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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES

INSTITUTO DE PSICOLOGIA

“A INVENÇÃO DAS MASSAS: A PSICOLOGIA


ENTRE O CONTROLE E A RESISTÊNCIA”
RESENHA CRÍTICA: BARROS, R. D. B. e JOSEPHSON, S. C.

CURSO: Psicologia
Disciplina: Grupos e Instituições
Profª: Renata Valentim Data: Outubro, 2015.

Integrantes: Flávia Lacerda


BARROS, R. D. B., JOSEPHSON, S. C. A invenção das massas: a psicologia entre o
controle e a resistência. In: JACÓ-VILELA, A. M.; FERREIRA, A.;
PORTUGAL, F. (Org.). História da psicologia: rumos e percursos. Rio de
Janeiro: Nau. 2013. p. 501-521.

O texto inicia-se falando sobre a emergência do Estado moderno e da proposta


de igualdade e desaparecimento das diferenças, onde todos os indivíduos devem ser
vistos como iguais e com as mesmas possibilidades. Então, nesse novo cenário há o
direito à igualdade aliada à garantia que o Estado deveria dar às expressões das
diferentes características pessoais. O indivíduo é assim, alvo e efeito privilegiado das
intervenções e investimentos da sociedade burguesa. A partir daí instaura-se o modo-
indivíduo, sendo toda tecnologia que toma o corpo do indivíduo para cuidá-lo,
extraindo-lhe o conhecimento necessário para melhor assegurar seu funcionamento.
Cria-se uma estrutura de vigilância contínua e anônima, fixando e regulando os
movimentos e ações de cada um.

Assim, podemos acompanhar nos meados do século XVIII, a constituição de


uma medicina social como estratégia biopolítica centrada no corpo do indivíduo cujo
objetivo era conter as agitações sociais que tiveram seu início no começo do século
XIX. Observa-se, entretanto, o crescimento de movimentos de resistência a nas relações
de poder.

Dentre as invenções técnicas do século XVIII, acrescenta-se uma nova maneira


de gerir os homens, aumentando sua utilidade. Sennet chama a atenção para a nova
configuração dos espaços públicos no século XIX onde há a distinção entre os espaços
público e privado que, embora complementares exigiam comportamentos diferentes.

O público, a cidade, era um grande teatro, onde se encenavam papéis


diferenciados, mas claramente definidos. A diferenciação entre público e privado era
aceita e procurava-se manter um estado de equilíbrio entre ambos, buscando-se adequar
as regras pertinentes às duas esferas. Sennet diz que essa relação entre público e privado
sofre uma transformação em função das mudanças urbanas, econômicas e políticas que
se dão nas principais cidades européias no decorrer do século XIX. Entre outras
consequências produzidas por tais mudanças urbanas, o adensamento populacional
dessas cidades está entre uma dessas.
Muitas pessoas passam a percorrer as ruas e avenidas das cidades produzindo a
relação dos moradores com pessoas estranhas: operários, pessoas da zona rural que
vieram à cidade em busca de emprego. Um novo contingente que toma conta do espaço
urbano, mudando a forma de socializar até então empregada. Nasce então a sociedade
intimista, regulada pela erosão entre o público e o privado: o público passando a ser
regulado pelos valores íntimos e familiares do espaço privado, se tornando
desqualificado, por não atender aos desejos e valores da privacidade de transparência e
de naturalidade de comportamentos. Através do enaltecimento do silêncio é analisada
uma nova forma com que se apresenta a relação entre os âmbitos público e privado, e
pela qual podia-se experimentar a vida pública, especialmente a vida nas ruas, sem se
sentir esmagado por essa multidão de estranhos e desconhecidos.

Essa nova maneira de funcionamento social pode nos levar a pensar que esta era
uma forma de controlar ações e expressões individuais e/ou coletivas, e o silêncio pode
ser considerado tanto como a expressão de uma interação social ordenada, tanto como
um direito daqueles que não queriam ser incomodados, atravessando assim as esferas
entre o público e o privado, criando o isolamento e a corrosão das formas como as
relações sociais eram experimentadas anteriormente.

A sociedade passa, assim, a vigiar o comportamento dos indivíduos e suas


expressões, desestimulando comportamentos no meio público que possam revelar a
intimidade das pessoas que o fazem. Assim, a função que Foucault chama a atenção, a
biopolítica, é observada nessa não revelação de sentimentos particulares em público,
pois este seria o século em que as disciplinas passam a administrar os corpos e a
população, ordenando as diversidades.

Frente ao crescimento demográfico desordenado ou a movimentos


reivindicatórios dos trabalhadores do século XIX, esse funcionamento disciplinar não só
atua dominando as forças que se formam a partir dos diferentes modos de organização,
mas também atua nos corpos individuais e nas formas de socialização urbanas,
demarcando modos de relação entre público e privado. Diversas visões sobre as massas
e seus movimentos foram expressas no texto.

Em um contexto onde as massas de trabalhadores lutavam para resolver seus


problemas, é observado que estes procuraram se organizar em associações de modo a
iniciar movimentos para fazer pressão e conquistar suas reivindicações. Explicações
para o movimento das massas surgiram, desde hipnose até contágio e, inclusive,
disciplinas foram criadas para dar conta dessa nova configuração das cidades européias,
como medicina social e higienismo.

Gabriel Tarde, então, escreve vários artigos sobre o comportamento das massas
onde analisa a noção de delito, sendo este algo influenciado pelo social. Estabelece
também diferenças entre as formas de agrupamentos sociais tais como multidão,
corporação e grupos temporários. Na multidão as movimentações são rotineiras, embora
desprovidas de adesão à tradição. Nas corporações prevalece um líder organizador. Nos
grupos temporários estaria configurado um ambiente com objetivos comuns e regras
rígidas. Em outro artigo, Tarde vai ao sentido contrário ao pensamento de Gustave Le
Bon, que dizia que o século estudado seria o das multidões. Já Tarde considerava o
século do público, pois as multidões seriam agrupamentos mais naturais na medida em
que nelas os indivíduos se reuniam arrastados por forças irresistíveis da natureza; o
público seria um agrupamento superior, não mudando conforme as variações do meio
físico. Trade também lança sua teoria sobre opinião, que envolveria não as multidões,
mas aqueles que destacam os fluxos sociais que atravessam os indivíduos, o que
acontece na propagação de opiniões veiculadas através dos meios de transporte e
comunicação da época. Para ele, quando uma opinião se propaga, ela produz um efeito
de semelhança de pensamento, fazendo de uma opinião individual, algo coletivo.

Como dito anteriormente, as quatro primeiras décadas do século XIX na Europa


foram marcadas por revoltas de operários e intensas lutas entre burgueses republicanos e
operários socialistas. Dentre tais movimentações, destaca-se a "Comuna de Paris", onde
os trabalhadores se organizaram em comitês de fábrica para decidir e resolver
problemas internos do Partido Comunista, jornada de trabalho, salários.

O século XIX, portanto, esteve marcado pelos movimentos de massa e isto


significou uma mudança na correlação de forças até então existentes. Domina, porém, o
modo de subjetivação individual, onde as massas seriam tomadas como um conjunto de
indivíduos que, quando reunidos, apresentariam certas características peculiares. Estas
poderiam ser vistas por alguns como distorções da natureza individual ou como força
fundamental para a transformação em uma sociedade mais justa. De qualquer modo o
foco de ação cairia sobre o indivíduo.
Em certo momento do texto surge a pergunta: "o que são as massas?". Gustave
Le Bon define em seu livro "Psicologia da multidão", multidão como sendo um
agrupamento de um grande número de pessoas interatuantes que exercem influência
mútua, composta por elementos heterogêneos que se ligam e, por esta reunião, formam
outro corpo, tal como as células se organizam e formam um corpo vivo com
características diferentes de cada uma delas. Le Bon procura, então, as causas do
comportamento das massas discordando da visão de Tarde, onde o comportamento no
interior das multidões ocorreria através da comunicação entre emoções e opiniões e é
reforçado pela simpatia e pela imitação. Para Le Bon há o puro automatismo do
contágio emocional. O indivíduo, imerso na multidão, perde seu autocontrole, atuando
de modo impulsivo, irracional e, até mesmo, bestial, formando a "mente coletiva" que
se apossa de cada um, incapacitando o raciocínio, causando a ausência do espírito
crítico e de discernimento.

Le Bon também enfatiza a "natureza feminina" das massas, pois o que impera é
o impacto das emoções não elaboradas, extremas e muito instáveis. Tal denominação
acompanha o pensamento de sua época, onde as mulheres se distinguiam dos homens
por serem guiadas pelos sentimentos, pela irracionalidade. Outro fator abordado por Le
Bon é a questão do líder das massas. Este seria neurótico, a um passo da loucura e as
multidões seriam rebanhos.

A visão de Freud também é abordada no texto. Freud iniciou suas análises sobre
as massas a partir das propostas de Le Bon. Em 1921 escreveu o livro “Psicologia de las
massas”, onde analisa as idéias de Le Bon.

Inicia seu texto afirmando que a psicologia individual tradicional é, ao mesmo


tempo e, desde sempre, uma psicologia social, pelo fato de que, se a primeira busca
investigar os caminhos pelos quais os homens tentam alcançar a satisfação de suas
pulsões, é somente em circunstâncias muito especiais que eles abrem mão de conviver
com seus semelhantes.Essa psicologia social, denominada de psicologia coletiva,
deveria explicar o motivo de os homens se comportarem de forma totalmente diferente
quando estão no meio de uma multidão. Freud argumenta que se os indivíduos em na
massa se encontram difundidos em uma unidade, deve haver alguma coisa que os une, e
essa coisa seria precisamente aquilo que caracteriza as massas.
Ele traz o conceito de libido para a compreensão da psicologia coletiva, sendo
uma energia que possibilita a relação de tudo o que é suscetível de ser compreendido
sob o conceito de amor. As relações libidinais se efetuam por meio da identificação. E é
a partir desse conceito que Freud explica o funcionamento das multidões como aquilo
que liga seus componentes entre si e faz com que elas sejam, exatamente, multidões:
cada indivíduo projeta sobre os outros e sobre o líder a idealização do que cada ego
individual estruturou para si próprio.

Wilhelm Reich, outro psicanalista, também dedicou-se a elaborar uma teoria


sobre o comportamento das massas. Da mesma forma que Freud, Reich considera as
neuroses como fruto da repressão moral e social imposta às pulsões sexuais, porém
diferencia-se de Freud e de outros psicanalistas quanto à forma de resolver essa questão.
Sua posposta para resolver esse problema da repressão sexual é a de promover uma
revolução social para acabar com essa sociedade patogênica.

Porém em 1983 um outro autor, Elias Canetti, traz uma outra perspectiva sobre
as massas. Em seu livro “Massa e poder”, ele afirma que o homem se insere na massa
para escapar do medo diante do estranho. A massa seria então um dispositivo de
descarga, onde todos se sentem iguais. O autor destaca quatro características da massa
que sempre estariam presentes: ela sempre quer crescer; no seu interior reina a
igualdade; ela ama a densidade; e ela necessita de uma direção. As massas podem ser
classificadas como abertas ou fechadas, visíveis ou invisíveis, rítmicas ou estancadas ou
de acordo com seu conteúdo afetivo (de fuga, perseguição, etc).

Até aqui, os autores citados que estudaram sobre as massas, a tomaram no


sentido usual que lhe é atribuído, seu sentido molar (representação que define grandes
conjuntos), que difere da visão de Deleuze e Guattari. Para esses autores, tanto a
sociedade quanto o indivíduo são atravessados, ao mesmo tempo, por duas ordens de
organização do socius: uma molar e outra molecular. Ou seja, tudo é, ao mesmo tempo,
macro e micropolítica. Essa leitura permite indicar que o que se temia era o processo de
desterritorialização provocado pelas massas, já que em seu plano molecular elas são
fluxos que se deslocam sem cessar, desmanchando formas instituídas e levando á
constituição de outros modos de subjetivação.

Se na Europa, no final do século XIX, houve a preocupação de tematizar e


explicar a questão das multidões, no Brasil, nesse período, a preocupação com o tema
ganhou outra expressão. Na cidade do Rio de Janeiro, a questão das massas expressa
como problema de circulação de pessoas pelas ruas era também vista como algo a ser
resolvido.

A divisão da população obedecia a um padrão de pirâmide, onde no topo


estavam banqueiros, empresários, toda a elite, seguidos pelos profissionais liberais,
comerciários, militares e, em sua base bem ampla, encontrava-se o enorme contingente
de empregados domésticos, vendedores de rua, sem profissão, ladrões, prostitutas. E
sobre essa base que os olhos das autoridades e do saber médico se viraram. A maioria
das pessoas que compuseram a base era mestiça ou negra e, tendo as autoridades
importado teorias com ideais eugênicos, justificavam o "atraso" do país, explicando,
mesmo que paradoxalmente, o fato da miscigenação e sua "problemática". Toda essa
reforma instaurada tinha um apoio biológico que marginalizava as pessoas da base da
pirâmide com um apoio cientificista. Os saberes "psi", nesse momento encarnados na
figura dos médicos psiquiatras, tornaram-se aliados em torno das estratégias para
combater e chamar à ordem a massa pobre e miscigenada.

Essa ordenação, no Rio de Janeiro, partir do século XIX apossou-se do espaço


urbano e imprimiu-lhe as marcas de seu poder. A higiene revelava a dimensão médica
de quase todos esses fenômenos físicos, humanos e sociais e construía para cada um
deles uma tática específica de abordagem, domínio e transformação.

Conforme visto durante aulas da disciplina de Grupos e Instituições, diversos


autores exploram o universo acerca das massas, como estas são formadas e modo de
funcionamento. Além dos autores mencionados no texto de Barros e Josephson, vimos
que Max diz que os movimentos das multidões são legítimos e passíveis de existência e
se originariam das contradições “trabalho x capital”. Le Bom, abordado no texto, possui
uma posição conservadora sobre as massas, onde estas seriam uma ruptura,
incontroláveis e geradoras de crises. Freud e Lacan, embora psicanalistas, possuem uma
visão diferente sobre as massas: enquanto Lacan afirma que a massa é geradora de uma
crise, pulsão de morte, porém de uma crise importante, algo que desestrutura o aparelho
psíquico para gerar novas estruturas, Freud, que presenciou a ascensão do nazismo e foi
afetado por isso, diz que a pulsão de morte viria para destruir tudo, sendo violenta,
agressiva.

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