Decroly surge na história da pedagogia como um dos fundadores do movimento da escola nova, levante intelectual que contesta o sistema de ensino que perpetuava os métodos clássicos de aprendizagem. Baseando seus pensamentos e teorias em experimentos científicos de experimentação e observação do comportamento de crianças com dificuldades de aprendizagem, ou anormais, como denominadas na época, Jean-Ovide Decroly defende uma escola em que o centro do conhecimento deve estar em cima da figura do aluno e não do professor ou da escola. Isso é justificado pela argumentação que a criança deve ser preparada para uma vida com verdadeira inserção na sociedade e não um simples acúmulo de conhecimentos direcionados apenas para a profissionalização.
Jean-Ovide Decroly nasceu em 1871, na cidade de Renaix, na
Bélgica e faleceu em 1932, em Bruxelas. Oriundo de uma família de origem francesa, formou-se em medicina na Universidade de Gand e fez estudos de pós-graduação em Berlim e em Paris. Regressado à Bélgica, fundou, em Bruxelas, com a sua mulher, uma escola para crianças diminuídas mentais. Seis anos mais tarde, em 1907, fundou um novo estabelecimento, a escola da Ermita, destinado igualmente à educação de crianças "normais". A escola, que se tornou célebre em toda a Europa, serviu de espaço de experimentação para o próprio Decroly.
Na Escola da Ermita, ou École de l’Ermitage, os alunos participam
da construção do próprio currículo, segundo os próprios interesses e curiosidades. Não existe a tradicional separação entre as disciplinas. Da necessidade de comer pode decorrer o estudo dos alimentos, da história de seu preparo, dos mecanismos econômicos da agricultura e do comércio, etc. Para os estudantes, os centros de interesse se estruturam como oficinas. As salas de aulas são verdadeiros laboratórios e oficinas de aprendizagem, contendo materiais diversos que poderão ser utilizados nos centros de interesse. A idéia dos centros de interesse é a base de toda a teoria educacional de Decroly, eles são agrupamentos de conteúdos e atividades educativas realizadas em torno de temas centrais de grande significação para a criança, como comida, limpeza, etc. Ele propõe que todo conhecimento surja de forma natural, assim que estimulada. Esse método sugere e necessita de uma integração entre profissionais docentes e supervisores escolares e alunos para fazer com que as idéias seja favoráveis e difundidas.
Em suma, a idéia básica de Decroly é criar um laço entre as
disciplinas, fazendo-as convergir ou divergir para um mesmo centro, dentro do interesse da criança. A criança estuda os conteúdos de forma totalmente integrada e com grande interesse e participação. Um centro de interesse dá origem a outros, que a ele se prendam: o estudo da alimentação leva ao do pão, do leite, da manteiga, do arroz, etc.
O trecho foi retirado do artigo “Ovide Decroly – O primeiro a tratar o
conhecimento como um só”,
Da necessidade de comer pode decorrer o estudo dos
alimentos, da história de seu preparo, dos mecanismos econômicos da agricultura e do comércio etc. Para os estudantes, os centros de interesse se estruturam como oficinas. As atividades manuais – entre elas os jogos e as brincadeiras – têm destaque especial. Os exercícios, ao ar livre e em grupo, são estimulados. Decroly criticava a supervalorização do trabalho intelectual e da expressão verbal. “A escola (tradicional) engorda fisicamente e entorpece mentalmente”, escreveu
, A figura 1 mostra o logotipo de uma escola decroliana, abaixo podemos ler o lema de Decroly:
“A escola para a vida, através da vida”
Decroly estabeleceu os 4 centros de interesse (necessidades de alimentação;
de lutar contra as intempéries; de agir e trabalhar, descansar, divertir-se; de defesa contra perigos e inimigos), entendeu que por meio deles deveria fluir todo o ensino proposto pelo professor. A figura 1 a seguir foi extraída de artigo da Revista do Professor, edição de abril/junho de 2004, escrito por Nora Cecília Bocaccio Cinel e ilustra a idéia dos centros de interesses, elaborado por Declory no século 19.
Figura 1 - Quadro de interesse humano
Decroly propõe três etapas de evolução dos conhecimentos nos
centros de interesse:
a) OBSERVAÇÃO: os exercícios de observação, dizia ele, são para
mim o meio de pôr em movimento as demais atividades mentais e formam a base racional de todos os exercícios. Observar leva a comparar, a medir, a pesar, a contar; são os exercícios satélites, como lhes chama Decroly, e de que o mestre deve saber utilizar-se com proveito. "Os exercícios de observação consistem em fazer trabalhar a inteligência com material recolhido em primeira mão, isto é, pelos sentidos da criança, tendo em conta os interesses nela existentes, e associando, ao mesmo tempo, a esse trabalho, a aquisição do vocabulário e, por conseguinte, os elementos básicos da leitura e da escrita, assim como exercícios de comparação, dos quais boa parte servirá para o cálculo e, finalmente exercícios de crítica que fornecerão à memória maior bagagem de idéias."
b) ASSOCIAÇÃO: depois de observar, levar a associar as noções
recebidas. Os exercícios de associação podem abranger 4 aspectos: 1. Os que se refiram a objetos e fatos considerados do ponto de vista atual, mas longínquos. Por exemplo: o estudo da habitação pode levar a pensar nas casas dos chineses e dos esquimós e nos arranha-céus da América. Aparece a orientação e o mapa, e assim os estudos da Geografia via interesses. 2. Os que se refiram ao exame da matéria do ponto de vista temporal, permitindo a comparação do estado presente com o de nossos antepassados. São os exercícios de associação no tempo, ou seja, da história. O estudo da habitação pode levar a indagar como eram as casas de outrora, cinqüenta, cem ou mais anos atrás. 3. Os que se refiram às associações relativas à adequação do meio às necessidades do homem, as matérias-primas, sua utilização e aplicações industriais. 4. Finalmente as que se referem às questões de causa e efeito, às indagações do porquê e como irão assim se impondo aos hábitos de pensar dos alunos.
c) EXPRESSÃO: a expressão, para Decroly, significa tudo que
permite a manifestação do pensamento de modo acessível aos demais. A palavra, a escrita, o desenho, o trabalho manual, as dramatizações em geral. São formas de expressão, quando relacionadas com um centro.
Portanto, o grande legado de Decroly para nossa sociedade são os
centros de interesse. E com eles novas características no sistema educacional. Que passa a ver o aluno de uma forma global e inserido na sociedade, sendo ele na verdade um somatório de experiências e conclusões. Desse modo, deve ser tratado como tal no momento da sua formação. Referências:
CINEL, Nora Cecília B. Centros ·de Interesse: Estratégia utiliza multidiscipli-
naridade para desenvolvimento global, Revista do Professor, Abril/Junho, Porto Alegre : 2004.
Grandes Pensadores, Revista Escola , Ovide Decroly: O primeiro a tratar o