História da Cultura e das Artes I

Profª Marta Esteves

OS PRIMEIROS TEMPOS DO CRISTIANISMO

 A cultura ocidental começa com o Cristianismo e para se compreender a música ocidental é
necessário compreender o Cristianismo.

Origem do Cristianismo

 O Cristianismo nasce de um ramo do Judaísmo. Cristo era Judeu assim como todos os que o
acompanharam.
 O responsável pela expansão da igreja foi Paulo de Tarso ou S. Paulo (9 d.C.- 64 d.C.) que se
converteu. Era sacerdote e um homem culto que falava grego e aramaico por ter sido educado nas duas
culturas – grega e judaica. Foi o responsável pela divulgação e pela cativação dos fiéis tendo
transformado o Cristianismo numa nova religião e não numa seita do Judaísmo. Aboliu alguns rituais e
alterou os hábitos alimentares judaicos, facilitando assim a conversão dos povos não-judaicos. Com a
sua influência, o Cristianismo penetra no Império Romano no seu período de apogeu.

 Durante o séc. I e II os cristãos eram seitas

proibidas ainda numa sociedade pagã. Os rituais eram
feitos de forma clandestina em catacumbas, sendo
perseguidos e mortos pelos exércitos dos
imperadores romanos.
 Do final do séc.II até ao séc.IV dá-se o período da
grande conversão dos pagãos ao cristianismo e é
nesta altura que muitas influências musicais pagãs se
vão sentir.
 Nos primeiros séculos da sua existência, a igreja
cristã irá absorver as características da música da
Grécia e das sociedades do Mediterrâneo. Catacumbas em Roma

 As formas e os tipos de música associados aos grandes

espectáculos públicos (festivais, concursos, teatro) e
música usada nos palácios e lares, foram consideradas
impróprias para os rituais. Isto foi feito para afastar dos
pagãos convertidos as práticas culturais pagãs.
 No séc.IV d.C. (ano 313), Constantino I, através do
Edito de Milão, oficializa a religião cristã como religião do
Império Romano.
 Os primeiros cristãos durante os 3 primeiros séculos,
faziam ao mesmo tempo os serviços da sinagoga e depois iam aos cultos cristãos onde celebravam a
última ceia.
 Alguns historiadores musicais pensam que os primeiros cristãos terão copiado os serviços religiosos
da sinagoga judaica. Outros pensam que eles terão evitado copiar os serviços para marcarem a
diferença entre as duas práticas.
 Após o Edito de Milão (313 d.C.), que concedia liberdade religiosa aos cristãos, estes puderam sair
das catacumbas de Roma e começar a construir templos, ou basílicas, à maneira dos edifícios pagãos
greco-romanos. A basílica ou arquibasílica de São João de Latrão tornou-se a primeira catedral dos
cristãos ao ser consagrada em 324.

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 O imperador Constantino I e a mãe, Santa Helena, fundaram os primeiros templos ou igrejas do
cristianismo, a exemplo da Igreja da Natividade, em Belém (na atual Cisjordânia), consagrada em 327.
Helena percorreu a Terra Santa e diversas outras regiões da Palestina identificando supostos locais e
relíquias sagradas do tempo de Jesus Cristo.

Influências do Templo e da Sinagoga

 Há que estabelecer as diferenças e as funções religiosas do templo e da sinagoga e perceber de que

forma estas influenciaram as práticas religiosas e musicais dos cristãos.
 O segundo templo de Jerusalém até à sua destruição em 70 d.C. era um local de culto público. Nele,
eram realizados sacrifícios diários e, no Shabat, sacrifícios suplementares.
 Durante os sacrifícios os sacerdotes cantavam salmos, que eram diferentes em cada dia e
acompanhados por instrumentos de cordas. Na época da Páscoa cantavam-se salmos mais importantes
acompanhados de cordas e aulos duplo.
 Os crentes que rezavam no templo, faziam também as orações em casa e em família.
 Existe um paralelismo entre os dois rituais, judaico e cristão - o sacrifício no Templo (sangue) e o
Corpo de Cristo (partilha do sangue). O mesmo se passa
com a comemoração da última ceia na missa cristã que é
semelhante à refeição judaica dos dias de rituais
importantes, como a Páscoa.
 A Sinagoga era o centro das leituras e das homílias,
onde as escrituras eram escolhidas, lidas e comentadas
de acordo com um calendário próprio (Shabat, Jejum, Lua
Nova). A liturgia cristã retirou daí a prática das leituras
associadas a um calendário e o seu comentário público
numa assembleia de crentes.

A expansão da igreja

 À medida que a igreja cristã primitiva se expande de Jerusalém para a Ásia Menor e para o Ocidente
chegando à África e à Europa, foi acumulando elementos musicais de todas essas zonas.

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 Na Síria, os mosteiros e as igrejas desenvolveram muito o canto dos salmos e dos hinos, tendo-se
difundido através de Bizâncio (Constantinopla – Istambul, Turquia) até Milão e daí a outras cidades
europeias, sendo o canto dos Hinos a primeira atividade musical documentada da igreja cristã.
 As igrejas orientais não tinham uma autoridade central forte e, por isso, desenvolveram diferentes
liturgias nas diferentes regiões.
 A cidade de Bizâncio foi reconstruída por Constantino em 330 d.C. como capital do império
reunificado. A partir de 395 d.C. – data da divisão entre o império do Oriente e do Ocidente – até à sua
conquista pelos turcos, em 1453, esta cidade foi a capital do Império Romano de Oriente.
 Durante estes quase 1000 anos, Bizâncio foi a sede de governo mais poderosa do mundo e o maior
centro cultural da Europa tendo as suas práticas musicais bizantinas deixado marcas na música ocidental.
 A separação da igreja em Oriental e Ocidental só acontecerá no séc.XI, dando a igreja bizantina
origem às igrejas ortodoxas grega e russa.

Liturgias Ocidentais

 Tanto no Ocidente como no Oriente as igrejas locais eram relativamente independentes e embora
partilhassem práticas comuns, é provável que cada região do Ocidente tivesse recebido e desenvolvido
a herança oriental de formas diferentes.
 Entre o séc.V e o séc.VIII, estas diferenças foram-se combinando com as condições particulares de
cada região, dando origem a diferentes liturgias e cânticos.
 O primeiro Papa foi S. Leão I em 440-461. Sob o seu pontificado, os bispos de Roma passaram a ser
considerados oficialmente herdeiros de S. Pedro (apóstolo fundador da igreja, considerado o primeiro
Papa)