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de Processo Civil
1 INTRODUÇÃO
Assim sendo, não se pode afastar o processo da realidade econômico-social, bem como
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das cargas ideológicas de seus legisladores e aplicadores que nele incidem, afinal, o
processo é sim produto da realidade, e deve ser estruturado como tal, amoldando-se aos
direitos materiais presentes no ordenamento constitucional e infraconstitucional.
E a realidade impõe, desta forma, uma visão diferenciada do Poder Judiciário, diversa da
noção básica de que a tutela jurisdicional será garantida para repreender danos e lesões
ao direito do sujeito ativo do processo, pois, nem todos direitos podem ter sua natureza
deturpada, e simplesmente transformada em moeda.
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A tutela inibitória e os seus fundamentos no novo Código
de Processo Civil
Com base nesse paradigma, o presente trabalho visa demonstrar no que consiste a
tutela inibitória, seus fundamentos, bem como o seu tratamento no Novo Código de
Processo Civil (CPC/2015), ressaltando-se sempre que a prevenção é requisito
indispensável para uma tutela efetiva na defesa de direitos que não permitem a sua
transformação em pecúnia.
2 A PREVENÇÃO COMO REQUISITO ESSENCIAL A UMA TUTELA JURISDICIONAL EFETIVA
Este novo direito é o direito de ação, que em nosso ordenamento vem previsto no art.
5.º, XXXV, da CF/1988 (LGL\1988\3), e garante que "a lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito".
Por isso, o Estado ao garantir a via jurisdicional proíbe o cidadão de se utilizar da própria
força para fazer valer o seu direito lesado, ao disponibilizar um sistema jurisdicional apto
e eficaz a determinar, quando provocado, a vontade concreta da lei.
A privação da autotutela, pois, faz com que a norma material seja igualmente, em via
reflexa, dependente das normas processuais, justamente por aquelas só serem
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realizadas litigiosamente quando existentes estas.
Logo, a máxima chiovendiana (o processo deve dar, quanto for possível praticamente, a
quem tenha um direito, tudo aquilo e exatamente aquilo que ele tenha direito de
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conseguir) traduz a preocupação metodológica de um processo instrumental que visa,
sobretudo, uma sincronização com as normas de direito afirmado, defendendo a
constante influência e necessidade de ambos os planos, de um modo amplamente
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dualista em que o processo amolda-se e adapta-se ao objeto que visa tutelar, como
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um instrumento moldado conforme as necessidades e os fins a que se destina.
No entanto, observamos, de modo breve, que a tutela jurisdicional não deve se ater
somente à noção de direito a sentença de mérito, afinal, há uma autonomia do direito de
ação garantido pela Constituição Federal que assegura, em seu art. 5.º, XXXV, um
direito a uma tutela jurisdicional efetiva e adequada, garantidos todos os meios possíveis
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para a obtenção do provimento visado pelo direito afirmado.
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A tutela inibitória e os seus fundamentos no novo Código
de Processo Civil
A tutela preventiva então se mostra uma questão de interesse estatal e social, pois, no
momento em que nascem novos valores (como a defesa do meio ambiente e do
consumidor, por exemplo), ao Estado surge o dever de disponibilizar meios efetivos a
protegê-los, permitindo a realização do direito processual (instrumento) de acordo com
as necessidades desses novos direitos materiais.
A tutela inibitória pode ser conceituada como um provimento jurisdicional que visa
impedir a prática, a continuação, ou a repetição de um ato ilícito (ou antijurídico),
possibilitando de forma definitiva, por meio de cognição exauriente, a fruição in natura
do direito pelo autor da ação - de acordo com o direito substancial previsto no
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ordenamento jurídico.
É, em outras palavras, tutela adquirida pelo titular do direito por meio de processo de
conhecimento voltado para o futuro, requerendo ao réu o cumprimento de uma
obrigação de fazer (inibitória positiva) ou não fazer (inibitória negativa), sob pena de
imputação de multa ou outras medidas necessárias que garantam o resultado prático
equivalente - ou seja, a inibição do ato ilícito (e não do dano).
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A tutela inibitória e os seus fundamentos no novo Código
de Processo Civil
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Portanto, podemos dizer que é um provimento inequivocadamente satisfativo
diretamente relacionado ao direito substancial; é tutela aderente ao direito material que
reflete a necessária proteção ao direito ameaçado do autor contra atos ainda não
praticados, ou seja, que estão sobre justo receio de futuramente ocorrerem, o que
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justifica a referida atuação jurisdicional inibitória.
Assim, a tutela inibitória terá conteúdo positivo quando visar uma obrigação de fazer, e
negativo quando tiver por objeto uma obrigação de não fazer. A prevenção, portanto,
não se refere somente à possibilidade de inibir um ato comissivo (fazer), mas, também,
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as situações que requeiram uma ação por parte daquele que se omitir em praticá-la.
Desta forma, a tutela pleiteada dependerá da obrigação praticada, ou não, pelo réu e
que, por isso, ameaça violar direito do autor, devendo a tutela jurisdicional, neste caso,
ordenar o cumprimento de uma obrigação de fazer ou não fazer visando cessar o ato
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ameaçador.
É de se concluir, nesta seara, que a tutela inibitória concedida pelo juiz poderá ter
conteúdo positivo ou negativo, mas nada impede que haja uma cumulação de ambos os
conteúdos, visando que para determinada obrigação não cumprida pelo réu se determine
uma abstenção (não fazer) e para outra seja ordenado um fazer, objetivando dar
eficácia à tutela do direito ameaçado do autor.
Por fim, não há dúvidas do conteúdo duplo (e cumulativo) da tutela inibitória, e ao juiz
foi dada a possibilidade de se utilizar essas duas formas de inibitória, conjunta ou
separadamente, visando sempre dar uma maior eficácia à tutela dos direitos.
4 FUNDAMENTOS DA TUTELA INIBITÓRIA
São, pois, direitos que antes não eram reconhecidos pela ordem jurídica e, por isso,
quebram o paradigma processual individualista, de forma a inovar o ordenamento com
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essas novas formas de atuação jurisdicional.
O direito substancial, nesta seara, requer um provimento específico inibitório por meio
da determinação de uma conduta de fazer (inibitória positiva) ou não fazer (inibitória
negativa) para que se assegure a proteção do direito irreparável, haja vista a
insuficiência dos provimentos ressarcitórios.
O modelo processual, portanto, deve pautar-se pela existência dessas novas vertentes
não patrimoniais do direito material para não fugir do escopo instrumental que lhe é
inerente, pois lembramos que a sua função primordial é servir ao direito, neste caso
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ameaçado, e tutelá-lo de forma efetiva.
É neste âmbito que a Constituição Federal traz em seu art. 5.º, XXXV, que a lei não
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito erigindo, desta
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forma, verdadeiro princípio geral de prevenção.
O art. 497 do CPC/2015 prevê que "na ação que tenha por objeto a prestação de fazer
ou de não fazer, o juiz, se procedente o pedido, concederá a tutela específica ou
determinará providências que assegurem a obtenção de tutela pelo resultado prático
equivalente".
Desta forma, traz o legislador a previsão de uma tutela mandamental que visa ordenar
ao sujeito passivo que cumpra obrigações de fazer e/ou não fazer, seja repressiva, ou
preventivamente, por intermédio de uma ação ordinária.
Não há, pois, muita diferença do já contido no CPC/1973 em seu art. 461 que previa a
tutela específica de fazer e não fazer. Todavia, a descrição dessas tutelas na sistemática
processual anterior carecia de uma maior diferenciação entre tutela contra o dano e
tutela contra o ilícito.
O parágrafo único do art. 497 do CPC/2015 determina que "para a concessão da tutela
específica destinada a inibir a prática, a reiteração ou a continuação de um ilícito, ou a
sua remoção, é irrelevante a demonstração da ocorrência de dano ou da existência de
culpa ou dolo".
Por este dispositivo vê-se que o Código de Processo Civil, pela primeira vez, reconhece
uma tutela que visa inibir o ilícito, ou a sua reiteração, continuação, e a sua remoção,
não colocando o dano como requisito fundamental processual para a garantia da tutela
jurisdicional, mas sim o ilícito.
A tutela inibitória visa atacar o ilícito, e nada mais certo que excluir de seus
pressupostos a configuração de culpa ou dolo, pois não interessa ao Estado-Juiz, neste
caso, repreender um dano, mas sim prevenir que ocorra um ilícito, ou ele venha a se
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perpetuar, independente da vontade do agente.
Rememora-se, assim, a ideia chiovendiana de que o processo deve dar, quanto for
possível praticamente, a quem tenha um direito, tudo aquilo e exatamente aquilo que
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ele tenha direito de conseguir.
É neste sentido, portanto, que o paradigma atual do processo civil converge toda a força
axiológica do direito de ação constitucional, postulado no art. 5.º, XXXV, da CF
(LGL\1988\3), no objetivo de tutelar os direitos de forma efetiva e direta, aderindo ao
direito material que justifica o agir do Estado na defesa da parte que se socorre do Poder
Judiciário.
E são pequenas modificações conceituais do texto legislativo, como essa aqui descrita,
que fazem do Novo Código de Processo Civil um diploma que tem por característica a
inovação principiológica e estrutural da ciência processual nacional e,
consequentemente, da atuação do Poder Judiciário brasileiro.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Arenhart, Sérgio Cruz. Perfis da tutela inibitória coletiva. São Paulo: Ed. RT, 2003.
Bedaque, José Roberto dos Santos. Direito e processo. 5. ed. São Paulo: Malheiros,
2009.
Couture, Eduardo. Fundamentos del derecho procesal civil. Buenos Aires: Depalma,
1958.
Marinoni, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos. São Paulo: Ed. RT,
2004.
______. Tutela contra o ilícito (art. 497, parágrafo único, do CPC/2015). Revista de
Processo. vol. 245. São Paulo: Ed. RT, jul. 2015.
______. Tutela inibitória: individual e coletiva. 4. ed. São Paulo: Ed. RT, 2006.
Proto Pisani, Andrea. Lezioni di diritto processuale civile. 5. ed. Napoli: Jovene, 2006.
Silva, Ovídio Baptista da. Os princípios do direito processual civil e as novas exigências,
impostas pela reforma, no que diz respeito à tutela satisfativa de urgência dos arts. 273
e 461. In: Arruda Alvim Wambier, Teresa (coord.). Aspectos polêmicos da antecipação
de tutela. São Paulo: Ed. RT, 1997.
Spadoni, Joaquim Felipe. Ação inibitória: a ação preventiva prevista no art. 461 do CPC.
São Paulo: Ed. RT, 2008.
da tutela inibitória. Revista de Processo. vol. 226. São Paulo: Ed. RT, dez. 2013.
Talamini, Eduardo. Tutela relativa aos direitos de fazer e de não fazer. São Paulo: Ed.
RT, 2001.
1 "Anzitutto, si può osservare che il processo non è affatto un oggetto 'dato' nella realtà
empirica una volta per tutte, e quindi osservabile in modo distaccato e indifferente, e
sempre uguale a se stesso, come se fosse un pezzo di minerale. Tutti sanno, infatti, che
esistono vari processi, la cui disciplina normativa varia nel tempo e nello spazio per
effetto di una pluralità di fattori storici, economici, culturali e soprattutto politici. La
disciplina del processo, dunque, non è nulla di 'oggettivamente dato' una volta per tutte
e per tutti. Essa è il risultato contingente di scelte essenzialmente politiche, e dunque
delle opzioni valutative, ossia - appunto - delle ideologie dei legislatori e di coloro che di
volta in volta la determinano. Discorso analogo vale, inoltre, per coloro che interpretano
ed applicano questa disciplina." Taruffo, Michele. Ideologie e teorie della giustizia civile.
Revista de Processo Comparado. n. 1. p. 293-304. São Paulo: Ed. RT, jan.-jun. 2015.
3 "(...) a ação é um dos direitos que podem fluir da lesão de um direito; e eis como
aquela se apresenta na maioria dos casos: como um direito por meio do qual, omitida a
realização de uma vontade concreta da lei mediante a prestação do devedor, se obtém a
realização daquela vontade por outra via, a saber, mediante o processo." Chiovenda,
Giuseppe. Instituições de direito processual civil. Campinas: Bookseller, 2009. p. 57-58.
4 "(...) se o direito subjetivo significa preferência dada pela lei ao interesse individual,
isto não quer dizer que quem está investido daquele possa pôr em ação a própria força
privada para fazer valer, a cargo do obrigado, tal preferência. Formando a base dos
conceitos de jurisdição e de ação encontra, no moderno, a premissa fundamental da
proibição da autodefesa: direito subjetivo significa interesse individual protegido pela
força do Estado, e não, direito de empregar a força privada em defesa do interesse
individual." Calamandrei, Piero. Instituições de direito processual civil. Campinas:
Bookseller, 2003. p. 188. Neste sentido, também, obtempera Eduardo Couture: "La
actividad de dirimir conflictos y decidir controversias es uno de los fines primarios del
Estado. Sin esa función, el Estado no se concibe como tal. Privados los individuos de la
facultad de hacerse justicia por su mano, el orden jurídico les ha investido del derecho
de acción y al Estado del deber de la jurisdicción" Couture, Eduardo. Fundamentos del
derecho procesal civil. Buenos Aires: Depalma, 1958. p. 39.
5 "Ao criar a jurisdição no quadro de suas instituições, visou o Estado garantir que as
normas de direito substancial, contidas no ordenamento jurídico, efetivamente
conduzam aos postulados enunciados. Procurou assegurar a obtenção, na experiência
concreta, daqueles precisos resultados práticos que o direito material preconiza."
Spadoni, Joaquim Felipe. Ação inibitória: a ação preventiva prevista no art. 461 do CPC.
São Paulo: Ed. RT, 2008. p. 22.
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A tutela inibitória e os seus fundamentos no novo Código
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6 Arenhart, Sérgio Cruz. Perfis da tutela inibitória coletiva. São Paulo: Ed. RT, 2003. p.
45-46.
7 "Se o Direito Processual Civil quiser cumprir sua função instrumental, a primeira regra
que deve seguir é manter-se fiel ao Direito material que lhe cabe tornar efetivo e
realizado. É necessário, para que esta função seja atendida, que entre os procedimentos
e as respectivas ações (de Direito material), que lhe formem o conteúdo, mantenha-se
constante uma relação proporcional, segundo a qual os procedimentos cresçam à medida
que se reduza a evidência das respectivas pretensões de Direito material, cuja realização
se busca através da ação (igualmente de Direito material)". Silva, Ovídio Baptista da. Os
princípios do direito processual civil e as novas exigências, impostas pela reforma, no
que diz respeito à tutela satisfativa de urgência dos arts. 273 e 461. In: Arruda Alvim
Wambier, Teresa (coord.). Aspectos polêmicos da antecipação de tutela. São Paulo: Ed.
RT, 1997. p. 413.
8 No direito italiano, o jurista Andrea Proto Pisani assim contextualiza a autotutela com a
necessidade de uma tutela jurisdicional próxima ao direito material: "La presenza nel
nostro ordinamento del divieto di autotutela privata significa che il diritto sostanziale può
dirsi effettivamente esistente solo ove esistano norme processuali (disciplinatrici di mezzi
di tutela giurisdizionale) idonee a garantirne l'attuazione in ipotesi di mancata
cooperazione spontanea di chi vi è tenuto, attraverso la messa a disposizione, a favore
del privato, della forza dello Stato. Ne segue che senza diritto processuale il diritto
sostanziale no può esistere in un ordinamento caratterizato dal divieto di autotutela
privata (quanto meno non può esistere come fenomeno giuridico, in quanto la sua
attuazione, anziché essere garantita dallo Stato, è rimessa ai meri rapporti di forza: con
la conseguenza che il detentore o i detentori del potere di fatto divengono i detentori del
potere legale, indipendentemente da quanto dispongono le norme sostanziali e che i
conflitti di interesse si risolvono non secondo giustizia, alla stregua dei criteri legali,
bensì secondo i rapporti di forza" (Proto Pisani, Andrea. Lezioni di diritto processuale
civile. 5. ed.. Napoli: Jovene, 2006. p. 5).
10 "O processualista sensível aos grandes problemas jurídicos sociais e políticos do seu
tempo e interessado em obter soluções adequadas sabe que agora os conceitos
inerentes à ciência já chegaram a níveis mais do que satisfatórios e não se justifica mais
a clássica postura metafísica consistente nas investigações conceituais destituídas de
endereçamento teleológico. Insistir na autonomia do direito processual constitui, hoje,
como que preocupar-se o físico com a demonstração da divisibilidade do átomo. Nem se
justifica, nessa quadra da ciência processual, pôr ao centro das investigações a polêmica
em torno da natureza privada, concreta ou abstrata da ação; ou as sutis diferenças entre
a jurisdição e as demais funções estatais, ou ainda a precisa configuração conceitual do
jus excepcionis e sua suposta assimilação à ideia de ação. O que conceitualmente
sabemos dos institutos fundamentais deste ramo jurídico já constitui suporte suficiente
para o que queremos, ou seja, para a construção de um sistema jurídico-processual apto
a conduzir aos resultados práticos desejados. Assoma, nesse contexto, o chamado
aspecto ético do processo, a sua conotação deontológica." Dinamarco, Cândido Rangel. A
instrumentalidade do processo. 13. ed. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 22-23).
11 Oliveira, Carlos Alberto Alvaro de. Teoria e prática da tutela jurisdicional. Rio de
Janeiro: Forense, 2008. p. 7 et seq.
12 Bedaque, José Roberto dos Santos. Direito e processo. 5. ed. São Paulo: Malheiros,
2009. p. 22-23.
13 "A concepção de direito de ação como direito a sentença de mérito não poderia ter
vida muito longa, uma vez que o julgamento do mérito somente tem importância - como
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deveria ser óbvio - se o direito material envolvido no litígio for realizado - além de
reconhecido pelo Estado-Juiz. Nesse sentido, o direito à sentença deve ser visto como
direito ao provimento e aos meios executivos capazes de dar efetividade ao direito
substancial, o que significa direito à efetividade em sentido estrito." Marinoni, Luiz
Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos. São Paulo: Ed. RT, 2004. p.
179-180. Em outra obra, o doutrinador paranaense obtempera: "(...) o direito de ação
existirá ainda que o direito material não seja reconhecido (...)" (Marinoni, Luiz
Guilherme. Tutela inibitória: individual e coletiva. 4. ed. São Paulo: Ed. RT, 2006. p. 32).
14 "O fato de o processo civil ser autônomo em relação ao direito material não significa
que ele possa ser neutro ou indiferente às variadas situações de direito substancial. (...)
Autonomia não é sinônimo de neutralidade ou indiferença. (...) Na realidade, jamais
houve - ou poderia ter ocorrido - isolamento do direito processual, pois há nítida
interdependência entre ele e o direito material. Isso é tão evidente que supor o contrário
seria o mesmo que esquecer a razão de ser do processo, considerada a necessidade de
este ter que ser pensado à luz da realidade social e do papel que o direito material
desempenha na sociedade. Portanto, não há dúvida que a suposição de que bastaria um
único procedimento para todas as situações de direito material implica em uma
lamentável confusão entre autonomia e neutralidade do processo (...)." Marinoni, Luiz
Guilherme. Técnica processual... cit., p. 55-56.
15 Marinoni afirma que "para a efetiva proteção desses direitos, ou melhor, para a
realização das normas que objetivam lhes dar proteção, é indispensável a tutela contra o
ato contrário ao direito, ou seja, a tutela da norma, vista como tutela jurisdicional
destinada a inibir a violação da norma ou a remover os efeitos concretos derivados da
sua violação. Ora, se o ordenamento jurídico dos dias de hoje deve proteger
determinados bens mediante a imposição de certas condutas, e por esta razão são
editadas normas de direito material, é necessário que o processo civil seja estruturado
de modo a atuá-las" (Marinoni, Luiz Guilherme. Tutela contra o ilícito (art. 497,
parágrafo único, do CPC/2015). Revista de Processo. vol. 245. p. 313-329. São Paulo:
Ed. RT, jul. 2015.). Ver também: Spadoni, Joaquim Felipe. Op. cit., p. 28.
22 "Entre os deveres de não fazer, é usual a distinção entre tolerar e abster-se. Pelo
dever de tolerância, o sujeito é obrigado a suportar atos alheios de interferência na sua
esfera jurídica, ficando-lhe vedado adotar condutas de reação (ex.: servidão de
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23 "(...) a ação inibitória não visa somente impor uma abstenção, contentando-se,
assim, com um não fazer. O seu objetivo é evitar o ilícito, seja ele comissivo ou
omissivo, razão pela qual pode exigir um não fazer ou um fazer, conforme o caso."
Marinoni, Luiz Guilherme. Técnica processual... cit., p. 261-262.
24 Neste mesmo sentido, Joaquim Felipe Spadoni esclarece: "Como o que pretende o
autor da ação inibitória é impedir a futura ocorrência da violação do direito, traduzido
pelo inadimplemento da obrigação - e não se duvida que este, visto sob o prisma da
conduta lesiva, pode ser praticado mediante atos comissivos ou omissivos, dependendo
da espécie da obrigação violada - ter-se-á, em princípio, uma inibitória negativa,
determinando um não fazer, quando se estiver diante de ameaça de atos comissivos,
enquanto na presença da ameaça de um ato omissivo, ter-se-á uma inibitória positiva,
determinando-se um fazer (...)" (Spadoni, Joaquim Felipe. Op. cit., p. 76).
25 "No outro vértice das tendências do direito material atual está a concepção de novos
direitos, não reconhecidos pelo direito estatal anteriormente. Trata-se, no mais das
vezes, de direitos metaindividuais, próprios de sociedades de massa, que representam
valores nucleares das sociedades modernas. Esta também é uma tendência da
modernidade, a impor sério desafio ao direito processual. Como se sabe, o processo foi
pensado para tratar com problemas individuais, de maneira compartimentada e isolada
(...)." Arenhart, Sérgio Cruz. Op. cit., p. 41.
27 "Rechte auf gerichtliche und behördliche Verfahren sind wesentlich «Rechte auf
effektiven Rechtsschutz». Bedigung eines effektiven Rechtsschutzes ist, daβ Ergebnis
des Verfahrens die materiellen Rechte des jeweils betroffenen Grundrechtsträgers wahrt.
(...) All dies weist darauf hin, daβ im Bereich des Verfahrens zwei Aspekte ins Verhältnis
zu setzen sind: ein prozeduraler und ein materialer." Alexy, Robert. Theorie der
Grundrechte. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1994. p. 444.
(...)." Dinamarco, Cândido Rangel. Op. cit., p. 320. Lembra ainda Carlos Alberto Alvaro
de Oliveira: "Trata-se de um direito fundamental e inviolável por parte dos poderes
estatais, pois, assegurado o acesso à jurisdição, em caso de lesão ou ameaça de lesão a
direito (ainda que meramente afirmada), constituiria evidente incongruência não se
compreendesse aí o exercício do direito de invocar e obter tutela jurisdicional adequada
e efetiva. A situação subjetiva assegurada ao longo do art. 5.º da Constituição brasileira
se traduz, portanto, no poder de exigir do órgão judicial, em tempo razoável, o
desenvolvimento completo de suas atividades, tanto instrutórias, necessárias para a
cognição da demanda judicial, quanto decisórias, com emissão de um pronunciamento
processual ou de mérito sobre o objeto da pretensão processual, e que possa ser
realizado efetivamente do ponto de vista material. Daí decorrem o direito fundamental a
um processo justo e o direito fundamental a uma tutela jurisdicional efetiva e
adequada." Oliveira, Carlos Alberto Alvaro de. Os direitos fundamentais à efetividade e à
segurança em perspectiva dinâmica. Revista de Processo. vol. 155. p. 18. São Paulo: Ed.
RT, jan. 2008.
30 Marinoni, Luiz Guilherme. Tutela inibitória... cit., p. 71. Para Marinoni: "É possível
afirmar até mesmo que a inserção da locução 'ameaça a direito' na verbalização do
princípio da inafastabilidade, teve por fim garantir a possibilidade de qualquer cidadão
solicitar a tutela inibitória" (idem, p. 81-82).
31 Spadoni, Joaquim Felipe. Op. cit. p. 48. Luiz Guilherme Marinoni esposa que "o direito
de ação nos dias de hoje, não pode mais ser visto como o simples direito de ir ao
Judiciário, mas sim como o direito à predisposição da técnica processual realmente capaz
de dar tutela ao direito. Não basta dizer que todos podem afirmar, perante o Judiciário,
um direito à tutela, mas é preciso garantir ao cidadão o direito à técnica processual
capaz de viabilizar a sua obtenção" (Marinoni, Luiz Guilherme. Tutela inibitória... cit., p.
83).
32 Vale mencionar que o Código de Defesa do Consumidor também traz em seus arts.
83 e 84 uma possibilidade de concessão da tutela inibitória no direito do consumidor e
no direito coletivo, haja vista o regramento ser válido também para o macrossistema
processual de proteção de direitos coletivos.
33 "Em verdade, mesmo por imperativo lógico, impõe-se entender que o termo
obrigação, empregado no dispositivo, tem o sentido de prestação sem nenhuma
vinculação com o direito privado estrito, ou com exclusivas relações de caráter
obrigacional. Não haveria, com efeito, lógica em atribuir-se mecanismo de tão
significativa eficácia e tão agressivo potencial a relações obrigacionais, impedindo sua
utilização para interesses muito mais nobres, como os direitos personalíssimos, os
absolutos ou, em geral, aqueles que não gozam de conteúdo patrimonial. Reservar para
estes os meios tradicionais de tutela - que converte a obrigação específica em perdas e
danos, impondo sua satisfação por meio de execução por sub-rogação, seria, de fato,
paradoxo insustentável em qualquer ordenamento preocupado com a efetividade do
processo." Arenhart, Sérgio Cruz. Op. cit., p. 220-221.
34 "Os arts. 461, CPC, e 84, CDC (LGL\1990\40), constituem as fontes de vários
instrumentos processuais necessários para a efetividade da concessão de diversas
espécies de tutelas. A possibilidade de se criar um aparato técnico (um procedimento)
através da conjunção destes instrumentos, permite conceber ações adequadas à
prestação de várias tutelas, entre elas a inibitória.
Estes artigos, em outras palavras, instituem apenas técnicas processuais adequadas.
Não devem ser vistos como o fundamento substancial da tutela inibitória ou mesmo da
tutela das obrigações de fazer e de não fazer, mas sim como as normas de natureza
processual que, seguindo a orientação consubstanciada no art. 5.º, XXXV, da CF
(LGL\1988\3), estabeleceram os instrumentos necessários para que o direito à tutela
pudesse ser efetivamente exercido." Marinoni, Luiz Guilherme. Tutela inibitória... cit., p.
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35 Ver a vasta obra de Luiz Guilherme Marinoni sobre o tema da tutela inibitória. A título
de comparação, citamos a situação processual no Peru, nas palavras de Christian
Suárez: "Tertium comparationis, no processualismo peruano, em nível doutrinário,
jurisprudencial e legislativo, inexiste preocupação com a instalação de um procedimento
especial que vise a inibir um ato ilícito ou remover seus efeitos nocivos espraiados no
tempo. À falta disso, o procedimento de cognição plena e exauriente domina a estrutura
procedimental para que em terrenos do processo civil peruano, possa ser impetrada uma
ação inibitória que concluirá com uma sentença condenatória para que, depois do
trânsito até a execução da sentença, possa ser executada com técnicas executivas,
atualmente, inexistentes no CPC peruano de 1993" (Suárez, Christian Delgado. O
panorama atual e a problemática procedimental em torno da tutela inibitória. Revista de
Processo. vol. 226. p. 283-321. São Paulo: Ed. RT, dez. 2013.).
36 Como bem reflete Sérgio Cruz Arenhart: "Se, pois, as simples ameaças de lesão a
direito já são inafastáveis da apreciação do Poder Judiciário, então é necessário que o
direito positivo infraconstitucional disponha de mecanismos capazes (e adequados) a
permitir extravasar tais pretensões em juízo" (Arenhart, Sérgio Cruz. Op. cit., p. 219).
37 "O dano e, por consequência, a culpa e o dolo não integram a causa de pedir das
ações contra o ilícito. Não estão presentes não só na causa de pedir da ação inibitória -
voltada contra o ilícito futuro -, mas também na causa de pedir da ação de remoção do
ilícito. Com efeito, quando se deixa claro que a tutela de remoção do ilícito visa eliminar
o ilícito, e assim não tem relação com o dano, esclarece-se, igualmente, que esse tipo de
tutela, à semelhança da tutela inibitória, não tem entre os seus pressupostos a culpa ou
o dolo." Marinoni, Luiz Guilherme. Tutela contra o ilícito... cit., p. 313-329.
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