, indicar como o comportamento verbal é ou pode ser mudado, e


também em que direção deve ser mudado. O como é equacionado por eles nos se-
guintes termos:

"Qualquer comportamento, incluindo o comportamento verbal, passa por um pro-


cesso tecnicamente chamado de generalizaça'o de estímulo e resposta. Se, por um
lado, a situaça'o de estímulo permanece inalterada, a mesma resposta é ainda prová-
vel <te ser emitida. Se, por outro lado, a situação de estímulo é um tanto mudada, a
resposta também se modifica levemente. Na medida em que a resposta emitida seja
reforçada, essa flutuação continuará. Se pensar e agir em termos de princípios com-
portamentais forem efetivos em uma variedade de situações, é altamente provável
que essa prática se difunda a diferentes áreas de interaça'o humana" (Rozynko et
alli, 1973, p. 86-87).

E prosseguindo, realisticamente, Rozynko, Swift, Swift e Boggs (1973) consideram


que "a sociedade nlo será subitamente convertida a uma filosofia operante" (p. 87),
mas isto poderá ocorrer sim, gradativamente, como na modelagem do comporta-
mento individual, através de uma série de aceitações parciais sucessivas da "realidlt-
de operante".

Não obstante, a segunda questão colocada por Rozynko e seus colaboradores - em


que direção deve ser mudado o comportamento verbal - na'o parece suficientemen-
te respondida pela simples conversão final à filosofia do behaviorismo radical; e isto,

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na exata medida em que o processo de conversão ou adesão se impõe como de natu-
reza gradativa. É possível que, ao imprevisível final de tudo, tal perspectiva filosófi-
ca, a ciência que ela fundamenta e a tecnologia derivada desta última bastem para
assegurar, como quer Skinner, a sobrevivência da cultura. Nos estágios intermediá-
rios, entretanto, e particularmente na presente condição de equillbrio instável em
que parece se encontrar a sociedade humana como um todo, não se pode prescindir
de orientações políticas a serem estampadas sobre o processo de introdução dos
princípios behavioristas rad icais na discussão dos problemas sociais contemporâneos.

Isto quer dizer que, dadas as condições sócio-pol ítico-econômicas vigentes nesta
época e neste país, a avaliação exploratória da aplicabilidade socialmente relevante
do behaviorismo radical não deve ser conduzida em relação ao quadro de referência
utópico caracteristicamente skinneriano. Ao contrário, qualquer tentativa de mo-
dificação do comportamento verbal de pessoas, grupos ou instituições deve ser ava-
liada pelo critério de seu potencial de alteração socialmente vantajosa da situação
presente, pelo menos no que ela apresenta de mais imediatamente aversivo ou niti-
damente exploratório. O que estará sendo então considerado como de suficiente re-
levância social será a possibilidade de exercício eficaz, a curto ou médio prazos, de
procedimentos contracontroladores. A superação a longo prazo, defendida por Skin-
ner, das relações instáveis entre controle e contracontrole encontra-se, portanto,
além das ambições do presente estudo.

5. Procedimentos metodológicos

Para, enfim, tornar expl ícita a "formulação operacional" do problema neste estudo
exploratório, o que se propunha especificamente era avaliar a viabilidade de elabora-
ção de um instrumento didático simples sobre o controle e contracontrole do com-
portamento social, que fosse adequado a uma possível difusão sistemática no seio
de segmentos populacionais desprivilegiados do Estado do Rio de Janeiro, e que se
mostrasse potencialmente útil na orientação de seus esforços de exercício de in-
fluência democrática sobre seus próprios destinos. Caso isto ficasse positivamente
demonstrado, o próprio instrumento de popularização testado poderia vir a ser in-
corporado, como recurso concreto relevante, ao arsenal dos profissionais da inter-
venção psicossociológica, bem como ao dos leigos democraticamente engajados na
causa do igualitarismo social humano.

O processo de elaboração de tal instrumento de divulgação popular - uma Cartilha


de contracontrole social - esteve sempre informado pela seguinte definição opera-
cionalizável do termo contracontrole social: "qualquer classe de respostas emitidas
por indivíduos (isolados ou em grupo) que tenham o efeito de prevenir, eliminar ou
atenuar as conseqüências aversivas e/ou exploratórias (a curto, médio ou longo pra-
zos) produzidas para tais indivíduos por qualquer dada instância de controle social
institucionalizada (legal ou consuetudinariamente) ou em vias de institucionaliza-
ção". Nesse sentido, o instrumento didático em questão tomou uma feição prescri-

Contracontrole social 53
tiva, porém não exaustivamente diretiva, incluindo-se exemplificações e sugestões
específicas tão-somente com o propósito de melhor esclarecimento dos princípios
básicos e implicações ou desdobramentos possíveis do processo de luta pela contí-
nua redução da assimetria entre as operações, presentemente mais eficazes, de con-
trole social aversivo e/ou exploratório e as iniciativas para o seu contracontrole.

A Cartilha de contracontrole social ficou constitu ída por cinco capítulos, progra-
mados para uma leitura obrigatoriamente seqüêncial, com os seguintes títulos e res-
pectivas ementas:

Capítulo 1 - ,As causas e o controle dos fatos: breve introdução, que procura apre-
sentar logo de início o problema do controle e do contracontrole de um modo geral
e dentro de um quadro de referência cient ífico.

Capítulo 2 - O controle do comportamento humano: explicação sucinta dos princí-


pios básicos do behaviorismo radical, apresentado como a teoria psicológica cientí-
fica explorada ao longo de toda a cartilha.

Capítulo 3 - As práticas e as agências de controle social: interpretaça'o, segundo os


princípios teóricos apresentados no capítulo anterior, das operações de controle
exercidas sobre os indivíduos por outros indivíduos, grupos, instituições e a comu-
nidade em geral.

Capítulo 4 - As possibilidades de contracontrole social: prosseguimento das inter-


pretações do capítulo anterior, descrevendo naqueles mesmos termos as principaiS
formas de luta contra o controle aversivo e/ou exploratório.

Capítulo 5 - A organização democrática do contracontrole: fechamento da cartilha


com algumas perspectivas promissoras quanto ao resultado da luta pela democrati-
zação do país, em todas as instâncias de funcionamento da sociedade.

A clientela potencial da cartilha foi caracterizada, para fins de sua elaboração e em-
prego, nos seguintes termos operacionalizados - "indivíduos adultos, de ambos os
sexos, dos meios urbano e médio-urbano do Estado do Rio de Janeiro, com escolari-
dade em torno do lI? grau completo, e que, segundo um critério tríplice básico de
qualidade de vida (trabalho, habitação, saúde), se encontrem em condições nitida-
mente insatisfatórias".

Como estudo meramente exploratório que se pretendia, seus procedimentos meto-


dológicos, descritos a seguir, restringiram-se à obtenção de avaliações da cartilha por
parte de informantes voluntários qualificados. Quarenta informantes foram inicial-
mente selecionados, em função da qualidade e intensidade estimadas de suas mili-
tâncias junto a instituições (ou associações em vias de institucionalização) progres-
sistas e democratizantes da vida sócio-político-econômica brasileira localizadas no

54 Forum 2/86
Estado do Rio de Janeiro, tais como: sindicatos de trabalhadores, partidos políticos
de ideologia socialista ou liberal, associações de moradores de bairros e de favelas,
federações de tais associações, entidades autônomas de assistência social, sanitária
e educacional à população, associações comunitárias religiosas, associações de servi-
dores em organizações de trabalho, movimentos de defesa dos direitos de minorias
sociais, e assim por diante.

A cada um desses informantes foi entregue pessoalmente, por um membro da equi-


pe de pesquisa, um exemplar da Cartilha de contracontrole social acompanhado de
uma carta de apresentação da pesquisa e pedido de colaboração.

Quando da entrega do pedido de colaboração juntamente com a cartilha, e confir-


mada a disposição do destinatário em participar da pesquisa como informante, o
pesquisador combinava com ele um prazo viável para a leitura do instrumento di-
dático e obtinha sua autorização para que a entrevista, a realizar-se ao final desse
prazo, fosse gravada.

Para a realização das entrevistas caracterizadas como semi-estruturadas, a equipe


de pesquisa montou o roteiro reproduzido no anexo 1, a fim de se assegurar a ob-
tenção por todos os entrevistadores de um núcleo mínimo comum de informações
e avaliações:

Para a obtenção adicional de julgamentos objetivos, no sentido de se mostrarem pas-


síveis de uma certa quantificação, mas não exatamente um tratamento estatístico
foi elaborado ainda um breve questionário padronizado (ver anexo 2). Nele foram
introduzidos também os quesitos pertinentes de identificação do informante. O
questionário deveria ser preenchido pelo próprio informante ao final da entrevista.

6. Discussão dos resultados

Os contatos iniciais com os informantes selecionados foram feitos a partir de outu-


bro de 1984, consumindo-se nisso cerca de dois meses, devido não só às inúmeras
atividades em que se encontravam engajados aqueles prováveis colaboradores, mas
também à reduzida disponibilidade de tempo por parte dos membros da equipe de
pesquisa. Na verdade, apenas 24 dos 40 informantes de que se cogitou originalmen-
te puderam ser de fato contatados nesta tentativa inicial; conseguindo-se posterior-
mente, enquanto os primeiros já estavam sendo entrevistados, a colaboração de mais
cinco informantes.

Dos 29 líderes e militantes em organizações populares progressivas do Estado do


Rio de Janeiro aos quais se fez chegar a cartilha, 14 vieram finalmente a conceder
as entrevistas solicitadas em tempo hábil - ou seja, até meados de junho de 1985-
para serem incorporadas ao presente estudo exploratório. Tal redução última do
número de informantes deveu-se provavelmente a diversas razões, dentre as quais

Contracontrole social 55
se poderia incluir a dificuldade de comunicação posterior com os colaboradores re-
crutados, para a confirmação da leitura do texto e conseqüente definição de datas
e locais de realização das entrevistas, a efetiva indisponibilidade de tempo para
a concessão de tais entrevistas por parte de alguns e o possível desinteresse em fazê-
lo por parte de outros desses supostos colaboradores.

Não obstante, considerando-se que os colaboradores nao estariam exatamente fun-


cionando como sujeitos de alguma pesquisa planejada com vistas a um tratamento
estatístico inferencial dos dados por eles proporcionados, essa redução numérica
nã'o chegou a criar maiores problemas de natureza metodológica para o estudo em
questão. Na qualidade de informantes, em um sentido "quase-antropológico" do
termo, aqueles colaboradores dos quais se pôde obter depoimentos gravados e
avaliações globais escritas cumpriam plenamente os requisitos de qualificação an-
teriormente estabelecidos. Ademais, as entidades (associações, organizações, etc.)
a que pertenciam tais informantes eram suficientemente representativas das cate-
gorias institucionais que se desejava abarcar no estudo. Encontravam-se entre elas
dois sindicatos de trabalhadores, três associações de moradores de bairros e sua
federação, duas associações de moradores de favelas, uma entidade assistencial au-
tônoma, um núcleo comunitário religioso e três associações de servidores em or-
ganizações de trabalho. Como vários desses informantes militam também em al-
gum partido pol ítico de ideologia socialista, só não se encontrariam representados
no estudo os movimentos de defesa dos direitos de minorias sociais específicas.
A rigor, entretanto, também isto ficou atenuado, na medida em que pelo menos
um dos informantes relacionou por diversas vezes a presente proposta de educação
popular às necessidades da população negra do Estado.

De um modo geral, embora tecendo algumas restrições, os informantes consultados


avaliaram positivamente a Cartilha de contracontrole social. Antes de passar a uma
consideração descritiva de seus depoimentos como oralmente formulados - e a fim,
inclusive, de proporcionar um quadro de referência inicial para a tarefa de extração
seletiva das observações mais pertinentes, dentre todas as gravadas - parece oportu-
no dar logo conta da distribuição dos julgamentos obtidos através do questionário
objetivo de avaliação da cartilha, que todos preencheram. Realmente, esse breve
questionário (reproduzido na seção precedente) solicitava impressões globais do ti-
po "favorabilidade-desfavorabilidade" - através de escalas simples de cinco posi-
ções incluindo aqueles extremos - em relação aos seguintes aspectos: a) seriedade
da iniciativa de preparação da cartilha; b) compatibilidade entre as proposições aí
desenvolvidas e os objetivos das entidades; c) possibilidade de sua compreensão
pela população-alvo; d) capacidade da cartilha em incentivar os associados a maior
participação junto às entidades; e) sua utilidade potencial para assegurar maior efi-
cácia às atividades das entidades; f) possível interesse de seu emprego pelas entida-
des como instrumento de educação político-social dos associados.

56 Forum 2/86
Seguem-se, portanto,já que se considerou desnecessário qualquer tipo de tratamento
estatístico, as distribuições brutas dos julgamentos dos 14 informantes em relaçlo a
cada um de tais aspectos:

a) seis informantes consideraram a iniciativa de preparaç!o e possível distribuiçfo
da cartilha como extremamente séria e responsável; sete, como muito séria e respon-
sável; um, como relativamente séria e responsável.

b) um informante considerou as idéias apresentadas na cartilha como extremamen-


te compatíveis com os objetivos de sua entidade; onze, como bastante compatíveis;
um, como relativamente compat fveis; um, como incompatíveis em muitos casos.

c) nove informantes consideraram que o conteúdo da cartilha poderia ser compren-


dido com apenas relativa facilidade (ou com alguma dificuldade) pela populaçlo a
que se destina; cinco, que com muita dificuldade.

d) t~s informantes consideraram a cartilha como muito motivadora para levar os


associados a uma participaç!o mais intensa e sistemática nas atividades de suas enti-
dades; oito, como apenas relativamente motivadora; tr6s, como indiferente ou inó-
cua.
e) um informante considerou a cartilha como extremamente útil (em termos poten-
ciais) para tornar mais eficazes as atividades desenvolvidas pela sua entidade; alto,
como muito útil; quatro, como relativamente útil; um, como inútil.

f) um informante considerou que haveria extremo interesse de sua entidade em ex-


plorar mais amplamente a cartilha como instrumento experimental de educaçlo p0-
pular, a fim de suprir necessidades de preparo político-social de seus associados;
seis, que haveria muito interesse; cinco, que haveria relativo interesse; um, que have-
ria desinteresse; um omitiu qualquer julgamento.

Algumas indicações importantes, ou seja, absolutamente pertinentes para os propó-


sitos deste estudo exploratório, podem ser extraídas dessa simples distribuiça'o
quantitativa dos julgamentos globais. Isto, é claro, sob a condiça'o imperativa de se
buscar posteriormente suas confirmaçl5es no teor geral dos depoimentos orais dos
informantes, que foram emitidos de forma mais espontânea e circunstanciada, ou
pelo menos n!o limitada por alternativas de respostas previamente estabelecidas.

Nesse sentido, algo que salta de imediato aos olhos é a avaliaça'o realmente muito
positiva que os informantes fizeram da iniciativa de estender um tipo de conheci-
mento acadêmico produzido de modo autônomo - e, com freqüência. consumido
exclusivamente intramuros nesse próprio ambiente universitário - à sociedade mais
abrangente, e em especial aos segmentos desta,que de outra forma provavelmente ja-
mais teriam acesso a tal conhecimento. Embora implícito. não é demais ressaltar o

Contracontrole social 57
caráter crucial dessa avaliaçã'o maciçamente favorável. De fato, se o propósito de
elaboraçllo da Cartilha de contracontrole social nã'o tivesse sido considerado como
sério e responsável ao nível em que o foi, na'o haveria nenhum sentido em prosse-
guir com o estudo exploratório de sua aplicabilidade. Por outro lado, esse aval terá
sido em grande parte determinado pelo fato de se haver submetido, com iguais serie-
dade e responsabilidade, tal tentativa de popularizaçã'o do conhecimento acadêmico
à apreciação de indivíduos legitimamente representativos daqueles segmentos comu-
nitários.

o que se encontra aí implicado - e se tem raz15es para acreditar que essas represen-
taç15es populares o tenham apreendido - é o despojamento de toda e qualquer dis-
posiçã'o paternalista apresentado pela proposta de educaçã'o popular em questã'o.
Mas também, e isso envolve outro crédito autêntico à perspicácia psicossocial dos
informantes, nã'o se caiu no extremo oposto, pseudo-igualitário, de mal disfarçada
pieguice populista, pelo qual tantos ativistas ingênuos (ou, talvez, cínicos), dotados
eles próprios de uma educaça'o superior, pregam abertamente - quase ao estilo de
um "ato de contriçã'o" por integrarem estratos sociais econômica e culturalmente
privilegiados - que o saber acadêmico nada tem a proporcionar às camadas popula-
res desprivilegiadas. Costuma dizer tal ativista ing§nuo (ou cínico) tfpico que ele de
fato só tem a aprender com a cultura popular, ou quando muito poderia "facilitar"
o próprio desenvolvimento sócio-intelectual desses grupos culturais; negando-se,
assim, a lhes transmitir qualquer fraça'o da eficácia do conhecimento universitário
por ele adquirido em funçã'o de.seu inerente privitéQio de classe.

Em nítido contraste com essa socialmente irresponsável retórica não-diretiva, de


flagrante motivaçã'o auto-absolvidora, sustenta-se aqui que a universidade tem sim o
que ensinar ao povo, que a ciência do comportamento lida efetivamente com fenô-
menos reais, inclusive quando os manipula em seus laboratórios. E que, por isso
mesmo, o conhecimento acadêmico que se produz pode e dever ser proveitosamente
apropriado por comunidades que estejam segmentadas em relaçã'o à extensa e diver-
sificada cultura dominante, já que esse status quo se mantém precisamente porque o
!lcesso a tais formas de conhecimento lhes é negado. Vários dos depoimentos dos
informantes endossam a consistência pol ítico-social dessa postura. Assim também,
parecem eles absolutamente conscientes de que a forma como deva se dar essa
apropriação, considerados os efeitos que fatalmente irá produzir sobre suas culturas
específicas, constitui efetivamente um problema, mas um problema delllS; e na'o da-
queles que eventualmente extraiam algum gozo estético (ou até uma penitente au-
toflagelaçã'o moral) pela contemplação dessa cultura popular, mas nã'o sofram de
fato as conseqüências aversivas que ela simultaneamente mantém implícitas para os
seus participantes natos.

Uma segunda indicaça'o preliminar importante que se pode extrair da distribuiçlo


quantitativa dos julgamentos, e que veio a receber o mesmo aval inequivocamente
positivo por parte dos informantes, é representada pela compatibilidade percebida

58 Forum2/86
entre as interpretaçlSes teóricas e prescrições aplicadas da cartilha e os objetivos pa-
Iítico-sociais das entidades envolvidas no estudo explorat6rio. Aquilo Que na seçIo
precedente se julgou imprescindível - qual seja, uma espécie de estampagem de
orientações pol íticas definidas nestas primeiras etapas do processo de introduçlo
dos princípios behavioristas radicais na discuss§o dos problemas sociais contempo-
raneos - parece ter sido assim plenamente bem-sucedido. Na medida em que essa
introduçio de posicionamentos políticos na"o tenha implicado na distorça"o dos
princípios skinnerianos veiculados (e isto é algo cuja avaliaça"o compete aos partici-
pantes seniors da empresa cultural acadêmica, e na"o propriamente aos informantes
comunitários da empresa cultural popular), fica automaticamente demonstrado que
o skinnerismo nio está, à diferença do que tanto se aduz sem qualquer fundamenta-
çio empírica, forçoS;lmente vinculado às necessidades do sistema controlador aver-
sivo e/ou exploratório. Os doze informantes que julgaram haver bastante (e até
extrema) compatibilidade do teor da cartilha com os objetivos de suas entidades es-
tiveram, portanto, ao definir tais objetivos, traduzindo em outros termos também os
próprios objetivos da intervençio behaviorista radical nos assuntos humanos ora
pretendida.

Já em uma direçlo oposta àquela que até agora se enfatizou, salta aos olhos tam-
bém, a partir da distribuiçio dos julgamentos objetivos dos informantes, algo que
se deve tomar, pelo menos em princípio, como uma grave deficiência da cartilha e
talvez da própria filosofia de educaçio popular que a fundamenta. Trata-se da redu-
zida inteligibilidade potencial do texto da cartilha para a populaça"o a que se plane-
jou destiná-Ia. Se nenhum dos informantes denuncia uma extrema dificuldade de
sua compreensa'o, também nenhum considera que ela possa ser compreendida com
muita facilidade. A rigor, mais de uma terça parte dos informantes é taxativa em
caracterizá-Ia como de muito difícil compreens!o. Quanto aos outros nove infor-
mantes, embora assumam o julgamento mais cauteloso de "relativa facilidade/algu-
ma dificuldade", pode-se abrigar a suspeita de que, se solicitados a se definirem en-
tre as alternativas de "muita facilidade" e "muita dificuldade", empurrariam suas
avaliaçlSes definitivas para baixo, em direça"o à maior dificuldade. Não obstante,
como já se estabeleceu anteriormente, para qualquer conjectura formulada a partir
desses dados numéricos deve-se buscar uma necessária confirmaça"o nos depoimen-
tos discursivos. Além disso, na medida em que tais depoimentos identifiquem os
fatores ou aspectos mais responsáveis por tornar a cartilha difícil, estarão proporCio-
nando uma orientação extremamente importante para o trabalho posterior de sua
reformulação com vistas à eliminação desse problema. De qualquer forma, cabe
ressalvar desde já, não se poderia esperar mesmo muita facilidade na compreens!o
e retençio de uma terminologia que se oplSe tão flagrantemente às explicações men-
ta listas tradicionais. Estas permeiam não só a cultura erudita, mas também a cultura
popular em toda a sua extensa'o, infiltrando-se mesmo nos eventuais discursos sócio-
materialisticamente ancorados de alguns informantes.

Igualmente problemática, para a utilizaçio da cartilha como instrumento didático de

Contracontrole social 59
educaçlo polftica comportamental, é a dubiedade da distribuiçlo dos julgamentos
quanto ao seu poder de influir sobre os aspectos motivacionais do engajamento das
pessoas nos movimentos populares progressistas. Considerando-se a velocidade obri-
gatoriamente lenta de tais movimentos na consecuç!o de seus objetivos de convivên-
cia democrática plena e de justiça social, a participaç!o persistente e sistemática da
populaç!o constitui certamente uma preocupaç!o bastante válida e sempre presente
por parte de suas lideranças. Para o esclarecimento dessa quest!o afiguram-se, por-
tanto, como da maior pertinência n!o só os depoimentos verbais dos informantes
acerca dos prováveis efeitos da cartilha em si, mas também a caracterizaçlo do pre-
sente envolvimento dos associados com os objetivos e sua participaç!o nas ativida-
des das entidades, o grau em que os objetivos propostos estejam de fato sendo al-
cançados através daquelas atividades e os possíveis fatores ou circunstâncias respon-
sáveis pelos sucessos e insucessos que as entidades têm experimentado. De fato, s0-
mente contra esse pano de fundo da situaç!o atual é que se pode legitimamente ar-
riscar algum prognóstico sobre o que poderá ser provocado pela introduçlo da nova
"variável independente" representada pela cartilha.

Obviamente, a eventual capacidade desse texto em produzir os efeitos comporta-


mentais de engajamento nos programas de mudança social patrocinados pelas enti-
dades depende de uma motivaç!o anterior para estudá-lo, ou, nos termos skinneria-
nos, para colocar o próprio comportamento manifesto e encoberto sob o controle
dos estímulos discriminativos verbais que o constituem. Para isso, é necessário que
a cartilha comporte também estlmulos reforçadores verbais capazes de assegurar
que, uma vez iniciado o comportamento de leitura, este se mantenha até a última
página, e determinem inclusive a sua releitura. N!o obstante, é preciso que se dis-
ponham contingências extrínsecas de reforço social para provocar pelo menos o
início da leitura.

Assim, parece oportuno caracterizar, logo como uma primeira providência para o
equacionamento do problema, a situação atual da mobilizaçã'o dos associados no
âmbito das entidades envolvidas neste estudo. Nesse sentido, os depoimentos dos
informantes, em sua quase unanimidade, indicam explicitamente que é bem pouco
satisfatório o grau de envolvimento dos associados, ou dos conjuntos maiores das
categorias ocupacionais ou populacionais, com os objetivos de suas respectivas en-
tidades. O mesmo ocorre, conseqüentemente, com relaçao à participaçã'o nas ati-
vidades concretas promovidas pelas entidades, evidenciando-se aí uma nítida difi-
culdade por parte das lideranças em assegurar a participaçã'o sistemática de tais mas-
sas populares. O que se mostra mais característico é uma espécie de flutuação, um
movimento de fluxo e refluxo, do envolvimento e da participação, praticamente ao
sabor de circunstâncias nâ"o planejadas e imprevistas.

Chega-se, enfim, às últimas, e seguramente mais importantes, avaliações solicitadas


no questionário objetivo. quais sejam, "a utilidade potencial da cartilha para tornar
mais eficazes as atividades desenvolvidas pelas entidades" e "0 interesse dessas enti-

60 Forum2/86
dades em explorá-Ia mais amplamente como instrumento experimental de educaçlo
poHtica popular". Nesses itens, as distribuições dos julgamentos globais dos infor-
mantes tendem para uma espécie de "curva normal", porém com alguma assimetria
• no sentido da favorabilidade, e mais acentuada no que se refere à "utilidade da car-
tilha". Na verdade, a utilidade de alguma coisa e o interesse por ela (desde que se a
necessite) são praticamente a mesma questão. Uma conjectura plausível é a de que,
constituindo-se das últimas perguntas diretas do questionário, a distribuição dos jul-
gamentos nessa "única" questão seja uma espécie de resultante das avaliações muito
positivas quanto à seriedade da cartilha e sua compatibilidade com os objetivos das
entidades e das avaliações mais negativas quanto à possibilidade de compreensA'o do
texto e sua capacidade mobilizadora.

Considerando a precária situaçA"o atual das entidades colaboradoras no que se refe-


re às suas próprias capacidades de mobilizaçA"o, cabe esclarecer no momento, antes
de abordar mais extensamente a questa'o-síntese da utilidade/interesse da cartilha,
que este instrumento didático por si SÓ, como qualquer material escrito do gênero,
realmente pouco poderia fazer na ausência de contingências extrínsecas de reforço
social que assegurassem pelo menos o in ício da sua leitura. Visto que as entidades
encontram, como apontaram diversos informantes, dificuldades extremas em pro-
mover comportamentos verbais sistemáticos por parte de seus associados no sentido
do estudo de quaisquer textos informativos, torna-se válido especular que a avalia-
çA"0 da reduzida capacidade mobilizadora da cartilha talvez constitua, pelo menos
em parte, um reflexo da própria consciência dos Iíderes e militantes quanto à ins-
tabilidade do processo de mobilizaçA"o como um todo em suas respectivas entidades.
Nio se trata aqui, convém frisar, de arranjar uma justificativa ad hoc para o "fraco
potencial mobilizador da cartilha". Simplesmente, constata-se o fato de que, se os
leitores a que ela se destina não forem induzidos de algum modo a sequer abri-Ia,
nIo se expondo portanto aos estímulos verbais que a complSem, estes nio poderão
mesmo produzir nenhum dos efeitos comportamentais propostos em princípio. Es-
ta é uma limitação, plenamente admitida, de uma "tecnologia do comportamento"
que se apóia exclusivamente sobre a estimulaçA"o verbal.

o problema em si de induzir os associados, ou os membros de uma categoria social


ou de um segmento populacional, à leitura da cartilha - desde, é claro, que tornada
intelectuaimente mais acessível e graficamente mais convidativa - não é diferente
do (ou mesmo, inclui-se no) problema mais geral de obter adesões ao movimento
como um todo. Os militantes experimentados sabem bastante bem como fazê-lo;
com paciência, falando aos interesses mais imediatos da pessoa a ser recrutada, e
assim por diante.

O mais importante, portanto, face ao que vem de ser considerado acerca das pré-
condições sociais - arranjo das adequadas contingências extrínsecas de reforço pe-
las entidades populares - é a produção dos efeitos reforçadores (ou mobilizadores,
se se preferir) e discriminativos (ou informativos, em termos mais genéricos) intrín-

Contracontrole social 61
secos à Cartilha de contracontrole social. Em outras palavras, o que importa para
concluir sobre a aplicabilidade socialmente relevante do behaviorismo radical, sob a
forma da cartilha em foco, é, à parte o grau de inteligibilidade, sua utilidade poten-
cia! para a orientação do exercício do contracontrole e para a garantia da persistên-
cia de tais esforços.

Um componente especial dessa segunda função - persistência do comportamento


de contracontrole - e que responde em parte até pelo seu desencadeamento, ou se-
ja, o papel mobilizador parcial que lhe cabe, é o que se chamou no projeto original
de "aceitabilidade afetiva". Se, por um lado, a induça'o à leitura da cartilha deve ser
deixada a cargo das militâncias já organizadas, por outro lado, o prosseguimento do
seu estudo depende basicamente de que suas proposições sejam aceitáveis, ou não
rejeitáveis liminarmente, por parte da população-alvo.

Em resumo, o que os militantes que colaboraram no presente estudo informam é


que, embora a aceitaçao por parte da população-alvo do "fato de que seus compor-
tamentos se encontram sempre sob controle ambiental" nao deva ser muito tran-
qüila, o tratamento dessa questa'o pela cartilha é importante e necessário. t: claro
que uns poucos informantes manifestaram uma opinia'o oposta, porém basicamente
colocada em termos de seus respectivos posicionamentos teóricos ou filosóficos
próprios.

Com efeito, virtualmente todos os informantes consideram que as pessoas segura-


mente veriam nas interpretações propostas na cartilha "algo como uma descriça'o
de suas próprias vidas e de como elas sa'o controladas em vários níveis". Esta consti-
tuía, a rigor, uma das principais expectativas sobre as quais o autor da cartilha ba-
seava a pretendida capacidade reforçadora do texto. Dizendo de outra maneira, su-
pos-se que uma alta probabilidade de auto-reforço, capaz de responder pelo prosse-
guimento do comportamento de leitura da cartilha, estaria assegurada pelo inevitá-
vel - antes apenas suposto, mas agora confirmado pelos informantes - reconheci-
mento, por parte do leitor a que se destina, de uma estreita correspondência entre o
que se descrevia no texto e a sua própria condição social concreta.

Uma outra importante suposição quanto ao poder reforçador da cartilha, inclusive


para o comportamento pol ítico-associativo concreto, que veio a ser confirmada
pelos informantes, é representada pelo fato de o próprio texto, que descrevera aque-
las condições sociais insatisfatórias como resultado de procedimentos de controle,
sustentar consistentemente a plausibilidade de sua superação através da aça'o contra-
controladora.

Na verdade, esperava-se que um forte efeito reforçado r estivesse implicado na con-


cepção do contracontrole como constituindo em si próprio uma forma de controle,
visto que com isso se estaria retirando qualquer aura de mistério, de inacessibilidade,
daquela noça'o e de seu efetivo exercício. Dado que o controle é já um fenômeno

62 Forum 2/86
conhecido, e até sofrido ao longo da experiência de vida de cada um, passar a apli-
cá-Io sobre as pessoas, grupos e instituiçlSes que mais abusem de seu emprego deve-
ria produzir um "sentimento" (um estado reforçadorl de domínio sobre os pró-
prios destinos_ Segundo os depoimentos de vários informantes, isto realmente fun-
cionaria assim, possibilitando, inclusive, de acordo com alguns dos julgamentos, um
reconhecimento da necessidade dialética das relaçlSes entre controle e contra-
controle.

Passando agora à funçã'o discriminativa desempenhada pelos estímulos verbais da


cartilha, verifica-se que, mesmo concluindo, como já se fez aqui, que o texto é de
difícil compreens!o para a populaçã'o-alvo, e inclusive para vários dos informantes
(que confessaram nã'o terem captado muito bem algumas das idéias apíesentadas),
há bastante o que creditar, em termos de utilidade potencial, a esse instrumento
didático.

Acreditando que os resultados do presente estudo exploratório, como aqui interpre-


tados, tenham se mostrado suficientemente favoráveis para autorizar, em termos
de qualidade acadêmica e responsabilidade político-social, o prosseguimento da in-
vestigaçã'o da aplicabilidade socialmente relevante do behaviorismo radical, deli-
neiam-se, desde já, as seguintes etapas de desdobramento da pesquisa. Em primei-
ro lugar, deve ser providenciada uma reformulação da linguagem da cartilha no
sentido de sua simplificaçã'o, bem como um melhor planejamento gráfico, com a
introduçã'o inclusive de ilustrações por desenhos elou fotografias. Com relação aos
conceitos e princípios behavioristas radicais, a facilitaçã'o de seu entendimento e re-
tençlo deverá ser alcançada mediante uma exemplificaçã'o nã'o só mais abundante,
mas também mais vinculada à vida cotidiana dos leitores em potencial. Em segundo
lugar, deverã'o ser construídos instrumentos de medida da compreens!o e retençã'o,
sob a forma estrita de aplicaçlSes comportamentais concretas. Um acompanhamen-
to do ritmo de leitura por um grupo-piloto de sujeitos deverá permitir uma avalia-
çlo da eficácia dos estímulos reforçadores verbais, a serem incluídos e distribuídos
ao longo da cartilha durante a etapa de sua reformulaçã'o estilística e gráfica. Em
terceiro lugar, deverá ser retomado o contacto com os informantes que tenham ma-
nifestado maior interesse em explorar a cartilha como instrumento de educaçã'o
pol ítica popular no Ambito de suas entidades, para: 1) realizaçã'o de pré-teste do ins-
trumento de medida da compreensa'o/retençã'o; 2) acompanhamento do ritmo de
leitura da cartilha, a fim de detectar as partes que porventura não estejam bem
apoiadas pelo reforçamento verbal introduzido; 3) de posse dos resultados alcan-
çados em (1) e (2), e após seu eventual emprego em uma segunda reformulaçlo do
texto, planejar uma pesquisa experimental de campo, implicando esta uma assun-
çã'o conjunta de responsabilidades éticas e políticas pela equipe de pesquisa e as li-
deranças populares.

Contracontrole social 63
7. ConclusGllS

Sustentou-se aqui que objetivos políticos progressistas e democratizantes podem


também ter sua perseguiçAO social beneficiada pela adoção da perspectiva teórica
do behaviorismo radical. Certamente, se nAO houvesse qualquer vantagem na assi-
milaçAO das práticas verbais behavioristas às atividades de interpretação da realidade
social e de planejamento da sua necessária ação transformadora, a presente proposta
constituiria um flagrante desserviço às causas da democracia e do socialismo. Na
medida, entretanto, em que se consegue, ainda que em termos apenas potenciais,
demonstrar sua utilidade, uma eventual resistência em explorá-Ia - por parte dos
grupos, movimentos semi-institucionalizados e entidades, que têm nessas causas sua
própria razão de ser - é que passaria a representar tal desserviço_ Essa espécie de
repto - de que se faz agora preceder a síntese conclusiva da aplicabilidade behavio-
rista radical - pode ser construtiva e lealmente lançado, porque não implica absolu-
tamente qualquer descrédito dos esforços desenvolvidos por essas vanguardas
políticas organizadas. As habilidades e sensibilidades dos seus experientes militantes
são aqui tomadas como realmente imprescindíveis_

Não se sugeriu em momento algum, ao longo deste inteiro trabalho, que tais mili-
tantes viessem a ser substitu ídos por "tecnólogos comportamentais", aos quais se pro-
porcionasse, à guisa de formação "complementar", alguma espécie (inteiramente in-
viável, adiante-sel de instrução expedita em "política cotidiana". ~ precisamente o
oposto que se vem aqui propor - que aos militantes de longa e rica formação na
"escola da vida política" seja conferida uma familiarização adicional com os concei-
tos e princípios do behaviorismo radical.

Encontra-se implfcita nessa última proposiçã'o uma das principais vantagens da aná-
lise comporta mental aplicada, qual seja: ela é plenamente comunicável e para fins
permanentes; ou, em outros termos, presta-se efetivamente à apropriação pelas mas-
sas populares, através da intermediação responsável de suas lideranças. Em um pri-
meiro momento, os cientistas do comportamento, ou talvez uma equipe de psicó-
logos comportamentais aplicados, devem seguramente se fazer necessários, mas uma
dependência permanente em relação aos detentores iniciais de tal saber teórico e
técnico torna-se bastante improvável, senão de todo impossível, uma vez iniciado o
processo sério e consistente de sua apropriação. Dizendo de outra maneira, a trans-
ferência integral e definitiva do conhecimento behaviorista radical acadêmico para
o domínio público, ou seja, sua efetiva democratização" é realmente viável ocorrer;
ao contrário do que acontece com outros tipos de produção intelectual que, por
sua sofisticação filosófica menta lista, por sua complexa elaboração sintática inter-
na, ou por sua suposta transcendência em relação à vida humana em si, requerem al-
go como uma "iniciação interminável".

Cabe, no momento, é claro, a ressalva de que os resultados do estudo exploratório


empreendido aparentemente não autorizam as ilações do parágrafo precedente. Afi-

64 Forum 2/86
nal de contas, uma das evidências mais nítidas ali obtidas refere-se justamente à di-
ficuldade de compreensão do texto por parte da população a que se destinava_ Não
obstante, estudos anteriores conduzidos sob maior controle experimental - Farris,
.. Kent e Henderson (1970), Ulrich (1973) - demonstraram a factibilidade do ensino
da análise experimental do comportamento a crianças entre oito e 12 anos de idade,
alcançando um nível de competência comparável ao de estudantes universitários,
assim como do treinamento de secundaristas oriundos de ambientes desprivilegia-
dos para o emprego em tarefas de socialização de crianças menores. Do fato de que
a forma didática empregada no presente estudo - a Cartilha de contracontrole so-
cial - tenha se mostrado pouco adequada não se segue logicamente que qualquer
outra formulação técnica, apenas porque destinada a proporcionar a aquisição do
mesmo tipo de repertório verbal, esteja também fadada a um igual insucesso relati-
vo. Além do mais, como já discutido na seção precedente, o grau em que foi avalia-
da a seriedade da iniciativa e sua compatibilidade com os objetivos progressistas e
democratizantes das entidades envolvidas no estudo, assim como os elucidativos e
alentadores depoimentos dos informantes com relação a diversos aspectos da car-
tilha, permitem concluir que o desafio de tornar tal instrumento didático mais fa-
cilmente compreensível para a população-alvo constitui um problema técnico de
previsível possibilidade de superação. Ainda, o fato de que praticamente todos os
informantes chegaram a empregar espontaneamente, uma ou outra vez, a termino-
logia da cartilha, após uma única leitura, contribui para fortalecer a expectativa de
que o processo de generalização dos princípios skinnerianos na análise das relações
sociais e no planejamento de sua modificação possa ser alcançado através de proje-
tos de educação popular como este.

Como sugerem Rozynko, Swift, Swift e 80ggs (19731. "o maior problema daqueles
interessados na aplicação dos prindpios operantes hoje em dia é o de sobreviver em
um ambiente normal" (p. 88), onde "normal" significa simplesmente a maneira de
falar sobre esse ambiente que predomina na sociedade. Esta é, certamente, a razão
pela qual, como assinala Geiser (19761. os programas de modificação do compor-
tamento, em todas as áreas de aplicação onde são agora (parcialmente, pelo menos)
reconhecidos e aceitos, fizeram sua primeira penetração pela "porta dos fundos".
Por exemplo, no caso das escolas, os modificadores do comportamento trabalharam
inicialmente, segundo Geiser, com indivíduos "que haviam sido rejeitados pelo siste-
ma, tais como os retardados, os emocionalmente perturbados, as vítimas de danos
cerebrais, os delinqüentes, os ignorantes" (p. 104). E, nesse sentido, prossegue Gei-
ser:

"Á semelhança do que ocorreu em outros setores, só depois que os modificadores


demonstraram sua capacidade para efetuar alterações em crianças excepcionais, que
todos os demais haviam considerado casos perdidos, é que conseguiram penetrar nas
salas de aula comuns e em escolas inteiras" (Geiser, 1976, p. 104).

Se é válida essa generalização, ou seja, que a modificação do comportamento e o be-

Contracontrole social 65
haviorismo radical que a informa apresentam uma tendência - determinada exter-
namente pelo "estado normal da sociedade" - à "açao subversiva", entâ'o o cami-
nho certo para começar a exercer suas influências transformadoras sobre as agências
governamental e econômica é precisamente o que se delineou no presente trabalho,
ou seja, através dos movimentos populares de contracontrole social. Isto, assim,
corresponderia melhor à sua verdadeira "vocaç!o" do que a via esboçada em Psico-
logia do controle social (Sá, 1979) - a partir de proposições tomadas de Mannheim
e de Popper - de ocupação gradativa de posições-chave no governo e na economia.

De fato, dificilmente os eventuais ocupantes behavioristas dessas posições sobrevive-


riam por muito tempo nesses ambientes "normais". E, se há que penetrar pelas "por-
tas dos fundos" de tais instituições para torná-Ias mais justas e democráticél5, faz·se
necessário juntar·se às correntes de "pensamento e aç!o" que as descobriram há re-
lativamente bastante tempo, a ponto de já se encontrarem elas semi-institucionaliza-
das sob os rótulos de educação popular e trabalho comunitário - ou, mais especifi-
camente, na dimensao aqui privilegiada da psicologia comunitária.

Passando por alto o fato de que essas "pontas de lança" da mudança social pratica-
mente também já estabeleceram seus próprios "discursos normais", freqüentemente
tao mentalistas quanto a chamada "ideologia dominante" com a qual terçam armas,
as condições de sobrevivência, e conseqüente produçao de efeitos, da intervençao
behaviorista radical parecem aí efetivamente mais favoráveis. Campos alternativos
por excelência - com relaç!o, respectivamente, à agência educacional formalizada
e às instituições psicossociologicamente mais tradicionais da sociedade civil - a
educaçao popular e a psicologia comunitária parecem configurar·se como suficiente-
mente amplos para comportar a penetração do behaviorismo radical, sem confron-
tos extremos com as abordagens teóricas "normais" ou já reconhecidas pela literatu-
ra acadêmica especializada. Atesta tal possibilidade de coexistência a aceitação bas-
tante satisfatória que a "cartilha behaviorista" mereceu da parte das lideranças co-
munitárias e das militâncias - sempre e forçosamente educacionais - dos movimen-
tos populares.

66 Forum 2186
Anexo 1

Roteiro para entrevistas com informantes selecionados

Antes de passarmos à avaliaç30 da cartilha como lhe havíamos pedido, nós (a equi-
pe) gostaríamos de saber um pouco mais sobre a sua entidade (associaçfo, sindicato,
etc.). Apenas meia dúzia de perguntas que queremos lhe fazer.

1. Quais sa'o os principais objetivos da entidade?

2. Quais as atividades mais freqüentemente (ou continuamente) conduzidas pela en-


tidade para atingir seus objetivos?

3. Como você caracterizaria o envolvimento dos associados com os objetivos e a sua


participação em tais atividades?

4. Como você avaliaria o grau em que os objetivos propostos esta'o sendo de fato al-
cançados através dessas atividades?

5. A que fatores ou circunstâncias você atribui os sucessos que se têm verificado? E


os insucessos?

6. Em que medida você acha que os insucessos podem ser debitados a alguma insufi-
ciência de perspectiva (ou preparo) político-social por parte dos associados?

_. Podemos passar agora ao exame da cartilha em si. Como você deve se lembrar, ela es-
tá dividida em cinco capítulos. Que tal se os folheássemos juntos, e você fosse me
dando a sua opini30 sobre o conteúdo de cada um deles?

Capítulo 1

1. Como, de acordo com a sua experiência, você acha que os leitores a que se desti-
na a cartilha (relembrando: adultos de ambos os sexos, com escolaridade em torno
do lQ grau, pertencentes a segmentos populacionais desprivilegiados) receberiam
essa introdução?

2. E quanto a você próprio, parece-lhe útil ver as coisas da maneira como sa'o apre-
sentadas nessa introdução?

Capítulo 2

1. Como você acha que os leitores receberiam a idéia de que os seus comportamen-
tos se encontram sempre sob o controle do ambiente?

Contracontrole social 67
2. Você próprio, o que acha dessa afirmaç!o? As argumentações e exemplos chega-
ram a lhe parecer convincentes?

3. O Que você achou dos novos conceitos psicológicos apresentados nesse capítulo?

Capítulo 3

1. Você acha que os leitores veriam nessas interpretações algo como uma descrição
de suas oróprias vidas e de como elas sa"o controladas em vários níveis?

2. E você, o que achou de tais interpretações? Pareceram-lhe bastante próximas ou


muito distantes da realidade?

Capítulo 4

1. Você acha que há alguma utilidade em se pensar o contracontrole como sendo


também uma forma de controle, através da qual se poderia simplesmente modificar
as práticas controladoras?

2. Como você acha que os leitores receberiam essa idéia? E a afirmativa de que o
contracontrole é uma necessidade absoluta para a construça"o de uma sociedade jus-
ta e democrática?

Capítulo 5

1. O que você achou desse fecho? Pareceu-lhe realista ou muito idealizado?

2. Como você acha que os leitores receberiam essas idéias sobre a democracia e so-
bre as instituições e movimentos democratizantes?

6B Forum2/86
Anexo 2

Questionârio de avaliação da Cartilha de contracontrole social

Entidade _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __

Endereço _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __

Bairro _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _CEP _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __

Cidade _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ Telefone _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __

Data de criaça'o _ _ _ _ _ _ _ _ _ N<? de associados _ _ _ _ _ _ _ __

Informante _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __

Idade'_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ Profissa'o _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __

Cargo ou funça'o _ _ _ _ _ _ _ _ _Tempo de atuaça'o _ _ _ _ _ _ _ __

Militâncias anteriores _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __

1. De um modo geral, como você viu essa iniciativa de preparaça'o e possível distri-
buiça'o da cartilha?

extremamente séria e responsável

muito séria e responsável

relativamente séria e responsável

ingênua e irresponsável

mal· intencionada

2. Em que medida as idéias apresentadas na cartilha lhe parecem compatíveis com


os objetivos da entidade?

extremamente compatíveis

bastante compatíveis

relativamente compatíveis

Contracontrole social 69
incompatíveis, em muitos casos

absolutamente incompatíveis

3. Com que grau de facilidade você acha que o conteúdo da cartilha poderá ser com-
preendido pela população a que se destina?

com extrema facilidade

com muita facilidade

com relativa facilidade/alguma dificuldade

com muita dificuldade

com extrema dificuldade

4. Em que grau você considera que a cartilha poderia motivar os associados a uma
participação mais intensa e sistemática nas atividades da entidade?

extremamente motivadora

muito motivadora

relativamente motivadora

ind iferente/i nócua

desmotivadora/desanimadora

5. Como você classificaria a cartilha em termos de sua utilidade potencial para tor-
nar mais eficazes as atividades desenvolvidas pela entidade?

extremamente útil

muito útil

relativamente útil

inútil

prejudicial

70 Forum2/86
6. Que interesse haveria de sua entidade em explorar mais amplamente a cartilha ca-
mo instrumento experimental de educaçlo popular, a fim de suprir necessidade de
preparo pol ítico-social de seus associados?

extremo interesse

muito interesse

relativo interesse

desinteresse

total rejeição

7. No caso de haver algum grau de interesse de sua entidade na cartilha, de que mo-
do você sugeriria empregá-Ia?

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