XIV Cúpula Social

do Mercosul
Debates e Propostas

PRESIDÊNCIA PRO TEMPORE BRASILEIRA

Brasília, 4 a 6 de dezembro de 2012
 Presidência da República

XIV Cúpula Social do Mercosul: Debates e Propostas

Dilma Vana Rousseff

Secretaria-Geral da Presidência da República

Gilberto Carvalho

Fundação Banco do Brasil

Jorge Alfredo Streit

Universidade Federal da Integração Latino-americana

Helgio Henrique Casses Trindade

Apresentação
Antônio de Aguiar Patriota
Gilberto Carvalho
Marco Aurélio de Almeida Garcia
Jorge Alfredo Streit

Relatoria
Nilson Araújo de Souza – coordenador
André Aguiar
Cezar Karpinski
Fábio Borges
Fabrício Pereira da Silva
Felix Pablo Friggeri
Gisele Ricobom
Luciano Wexell Severo
Mario Ramão Villalva Filho
Renata Peixoto de Oliveira
Tereza Maria Spyer Dulci
Victoria Ines Darling

Coordenação Editorial
Murilo Vieira Komniski
Taís Maldonado Niffinegger
Danniel Gobbi Fraga da Silva
Deborah Cristina Rodrigues Ribeiro

Fotografia
Eduardo Aigner

Colaboração
Claiton Mello
Lívia de Oliveira Sobota
Cláudio Alves Brennand
 ÍNDICE

1. Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

Secretaria-Geral da Presidência da República. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

Ministério das Relações Exteriores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

Assessoria Especial do Gabinete Pessoal da Presidenta da República . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

Fundação Banco do Brasil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

2. Programação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

3. Abertura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

4. Mesas Temáticas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

Oficina - Direito à Memória, à Verdade e à Justiça. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

Oficina - Migração e Trabalho Decente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

Oficina - Mecanismos de Participação Social no Mercosul. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

Oficina - A Cúpula Social que Queremos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

Oficina - Comércio Justo e Economia Solidária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

Oficina - Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

Oficina - Identidade Cultural Sul-Americana. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

Oficina - Democratização da Comunicação e Cultura Digital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

Oficina- Cooperação e Desenvolvimento Regional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

Oficina - Educação para a Integração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

5. Debate Temático: O Ano da Juventude no Mercosul - Construindo um Novo Protagonismo. . . . . . . . . . 86

6. Plenária Final. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90

7. Encerramento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92

8. Declaração da XIV Cúpula Social do Mercosul. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96

9. Vinte Propostas para o Aprofundamento da Democracia e da Participação Social no Mercosul. . . . . . 100

4
 APRESENTAÇÃO
Ministro Gilberto Carvalho
Secretaria-Geral da
Presidência da República
Resultado de um longo processo de construção
conjunta de movimentos populares, organizações
sociais e governos de nossa região, as Cúpulas
Sociais do Mercosul tornaram-se um evento regular
da agenda oficial do Bloco e representam um avanço
importante, tanto no que se refere à construção de
uma agenda social, quanto à adoção de um método
de decisão mais transparente, legítimo e participativo.
Desde 2006, quatorze edições da Cúpula Social foram
realizadas: Córdoba e Brasília (2006), Assunção
e Montevidéu (2007), Tucumã e Salvador (2008),
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
Assunção e Montevidéu (2009), Isla del Cerrito
e Foz do Iguaçu (2010), Assunção e Montevidéu
(2011), Mendonza e Brasília (2012). Cerca de cinco
mil participantes, de centenas de organizações
sociais e movimentos populares dos Estados Partes
e Associados, incorporaram-se a esta experiência
inovadora de participação social.
É visível o avanço do processo de integração pautado
na participação e inclusão social como cerne de
nossas políticas públicas. A primeira Cúpula Social do
Mercosul organizada pelo governo brasileiro ocorreu
em dezembro de 2006, reunindo em Brasília (DF) mais
de 500 representantes de organizações da sociedade
da Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela.
Fato inovador, a declaração final contendo sugestões
5
 dos movimentos sociais para políticas a serem
implantadas no Mercosul foi entregue aos presidentes
dos países membros e associados do Bloco durante a
Cúpula de Chefes de Estado, em janeiro de 2007.
Em dezembro de 2008 a Cúpula Social aconteceu em
Salvador (BA). Convocado sob o lema “integração
produtiva e desenvolvimento social”, o encontro foi
uma oportunidade para debater as respostas dos
governos à crise mundial e, ao mesmo tempo, de
apresentar propostas para a agenda produtiva e social
do Mercosul.
Em dezembro de 2010, houve a X Cúpula Social, em
Foz do Iguaçu (PR). O evento reuniu cerca de 700
lideranças da sociedade civil dos países da América
do Sul. A programação incluiu o debate de temas
como perspectivas para a integração sul-americana,
ações coordenadas na fronteira, segurança alimentar
e nutricional no Mercosul, entre outros.
Nas demais edições, foram discutidos os mais diversos
temas, dentre os quais Mercosul Produtivo e Social,
marco institucional e as assimetrias entre os países
membros, agricultura familiar, comunicação, informação
e transparência, juventude, saúde e acessibilidade,
afrodescendentes, infância e adolescência, esportes,
pessoas portadoras de necessidades especiais,
educação popular, gênero e diversidade, migrações,
pensamento latino-americano, povos tradicionais,
saúde, integração social, tecnologias sociais, direitos
humanos, educação e cultura, LGBT e voluntariado.
No Brasil, as Cúpulas Sociais do Mercosul são
coordenadas pela Secretaria-Geral da Presidência da
República e pelo Ministério das Relações Exteriores.
As Reuniões Especializadas também têm um papel
chave, como é o caso, dentre outras, da Reunião sobre
Direitos Humanos (RAADH) e da Agricultura Familiar
(Reaf), que vêm desenvolvendo ações de participação
social no Mercosul.
A partir de 2006, as Cúpulas Sociais passaram a ser
realizadas semestralmente no âmbito das Presidências
Pro Tempore do Mercosul. Desde então, constituem o
principal espaço de diálogo e interação entre governos
e sociedade civil dos países membros e associados
do Bloco. Os resultados dos debates realizados nas
Cúpulas Sociais são apresentados nas Cúpulas de
6
Chefes de Estado do Mercosul para apreciação pelos
presidentes do Bloco, o que garante maior interação
com os movimentos e organizações sociais da região.
As Cúpulas Sociais são organizadas com o apoio do
“Programa Somos Mercosur”, uma iniciativa pública
lançada na Presidência Pro Tempore do Uruguai em
2005, e também do “Programa Mercosul Social e
Participativo”, estabelecido via Decreto Presidencial
pelo Brasil em 2008, sob coordenação da Presidência
da República e do Ministério das Relações Exteriores.
Somando esforços, ambas as iniciativas visam a ampliar
a inserção da sociedade civil em espaços de debate,
formulação de demandas e participação em processos
decisórios voltados para a integração regional cidadã.
No segundo semestre de 2012, no âmbito da
Presidência Pro Tempore do Brasil, a Secretaria-
Geral da Presidência da República teve a missão de
fomentar a participação da sociedade civil organizada
em debates sobre o tema da integração regional. O
governo brasileiro assumiu a presidência no contexto
de vinte anos após a criação do Mercosul e dos
recentes rearranjos institucionais do Bloco, importante
momento para discutir os avanços e desafios para
uma integração que prime pela cidadania e pela
participação social.
Durante a XIV Cúpula, realizada em Brasília entre
os dias 4 e 6 de dezembro de 2012, foram realizadas
dez oficinas temáticas, cada uma contando com
importantes expositores e discutindo temas previamente
selecionados pelos pontos focais da sociedade civil. Ao
final, foram produzidas um total de vinte propostas,
dentre as quais destacamos a harmonização das
legislações migratórias, o livre trânsito dos produtos e
serviços da economia social, solidária e popular, o ensino
de disciplinas como Culturas Latino-Americanas e
Direitos Humanos e das línguas portuguesa e espanhola,
leis que democratizem a comunicação e políticas que
expandam o acesso a internet, além da ampliação do
escopo dos fundos de financiamento do Mercosul para
abarcar projetos sociais.
Além das oficinas temáticas, a Cúpula congregou uma
série de eventos paralelos, dos quais destacamos o
Seminário Internacional “Desafios da Construção da
Democracia no Mercosul”, organizado pela Secretaria
Nacional de Articulação Social, o Debate Temático
intitulado “O Ano da Juventude no Mercosul –
Construindo um Novo Protagonismo”, a Reunião do
Parlamento Juvenil do Mercosul, organizada pelo
Ministério da Educação, o Seminário “Tecnologias
Sociais do Mercosul: uma Articulação Necessária”,
organizado pela Fundação Banco do Brasil, a Reunião
da Coordenadora de Centrais Sindicais do Cone
Sul e, por fim, a exibição do filme “Nãnde Guarani”,
organizada pela Fundação Nacional do Índio (Funai).
A consolidação dos mecanismos de participação social
no Mercosul foi um dos pontos centrais nas discussões
da XIV Cúpula. Em busca deste objetivo, as lideranças
formularam um conjunto robusto de propostas que
visam a efetivação da Unidade de Participação Social
do Mercosul (UPS), responsável pelo acompanhamento
das decisões das cúpulas sociais e habilitada a incidir
nos espaços de decisão do bloco, a ter acesso a
informações e a financiamento, permitindo o trabalho
da sociedade civil no período entre as cúpulas.
Para a Secretaria-Geral da Presidência da República, a
Cúpula é um espaço de celebração da democracia e
dos avanços no pleno desenvolvimento com inclusão
social. As mudanças econômicas e sociais para o
Mercosul só serão realizadas quando conseguirmos
tornar a democracia mais verdadeira, nos campos
político, econômico e social. Para tanto, é imprescindível
a criação e o fortalecimento de mecanismos efetivos
de participação social, por meio da união e articulação
entre nossos povos.
A questão social e participativa é condição essencial
para a integração no Mercosul, visto que representa
um reflexo da maturidade da democracia.
integração passou de ser um objetivo compartilhado
pelas sociedades dos Estados Membros e Associados.
O Mercosul é hoje um autêntico e amplo projeto de
desenvolvimento regional e não mais apenas um
projeto de construção de um espaço econômico e
comercial. Nesse sentido, é importante ter em conta
que os benefícios da integração devem ser para todos.
E imbuído desse espírito, enalteço ainda a importância
da institucionalização do Estatuto da Cidadania do
Mercosul, bem como a prioridade de consolidação do
acordo de residência do Bloco.
A declaração final do encontro, além de enunciar as
vinte propostas consensualizadas pela sociedade
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
civil, homenageou o arquiteto Oscar Niemeyer, que
faleceu durante os trabalhos da Cúpula. Imbuídos do
espírito de solidariedade entre os povos da região e
engajados na construção de um bloco que se atenha
aos aspectos sociais e à melhoria da qualidade de
vida das pessoas, as resoluções aprovadas traduzem
os reais anseios e expectativas das populações que
formam o Bloco.
Merecem destaque como ideias-força da Declaração:
(i) o apoio à Cláusula Democrática, no sentido de
garantir a manutenção e fortalecimento da democracia
na América do Sul; (ii) o apoio à entrada da Venezuela
no Bloco, bem como a aprovação de entrada da Bolívia
e do Equador; (iii) o reconhecimento da importância
da pauta econômica e financeira e a expectativa de
que ela considere também o aperfeiçoamento da
participação social, trabalhista, educativa, ambiental
e cultural da integração regional e os temas sensíveis
aos produtores da região; (iv) o reconhecimento de
valores como o multilateralismo, a defesa da paz e
da justiça social; (v) o desenvolvimento industrial
regional e o desenvolvimento sustentável; (vi) a
soberania alimentar e nutricional; (vii) a liberdade de
expressão e a promoção de uma integração regional
que garanta a cidadania no Mercosul; (viii) a livre
circulação de trabalhadores, que incentive a economia
solidária e que reconheça as diversidades existentes;
(ix) a transparência nas negociações do Mercosul e
o fortalecimento dos espaços de diálogo e interação
entre povos e governos; e (x) a necessidade de
implementação das diretrizes do Plano Estratégico de
Ação Social do Mercosul (Peas), o fortalecimento do
Instituto Social do Mercosul e o Estatuto da Cidadania
A do Bloco.
A XIV Cúpula Social foi encerrada com a sensação
de dever cumprido. Apesar de estarmos cientes dos
grandes desafios ainda por serem enfrentados, temos
a certeza de que todo esforço até aqui empreendido
resultará na construção de uma América do Sul mais
justa, igualitária e próspera e, principalmente, mais
coesa. Queremos dar passos concretos na direção de
um novo modelo de desenvolvimento efetivamente
sustentável para nossos países. Nesse sentido, o
trabalho realizado durante as Cúpulas Sociais do
Mercosul insere-se no contexto da construção de
uma democracia participativa, por meio da qual a
sociedade civil seja parte ativa na tomada de decisões.
7
 A publicação aqui apresentada busca dar testemunho
das vozes populares e sociais na XIV Cúpula ocorrida
no Brasil, como instrumento de registro e base de
apoio aos debates e esforços coletivos que temos
adiante para construir uma região cada vez mais forte,
soberana e solidária.
Ministro Antônio Patriota
Ministério das Relações Exteriores
Estou convencido de que o aprofundamento das
dimensões social e cidadã do Mercosul é condição
essencial para o avanço do processo de integração
regional. A experiência adquirida nos mais de 20 anos
do processo de integração ensina que a aproximação
de nossos povos requer ir além da dimensão comercial.
A incorporação das dimensões social e cidadã à
agenda do Mercosul é um corolário da maturidade da
democracia em nossas sociedades.
Na última década, lançamos as bases para que o
projeto do Mercosul buscasse consolidar o pilar social
e instituísse o pilar da cidadania.
A integração passou a ser, mais claramente, um
objetivo compartilhado pelas sociedades dos Estados
Membros. Passou a ser uma realidade para a qual
essas sociedades contribuem diretamente, e na qual
os cidadãos, em diferentes níveis, consolidam seu
status de verdadeiros partícipes de um projeto maior.
Nem poderia ser diferente. O Mercosul é, hoje,
um autêntico projeto de desenvolvimento, o que
pressupõe buscar maneiras de assegurar não apenas
que os benefícios da integração sejam usufruídos
por todos, mas também que seus mecanismos de
deliberação contem com os aportes do conjunto
da cidadania. Por isso é tão auspicioso constatar
a presença, na Cúpula Social do Mercosul, de
representantes de movimentos sociais de todos os
membros do Mercosul.
No segundo semestre de 2012, durante a Presidência
Pro Tempore do Brasil (PPTB), avançamos de forma
decidida para que os movimentos sociais sejam atores
com maior voz e participação no projeto de integração.
8
Aprovou-se, na reunião do Conselho do Mercado
Comum da última PPTB, decisão que assegura a
periodicidade semestral para a Cúpula Social. A
decisão também determina que os resultados da
Cúpula Social serão encaminhados ao Grupo Mercado
Comum que, por sua vez, os transmitirá às instâncias
competentes na estrutura institucional do Mercosul.
Trata-se de uma decisão que insere a Cúpula Social, de
forma definitiva, no Mercosul e que permitirá que os
debates realizados nesse foro possam “oxigenar” os
trabalhos das demais instâncias do Bloco.
O tema escolhido para a Cúpula Social de Brasília
– “Cidadania e Participação” – ganhou crescente
importância no Mercosul nos anos recentes, como
demonstra a aprovação do Plano de Ação para
a conformação de um Estatuto da Cidadania do
Mercosul, na Presidência Pro Tempore Brasileira de
2010.
O Plano de Ação estrutura-se em torno de três
objetivos gerais: a implementação de uma política
de livre circulação de pessoas na região; a igualdade
de direitos e liberdades civis, sociais, culturais e
econômicos para os nacionais dos Estados Partes do
Mercosul; e a igualdade de condições para acesso ao
trabalho, saúde e educação.
De modo a cumprir essas metas, contemplaram-
se ações concretas nas seguintes áreas: fronteiras;
identificação pessoal; documentação e cooperação
consular; trabalho e emprego; previdência social;
educação; transporte; comunicações; defesa do
consumidor; e direitos políticos.
A elaboração do Plano de Ação exigiu a coordenação
entre as diversas instâncias e incluiu não apenas órgãos
de governo, mas também representantes da sociedade
civil. Conferiu-se, ainda, ao Alto Representante-Geral
do Mercosul papel de destaque na implementação do
Plano.
O Estatuto da Cidadania do Mercosul poderá ser
operacionalizado por meio da assinatura de um
protocolo internacional que incorpore o conceito de
“Cidadão do Mercosul” e constitua parte integral do
Tratado de Assunção.
Durante a PPTB, demos passo importante na Esses são desdobramentos fundamentais, porque é,
implementação do Estatuto. Aprovamos, por sobretudo com os olhos voltados para o futuro, que
exemplo, o Acordo Mercosul sobre Direito Aplicável nos engajamos nos esforços de integração. E o futuro
em Matéria de Contratos Internacionais de Consumo, são os jovens. Sem seu entusiasmo e sua criatividade,
que permitirá que o consumidor de nossos países, ao sem sua perspectiva renovada sobre o mundo,
firmar um contrato de consumo, possa se beneficiar nosso trabalho sairia perdendo. Ganhamos todos ao
da aplicação da lei do Estado Parte que se mostre trabalhar para a juventude e com a juventude. Que
mais benéfica. a Cúpula Social do Mercosul siga representando,
também, um ponto de convergência dos anseios e
Na área de fronteiras, progredimos na revisão do dos valores dos nossos jovens. Que os jovens possam
Acordo de Recife, que tem o objetivo de regular os imbuir-se cada vez mais do espírito de integração que
controles integrados nas fronteiras dos Estados Partes nos anima a todos.
e facilitará os fluxos migratórios.

A agenda da cidadania do Mercosul torna-se cada dia

Progredimos, igualmente, na revisão da Declaração
mais palpável. Essa agenda é a concretização de uma
Sociolaboral do Mercosul e na harmonização
visão de integração que acreditamos ser essencial
progressiva da legislação trabalhista e previdenciária
para a consecução dos objetivos que compartilhamos:
entre nossos países, o que contribuirá para reduzir as
seguir construindo sociedades crescentemente
assimetrias e facilitará a circulação de trabalhadores
plurais, prósperas e justas – e, na América do Sul,
no espaço do Bloco.
continuar o trabalho de consolidação de um espaço
de paz, cooperação e, também, democracia e
A ampliação do Acordo de Residência é uma prioridade
desenvolvimento econômico com inclusão social.
do Mercosul social. Durante a PPTB, a Colômbia aderiu
ao referido acordo, o que facilitará a circulação de
Temos muito presentes os desafios que persistem.
cidadãos colombianos no Mercosul e vice-versa.
Não subestimamos os obstáculos que ainda temos a
enfrentar para que tenhamos, em todas as dimensões,
Gostaria de referir-me brevemente a uma questão,
o Mercosul a que aspiramos. E a agenda cidadã não
que foi objeto de oficinas temáticas durante a última
é uma exceção: também aqui há, pela frente, um
Cúpula Social. Trata-se da questão da juventude.
longo caminho a percorrer. Mas percorreremos esse
Como todos sabem, a Decisão 01/11 fixou o período de
caminho com a certeza de quem sabe mover-se no
1º de julho de 2012 a 30 de junho de 2013 como o “Ano
bom sentido e com o ânimo de quem, ao olhar para
da Juventude do Mercosul”.
trás, vê o quanto já pudemos fazer juntos.

Durante o segundo semestre de 2012, a Presidência

brasileira procurou dar tratamento articulado a temas
relacionados a áreas capazes de aumentar o interesse
e o envolvimento das novas gerações no processo de Marco Aurélio de Almeida Garcia

integração regional. Assessoria Especial do Gabinete

Pessoal da Presidenta da República
Como resultado desse empenho, aprovamos o
estabelecimento de um Sistema de Mobilidade Há alguns anos as reuniões do Conselho do Mercosul,
Integrado do Mercosul (SIM Mercosul), que tem composto pelos Presidentes da República dos Estados
o objetivo de promover um salto quantitativo e partes, têm sido acompanhadas por encontros
qualitativo nas iniciativas de mobilidade acadêmica do chamado “Mercosul Social”, onde estão as
em educação no âmbito do Mercosul. Deverá ser organizações da sociedade civil dos cinco países do
priorizada, além das iniciativas que estimulem o Bloco. Nessas reuniões têm comparecido sindicalistas
aprendizado do espanhol e do português no Mercosul, e dirigentes de movimentos sociais da região, o que
a mobilidade nos cursos acreditados por nosso reflete a nova realidade política que a América do Sul
mecanismo regional de acreditação. passou a viver nos últimos anos.

X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S 9

“ A discussão e o intercâmbio
dessas experiências que
articulam sociedade e Estado
são fundamentais para que
o Mercosul possa ser um
espaço de solidariedade e não
um processo de integração
fundado na dominação
de uns sobre os outros.”
Marco Aurélio de Almeida Garcia
Em sua origem, o Mercosul - quando ainda não tinha
essa designação - foi a resultante da aproximação entre
Argentina e Brasil, levada a cabo pelos presidentes
Alfonsín e Sarney, nos anos 80, como consequência
do processo de democratização dos dois países, na
esteira da crise das ditaduras militares no Cone Sul.
Punha-se fim a um artificial antagonismo entre os dois
países.
A força dessa aproximação foi tal que Uruguai e
Paraguai, saindo igualmente de regimes autoritários,
também buscaram sua integração no Bloco. Nascia o
Mercosul, ao qual viria mais recentemente incorporar-
se a Venezuela. O peso que a nova organização passou
a ter permitiu que todos os países da América do Sul
buscassem a ela associar-se.
Nos anos 90, quando dominavam as propostas
neoliberais em todo o continente latino-americano, o
Mercosul se viu reduzido a uma associação centrada
no comércio, tida pelo ideário dominante como capaz
de resumir e de resolver todos os problemas da
integração regional.
Com o advento de governos pós-neoliberais na parte
sul do continente, nos primeiros anos do século
XXI, foi possível realizar uma importante inflexão na
agenda do Mercosul. Sua dimensão comercial não foi
abandonada – pelo contrário, intensificou-se –, mas os
10
novos governantes dos países membros avançaram
uma agenda na qual passou a ter mais importância
a integração produtiva e o relacionamento político,
como formas de superar as assimetrias entres as cinco
economias, que só as trocas comerciais não eram
capazes de resolver.
Essa aproximação dos quatro países, aos quais se
somou a Venezuela antes que ela aderisse formalmente
ao Mercosul, foi determinante para a não aceitação da
proposta de uma Área de Livre Comércio das Américas
(Alca), que os Estados Unidos e outros países da
América Latina tentavam criar.
A recusa da Alca não estava dominada, como
pretendem alguns, por um sentimento anti-Estados
Unidos, mas decorria essencialmente da percepção
dos cinco governos de que a proposta da Alca não se
encaixava com os novos projetos de desenvolvimento
em curso na região.
A agenda neodesenvolvimentista, distinta daquela
do velho desenvolvimentismo dos anos 60, buscava
(e busca) articular de forma harmônica crescimento
econômico, inclusão social, democracia política e
soberania nacional.
Desenvolvida em cada país segundo as tradições
político-culturais locais, sem afãs hegemônicos de
parte de qualquer governo, essa linha de trabalho
facilitava, por um lado, o processo de integração
e, por outro, colocava na ordem do dia não só a
decisão governamental, como a forte participação da
sociedade na regionalização.
Foi possível avançar nessa tarefa na medida em que
os governantes dos países do Mercosul conduziam
seus países em estreita relação com a sociedade. Esse
processo tem muito que avançar, mas deixa alguns
ensinamentos.
Como construir uma política econômica consistente
sem uma profunda ligação com o mundo do trabalho –
sindicatos e patrões – ou com as demandas, explícitas
ou não, de importantes segmentos marginalizados da
produção, do consumo e da cidadania real?
Como avançar a agenda de um Mercosul cidadão, sem
levar em conta as demandas de contingentes como os
povos originários, os afrodescendentes, as mulheres, os
jovens e tantos outros postergados em nossa história?
Como definir os novos contornos do desenvolvimento
em nossos países e na região sem levar em
consideração as questões relacionadas com
sustentabilidade social e ambiental, sobretudo
quando está colocada na ordem do dia a construção
de importante infraestrutura logística e energética
unindo nossos países?
Como avançar em políticas públicas – especialmente
na esfera social – sem ouvir a voz dos que nelas estão
diretamente implicadas?
Como aperfeiçoar nossas instituições políticas e
proteger os Direitos Humanos, finalmente, sem discutir
as experiências concretas que nesse longo período de
transição para a democracia foram sendo gestadas
nos espaços públicos de nossos países?
A discussão e o intercâmbio dessas experiências que
articulam sociedade e Estado são fundamentais para
que o Mercosul possa ser um espaço de solidariedade
e não um processo de integração fundado na
dominação de uns sobre os outros.
O destino da integração regional em outras regiões do
mundo, especialmente neste momento de crise global,
constitui-se em um alerta, como se fosse necessário,
para os rumos que a aproximação entre nossos países
deve seguir.
A relação – muitas vezes conflitiva, como em toda
democracia – entre Estado e sociedade deve também
ocorrer na esfera regional. Só por isso o Mercosul
social seria importante.
Jorge Alfredo Streit
Fundação Banco do Brasil
Tecnologia social para superar a pobreza no Mercosul
A integração regional se intensifica a cada
ano. Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e mais
recentemente a Venezuela vêm acelerando o processo
de ampliação, em profundidade e abrangência, das
relações entre suas economias, culturas e povos, o
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
que acarreta a criação de novas formas de governança
de escopo regional. Prova disso é a participação de
representantes de organizações e movimentos sociais
nas agendas de negociações da integração regional
do Mercosul, a exemplo da Reunião Especializada de
a Agricultura Familiar (Reaf), que conta com lideranças
de movimentos sociais camponeses desses países.
Essa ampliação se reflete também na diversificação
de diferentes fóruns democráticos. Durante muitos
anos, os assuntos relacionados aos Estados - seja no
âmbito interno, seja em suas relações internacionais
- eram tratados exclusivamente por representantes
eleitos, ficando restrito, portanto, na esfera da
democracia representativa. A efetiva prática de uma
democracia participativa não é uma substituição à
democracia representativa mas, sim, a ampliação do
próprio conceito de democracia.
Essa prática da promoção participativa, com o
estímulo ao protagonismo social de comunidades de
Norte a Sul do Brasil, sobretudo da última década,
tem sido um dos pilares de atuação da Fundação
Banco do Brasil na construção de suas políticas, ações
e tecnologias sociais, envolvendo povos indígenas,
populações quilombolas, agricultores familiares e
assentados da reforma agrária, bem como, catadores
de materiais recicláveis, nos centros urbanos.
Nosso propósito é promover a inclusão socioprodutiva
dos segmentos sociais participantes por meio
da Tecnologia Social, contribuindo, assim, com o
desenvolvimento sustentável. Entendemos Tecnologia
Social como todo produto, técnica ou metodologia
reaplicáveis, que sejam desenvolvidas na interação
com a comunidade e que representem efetivas
soluções de transformação social.
No Brasil, um dos exemplos mais emblemáticos de uma
parceria exitosa na reaplicação de Tecnologia Social
acontece com agricultores familiares e populações do
Semiárido, com a reaplicação das Cisternas de Placas
que consiste em captar água de chuva para consumo
humano no período de estiagem, resolvendo um
problema histórico do país. Essa ação é desenvolvida
em conjunto com a Articulação do Semiárido Brasileiro
– ASA, organização que certificou a Tecnologia Social
Cisterna de Placas no primeiro Prêmio Fundação
Banco do Brasil de Tecnologia Social, em 2001.
11
 A ASA é uma organização presente em todo o Brasil de Tecnologia social, que realizamos a cada
Semiárido brasileiro, envolvendo milhares de dois anos, que identifica esses conhecimentos. No
associações e coletivos de diversas naturezas, BTS, constam tecnologias certificadas nas áreas de
constituída por redes locais, articulando Redes em educação, energia, renda, saúde, alimentação, entre
Rede. Esse amplo tecido social já construiu mais de outras, que podem contribuir para políticas e ações
meio milhão de Cisternas de Placas, contando com de Estado ou de organizações da sociedade civil.
a parceria do Governo Federal, da Fundação Banco
do Brasil, do Banco Nacional de Desenvolvimento Uma integração regional, que fortaleça e amplie a troca
Econômico e Social (BNDES), entre outras de conhecimentos na esfera social entre nossos países,
instituições, construindo assim políticas públicas possibilitará a aceleração no combate à pobreza no
com a participação e protagonismo direto das nosso continente. Assim, promover a identificação
comunidades, a partir da Tecnologia Social. de Tecnologia Social no Mercosul contribuirá para
alcançar as metas do Plano Estratégico de Ação Social
É com essa constatação, de que a Tecnologia Social do Mercosul (Peas).
tem se constituído em elemento de transformação
social no Brasil, que colocamos à disposição dos É nessa perspectiva que a Fundação Banco do Brasil
países irmãos nosso Banco de Tecnologias Sociais está estabelecendo a agenda positiva por meio de
(BTS), constituído de mais 500 soluções, bem como parcerias para implementar Centros de Referência em
a metodologia de nosso Prêmio Fundação Banco do Tecnologia Social (CRTS) em cidades brasileiras em

12
linhas de fronteiras com os países irmãos, para facilitar
a troca de experiências, conhecimentos e saberes.
O primeiro desses centros está presente no mesmo
local em que se realizou a Cúpula Social do Mercosul
em 2010, no Parque Tecnológico de Itaipu, em Foz do
Iguaçu, PR, junto à tríplice fronteira entre Argentina,
Brasil e Paraguai.
A iniciativa de se implantar os CRTS foi fruto de
propostas apresentadas naquela edição da Cúpula
Social. Esses centros contribuirão para um novo
patamar de articulação e integração sobre Tecnologia
Social, fazendo com que os saberes locais
comunitários possam se articular com o conhecimento
formal das academias e universidades, superando suas
próprias especificidades nacionais, transcendendo-
as e articulando-as internacionalmente, na busca de
uma confluência na formulação e implementação de
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
novas metodologias que amplifiquem a perspectiva
integracionista que vem apontando para a
construção de uma identidade própria do Mercosul,
baseada em ideias, sonhos e ações concretas para o
desenvolvimento sustentável.
Como sabemos, a Cúpula Social do Mercosul surge
como desejo político de se aprimorar a integração
dos países da região, para que sua atuação não se
restringisse às questões comerciais e econômicas.
Portanto, acreditamos no fortalecimento de
iniciativas que aumentem e qualifiquem a agenda
positiva que está em andamento relacionada aos
e temas sociais, que é construída por meio da discussão
e formulação conjuntas, entre representantes de
organizações e movimentos sociais, fundações
e institutos, bem como por representantes de
governos dos países e órgãos do Mercosul, e a esse
processo queremos nos somar.
13
14
 Programação
A Cúpula Social do Mercosul ocorre, a cada fim de semestre, simultaneamente com a Cúpula dos chefes de
Estado do Bloco regional. É um espaço de diálogo entre os movimentos sociais e os governos da região. A
XIV Cúpula, realizada de 4 a 6 de dezembro de 2012, no Museu Nacional da República, em Brasília/DF, marca o
encerramento da Presidência Pro Tempore brasileira – a qual, no período seguinte, será exercida pelo Uruguai.

A programação da XIV Cúpula consistiu de cinco partes: 1) solenidade de abertura, com lançamento do Prêmio
Mercosul Social, na noite do dia 04.12.2012; 2) realização de grupos temáticos, ao longo do dia 05.12.2012; 3)
debate temático sobre “O Ano da Juventude no Mercosul – Construindo um novo protagonismo”, na noite do
dia 05.12.2012; 4) Plenária Final para aprovação da declaração final e das demandas dos movimentos sociais, na
tarde de 06.12.2012; 5) solenidade de encerramento, na noite de 06.12.2012.

Realizaram-se cinco grupos temáticos, a saber: 1) Direitos Humanos; 2) Participação Social no Mercosul;
3) Tecnologias Sociais e Integração Produtiva; 4) Comunicação, Cultura e Identidade; 5) Cooperação para o
Desenvolvimento e Integração Regional. Cada grupo temático, por sua vez, dividiu-se em duas oficinas.

Este relatório visa contribuir para a construção da memória da Cúpula. Seguindo a programação, distribui-se
em seis seções: I – Programação; II – Abertura; III – Mesas Temáticas; IV – Reunião da Juventude; V – Plenária
Final; VI – Encerramento

X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S 15
16
 ABERTURA
Equipe Universidade Federal da Integração
Latino-Americana (Unila)
No início da sessão de abertura, a locutora anunciou
o Prêmio Mercosul Social, que é uma iniciativa dos
Ministros de Desenvolvimento Social do Mercosul
e do Instituto Social do Mercosul para o ano de
2013. A primeira edição do prêmio terá como tema
“Erradicação da Pobreza Extrema na Região”. Para
falar desse tema, foi convidada a Secretária Nacional
Adjunta de Avaliação e Gestão da Informação do
Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à
Fome do Brasil, Paula Montagner.
Paula Montagner cumprimenta o público e diz que
está representando a ministra Teresa Campello, a qual
encontra-se numa reunião, em João Pessoa, sobre
assistência social. Para ela, esta iniciativa permite
que o Prêmio Mercosul Social seja implantado e
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
possibilite a troca de experiências entre sociedade
civil, governos locais, universidades e outros centros
de pesquisa, permitindo que se aprenda a atuar sobre
os diversos temas da área social de forma proativa e
aprendendo com as próprias experiências, não só com
as experiências de outros países, mas aprendendo
com os saberes de nossos povos, com os saberes das
pessoas que estão enfrentando hoje as dificuldades
de transformar o país.
O primeiro tema é a erradicação da extrema pobreza,
uma obsessão perseguida pelo governo Dilma e
todos os ministros, que tem ensejado a integração
de políticas e de várias ações somando os esforços
do governo e da sociedade civil. Espera-se também
que as nossas experiências possam assimilar as
experiências dos outros países do Mercosul, para
aprender deles. Diz que queremos contar a nossa
experiência e, quem sabe, inspirar outros colegas
17
 de outros países com aquilo que fazemos. Nós
pensamos que este é um meio através do qual se
somem esforços, se articulem experiências. Este não
é um prêmio que entrega valores monetários a quem
atua, seja realizando estudos, seja fazendo práticas
com comunidades, seja atuando para melhorar a
ação dos governos locais. A ideia é que se visibilizem
essas experiências, se troquem informações e se
inspirem outras pessoas.
No Brasil, o fato de ter proposto este Prêmio tem
a ver com a realização do Prêmio Rosane Cunha e
de ter apropriado esse conhecimento através de
um observatório que troca essas experiências e que vai
inspirando outras municipalidades, outros movimentos
sociais. Espera-se que essa experiência construa uma
rede forte que possa fazer trocas verdadeiras e de
fato construir novos conhecimentos. Vamos fazer
desse Prêmio uma possibilidade real de aprendizado
entre nós.
A seguir, Cristian Adel Mirza, do Instituto Social
do Mercosul, assume a palavra e diz que o Prêmio
Mercosul Social é o reconhecimento do que fazem os
atores sociais em território, implica o reconhecimento
da capacidade de iniciativa que tem a sociedade civil
para resolver os problemas que lhe afetam. Sabemos
que a responsabilidade principal é do Estado. Ele é a
primeira e a última garantia do exercício dos direitos
de cidadania. Mas aqui há iniciativas que têm a ver com
produção agroecológica e com formas de organização
da sociedade civil que resolvem problemas concretos
das pessoas.
Lembra que o Instituto Social do Mercosul e o Tribunal
Permanente de Revisão (TPR) estão funcionando
em Assunção e vão seguir funcionando lá, porque
convém lembrar que o povo paraguaio não está
suspenso.
A seguir, diz que apresentará alguns dados breves
sobre o Prêmio: dentro do tema da erradicação da
extrema pobreza, há categorias de políticas locais
e comunitárias, pesquisas aplicadas e de atores e
organizações sociais. A inscrição é gratuita e será
realizada por formulário eletrônico no portal do Instituto
Social do Mercosul, entre abril e maio de 2013. A ideia
é que, assim, os projetos estejam intercambiando, não
competindo. O conceito de competição tratou-se de
18
impor à sociedade na década de 90. Essa não é nossa
ideia. Queremos que estejam participando com as
suas ideias e as suas iniciativas.
A locutora convida para a composição da mesa o
ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência
da República, Gilberto Carvalho; o ministro das
Relações Exteriores, Antonio Patriota; o representante
do Parlasul, senador Roberto Requião; o Alto
Representante-Geral do Mercosul, Ivan Ramalho; do
Governo da Argentina, o deputado Edgardo Depetris;
do Governo do Uruguai, o vice-ministro de Relações
Exteriores, Roberto Conde; do Governo da Venezuela,
a vice-ministra para América Latina e Caribe,
Verónica Guerrero; representante da sociedade civil
do Paraguai, Nicolás Caballero; o coordenador das
Centrais Sindicais do Cone Sul, Valdir Vicente.
Hamilton Pereira
Secretario de Cultura
do Distrito Federal
Saudações em nome do governador Agnelo
Queiroz. Esta cidade é produto da imaginação da
esquerda brasileira, desenhada pela mão mágica de
Oscar Niemeyer; Brasília recupera sua vocação de
participação popular, de reconstrução democrática e
participativa de governo. Dá as boas-vindas.
Valdir Vicente
Coordenadora de Centrais
Sindicais do Cone Sul
O Mercosul não foi pensado no social, mas, hoje em dia,
temos um Mercosul voltado ao social graças à ação dos
governos populares. Represento a Coordenadora das
Centrais Sindicais do Cone Sul. O Mercosul tem sido um
êxito; fala-se muito que há problemas no Mercosul, mas
há intenção e interesse em solucionar esses problemas.
A sociedade civil tem sido acolhida no Mercosul e
grande parte das suas propostas tem sido aceita e
incluída nas resoluções do Mercosul. Podemos falar
de vários instrumentos como, por exemplo, o Acordo
Multilateral de Segurança Social, que deverá sofrer
agora, segundo nos têm informado, uma adaptação à
modernidade; queremos falar sobre o Instituto Social;
queremos falar sobre o Estatuto da Cidadania. Esse
Estatuto da Cidadania é um instrumento que terá a sua
aplicação efetivada se nós, as sociedades civis, junto
com as entidades sindicais, pressionarmos.
Devemos avançar na livre circulação de pessoas e
em um conjunto de propostas para reforçar o caráter
social do Mercosul. Os trâmites para o trânsito de
pessoas e trabalhadores nas fronteiras devem ser
simplificados; ampliação das áreas de controle
integradas; harmonização com a denominação
Mercosul dos produtos que tenham Mercosul no seu
rótulo; revisão da Declaração Sociolaboral que estamos
discutindo - estamos tendo dificuldades para que ela
seja revista, está sendo uma luta árdua e esperamos
que a partir da próxima Presidência Pro Tempore
tenhamos essa Declaração já revista; fortalecimento
da Comissão Sociolaboral que acompanha
aplicação dessa Declaração; desenvolvimento de
diretrizes de emprego; Plano sobre trabalho infantil;
inspeção homogênea de trabalho em cada estado
com o mesmo tipo de fiscalização; facilitação da
circulação dos trabalhadores; integração dos sistemas
de controle; estabelecimento de um programa de
educação previdenciária e equivalência de títulos e
dos transportes.
Hoje, no Seminário, ouvimos uma discussão sobre o
Acordo Mercosul-Israel. Queremos deixar claro que a
Coordenadora de Centrais Sindicais, desde o início da
discussão desse Acordo, se pronunciou contra a sua
assinatura. Nós não nos ocupamos apenas de temas
sindicais; cuidamos de temas políticos. Será uma
das bandeiras da Coordenadora a discussão política
porque, se não participamos da política, dificilmente
teremos mudanças. Nesse contexto, a questão da
Palestina é uma questão que vamos levar adiante.
Nicolas Caballero
Representante da sociedade
civil do Paraguai
Agradeço aos que ajudaram para que estejamos
presentes. Meu país está passando por um momento
difícil à raiz da matança de Curuguaty que propiciou
o golpe. No sábado assassinaram uma das principais
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
testemunhas desses feitos. Estamos duplamente
agradecidos por estarmos aqui para trazer nossa
voz, porque os meios de comunicação de nosso país
não refletem a voz de mais de 90% da população e,
sim, a voz desses 3% ou 5% que dominam os meios
de comunicação. A estrutura fundiária do Paraguai
é igualmente perversa, porque 4% da população
detém 96% das terras cultiváveis. Curuguaty, a
cidade onde ocorreu a matança que foi usada como
desculpa para dar um golpe de Estado parlamentar,
se insere nesse contexto.
Verónica Guerrero
Vice-ministra da América Latina e do
Caribe, representante da Venezuela
a Trago as saudações revolucionárias de Hugo Chávez.
No meu ponto de vista, a Cúpula Social deve ser a razão
do Mercosul, onde os povos se encontrem, se conheçam
e onde todos juntos construímos alternativas para um
mundo mais justo e solidário, para a salvação do nosso
planeta Terra. É a primeira vez que a Venezuela participa
como membro pleno. Sem dúvida, foi a pressão de
vocês que garantiu nossa presença, apesar de que os
parlamentos de direita fizeram o impossível para que
hoje não estivéssemos aqui. A Venezuela já não é a
mesma, não é a neutra ou complacente que existia nessa
diplomacia tradicional da Quarta República. Agora, a
Venezuela leva o nome de Bolívar porque somos uma
Revolução. Seu povo feito governo, feito poder popular,
feito poder comunal chegou ao Mercosul para colocar
nosso grão de areia nesta construção da Pátria Grande.
Cremos ter muito que aportar a esta união, desde nossa
modesta experiência; levamos doze anos construindo a
boa Pátria, na que todos sejamos construtores de nosso
destino.
O primeiro que tem feito este governo é restituir os
direitos ao povo venezuelano, desde o princípio de
uma educação gratuita e de qualidade, inclusiva e
de solidariedade, de princípios socialistas; de nada
serve ensinar com princípios egoístas; venceu-se o
analfabetismo. Temos garantido ao povo venezuelano
seu direito a uma saúde de qualidade, antes de
tudo preventiva, com nossos médicos a ensinar
à comunidade como sustentar padrões de vida
saudáveis. Soma-se a isso o investimento do Estado
19
 para garantir a melhor tecnologia para a saúde, com
o apoio solidário da revolução cubana. Garantimos
o direito a uma alimentação sadia, suficiente e de
qualidade: hoje os venezuelanos consomem mais
proteínas que em toda sua história. O PNUD e a
FAO reconheceram que a Venezuela alcançou as
Metas do Milênio na redução da fome e da pobreza.
Avançamos em direitos que não são reconhecidos
em grande parte do mundo, como o direito à terra.
Estamos em dura batalha contra o latifúndio, que
permanece gerando mortes; mas vamos seguir até
lograr democratizar a terra.
Nossa democracia participativa e protagônica garante
o exercício direto da soberania pelo povo, e o faz
através de seus conselhos que planificam, fazem seus
orçamentos participativos e executam diretamente
seus planos em todo o país. Há muitas experiências
do que hoje seja a explosão do poder popular,
como os Conselhos Escolares, as Mesas técnicas
de água e os conselhos camponeses que dirigem o
desenvolvimento agrícola de pescadores e pescadoras.
Esse empoderamento do povo hoje é irreversível.
São muitas as coisas que a Venezuela pode oferecer
ao Mercosul, e muito o que podemos aprender de
todos vocês. Todos juntos devemos seguir puxando os
processos até uma maior transformação do Mercosul,
com a incorporação da Bolívia e do Equador e de todas
as nações que queiram avançar na independência de
nossa América. Todos têm a grande tarefa de fazer
com que os povos sintam o impacto do que deve
ser o Mercosul. Para isso, contem com a Venezuela
revolucionária e bolivariana.
Deputado Edgardo Depetri
Representante do Governo
da Argentina
Apresento os cumprimentos em nome da presidenta
Cristina Kirchner. Nós devemos estar contentes porque
estamos fazendo tornar-se real a afirmação de que
outro mundo é possível. Estamos ganhando a briga
contra o neoliberalismo e contra o capitalismo, mesmo
com o fato de que davam por certa a perspectiva de
que somente a concentração do capital em poucas
mãos era o destino de América Latina. Lá, batalhamos
20
em Mar Del Plata, onde derrotamos contundentemente
a opção da Alca, e estamos construindo a nova Pátria
latino-americana social, solidária, de trabalhadores, que
nos encontra num destino comum. Assim como nosso
povo tem lutado, a briga segue vigente porque as
corporações econômicas, os grupos concentrados, as
elites dominantes e os setores do poder querem deter
todos os avanços que nossos povos estão logrando;
fruto de seu protagonismo e fruto de sua decisão.
Mas quero reconhecer o companheiro Lula, que foi
uns dos primeiros construtores dessa nova América.
No mesmo caminho, quero fazer um reconhecimento
ao nosso querido companheiro Néstor Kirchner, ex-
secretário-geral da Unasul e outro construtor da
unidade de nossos povos. Seguramente, são muitas as
coisas que nos faltam, mas é bom que gozemos dos
avanços que logramos. Hoje, para a grande maioria dos
povos da América Latina, a política tem voltado a ser a
capacidade e a possibilidade de transformar a sociedade
para terminar com a pobreza, com a miséria e com a
indigência. Estes são os verdadeiros objetivos de uma
política que representa os interesses dos nossos povos.
Como não sentir alegria pela forma que se trabalha com
o Brasil, com uma complementaridade não somente
industrial, senão econômica, política, sindical? Como
não vamos com o triunfo de Chávez, que enfrentou
as corporações midiáticas e os setores da direita
golpista? É por essa confiança na América Latina
que podemos dizer que, diferentemente dos Estados
Unidos ou da Europa, a América Latina cresce, e cresce
sobre a base de emprego. E não somente cresce, ela
se complementa. Já não existe mais a disputa de
mercados, a disputa por quem oferecia mais mão-
de-obra barata, quem baixava mais os impostos para
as transnacionais para que venham investir. Hoje
existem governos que se parecem a seus povos, e
povo e governo estão realizando a batalha por lograr
a identidade cultural, a soberania e a democracia.
Roberto Conde
Vice-Ministro de Relações
Exteriores do Uruguai
O Brasil é um país transformado em potência, mas
também em um país solidário com os demais países

“ O Mercosul, hoje, é o
único processo de integração
que tem vida na América
Latina, que tem como
objetivo construir um
espaço comum e integrado
para o desenvolvimento
de nossos povos.”
Roberto Conde
da América Latina. Quero fazer uma homenagem
aos povos Mercosulinos, representados por sua
sociedade organizada. Uma saudação especial para
a Coordenadora de Centrais Sindicais do Cone Sul,
que tem sido a organização mais lutadora e mais
consequente e comprometida com a unidade de
nossos povos Mercosulinos. O rumo histórico de nosso
processo de integração é inseparável do destino dos
trabalhadores e, cedo ou tarde, teremos uma Carta
Sociolaboral do Mercosul efetivamente aplicada.
Bem-vindos todos os povos. Incluo o povo do Paraguai,
como membro de um governo que teve de tomar a
dolorosa decisão de sancionar a outro governo por
atentar contra a democracia. A sanção foi feita sem
arrogância, convencidos de que estamos cumprindo o
compromisso democrático que todos assinamos; para
fazê-lo efetivo e não para transformá-lo em um papel
inútil. E essa defesa da democracia pode nos dividir
em algum momento, uns governos de outros, mas
jamais dividirá uns povos de outros, porque a unidade
de nossos povos se carimba, se constrói e se fortalece
com a luta democrática comum.
Boas-vindas à Venezuela à primeira Cúpula, boas-
vindas à Bolívia. Estamos vivendo com muita
expectativa as declarações que o governo boliviano
tem feito em La Paz. Todos sabem que o povo
boliviano é um dos mais sofridos e explorados de
nossa América. A Bolívia pertence à Bacia Platina e ao
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
coração do Mercosul, e tem que vir aqui conservando
suas preferências e suas conquistas, sem pagar
nenhum preço para entrar no Mercosul. Estamos
dispostos a trabalhar em um programa específico
que contemple as assimetrias, para facilitar seu
ingresso. Não nos cremos superiores a nenhum povo
irmão da América Latina. Somos irmãos neste mundo
democrático e progressista que somos capazes de
construir.
O Mercosul, hoje, é o único processo de integração
que tem vida na América Latina, que tem como
objetivo construir um espaço comum e integrado
para o desenvolvimento de nossos povos. É um
desafio histórico que o Mercosul conserva, com
um alto grau de ambição e compromisso que não
podemos rebaixar. Propomo-nos transformá-lo
num espaço comum de desenvolvimento, que essa
é a única forma de ser soberanos hoje. Ou somos
capazes também de resolver nossa integração
econômica ou somente construiremos um foro de
concertação política para que no mundo sigam
mandando as empresas transnacionais. O Mercosul
tem que resolver sua integração total: econômica,
social, política e cultural. E para isso estão os povos
do Mercosul como última garantia de que esse
processo não rebaixe sua ambição. Se acontecer
ao Mercosul o que ocorreu com a Comunidade
Andina, que se desintegrou, poucas possibilidades
de integração ficarão para o futuro.
O Mercosul deve manter-se como motor da integração.
Temos que ser conscientes de que há uma viga mestra de
todo o processo de integração sul-americana: a relação
de cooperação estratégica entre Argentina e Brasil. Se
essa viga se rompe, todo o processo se rompe. Para que
a Unasul progrida, o Mercosul deve consolidar-se, senão
fracassará todo o processo continental. Passamos por
momentos difíceis e por enfrentamentos conjunturais.
Isso tem explicação na história: são duzentos anos
de desenvolvimento desigual, geradores de tensões,
desajustes e conflitos. Temos que ter a grandeza de
respeitar os problemas de cada um de nossos países,
compreendê-los, trabalhar para solucioná-los com
solidariedade, e saber que jamais podemos permitir que
um desajuste ou problema conjuntural se transforme
numa virada estratégica.
21
 Ivan Ramalho
Alto Representante-Geral do Mercosul
Saúdo os jovens presentes, os quais vejo com
entusiasmo. Sendo egresso da área comercial do
Mercosul, lembro que, quando o Mercosul começou,
principalmente voltado à livre circulação de bens
entre os países integrantes, tínhamos um comércio
dez vezes menor que hoje. Junto com esse comércio,
temos a criação de vínculos de milhares de pessoas.
Evoluímos muito também em investimentos e em
integração produtiva. Com o ingresso da Venezuela,
os membros do Mercosul totalizam mais de 80% do
PIB da América do Sul; tal fator revela que esse é um
projeto desde o ponto de vista econômico, comercial,
industrial, inegavelmente consolidado.
Agora temos que estar voltados mais para a área social,
divulgando mais os avanços do Mercosul nesse âmbito.
Espero que a Bolívia possa estar pronta para entrar no
Mercosul. Necessitamos que outros Estados conheçam
mais o Mercosul, e vice-versa. Especialmente na esfera
social, temos várias iniciativas de grande importância,
como o Plano Estratégico da Ação Social, o Estatuto
da Cidadania e a livre circulação de pessoas. Além
disso, devemos apoiar mais o nosso Instituto Social do
Mercosul, divulgar mais a questão do reconhecimento
de títulos, de diplomas; a mobilidade acadêmica; e a
22
questão das aposentadorias. Nos já temos no Mercosul
avanços extraordinários na área social, e o que falta
é uma maior divulgação para que as pessoas possam
participar mais conosco.
Senador Roberto Requião
Representante do Parlasul
Saúdo a Venezuela, que integra o Mercosul. Bem-
vindos, Equador e Bolívia. Companheiros são
aqueles que, sentados à mesma mesa, repartem o
pão. Estamos vivendo momentos difíceis na América
Latina e América do Sul e necessitamos de soluções
políticas nesse processo em que a globalização e a
financeirização da economia nos lançou.
Como presidente da Seção brasileira do Parlasul,
estive na reunião com o Parlamento Europeu.
Esses encontros culminaram na certeza de que,
isoladamente, não iremos nos salvar. A cada hora
alvejados por uma mídia servil aos interesses imperiais
e sempre pronta a sublinhar nossa inferioridade,
todo sentimento de latinoamericanidade é tratado
como manifestação atrasada. “Moderno, avançado”,
proclamam os liberais e seus meios de comunicação,
“é resignar-se ao papel de produtores de commodities
e consumidores de produtos importados. Moderno é
ser dependente; modernos são os acordos bilaterais”.
Colocam o exemplo da Vale do Rio Doce. Isso lembra
o tratado entre Portugal e Inglaterra de 1703.
Nosso grito da independência deveria ser “ruptura
ou morte”. As classes dominantes não duvidam em
romper a normalidade democrática quando os seus
interesses são ameaçados. Nós pensamos e atuamos
absolutamente dentro das instituições postas. Mas
as instituições não beneficiam a maioria de nossos
povos. Logo, não são democráticas, tampouco
humanitárias. Avançamos sim, mas esses avanços
não resistiram à crise, como o Estado de Bem-Estar
não resistiu à globalização e à financeirização da
economia.
Nossa missão é maior: a melhoria de vida dos mais
pobres não é uma revolução, porque do outro lado
da praça reinam os mesmos ditados do grande
capital. Para nós, povo, a ruptura também é uma
questão de vida ou morte. Sem ruptura não há saída
na direção do desenvolvimento e do bem-estar
de nossos povos. Sem revolução não há salvação.
Não estou incitando ninguém ao levante, a pegar
armas. Os conservadores buscam sempre associar
a palavra “revolução” à luta armada, à violência,
estigmatizando a ideia de mudança estrutural
da sociedade.
Vamos debater a integração latino-americana, mas
deixemos espaços para debater a revolução, a
radicalização de nossas propostas. A revolução é
legitima. O resto é diversão, que significa desviar
do que importa. Na crise, os interesses imperiais se
distraem. A crise é a oportunidade. Vamos pensar
no rompimento das instituições. Na desobediência
e na criação de um modelo latino-americano,
diferente da tia Merkel, diverso das propostas
de Bush.
Antônio Patriota
Ministro das Relações
Exteriores do Brasil
O aprofundamento da condição social e cidadã do
Mercosul é uma condição essencial para o avanço
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
do processo da integração regional. A experiência
adquirida nos últimos vinte anos no processo de
integração demonstra que o processo de integração
entre nossos povos requer uma visão ampla, que
vai muito além da dimensão comercial. Precisamos
trabalhar com foco em nossa cidadania, voltar nosso
esforço para a construção de um espaço integrado
onde nossos cidadãos possam gozar de liberdades e
garantias comuns.
A incorporação do social à Agenda do Mercosul é
reflexo da maturidade da democracia em nossas
sociedades. Não por acaso, a origem do Mercosul está
na dinâmica da redemocratização de nossos países. Na
última década, lançamos as bases para que o projeto
do Mercosul buscasse consolidar seu pilar social e
instituísse o pilar da cidadania. Com essas mudanças,
a integração passou a ser mais claramente um objetivo
compartilhado pelas sociedades dos Estados membros;
passou a ser uma realidade com a qual as sociedades
contribuem diretamente e na qual os cidadãos em
diferentes níveis consolidam seu status de verdadeiros
participantes de um projeto maior.
Nem poderia ser diferente, pois o Mercosul é hoje um
autêntico projeto de desenvolvimento, não um mero
projeto de construção de um espaço econômico
e de liberdade comercial. O que pressupõe buscar
maneiras de olhar, não apenas se os benefícios da
integração são atingidos por todos, mas também se
os mecanismos de deliberação contam com o apoio
do conjunto da cidadania. Por isso, é tão auspicioso
ver nessas cerimônias representantes dos movimentos
sociais de todos os membros do Mercosul, e é com
particular satisfação que contamos com a participação
de representantes paraguaios. Esperamos que ocorra o
quanto antes no Paraguai o pleno restabelecimento de
uma ordem democrática, para que o país possa retornar
ao Mercosul e também à Unasul. É o que desejamos.
Mas a presença de nossos companheiros paraguaios em
nossa Cúpula Social já se reveste de significado especial:
trata-se da demonstração prática de que, ao suspender
o Paraguai em cumprimento de nossas cláusulas
democráticas, nada fazemos que possa prejudicar o
povo paraguaio que, ao contrário, queremos sempre
mais próximo como na noite de hoje.
É também estimulante ver, ao lado dos amigos
argentinos, paraguaios, uruguaios, de outros amigos
23
 da região, da Bolívia e Equador, a Venezuela no
Mercosul como membro pleno, com todas suas forças
econômicas, comerciais, energéticas, geopolíticas.
Há um aspecto, porém, que não pode deixar de ser
ressaltado para todos nós: a adesão da Venezuela
contribui para um efetivo engajamento também da
posição norte de nosso país, do Brasil, num esforço
de integração, já que desde algum tempo alguns
compreendiam essa integração como um exercício
mais voltado para o sul de nosso continente sul-
americano. Sejam, portanto, muito bem-vindos, nossos
irmãos, como membros plenos.
Neste semestre, avançamos de forma decidida para
que os movimentos sociais sejam atores com maior
participação no projeto de integração. É assim,
com prazer, que anuncio que deveremos aprovar na
reunião do Mercado Comum a decisão que assegura
periodicidade semestral para a Cúpula Social. A decisão
também determina que os resultados da Cúpula Social
serão encaminhados ao Grupo Mercado Comum, que
por sua vez os transmitirá às instâncias competentes
na instância institucional do Mercosul. Trata-se de uma
decisão que insere a Cúpula Social de forma definitiva
no Mercosul e que permitirá que os debates realizados
nesse foro possam oxigenar os trabalhos das demais
instâncias do Bloco. Fico especialmente feliz de
que esse resultado tenha sido alcançado durante a
Presidência Pro Tempore brasileira.
Gostaria de dizer algumas palavras sobre o tema
central desta Cúpula: Cidadania e Participação; tema
que ganhou crescente importância no Mercosul nos
anos recentes, como demonstra a aprovação do Plano
de Ação e a conformação do Estatuto da Cidadania
na Presidência Pro Tempore brasileira desde 2010.
O Plano de Ação é uma estrutura em torno de três
objetivos gerais: a implementação de uma política
de livre circulação de pessoas na região; a igualdade
de direitos e liberdades civis, sociais, culturais e
econômicos para os cidadãos dos Estados Partes do
Mercosul; e a igualdade de condições para acesso ao
trabalho, à educação e à saúde. De modo que, para
cumprir essas metas, contemplamos ações concretas
necessárias: fronteiras, identificação pessoal,
documentação e cooperação consular, trabalho e
emprego, previdência social, educação, transporte,
comunicações, defesa do consumidor e direitos
políticos. A elaboração do Plano de Ação exigiu uma
24
colaboração entre as diversas instâncias, incluindo
governos e representantes da sociedade civil.
O Estatuto da Cidadania do Mercosul só poderá
ser operacionalizado por meio da assinatura de um
Protocolo Internacional que incorpore o conceito
de cidadão do Mercosul e constitua parte integral
do Tratado de Assunção. Durante nossa atual
Presidência Pro Tempore, conseguimos avançar
na implementação do Estatuto e aprovamos, por
exemplo, a Corte Mercosul sobre direito aplicado em
matéria de contratos internacionais de consumo, o
que permitirá aos consumidores de nossos países
firmarem um contrato de consumo para que possam
beneficiar-se da lei do Estados Partes que se mostre
mais benéfica.
Na área de fronteira, avançamos com o Acordo do
Recife, que tem o objetivo de regular os controles
integrados nas fronteiras dos Estados Partes
e facilitará os fluxos migratórios. Avançamos
igualmente na revisão da Declaração Sociolaboral
do Mercosul e na harmonização progressiva da
legislação trabalhista e previdenciária entre nossos
países, o que contribuirá para reduzir as assimetrias
e facilitará a circulação dos trabalhadores no espaço
do Bloco. A ampliação do Acordo de Residência
é uma prioridade do Mercosul Social. Durante a
Presidência Pro Tempore brasileira, a Colômbia
aderiu a esse acordo, que facilitará a circulação de
cidadãos colombianos também na área do Mercosul,
e vice-versa.
Uma questão que será objeto de oficinas temáticas
durante esta Cúpula Social: trata-se da questão da
juventude. Como todos sabem, a Decisão um onze
avos fixou o primeiro período de 2012 a 30 de junho
de 2013 como Ano da Juventude do Mercosul,
e durante este semestre a Presidência brasileira
procurou dar tratamento articulado a temas capazes
de aumentar o interesse e o envolvimento das novas
gerações no processo de integração regional. Como
resultado desse empenho, deveríamos aprovar o
estabelecimento de um Sistema de Mobilidade
Integrado ao Mercosul, que tem o objetivo de
promover um salto qualitativo e quantitativo nas
iniciativas de mobilidade acadêmica e educação no
âmbito do Mercosul. Deverá ser priorizada, além das
iniciativas que estimulem o aprendizado do espanhol
 “ A agenda da Cidadania do Mercosul está cada dia
mais povoada. Essa agenda é a concretização de uma
visão da integração que acreditamos ser essencial para
a consecução dos objetivos que compartilhamos.”
e do português no Mercosul, a mobilidade dos
cursos acreditados por nosso mecanismo regional
de acreditação.
Estes são desdobramentos fundamentais com que nos
engajamos em nossos esforços de integração. O futuro
são os jovens. Sem seu entusiasmo, sua criatividade,
sem sua perspectiva renovada sobre o mundo,
nosso trabalho sairia perdendo. Ganhamos todos se
trabalharmos para a juventude e com a juventude. Isso
lembra uma frase de um representante da ONU que
visitou recentemente o Ministério, que dizia que há
jovens de todas as idades. Então, aqui todos somos
jovens. Que este foro siga representando também os
pontos de convergência dos valores de nossos jovens,
e que os jovens possam imbuir-se cada vez mais do
espírito de integração que nos anima a todos.
A agenda da Cidadania do Mercosul está cada dia
mais povoada. Essa agenda é a concretização de uma
visão da integração que acreditamos ser essencial
para a consecução dos objetivos que compartilhamos:
seguir construindo sociedades crescentemente plurais,
prósperas e justas na América do Sul, continuar o
trabalho de consolidação da paz, da cooperação
e, também, da democracia e do desenvolvimento
econômico com inclusão social. Temos muito presentes
os desafios que persistem, não subestimamos os
obstáculos que ainda temos que enfrentar para que
tenhamos em todas as dimensões o Mercosul que
aspiramos. E a agenda cidadã não é uma exceção,
também aqui tem pela frente um longo caminho a
percorrer. Mas percorreremos esse caminho com a
certeza de quem sabe mover-se num bom sentido e
com o ânimo de quem, ao olhar para trás, vê o quanto
já pudemos fazer juntos.
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
Antônio Patriota
Gilberto Carvalho
Ministro-chefe da Secretaria-Geral da
Presidência da República do Brasil
Apresento as saudações da presidenta Dilma e agradeço
a todos os que fizeram um esforço extraordinário para
estar nesta assembleia histórica, uma assembleia da
qual emana uma energia, uma esperança e uma decisão
de luta que é extraordinária. Agradece ao governo do
Distrito Federal, homenageia os companheiros que
trabalharam. Destaca o trabalho prévio: o Juvensur em
Foz do Iguaçu, encontros de mulheres, de agricultura
familiar, sindical, uma série de reuniões preparatórias
que vão compondo um tecido entre nós. Fiquei
pensando no significado histórico de estarmos aqui
hoje. Houve tempo em que mal podíamos nos encontrar.
É verdade que estamos de frente a muitas dificuldades,
mas é verdade também que é importante celebrar as
conquistas duramente alcançadas por nossas lutas, que
é a conquista democrática.
Houve um tempo em que os países se relacionavam
para planejar a Operação Condor, para planejar a
repressão aos nossos movimentos sociais. Houve um
tempo em que nós nos encontrávamos para chorar
nossos mortos, para tentar lutar contra ditaduras
que nos impunham. É muito significativo que nós
estejamos hoje aqui para celebrar exatamente a nossa
democracia e os avanços que queremos fazer porque,
evidentemente, não nos contentamos com aquilo que
já conquistamos, que não é pouco, mas insuficiente
para nosso sonho, para nossa utopia. Nós queremos dar
passos concretos, seguros na direção, na perspectiva
de um novo modelo de desenvolvimento efetivamente
sustentável para os nossos países. Nós estamos felizes
com a inclusão de milhões, com a superação de muita
exclusão, de muita diferença, mas nós queremos
mais. Nós queremos vida mais abundante, queremos
25
 direitos para todos os nossos cidadãos, queremos
a participação de uma democracia que rompa os
limites de uma democracia meramente representativa;
queremos efetivamente construir uma democracia
participativa, atuante, na qual a sociedade civil de
nossos países tome, em suas mãos, a decisão de seus
povos. E para isso, nós sabemos que ainda falta muito.
Sabemos que muitas vezes a nossa participação
democrática é muito mais retórica do que efetiva, e ainda
custa aos nossos governos romper uma cultura que nós
criticamos tanto, de verticalismo, de autoritarismo das
elites, mas que nós, governos populares que chegamos
ao poder — a essa espécie de poder, porque não nos
iludamos: nós estamos no governo e não estamos
efetivamente no poder —, muitas vezes, ao usarmos
esse instrumento do Estado, não somos capazes de
promover a efetiva participação, a efetiva chamada
de nosso povo para nos ajudar nas decisões mais
importantes. É nisso que nós apostamos: as mudanças
econômicas, as mudanças sociais que nós queremos
para o Mercosul só serão realizadas na medida justa
em que conseguirmos aprofundar efetivamente uma
verdadeira democracia no campo político, no campo
social, mas, sobretudo, no campo econômico. E isso só
se faz com um chamado à participação, só se faz com
a criação de mecanismos efetivos de participação para
a cidadania dos nossos países.
E esse caminho, essa mudança cultural, temos que fazer
nos unindo, nos articulando e intercambiando muito
entre nós. Nenhum dos nossos governos, nenhum dos
nossos países, nenhum dos nossos movimentos tem
a receita única e melhor. É conversando, é trocando,
é intercambiando, é formando redes entre os nossos
movimentos, é fazendo cada vez mais para que
nossos cidadãos se aproximem, que conseguiremos
aperfeiçoar nossa democracia. Por isso, a importância
dessas novas medidas que expôs o ministro Patriota: a
circulação entre nós, mas também a iniciativa de nossos
movimentos sociais e de nossos governos; temos que
nos encontrar muito, estar muito perto uns dos outros.
Somente assim vamos encontrar o verdadeiro caminho
de mudança e de redenção da nossa querida América
Latina e dos nossos povos.
E não temos ilusão: se é verdade que alcançamos
muitos resultados nos últimos tempos, se é verdade que
uma primavera coloca a América Latina com governos
26
de origem popular e suas consequências - porque
os governos populares mostram que fazem bem ao
povo de cada um dos nossos países pelas conquistas
sociais -, estamos observando, no entanto, que as elites
não estão paradas e nem olhando com muito prazer
as nossas conquistas. A cada dia somos atacados, a
cada dia sofremos, de fato, as oposições dos que não
querem uma alternativa popular, mas que têm uma
terrível saudade do tempo em que as elites batiam
com seu tacão em nossos povos, e havia a repressão,
a exploração. Essas elites continuam nos atacando de
toda forma e, quem tiver dúvida, olhe o exemplo que
aconteceu em nosso querido Paraguai, onde, ao menor
vacilo e fragilidade nossa, eles armaram um golpe. E
não pensemos que o Paraguai é um caso isolado.
Portanto, de um lado, vamos avançar e vamos nos
defender contra essa ameaça que paira assim sobre
nós. E quem governa, quem participa de um governo,
seja no Brasil, seja no Uruguai, seja na Argentina, na
Bolívia, na Venezuela, sabe do que estou falando:
desse combate pela volta de outro sistema de
exploração que quer, sim, voltar a imperar na América
Latina. E a melhor maneira de fazermos essa defesa
é avançar em direção dessa democracia profunda,
de nosso enraizamento em meio ao povo, de andar
no meio do povo, de ouvir esse nosso povo, e trazer
esse nosso povo como partícipe eficiente, eficaz e
efetivo junto dos nossos governos. Banho de povo,
audiência do nosso povo e a sua parceria - essa é a
única garantia pela qual nós conseguiremos, de fato,
fazer continuar nosso projeto de avançar a justiça, de
avançar os direitos, de avançar naquelas conquistas
que dão dignidade à nossa gente.
Nós temos, aqui nessa sala, uma enorme
responsabilidade. Se é um privilégio estarmos aqui
hoje, é também uma grande responsabilidade.
Trabalharemos agora durante dois dias nas oficinas e
nas plenárias. A reunião da Cúpula de dirigentes dos
nossos países espera de nós não apenas um bom
documento, espera de nós não apenas as sugestões
que entregaremos na tarde da quinta-feira aos nossos
presidentes e representantes oficiais, mas espera de
nós um compromisso de que a nossa luta, de que
a nossa fidelidade será de toda nossa vida para a
realização de transformações efetivas. Não se fazem
transformações profundas, não se faz a revolução sem
que nossos movimentos sociais estejam articulados,
sem que eles vençam as barreiras que se lhes impõem,
sem que eles se articulem muito ativamente aqui nessa
América Latina. Que estes dois dias de trabalho sejam
dias em que nós, iluminados por esse nosso sonho,
essa nossa utopia, tenhamos a capacidade de propor,
de fato, novos caminhos para os nossos governos,
novos caminhos para nossa querida América Latina.
Ao final da sessão de abertura foi transmitido um
vídeo com declaração do ex-presidente Lula aos
representantes dos movimentos sociais. Eis a síntese
de seu pronunciamento:
“Não imaginam a vontade que eu tenho de estar
aí discutindo com vocês, conversando com vocês,
aprimorando nossas discussões sobre a integração
social de nosso querido Mercosul, de nossa América do
Sul, de nossa América Latina, mas estou numa viagem
internacional, um compromisso assumido. Mas vou,
através deste vídeo, deixar uma mensagem carinhosa
de um companheiro que, mesmo não sendo presidente,
continua acreditando vivamente que a integração
da América Latina, da América do Sul, do Mercosul
é condição básica para que a gente possa alcançar
um nível de conquista social, que possa alcançar um
padrão de vida digno que todo ser humano deve ter.
Até pouco tempo, a gente estava de costas uns para os
outros, só olhávamos para os Estados Unidos, Europa,
como se pudessem atender às nossas necessidades
sociais, e poucas vezes a gente parou para pensar:
e nós? O que poderemos fazer por nós mesmos?
Agradeço a Deus por haver feito parte de uma
geração de políticos que compreendeu isso, que era
preciso que a gente olhasse mais para nós mesmos,
que a gente descobrisse a singularidade de nossos
países, um potencial de coisas que nós poderíamos
produzir, comercializar, mas sobretudo um potencial
de capacidade de fazer nossa integração política,
uma integração cultural, uma integração social,
uma integração sindical, ou seja, uma integração
que discutisse todos os aspetos que uma sociedade
precisa discutir e, obviamente, também o empresarial,
o comercial, o sentido tecnológico; que nossos
estudantes possam visitar os outros países, fazer
intercâmbios entre universitários, que mais gente da
América Latina venha fazer pós-graduação no Brasil,
que mais gente do Brasil vá fazer pós-graduação na
América Latina, para que a gente possa formar um
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
Bloco forte economicamente, forte socialmente, forte
sindicalmente e, sobretudo, forte do ponto de vista
cultural e do ponto de vista político.
Às vezes, as coisas andam mais lentamente do que nós
gostaríamos. Mas é assim. Nós temos que consolidar
um processo, e temos que consolidar de forma coesa,
sólida, para que a gente não sofra tantos desbarrancos.
Quando a gente consolidar mais a Cúpula Social do
Mercosul, vamos ao mesmo tempo construir a Cúpula
Social do Mercosul e a África, quem sabe depois
discutir com outros países, porque nós precisamos
garantir que os países do Sul se unam cada vez mais, se
preparem cada vez mais, e discutamos politicamente e
culturalmente cada vez mais, para que a gente possa
discutir em pé de igualdade com os chamados países
do Norte.
Lamento do fundo de meu coração não estar aí, porque
eu acredito vivamente que sozinhos temos menos
chance. Acho que, juntos, podemos garantir uma coisa
sagrada: não vamos desperdiçar o século XXI como
desperdiçamos o século XX. É preciso que a gente
tenha em mente: nós seremos o que nós quisermos, e
não aquilo que outros queiram que a gente seja. É isso
que precisa nortear o nosso debate, a nossa cabeça,
para que a gente possa criar uma doutrina do que é a
nossa integração, que não é um mero acordo. E que vai
ter muitas disputas, mas só no futebol, pois na política
a divergência se resolve numa mesa, negociando. No
movimento sindical, a gente constrói as reivindicações
conjuntas numa mesa de negociação. Um movimento
social é a mesma coisa. E, depois, desde o ponto de
vista cultural, nós temos uma riqueza imensa, uma
riqueza incomensurável que está muito dispersa e que
vamos tentar juntar, respeitando os valores de cada
país, a cultura de cada país. Nós precisamos unificar o
que nós temos de melhor para que a gente possa fazer
valer a nossa vontade nas negociações internacionais,
a nossa participação no mundo.
Por isso, queridos companheiros, lamentando não estar
aí e não poder discutir isso pessoalmente, eu quero
que vocês tenham um belíssimo encontro. E que possa
a luz de vocês iluminar a cabeça de nossos dirigentes
para que a gente faça cada vez mais e o povo ganhe
cada vez mais. Um abraço e boa sorte.”
27
28
 Mesas Temáticas

Nesta seção serão apresentados os relatórios sobre os grupos temáticos. Cada relatório foi
elaborado por um professor ou professora da Unila, devidamente identificados. De cada relatório
consta a sistematização das apresentações feitas pelos painelistas, dos debates realizados com os
representantes das organizações da sociedade civil, do conjunto das propostas elaboradas em cada
mesa, e das duas propostas que constarão do documento final a ser apreciado na Plenária Final e
entregue aos chefes de Estado.

X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S 29
 OFICINA

Direito à
Memória,
à Verdade
e à Justiça

Grupo Temático 1: Direitos Humanos

Professor sistematizador: Cezar Karpinski
Coordenadora: Graciela Rodriguez
Resumo
A América Latina foi abatida, ao longo das décadas
de 1960, 1970 e 1980, por regimes autoritários que
suspenderam direitos e garantias fundamentais,
garrotearam liberdades e cercearam o parlamento,
criminalizaram movimentos sociais e oprimiram
minorias. A luta pelo direito à memória, à verdade e
à justiça não aceita que se queira virar essa página da
história sem que se aprenda com ela. O Mercosul tem
realizado, de modo amplo e suficiente, políticas de
justiça requeridas para a consolidação da democracia?
O que as experiências dos países da região têm a nos
ensinar, e como é possível cooperar para lançar luz a
1
este momento da nossa história?
Proposta e participantes
A proposta deste Grupo Temático foi a de promover
diálogos e trocas de experiências sobre os trabalhos
das Comissões da Verdade e Justiça instaladas em
países do Mercosul. Sob a coordenação de Graciela
Rodriguez, da Rede Brasileira pela Integração dos
Povos (Rebrip), o debate teve início às 10h17min do
_______________________________________________________________________________________________________________
1. CUPULA SOCIAL DO MERCOSUL, 14, 2012, Brasília-DF. Programação.
Disponível em: <http://socialMercosul.org/oficinas-tematicas/>. Acesso: 11 dez 2012.
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
dia 05 de dezembro de 2012 e contou com a presença
de representantes do Serviço Pastoral dos Imigrantes
de São Paulo, da Secretaria-Geral da Presidência da
República do Brasil, do Governo do Estado do Rio
Grande do Sul, da União dos Estudantes Angolanos, da
Confederação das Mulheres no Brasil, do Movimento de
Assuntos e Temas Imigratórios do Uruguai, do Centro
de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante, da
União Popular de Mulheres, de Centros e Movimentos
Sociais e Populares do Paraguai, do Serviço Paz e
Justiça do Uruguai, de estudantes da Universidade
Federal da Integração Latino-Americana (Unila) e do
Projeto Educar para o Mundo do curso de Relações
Internacionais da Universidade de São Paulo (USP).
A mesa foi organizada em dois momentos. No primeiro,
foi feito um debate sobre a experiência das Comissões
da Verdade e da Justiça, por meio de exposições
que tiveram como objetivo relatar alguns trabalhos
realizados no Brasil e no Uruguai. Já no segundo
momento, a plenária elaborou duas propostas que
seriam levadas aos presidentes do Mercosul. Essas
propostas deveriam resumir as principais demandas
do eixo temático da mesa de forma propositiva e
concreta, para que se tornassem realidade nos países
do Mercosul.
31
 Exposições
A primeira expositora foi a professora da Universidade
Federal de Minas Gerais, Heloísa Starling, que faz
parte da Comissão da Verdade, Justiça e Direito à
Memória no Brasil. Como assessora desta Comissão,
apresentou uma perspectiva histórica dos trabalhos
e expôs um projeto sobre mortos e desaparecidos
no Brasil por obra dos agentes do Estado. A partir
do livro “Direito à memória e à verdade: comissão
especial sobre mortos e desaparecidos políticos”, 2
foi elaborado um material midiático, transformando
as discussões do livro acessíveis aos jovens, às
escolas e às pessoas da sociedade em geral. Neste
projeto, coordenado pela expositora, o principal
desafio foi trabalhar a interface da história e da
memória de 375 personagens mortos durante a
ditadura militar, garantindo sua singularidade ao
apresentar o contexto histórico de sua morte. Foi
mostrado ao público o arquivo daqueles mortos
em pequenas fotografias, apenas com o material
reconhecido pelo Estado através da Comissão
da Verdade e da Justiça. Tal projeto construiu
um sistema que abarcou grande parte da história
do período da ditadura militar no Brasil, a partir
daqueles que foram assassinados pelos aparelhos
de controle estatais. As fontes para a pesquisa foram
vídeos, fotografias e documentos pesquisados no
acervo disponibilizado pela Comissão da Verdade e
da Justiça.
A segunda exposição contou com a presença da
uruguaia Ana Juanche, do Servicio Paz y Justicia
– Uruguai, que expôs à plenária sua experiência
junto a esse órgão. Relatou como o Servicio Paz y
Justicia tem contribuído para a verdade, a memória
e a justiça dos mortos e desaparecidos do período
das ditaduras militares na América Latina. Para
a expositora, o direito à memória e à justiça não
está associado apenas ao passado recente, mas
aos termos de convivência cidadã. Desde o México
até a Terra do Fogo, a história da América Latina
foi permeada por genocídios e, a partir da década
de 1960, essas práticas passaram a ocorrer com as
_______________________________________________________________________________________________________________
2. B
 RASIL. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. Direito à
verdade e à memória: Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos
Humanos, 2007. Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/sedh/biblioteca/livro_direito_memoria_verdade/livro_direito_
memoria_verdade_sem_a_marca.pdf>. Acesso: 11 dez 2012.
32
ditaduras militares. No Uruguai, o Servicio de Paz
y Justicia tem analisado três governos, e conta
com inúmeros processos que são resultado da luta
de movimentos sociais, da denúncia das vítimas
e daqueles que, de alguma forma, combatem a
impunidade. A partir desses debates e embates,
instaurou-se no ano 2000 uma comissão, pela
qual o Estado uruguaio passou a investigar a sua
culpabilidade nos crimes da ditadura. Um dos
momentos cruciais desse processo foi a celebração
de um convênio entre a Presidência da República e a
Universidade da República do Uruguai, coordenado
pelo dr. Gerardo Caetano, cujas investigações
geraram um compêndio documental de mais de
cinco mil páginas, que foi o ponto de partida para a
instalação dos processos judiciais contra o Estado
nos crimes. O principal objetivo desses trabalhos
no Uruguai é dar à sociedade o direito de ter uma
memória do que foi a ditadura militar, para que
os acontecimentos desse período não voltem a
acontecer.
Debate
Das questões levantadas no debate, destacam-se:
1. 
A necessidade de um levantamento dos casos de
morte e perseguição aos estrangeiros nos países
da América Latina, principalmente os imigrantes ou
exilados políticos.
2. Uma instrução metodológica para que os cidadãos do
Mercosul continuem a denunciar os crimes do Estado,

tanto os do passado como os do presente, no tocante
aos abusos do poder de polícia que configurem
violações de direitos humanos.
3. Como as mulheres vítimas de tortura aparecem nos
relatórios, devendo as comissões aprofundar a questão
das torturas sexuais e da retirada dos filhos das presas.
4. 
A necessidade de as Comissões da Verdade
e da Justiça trabalharem em conjunto com as
universidades, principalmente com a história dos
movimentos estudantis.
5.
Da possibilidade de haver uma rede compartilhada
de informações entre as Comissões da Verdade e da
Justiça nos países do Mercosul.
Um momento importante do Grupo Temático foi a
intervenção dos representantes da sociedade civil
do Paraguai, com o relato de suas experiências. Uma
das líderes do grupo na Cúpula Social do Mercosul
disse estar sob ameaça de morte por advogar
pelos camponeses e indígenas, cujos direitos são
violados no Paraguai. Explicou detalhadamente os
acontecimentos, denunciou o abuso de poder e a
violação de direitos e noticiou a criação de um comitê
de investigação paralela às que são forjadas pela
mídia e pelo Estado paraguaio, cujo governo não é
considerado legítimo. Tanto os movimentos de apoio
aos camponeses, quanto os que apoiam a causa
indígena estão sendo rechaçados e perseguidos por
meio da atual ditadura paraguaia.
Considerações finais
Como conclusões da oficina, destacaram-se
necessidade de mais discussões sobre a repressão,
a ditadura e os atropelos dos direitos humanos que
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
foram realizados em períodos da história. Tais abusos
partem de um modelo econômico que precisa da
concentração da terra, de seguir pensando o território
como fonte de riqueza natural para exportação. Nesse
sentido, é urgente que a sociedade tenha acesso às
suas memórias para transformá-las em história, a fim
de construir possibilidades de modificação através
de tratados e legislações. Essa discussão propiciou
o trabalho prático de elaborar duas propostas para
serem incluídas na pauta dos dirigentes.
Propostas
Tendo como base as discussões das expositoras e
o debate, foram constituídas estas propostas, que
posteriormente seriam debatidas numa plenária geral
com todas as mesas da Cúpula Social para a aprovação
e inserção em documento oficial a ser entregue aos
dirigentes do Mercosul:
1. Exigimos que os Estados Partes fortaleçam o
Instituto de Políticas Públicas de Direitos Humanos
do Mercosul (IPPDDHHM) através da destinação
de recursos materiais e humanos para seu efetivo
funcionamento (fortalecendo os planos de trabalhos
regional das Secretarias de Direitos Humanos dos
países do Mercosul e promovendo a articulação e a
divulgação educacional e pública dos trabalhos das
Comissões de Verdade e Justiça).
2. Garantir a implementação do Plano Estratégico
de Ação Social do Mercosul (Peas), através do
estabelecimento de metas, ações e orçamentos
para processos de prevenção, justiça e garantias
de não repetição das múltiplas violações de direitos
humanos, com ênfase nos povos indígenas, migrantes,
camponeses, afrodescendentes, jovens, crianças,
mulheres e a diversidade de pessoas e coletivos
vulneráveis em seus direitos.
a
33
 OFICINA

Migração
e Trabalho
Decente

Grupo Temático 1: Direitos Humanos

Professor sistematizador: André Ramalho Aguiar
Coordenador: Roque Pattussi
Resumo

O Tratado de Assunção, que criou o Mercosul em 1991,

já estabelecia o objetivo de constituir no Bloco uma
área de livre circulação de pessoas. Apesar de avanços
como os Acordos sobre Residência para Nacionais
dos Estados Partes – que reconhecem aos migrantes
do Mercosul o direito humano ao trabalho –, ainda se
enfrentam percalços para que isso se torne realidade,
em especial no que tange ao pleno direito de residir
e trabalhar em outros países do Mercosul. Além da
agenda de avanços institucionais, como transformar os
compromissos dos textos normativos em realidade na
vida dos cidadãos do Bloco? E como garantir também
a dignidade dos imigrantes provenientes de outros
países que não fazem parte do Mercosul? 3

Oficina temática e atores participantes

Com a consigna de que “trabalhar não é crime, migrar

não é crime”, o objetivo desse Grupo Temático foi o de
construir um diálogo de saberes acerca da migração
e do trabalho decente no Mercosul. Nesse sentido,
o debate buscou como referência os relatos de
experiências dos países que compõem a Comunidade
Andina de Nações (CAN), no que tange às políticas
públicas regionais voltadas a cumprir uma agenda
social e trabalhista entre tais Estados. Assim, repensar
como essas políticas poderiam servir de inspiração na
construção de um projeto de integração mais justo, no
que se refere ao processo migratório e trabalho digno
no Mercosul.

Sob a coordenação de Roque Pattussi (Serviço Pastoral

do Imigrante e Centro de Apoio ao Imigrante – Brasil),
o debate teve início às 14h30 do dia 05 de dezembro
de 2012 e contou com a presença de representantes
da Secretaria-Geral da Presidência da República, da
Rede Brasileira pela Integração dos Povos, do Espaço
sem Fronteira – Peru, do Centro dos Direitos Humanos
e Cidadania do Imigrante – Brasil, do Serviço Paz e
Justiça – Uruguai, de Centros e Movimentos de Sociais
do Paraguai, bem como de estudantes da Universidade
Federal da Integração Latino-Americana (Unila).

_______________________________________________________________________________________________________________

3. CÚPULA SOCIAL DO MERCOSUL, 14, 2012, Brasília-DF. Programação. Disponível em: <http://socialMercosul.org/oficinas-
tematicas/>. Acesso: 11 dez 2012.

X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S 35
 Metodologia
Proposta pelo coordenador Roque Pattussi, a Oficina
foi organizada em três etapas:
1. Duas comunicações relacionadas ao tema “Migração
e Trabalho decente”.
2. Criação de grupos de trabalhos e elaboração das
propostas.
3. Discussão coletiva e apresentação das propostas
elaboradas.
Dando sequência à proposta metodológica do
coordenador Roque Pattussi, a primeira comunicação
foi ministrada por Aída Garcia Naranjo Morales,
embaixadora peruana no Uruguai. A expositora
apresentou como tema central “A convergência e
articulação das experiências da Comunidade Andina
(CAN) e do Mercosul”. Em seguida, Paulo Illes
coordenador do Centro de Equidade e Segurança para
os Trabalhadores Migrantes – Cedic, apresentou uma
comunicação intitulada “As condições de equidade
e segurança para os trabalhadores migrantes na
América Latina”. Os dois trabalhos visavam expor
suas respectivas experiências sobre atividades
executadas no Brasil e nos países andinos (Bolívia,
Peru, Equador e Colômbia), respectivamente.
Ao final das comunicações centrais, o mediador
Roque Pattusssi convocou o público presente a
organizar rodas de discussão. Formaram-se dois
grupos de aproximadamente 10 participantes cada
um. A discussão em torno do tema central da
oficina - “Migração e Trabalho decente” - teve uma
duração aproximada de 40 minutos. Em seguida, os
participantes da oficina iniciaram os debates finais.
As propostas elaboradas por cada grupo foram
projetadas ao coletivo e discutidas. A partir dessa
discussão, os atores sociais presentes na oficina
elaboraram duas propostas finais. As propostas
foram lidas pelo mediador e, em seguida, levadas à
votação, sendo aprovadas por unanimidade.
_______________________________________________________________________________________________________________
4. D
 eclaração Sociolaboral do MERCOSUL, 10 de dezembro de 1998, Rio de Janeiro - Brasil. Disponível em :
http://www.mercosur.int/msweb/portal%20intermediario/Normas/Tratado%20e%20Protocolos/sociolaboralPT.pdf
5. O
 ficina Internacional do Trabalho. Em: “La capacitación laboral en los países andinos”. Setembro de 1998, Genebra, Suíça.
Disponível em: http://www.oit.org.pe/WDMS/bib/publ/doctrab/dt_076.pdf
36
As comunicações
A segunda mesa de debates sobre direitos humanos
da Cúpula Social do Mercosul, coordenada por
Jorge Gimenez, representante do Centro de Apoio
aos imigrantes - São Paulo, começou em clima
de integração latino-americana. Antes de iniciar
sua intervenção, Aida Garcia Naranjo Morales,
embaixadora do Peru no Uruguai, interpretou a
música “Canción con Todos”, da argentina Mercedes
Sosa, e foi acompanhada pelos participantes do
debate.
Neste ambiente fraterno, a primeira comunicadora
apresenta um trabalho relacionado à migração
e trabalho decente. Aída Garcia Naranjo Morales
recorda que a criação do Mercosul advém de um
projeto neoliberal que não contemplava a garantia
do trabalho decente. Segundo a expositora, definir
uma “agenda social” num contexto neoliberal não
era um tema relevante entre os chefes de Estado no
momento da instalação do Mercosul. Nesse sentido,
a renda social e a luta por um trabalho decente
deveriam contar com o apoio das centrais sindicais
do Mercosul. As centrais sindicais impulsionariam
uma agenda laboral, baseada na declaração dos
direitos laborais do Mercosul 4, assinada na cidade
do Rio de Janeiro, Brasil.
Em tal sentido, a expositora faz uma alusão ao
processo migratório/laboral dos países andinos.
Segundo a Embaixadora, a Comunidade Andina das
Nações tem uma visão laboral que permite, entre seus
países membros, o direito a migrar. Os trabalhadores
andinos utilizam seus passaportes para trabalhar na
região. A legislação laboral autoriza-os a lutarem por
seus direitos em igualdade de condições. Esse direito 5
abarca os seguintes países: Colômbia, Equador, Peru
e Bolívia. Para concluir o tema de migração e direitos
laborais, a expositora afirma que a aproximação
entre CAN/CAN, CAN/Mercosul, CAN/Unasul
significará uma forte articulação, no que concerne
ao fortalecimento da integração laboral dos povos
latino-americanos.
Outro aspecto destacado pela Embaixadora durante
sua comunicação foi o fato de analisar a Unasul
como um espaço para convergência e articulação
das experiências da Comunidade Andina (CAN)
e do Mercosul. “As relações entre CAN e Mercosul
devem ser de convergência. Se as normas desses
Blocos forem convergentes, potencializarão a Unasul
comercial e politicamente”, afirmou. Nesse sentido,
de acordo com a expositora, a integração da América
Latina ultrapassa as fronteiras do Mercosul. Ela está
relacionada aos organismos como Unasul, Aladi,
Celac e CAN.
Ao concluir, a Embaixadora reconheceu que houve
avanço no âmbito do trabalho decente, como a
Declaração Sociolaboral do Bloco. Assim mesmo,
afirmou que é necessário que haja um encontro entre
teoria e prática, entre direito adquirido e praticado
de fato, a fim de colocar em evidência as declarações
e acordos já assinados pelos representantes
governamentais da região.
A segunda comunicação contou com a participação
de Paulo Illes, coordenador do Centro de Direitos
Humanos e Cidadania do Imigrante - Cedic, no
estado de São Paulo, Brasil. O expositor iniciou o
discurso defendendo as condições de equidade
e segurança para os trabalhadores migrantes na
América Latina. Afirmando que “todo trabalho
é decente; indecentes são as condições”, Paulo
Illes expôs ao público presente que no Brasil e na
Argentina alguns trabalhadores são privados de
suas liberdades porque “cumprem jornadas de até
13 horas por um salário mais baixo que o salário
mínimo para suas categorias”. E, para superar esses
problemas, é necessário que se cumpra a Convenção
Internacional sobre a Protecção dos Direitos de
Todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros
das suas Famílias. O expositor ratificou, inclusive,
que Brasil e Venezuela são os únicos países que
ainda não adotaram esse documento na América
Latina. Os países que ratificaram essa Convenção
não podem infringir esse estatuto. Assim, não devem
criar políticas locais para tratarem seus imigrantes
de maneira diferenciada e discriminatória.
Paulo Illes também destacou a importância da Carta
Laboral do Mercosul, no contexto dos direitos e
deveres dos migrantes na região. Ele considerou
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
a aplicabilidade do documento um avanço nas
políticas públicas locais. Inclusive, tal documento, de
acordo com ele, poderia ser expandido aos países
andinos. Em referência aos países do Mercosul, o
expositor mencionou que parte dos recursos do
Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul
(Focem) seja destinada ao desenvolvimento das
comunidades vulneráveis dos países de que têm
origem os migrantes.
Segundo o coordenador do Centro de Direitos
Humanos e Cidadania do Imigrante, o Equador
é considerado um exemplo no que se refere aos
direitos dos migrantes. Por meio de uma política
pública eficaz, o governo equatoriano criou em julho
de 2008 a Secretaria Nacional do Migrante, com
o objetivo de integrar a política migratória local e
defender a livre mobilidade como direito de todos
os cidadãos do mundo. Entre tantos resultados
produzidos por essa Secretaria, o mais expressivo
foi a criação de uma cartilha com os direitos e
deveres dos migrantes no Equador. Ao contrário
do exemplo equatoriano, Paulo Illes fez algumas
críticas ao Brasil que, segundo ele, é o único país
do Mercosul que não dá a seus imigrantes direito ao
voto. Disse ainda que São Paulo concentra a maior
quantidade de trabalhadores migrantes em condição
de vulnerabilidade no Brasil.
Ao concluir, Paulo Illes afirma que há uma mudança
de paradigma a partir do sul do nosso continente:
a América Latina vem cumprindo com os direitos
laborais na contemporaneidade. Ao contrário
da Europa e dos EUA, o nosso continente está
consolidando os direitos dos trabalhadores. Cita
o caso brasileiro concernente ao crescimento
econômico e os direitos laborais: “O Brasil vem
crescendo economicamente, da mesma maneira
que vêm crescendo os direitos laborais de seus
trabalhadores”.
Propostas finais
1. 
Exigimos a implementação imediata do estatuto
da cidadania (decisão CMC 64/2010) do Mercosul,
que deve ser também um marco para provocar
a harmonização das legislações migratórias na
37
 região, expandindo direitos já existentes em um país
a todos os outros países. Nesse sentido, deve-se
realizar sua ampla divulgação, promover o trabalho
decente, viabilizar a revalidação de diplomas,
garantir a igualdade de gêneros e direito ao voto
pelos imigrantes, bem como à saúde, educação,
entre outros. Nossa defesa é da cidadania universal
para os imigrantes que residem no Mercosul, vindos
inclusive de outros continentes.

2. 
Exigimos políticas públicas direcionadas
à construção de redes de informação e
acompanhamento da situação dos direitos dos
imigrantes em todos os países do Mercosul,
com particular atenção às realidades de partida,
trânsito e destino dos fluxos migratórios.

Considerações finais

Como conclusão da mesa intitulada “Migração e

Trabalho Decente”, ficou evidente a necessidade de
maior tempo disponível para amadurecer o processo
de discussão entre os representantes governamentais
e os representantes civis. As comunicações centrais
consumiram boa parte do tempo, o que dificultou
o debate final. Além disso, as exposições tiveram
um peso significativo no momento de construir
uma matriz de opinião do público presente. Por
isso, as propostas finais tiveram uma forte carga de
influência do conteúdo trabalhado, no decorrer do
encontro. Assim mesmo, é importante mencionar
que o debate final foi profundamente enriquecedor.
Os participantes levaram em consideração
problemas reais no que se refere ao fluxo de
migração, leis trabalhistas regionais, seguridade
social, direito dos imigrantes ao voto, criação de
um plano sindical latino-americano, revalidação de
diplomas e laboratório laboral, entre outros. Todas
as demandas e comentários partiram do coletivo e,
portanto, deveriam representar os anseios concretos
da realidade social dos cidadãos e das cidadãs que
integram os países do Mercosul.

38
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S 39
 OFICINA

Mecanismos de
Participação
Social no
Mercosul

Grupo Temático 2: Participação Social no Mercosul

Professora sistematizadora: Renata Peixoto de Oliveira
Coordenadora: Márcia Campos
Temas em debate
• Institucionalização.
• Protagonismo dos movimentos sociais e participação
na tomada de decisões; e Parlamento do Mercosul.
Principais questões sobre as quais não
houve consenso
• Debater a questão do Focem, sua estrutura, ou criar
novo Fundo.
• Tentativa de incluir debate sobre imigração.
Propostas
1. 
Implementar a Unidade de Participação Social do
Mercosul, responsável pelo acompanhamento das
decisões das Cúpulas, em respeito à diversidade das
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
organizações que lutam contra todas as formas de
desigualdade e discriminação.
2. Institucionalizar uma participação real das organizações
sociais, que garanta a incidência nos espaços de
decisão, o acesso à informação e o financiamento, bem
como colocar em prática mecanismos que permitam o
trabalho entre as Cúpulas.
3. Efetivar os espaços de representação e participação
já existentes, como o Parlasul, realizando eleições
diretas em todos os Estados Partes, e regulamentar
espaços de participação direta nos diferentes
fóruns temáticos do Mercosul, de forma a garantir
que as demandas da sociedade civil recebam
encaminhamento nos órgãos decisivos.
4. Criar um fundo de emergência para o combate à
pobreza, bem como apoiar a saúde e a educação,
evitando que a migração dos países membros e
associados seja por obrigação, mas, sim, uma opção
do cidadão e não uma necessidade recorrente,
tendo a mesma lógica de arrecadação e distribuição
de recursos que existe no Focem.
41
 Definição de duas propostas mais importantes a
serem apresentadas na Plenária Final
1. Implementar a Unidade de Participação Social do
Mercosul, responsável pelo acompanhamento das
decisões das Cúpulas, em respeito à diversidade das
organizações que lutam contra todas as formas de
desigualdade e discriminação, institucionalizando,
assim, uma participação real das organizações
sociais que garanta a incidência nos espaços de
decisão, o acesso à informação, o financiamento,
e colocar em prática mecanismos que permitam o
trabalho entre as Cúpulas.
2. Efetivar os espaços de representação e participação
já existentes, como o Parlasul, realizando eleições
diretas em todos os Estados Partes, e regulamentar
espaços de participação direta nos diferentes
fóruns temáticos do Mercosul, de forma a garantir
que as demandas da sociedade civil recebam
encaminhamento dos órgãos decisivos.
Observações
A seguir, serão relatadas as comunicações realizadas
na oficina “Mecanismos de participação social” no
painel “Participação Social no Mercosul“, que ocorreu
na manhã do dia 05 de Dezembro de 2012 no Instituto
Israel Pinheiro, como parte da programação da
Cúpula Social de Brasília. As exposições antecederam
a formação dos grupos responsáveis por sinalizar
as demandas para compor o documento final a ser
entregue aos chefes de Estado.
Abertura
Na abertura, Márcia Campos, coordenadora, deseja
boas-vindas a todos e todas e agradece o empenho
por participarem da Cúpula Social do Mercosul.
Considera que o painel discutirá mecanismos de
participação social no Mercosul, remetendo-se ao
debate que ocorreu no seminário que antecedeu
a Cúpula, afirmando que o referido debate foi
bastante aguerrido. Após informações sobre a
dinâmica dos trabalhos, compõe a mesa convidando
42
Kathia Dudyk, representante do Conselho Nacional
de Juventude.
Expositor Jefferson Miola
Diretor da Secretaria do
Mercosul - Brasil no Uruguai
Para Miola, a fotografia desta oficina mostra a vitalidade
do futuro do Mercosul, com a massiva presença da
juventude. Faz referências às companheiras da mesa
e destaca o fato de o evento estar sendo realizado em
um lugar distante de onde as decisões são tomadas, em
termos de política externa e relações exteriores, posto
que nos reunimos paralelamente às reuniões oficiais
que ocorrem no Itamaraty. Salienta o fato de estarmos
representando a sociedade civil, mas também o fato
de não incidirmos sobre as decisões tomadas. De igual
maneira, na Argentina, a Cúpula Social foi realizada em
uma ilha, o que é demonstrativo de que, geralmente,
ocorrem em lugares de difícil acesso. Assim sendo,
naturalizamos uma visão precária sobre a participação
social no Mercosul.
Ele acredita que estamos em estágio muito avançado
no Bloco, e que ainda nos encontramos frente a um
Mercosul novo, tendo em vista a incorporação da
dimensão social e política, a partir das presidências de
Lula, no Brasil, e Néstor Kirchner, na Argentina. Mesmo
assim, ainda há consideráveis desafios, haja vista que
o Instituto Social do Mercosul corre riscos e o próprio
Parlasul não tem poder de decisão, é apenas consultivo.
Em realidade, de acordo com ele, estamos diante
de uma nova realidade na região, ao relembrar os
presidentes dos países do Mercosul na época de
sua criação, em 1991. Disto decorre muitos de seus
aspectos. O Mercosul é o mesmo, mas a região
mudou. Acredita que devemos transmitir ao âmbito
comunitário as mudanças da era pós-neoliberal,
nossas mudanças políticas recentes, pois ainda, na
realidade, temos uma velha institucionalidade no
Mercosul em relação às suas sociedades. O mundo
financeiro e diplomático é hegemônico nas decisões
tomadas no âmbito do Mercosul.
Ainda nesse sentido, ressalta que o Mercosul dos
anos 1990 foi marcado pelo Estado mínimo, ou seja,
 “ É necessária a construção de uma governança
comunitária que possa contar com recursos para
organizarmos políticas comunitárias, para um espaço
de deliberação pública. Deve-se combinar democracia
participativa com democracia representativa.”
Jefferson Miola

a estrutura do Bloco é minimalista para não possuir pontuais e não arranjos deliberativos com incidência
capacidade de intervenção na realidade, conforme os real nos processos decisórios do Bloco.
preceitos do neoliberalismo.

Para avançarmos em nossa organização interna, uma

década seria um tempo razoável para alcançarmos
uma nova institucionalidade. Devemos nos recordar
que a União Europeia demorou seis décadas para se
consolidar, passando hoje por profunda crise. Miola
afirma que os ciclos históricos não são eternos.
Se hoje estamos em fase positiva, esse ciclo tem
duração determinada.
No que se refere à participação democrática, todos
os processos de integração foram acompanhados por
um déficit. Foi assim na União Europeia e na Nafta,
que enfrentaram grandes resistências e conflitos
sociais. Temos o desafio de construir uma nova
institucionalidade, que seja abrangente em diversas
áreas para que seja possível uma vida comunitária,
não apenas em termos econômicos, mas com controle
democrático, direitos sociais garantidos e aliando
estratégias de desenvolvimento econômico com
desenvolvimento social.
É necessária a construção de uma governança
comunitária que possa contar com recursos para
organizarmos políticas comunitárias, para um espaço
de deliberação pública. Deve-se combinar democracia
participativa com democracia representativa. Assim,
seria preciso construir espaços de debate e deliberação
pública, pois a política media conflitos e interesses.
Dessa forma, no interior da sociedade, constituímos
diferentes visões e hegemonias em determinados
períodos históricos. Fazem-se necessários espaços
para além das Cúpulas Sociais, já que as mesmas são
Expositora Maria Júlia Aguerre
Centro de Participación
Popular- Uruguai
As entidades da sociedade civil não foram
contempladas no início do Mercosul, nos assegura
Aguerre, mas sempre existiu forte demanda
nesse sentido, desde a criação do Bloco, para que
ele se alterasse em diferentes componentes de
sua institucionalidade. Assim, criaram-se redes,
plataformas e espaços não institucionais para garantir
a participação no Bloco e contribuir com a construção
da integração.
A sociedade civil, heterogênea e complexa, apresenta
uma multiplicidade de atores e visões, o que implica
a necessidade de um aprofundamento democrático
para que se logre a constituição de um projeto
comum. As redes e fóruns da sociedade civil têm
um papel importante para articular essa mesma
diversidade. Se atuarmos individualmente, não temos
força para pensar a integração. Nesse sentido, as
redes têm o papel articulador, já que são atores locais
que, além disso, atuam na esfera global, constroem
novas agendas como a discussão pública de novos
direitos, do consumo, de questões ambientalistas, de
modelos de desenvolvimento e de regras do comércio
internacional.
Segundo Aguerre, a ação local, regional ou global de
atores sociais levou a direitos e cidadanias múltiplas,

X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S 43
 em uma expansão que transforma antagonismos
nacionais em solidariedades setoriais, avançando
sobre as fronteiras nacionais, criando assim
aproximações que são embriões de uma cidadania
regional.
É necessário constituir espaços articulados de visões
compartidas, conformando identidades coletivas.
Assim, cria-se uma base de processos de novas
configurações de cultura política.
A participação da sociedade civil no processo de
integração é muito importante. As relações exteriores
não são mero tratado internacional, posto que,
ainda antes que sejam assinados, existe diversidade
acerca do próprio processo de integração: se vai ser
apenas livre comércio, econômico, ou incluir direitos
de cidadania. Esses temas estão presentes antes e
durante o processo de integração. Esse é um processo
de mudança que deve transitar em comum em países
e sociedades com estruturas políticas, legais, culturais
e sociais diferentes.
Trata-se de um terreno de conflito e disputas. Se
estamos convidados a discutir o processo nacional,
temos que participar, de igual maneira, no plano
regional para pensar a integração. A sociedade civil
participante implica na legitimidade do processo em si
e a qualidade democrática de sociedades que geram
este mesmo processo.
44
Devemos criar um novo conceito de cidadania, que
implique em uma noção de direitos e cidadania ativa. O
Mercosul está em construção e seu modelo ainda está
em disputa. Para construir o Mercosul social e cidadão,
devemos identificar e construir agendas comuns e
regionais. Temos que fazer esforço para colocar-nos
de acordo com uma agenda comum a partir de toda
a comunidade do Mercosul, pressionando para lograr
esse objetivo. A agenda deve ter caráter regional, e não
ser mera soma das agendas nacionais. Desta maneira,
as Cúpulas Sociais são um bom âmbito para discutir e
elaborar essa agenda comum. Outro ponto importante
é vincular o cidadão comum com o processo de
integração.
“ É necessário constituir
espaços articulados de visões
compartidas, conformando
identidades coletivas. Assim,
cria-se uma base de processos
de novas configurações
de cultura política.”
Maria Júlia Aguerre
Devemos fortalecer os espaços de institucionalidade
inclusiva do Mercosul, politizando e contribuindo com
temas, a fim de que tais espaços não fiquem vazios,
com pouco conteúdo. Devemos fazer um esforço para
aprofundar nossas propostas com rigor técnico, para
fortalecer nossa presença nesses espaços institucionais
do Mercosul. Dessa forma, devemos reclamar aos
governos o cumprimento de compromissos
resoluções com ações imediatas a respeito do que
fora decidido nas Cúpulas anteriores, por exemplo.
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
Assim, devemos dizer e trabalhar com os governos
para aprovar a Carta Sociolaboral do Bloco; colocar
em marcha o Parlamento do Mercosul; fazer cumprir
os objetivos do Instituto Social do Mercosul; fazer
um plano de ação para a conformação do Estatuto
da Cidadania; além de exigir que funcione a Unidade
de Participação Social que foi criada por pressão da
e sociedade civil, mas que precisa de apoio político.
45
 OFICINA

A Cúpula
Social que
Queremos

Grupo Temático 2: Participação Social no Mercosul

Professor sistematizador: Fabrício Pereira
Coordenadora: Ana Patrícia Almeida
Temas em debate Manifestou-se algum ruído devido às diferentes
concepções sobre a noção de “autonomia”, se
• Institucionalização. autonomia em relação ao governo, autonomia em
• Protagonismo dos movimentos sociais e participação relação ao Estado, em relação à política, etc. No
na tomada de decisões. entanto, percebem-se diferenças de opinião que
• Integração social e política (integração dos povos). transcendem esse debate.
• Integração ampliada.
Dessa discussão deriva outra: a Cúpula deveria ser um
espaço autônomo do qual emanariam as propostas
Principais questões que não dos MMSS para avaliação dos governos, ou um espaço
encontraram consenso de composição de propostas entre MMSS e governos?

As divergências se concentraram, basicamente,

em torno do debate sobre a autonomia
dependência dos movimentos sociais
Alguns participantes manifestaram a defesa da
integração dos MMSS com os governos, que devem
ser defendidos. A maturidade dos MMSS não deve
levar à autonomia, mas à consciência de que é
necessário apoiar os governos atuais da região, com
os quais se pode dialogar como nunca antes. Não
se deve retroceder à etapa anterior (Cumbres de los
Pueblos, etc.). Autonomia leva à fragmentação, que
significa enfraquecimento dos governos populares.
Essa posição foi, majoritariamente, defendida por
representantes argentinos.
ou
(MMSS). Propostas
1. Gerar um espaço de encontro prévio entre as Cúpulas
para que haja maior discussão.
2. Celebrar a institucionalização das Cúpulas, enquanto
uma conquista; e fortalecer a institucionalização,
trabalhando para dar um salto de qualidade na
participação até aqui alcançada.
3. 
Criar mecanismo entre as Cúpulas de mesas de
seguimento e acúmulo de todas as Cúpulas.

De outra parte, apresentou-se a defesa da autonomia 4. 

Realizar implementação imediata das eleições
enquanto soberania, distanciamento, capacidade de diretas do Parlasul, do Estatuto da Cidadania e
crítica e disputa, o que não significa falta de apoio fortalecimento do Instituto Social do Mercosul.
e sustento aos governos, sempre que necessário.
Não se vai fazer o “jogo da direita”, mas autonomia 5. 
Implementar um programa de capacitação e
é crucial, na medida em que não são “nossos formação de quadros dirigentes dos MMSS.
governos”, mas governos de composição. Posição
defendida, majoritariamente, por representantes 6. 
Criar um sistema (ao menos provisório) de
brasileiros. coordenação entre os MMSS.

X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S 47
 7. 
Constituir oficinas permanentes de convivência
com metodologias de participação democrática
de educação popular nos sistemas educativos dos
países do Bloco.
8. 
Criar Cúpulas Sociais com agenda e definição
de participantes definida pelos MMSS – com
financiamento estatal.
9. 
Lutar para que os Estados Partes garantam
financiamento de Cúpulas Sociais com agenda e
participação definida pelo conjunto de organizações
participantes de cada país.
Definição de duas propostas mais
importantes a serem apresentadas na
Plenária Final
1. 
Fortalecer e celebrar a institucionalização das
Cúpulas Sociais, trabalhando fortemente para dar um
salto de qualidade na representação e participação
até aqui alcançada. Nesse sentido, construir mesas
permanentes de cada eixo temático que funcionem
entre as Cúpulas para seguimento, avaliação e análise
pré e pós Cúpula.
2. 
Formar uma coordenação permanente das
organizações sociais para realizar o seguimento e
avaliação do Plano Estratégico de Ação Social (Peas).
Moções
1. 
Moção Estado Palestino já! Saudação ao povo
palestino pela aprovação, na ONU, do status de
Estado Observador, que foi comemorado no mundo
todo. Uma profunda vitória do povo palestino!
2. 
Moção pela suspensão dos acordos comerciais
com Israel. Os movimentos sociais, organizações
da sociedade civil e acadêmicos exortam os países
do Mercosul a suspenderem os acordos comerciais
com Israel até que este país abandone a política de
construção de assentamentos em áreas palestinas,
bem como retorne as negociações de paz. Também
instamos os governos a ampliarem a cooperação
48
política, cultural e econômica com o Estado da
Palestina, de modo a dar suporte à sua viabilidade e à
sua consolidação em meio a tanta adversidade. Viva
o Estado da Palestina! Viva a paz no Oriente Médio!
3. 
Saudamos a entrada da Venezuela no Mercosul e
esperamos o pronto ingresso da Bolívia e do Equador.
4. Moção à representação do povo do Paraguai na XIV
Cúpula Social do Mercosul. Saudação à expressiva
presença e participação das organizações sociais do
Paraguai na Cúpula, rumo ao retorno da democracia
plena no país.
Observações
Houve diversas intervenções por parte da plenária,
no sentido da defesa de melhor metodologia dos
eventos onde há participação. Por exemplo: regras
claras, divulgação antecipada das agendas e melhor
organização. A Cúpula é um espaço conquistado que
deve ser aperfeiçoado, mas valorizado. As Cúpulas devem
ser institucionalizadas e reconhecidas – assim como
outras redes regionais de participação. Essa inovação
não deve ser perdida, não se deve perder o diálogo entre
os movimentos sociais e os organismos do Mercosul e
entre os movimentos sociais e os governos. No entanto, a
Cúpula deve ser aperfeiçoada, como a culminância de um
processo de participação. Devem ser explorados espaços
anteriores de participação até se chegar à Cúpula.
Afirmou-se também não haver uma representatividade
da riqueza da sociedade (e nem do interior do próprio
governo), mas há caminhos metodológicos ainda a
explorar para a melhor relação e aproveitamento de
um e de outro. De fato, há uma demanda reprimida de
maior participação das organizações na realização da
Cúpula e pela autonomia do processo – mas a falta de
representatividade afeta ainda mais seus resultados.
Coordenadora Ana Patrícia Sampaio
Centro de Ação Cultural, Paraíba,
que coordena o Programa Mercosul
Social e Solidário no Brasil,
rede de MMSS, ONG’s
Informou que houve uma disputa com os governos
pelo poder de convidar e de definir a agenda da Apresentação de Gonzalo Berrón
Cúpula, e não se conseguiu de todo – agendas foram Diretor da Fundação Friedrich Ebert
definidas pelos governos, e nem todos os indicados
foram convidados. De outra parte, a organização se A internacionalização dos MMSS da região teria
defende dizendo que não há, por opiniões políticas, começado na luta contra a Alca. Antes disso, as questões
censura nem seleção de quem participa. internacionais eram tratadas majoritariamente pelos
partidos. O movimento ambientalista teria sido o
primeiro a nutrir preocupação internacional. Depois
do bloqueio da Alca, organizações sociais se voltaram,
Apresentação de Fátima Melo com esperanças, aos processos de integração regional.
FASE e Rede Brasileira pela
Integração dos Povos A crise mundial paralisa os processos de integração
– com exceção da Unasul, um Bloco eminentemente
Temas a serem tratados num espaço político.
como a Cúpula:
As Cúpulas levaram a um processo de aprendizagem
• A integração na região mais desigual do mundo por parte dos MMSS e dos governos. Diálogo, estudo,
deve ter como ênfase a redução das desigualdades. etc são um conquista. No entanto, deve haver
Além de redução das assimetrias entre países, a mudanças:
integração deve servir para reduzir as desigualdades
internas; • Defesa de autonomia da Cúpula Social
• Defesa da transparência de informação
• Inauguração de novo ciclo político na região • Direito à consulta em qualquer tema que vá ter
constitui momento histórico, positivo para a impacto social
construção de novos arranjos institucionais • Capacidade de levar propostas, e obrigatoriedade
na integração. No entanto, o ambiente do de que elas sejam tratadas
pós-neoliberalismo ainda não resultou no
desenvolvimento de novos arranjos institucionais
nos espaços de integração;

“ A integração na região
• Discussão sobre o neoextrativismo, defesa de novo
padrão de desenvolvimento, que deve ser debatido mais desigual do mundo
num espaço como este;
deve ter como ênfase a redução
• A Cúpula Social deve centralizar a discussão, das desigualdades.”
não ficar isolada como um espaço de debates
“do social”. Setores empresariais devem ser
Fátima Melo
chamados ao debate aqui, evitando que a Cúpula
seja um espaço paralelo. Temas-chave devem ser
discutidos aqui: econômicos, comerciais, gestão
compartilhada dos recursos naturais, direitos
sociais regionais, salário mínimo comum. A Cúpula
deveria colaborar para a consolidação de uma
posição concertada da região. Devem-se debater
os outros mecanismos de integração e articulações
possíveis com eles: Alba, Unasul etc.

X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S 49
 OFICINA

Comércio
Justo e
Economia
Solidária

Grupo Temático 3: Tecnologias Sociais e Integração Produtiva

Professores sistematizadores: Fábio Borges e Felix Pablo Friggeri
Coordenadora: Shirlei Silva
Introdução
Antes de debater acerca do tema da oficina previsto
para a tarde, Mário Volpi, ex-combatente das Malvinas
de La Plata, fez a sua exposição sobre as Malvinas,
conforme fora acordado pela manhã.
Segundo Mário, existem 72 bases militares na
América Latina que ameaçam os recursos naturais.
Argumentou que a questão das Malvinas é a do
futuro dos recursos naturais, na medida em que as
potências estariam lá por conta dos hidrocarbonetos.
Informou que nas Malvinas existe um acesso para
a Quarta Frota, presente na região por “razões
humanitárias”, mas o que está em jogo, de fato, são os
recursos antárticos, a água doce e a biodiversidade
(com potencial farmacêutico) da região. Explicou a
pretensão do Reino Unido para o estabelecimento
de uma Antártida britânica, a reconfiguração da
presença do Ocidente em uma área que havia
abandonado depois da descolonização da África.
Dessa maneira, com enclaves coloniais, controlaria
toda a região até o Brasil no Atlântico Sul e também
a costa africana.
Questionou a razão da América Latina ser interessante,
explicando:
“Con 40 % de biodiversidad, 30 % reservas
florestales, 106 millones de has. agrícolas, por qué
vienen por el agua, Sudamérica es 2ª reserva, 26
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
% de agua, y 6 % de población, esta relación es
por la cual vienen. Tenemos 12 % de la producción
de pesca y materiales estratégico, Niobio, Litio, el
90 % está en AL, Hidrocarburos, Hay 3000 boyas
controlando el Atlántico Sur, Sistema Argo, controla
clima, salinidad, temperatura, Minería extractiva de
los fondos marinos, el proyecto del Reino Unido es la
alta tecnología en el mar, la empresa que extrae los
módulos polimetálicos, lo extraen del fondo marino
lo que está prohibido (...)”
Concluiu falando sobre o lema: “Voltar às Malvinas de
mãos dadas com a América Latina”. Portanto, acredita
que tenhamos que defender a desmilitarização do
Atlântico Sul. Para ele, todos os presidentes deveriam
buscar dialogar com o Reino Unido, dentro das
resoluções da ONU, em vistas a estabelecermos, no
Atlântico Sul, uma zona de cooperação e paz.
Shirlei Silva Fórum Brasileiro
Coordenadora
Começa fazendo as seguintes perguntas: Será que o
comércio justo é possível no mundo de hoje? Seria
possível um Mercosul participativo? Apresenta os
dois palestrantes: Jorge Strade, da Fundação Banco
do Brasil, e Francisco dos Reis, da Alampyme da
Argentina.
51
 Jorge Streit
Fundação Banco do Brasil
O expositor inciou o seu discurso declarando
que a Fundação Banco do Brasil (FBB) tem uma
boa imagem dentro do núcleo que trabalha com
agricultura familiar e que já conseguiu firmar linhas
de atuação dentro do país. Também informou que
estão conseguindo ter uma visibilidade nos países
vizinhos e intercambiar ideias com companheiros dos
outros países.
Disse que a Fundação se destaca pela tecnologia
social, não pela criação de artefatos, mas sim pelos
métodos e práticas que são usados no trabalho
com as comunidades para produzir transformação
social. Informou que, às vezes, produzem tecnologias
inovadoras, mas que frequentemente incorporam
tecnologias conhecidas pelas comunidades. E o fato
de dominar a tecnologia significa muito: consegue-se
se apropriar melhor do valor agregado das cadeias
produtivas. Acrescentou que já existe um banco de
tecnologia social com 504 soluções registradas e que
a FBB fez uma grande rede com a Petrobras e o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), e isso vai avançando. Criou-se também
um Prêmio, de dois em dois anos, para a tecnologia
social no Brasil; e fizeram-se convênios, por exemplo,
para tradução, em outros idiomas, da tecnologia
social desenvolvida aqui. Também se criou o Banco
de Tecnologias Sociais no âmbito do Mercosul, que
visa cadastrar projetos que são realizados em outras
partes da América do Sul.
Ressaltou que muito do trabalho da Fundação está
voltado para a agroecologia, para trazer práticas ao
debate sobre sustentabilidade. A tecnologia social
é um instrumento que permite impactar quatro
dimensões:
• Agroecologia: trazer para a prática o debate da
sustentabilidade,
• Respeito cultural,
• Solidariedade econômica
• Protagonismo social
52
Informou também que existem 14 mil hortas
agroecológicas, e que foi criado um sistema
de compras públicas para essas produções. O
expositor forneceu exemplos de experiências bem-
sucedidas, como o da fécula da mandioca na Bahia.
Existe ali uma cooperativa que, após oito anos,
começou a produzir a fécula da mandioca em um
empreendimento solidário. Outro exemplo é o caso
da Cocaram (uma cooperativa cafeeira de Roraima),
que produz café orgânico de grande qualidade
na Amazônia brasileira. Também apontou a Rede
Cerrado, que produz mel e vários produtos em
Brasília, com agregação de valor.
Declarou que é central que as políticas públicas
coloquem em evidência a tecnologia social,
trabalhando com o governo brasileiro e alguns
governos estaduais. Informou que estão construindo
um debate com a Secretaria-Geral da Presidência da
República e com a Secretaria de Educação, no sentido
de que os professores trabalhem o tema da Tecnologia
Social. Acrescentou que, junto aos Institutos Federais,
estão criando centros de referência, como no caso da
tecnologia da reciclagem do bambu.
Explicou que, principalmente nos Institutos nas áreas
lindeiras, como na Tríplice Fronteira com a Unila,
estão convidando os técnicos argentinos, brasileiros,
uruguaios e paraguaios que sabem apenas a tecnologia
tradicional, dos grandes domínios do agronegócio,
para realizarem um diálogo com a economia solidária
e o comércio justo. Salientou que muitos estudantes
só sabem tecnologias convencionais - defensivos
agrícolas, etc. - e que no Brasil já existe dificuldade
de contratar técnicos em comércio justo e economia
solidária.
Estão propondo criar a rede das redes. Nela, por
meio da cultura digital, discutir-se-iam as redes
agroprodutivas. Deu um exemplo na questão da
coordenação entre Brasil (Acre) e Peru na questão
dos peixes na fronteira. Finalizou dizendo que
temos muitas características em comum com os
países vizinhos (ditadura, neoliberalismo e governos
populares) e que agora estamos em situação de
construir alternativas.
Nesse sentido, a coordenadora Shirlei perguntou
como a tecnologia poderia estar disponível para
 “ É necessário distanciar-se do neoliberalismo, pois
o mesmo levou a Europa a uma crise terminal, e
acredita que eles seguem insistindo nisso.”
todos os povos e como os movimentos podem se
fortalecer. Também questionou como se estuda a
economia solidária, enfatizando que o modelo atual
não é a Economia para os pobres.
Palestra 2
Francisco dos Reis
Alampyme, da Argentina
Francisco começou relatando ter vindo da área das
“Pymes” (pequenas e médias empresas), e que uma
vez se encontrou com Lula na Nicarágua, ocasião em
que foi articulado um grupo entre México, Nicarágua,
Brasil e Argentina (que depois foi ampliado para
13 países). Uma das razões pelas quais o grupo
foi idealizado é porque se acreditava haver uma
separação entre o empresariado e a comunidade.
Disse que em todos os países existia uma corrente de
opinião progressista de defesa do mercado interno,
defesa do salário, um protecionismo relativo. Em suas
palavras, uma “economia entornada”, nem aberta e
nem fechada.
Afirmou que nunca tinha imaginado em 2001 o que
ocorre hoje, pois, durante a crise, muitas empresas
foram tomadas pelos trabalhadores. Os trabalhadores
tinham muito medo dos empresários e eles, por
sua vez, tinham medo de apoiar aos trabalhadores.
Explicou, em seguida, que “nosotros decíamos que
todo lo que se salva no se va, y hoy hay cientos
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
Francisco dos Reis
de emprendimientos que han sobrevivido y hasta
están calificadas para exportar, (...) Teníamos que
cambiarles la mentalidad de los empresarios (…).”
Defendia que a gestão das empresas não deveria
ser pautada somente pela crise, mas pelo uso da
criatividade para lidar com a crise argentina, em vez
de punir ainda mais os trabalhadores.
Citando Samir Amim, disse que é necessário
distanciar-se do neoliberalismo, pois o mesmo levou
a Europa a uma crise terminal, e acredita que eles
seguem insistindo nisso. Chegaram a dizer que, na
Argentina, não haveria leite, pão, trigo e nada disso
aconteceu.
Comentou sobre a “Crise Tequila”, no México, e
como a Alampyme foi para lá e não podia acreditar
nos impactos. Imaginava-se que isso ocorreria com
todos. Disse que descobriu que essa crise era pior
e maior que a de 1929, mas que a inércia agravaria
seus efeitos. Disse haver percebido a resistência do
inimigo, e citou a Lei de Meios debatida na Argentina,
que visa diminuir o poder do Clarín.
Fez as seguintes propostas:
1. 
O Mercosul tem uma agenda, mas não interação
entre pequenas empresas. Propôs o encontro entre
20 empresários, sendo 5 de cada um dos países do
Mercosul, e que se reúnam para ver o que podem trocar.
2. 
Que se adotem novas formas de produção nos
negócios transfronteiriços.
3. Que o Brasil tenha um papel central.
53
 Concluiu dizendo que seu sonho era o de combater a Grupo 1
fome entre as crianças.
1. Criar o prêmio Mercosul de Tecnologia Social
A coordenadora Shirlei fez alguns questionamentos, (referência ao prêmio da Fundação Banco do Brasil).
tais como: Como incentivar pequenas empresas e
pequenos produtores? É possível fazer isso? Como 2. Certificar como Tecnologia Social os conhecimentos
pensar a integração entre esses diversos atores? e saberes dos povos originários e das comunidades,
Como projetos escritos avançam? Como nossos para gerar novo modelo de desenvolvimento.
produtos podem ter um mercado comum? Declarou,
ao final, que a economia solidária ainda é formada Grupo 2
por produtos marginais.
1. Criar espaços e redes para construção do
Na fase de debates, um dos participantes afirmou conhecimento livre chamado “tecnologia social”, que
que seria excelente a ideia de cadeias municipais, em uma perspectiva inclusiva sirva para articular,
mas questionou a atitude que seria tomada sobre a intercambiar e potencializar soluções relacionadas ao
complexidade das fronteiras. comércio justo e a economia solidária no Mercosul.

Luis Carranza (Plataforma de Articulação Grupo 3

Solidária, Faces do Brasil) disse que o Brasil está
na implementação do comércio justo e solidário, 1. Instituir uma plataforma de dados e sistematização
inclusive com apoio do Ministério do Trabalho. de Tecnologias Sociais (TS) com fomento à formação
Apontou que seria importante saber como o Brasil de multiplicadores regionais a partir da educação
está implementando essas iniciativas e quais as básica.
experiências dos vizinhos. Andréa (Centro de
Tecnologia Social do Sertão de Minas Gerais)
discutiu qual seria a maneira mais prática de
sistematização dessas experiências e divulgação Propostas finais
no Mercosul.
1. 
Constituir uma plataforma de dados e
Retomando a palavra, Francisco Dos Reis argumentou sistematização de Tecnologias Sociais para
que os países mais prejudicados no Mercosul são potencializar os conhecimentos e saberes dos
Paraguai e Uruguai. Para ele, existe uma tentativa povos originários e das comunidades, assim como
de desenvolver o Banco do Sul, além do tema da das práticas de comércio justo e economia solidária,
moeda Sucre como um substituto do dólar para as permitindo criar mecanismos de certificação
transações internacionais, como já vem ocorrendo destes saberes e práticas de desenvolvimento.
entre Venezuela, Equador e Nicarágua. A criação do prêmio Mercosul de Tecnologia Social
(tendo como referência o prêmio Fundação Banco
Por sua vez, Jorge Streit disse que o grande objetivo do Brasil de Tecnologia Social) irá contribuir para
era a sistematização das experiências em Tecnologias o fortalecimento e/ou criação de espaços e redes
Sociais, tanto com fundações brasileiras como não em uma perspectiva inclusiva e para o fomento
brasileiras. Propôs também a criação de uma espécie à formação de multiplicadores regionais a partir
de manual e argumentou que isso seria um grande da educação.
salto entre nós. A concretização desse objetivo
estaria prevista para a metade do ano de 2013. 2. Instituir o livre trânsito dos produtos e serviços da
economia social, solidária e popular no Mercosul
A partir daí, os participantes se dividiram, por proposta
de Shirlei, em pequenos grupos para a elaboração de
duas propostas sobre a temática tratada, quais sejam:

54
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S 55
 OFICINA

Soberania e
Segurança
Alimentar
e Nutricional

Grupo temático 3: Tecnologias Sociais e Integração Produtiva

Professores sistematizadores: Fábio Borges e Felix Pablo Friggeri
Coordenadora: Alessandra Luna
Introdução
A mediadora da oficina foi Alessandra Luna, da
Confederação Nacional dos Trabalhadores
Agricultura (Contag) e responsável pelas Relações
Internacionais da Organização dos agricultores
familiares e assalariados.
Explicou a forma de trabalho, relembrando que
se sugeriria chegar a duas propostas prioritárias.
Também esclareceu que todos receberiam uma
versão preliminar da Declaração da Cúpula e
que poderiam fazer emendas, desde que fossem
emendas coletivas (com prioridade para aquelas
envolvendo mais de um país) e que tivessem um
caráter regional.
Apresentou os dois palestrantes: Elizabeth Tortosa
(Participación Activa y Social - PAS – Venezuela -
Organización de Mujeres “Participación Activa por
los Derechos de la Mujer”) e Edélcio Vigna (Instituto
Socioeconómico -Inesc)
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
Palestra 1
Elizabeth Tortosa
da Participación Activa y Social - PAS
Segurança e Soberania Alimentar na Venezuela
Elizabeth começou dizendo que estava feliz por
estar naquele espaço e que se sentia privilegiada
por ser a primeira vez que a Venezuela participava
do Mercosul. Fez uma citação de Chávez: “El amor
que alberga el corazón de una mujer es una fuerza
sublime para salvar la causa humana, ustedes son la
vanguardia de esa batalla” e apresentou o seguinte
questionamento: quais são as leis que tivemos que
mudar na batalha pela alimentação?
Afirmou que o mundo capitalista sofre umas das
maiores crises de sua história: a crise alimentar. Junto
aos maiores níveis tecnológicos também existem
maiores níveis de fome. Dois fatores explicariam
a situação alimentar: 1) a especulação financeira
tomou o mercado de alimentos de assalto, uma vez
57
 que o capital investe em alimentos para lucros fáceis
e rápidos; 2) um crescente volume de alimentos
se orienta para os biocombustíveis,
existem sérias deficiências na alimentação humana,
enquanto
pressionando os preços e reduzindo a disponibilidade
de alimentos para os seres humanos. Em outras
palavras, houve uma perversão ética da importância
social dos alimentos.
Segundo Elizabeth, no que diz respeito à Venezuela,
os governos da burguesia ao longo do século XX
deixaram um pesado lastro social, agravado pelas
políticas neoliberais aplicadas nos anos 90. Elevados
níveis de desemprego, pobreza, miséria e exclusão se
traduziram em alarmantes e massivos fenômenos de
fome e desnutrição.
As políticas de abertura econômica exterminaram boa
parte da produção agrícola, já golpeada pelo modelo
rentista imperante no país. Esse modelo estimulou,
desde os anos 30, uma agricultura de portos com
efeitos destrutivos sobre a produção interna agrícola
e de alimentos como um todo.
De outra parte, também explicou que esse modelo de
capitalismo rentista e dependente, em vez de propor
a erradicação do latifúndio, estimulou-o. A reforma
agrária levada a cabo nos anos 60, “con los fines de
frenar el avance del comunismo”, se reverteu em uma
maior concentração da propriedade da terra e na
crescente pobreza rural e urbana.
Ainda de acordo com a exposição de Tortosa, a resposta
histórica para essa profunda crise social e sistêmica
que atravessou o país na última década do século
passado foi precisamente a Revolução Bolivariana,
a qual incluía especialmente o setor agrícola.
Nesse sentido, informou que o Governo Nacional
tem desenvolvido políticas sociais e econômicas
dirigidas a erradicar a fome e a desnutrição do povo
venezuelano, em que a estratégia de Segurança e
Soberania alimentar tem desempenhado um papel de
extraordinária importância.
O reconhecimento desse esforço foi dado pela FAO,
que fez um anúncio declarando que a Venezuela
se encontra entre as nações latino-americanas e
caribenhas que já cumpriram a Meta do Milênio sobre
o combate à fome e à miséria, por haver reduzido à
58
“ Somente um Estado
democrático que encarne os
interesses populares poderia
estimular a produção e a
compra da colheita por um
preço justo, estabelecendo
e desenvolvendo cadeias
de produção.”
Elizabeth Tortosa
metade a proporção das pessoas sob tais condições
antes do ano de 2015. Acrescentou que, desde 1999,
a Venezuela conseguiu incrementar em 80% o acesso
da população aos alimentos e em 74% aos produtos
da cesta básica. Da mesma forma, a ingestão de
proteínas entre os venezuelanos passou de 29,7
gramas diárias para 47,6 nos últimos treze anos,
enquanto que o consumo diário de calorias aumentou
de 2.127 para 3.182 calorias.
Elizabeth mencionou que o avanço nas políticas de
alimentação estava relacionado às políticas públicas
do Estado venezuelano dirigidas a produzir, distribuir
e comercializar os alimentos de forma oportuna
e a baixos custos para toda a população. Assim se
inscrevem as redes de distribuição de alimentos
subsidiados como a Mercados de Alimentos (Mercal),
as redes de comercialização como a Productora y
Distribuidora de Alimentos S.A (Pdval) e Abastos
Bicentenario, assim como as empresas públicas e
comunitárias nos setores agrícolas e agroindustriais.
Redes vão substituindo as redes especulativas de
distribuição de alimentos. Tais fatores têm permitido
à Venezuela dar um salto gigantesco contra a
desnutrição e a fome.
Outro notável contribuinte ao alcance dos objetivos,
é o programa de alimentação escolar, que garante a
alimentação gratuita e balanceada a todas as crianças.
Nas palavras da própria expositora:
“Con estas políticas se ha logrado que solo el 1,6% de
los venezolanos come menos de tres veces al día y
sólo el 0.4% una vez o menos. En Venezuela los niños
desnutridos constituyen sólo el 3,25% de la población,
un indicador que superaba 7% antes de la Revolución
Bolivariana, en tanto que la desnutrición global se
ubicaba en más del 11%, situándose actualmente en
menos del 6%. El hambre ha sido erradicada como
fenómeno social, que tanto peso evidenció en el
pasado reciente, y ya no existe el problema de
desnutrición como problema de salud pública.”
Explicou que o Estado promove a agricultura
sustentável para garantir a segurança alimentar.
Esta, por sua vez, seria de interesse nacional, com
níveis estratégicos de autoabastecimento, setores
artesanais e de pesca protegidos e a proibição da
pesca de “arrasto”. Promulgaram-se 11 leis nesse
sentido. Dentre elas, a Lei de Terras e Desenvolvimento
Agrário e a Lei de Segurança Alimentar. Citando suas
próprias palavras:
“Como podemos observar no se trata tan solo de
garantizar la seguridad alimentaria, es decir, el
acceso de alimentos de calidad y a bajos precios por
parte de la población, sino, más aún, de alcanzar la
soberanía alimentaria. En ese sentido se desarrollan
planes para elevar la producción y la productividad
de a producción agrícola y agroindustrial. Esto
es esencial para sustituir el elevado componente
importado de los alimentos y de los insumos de la
industria agroalimentaria del país. La dependencia
de la importación de esos rubros constituye un
rasgo característico el modelo rentístico petrolero.
El objetivo es incrementar las hectáreas de siembra,
elevar el rendimiento de la producción, así como
diversificar la producción en la medida de nuestras
posibilidades climatológicas. La dependencia de
las importaciones genera una tremenda fragilidad
económica-financiera al exigir un volumen muy
importante de divisas para satisfacer un área vital de
la sociedad, en un contexto internacional de severas
presiones al alza de los precios de los alimentos.”
Apontou também o que ela chama de “inimigos das
mudanças sociais”:
“Asimismo, esta situación provoca una elevada
fragilidad política, que se desprende de presiones
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
generadas por los enemigos de los cambios sociales
y políticos, que tienen lugar en el país, y que golpean
poderosos intereses responsables por la crisis del
país en el siglo XX. Estos sectores van perdiendo sus
privilegios y la reacción a ello es el chantaje a través
del acaparamiento y la especulación más voraz, a
los fines de detener las transformaciones creando
zozobra en la población e inestabilidad del sistema
político. Eso lo vivimos de la manera más cruda en
la víspera y durante el golpe de Estado, que derrocó
por 48 horas al Comandante Chávez en abril del año
2002, así como durante el sabotaje petrolero del
2002-2003.”
Concluiu que se oferecem estímulos aos médios e
pequenos produtores, fator chave na luta contra
o latifúndio, que coloca a terra a serviço dos
especuladores. Mas isso provoca terrorismo nas
zonas rurais, que deve ser derrotado com uma
importante força social no marco de uma verdadeira
revolução agrária. Já foram contabilizados cerca de
200 camponeses assassinados.
Por fim, Tortosa declara estar suficientemente
documentado que o mercado não é o mecanismo
adequado para melhorar a produção de alimentos,
pois os convertem em mercadoria. Somente um
Estado democrático que encarne os interesses
populares poderia estimular a produção e a compra
da colheita por um preço justo, estabelecendo e
desenvolvendo cadeias de produção. Para ela, o
governo de Chávez revela vontade política, mas,
além disso, é necessária uma importante participação
popular capaz de derrotar os inimigos da mudança e
construir um novo modelo de produção.
Palestra 2
Edélcio Vigna
Instituto de Estudos
Socioeconômicos - Inesc
Edélcio começa destacando a importância desse
tema na Cúpula. Crê que a crise nos preços dos
alimentos denota a necessidade de debatê-lo em
meio à crise global. Salienta que há ganhadores e
perdedores com esse jogo internacional dos preços
59
 dos produtos alimentícios básicos. Ressalta que,
quando falta alimento para a classe empobrecida
brasileira, a população uruguaia, paraguaia, argentina
e de outros países vizinhos também sofre. Ou seja, a
desnutrição pode afetar toda a região.
Explicou que, em sua opinião, a discussão da sociedade
civil é importante, porque deveríamos nos mobilizar,
nos unir para pressionar os governos a promoverem
produtos alimentícios seguros, livres de transgênicos
e agrotóxicos. Acrescentou que não seria o governo,
por si só, que se preocuparia com essa questão, mas
sim que ele atua a partir das pressões da sociedade.
E alertou: se não existe pressão, seguiremos comendo
agrotóxicos e plantando sementes transgênicas.
Destacou ainda que não seria a mobilização de apenas
um país que funcionaria, mas sim que deveríamos
pensar formas de pressionar regionalmente, de modo
que os recursos públicos aplicados favoreçam a nossa
alimentação.
Disse que agora estão chegando mais companheiros
da sociedade civil para essa luta regional. Acrescenta
que, quando se pensa em Pátria Grande, estamos
pensando em povo grande, não em governos grandes.
Porque se o povo é grande, o governo terá uma
expressão grande, mas baseada no povo.
Analisou que quem produz alimentos não é o
agronegócio, mas a agricultura familiar e camponesa.
Informou que, no Brasil, 70% do que comemos é
produzido pela pequena agricultura. Para ele, se não
houver reforma agrária, não teremos nem soberania
e nem segurança alimentar e teremos que importar
alimentos.
Adverte que, quando falamos de agricultura,
estamos pensando em confrontar a oligarquia - o
uso da terra como propriedade, instrumento de
controle social. Mas a terra é vista também como um
bem da nação, com função social. Uma empresa ou
um agente financeiro não pode comprar uma terra
para especular sobre ela. É um direito aprovado pela
FAO que a terra deva ser desapropriada quando não
cumpre a sua função social de produzir alimentos,
de produzir aquilo que o país precisa. A terra é
um bem nacional para a população nacional e um
bem regional para a população regional. Também
argumentou que um país não deve se restringir a
60
garantir a segurança sobre o seu próprio país, com
os vizinhos passando fome.
Segundo o expositor, nós temos que romper com
a macroeconomia, com a macropolítica, pois são
construções sociais que podem ser ressignificadas.
Enfrentar a oligarquia que define, com todo o poder
político e econômico, o que vamos plantar e comer é
difícil, mas não impossível.
Por fim, ressaltou que o Brasil tem superávit comercial
com todos os países na América do Sul; ou seja, retira
recursos dos outros países. O Brasil não deveria se
gabar dessa balança comercial positiva, mas sim
utilizar esses recursos para políticas regionais. Não
adianta uma classe social do Brasil acumular riqueza.
Temos que pensar: como é que esses recursos podem
voltar para as populações vizinhas?
Questiona quantos atuam na Reaf (instância do
Mercosul em que se discutem as questões agrícolas
do Bloco). Afirma que temos que incitar os nossos
governos a integrar o Reaf, porque lá se propõe a
reforma agrária, a agricultura familiar e camponesa
em nível regional. Por fim, diz que sem a nossa
organização e propostas, não quebraremos a
hegemonia da elite agrária desse continente.
A coordenadora Alessandra concluiu as apresentações
da Oficina destacando a importância, para as
organizações, da agenda de soberania e segurança
alimentar, observando a conjuntura que assola todos
os continentes. Disse que não via alternativas para
o processo de insegurança alimentar, a menos que
se fortalecessem os produtores, para o que seria
necessária a união da sociedade civil nessa agenda.
Afirmou que, quando se produz e não se tem um
preço justo, também não se tem esse preço justo aos
que compram nos centros populacionais. Esclareceu
que nosso continente produz a quantidade suficiente
de alimentos, mas que o problema é a governança.
Disse que entende que a agricultura familiar é
fundamental na associação com a sociedade civil;
por isso, estão desenvolvendo uma articulação nos
quatro continentes em torno da construção do ano
internacional da agricultura familiar como estratégia
mundial. Acrescentou que existe um grande risco de
desaparecimento desse setor, já que a apropriação
das terras coloca os camponeses nas cidades.
Iniciando os debates, Soledad Fontela (do Uruguai,
formando parte da Acir) disse que ali estavam
pessoas com acúmulo em distintos temas, sendo ela
militante da tecnologia e da acessibilidade. Explicou
que no Uruguai, no início do século XX, houve um
político que se comunicava pelo rádio e que se
fortaleceu muito, porque informava quais seriam os
preços justos das mercadorias. Concluiu que, com a
tecnologia de hoje, isso seria mais fácil ainda. Propôs
a participação cidadã no Mercosul.
A seguir, Andréa (Centro de Tecnologia Social do
Sertão de Minas Gerais) ressaltou que a reforma
agrária das décadas de 60/70 não foram construídas
pelos povos, mas sim pela estratégia política de
grupos. Que seria necessária uma reforma agrária
diferenciada desde o conceito de soberania alimentar,
em que os povos não sejam abandonados à mercê
da sorte. Apontou também o envelhecimento da
população rural. Dessa maneira questionou: quais as
bases da reforma agrária? Que tipo de política pública
podemos oferecer? Apontou a descontinuidade das
políticas, pois, quando ascendem novos governos,
tudo se transforma e se perde.
Finalizando, Eber Sanchez (peruano, agrônomo)
relatou que, de acordo com sua experiência, a
agricultura familiar deve vir associada ao respeito ao
meio ambiente. Informou que nos Andes Peruanos
as terras estão subdivididas em famílias, com 1000
m2 cada uma em média, e que essas famílias usam
produtos químicos por influência dos meios de
comunicação. Adicionou que a tecnologia tem que
ser produzida desde a experiência do camponês; deve
existir sinergia entre a pesquisa técnica e a que faz
“ A discussão da sociedade civil é importante,
porque deveríamos nos mobilizar, nos unir para
pressionar os governos a promoverem produtos
alimentícios seguros, livres de transgênicos e agrotóxicos.”
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
o camponês: pesquisa participativa, conhecimento e
experiência.
Sobre a livre circulação da produção, diz que, dentro
do capitalismo monopolista, lamentavelmente se
transacionam grandes quantidades de monoculturas.
E faz a seguinte indagação: poderia o Brasil vender
produtos que não existem no Peru e vice-versa?
Informou que o Peru possui 3.500 variedades de
batatas, e que, por isso, teria que haver livre comércio.
Mas salientou que isso não quer dizer desordem e que,
para garantir essa livre circulação, é necessário fazer
uma normativa de agricultura orgânica, para fins de
certificação participativa do pequeno produtor com o
consumidor.
Ressaltou, quanto ao direito à propriedade privada no
Acre e em Madre de Dios, onde um grande território
agrícola está sendo concedido pelos governos para
a exploração de minerais, que deveria haver uma
regulação, não simplesmente desse espaço externo, e
sim desde o subsolo. Por fim, defende que a educação
deve estar em função de cada localidade, pois muitas
universidades ofertam cursos não relacionados com
suas localidades.
Nesse momento, a coordenadora Alessandra retoma
a palavra e propõe formar pequenos grupos para
construir as prioridades. Abre-se, no entanto, um debate
sobre essa proposta. Para Humberto Nadal (Tucumán),
essa proposta não seria boa, pois representaria
continuarmos pensando como o Ocidente, ou seja,
não deveríamos atomizar o conhecimento. Critica a
divisão proposta pelas Nações Unidas entre o homem
e a biosfera. Termina seu discurso dizendo que temos
Edélcio Vigna
61
 que continuar trabalhando a partir do resgate da
cosmovisão que tinham nossos antepassados.
Pascual Manganiello (Argentina) argumentou que
deveria haver uma melhor metodologia de trabalho
com divisões de temas antes de formar as comissões,
e que seria um movimento de ida e volta nos debates.
Edélcio Vigna (Inesc) esclareceu que, quando se
pensou nessa Cúpula, pensou-se em alguns eixos
temáticos. Pensou-se em “soberania” e “segurança
alimentar” e também no uso da tecnologia para
promover políticas regionais.
Por sua vez, Juan Canella (Comisión de Salud del Consejo
Consultivo Cancillería Argentina) fez uma crítica à
exposição de Edélcio, dizendo que as classes ricas não
comem bem, sendo exemplo disso o consumo de coca-
cola e batatas fritas. E acrescentou que não se pode falar
em sistema produtivo sem incorporar o tema da saúde
coletiva, que, em sua visão, é determinante para além
da Cúpula.
Mario Volpi (Centro de ex-Combatientes de Malvinas
de La Plata) pediu para fazer uma apresentação
depois dos trabalhos dos grupos.
Reuniram-se então os grupos, que
elaboraram as seguintes propostas:
Grupo 1
1. Fortalecer o modelo de produção agroecológico de
sementes utilizando o conhecimento tradicional e
utilizando tecnologias sociais.
2. Criar no âmbito do Mercosul uma política regional
de agroecologia.
3. Garantir a participação dos grupos nas próximas
Cúpulas.
4. Fazer moção sobre o apoio às Malvinas.
Grupo 2
1. 
Promover e legitimar o conselho de organização
social e alimentar na Cúpula (monitoramento para
manter a conexão entre todos os atores em rede).
Institucionalizar esse espaço.
62
2. Institucionalizar a soberania, seguridade alimentar
e nutricional tendo como marco de referência
os Objetivos do Milênio e de acordo com as
diversidades regionais.
Grupo 3
1. 
Colocar como princípio a segurança, soberania
alimentar e nutricional no documento do Mercosul.
2. 
Que a soberania e a segurança alimentar devem
fazer parte das políticas dos Estados Partes,
fortalecendo a Reaf.
Ao encerrar o trabalho em grupo, a coordenadora
Alessandra pede para projetarem as propostas
escritas e abre para os debates. Elizabeth sugere
que se incorpore o termo “movimentos sociais” em
complemento à sociedade civil. Mariano Bertinat (La
Cámpora-Río Gallegos-Argentina) explicou que, na
Argentina, é mais forte o conceito de “organizações
sociais”, mas que no restante da América Latina,
”sociedade civil” é bastante utilizado. Humberto
propôs que houvesse a criação do Instituto de
Tecnologia Social do Mercosul, de tal maneira que as
tecnologias sociais estivessem ao alcance de todos.
Daniel Mojoli (Paraguai) ponderou que Tecnologia
Social já pressupõe estar ao alcance de todos. Mariano
criticou o termo “política regional de agroecologia”,
dizendo que, em questões ambientais, seria mais
adequado o termo “sustentável”, para que se
contemplassem as gerações futuras. Edelcio propôs
o uso do termo “a agricultura familiar como cultura
sustentável e agroecológica”. Heber disse que o tema
de agroecologia era específico, e propôs a utilização
da expressão “agricultura familiar sustentável”.
Humberto relevou que a Monsanto também se diz
sustentável. Propõe o termo “familiar e camponês”.
Adriana disse que se deveria especificar o tema das
sementes e incorporar os termos “crioulo” e “nativo”.
Por fim, Humberto retoma a palavra e diz que deveria
estar presente o termo “indígena”.
Propostas finais
1. Criar no âmbito do Mercosul uma política regional
de agricultura familiar sustentável e agroecológica,
considerando modelos de produção sinérgicos
entre o conhecimento indígena, tradicional e
 tecnológico, que respeite o uso e os costumes 2. 
Propor como princípio a soberania e segurança
sociais, valorizando as sementes crioulas. alimentar e nutricional no documento final do
Mercosul.
2. 
Que a soberania e a segurança alimentar e
nutricional sejam parte das políticas de regulação
de cada Estado, tendo como base um plano regional
que, entre outros pontos, fortaleça o Mercosul.

Propostas amplas ao documento final

1. 
Criar uma política de fomento que garanta a
participação das organizações e movimentos
sociais no Conselho de Organização Popular e
permanente na Cúpula Social do Mercosul.

X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S 63
 OFICINA

Identidade
Cultural
Sul-americana

Grupo temático 4: Cultura e Identidade

Professora sistematizadora: Victoria Darling
Coordenador: Silvio Caccia Bava
Articulação do debate em torno de
quatro temas
A mesa sobre o tema “Identidade Cultural Sul-
Americana” foi coordenada pelo jornalista Silvio
Caccia Bava e contou com a presença do secretário
de Cultura do Distrito Federal, Hamilton Pereira. Silvio
introduz a apresentação colocando em debate a crise
de hegemonia cultural contemporânea. Argumentou
que presenciamos uma crise dos valores do mercado,
uma crise do discurso que nega nossa identidade.
Sustentou que “todos somos medidos por nossa
capacidade de consumo”. Nesse sentido, os meios de
comunicação, os filmes e a imprensa teriam imposto
a ideia de que o cidadão é aquele capaz de consumir.
Além disso, a capacidade de resistência das culturas
dos povos das distintas regiões põe em xeque a
tentativa de uniformização e homogeneização.
Por isso, apresenta-se uma visão alternativa desde
os imigrantes, as formas de produção, o próprio
consumo e a história dos povos. No atual processo
de integração, temos guaranis: identidades que
ultrapassam as fronteiras nacionais. Isto desafia a
busca de solidariedades para construir um novo
processo.
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
De fato, o jornalista sustentou que, se não
estamos satisfeitos em sermos identificados como
consumidores, se queremos atuar em nossas
sociedades para construir uma nova identidade,
devemos realizar uma crítica à tentativa de
homogeneização, ao individualismo, à competição
e à ideia de destruição do oponente, próprios da
dinâmica do mercado. Que outros valores colocar em
seu lugar? Como resgatar a história de nossos povos?
Em sua fala, Hamilton Pereira (Secretário de Cultura
do GDF) apresentou sua trajetória de vida militante.
Expôs como pergunta-guia do debate: “Quem disse
que somos ocidentais?” (Retomada de Fernández
Retamar). Se não somos ocidentais, o que somos
nós? Argumentou que se trata de uma busca similar
à dos adolescentes, de afirmação frente ao mundo.
Considerou que não somos brancos, não somos
anglo-saxões, não somos ocidentais, não se sabe
bem o que somos. Para isso, registrou que é preciso
reconstruir, com dados da realidade, nossa afirmação
como construção histórica. “Víctor Sergio, quando
desembarcou em Havana e viu aquela alegria, a
musicalidade, ficou chocado. Escapou da prisão e
tinha muitos caminhos a serem percorridos. Ficou
deslumbrado por Cuba pela sensualidade, pela
65
 alegria. Essa é a tragédia dos povos-criança, os povos
que ainda não se construíram de maneira madura”.
Por sua vez, apresentou a ideia de “núcleo oral” como
conceito útil. Se a identidade cultural sul-americana não
existe em singular, então há identidades variadas em
uma mesma região. De fato, explicou que Carpentier
comenta que, em um mesmo barco, vieram uma
máquina de impressão e a pena de morte como legado
europeu. “Esses dois elementos, dentro do navio que
se chama ‘contrato social’, também formam parte
das identidades culturais latino-americanas”. José
Hernández ou Juan Rulfo perceberam essa identidade.
Temos que percorrer o continente montando esse
mosaico inconcluso que são os diferentes rostos das
identidades culturais latino-americanas. Não é possível
ter uma imagem abarcadora sobre a América Latina
sem ver os murais de Orozco, Siqueiros, Guayasamin.
Há nações violentas forjadas por libertadores, como
Simón Bolívar. No Brasil, o trabalho manual é visto
como trabalho de negros, resultado da escravidão. “O
Brasil é o segundo maior país em população negra
do mundo”, sustentou. Por conseguinte, desde sua
perspectiva, esse é um traço fundamental de nossa
construção histórica e cultural. “Que lástima para
vocês que Guimarães Rosa não escreve em espanhol,
assim como, para os brasileiros, é uma pena que
García Márquez não haja escrito em português”.
Hamilton assinalou que as identidades estéticas são
múltiplas. Por conseguinte, as identidades políticas
66
também devem ser discutidas. “Disse Galeano que
a violência é tão cotidiana que, na América Latina,
não temos quatro estações: temos verão, inverno,
primavera, outono e massacre. Ele reflete de maneira
brilhante essa condenação de uma sociedade desigual
e conflitiva irredimida porque busca utopias”. Pereira
agregou que as ditaduras e a resistência que se
recriam no começo da democracia também dão
conta de diversas identidades políticas.
Destacou que os governos atuais da região formam
parte desse processo, dessa crise em que surgem
as identidades utópicas. “O que nos unifica além de
nosso legítimo desejo de soberania é uma luta para
acabar com as desigualdades. Precisamos de uma
percepção de que, ao lado das dificuldades que
enfrentamos, alcançamos vitórias sobre as terríveis
ditaduras que passaram. Ao contrário das lutas de
independência das nações, avançamos agora por um
caminho diferente”.
Contribuindo na ampliação deste primeiro tema
concernente à integração como dilema cultural,
Sylvia Valdés (assistente, Coordenadora de Cultura
do Ministério de Relações Exteriores da Argentina
e professora da Universidade de Buenos Aires)
propôs realizar um giro cultural pela América Latina
que resgate os povos americanos do epistemicídio.
Sustentou que, em geral, os estudantes da
Universidade propõem como elementos conceituais
marcos teóricos franceses como Deleuze, Derrida
etc. Então, temos que estudar “mais além dos heróis,
temos nossos pensadores latino-americanos, como
Vasconcelos, Farías Brito, Amoroso Lima, que se
dedicam a pesquisar o que é a identidade latino-
americana. Há também, para nossa referência
identitária, a corrente historicista que começa no
Peru, com a revista Amauta de Mariátegui. A última
corrente é a liberacionista, que começa nos anos
70 com Enrique Dussel, enriquecida pela teologia
da liberação e a filosofia da liberação. Além das
vanguardas, as pós-vanguardas. Todas contribuem
para o entendimento de nossa identidade”.
Na mesma linha, Rafael Alaya, do partido Miles de
Argentina, sublinhou que hoje temos a oportunidade
de recomeço para o Mercosul. Afirmou que,
quando falamos de todas as variantes que a cultura
aponta, devemos cuidar para não cair na noção de
vanguardismo. Pediu aterrissar conceitos e não
intelectualizar o debate.
Com esse debate contribuiu Igor (da Universidade
Federal do ABC), que adicionou que as identidades
são plurais e se encontram aplastadas e invisibilizadas
pelos tempos neoliberais que ainda seguem. A
destruição de nossas identidades se expressa em
tentativas de introduzir uma identidade que vem dos
centros imperialistas. Existe um desconhecimento
mútuo entre nossos países. Por isso, de seu ponto
de vista, conhecemos muita música do imperialismo,
mas quase nada do que fazemos uns e outros na
região. Ademais, argumentou que os governos
progressistas são alvos de ataque das mesmas
forças que mantêm a dominação cultural: os meios
de comunicação, a imprensa empresarial, a empresa
editorial. Isso deslegitima os governos na busca de
tentativas de democratização da cultura. “O pouco
que se tem avançado em termos de democratização
dos meios de comunicação e da cultura é em resposta
à investida que vem de Washington. O conjunto
de trabalhadores de imprensa se reúne seguido de
diretrizes que partem dos Estados Unidos”.
A partir da questão abordada, Rosane Bertotti (da
CUT brasileira) fez a seguinte pergunta: “Como
podemos criar políticas públicas que ampliem e
garantam novas formas de cultura e expressão”?
Librada Martínez (da API, Associação Paraguaia
Indígena) colocou um segundo tema: a dívida social.
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
Librada falou em tom de denúncia a respeito da
construção de Itaipu e da relocalização da população
posterior à construção da usina. “Negação de
traslado, inundação de áreas importantes, conflitos
internos e debilitação da organização social pré-
existente. No Paraguai, nunca se assumiu a existência
de um estado multicultural. Fala-se da conservação
da biodiversidade, mas não da pobreza dos povos
indígenas. Em toda a América Latina, é necessário
ver com as lentes da diversidade cultural e linguística
existente. Não é casual o controle dos povos indígenas
em nome da modernidade dos Estados. O Paraguai,
desde 1992, se reconhece como país pluricultural e
plurilíngue. São reconhecidos os direitos e os grupos
como anteriores ao Estado paraguaio. Isso não se
reconhece na prática, há uma doutrina baseada na
superioridade de indivíduos e grupos aduzindo
questões de origem religiosa, nacional e cultural”.
Silvina Sanchez (da Frente Transversal Argentina),
por sua vez, distanciou-se da abordagem paraguaia,
considerando que cada processo cultural se dá
em relação a cada governo. “Na Argentina, vemos
quantos valores foram destroçados nos anos 90. A
cultura do trabalho, da escola. Os movimentos sociais
hoje podem levar ao bairro as políticas públicas que
saem do governo”. Ademais, esclarece que esse
tema é tratado pela organização da qual participa.
“Desde 2003, há uma política cultural que orienta a
militância. Isto se vincula aos povos originários, como
o caso de Jujuy”.
Thiago Vinicius apresentou o tema das “ausências”
no debate sobre a identidade. Como representante
da periferia de São Paulo, da equipe de formação,
relatou o trabalho que vem realizando com a União
Popular de Mulheres Miguel Abad e comunidades
eclesiásticas de base. Fez referência ao nível de
violência que marcou as gerações nesse espaço
em que confluem “varias periferias”. Disse: “Existe
uma cultura periférica, uma cultura que dá conta
de música, poesia, de militância cultural. Há uma
narrativa que se vê ameaçada pela destruição e
morte de gerações que se reprimem duramente
nas periferias. A violência é trazida de fora para
dentro. Mais de 150 pessoas morreram, policiais,
habitantes e quem não tem nada que ver com esse
tipo de conflito. A América Latina está marcada por
genocídios e extermínio”.
67
 No encerramento da discussão, Carlos Monje (do
Centro de Apoio ao Migrante, Brasil) acrescentou que
os latino-americanos são migrantes por necessidade
e propôs uma comissão de combate à pobreza, de
modo que a migração não ocorra de maneira forçada.
não só responder comunicacionalmente à agenda
que propõem os meios de comunicação. Assegurou
que essa definição deve ser discutida no marco de
um projeto político, de uma construção entre as
organizações sociais e os governos.

O terceiro tema colocado em debate foi a ocupação

de espaços públicos. Adriano de Angeles (um
realizador audiovisual que milita em redes de arte em Metodologia
Brasília) comentou a herança positiva da Argentina
e Venezuela. Comentou que as praças são espaços O debate foi iniciado por uma conferência realizada
comuns que deveriam estar permanentemente em pelos participantes da mesa coordenadora (um
pauta como espaços de socialização de culturas coordenador e o secretário de Cultura de Brasília).
latino-americanas. Citou o Memorial de América Foi estabelecido um diálogo entre eles, envolvendo
Latina de São Paulo, e propôs a criação de outros perguntas orientadoras. Ao longo da manhã,
espaços.
realizou-se uma dinâmica de comentários dos
assistentes, alternados pelos membros da mesa
Colaborando com essa ideia, Silvana Mamani (aluna
coordenadora. A cada três participantes do público,
da Unila) sugeriu pensar na diversidade de línguas
havia uma interrupção para que os integrantes da
da América Latina, o que implicaria pensar em uma
mesa coordenadora participassem e respondessem
integração do modo de conhecer ao outro, como
às inquietações. Alguns temas foram recuperados e
sinal de tolerância e respeito.
destacados no decorrer do debate, e outros, como
o das denúncias dos povos guaranis e o dos direitos
Mais ainda, Maria Fernando (da União de Estudantes
dos migrantes, ficaram relegados. Quanto ao mais, o
Angolanos de São Paulo) assinalou a necessidade
debate também constou de demandas e comentários
de aplicar-se uma lei de ensino da história africana
sobre a especificidade da vida cultural no Distrito
nas escolas brasileiras. Nessa linha, Guillermo Guerra
Federal brasileiro. Em tal intercâmbio não houve guia
(do Centro de Direitos Humanos e Cidadania do
que fixasse ou cristalizasse o diálogo em propostas
Imigrante) reconheceu que o tema abarca todos, mas
específicas para levar à posterior plenária.
que, desde seu aporte, trabalha para que nos direitos
humanos o Brasil se identifique com outras culturas
latino-americanas por meio de mostras e expressões
artísticas.
Propostas
O quarto tema foi abordado por Carlos Borgna
(responsável de Comunicação do Conselho da A definição de propostas segue a lógica da análise do

Sociedade Civil da Chancelaria argentina), que discurso dos interventores, podendo-se destacar os

comentou a impossibilidade de se discutir cultura seguintes pontos suscitados:

sem discutir comunicação, e vice-versa. Afirmou que

“nos encontramos em uma batalha cultural que deve 1. 
Apoiar os países que tiveram avanços na
definir seus conteúdos”. Relatou a experiência de democratização dos meios de comunicação, e
reunião recente de um conjunto de comunicadores exigir a outros, como o Brasil, impulsionar tal
do Mercosul na Argentina, na qual perguntaram: democratização.
quais devem ser os temas que integram esses
conteúdos para a integração regional? O primeiro 2. 
Intensificar os mecanismos de identificação
tema definido foi o da cultura e, como subdivisão, a regional, sobretudo os meios como Tele Sul.
música. O segundo tema foi o da terra, em relação
ao meio ambiente. Ao referir-se à integração regional, 3. 
Promover a integração no campo da educação,
sugeriu pensar em uma agenda pública de temas, sobretudo universitária.

68
4. 
Construir uma comissão de comunicação 2. Modificar o intercâmbio cultural. Os recursos para
alternativa. Por exemplo, há um início de diálogo o desafio de trazer e levar expressões e produções
com o governo do Distrito Federal do Brasil, mas artísticas pela região.
não há emissoras próprias nem outros meios
(propôs Gesil, de Comunicação Social). 3. 
“Não há nem uma hipótese da história comum.
Como o Brasil lê a história da terrível guerra do
5.Combinar a defesa contra o imperialismo com um Paraguai, por isso é preciso trabalhar nesse
mecanismo ofensivo em termos de identidade sentido”.
latino-americana. Propõe-se um Instituto Cultural
do Mercosul para articular nossa identidade 4. Criar políticas de comunicação. “Neste momento,
cultural para fora. a direita partidária e parlamentar perde espaço;
então, a mobilização dos militantes é fundamental
6. 
Fortalecer uma estratégia de comunicação que para enfrentar o tema da democratização dos
envolva as organizações sociais. meios de comunicação. Assegurar as conquistas
e apoiar as reivindicações, como existe no Brasil”.
7. 
Outro aspecto assinalado foi a necessidade de
reparar na produção audiovisual para trabalhar 5. Destacou que é importante contar com políticas
em várias salas da região conteúdos latino- públicas de tradução de línguas.
americanos, de modo a difundi-los. Sugere-se
apontar conteúdos desde as organizações sociais. 6. 
Por último, disse que devem ser fortalecidas
iniciativas como a TeleSur. Falou da exigência de
8. 
Colocar os documentos oficiais do Mercosul na investir.
língua guarani.
Mais tarde, após compartilhar sua experiência como
9. 
Ampliar as ações culturais que alcancem os militante revolucionário no Estado, o Secretário
imigrantes, na prática. argumentou que, no Brasil, há uma grande diversidade
de línguas e, por isso, deve haver um fomento às
10. 
Denunciar a tomada de terras e a violação de línguas originárias da América Latina. Logo, propôs
direitos das populações indígenas paraguaias, por a organização de cadeias produtivas de Cultura
parte da usina binacional Itaipu, e recuperar, na para criar conteúdos sustentavelmente. “A televisão
prática, a importância das comunidades indígenas e o mundo simbólico são vitais para entender o
no marco de ações culturais do Mercosul. espaço da cultura. A questão da terra aparece na
maior parte dos discursos, assim como a soja. Não
11. 
Desenvolver uma campanha para que diversas obstante, a sustentabilidade não tem visibilidade. O
grandes cidades do Mercosul tenham uma agenda tema dos direitos humanos é um tema que requer
permanente de atividades artísticas e culturais, trabalho. Trata-se de uma sociedade racista no Brasil,
assim como intervenções, como forma de que mascara a violência. Estigmatizar o Estado e
socializar parte das diversas culturas dos países sacralizar os movimentos sociais representa um erro
sul-americanos. porque, desde sua perspectiva, o Estado é reflexo da
sociedade”.

O Secretário de Cultura do Distrito Federal

enumerou outras propostas, entre as quais estão:

1. 
Exigir dos representantes do Mercosul o ensino
de línguas de Português e Espanhol e traduzir os
documentos oficiais também para o Guarani.

X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S 69
 OFICINA

Democratização
da Comunicação
e Cultura Digital

Grupo temático 4: Cultura e Identidade

Professor sistematizador: Mario Ramão Villalva Filho
Coordenadora: Rosane Bertotti
Introdução
A reunião teve início às 14h45, com a intervenção da
coordenadora da mesa encaminhando as propostas
da manhã, que posteriormente foram apresentadas
mediante leitura da professora Victoria Darling,
da Unila.
A coordenadora do grupo de Comunicação decide
que se passe para o final do evento a escolha das
duas propostas que deveriam ter sido apresentadas
como resultado dos debates do período da manhã.
Imediatamente, a coordenadora apresenta para o
grupo a metodologia da reunião, dizendo que na
primeira hora haverá a apresentação dos temas
pelos dois convidados palestrantes e que, depois,
o debate será aberto aos participantes, mediante
inscrição. Cada um terá no máximo 3 minutos para a
sua intervenção e a cada meia hora a palavra voltará
à mesa para as considerações e respostas ao público.
Início do tema
Rosane Bertotti apresenta o tema da
improvisando sobre o seguinte resumo que está
publicado no site da Cúpula:
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
“O direito humano à comunicação tem como
empecilhos de longa data, na América Latina, a
concentração oligopólica dos meios de comunicação.
A criação e o fortalecimento de veículos públicos e
estatais, bem como a abertura de maiores espaços
para a radiodifusão comunitária, têm sido buscados
pelos países do Bloco? Como garantir a liberdade de
expressão a todos, inclusive àqueles tradicionalmente
alijados deste processo pelo poder econômico?
Também serão objeto deste debate os aportes
trazidos pela cultura digital para a construção de
um ambiente de liberdade e ampla participação na
internet, incluindo questões como as políticas de
software livre e a discussão sobre neutralidade da
rede e direitos autorais. (http://socialMercosul.org/
oficinas-tematicas/)”
O primeiro palestrante é apresentado pela
coordenadora: o argentino Pedro Lanteri (da
organização La Voz de las Madres de Mayo, funcionário
público federal argentino), que apresenta a Ley de
Medios. Começa pela história da citada lei e explica as
dificuldades para a aprovação. Duas centrais laborais
se colocaram de acordo para aprovar a Lei. São 21
pontos da comunicação que a Presidenta argentina
apresentou para a comunidade popular como fórum
mesa, de discussões, e somente depois foi enviado ao
Congresso. Neste 7 de dezembro, entraria em efetiva
vigência a Ley de Medios.
71
 Lanteri explica por que deve ser uma “lei fundacional”:
em toda a América Latina há necessidade dessa lei,
por causa da forte influência dos meios e o perigo
que eles estejam em poucas mãos. Exemplificou que
o grupo Clarín possui 2.500 emissoras de rádio, das
2.700 de todo o país. E continua explicando a luta
da Presidenta argentina no enfrentamento ao grupo
comunicacional: “Antigamente eram 10 capas de
jornal, com poder de derrubar um presidente; hoje
há mais de 200, o que fortaleceu mais a presidenta
Cristina Kirchner”.
O segundo tema foi apresentado por Sergio Amadeu
(sociólogo, representante da sociedade civil no
CGI.br. - Comitê Gestor da Internet -, professor da
UFABC, pesquisador de cibercultura e membro
da comunidade do software livre). Ele inicia com a
explicação da comunicação em rede e sobre o que
é inclusão digital. Afirma que o serviço fundamental
deve ser a banda larga. Apresenta, a seguir, os sites
mais acessados e descreve algumas anotações do
grupo, a saber:
1. Pelo respeito à diversidade digital.
2. Pela liberdade de criação e de compartilhamento.
3. Pela produção colaborativa, a exemplo da Lei do
Marco Civil da Internet.
Foram elaboradas várias leis no mundo que beneficiam
as grandes corporações e o controle delas no acesso
e distribuição de informações na internet, por
exemplo: o Stop Online Piracy Act (em tradução livre,
Lei de Combate à Pirataria Online), abreviado como
Sopa e Pipa (Protect IP Act), que seria o bloqueio
estrutural de acesso e a concentração dos controles
pela Indústria do Copyright principalmente. Termina
dizendo que o Mercosul tem que se manifestar contra
esse controle e apresenta a sua proposta número 2
sobre o apoio para a Lei do Marco Civil.
A palavra com a plenária
Marcelo (Brasil) defende a ideia da liberdade na
internet, denunciando ameaças a tais interesses. Os
três dos grandes Blocos: Copyright, provedores e
72
governos. Araya (Argentina) indicou que, de acordo
com as duas propostas apresentadas, o uso deve ser
em favor da população, sugerindo que o conteúdo
passe pela educação e apresentando mais uma
proposta, a da leitura crítica da comunicação para a
população; esta proposta não foi retomada pela mesa
nem pelo grupo depois.
Enrique Amestoy (de software livre, Uruguai) propôs
a criação do Instituto de Tecnologia Social para o
Mercosul, com membros de todos os países. Parte
da proposta foi lida para o grupo em cerca de três
minutos, tempo determinado pela coordenadora.
Igor Fuser (da UFABC, Brasil) defende o cuidado
com a utilização da censura pelos donos das redes na
internet. Osvaldo Cruz (ex-diretor de software livre,
Paraguai) conta a experiência do Paraguai, em que
um site utilizado pelos professores para criar uma
enciclopédia foi tirado do ar por causa da influência
das corporações.
Fred (Plataforma de rede e conteúdos entre os
blogueiros progressistas do Brasil, Brasil) refere-se
ao “pacto federativo” do Mercosul. Deve ser um novo
espaço de democracia no Mercosul e que não fique
em mãos de empresas. Que se constitua um grupo
latino-americano de universidades para estímulo e
desenvolvimento da internet.
Volta à mesa a discussão
O argentino Pedro Lanteri (la Voz de las Madres), da
mesa, retomou a palavra explicando a necessidade
de apoiar no Mercosul a Ley de Medios. Para o dia
7 de dezembro, sugere que o brasileiro esteja nas
ruas, com alegria, usando as tecnologias para esse
dia. Finalizou sua parte dizendo que é preciso saber
usar as ferramentas e preparar as pessoas em busca
da comunicação emancipadora, a exemplo de Paulo
Freire.
Sérgio Amadeu (Universidade Federal do ABC, Brasil),
da mesa, insiste que a liberdade digital deve ter
sentido amplo, que a liberdade deve ser de todos. As
operadoras não devem ter o poder de decidir o teor
e a autoria do conteúdo publicado. Falta incentivo à
produção cultural no Mercosul. Defende a prática do
uso de software livre, pois o computador não precisa
de propriedade nem de controle da criação.
Mais uma rodada da participação do grupo
Nicolas Caballero (Paraguai) apoia as ideias
expostas, mas insiste na proposta do Instituto
para evitar o colonialismo digital: “tem que
ser criado o Instituto de Tecnologias Sociais
do Mercosul (ITS-Mercosul)” expressou. Carlos
Borgna (Argentina) fala da importância
capacitação teórica e prática de pessoas no
marco de um projeto e sugere que representantes
de Comunicação Social de cada país elaborem
uma política para o Mercosul. Recomenda que o
Brasil faça uma proposta de gerenciamento para
que acadêmicos e técnicos trabalhem juntos. O
participante do Paraguai apoia duas propostas da
mesa: sobre o marco civil e sobre a criação do
Instituto Tecnológico.
Librada Martinez (principal representante indígena,
Paraguai) fala em guarani, explicando a importância
de o Paraguai participar da Cúpula, mesmo “não
tendo presidente o país”. Disse que ainda participam
grupos sociais e populares permanentemente. E
agradece à mesa pela oportunidade.
A mesa retoma a palavra, dizendo que a lei do marco
civil deve ser apoiada e que ainda falta apoio da
sociedade civil para essa lei. “Não há como ir contra
o lobby das empresas provedoras e das empresas de
comunicação; precisamos centrar forças para obter o
apoio amplo da sociedade civil”.
Na última participação, o representante de grupos
de quilombolas falou da importância da alma para
continuar na luta: “pelo tambor reconhecemos os
códigos”, disse. A seguir, fez uma performance
com a plateia brincando com o tema da internet,
especificamente com os números binários 1 e 0.
Antes da coordenação da mesa retomar a palavra,
o argentino Pedro Lanteri (palestrante) respondeu
a algumas observações sobre o governo argentino
dizendo: “ter o governo não é ter o poder”, e propõe
que o fórum sobre Comunicação seja permanente.
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
Encerramento pela coordenação da mesa
A coordenação comentou que nenhuma das
propostas está em oposição às demais, ressaltando
que todas são parte de uma só. Desenvolveu o seu
discurso final sem a necessidade de votações ou mais
debates. A coordenadora da mesa fez o discurso
tentando encerrar em um tema apenas, mas esse
relator foi descrevendo as propostas em itens para
melhor apreciação.
1. A Ley de Medios igual em todo Mercosul, respeitando
da as especificações de cada país.
2. 
Uma proposta de garantir a neutralidade da
internet e a criação do Instituto de Tecnologias
Sociais do Mercosul (ITS-Mercosul) e o apoio à Lei
do Marco Civil.
3. 
Reunião Especializada de Comunicação: formar
parte da reunião permanente de coordenação, o
Peas.
Como moções, ficaram mais dois itens: a mesa
entregaria à Presidenta argentina apoio à Ley de
Medios, além de ratificar a moção a favor da causa
palestina.
Propostas apresentadas durante a reunião
No entender deste relator, durante o decorrer da
reunião houve quatro propostas específicas:
1. Marco civil para garantir a liberdade e a diversidade
da internet.
2. A Ley de Medios deve ser aplicada em todo o
Mercosul, respeitando as especificações.
3. Leitura crítica da comunicação a ser aplicada em
forma de educação, alfabetização para os meios
de comunicação que rompa com a monopolização
dos meios.
4. 
Criação do Instituto de Tecnologias Sociais do
Mercosul, desenvolvimento para a criação deste
instituto com membros de todos os países.
73
 Considerações finais

Não houve problematização dos temas em nenhum

momento: todos apoiaram os temas propostos
pela mesa; os itens propostos pela plenária, de
alguma forma, foram incluídos no argumento final
desenvolvido pela coordenadora. Também houve
vários comunicados por parte das pessoas que
participavam da reunião; o caso da representante
indígena paraguaia que se pronunciou em guarani
como um claro exemplo de fazer-se partícipe do
evento: “estamos aqui, nós falamos língua originária”.

Com consenso ou não, houve um discurso final

que “contemplou” a todos os presentes. As duas
propostas que foram encaminhadas e publicadas no
site são as seguintes:

1. Elaborar e/ou apoiar as leis de democratização da

comunicação que garantam o direito a palavra, a
acesso, a pluralidade e diversidade, e a liberdade
de expressão, a exemplo da lei de meios de
comunicação da Argentina, considerando a
realidade de cada país.

2. Defender um marco civil da internet que garanta a

neutralidade da rede e a liberdade de expressão;
e construir um Instituto de Tecnologia Social do
Mercosul.

74
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S 75
 OFICINA

Cooperação e
Desenvolvimento
Regional

Grupo Temático 5: Cooperação para o Desenvolvimento Regional

Professor sistematizador: Luciano Wexell Severo
Coordenador: Sérgio Miletto
Sérgio Miletto (coordenador) explica a metodologia
da mesa e esclarece que as propostas concretas e
objetivas serão levadas aos presidentes. Sugeriu que
fossem feitas palestras provocativas, seguidas de
grupos de trabalho. Explicou que serão priorizadas
duas propostas, sem, contudo, descartar as demais,
que serão tratadas posteriormente. Os temas a
serem abordados serão: Plano Estratégico de Ação
Social (Peas), Fundo de Convergência Estrutural do
Mercosul (Focem) e Objetivos do Milênio (ODM).
Comenta que o Peas possui ideias muito boas, mas
sem especificar detalhes relacionados com a sua
execução, como metas, datas etc.
1ª. Palestra
Christian Mirza
Instituto Social do Mercosul – ISM
Em sua palestra, apresenta os seguintes pontos:
1) breves anotações do contexto regional;
2) explicação sobre o processo sócio-histórico-
político atual; 3) a outra face da integração;
4) dimensão social da integração. Afirma que durante
a década de 1990 prevaleceu na América Latina um
modelo de corte neoliberal, com seus impactos de
desemprego e pobreza. Recordou que a corrente
neoliberal nasceu entre os anos 1944-45, com a
ideia de que o mercado era o gerente mais eficiente
dos recursos e que o Estado deveria se retrair. O
Estado assumiria, então, seu papel de garantidor
das liberdades dos agentes econômicos, do grande
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
capital. O Estado pesou a balança para o lado do
capital na relação capital-trabalho.
Apontou que a luta de classes é palpável e evidente.
Nos últimos anos na América Latina, na última década
do século XX e nas primeiras do século XXI, o Estado
estaria pesando a balança para o lado do trabalho.
Por meio do voto popular, foram levados ao poder
políticos de inspiração progressista e de esquerda.
Considera que a variável principal é a política e que
há avanços em vários países. Repudiou o golpe de
classe no Paraguai, de uma oligarquia, contra um
processo tímido de mudanças.
Sobre a dimensão social da integração, considera que
o tema social precisa preponderar sobre os assuntos
comerciais, alfandegários e aduaneiros. Crê que
devam ser priorizadas ações de combate à pobreza
e às assimetrias regionais. Estaria em gestação uma
nova significação da integração, que teria exemplos
concretos. Julga oportuno aprimorar o “plano de
voo”, cumprir eixos, diretrizes estratégicas e objetivos
específicos do Peas. Comentou sobre os vínculos do
Peas com os Objetivos do Milênio (ODM), que tem oito
grandes objetivos para 2015. Afirma que o Peas aborda
todos esses temas e, inclusive, transcende os ODM,
sendo mais exigente. Sobre o Focem, defende que a
liberação de recursos para os projetos não seja guiada
por conceitos meramente contábeis como a VAR ou
a Taxa Interna de Retorno (TIR). Deveriam, assim, ser
readequadas pautas de exigências e normas. Defendeu
a adoção de políticas de combate à riqueza extrema
(reformas tributárias que taxem os mais ricos) e uma
mudança no modelo de desenvolvimento.
77
 2ª. Palestra
Adhemar S. Mineiro
CUT-Dieese
Em sua palestra, apresentou três pontos: 1) avaliação
dos resultados do Peas e projetos do Focem;
2) descrição dos projetos e 3) apresentação de
uma perspectiva compensatória para a integração.
Considera que o Peas é uma declaração de intenções,
com projetos distribuídos da seguinte forma:
Paraguai – 18; Uruguai – 8; Brasil – 5; Argentina – 3; 1
plurinacional (febre aftosa) e 1 do Mercosul. Afirma que
o Focem serve muito mais para compensar os males
estruturais e que carece de maior articulação de seus
projetos com a nova dinâmica do desenvolvimento.
Nesse sentido, a ideia de compensar problemas
da estratégia se sobressairia à ideia de mudar a
estratégia. Em outras palavras, seria necessária
uma perspectiva estratégica para sair do modelo
dependente. Sem mudanças, o Fundo reforçaria a
inserção internacional subordinada, como exportador
de matérias primas. Finalmente, propõe que a Cúpula
seja realizada pela sociedade civil, com financiamento
do governo.
Metodologia
Cerca de 35 a 40 participantes formaram quatro
conjuntos diferentes, sendo cada um deles responsável
por apresentar ao grupo geral uma proposta ao final
dos debates. Os professores Tereza Spyer e Luciano
Wexell foram os relatores das discussões dos grupos.
Ao término, foram apresentadas três propostas que,
depois das discussões gerais, foram sintetizadas em
duas, a serem levadas à Plenária Final do dia seguinte.
Resumo das principais propostas
dos grupos
Luciano Wexell (Unila) comentou que os recursos
do Focem são fornecidos da seguinte forma: Brasil
(70%), Argentina (27%), Uruguai (2%) e Paraguai
(1%). Os recursos dos projetos são distribuídos da
seguinte maneira: Paraguai, 48%; Uruguai, 32%;
78
Argentina e Brasil, 10%. O Fundo não é apenas tímido
em recursos, como também se volta essencialmente
à modernização, sem qualquer ênfase no processo de
mudança estrutural que aponte na direção de maior
complementaridade e comércio planejado. Existem,
no entanto, alguns indícios de que o Fundo ganharia
maior peso nos próximos anos. Seria importante
que o Focem financiasse mais projetos sociais ou de
transformação estrutural e que os grandes projetos
de infraestrutura sejam financiados por outras
instituições.
Jorge Alejandre (Tierra, Vivienda y Habitat - FTV)
defendeu mudanças na propriedade da terra e
modificações na estrutura produtiva dos países.
Considera necessária uma reforma agrária, uma
reforma urbana e programas de habitação com
PyMES e autoconstrução. Julga fundamental criar um
mecanismo de articulação real entre sociedade civil
e governos para consulta, seguimento, avaliação e
controle do Peas.
Julio Torres (PyME – Uruguay) julga necessário
criar programas de habitação com PyMEs e
autoconstrução. Além disso, defende a criação de um
fundo para financiar projetos de PyMES.
Rogério Dutra (estudante de Economia – Unila)
defendeu que o Focem financiasse projetos de
cooperação entre universidades da América Latina,
que potencializassem a criação de incubadoras,
cooperativas de catadores de lixo, artesanato etc.
Em suma, que o Focem financie projetos de apoio a
pequenos empreendimentos.
Dalia Dassa (Red Latinoamericana de Universidades de
Empreendedorismo Social) argumentou que o Focem
deveria concentrar-se no financiamento de projetos
de apoio a pequenos empreendimentos, projetos para
desenvolvimento social e estímulo a incubadoras.
Angela Garofali (estudante da Unila) propôs a criação
de um Focem Social, considerando que as estruturas
atuais do Focem não possibilitam a sua utilização
como propulsor do desenvolvimento da economia
social e popular.
Isaac Inmanuel (Plataformas Asociativas de la
Juventud) defendeu que o Focem financie projetos
de apoio a pequenos empreendimentos, bem como
propôs um Sistema de Bolsas de Intercâmbio entre
Secundaristas e Universitários. Preconizou também
a importância de que os financiamentos do Focem
regulem a qualidade do trabalho.
Paulo Henrique (Geografia – Unila) propôs
descentralização das áreas urbanas dos grandes
centros e a promoção do aumento da densidade
populacional nas regiões de fronteira. Ressaltou-se
que já existem os Grupos de Fronteira.
Gonzalo sugeriu que o Focem faça um mecanismo
de consulta ou crie um conselho para avaliar quais
projetos serão aprovados para ampliar a participação
social. Deveria haver participação popular
estudos, sem serem controlados pela
empreiteiras etc.
Célia propôs um fundo para projetos sociais, que
deve ser fortalecido e revisado. Além de projetos
de infraestrutura, criar-se-ia também um fundo para
projetos sociais. Indagou quais representantes dos
países que estão decidindo tais aspectos, bem como
pediu/exigiu cadeiras para a sociedade civil.
Renato apresentou a possibilidade de participação
popular nas instâncias do Mercosul: assento e
participação efetiva. O ideal seria um Banco de
Desenvolvimento com um fundo anticíclico. Sugere:
a) ampliação do Focem para a convergência
estrutural; b) criação de outro fundo para as outras
convergências (outros temas do Peas).
Propostas finais
1. Criação de um Focem Social como mecanismo de
articulação real entre sociedade civil e governos para
consulta, seguimento, avaliação e controle do Peas.
2. Para cumprir os objetivos do Focem e eliminar as
assimetrias da região, propomos a criação de um
mecanismo de participação social na definição, na
gestão e no acompanhamento dos seus projetos,
bem como a ampliação dos recursos financeiros e
as áreas de atuação para contemplar a execução
dos projetos do Peas.
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
3. Que se regule o acesso à água potável gratuita e
ao saneamento em todas as cidades e povos do
Mercosul.
a Duas propostas finais encaminhadas à
Plenária Final
1. Para mitigar as assimetrias da região, propomos a
criação de um mecanismo de participação social
na definição, na gestão e no acompanhamento
dos projetos do Focem, bem como a ampliação
dos recursos financeiros e as áreas de atuação
para contemplar a execução dos projetos do Peas,
nos com um mecanismo de articulação real entre a
Caixa, sociedade civil e os governos para sua consulta,
seguimento, avaliação e controle.
2. Criação de um Focem Social ou readequação da
normativa do Focem, para que sejam incluídos:
projetos de fortalecimento da identidade regional,
por meio de iniciativas de educação de base
regional e criação de centros de educação para a
integração regional; e projetos sociais, com foco
nas diretrizes do Peas e ODMs (como o acesso
à água potável gratuita e ao saneamento) que
não estejam experimentando avanços (exemplo:
gênero – representação paritária nas comissões e
órgãos do Mercosul)
79
 OFICINA

Educação
para a
Integração

Grupo Temático 5: Cooperação para o Desenvolvimento

Regional e Integração Regional
Professora sistematizadora: Tereza M. Spyer Dulci
Coordenadora: Fernanda Lapa
Palestras
Fernanda Lapa (coordenadora) abre os trabalhos da
tarde, destacando a importância do tema “Educação
para a Integração”. Apresenta-se aos palestrantes,
ressaltando que suas exposições serão centradas no
direito à educação em direitos humanos, assunto que
interessa a todos os países e, em especial, aos que
sofrem com altos índices de violência escolar, como
muitas nações latino-americanas. Antes de passar a
palavra às colegas, enfatizou a importância de se discutir
o direito à educação e à educação em direitos humanos
como um direito em si, tratando a educação em direitos
humanos no plano regional/internacional e não nacional
(tentativa de superação da lógica nacional).
1ª. Palestra
Soledad García Muñoz
Representante do Instituto
Interamericano de Derechos Humanos
- IIDH, com sede em Costa Rica e
filiais no Uruguai e em Bogotá
Representa a sede uruguaia
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
Em sua palestra, Soledad Garcia Muñoz defendeu
que a educação em direitos humanos seja uma
das principais apostas do Mercosul nos próximos
anos. Para a palestrante, a questão da pobreza
representa uma grave violação dos direitos
humanos (a América Latina, de acordo com a Cepal,
é a região mais desigual do planeta). Muñoz tratou
das políticas sociais no Mercosul, notadamente
os principais acertos em matéria de educação
em direitos humanos e as principais debilidades.
Explicou ainda que educação em direitos humanos
significa que todas as pessoas, independente de
gênero, condição econômica, social, geográfica etc
têm o direito de ter a oportunidade de saber quais
são os seus direitos: “ Sem consciência dos nossos
direitos, muito dificilmente os veremos realizados
e respeitados”. Para a palestrante, essa formação
pode ajudar muito a reduzir o índice de violência
nas escolas da América Latina. Por último, Muñoz
apresentou uma proposta curricular e metodológica
elaborada pelo IIDH, que será compartilhada com os
países do Mercosul, para que seja discutida e, talvez,
incorporada à educação formal, especialmente
entre jovens de 10 a 14 anos.
81
 2ª. Palestra
Mariana Bardisa
Representante do Impulso Argentino:
fundo de capital social vinculado ao
Ministério de Economia e Finanças
Públicas, com sede em Buenos Aires
Em sua palestra, Mariana Bardisa tratou da questão
dos direitos humanos na Argentina, a partir de sua
experiência no Impulso Argentino, com projetos cujo
público-alvo são jovens excluídos de 18 a 24 anos
sem ensino secundário, desprovidos de educação
formal e trabalho. Essa experiência de educação
popular (os jovens foram capacitados em economia
social e solidária e direitos humanos) com programas
impulsores de formação de seis meses em economia
social e solidária ajudou na inserção de quatro mil
pessoas em toda a Argentina apenas em 2012.
Bardisa afirmou que o governo argentino pós-2003
ampliou as universidades e as expandiu para outras
áreas do país que não tinham universidades públicas
gratuitas, uma vez que essas instituições estavam
concentradas nos grandes centros urbanos: “Acredito
que para poder crescer como país e como América
Latina é fundamental um projeto que tenha como
base a educação, a batalha mais difícil de todos os
povos. Só assim vamos dar o salto e sair do conceito
de pátria pequena para pátria grande”. Ademais,
outra medida importante que o governo argentino
vem tomando nesta área diz respeito a “asignación
universal por hijo”, que dá incentivo financeiro e
controle médico às famílias que tenham filhos na
escola, iniciativa que gerou grande inclusão social.
Para a palestrante, o apoio do Estado não encontra
seus objetivos se a sociedade civil não conhece a
política pública e não participa. Bardisa afirmou que o
investimento em educação, em especial em educação
sobre direitos humanos, é fundamental para que
as pessoas saibam que há ferramentas políticas e
um governo que as apoia. Acrescentou, ainda, que
somente com consciência a população poderá fazer
sua própria interpretação da realidade e enfrentar
momentos como o que a Argentina vive na briga pela
aplicação da Lei de Medios, aprovada pelo Congresso
Nacional, e que visa reduzir a concentração dos
meios de comunicação no país vizinho. Por último, a
82
palestrante defendeu a criação de uma agenda comum
de políticas educativas e usinas de políticas públicas
comuns para a educação, além de compartilhar as
políticas educativas que já estão em voga nos países
do Mercosul: “compartilhamos o sangue, as batalhas
perdidas, os sonhos”.
Metodologia
Os participantes, por volta de 35 a 40 pessoas,
foram divididos em quatro equipes, responsáveis
por apresentar ao grupo geral uma proposta, cada
equipe, ao final dos debates. Os professores Tereza
Spyer e Luciano Wexell ficaram responsáveis por fazer
os relatórios das discussões dos grupos (destacamos
abaixo, sinteticamente, essas discussões). No final,
foram apresentadas quatro propostas que, depois
das discussões gerais, foram compiladas em dois
tópicos finais que foram levados à Plenária Final do
dia seguinte.
Resumo das principais propostas do grupo do
professor Luciano Wexell
Mariana, representante do Impulso Argentino,
apresentou as seguintes propostas, avaliadas
posteriormente pelo grupo: que os processos de
revalidação de diplomas sejam menos exclusivos (não
somente pelo Celpbras/Inep); que sejam estabelecidas
medidas para facilitar trâmites de estudantes e o
intercâmbio entre as instâncias de educação formal e
informal de Espanhol, Português e Guarani.
Propostas
1. 
Criar um organismo dentro do Mercosul (com
recursos econômicos), que exerça a função
de promover políticas públicas comuns para a
educação formal e informal, e ações que unifiquem
os sistemas educativos regionais, ampliando a
presença da sociedade civil nos seus mecanismos
de consulta, seguimento, avaliação e controle.
2. 
Criar uma Secretaria Regional dentro dos
Ministérios de Educação de cada país com a
 finalidade de facilitar os trâmites burocráticos para
a admissão de estudantes e profissionais da área
de ensino formal e informal oriundos do Mercosul,
e reconhecer os certificados de idiomas dos países
do Bloco (Espanhol, Português e Guarani).
Resumo das principais propostas do grupo da
professora Tereza Spyer
Mateus (Brasil/UFGRS): necessidade de um plano
de integração em educação. Proposta: Plano
de Integração Educacional do Mercosul, com
destaque para os seguintes itens: compreender a
educação como direito universal do ser humano
e dever do Estado, educação pública, laica
gratuita e de qualidade; promover a mobilidade
acadêmica; reconhecimento de títulos e diplomas;
desenvolvimento e compartilhamento da produção
científica e tecnológica; criar parques tecnológicos
comuns; criar disciplinas comuns entre os cursos
e produção de conhecimento livre a serviço da
sociedade; contribuir para a soberania científica e
tecnológica do Bloco.
Sylvia Valdés (Argentina-CCSC). Proposta: valorizar o
pensamento latino-americano próprio, independente
da Europa e dos EUA. Pensamento latino-americano
como de Vasconcelos, Freyre e outros autores.
Guzman (Uruguai-Unila): educação pela
integração. Problema da Unila: educação brasileira.
Educação intercultural foi apresentada como
sendo uma redundância. Destacou o ponto entre
interculturalidade e multiculturalidade, de maneira
que a educação seria feita pela integração e não
integração pela educação (o título em si é um
problema). Proposta: que os projetos de integração
não sejam feitos por um único país.
Nilsen: não existe a cultura de integração latino-
americana. Não devemos só pensar a educação
superior. Proposta: devemos criar, nas capitais dos
países da América Latina, centros de educação para
a integração latino-americana (criar a consciência/
cultura para a integração). Capacitar as pessoas em
nível local para trabalhar pela integração.
Maria M. Pereira (Paraguai-Las Ramonas): existem
ainda desvantagens/diferenças muito grandes
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
entre os países da nossa região. Proposta: revisão
dos sistemas educativos que estão implantados
nos países. Educação para a cidadania. Situação
do Paraguai hoje exemplifica isso. Para que nos
estão formando? Reconhecimento dos diplomas
acadêmicos.
Adhemar S. Mineiro (Brasil-CUT/Dieese). Como
passar do marco nacional para o marco internacional?
Não reduzir o tema da integração à educação
universitária. Proposta: Conferência do Mercosul
focada na educação. Envolver atores como os
conselhos profissionais para poder avançar na
questão dos diplomas. Falta estabelecer diretrizes
mais claras dentro do Mercosul.
Adriana Monzón (Argentina-CCSC). Em Buenos
Aires, criamos uma disciplina chamada “construção
da cidadania”. Proposta: Criar uma disciplina ou algo
do tipo que trate da construção da cidadania para
construir relatos latino-americanos.
Julien Denplene (Paraguai-Unila). Já temos um
avanço com a criação do Instituto Social do Mercosul
(ISM). Devemos criar outros organismos?
Lidia/Victor (Peru): o idioma é muito importante para a
integração. Proposta: desenvolver o ensino dos idiomas.
Propostas finais
1. Convocar uma conferência regional sobre educação
para discutir diretrizes para a integração, tomando
em consideração os seguintes temas: compreender
a educação como direito universal do ser humano
e dever do Estado, educação pública, laica gratuita
e de qualidade; promover a mobilidade acadêmica;
reconhecimento de títulos e diplomas (envolver
atores como os conselhos profissionais para poder
avançar no reconhecimento); desenvolvimento
e compartilhamento da produção científica e
tecnológica; valorizar o pensamento latino-
americano próprio; criar parques tecnológicos
comuns; criar disciplinas comuns entre os cursos;
produção de conhecimento livre a serviço da
sociedade; contribuir para a soberania científica
e tecnológica do Bloco; valorizar o pensamento
latino-americano próprio; desenvolver projetos de
integração que tenham autonomia e não estejam
83
 sujeitos às legislações dos Estados nacionais; revisão vista as semelhanças regionais e globais. Para tal
dos sistemas educativos que estão implantados reformulação, estabelecer fóruns especializados
nos países (educação para a cidadania); reforma entre governo e sociedade civil organizada.
curricular do ensino básico e superior e incentivar o
ensino dos idiomas. 3. 
Criar e implementar, de forma participativa,
considerando as boas práticas do Bloco e
2. 
Coordenação das políticas públicas educacionais os trabalhos desenvolvidos pelo Instituto
nos países partes do Mercosul no marco do Programa Interamericano de Direitos Humanos (IIDH), um
Mercosul Educacional, com vistas à reformulação Plano Regional de Educação em Direitos Humanos,
dos currículos nacionais (primário, secundário e que entre diversos temas contemple: a integralidade
superior), de forma a abranger disciplinas comuns, dos direitos humanos e as perspectivas de gênero
tais como História da América Latina, Culturas e diversidade, a articulação da educação formal
Latino-Americanas, Direitos Humanos e etc, com com experiências da educação não formal, a
viés crítico e multicultural. A partir dessa reforma, revalidação de diplomas e reconhecimento de
estabelecer mudança de paradigma educacional títulos e a aproximação de currículos da educação
formal, abandonando a relação hierárquica formal entre os países.
mestre x aluno e priorizando a educação popular
e valorizando a extensão universitária popular, 4. 
Criar um organismo dentro do Mercosul (com
com ênfase nas vivências locais, sem perder de recursos econômicos), que exerça a função

84
 de promover políticas públicas comuns para a
educação formal e informal, e ações que unifiquem
os sistemas educativos regionais, ampliando a
presença da sociedade civil nos seus mecanismos
de consulta, seguimento, avaliação e controle.

5. Criar uma Secretaria Regional dentro do Ministério

de Educação de cada país, com a finalidade de
facilitar os trâmites burocráticos para a admissão
de estudantes e profissionais da área de ensino
formal e informal oriundos do Mercosul, e
reconhecer os certificados de idiomas dos países
do Bloco (Espanhol, Português e Guarani).

Duas propostas finais encaminhadas à plenária final

1. Convocar uma conferência regional sobre educação

para discutir diretrizes para a integração e um
Plano Regional de Educação em Direitos Humanos,
tomando em consideração a educação pública,
laica, gratuita e de qualidade, a integralidade dos
direitos humanos e as perspectivas de gênero e
diversidade.

2. 
Fortalecer o Mercosul Educativo, por meio da
coordenação de políticas públicas educacionais,
valorizando as vivências locais sem perder de
vista as semelhanças regionais e globais com
vistas à revalidação de diplomas, reconhecimento
de títulos, reformulação dos currículos nacionais
(primário, secundário e superior), e aproximação
de currículos para incluir disciplinas comuns, tais
como História da América Latina, Cultura Latino-
Americana e Direitos Humanos, com viés crítico e
multicultural.

X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S 85
 Debate Temático

O Ano da Juventude
no Mercosul -
Construindo um Novo
Protagonismo

Equipe Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila)

O encontro da juventude durante a Cúpula Social do
Mercosul contou com uma mesa com representantes
do Brasil, da Colômbia, da Argentina, do Paraguai
e do Uruguai. Organizada pela Secretaria-Geral
da Presidência da República, a Cúpula Social do
Mercosul fechou o encontro com o tema do Ano da
Juventude no Mercosul, de julho de 2012 a julho de
2013. Na sequência, apresentaremos os principais
temas tratados por esses representantes.
Severine Macedo (brasileira/secretária Nacional de
Juventude da SNJ) tratou do fortalecimento dos
temas relacionados à juventude dentro do Bloco,
ressaltando a participação social e as políticas
públicas para esse segmento. Para ela, as atividades
anteriores à Cúpula — 1) Juvensur, realizado em Foz
do Iguaçu (300 jovens) e 2) Curso de formação do
Cefir em Montevidéu — representaram um grande
avanço para a juventude, com elementos acumulados
nos debates, tais como a constatação do papel da
juventude na região e no mundo, protagonista de
mudanças e de transformações.
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
Segundo a palestrante, os jovens são o grupo social
mais impactado pelos problemas, em especial os
problemas gerados pelo neoliberalismo da década
de 1990. As políticas públicas para os jovens na
região aumentaram muito, mas ainda não são o
suficiente. Para exemplificar, trata do caso brasileiro.
Avanços: Conselho Nacional de Juventude, Prouni,
cotas nas universidades públicas etc. Problemas/
Desafios: precarização do trabalho, violência,
situação dos jovens rurais (migração), etc. Severine
criticou, ainda, a invisibilidade que os jovens tinham
dentro dos governos do Mercosul. Porém, para
ela, a mudança para os governos progressistas na
região ampliou a inclusão social e a emancipação
da juventude em função das novas agendas dos
governos e pela mobilização dos próprios jovens: “os
governos precisam entender os jovens como sujeitos
estratégicos”.
Sebastian Galo (colombiano/representante da
juventude no Parlamento Juvenil do Mercosul)
fez um histórico da participação estudantil no
87
 Parlamento Juvenil do Mercosul, tratando do primeiro
grupo que surgiu em 2010 (cujos representantes
ficarão no cargo até 2014). Relatou ainda o papel
desempenhado pelos estudantes, destacando os
avanços de reconhecimento da juventude no Bloco.
Com respeito aos obstáculos, afirmou que existe falta
de interesse entre os jovens dos países do Bloco e de
alguns Estados nacionais.
Federico Montero (argentino/representante da Casa
Pátria Grande – Presidente Néstor Carlos Kirchner)
começou sua intervenção apresentando um vídeo
com ações do ex-presidente argentino nas relações
com diferentes países da região. Ele propugnou
“um modelo de desenvolvimento alternativo ao
neoliberalismo, que garanta a justiça social e a
soberania e amplie a democracia”, além de propor
maior participação dos jovens nas mudanças políticas:
“A presidente Cristina Kirchner diz que o melhor lugar
para a juventude é a política, e, no ano de juventude,
é onde vamos estar”. Afirmou, ainda, que se deve
discutir o que os jovens devem fazer pela integração.
Para Montero, mesmo que tenhamos deixado para
88
trás um modelo neoliberal, devemos avançar na
discussão sobre o modelo de desenvolvimento que
queremos para a região. Os movimentos sociais
devem contribuir mais com o novo modelo de
desenvolvimento, ou seja, é essencial aumentar a
participação política dos movimentos sociais, com
destaque para a participação da juventude.
Aldo Gimenez (paraguaio/representante do Conselho
Permanente de Organizações Sociais e Populares do
Paraguai) começou sua fala relatando o processo
que levou ao golpe no Paraguai. Ressaltou que,
apesar de seu governo estar suspenso do Mercosul,
o povo paraguaio está presente na Cúpula Social
representando o país: “Não podemos implementar
um Estado de democracia com um governo golpista.
Não sabemos se haverá eleições sem fraudes em 2013
com o governo de Federico Franco”. Ressaltou, ainda,
que o Paraguai enfrenta muitos problemas além do
golpe de Estado, tais como: entrega da soberania
alimentar a Monsanto; papel dos EUA no Paraguai
e desrespeito aos direitos humanos dos indígenas.
Terminou sua fala afirmando que a integração deve
ser do povo para o povo, e não feita pelos governos
para o povo.
Manuela Braga (presidenta da União dos Estudantes
Secundaristas do Brasil e representante do Conselho
Nacional de Juventude - Conjuve) iniciou sua fala
com uma saudação aos estudantes venezuelanos,
bem como à reeleição do presidente Hugo Chávez.
Repudiou o golpe no Paraguai, afirmando que o
golpe é um “ símbolo do retrocesso da democracia,
em um momento que conseguimos avançar em
muitos outros países”. Ao falar do Brasil, comemorou
a aprovação da destinação de 100% dos royalties
futuros do petróleo para a educação brasileira e
pediu o reconhecimento dos jovens como um fator
estratégico para o desenvolvimento do Brasil e da
América Latina. Sobre os desafios, afirmou que falta
participação da juventude nos fóruns do Mercosul.
Para ela, deve-se ampliar os fóruns de participação
da sociedade civil no Mercosul. Segundo Braga,
o Mercosul Educativo não tem a participação
da juventude. È necessário que se discuta a
mobilidade, o reconhecimento de títulos, a troca de
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
conhecimento na região etc. Falta, ainda, garantir
a participação institucionalizada da sociedade civil
e defender a mobilidade acadêmica regional: “A
juventude precisa participar mais dentro dos fóruns
que temos. Porque estamos apenas engatinhando
na participação da juventude na definição de
políticas públicas”.
Martín Pereira (uruguaio/representante do movimento
sindical do Uruguai), o último representante da
juventude, criticou o neoliberalismo e o consumismo
que vêm imperando desde a década de 1990. No caso
uruguaio, destacou avanços como: a legalização do
aborto, a luta contra o narcotráfico, o casamento gay
etc. Com relação aos problemas, enfatizou o trabalho
precário (em especial das mulheres que ganham três
vezes menos que os homens). Por último, propôs o
resgate do papel da juventude nas mudanças pelas
quais a América Latina está passando e criticou
o sistema capitalista, que vê a juventude como
mercadoria.
89
 Plenária Final

Equipe Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila)

Participantes da mesa organizações. Condena o golpe no Paraguai,
distinguindo a sociedade daqueles que usurparam o
Rosane Bertotti (coordenadora, Brasil) governo. Comenta a necessidade de se preparar para
Mario Volpi (Argentina) a próxima Cúpula, em Montevidéu.
Fatima Rallo (Paraguai)
Enrique Amestoy (Uruguai) Fátima Rallo (Paraguai) lamenta o golpe em seu
Elizabeth Tortosa (Venezuela) país. Pede comemorar o arquiteto Oscar Niemeyer.
Agradece ao Brasil a hospitalidade. Argumenta que
Logo no início, representantes de organizações os movimentos sociais são o motor da integração.
indígenas e sindicais da Bolívia solicitam ingresso
na Cúpula Social do Mercosul. Seguem comentários Rosane Bertoti (coordenadora, Brasil) agradece aos
sobre a participação dos movimentos sociais trabalhadores, comenta a participação no Fórum
(Confederación Nacional de Juntas Vecinales, Social Mundial Palestina Livre, em Porto Alegre.
Conajuve) em processos políticos atuais. Declara Apresenta a leitura das vinte propostas derivadas
apoio ao presidente Evo Morales e apresenta a dos grupos temáticos. Inicia-se o debate sobre o
organização Juana Azurduy, boliviana. Comenta documento e se apresentam propostas de correção
a importância da participação no Bloco pela ou complemento, a saber:
solidariedade e interculturalidade inerente à região.
Destaca a participação das mulheres nos espaços • Assinalou-se que falta a ideia de criar oficinas
políticos institucionais. Assinala a importância do permanentes de educação popular para o
processo de mudança como processo para toda a desenvolvimento democrático participativo.
região, no marco de uma crítica ao capitalismo. •Propôs-se agregar o orçamento participativo (a
coordenadora informou que não se poderia incluir
Elizabeth Tortosa (Venezuela) faz referência à recomendações não debatidas nos grupos temáticos).
necessidade de construir o socialismo na Pátria • Apresentou-se a proposta de mudar o conceito
Grande de Bolívar. Comenta o que aprendeu pelo que de vulnerabilidades por pessoas em processos de
escutou nos grupos temáticos. Leva “a experiência” e vulnerabilidade.
agradece ao povo brasileiro. • Propôs-se a inclusão da criação de Fundos Sociais
para combater a pobreza.
Mario Volpi (Argentina), que representa o centro
de ex-combatentes das Ilhas Malvinas, agradece o Depois da leitura e debate do documento com as
apoio do governo brasileiro. Assinala a importância vinte propostas, deu-se a leitura da Declaração
da reivindicação das Ilhas. Propõe a desmilitarização Final. Ambos foram aprovados por aclamação. As
total do Atlântico Sul, o desmantelamento de bases Propostas e Declaração Final foram colocadas na
militares e a soberania das Ilhas. Conclui com a leitura sítio eletrônico da Cúpula (http://socialMercosul.
de um poema. org/). Encerra-se a plenária com os agradecimentos
por parte dos membros da mesa.
Enrique Amestoy (Uruguai) saúda a Venezuela e
propõe não depender dos governos, senão das

X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S 91
 Encerramento

Equipe Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila)

Foi exibido um vídeo na abertura – O Mercosul É Maximilien Arveláiz
FEITO DE GENTE – e feita uma homenagem a Oscar Embaixador (Venezuela)
Niemeyer (1907 – 2012). A seguir, a mestre de cerimônia
Oscar Laborde
destacou que, nesta noite, celebra-se o sucesso da
Coordenador Nacional do
Cúpula Social, que contou com transmissão ao vivo
“Somos Mercosur” (Argentina)
de sua programação, chegando a 65.980 acessos na
internet ao longo dos dias em que se realizou a Cúpula Federico Gomensoro

e o seminário que a antecedeu. Por fim, enfatizou a Secretário Executivo do Centro de Formação

realização de oficinas temáticas sobre as propostas para a Integração Regional (Uruguai)

que serão entregues aos chefes de Estado. Fatima Rallo

Representante da delegação paraguaia (Paraguai)
Para compor a mesa, foram convidadas as
Marcia Campos
seguintes autoridades presentes e representantes
Presidenta da Federação Democrática
da sociedade civil:
Internacional de Mulheres (Brasil)

Gilberto Carvalho Carlos Eduardo Gabas

Ministro-Chefe da Secretaria-Geral da Secretário Executivo do Ministério da
Presidência da República Previdência Social (Brasil)

Ivan Ramalho Anaia Betarte

Alto Representante do Mercosul Representante do Parlamento
Juvenil do Mercosul

X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S 93
 Gilberto Carvalho
O ministro agradece a todos os presentes, aos
quais se refere carinhosamente como “queridas
e queridos amigos”. Saúda a delegação boliviana,
que se juntou aos demais participantes ao final dos
trabalhos, além de todos que se empenharam para a
realização daquele evento, funcionários da empresa
organizadora, do Museu Nacional e patrocinadores
como a Caixa Econômica Federal e a Fundação Banco
do Brasil. Por fim, estende seus agradecimentos
à Unila, na figura de seu reitor pro tempore ,
Helgio Trindade. Pede desculpas pelas falhas e
possíveis problemas na organização e assegura
que a organização das Cúpulas é um processo em
construção. Ao ter acesso ao documento com as vinte
propostas que seriam entregues aos presidentes
dos países, afirma orgulhar-se da sociedade civil,
com sua ação consistente e consciente. Afirma que
o Mercosul é feito de gente e que isso tem que ser
nossa consigna e nossa luta. Somos cidadãos latino-
americanos e desejamos uma pátria livre em que
todos os cidadãos sejam respeitados.
Ivan Ramalho
Ramalho saúda todas as autoridades governamentais
presentes e representantes da sociedade civil.
Reafirma que acompanhou toda a formação do
Mercosul e que, para além de áreas já consolidadas
como a de investimentos e comércio, esse projeto,
que fortalece as interações sociais, deve ser
ampliado.
Maximilien Arveláiz
O embaixador reconhece o fato de ter poucos
companheiros venezuelanos na Cúpula, tendo em vista
a realização de eleições em duas semanas em seu país.
Contudo, assegura que, no próximo evento, serão maioria.
Carlos Eduardo Gabas
Fazendo menção ao período em que o PT está na
Presidência da República, afirma que desde 2003
percebe-se que economicamente o Brasil vai bem,
mas socialmente ainda há problemas a enfrentar.
Salienta o fato de terem sido orientados pelo ex-
presidente Lula e pela presidenta Dilma a valorizar o
94
trabalhador e promover o respeito aos seus direitos.
Relembra a conquista do direito à aposentadoria
como uma garantia para cidadãos, através do Acordo
Previdenciário do Mercosul.
Oscar Laborde
O representante argentino defende que a Cúpula Social
seja parte da Cúpula dos Chefes de Estado. Ele acredita
que estejamos fazendo um caminho popular e latino-
americano e reivindica mais e melhor participação
cidadã. Reconhece serem consideráveis esses esforços,
e que é importante nos encontrarmos uma vez por
semestre. Releva, ainda, o debate desenvolvido sem,
contudo, colocar em questionamento a unidade que
já temos. Por fim, saúda a entrada da Venezuela e se
alegra com a possibilidade de entrada da Bolívia e do
Equador. Segundo ele, estamos caminhando para a
integração solidária e social.
Federico Gomensoro
Gomensoro mostra-se solidário ao povo brasileiro
pela perda de Niemeyer, arquiteto e comunista
como poucos, que em tão longa vida criou e propôs
coisas maravilhosas. Ao referir-se à mudança da
Presidência Pro Tempore do Mercosul, lembra que, no
dia seguinte, o Uruguai a assumirá, mas é impossível
não pensar que quem deveria estar ali é o Paraguai
e seu presidente eleito democraticamente. Refere-se
aos acontecimentos políticos no país vizinho como
um golpe duro ao povo paraguaio, posto que não há
lugar para ditaduras no Mercosul.
Destaca a importância da centralidade da Unidade
de Participação Social na organização das Cúpulas.
Defende que o Plano Estratégico de Ação Social é
uma das decisões mais importantes do Mercosul
e que não seria possível implementá-lo sem a
participação da sociedade civil. Sobre o Instituto
Social do Mercosul, afirma que é algo fundamental e
que muitas vezes perdemos esses espaços por falta
de investimentos. Cada país tem sua tradição e temos
que respeitar as diferentes visões. As organizações
sociais são chave e referência para o avanço de
nossos programas. Nossos países não alcançarão o
desenvolvimento fora do Mercosul. Quando falamos
de imperialismo, sempre devemos pensar na tentativa
de nos balcanizarmos. Para ele, o imperialismo não
passa apenas pela política, devemos nos tornar
independentes de multinacionais, garantindo mais
integração e mais Mercosul. Devemos, assim,
alcançar nossa segunda e definitiva independência.
Agradece aos companheiros de Brasil. E conclui: viva
o Uruguai e a Pátria Grande!
Fatima Rallo
Inicia sua fala garantindo que os paraguaios ali presentes
não eram representantes do governo golpista, mas do
povo do Paraguai. Afirma que valoriza este espaço do
Mercosul para melhorar as condições de vida digna
para a América Latina. Reconhece que solicitaram ao
Instituto Social do Mercosul formas de participar da
Cúpula Social. Conclui: obrigada aos pontos focais
por nos fazer sentir parte da Pátria Grande, tendo em
vista que estamos resistindo a esse governo golpista,
esperando a volta da normalidade democrática.
Anaia Betarte
Segundo a representante da juventude, o Parlamento
Juvenil preocupa-se com a inclusão educativa,
com o acesso à educação, defendendo que todas
as universidades devem ser públicas, gratuitas e
de qualidade. Referindo-se às demandas surgidas
nos dias de debate que ocorreram nos eventos
paralelos da Cúpula, defende a participação cidadã,
a democracia, os direitos humanos, a saúde pública
universal, a integração regional, os intercâmbios
culturais para países da região e o fortalecimento do
conhecimento sobre a América Latina nas disciplinas
de Línguas e Humanidades. Estes seriam elementos
para criarmos um verdadeiro Mercosul. Ao final de sua
fala, entrega o documento com os pontos propostos
pela plenária do encontro da juventude ao ministro
Gilberto Carvalho.
Márcia Campos
Agradece à presidenta Dilma, ao ministro Gilberto Carvalho
e à sua equipe de pessoas jovens, todos construindo um
espaço para dar voz e cara aos movimentos sociais e
populares do Mercosul. Homenageia Oscar Niemeyer por
sua origem comunista e por ter mostrado a vários povos
a sua obra. Saúda o Alto Representante do Mercosul,
Ivan Ramalho, e a plenária, que mostrou com altivez o
Mercosul que queremos.
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
Reforça seu argumento ao afirmar que não existe
Mercosul sem participação popular. Afirma que
o Mercosul precisa de nossa participação, pois
os movimentos sociais são os instrumentos da
transformação: “nós somos a força do Mercosul”.
Para ela, devemos saudar a força do Mercosul, com a
presença das mulheres e da juventude, que fizeram a
diferença na Cúpula Social.
Agradece aos grupos focais de todos os países
que enviaram seus representantes e faz referência
ao povo do Paraguai. Em sua opinião, a Bolívia não
precisa ser convidada, já que ela é a cara do Mercosul:
chegou e aqui ficará. Estende seus cumprimentos ao
Equador: a cara do Mercosul é a cara dos povos da
região. Destaca o papel dos movimentos sociais em
debates acalorados, profundos e compromissados,
contribuindo para a construção de um caminho
fraterno, e de um Mercosul com a cara dos povos
da região. Diz que a altiva participação mostra aos
governos os reclamos dos seus povos. Prossegue
versando sobre pressões que considera serem
imperialistas e que encontraram resistência nos povos
da região. Faz referência à vitória do povo palestino:
“devemos garantir a suspensão dos acordos com
Israel”. Relembra a questão das Malvinas, afirmando
que são argentinas: aqui corre o sangue de todos os
povos dessa região. Após essas palavras, entregou
ao ministro Gilberto Carvalho o documento final com
os pontos a serem entregues aos chefes de Estado.
Gilberto Carvalho
O Ministro convida para ato final de homenagem
ao arquiteto Oscar Niemeyer, afirmando que houve
um tempo em que estávamos chorando nossos
mortos e que hoje celebramos a democracia.
Ao cumprimentar os jovens presentes, propõe a
realização de uma chamada simbólica para resgatar
a presença de figuras históricas que, como Oscar
Niemeyer, não estão mais entre nós, a maioria
vítimas das ditaduras e das lutas pela independência
na região. Foram citadas várias figuras históricas,
dentre as quais José Marti, Simón Bolívar, Ernesto
Che Guevara, Honestino Guimarães, Zumbi dos
Palmares e Salvador Allende.
95
 Declaração da
XIV Cúpula Social
do Mercosul
Representantes dos movimentos sociais e populares
da região, convocados pelos governos dos Estados
partes, associados e observadores do Mercosul no
marco do Programa Somos Mercosul, queremos
expressar nesta Declaração o consenso alcançado
pelas delegações presentes, enfatizando
necessidade de fortalecimento da agenda social e da
participação cidadã no Mercosul.
Surpreendidos pela notícia do falecimento
arquiteto Oscar Niemeyer, e reunidos em Brasília,
cidade que ele projetou e tanto amou, homenageamos
ele nesta declaração, inspirados por seu enorme
legado arquitetônico e cultural, sobretudo, pelos
valores de justiça social, igualdade e solidariedade
entre os seres humanos que marcaram sua vida e
obra.
1. A recente quebra do processo democrático no
Paraguai, por meio do golpe parlamentar contra
o legítimo governo eleito, mostra a fragilidade da
construção das democracias emergentes que na
região já vivenciaram nas últimas décadas diversos
momentos de corte institucional. Queremos
neste sentido reiterar o repudio ao rito sumário a
que foi submetido o presidente Fernando Lugo,
democraticamente eleito, e a sua deposição
sem direito de defesa, situação que resultou na
suspensão do Paraguai do Mercosul, atendendo à
Cláusula Democrática do Bloco, numa medida que
consideramos correta e que apoiamos. Esta sanção
política se aplica somente aos representantes do
Estado Paraguaio e não a sua sociedade civil, que
participa plenamente da Cúpula Social.
2. Por sua vez, saudamos a incorporação por muito
tempo adiada da Venezuela que irá trazer sua valiosa
contribuição ao processo de integração regional,
tão necessário em época de aprofundamento da
crise global que se estende desde 2008. As recentes
eleições na Venezuela, com uma massiva participação
popular, reforçaram ainda mais as convicções
democráticas desse país que ora se incorpora ao
Mercosul.
Assim, a Plenária da Cúpula Social apoia não só
a plena inclusão da Venezuela como também da
Bolívia e do Equador ao Bloco. Da mesma forma,
queremos ver prontamente o retorno do Paraguai ao
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
seio do Mercosul, com a retomada de seu caminho
democrático em eleições livres e sem ceder às
pressões internas e externas para assinar acordos
de livre comércio nem admitir a instalação de bases
militares estadunidenses no seu território como vem
a sendo especulado pela imprensa.
3. Concordamos que a dimensão econômica e
comercial deve se pautar no aperfeiçoamento da
do participação social, trabalhista, educativa, ambiental
e cultural da integração regional, superando as
receitas neoliberais que, ainda hegemônicas, têm-
se fortalecido com a crise pela atuação global das
Instituições Financeiras Multilaterais e dos países
centrais. Essas são políticas ainda presentes em forma
cada dia mais agressiva, como é o caso dos fundos
especulativos, e com novos formatos de tratados
de investimentos e de associação, ameaçando as
economias emergentes e periféricas que continuam
buscando manter seu crescimento.
Nesse sentido, nos preocupa o avanço das
negociações do Bloco com a União Europeia,
especialmente em temas de grande sensibilidade para
nossos países, como compras de governo e matérias
normativas e, por isto, reiteramos a necessidade de
maior transparência nesse processo negociador.
Alertamos para que este acordo não venha reproduzir
as negociações nos padrões da Alca.
4. Ratificamos, no marco da soberania nacional,
do multilateralismo e da defesa da paz e da justiça
social, a importância de fortalecer e ampliar o
Mercosul, em articulação com os diversos processos
de integração que estão se desenvolvendo na região,
particularmente na América do Sul. E, ao mesmo
tempo, em que se fortalecem mecanismos novos
de integração financeira regional, como o Banco do
Sul e o Fundo de Reservas do Sul, acreditamos na
importância de buscar posições comuns da região
no G20, na OMC e no sistema ONU, entre outros,
que promovam uma transformação no sentido de
democratizar o poder global assimétrico. Propomos
impulsionar uma profunda mudança no sistema
financeiro global, de modo a inibir, entre outros, a
especulação desenfreada dos preços dos alimentos e
das commodities, criminalizar a lavagem de dinheiro
e adotar medidas efetivas para por fim ao sigilo
absoluto de jurisdições nos paraísos fiscais.
97
 5. Acreditamos no Mercosul como um processo que
responda às expectativas de mudanças nas condições
de vida e de trabalho de nossos povos, no sentido de
transformar o modelo de desenvolvimento primário-
exportador ainda vigente em alguns países, que
agrava a degradação ambiental e da biodiversidade
e aprofunda a violência no campo e nas cidades,
promovendo a exclusão social.
Instamos a promover o desenvolvimento industrial
regional para atender às necessidades de nossos
povos, à complementação entre os países e sub-
regiões do continente, tendo em conta o conceito de
desenvolvimento sustentável e as especificidades das
Micro, Pequenas e Médias Empresas.
6. Assim mesmo, defendemos a soberania alimentar
e nutricional, cujos princípios articulam políticas de
autonomia produtiva baseadas nas necessidades
nacionais e regionais dos povos, e não subordinadas
às demandas do mercado mundial, comandado pelas
grandes corporações transnacionais. Resulta urgente
implementar nos diversos países reformas agrárias
estruturadas na soberania alimentar e territorial
dos povos indígenas, comunidades tradicionais,
camponeses e da agricultura familiar.
Para nós, a integração dos povos inclui considerar
as diferenças entre eles como expressão da
diversidade cultural, ao mesmo tempo em que temos
o desafio de conquistar melhores condições de vida
para todos e todas, através do desenvolvimento
regional integrado, da complementaridade, e da
solidariedade mútua.
7. Os processos de integração devem garantir a
plena cidadania no Mercosul e a livre circulação
de trabalhadores e trabalhadoras, construindo um
marco jurídico de proteção trabalhista que eleve os
padrões atuais na região e garanta a plena liberdade
de organização e de negociação coletiva, bem como
a atualização e aperfeiçoamento da Declaração
Sociolaboral e a garantia de instrumentos para sua
aplicação. Da mesma forma é fundamental tomar
realidade o Observatório do Mercado de Trabalho
do Mercosul. Ao mesmo tempo, garantir o direito
das pessoas a não migrar como também todos os
direitos dos e das migrantes. A competitividade
baseada no trabalho escravo ou na sobre-exploração
98
do trabalho de migrantes mantidos na ilegalidade
não pode ser tolerada.
Da mesma forma, rechaçamos todas as maneiras
de discriminação de gênero, raça, etnia, orientação
sexual, crenças ou religiões, ideologias, origem,
diferenças físicas ou qualquer outra distinção que
menospreze os direitos das pessoas e limite o
exercício da sua cidadania. O compromisso com os
Direitos Humanos é fundamental e seu cumprimento
e proteção uma prioridade.
A integração que queremos requer o reconhecimento
da diversidade de sujeitos socioculturais existentes
e dos territórios dos povos e nações indígenas, que
inclusive muitas vezes ultrapassam as fronteiras dos
Estados nacionais. Neste momento em particular,
exigimos a apuração do massacre de Curuguaty e
o fim da perseguição e o aniquilamento de povos
indígenas, em particular do povo Guarani Kaiowá.
Exigimos também políticas públicas universais e
compatíveis entre os países do Bloco que respondam
efetivamente às necessidades de homens e mulheres
de acesso ao trabalho, à educação, a saúde, a serviços
públicos essenciais, e ao exercício pleno dos direitos
econômicos, sociais, políticos, culturais e ambientais.
O combate às assimetrias não pode se esgotar em
medidas compensatórias, mas deve contribuir a
resolver os problemas estruturais que impedem a
autonomia e o bem-estar de nossos povos.
Por sua vez, o Mercosul deve incorporar e implementar
uma política para as Micro, Pequenas e Médias
Empresas e os empreendimentos da Economia
Solidária como eixo estratégico para a ampliação e
intensificação da integração sócio-produtiva num
mercado regional ampliado, que estimule a criação de
coletivos de produção de Micro, Pequenas e Médias
Empresas . Além disso, deve-se promover ações para
inclusão laboral dos jovens.
8. Entendemos que não há liberdade de expressão
sem a democratização dos meios de comunicação.
Neste sentido, enfatizamos a necessidade de se
garantir a participação dos movimentos sociais
organizados no debate público, elaboração,
implementação e controle social posterior
de novas leis de comunicação que reflitam a
diversidade social do nosso continente, que exige a
democratização da palavra, a pluralidade de vozes,
e a extinção dos monopólios da comunicação,
visto que a comunicação é um direito e não uma
simples mercadoria. Ao mesmo tempo, o Estado
deve garantir a democratização de uso das novas
tecnologias de informação e comunicação em favor
de uma democracia substantiva.
9. Sabemos que a única forma de aprofundamento
dos processos democráticos é através
participação efetiva dos movimentos sociais e
populares que, no caso da integração regional,
devem ampliar a cada dia sua atuação no processo
decisório do Mercosul.
Exortamos aos governantes a garantir a transparência
e acesso às informações nas negociações
Mercosul e a fortalecer os espaços de diálogo e
interação entre povos e governos, estimulando os
mecanismos de democracia participativa e controle
social. Celebramos a institucionalização das Cúpulas
Sociais aprovadas pelo Mercosul e propomos o
fortalecimento da participação das organizações
sociais e dos movimentos populares, em diálogo com
os governos, garantindo as condições necessárias
para viabilizar a presença dos movimentos sociais e
populares nesses espaços.
Instamos ao imediato funcionamento da Unidade de
Participação Social do Mercosul, criada pelo Conselho
do Mercado Comum em 2010.
Também chamamos os governos a implementarem
as diretrizes do Plano Estratégico de Ação Social
do Mercosul (Peas) por meio do fortalecimento do
Instituto Social do Mercosul, e também o Estatuto da
Cidadania do Mercosul.
10. Instamos os governos a se comprometerem com
a harmonização das legislações vigentes e a ampla
difusão de acordos que favoreçam a integração,
como, por exemplo, os Acordos de Seguridade
Social ou de Residência para nacionais do bloco, e o
reconhecimento dos diplomas acadêmicos. Exigimos,
também, que os países cumpram com o processo
de eleição por voto direto dos/as representantes
no Parlamento do Mercosul, incluindo a paridade de
gênero.
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
11. Reivindicamos a legítima soberania argentina sobre
as Ilhas Malvinas, Georgias do Sul e Sandwich do Sul,
e os espaços marítimos e insulares correspondentes.
Exigimos o cumprimento das Resoluções e das
Declarações das Nações Unidas sobre a questão
das Malvinas e do Atlântico Sul como zona de paz e
cooperação. Exigimos, ainda, o desmantelamento de
todas as bases militares estrangeiras na região que
ameaçam a segurança e a soberania de nossos povos.
da 12. Saudamos o Estado Palestino pela conquista do
status de Estado Observador nas Nações Unidas,
como primeiro passo para o seu reconhecimento e
a autodeterminação do povo palestino. Ao mesmo
tempo, propomos a suspensão do acordo entre o
Mercosul e Israel até que cessem as atrocidades
cometidas contra a Palestina e o processo de paz
do seja restabelecido.
13. Exigimos aos Estados Partes o compromisso
solidário e a contribuição técnico-científica para
o povo irmão do Haiti, em substituição das tropas
militares presentes nesse país.
14. Finalmente, as organizações e movimentos
sociais do Mercosul, reunidos em Brasília, ratificam
a vontade de continuar impulsionando a integração
dos povos: por uma verdadeira integração que nos
permita recuperar a soberania plena a partir e para
os povos do Sul.
A XIV Cúpula Social felicita o Brasil pela organização
deste encontro em sua Capital Federal e agradece a
hospitalidade e carinho recebido.
Frente à crise global, reforcemos a integração
regional dos Povos!
99
20 Propostas para o
Aprofundamento
da Democracia
e da Participação
Social no Mercosul
Preâmbulo
Nós, os movimentos e organizações da sociedade
civil do Mercosul reunidos em Brasília, de 4 a 6 de
dezembro de 2012, na XIV Cúpula Social do Mercosul,
para debater o tema da cidadania e participação
social, exigimos a adoção, pelos Chefes de Estado
dos países membros, das seguintes propostas:
Direito à memória, à verdade e à justiça
1. Que os Estados partes fortaleçam o Instituto de
Políticas Públicas de Direitos Humanos do Mercosul
- IPPDDHHM por meio da destinação de recursos
materiais e humanos para seu efetivo funcionamento,
fortalecendo os planos de trabalhos regionais das
Secretarias de Direitos Humanos dos países do
Mercosul e promovendo a articulação e a divulgação
educacional e pública dos trabalhos das Comissões
de Verdade e Justiça.
2. A implementação do Plano Estratégico de Ação Social
do Mercosul – Peas, adotando metas e assegurando
orçamento necessário para a prevenção das múltiplas
violações de direitos humanos, com ênfase nos povos
indígenas, migrantes, camponeses, afrodescendentes,
jovens, crianças, mulheres e a diversidade de pessoas
e coletivos vulneráveis em seus direitos.
Migração e trabalho decente
3. A implementação imediata do Estatuto da
Cidadania do Mercosul, que deve ser também um
marco que provoque a harmonização das legislações
migratórias na região para se expandir direitos já
existentes em um país aos demais países. Nesse
sentido, deve-se realizar sua ampla divulgação,
promover o trabalho decente, viabilizar a revalidação
de diplomas, garantir a igualdade de gênero e o
direito ao voto pelos imigrantes, bem como à saúde,
educação, entre outros direitos. Nossa defesa é da
cidadania universal para os imigrantes que residem
no Mercosul, vindos inclusive de outros continentes.
4. Políticas públicas direcionadas à construção de
redes de informação e acompanhamento da situação
dos direitos dos imigrantes nos países do Mercosul,
com particular atenção às realidades de partida,
trânsito e destinos dos fluxos migratórios.
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S
Mecanismos de participação social no Mercosul
5. Implementar a Unidade de Participação Social
do Mercosul, responsável pelo acompanhamento
das decisões das Cúpulas Sociais, com respeito
a diversidade das organizações que lutam contra
todas as formas de desigualdade e discriminação.
Assim, institucionalizando uma participação real
das organizações sociais, que garanta a incidência
nos espaços de decisão, o acesso à informação, o
financiamento e, colocar em prática, mecanismos que
permitam o trabalho entre as cúpulas.
6. Efetivar os espaços de representação e participação
já existentes, como o Parlasul, realizando eleições
diretas em todos os Estados parte, e, regulamentar
espaços de participação direta nos diferentes
fóruns temáticos do Mercosul, de forma a garantir
que as demandas da sociedade civil recebam
encaminhamento dos órgãos decisórios.
A Cúpula Social que queremos
7. Fortalecer e celebrar a institucionalização das
Cúpulas Sociais, trabalhando fortemente para dar um
salto de qualidade na representação e participação
até aqui alcançada. Nesse sentido, construir mesas
permanentes de cada eixo temático que funcionem
entre as Cúpulas para seguimento, avaliação e análise
pré e pós-Cúpula.
8. Formar uma coordenação permanente das
organizações sociais para realizar o seguimento e
avaliação do Peas.
Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional
9. Criar no âmbito do Mercosul uma política regional
de agricultura familiar sustentável e agroecológica,
considerando modelos de produção sinérgicos entre
o conhecimento indígena, tradicional e tecnológico,
que respeite o uso e os costumes sociais, valorizando
as sementes crioulas.
10. Que a soberania e segurança alimentar e
nutricional sejam parte das políticas de regulação
de cada Estado, tendo como base um plano regional
que, entre outros pontos, fortaleça o Mercosul.
101
 Comércio Justo e Economia Solidária
11. Constituir uma plataforma de dados e sistematização
de Tecnologias Sociais para potencializar
conhecimentos e saberes dos povos originários
e das comunidades, assim como das práticas de
comercio justo e economia solidária, permitindo criar
mecanismos de certificação destes saberes e práticas
de desenvolvimento. A criação do prêmio Mercosul de
Tecnologia Social (tendo como referência o prêmio
Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social) irá
contribuir para o fortalecimento e/ou criação de
espaços e redes em uma perspectiva inclusiva e para
o fomento à formação de multiplicadores regionais a
partir da educação.
12. Instituir o livre trânsito dos produtos e serviços
da economia social, solidária e popular no Mercosul.
Identidade Cultural Sul-Americana
13. Promover políticas públicas de maior integração
no campo da cultura e educação por meio da adoção
do ensino das línguas portuguesa e espanhola nas
escolas, fortalecimento do guarani e valorização das
demais línguas dos povos originários; de uma política
ativa de tradução de literatura, do intercambio de
estudantes, da intensificação das trocas de ações
culturais e fortalecimento das cadeias produtivas
culturais.
14. Promover a democratização dos meios de
comunicação e ampliar o alcance da Telesur e outras
iniciativas regionais que reforcem os mecanismos de
comunicação popular.
Democratização da Comunicação e Cultura Digital
15. Elaborar e/ou apoiar as leis de democratização
da comunicação que garantam o direito a palavra, o
acesso, a pluralidade e diversidade, e a liberdade de
expressão, a exemplo da lei de meios de comunicação
da Argentina, considerando a realidade de cada país.
16. Defender um marco civil da internet que garanta
a neutralidade da rede e a liberdade de expressão;
e construir um instituto de tecnologia social do
Mercosul.
102
PEAS, FOCEM e ODM: cooperação para o
desenvolvimento regional
os 17. Para mitigar as assimetrias da região, criar um
mecanismo de participação social que defina,
acompanhe e administre os projetos do Focem, bem
como ampliar os recursos financeiros e as áreas de
atuação do Fundo com o objetivo de contemplar
a execução dos projetos do Peas. Dessa forma, o
Focem será um mecanismo de articulação real entre
a sociedade civil e os governos para sua consulta,
seguimento, avaliação e controle.
18. Criação de um Focem-Social ou readequação
da normativa do Focem para que sejam incluídos:
projetos de fortalecimento da identidade regional
por meio de iniciativas de educação de base regional
e criação de centros de educação para a integração
regional; e projetos sociais, com foco nas diretrizes do
Peas e ODMs (como o acesso à água potável gratuita
e ao saneamento) que não estejam experimentando
avanços (exemplo: gênero – representação paritária
nas comissões e órgãos do Mercosul)
Integração pela educação
19. Convocar uma conferência regional sobre educação
para discutir diretrizes para a integração e um Plano
Regional de Educação em Direitos Humanos, tomando
em consideração a educação pública, laica, gratuita e
de qualidade, a integralidade dos direitos humanos e
as perspectivas de gênero e diversidade.
20. Fortalecer o Mercosul Educativo por meio da
coordenação de políticas públicas educacionais,
valorizando as vivências locais sem perder de vista
as semelhanças regionais e globais com vistas a
revalidação de diplomas, reconhecimento de títulos,
a reformulação dos currículos nacionais (primário,
secundário e superior), e a aproximação de currículos
para incluir disciplinas comuns tais como História da
AL, Culturas Latino-Americanas e Direitos Humanos,
com viés crítico e multicultural.
X I V C ú p u l a S o ci a l d o M e r c o s u l : D e b a t e s e PROPO S TA S 103
Esta obra foi impressa pela Imprensa Nacional em julho de 2013.

SIG, Quadra 6, lote 800, 70610-460, Brasília-DF

Tiragem: 600 exemplares.

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