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CONTROLE SOCIAL INFORMAL E RESSOCIALIZAÇÃO NO MÉTODO APAC 1

Alexandre Dourado Pereira de Souza 2


Ionete de Magalhães Souza 3

RESUMO:
O presente artigo busca inter-relacionar as instâncias informais de controle social e a
execução da pena privativa de liberdade mediante a metodologia apaqueana, evidenciando a
influência da integração do condenado aos laços sociais no processo ressocializatório, de
forma a suscitar a possibilidade de ruptura com as mazelas do sistema penitenciário
tradicional no sentido da humanização carcerária.

ABSTRACT:
The present paper aims to interrelate the informal social control instances and the
deprivation of liberty penalty through the APAC methodology, showing the influence of the
convicted social ties integration in the ressocialization process, thereby evoke the possibility
of disruption with the traditional penitentiary system ills in an effort to humanize the prison.

PALAVRAS-CHAVE: Controle social. Ressocialização. APAC.

SUMÁRIO:
Introdução. 1 Controle Social.1.1 Controle social informal, controle social formal e Pena. 1.2
A importância do controle social informal. 1.3 Socialização e Ressocialização. 1.4 A
Ressocialização como finalidade da pena. 1.5 O sistema carcerário brasileiro e seus reclusos 2
Controle social informal e ressocialização no método APAC. 2.1 Os doze elementos do
método. 2.2 Família, trabalho e religião 2.3 Relação cárcere-sociedade. Considerações Finais.
Referências.

INTRODUÇÃO

A criminalidade é uma pauta recorrente na discussão pública e assunto que


interessa a todos os cidadãos, seja pelo potencial de ver-se em posição de vítima ou, quiçá,
delinquente.
A resposta padrão à violência identifica a impunidade e exige mais prisões e penas
mais pesadas. Todavia, as penitenciárias encontram-se incapazes de lidar com o atual
contingente de reclusos bem como promover uma pena que cumpra com sua finalidade
ressocializadora.
O monopólio da violência detido pelo Estado encontra sua legitimação na
asseguração das possibilidades de convivência entre seus cidadãos, e sua limitação naqueles

1
Artigo científico apresentado no Projeto de Pesquisa “Execução Penal à luz do método APAC”, do Curso de
Direito da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).
2
Graduando do 10º Período em Direito, da Unimontes. (2º semestre de 2015)
3
Professora da Unimontes. Mestre em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Doutora
pela Universidad Del Museo Social Argentino (UMSA), em Buenos Aires (Argentina). Coordenadora do
Programa S.A.J. Itinerante. Advogada. Orientadora deste artigo científico.
valores cujo respeito é inegociável e configuram perímetro intransponível da pena. A
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/1988), assim, é expressa em
reconhecer a dignidade da pessoa humana como fundamento da República, além de
resguardar aos condenados todos os direitos não atingidos pela sentença, proibindo, ademais,
tratamento desumano e degradante.
Entretanto, a realidade mostra um sistema penitenciário medievalesco,
caracterizado por um déficit estrutural, falta de preparo dos agentes públicos e, em último
grau, falta de reflexão acerca de seus métodos. Viola-se a integridade física, moral e psíquica
do condenado, relegando princípios como a proporcionalidade e a legalidade. A pena
privativa de liberdade, dessarte, é uma pena privativa da condição humana.
Os problemas da perpetuação desse modelo de Execução Penal transcende a sua
ilegitimidade jurídica e ética, tratando-se de uma repressão contraproducente que fomentará o
retorno do condenado à marginalidade e à criminalidade quando de seu inevitável retorno à
sociedade. É nesse panorama que surge a Associação de Proteção e Assistência ao Condenado
(APAC), como proposta de reintegração social do condenado sob a baliza de uma valorização
humana globalizada, entendendo ser esta condição necessária para atingir a finalidade da
pena.
A proposta do presente artigo é abordar a problemática da pena privativa de
liberdade sob a ótica do controle social, estabelecendo as relações entre as instâncias
informais de controle e sua influência no comportamento individual, constatando que o
sentindo da Execução Penal deve dar-se em consonância com estas instâncias. Pretende-se,
assim, do ponto de vista sociológico e psicológico, evidenciar os pontos de convergência entre
os elementos da metodologia apaqueana e o desenvolvimento dos laços sociais que
corroboram com a adaptação desejada do condenado à comunidade, de modo a vislumbrar a
possibilidade de despertar uma vontade sociopolítica no sentido da humanização carcerária.

1 CONTROLE SOCIAL

Em sociedade, o homem está sempre em interação com seus pares, reunindo-se


em grupos ou não, com interesses e expectativas congruentes ou conflitantes. A resolução dos
conflitos intergrupos logra certa estabilização que configura determinada estrutura de poder
que compele o comportamento dos indivíduos, dos grupos e das instituições. A essa regulação
dá-se o nome controle social.
De acordo com Shecaira, trata-se o controle social do “conjunto de mecanismos e
sanções sociais que pretendem submeter o indivíduo aos modelos e normas comunitários”.
(2004, p. 56). Assegura os limites da liberdade humana no cotidiano e as expectativas de
condutas, sendo condição básica irrenunciável para a vida em sociedade (HASSEMER, 1984,
p. 414). Dentre outras classificações, tal controle pode-se subdividir em formal e informal
conforme adiante aclarado.

1.1 Controle social informal, controle social formal e Pena

Com o escopo de submeter os agentes sociais a um determinado padrão, portanto,


articula a comunidade uma sorte de instituições, estratégias e sanções. O controle social é
amplo e nem sempre evidente, tendendo a ser mais anestésico ou menos oculto dependendo
da maneira como os conflitos se manifestam. Assim, manifesta-se “através da família, da
educação, da medicina, da religião, dos partidos políticos, dos meios massivos de
comunicação, da atividade artística, da investigação científica etc” (ZAFFARONI, 2011, p.
63).
O controle social informal diz respeito à internalização dos valores e normas
decorrente do processo de socialização, pelo qual as potencialidades comportamentais do
indivíduo passam a se estreitar na medida do aceitável pela normalidade de seu grupo.
Os engenhos de controle formal, por sua vez, são subsidiários e
institucionalizados, atuando com sanções coercitiva e qualitativamente próprias. É um meio
mais racionalizado, controlável e previsível – prerrogativas que nem o controle informal nem
sempre pode contar.

De um lado tem-se o controle social informal, que passa pela instância da sociedade
civil: família, escola, profissão, opinião pública, grupos de pressão, clubes de
serviço etc. Outra instância é a do controle social formal, identificada com a atuação
do aparelho político do Estado. São controles realizados por intermédio da Polícia,
da Justiça, do Exército, do Ministério Público, da Administração Penitenciária e de
todos os consectários de tais agências, como controle legal, penal etc. (SHECAIRA,
2004, p. 56)

De maneira geral, estabelece-se, portanto, sanções aos fatos que atentem contra as
normas de convivência, sendo o Direito sua mais formalizada classe, atuando o Direito Penal
também subsidiariamente em relação ao controle social formal, quando os demais ramos do
Direito mostram-se insuficientes. Nesse diapasão, concebe-se a pena como recurso último do
controle social contra as condutas mais reprováveis.
Aponta Muñoz Conde: “O Direito Penal não é todo o controle social, nem sequer
sua parte mais importante, sendo somente a superfície visível de um iceberg, onde o que não
se vê é, talvez, o que mais importa” (CONDE, 1985, p.18).

1.2 A importância do controle social informal

O controle informal premia ou castiga comportamentos aceitáveis e inaceitáveis,


variando de indivíduo para indivíduo, de grupo para grupo e de sociedade para sociedade.
Suas sanções podem incluir vergonha, ridículo, crítica e desaprovação - em casos extremos,
discriminação e exclusão social. O conforto e desconforto ensejados passam a compor a
personalidade do indivíduo, agindo em um grau inalcançável pelos meios formais de controle.
A atuação do controle formal se dá na inoperância do controle informal, isto é,
incapaz de pautar sua conduta em conformidade com as normas sociais transmitidas, a ação
das instâncias formais se efetivará.
O fato é que a efetividade do controle formal é significativamente inferior à
exercida pelo controle informal – arranjo perceptível na diferença da criminalidade entre
grandes centros urbanos e pequenas comunidades, nas quais esta forma de controle é muito
mais presente.
Ademais, é relativamente ineficaz o foco no desenvolvimento da efetividade do
sistema penal, porquanto o controle formal tem limitações estruturais inerentes à sua própria
natureza e função. A intervenção legal pressupõe o delito, não incidindo nos fatores que o
causam, em suas raízes. Sua atuação é tardia e de caráter sintomatológico: onde e quando o
problema se manifesta, porém não onde o conflito é gerado. A prevenção do crime não
depende, portanto, do aperfeiçoamento do controle formal quanto depende da sincronização
do controle formal com o controle informal.
Em suma, o sistema de crenças internalizado, independente da forma que tome,
exerce muito mais controle sobre o comportamento do indivíduo que qualquer lei, e sendo
assim, é astucioso que o controle social formal atue na construção de crenças para a
consolidação de condutas desejáveis.
1.3 Socialização e Ressocialização

A lógica do controle social informal é mais bem compreendida no estudo do


processo de socialização.
O sociólogo Émile Durkheim considerava o homem indissociável de sua instância
social, constituída por um “sistema de idéias, sentimentos e hábitos que exprimem em nós o
grupo ou grupos de que fazemos parte: crenças religiosas, crenças e práticas morais, tradições
nacionais ou profissionais, opiniões coletivas de toda espécie” (2011, p. 54). Em outras
palavras, para Durkheim, a vida social não é explicada pela consciência individual, mas pelo
contrário, é justamente aquela que condiciona o comportamento de seus indivíduos. Estes,
portanto, para serem entendidos, devem ser observados à luz do seu processo de socialização.
A educação é a instância matriz desse processo, compreendida como:

[...] a ação exercida pelas gerações adultas sobre aquelas que ainda não estão
maturas para a vida social. Ela tem como objetivo suscitar e desenvolver na criança
um certo número de estados físicos, intelectuais e morais exigidos tanto pelo
conjunto da sociedade política quanto pelo meio específico ao qual ela está
destinada em particular. (DURKHEIM, 2011, p. 54)

O comportamento desviante criminoso seria, assim, em grande parte, resultado de


um déficit nesse processo; e a pena, a sua restauração. Em outras palavras, uma socialização
deficiente engendra a anti-sociabilidade do indivíduo, fazendo-se necessário, portanto,
ressocializá-lo.
De maneira mais incisiva, sob esta ótica não poderia ser outro o escopo do
controle social formal senão a consolidação do controle social informal, uma vez que se
encontra na ineficácia deste a raiz do desvio.

1.4 A Ressocialização como finalidade da pena

A pena é a expressão absoluta do ius puniendi estatal. Justamente por sua


gravidade, é importante preocupar-se com o seu impacto físico-psicológico nos indivíduos,
estabelecendo critérios para sua aplicação. Há diversas legislações, nacionais e internacionais,
nesse sentido, como o Pacto de São José da Costa Rica (1969), as Regras Mínimas para o
Tratamento de Prisioneiros (1977), a Lei de Execução Penal (1984) e a própria CRFB/1988.
Ao longo da história a resposta penal assume uma série de contornos, finalidades
e justificações diferentes. Passa por suplícios de inspiração divina e vai abandonando seu
caráter meramente reativo, vingativo e ilimitadamente agressivo, adquirindo, gradativamente,
forma mais institucional e sentido mais humanista, com a criação da prisão e seu progressivo
aprimoramento.
Até os anos sessenta era aceitável, praticamente de maneira indiscriminada, a
ideia de reinserção social mediante variadas formas de ajuda durante a execução: trabalho,
educação, terapêutica social, tratamento pedagógico-social, organização do tempo ocioso etc.
Hoje, em vista dos resultados escassos, o ceticismo e a irresignação passaram a reinar,
desaparecendo “a fé na possibilidade de reinserção social do homem em condições de falta de
liberdade imposta acrescida do contato forçado com outros indivíduos colocados nas mesmas
circunstâncias” (RODRIGUES, 1999, p. 141).
Orientar-se pela reinserção social do condenado constitui uma finalidade de pena
tributária aos princípios básicos do Estado Democrático de Direito e dos sistemas
penitenciários modernos. Todavia, tal finalidade só pode ser protagonizada pelo condenado,
cujo papel deve passar de reles objeto a sujeito de seu processo ressocializatório. Nesse viés,
crê Albin Eser na “pedagogia da autodeterminação”, isto é, no oferecimento de caminhos para
o desenvolvimento da personalidade humana, preparando o recluso para que por si próprio
decida como agir frente às alternativas de uma sociedade heterogênea (RODRIGUES, 1999).

1.5 O sistema carcerário brasileiro e seus reclusos

Os esforços doutrinários e legais, embora extremamente relevantes, contrastam


gravemente com a práxis, revelando um profundo abismo entre o ser e o dever-ser e o
fracasso da finalidade ressocializadora da pena, a qual a realidade carcerária não apenas é
incapaz de alcançar, como contribui em grande parte para que não o seja.
A prisão, espinha dorsal do sistema penal, encontra empecilhos para a
concretização de seu objetivo declarado, seja por suas próprias características, seja pelas
especificidades do cárcere brasileiro.
De acordo com Alvino Augusto de Sá (2010), os graves problemas carcerários
podem ser classificados em dois grupos. O primeiro são os problemas inerentes à própria
natureza da pena privativa de liberdade (isolamento em relação à sua família, segregação da
sociedade, convivência forçada no meio delinquente, sistema de poder etc.). O segundo,
decorrentes da má gestão pública, falta de interesse político, inabilidade administrativa e
técnica (falta de infraestrutura mínima e condições matérias e humanas, superpopulação
carcerária etc.). É também, sobretudo, a falta de pessoal vocacionado, o que se deve ao
profundo desprestígio do cárcere que, por sua vez, é fomentado pelos órgãos oficiais e por
parte da sociedade e por discursos unicamente destrutivos.
Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça, o Brasil conta com 567.655
presos, sendo cerca de 32% deles provisórios (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA,
2014, p. 4), fazendo o país ostentar a 4ª maior população carcerária do mundo (UOL, 2015,
p.1). De acordo com o Senado, havia em 2013 ainda outro meio milhão de mandados judiciais
de prisão não cumpridos (SETTI, 2013, p.1).
O perfil do recluso reflete, indubitavelmente, um quadro de vulnerabilidade: negro
ou pardo, entre 18 e 24 anos, advindos de família desestruturada e envolvidos com drogas.
Cerca de 84% não terminaram o ensino médio e, cerca de 72% destes, por volta de 329 mil,
sequer o fundamental (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2013). Evidenciando um quadro de
vulnerabilidade padrão nos presos em geral, tais dados permitem identificar, com clareza, o
retromencionado déficit de socialização.
Segundo Informe Regional de Desenvolvimento Humano 2013-2014 do Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), no Brasil o percentual de reincidência
alcança 47,4%. Dados levantados pelo Estado de São Paulo mostram que a reiteração do
delito de roubo pode passar dos 69% (GOMES, 2014).
A constatação do dispêndio governamental com essa questionável estrutura
prisional agrava a situação: o Fundo Penitenciário arrecadou, só em 2011, mais de R$393
milhões. Entre 1994 e 2011, o valor repassado às Unidades Federativas foi de
aproximadamente R$1,9 bilhão (CONTAS ABERTAS, 2014, p.1). Hoje, o gasto federal é de
mais de R$40 mil por ano em cada preso, enquanto com cada aluno do ensino superior é gasto
R$15 mil. Mais alarmante ainda é se a comparação é feita em plano estadual: R$21 mil por
ano por preso e R$2,3 mil por ano por aluno no ensino médio, explicitando dois problemas
graves nas políticas governamentais: o baixíssimo investimento na educação e a ineficácia do
gasto com o sistema prisional.
A revisão estrutural do sistema é urgente e necessita de extrapolar o próprio
sistema penitenciário, mediante a promoção de políticas públicas para a erradicação de
condições criminógenas, dos preconceitos em relação ao preso e aos egressos, investimentos
em educação intra e extrapresídios, estudos relativos à prevenção e promoção de iniciativas
que revolucionem a Execução Penal, tal qual a APAC.
2 CONTROLE SOCIAL INFORMAL E A RESSOCIALIZAÇÃO NO MÉTODO
APAC.

De encontro ao clamor público pelo recrudescimento do sistema penal, surge a


Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (APAC), como uma alternativa ao
tratamento carcerário tradicional.
Trata-se de uma entidade civil, sem fins lucrativos, dedicada à reintegração social
do condenado à pena privativa de liberdade, bem como socorrer a vítima e proteger a
sociedade. Busca, através da filosofia de “matar o criminoso e salvar o homem”, ser um
auxiliar da Execução Penal, promovendo valores humanistas sob a base da disciplina,
respeito, ordem, trabalho e envolvimento familiar.
O recluso, sob a metodologia apaqueana, é denominado “recuperando”, consoante
a perspectiva da necessidade – e assumindo, portanto, a possibilidade – de reversão do seu
quadro de anti-sociabilidade. Sem descuido da finalidade repressiva, objetiva a APAC a
humanização carcerária, condição sem a qual a repressão torna-se inócua (como sói
acontecer).
Dessa forma, busca-se com a humanização da punição potencializar a consecução
de seu próprio objetivo, qual seja, tornar, após a pena privativa de liberdade, desnecessária
uma ulterior intervenção e o indivíduo apto a conviver em sociedade. Dá-se tal desiderato
mediante a observância de 12 elementos que constituem a coluna vertebral do método.

2.1 Os doze elementos do método

Funda-se a APAC no pressuposto da recuperabilidade do delinqüente desde que


seja realizado um adequado tratamento, cujos doze elementos fundamentais são: 1)
Participação da comunidade; 2) Recuperando ajudando recuperando; 3) Trabalho; 4) Religião;
5) Assistência jurídica; 6) Assistência à saúde; 7) Valorização humana; 8) Família; 9) O
voluntariado e sua formação; 10) Centro de Reintegração Social; 11) Mérito do recuperando;
12) Jornada da Libertação com Cristo.
Conforme supracitado, o controle social formal – mais propriamente, a pena
privativa de liberdade – deve atentar-se à interação do recluso às instâncias formais como
meio de promover uma adequada ressocialização. As penitenciárias têm falhado em seu
propósito por padecerem de máculas estruturais, além das específicas da realidade brasileira.
Nesta toada, a dissipação das mazelas prisionais tradicionais é agenciada pelo
rompimento da austeridade característica das penitenciárias. Na APAC, o recuperando é
chamado pelo nome e tem sua pena devidamente individualizada, contando com assistência
médica, jurídica, psicológica e espiritual. A escolarização e a laborterapia não somente minam
o ócio como contribuem para o desenvolvimento educacional do recluso. Conta a APAC,
ainda, com um número reduzido de recuperandos, de modo a facilitar o controle e a
individualização e evitar indisciplina, corrupção, tráfico e violência.
É perceptível, como bem demonstra seus doze elementos fundamentais, a
preocupação do método APAC com a inclusão do recluso às instâncias de controle social
informal, de maneira que nele se desperte o respeito às normas de convívio em comunidade.
Com destaque, e a seguir analisados, tem-se a família, a religião, o trabalho e participação
comunitária.

2.2 Família, trabalho e religião

O controle social informal tem por componentes fundamentais a família, o


trabalho e a religião, esferas de inter-relações que contribuem sobremaneira para o
comportamento do indivíduo em sociedade.
A APAC dá atenção especial à família, “estrutura que atravessa e anima a
sociedade inteira” (MENDRAS, 2004, p. 258), instância mais básica de controle social,
havendo todo um esforço para a manutenção do seu encontro e contato com o recuperando. A
atenção ao núcleo familiar é devida e necessária, sendo este um pilar da ressocialização e
significativo incentivo para que não haja fuga, rebeliões ou conflitos. “O convívio respeitoso
com as pessoas que o rodeiam significa também esperança. Na maioria das vezes, os
familiares dos presos alimentam-no de ideias de que o estão aguardando quando retornarem à
sociedade.” (MINAS GERAIS, 2011, p. 45)
Além disso, o retorno do recluso a um ambiente desestruturado representa um
fator de contribuição para seu reingresso na marginalidade, razão pela qual seu papel de
socialização e de suporte afetivo são fundamentais no processo ressocializatório.
O trabalho, por sua vez, é instância capital de inclusão social, um dos
fundamentos do Estado Democrático de Direito (CRFB/1988, art. 1°, IV), sendo para o
condenado “dever social e condição de dignidade humana” (Lei n° 7.210/1984, Lei de
Execução Penal, art. 28). Nesse sentido, trata-se de um instrumento basilar para a
concretização da dignidade do preso, resgata sua auto-estima e desperta-lhe sentimento de
utilidade. A qualificação profissional deve ser, portanto, parte inolvidável da Execução Penal,
uma vez tratar de condição mister para a estabilização socioeconômica do egresso.
A religião, presente em todas as sociedades, desempenha um papel de ímpar
relevância no método APAC, não só por estar no centro de sua gênese, mas por representar a
preocupação com a reforma moral do condenado. A preparação para que o indivíduo torne-se
capaz de prosseguir sua vida sem o cometimento de delitos será tão mais eficaz quanto maior
atuar em seu âmago o respeito pelas normas, pela sociedade e, em último nível, pelo próximo
– ideais que encontram na religião importante aliado. Através de Deus é possível que o
recluso tenha contato com a ideia de amor e aceitação incondicional, favorecendo sua reforma
espiritual e a descoberta de valores transcendentais.
Família, trabalho e religião são, portanto, os mais importantes campos de relação
do indivíduo em sociedade e as mais significativas esferas de controle social informal,
domínios privilegiados pela metodologia apaqueana que, estando o indivíduo apto e adaptado
a atuar, representarão pujante influência no comportamento do indivíduo.

2.3 Relação cárcere-sociedade

Destaca a LEP, em seu art. 4°, a conclamação da sociedade a participar da


execução penal e, consequentemente, da reintegração social, numa sistemática relativamente
nova no que concerne ao processo de ressocialização: “O Estado deverá recorrer à cooperação
da comunidade nas atividades de execução da pena e da medida de segurança”. Apesar do
discurso, a própria sociedade já espera a não ressocialização, como a indelével estigmatização
comprova. “A sociedade que os enclausurou, sob o pretexto hipócrita de reinseri-los depois
em seu seio, repudia-os, repele-os, rejeita-os” (SILVA, 1991, p. 19).
O comportamento do indivíduo é influenciado sobremodo pelas expectativas que
dele se têm. Este fenômeno é chamado, por Robert K. Merton (1970), de “profecia que se
cumpre a si mesma”. Assim, ao atuar de maneira estigmatizante o sistema ratifica e contribui
com a perpetuação do comportamento desviante. Assim, para o alcance de seu fim, a pena
privativa de liberdade precisa transcender a sua lógica de praxe, entre quem exclui e quem é
excluído. Aclara Baratta que a reintegração social “requer a abertura de processo de
interações entre o cárcere e a sociedade, no qual os cidadãos recolhidos no cárcere se
reconheçam na sociedade externa e a sociedade externa se reconheça no cárcere” (SÁ, 2010,
p. 46).
Reconhecer-se como participante legítimo da sociedade é condição necessária
para a ruptura com o quadro de marginalidade em que estão inseridos considerável parte dos
condenados. Sua co-responsabilidade é importante, necessitando perceber-se peça
fundamental de seu próprio processo ressocializatório. Nesse viés, a integração entre reclusos
e sociedade é trabalhada sob diversos aspectos. Nota-se, por exemplo, a ausência de agentes
policiais e penitenciários nas APACs, cabendo aos recuperandos significativa
responsabilidade na gestão do estabelecimento prisional.
Desse modo que se insere a participação da comunidade e o voluntariado como
elementos fundamentais do método, rompendo com o paradigma excludente e estigmatizante
do tratamento prisional de sempre, coadunando com a esperança do condenado de se enxergar
ator legítimo das relações sociais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A implementação das APACs tem efeito no delinquente, humanizando seu


tratamento e promovendo condições para que se reintegre à sociedade; na delinqüência, uma
vez que atenua significativamente a taxa de reincidência; e na sociedade, modificando a visão
do processo de execução penal e da pena, contribuindo para a compatibilização do cárcere
com o Estado Democrático de Direito.
Do ponto de vista axiológico, a APAC não difere do já preceituado legalmente.
Basta perceber que os princípios que a regem já podem ser encontrados no ordenamento
jurídico, particularmente na Lei de Execução Penal e na CRFB/1988. No entanto, revoluciona
a gestão da execução penal e rompe com a maneira tradicional com que é cumprida a pena,
notadamente fornecendo condições para que o recuperando torne-se capaz de respeitar o
convívio social e de se integrar à sociedade.
Assim, tendo o controle social por objetivo a manutenção da vida em sociedade, a
atuação de seus mecanismos sancionatórios deve tornar o indivíduo apto a tal, processo esse
que será tão mais eficaz quanto maior for a integração do indivíduo com os instrumentos
informais de interação social e menor se fizer necessária a intervenção formal. O método
APAC, mediante valorização humana conglobante, tem em seus elementos fundamentais e
operacionais justamente a promoção e desenvolvimento desses laços sociais.
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http://www.fragoso.com.br/eng/arq_pdf/artigoshomenagem/arquivo6.pdf. Acesso em:
17/12/2015 às 15h25.

THOMPSON, Augusto. A Questão Penitenciária. Rio de Janeiro: Forense, 2002.

ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de direito penal brasileiro : volume 1 : parte geral. –
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