Sei sulla pagina 1di 14

TRANSFORMAÇÕES TERRITORIAIS NO CAMPO: COLONIZAÇÃO E

DINÂMICA PRODUTIVA NA ANTIGA COLÔNIA AGRÍCOLA NACIONAL DE


DOURADOS

Jaime Ribeiro de Santana Junior


jaime_rsj@hotmail.com
INTRODUÇÃO
A questão agrária associada às transformações territorias que vêem ocorrendo no
campo brasileiro abrem perspectivas para discussões sobre os caminhos que o Brasil está
seguindo, já que, a nova estrutura produtiva da agricultura, atinge tanto a base técnica quanto
a econômica e social, causando profundos impactos sobre os espaços agrários.
Há diferentes vertentes de pensamento sobre a agricultura brasileira, uma delas
opta pela compreensão dos processos sociais através do processo contraditório e combinado
resultante do desenvolvimento do modo de produção capitalista, ou seja, ao mesmo tempo em
que reproduz relações especificamente capitalistas (implantando trabalho assalariado), produz
também, relações não essencialmente capitalistas, revelada pelo aumento do trabalho familiar
no campo1.
Nesse sentido, Oliveira (1999) considera outras vertentes fundamentadas no ideal
de que na sociedade capitalista avançada não há lugar histórico para os camponeses no futuro,
já que para essas vertentes a sociedade capitalista é formada apenas por duas classes sociais: a
burguesia (os capitalistas) e os proletariados (os trabalhadores assalariados). Coloca-se a
estrutura de produção familiar como “resíduo” social, cujo desenvolvimento da estrutura de
produção capitalista o fará desaparecer2.
A nova estruturação produtiva da agricultura, organiza um novo modelo
econômico de produção, caracterizada pela organização de redes de produção agroindustrial,
elevando assim, a produção e o consumo à estruturas globalizadas, estabelecendo novas
complexidades na organização do espaço agrário e também urbano, estabelecendo o
aprofundamento da divisão social e territorial do trabalho.
Deste modo, a organização do espaço produtivo defenida por regiões
especializadas em determinados tipos de produtos, produz mudanças no eixo produtivo e na
divisão social do trabalho em escala nacional, subsidiadas por melhoramentos e ampliações
dos setores de transportes, possibilitando maior intercâmbio entre as regiões e,
conseqüentemente, para o avanço do capital comercial.
Nas últimas décadas observa-se um avanço do capital agrícola em direção a
região Centro-Oeste. Nessa lógica, as transformações que vêm ocorrendo no campo sul-
matogrossense, tem sido foco de vários trabalhos teóricos para a compreensão das relações
que são desencadeadas no território, sendo a dinâmica da estrutura produtiva agrícola um
fator determinante para essas transformações. Todavia, as políticas de colonização do país
sempre estiveram atreladas a intregação nacional, no sentido de estabelecer algumas regiões
do país como extensões da região Sudeste, como mercado consumidor e fornecedor de
matérias-primas, processo este caracterizado até hoje.
Nesse contexto, serão destacados nesse trabalho, as transformações territoriais
ocorridas na área da antiga Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND), cuja
implantação esteve atrelada a ocupação e colonização da região, além de integrar a parte
meridional do então estado de Mato Grosso ao contexto nacional. Será enfocado as
transformações resultantes do processo de colonização, destacando o processo de
implementação da colônia e seu desenvolvimento até os dias atuais. Será destacado

1
Cf. OLIVEIRA, 1999.
2
Mais detalhes ver: Thomaz Junior, 2007b e 2008a.
características da estrutura produtiva da região, e, por fim, será abordado, as novas relações
estabelecidas na região, impulsionadas pela introdução da monocultura da soja na década de
1970 e das novas tecnologias no modo de produzir no campo.
O PROCESSO DE COLONIZAÇÃO DA REGIÃO DA GRANDE DOURADOS

Para a compreensão da atual configuração da economia agrária na região de


Dourados, é necessário primeiramente compreender a sua formação territorial como
parâmetro de verificação de seu contexto histórico-dinâmico. Para isso, é essencial
contextualizar seu desenvolvimento a partir da criação da CAND e o desenvolvimento da
região.
Nesse sentido de análise, faz necessário considerações sobre o conceito de
território, que para Corrêa (1996) deriva do latim terra e torium e significa terra pertencente a
alguém. Entretanto, Mizusaki (2003), salienta que o território não precisa, necessariamente,
estar vinculado à propriedade efetiva da terra, mas à sua apropriação por um agente ou um
grupo de agentes, de controle de determinado espaço.
Para Raffestin (1993), a sociedade, o espaço e o tempo, são os elementos que dão
sentido à existencia do território. A sociedade, na medida que materializa sua existência,
produz formas específicas nos lugares que, devido à sua própria dinâmica transformam-se e
rearticulam-se com o tempo, cujas relações são marcadas por relações de poder. O autor
compreende que o território não poderia ser nada mais que o produto dos atores sociais. São
eles que produzem o território, partindo da realidade inicial dada, que é o espaço. Há,
portanto, um “processo” do território, quando se manifestam todas as espécies de relações de
poder. Deste modo, o território é analisado pelo autor como:
[...] espaço onde se projetou trabalho, seja energia ou informação, e que por
conseqüência, revelam relações marcadas pelo poder. Se apóia no espaço
mas não é o espaço. [...]. O território se forma a partir do espaço, é o
resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza
determinadas ações) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço,
concreta ou abstratamente, o ator “territorializa” o espaço (RAFFESTIN,
1993, p. 143-144).
A partir desta análise, a territorialização está entendida como processo de
materialização do espaço, das relações sociais de produção, que são produtos dos atores
sociais. Todavia, a materialização dessas relações sociais de produção no espaço configura o
território capitalista. Pressupõe-se que, sendo o território uma manifestação do processo de
desenvolvimento das forças produtivas do capitalismo, o mesmo, não se apresenta como algo
isolado. Para Oliveira (1992) o território pode ser entendido como:
[...] síntese contraditória, como totalidade concreta do processo/modo de
produção/distribuição/consumo e suas articulações e mediações
supraestruturais (políticas, ideológicas, simbólicas, etc.), onde o Estado
desempenha a função fundamental de regulação. São as relações sociais de
produção e o processo contínuo/contraditório de desenvolvimento das forças
produtivas que dão a configuração histórica especifica ao território. [...]. O
processo de construção do território é, pois, simultaneamente,
construção/destruição/manutenção/transformação (OLIVEIRA, 1992, p. 02).
Entende-se, que o território, produto concreto de classes, manifesta-se
dinamicamente em suas várias configurações territoriais. Assim, pode acontecer nos
territórios produzidos, a sua “desterritorialização”, ou seja, a perda do território anteriormente
apropriado pelos sujeitos sociais, bem como pode ocorrer uma nova territorialização mediada
por novos atores sociais.

2
Nesse sentido, entende-se que os lugares possuem especificidades históricas e
geográficas que os identificam e caracterizam e, mesmo sendo particulares, encontram-se
integrados a um movimento mais amplo, de expansão da dinâmica produtiva no campo.
No estado de Mato Grosso do Sul, a história agrícola está ligada ao processo de
colonização. A estruturação territorial agrária da região teve impulso com o Governo Vargas,
que intensificou a ocupação de terras devolutas no país, objetivando descentralizar o alto
índice demográfico dos centros urbanos, resguardando o território e, assegurando a
nacionalidade das fronteiras e seus recursos naturais.
A colonização rural foi enfoque de diretrizes governamentais, com incentivos à
produção agrícola, através da distribuição de terras gratuitas, visando o aumento da oferta do
setor alimentício. Almejava-se desenvolver regiões urbanas e industriais, tornando-se
necessário integrar o interior do país à economia nacional, através do lançamento da
campanha “Marcha para o Oeste”. Intentava-se povoar as imensas áreas “desertas” do
território nacional, e, sobretudo, temia-se que as áreas de fronteira fossem apoderadas por
outros países. Assim, o sul de Mato Grosso, por ser uma área de fronteira, com baixa
densidade demográfica, foi escolhido para sediar um dos projetos de colonização (SANTOS,
2000).
Na análise histórica-agrícola do município de Dourados, torna-se relevante
enfocar sua fomação sócio-territorial. Localizado no centro sul do estado de Mato Grosso do
Sul, o município de Dourados com área total de 408.640,63 ha, encontra-se a 121 km da linha
de fronteira do Brasil com o Paraguai e a 225 km da capital Campo Grande. Com uma
população de 181.869 habitantes, é o segundo município do estado em importância
econômica (IBGE, 2008).
As terras da região foram incialmente habitadas por índios Guarani e ex-
combatentes da Guerra do Paraguai (1864-1870). Com a chegada de imigrantes mineiros e
gaúchos no final do século XIX e início do século XX, passam a ser exploradas mediante
extração da erva-mate nativa e pecuária extensiva, situação que foi parcialmente alterada com
a criação da Colônia Agrícola.
Em 1940, o município de Dourados, contava com uma área de 19.688 km2,
englobando as áreas dos atuais municípios de Itaporã, Caarapó, Naviraí, Glória de Dourados,
Fátima do Sul, Jateí, Ivinhema, Deodápolis, Angélica e Douradina. O município pertencia ao
Territorio Federal de Ponta Porã3 e apresentava uma população de 14.985 habitantes, sendo
que destes, 852 estavam fixados na zona urbana, 969 no perímetro sub-urbano e 13.164
habitavam a zona rural. Na época, a economia do território era representada basicamente pela
exploraçao da erva-mate, do quebracho (Tatino) e pela criação bovina (GRESSLER &
SWENSSON, 1988).
Com a implementação dos programas de colonização, ocupação, integração e
desenvolvimento do Centro-Oeste, estabeleceream-se processos de ocupações na região,
tendo a Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (SUDECO)4, papel
importante nesse processo.

3
O Decreto-lei nº 5.812, de 13 de setembro de 1943, criou o Território de Ponta Porã, abrangendo os municípios
de Dourados, Bela Vista, Ponta Porã, Porto Murtinho, Miranda, Maracaju e Nioaque. Ponta Porã foi escolhida
como capital do novo território. No dia 18 de setembro de 1946, em conseqüência do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias, foi extinto o Território Federal de Ponta Porã, estabelecendo a antiga divisão
territorial, administrativa e judiciária dos municípios, reincorporando-os ao estado de Mato Grosso (GRESSLER
& SWENSSON, 1988, p. 70).
4
Criada pela Lei nº 5.365, de 1º de Dezembro de 1967, como forma de estimular o desenvolvimento regional do
Centro-Oeste brasileiro. A SUDECO foi o órgão de planejamento oficial para a região Centro-Oeste e
consolidou-se como foco de estudo para formulação de Políticas Públicas de desenvolvimento implementadas
pelo Governo (ABREU, 2001).

3
Abreu (2001), ao analisar o planejamento regional da região assevera que, a
SUDECO foi de fundamental importância para o entendimento das transformações no espaço
de análise, já que, as políticas públicas visavam incrementar ações que dinamizavam o
desenvolvimento regional. Deste modo, o entendimento inicial para as transformações
produzidas no espaço sul mato-grossense encontra-se sob a tutela do planejamento e das
intervenções promovidas pela SUDECO, que tem na lógica do desenvolvimento e da
racionalidade suas políticas de intervenção e dinamização e, na preponderância do avanço do
capital e integração nacional.

A Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND)

Dentre as políticas de colonização da Era Vargas, está à criação da Colônia


Agrícola Nacional de Dourados (CAND)5, fundada em 1943, pelo Decreto-Lei 5.941, de 28
de outubro, no então estado de Mato Grosso. A sua implantação real ou legal somente ocorreu
em 20 de julho de 1948, quando foi demarcada pelo Governo Federal, através do Decreto-lei
nº 87 foram estabelecidos os seus limites (Figura 02). Ponciano (2001) afirma que somente
quando os limites dessa Colônia são demarcados pelo Presidente da República Eurico Gaspar
Dutra, é que a CAND é implantada de fato e toma impulso.

Figura 02 – Localização da Colônia Agrícola Nacional de Dourados

Para Oliveira (1999), a criação das colônias agrícolas, pelo governo Vargas,
pautava-se na fixação do homem no campo através da implantação da pequena propriedade.

5
De acordo com o Relatório do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), as atividades
fundiárias na região da Grande Dourados tiveram origem com a criação da Colônia Agrícola Nacional de
Dourados, em terra da União, no então Território Federal de Ponta Porã, com a reserva de uma área a ser
demarcada não inferior a 300.000 hectares, decreto este do então presidente Getúlio Vargas (PONCIANO, 2001,
p. 99).

4
As preocupações das políticas de colonização estavam diretamente ligadas às necessidades de
expansão das relações capitalistas de produção. Segundo Ponciano:
[...] a pequena propriedade era utilizada como estratégia para propiciar o
retorno do homem desocupado da grande cidade ou de regiões com grande
densidade demográfica ao campo e às regiões como a de Goiás, a do Mato
Grosso e a da Amazônia. [...] o trabalhador teria a aquisição de sua terra
facilitada em função do baixo preço, pela ajuda financeira na obtenção de
recursos e utensílios para trabalhá-la. [...] A política de colonização do
Estado Novo, na região do sul de Mato Grosso, especificamente a região da
Grande Dourados, propiciou o início da exploração capitalista, de forma
sistemática, nessas terras, com a implantação da pequena propriedade
(PONCIANO, 2001, p.100).
Deste modo, delineavam-se estratégias de colonização, apoiando a pequena
propriedade, de modo que ela, lentamente, corroesse a velha ordem latifundiária, e, aos
poucos, instaurasse a nova realidade agrícola que o desenvolvimento industrial do país
exigiria (LENHARO, 1986).
Desencadeado pela “Marcha para o Oeste”, a CAND estabeleceu a demarcação de
trezentos mil hectares no território Federal de Ponta Porã. A colonização ocorreu em duas
etapas: na primeira foram distribuídos 2.232 lotes de 30 hectares e, na segunda etapa, 6.500
lotes rurais e 6.832 lotes urbanos.
O processo de divisão das terras da CAND consistia na doação de lotes aos
cidadãos brasileiros, maiores de 18 anos, reconhecidamente pobres e aptos a trabalhos
agrícolas, que se comprometessem a morar nos lotes rurais. Nesse contexto, os lotes não
poderiam ser vendidos, hipotecados, arrendados, permutados ou alienados de qualquer modo,
direta ou indiretamente, antes de decorridos dez anos da expedição do título definitivo
(GRESSLER; SWENSSON, 1988).
Nesse contexto, o governo para atrair trabalhadores para a CAND, desencadeou
uma intensa propaganda através da imprensa. Segundo Oliveira (1999) esse mecanismo
trouxe bons resultados, uma vez que migraram centenas de famílias dos vários estados do país
para a região, em busca da terra como meio de trabalho. Logo, o projeto colonizador, no sul
do então estado de Mato Grosso foi viabilizado, pois havia elementos (homens e mulheres)
dispostos a enfrentarem os desafios de migrarem para outras regiões do país, na tentativa de
melhorarem de vida, ou seja, havia uma força de trabalho disponível, barata e desqualificada.
Nesse processo de ocupação da colônia era exigida certa iniciativa dos colonos,
tendo em vista, que era necessário um espírito desbravador por parte dos colonos, já que tinha
que entrar na área e iniciar as roças através da abertura de picadas, estradas e demarcações
dos lotes, isentando o mesmo tempo o governo dos gastos para tal tarefa. E ainda, atendiam
aos objetivos dos governantes locais, e, por sua vez, os do governo federal de desbravamento
da área com a introdução de trabalhadores nos espaços “vazios”.
Para Abreu (2001), a CAND teve um caráter de povoamento com múltiplos
objetivos, entre eles: garantir a ocupação territorial, aumentando o contingente populacional
nas áreas de fronteira; desconcentrar áreas de possíveis conflitos sociais, como o nordeste
brasileiro; firmar a parte meridional mato-grossense como extensão do sudeste, como
mercado consumidor e produtor de matéria-prima.
Deste modo, a CAND provocou intensa migração para a região, disponibilizando
mão-de-obra barata, que por sua vez, valorizou a terra. Por sua vez, a ocupação dos lotes
levou a uma redistribuição das pequenas propriedades e à concentração das terras,
acompanhada da implementação do trabalho assalariado. Para Ponciano:

5
As Colônias Agrícolas foram planejadas para terem cidades-indústria
potencialmente lançadas no vazio. A preocupação do Governo Federal era
criar um centro urbano que favorecesse o surgimento de uma cidade
próspera e, em torno dela, as pequenas propriedades rurais. Nessa
perspectiva, além da doação de pequenas propriedades, o governo oferecia
implementos agrícolas e os materiais para construção de residência
(PONCIANO, 2001, p. 98).
Tratava-se de transformar os “espaços vazios” como suporte de sustentação do
espaço urbano, favorecendo a indústria, mediante instauração da nova realidade agrícola que
o desenvolvimento industrial exigia, ampliando-se o mercado interno. A implantação da
pequena propriedade por meio da criação de colônias agrícolas almejava, sobretudo,
incorporar essas áreas, consideradas “espaços vazios”, ao processo produtivo em conjunto
com a indústria e agregar esses “espaços vazios” significava desenvolver economicamente
essas áreas (BATISTA, 1995).
A colonização mudou o cenário rural e urbano da região, na medida em que
proporcionou a vinda de um grande número de trabalhadores e de famílias extremamente
pobres. Todavia, a CAND funcionou como estratégia política de ocupação das terras na
região ou como o governo as considerava, “espaços vazios”, além de garantir a segurança na
área de fronteira.

O papel do Estado na expansão agrícola

O Estado por intermédio da Superintendência de Desenvolvimento do Centro-


Oeste (SUDECO)6 conduzia as transformações no perfil agropecuário e na configuração
espacial sul-mato-grossense, caracterizada como atrativa por apresentar vastas extensões de
cerrado, planos e desocupados, ou seja, um grande potencial para extensão da agricultura
tecnificada (ABREU, 2001).
Após a entrega dos títulos de propriedade definitivos aos colonos no final da
década de 1960, inicia-se um processo de transformações na área da CAND que modificaram
sua estrutura no início da década de 1970, já que chegam ao estado granjeiros gaúchos, que
possuíam uma tradição agrícola de técnicas mais aprimoradas no tratamento e manejo do solo.
Esses novos atores sociais tinham a finalidade de expandir a produção agrícola
tecnificada do binômio soja/trigo visando abastecer o mercado externo. Nesse sentido,
introduziram no sul do então estado de Mato Grosso uma forma de produção altamente
tecnificada para a realidade da CAND, com a utilização de sementes selecionadas, insumos,
implementos agrícolas, mecânicos especializados, etc (ABREU, 2001).
Com a chegada dos granjeiros aliados aos programas de desenvolvimento,
estimularam o desenvolvimento e o aumento produtivo da região. Havendo assim, a
necessidade de expandir mais a área de cultivo do binômio, fazendo com que houvesse um
rearranjo na estrutura produtiva local, refletindo como fator de desarticulação da CAND.
Logo, a área plantada com soja no município de Dourados, no decênio de 1970/80, passa de
3.500 hectares para 134.000 hectares, já as áreas de campo limpo, localizadas a sudoeste e
noroeste do município, foram rapidamente transformadas pela cultura de granja (GRESSLER
& SWENSSON, 1988, p. 105).
Para Abreu (2003) a expansão agrícola, tratava-se de uma reorganização da
agricultura brasileira e, conseqüentemente, da agricultura do sul mato-grossense, no sentido
6
Como órgão federal de intervenção e planejamento para a região Centro-Oeste, a SUDECO enquadrou-se no
projeto de desenvolvimento nacional e promoveu a reprodução do capital monopolista no interior do país, tendo
como meta produzir oportunidades e promover seu aproveitamento para acelerar o desenvolvimento harmônico
do Centro-Oeste (ABREU, 2001, p. 31).

6
do avanço da fronteira agrícola7. Esse era um processo previsto, em 1971, na política de
planejamento do Governo Federal e nas “Ações para a Agricultura e Abastecimento”, tendo
servido para orientar a programação da SUDECO. Nos anos 1970/80, com o intuito de
incentivar e incrementar a fronteira agrícola do País, o município de Dourados passou a
compor, no estado de Mato Grosso do Sul, a região destinada a ser mais um “Celeiro
Agrícola”, conforme anunciavam os Planos Nacionais de Desenvolvimento – PNDs.
Deste modo, extensas áreas de campos limpos foram ocupadas com a pecuária
extensiva e arrendadas pelos granjeiros gaúchos, que, em virtude das facilidades promovidas
pelo Poder Público, dirigiram-se para a região, introduzindo agricultura mecanizada,
capitalizando a produção que fomentou novas formas de produção e novas relações de
trabalho no campo e nas cidades.
Nesse sentido, a SUDECO propôs a denominação de região da “Grande
Dourados”, que atualmente é um dos principais pólo econômico de atração do estado.
Composta por 13 municípios: Dourados, Caarapó, Jutí, Itaporã, Maracaju, Douradina, Rio
Brilhante, Nova Alvorada do Sul, Fátima do Sul, Vicentina, Jateí, Glória de Dourados e
Deodápolis. (Figura 02), já que havia grande interesse do governo no desenvolvimento
agrícola da região.

Figura 02: Localização da região da Grande Dourados

Brum (1988) assevera que a substituição da agricultura tradicional por uma


agricultura modernizada representava a abertura de importantes canais para a expansão dos
negócios das grandes corporações econômicas, tanto no fornecimento das máquinas e
insumos modernos como na comercialização mundial e nas indústrias de transformação dos

7
A SUDECO utilizou o conceito fronteira agrícola para descrever o avanço do capital no Centro-Oeste. Nessa
linha, está ligada à incorporação de novas áreas para introdução da atividade agrícola para produção comercial
de alimentos.

7
produtos agropecuários. O setor industrial passou a impor o desenvolvimento tecnológico da
agricultura, ao forçar a utilização de novas técnicas, pelo fato de que a produção/consumo de
uma tecnologia mais avançada ofereceria maiores possibilidades de acumulação de capital.
Como resultado dessas políticas, houve a desestruturação das pequenas
propriedades, desencadeando a venda de lotes e, conseqüentemente a migração dessas
famílias para as cidades. Essa desestruturação contribuiu para promover uma nova
configuração territorial na porção meridional da região. Desenvolveu-se uma estrutura
fundiária, baseada nas médias e grandes propriedades, para a instalação da agricultura
moderna, voltadas para prática do binômio soja/trigo para abastecer o mercado externo. Essa
estrutura fundiária evoluiu em um sentido concentrador e excludente, que tende a se fortalecer
com a nova estrutura produtiva que se instala com o crescente cultivo da cana-de-açúcar na
região atualmente, dificultando qualquer tipo de acesso à terra aos trabalhadores rurais.

Dinâmica da estrutura produtiva: novas relações no campo

As transformações sociais e econômicas às quais estão associadas às mudanças


que se configuram na dinâmica do modo de produção capitalista, refletem nas relações sociais
de produção e de trabalho. Percebe-se, uma nova configuração territorial, que do ponto de
vista da organização das atividades econômicas, as cidades não podem mais ser identificadas
apenas com a atividade industrial e, nem os campos, com as atividades de agricultura, pois no
campo, tem-se a convivência de dinâmicas diferenciadas.
De um lado, a agricultura empresarial, tecnificada, vinculada á produção de
mercadorias para exportação, ou “commoditização8” da agricultura e, de outro, a agricultura
familiar camponesa, vinculada historicamente à produção de alimentos. As disputas
territoriais têm sido a tônica desse processo mais recente de expansão e consolidação do
agronegócio e as tentativas de supressão, sujeição e controle da agricultura familiar
camponesa ao destrutivismo do capital e ás políticas do Estado (THOMAZ JUNIOR, 2007b).
Em uma análise do modelo de produção da CAND, era caracterizado até a década
de 1960, como um sistema policultor, havendo diversificação de culturas, tais como feijão,
arroz, milho, mandioca, amendoim e algodão, cultivados para o próprio consumo familiar,
exceto o amendoim e o algodão, cultivados para o mercado local. Eram plantações que
contavam apenas com o trabalho familiar e/ou parcerias com vizinhos, utilizando-se apenas
instrumentos manuais e de tração animal. Para a comercialização do excedente, enfrentavam
dificuldades de escoamento, em virtude das péssimas condições das vias de circulação,
ficando os colonos a mercê dos atravessadores, que passavam a dominar o escoamento da
produção.
Entretanto, a industrialização da agricultura brasileira vem ocorrendo no interior
do crescente processo de internacionalização da economia com a finalidade de ampliar a sua
produção agrícola e seu setor industrial, o que é verificado no estado de Mato Grosso do Sul.
Deste modo, tem ocorrido uma rápida expansão das culturas de produtos agrícolas para
exportação (café, cana-de-açúcar, soja, laranja, etc.), em detrimento aos produtos alimentícios
destinados ao mercado interno (arroz, feijão, etc.) (OLIVEIRA, 1999). Para o autor:
O processo de internacionalização da economia brasileira tem relevado,
então, que o desenvolvimento do capitalismo na agricultura em nossos dias
está marcado, sobre tudo, pela industrialização. Essa industrialização deve
ser entendida como o processo de introdução do modo industrial de produzir
8
Cf. THOMAZ JUNIOR, 2008b

8
no campo, desencadeando um inter-relacionamento intenso entre a indústria
e a agricultura (OLIVEIRA, 1999, p. 77).
O processo de modernização ocorre com a substituição da agricultura extensiva
pela intensiva no uso de insumos industrializados e mão-de-obra assalariada, ao lado de
transformações tecnológicas que aumentaram a produtividade da terra e do trabalho (LEONE,
1988). Nesse sentido, há necessidade de grandes investimentos como destacam Guidolin &
Porto Júnior:
[...] a produção de grãos, nos moldes desenvolvidos requer a produção em
larga escala, com elevados investimentos em insumos modernos e máquinas
agrícolas. Este modelo de produção tende a concentrar as terras e reduzir a
demanda por trabalho, em especial, o pouco qualificado (GUIDOLIN &
PORTO JÚNIOR 2006, p. 19).
Com a dinâmica da estrutura de produção agrícola, ocorre um processo de
especialização da agricultura em escala nacional. A partir da década de 1960, o consumo da
soja teve um aumento elevado, principalmente em países europeus. Em conseqüência da
grande demanda houve uma elevação dos preços, que favoreceu o incentivo do cultivo
mecanizado dessa cultura. Foi por meio de inúmeros incentivos que a região do cerrado
começou a produzir em alta escala a monocultura da soja. Sobre essa nova estratégia do
Estado brasileiro, Brum (1988) assevera que:
A fase de grande expansão da soja coincidiu com o aprofundamento da
internacionalização da economia brasileira. A nossa economia se integra
mais ao capitalismo internacional. O país experimentou um período de
rápido crescimento econômico, fase esta conhecida como “milagre
brasileiro”, que se estendeu de 1968 a 1973/1974. A necessidade de importar
em grande escala máquinas, equipamentos e aparelhos modernos (bens de
capital) para a implantação de um parque industrial sofisticado,
predominantemente multinacional, levaram o governo brasileiro, seguindo a
estratégia e orientação dos países centrais, principalmente os Estados
Unidos, e das corporações transnacionais, a incentivar a agricultura
modernizada destinada à exportação. A soja foi a principal cultura a receber
estímulos oficiais e, em torno dela, se ampliou e consolidou definitivamente
o processo de modernização da agricultura na região e no país (BRUM,
1988, p. 78).
Nesse contexto de implantação do cultivo de soja e de incentivos para sua
modernização, ocasionaram para região do cerrado, inclusive para a área da antiga CAND,
grandes transformações territoriais. Para Medeiros (1998) a região assume importância
estratégia para o desenvolvimento de uma agricultura comercial moderna de alta
produtividade, notadamente a cultura da soja, exportando excedentes consideráveis para o
restante do país e para o exterior. Deste modo, se criou uma estrutura monocultora, induzindo
profundamente não só pequenos, como médios e grandes produtores a inserirem-se no cultivo
da mesma. Para Gliessman (2000), a monocultura é:
[...] uma excrescência natural de uma abordagem industrial da agricultura,
em que os insumos de mão-de-obra são minimizados e os insumos baseados
em tecnologia são maximizados com vistas a aumentar a eficiência
produtiva. As técnicas de monocultivo casam-se bem com outras práticas da
agricultura moderna: a monocultura tende a favorecer o cultivo intensivo do
solo, a aplicação de fertilizantes inorgânicos, a irrigação, o controle químico
de pragas e as variedades especializadas de plantas (GLIESSMAN, 2000, p.
35).

9
Todavia, o processo de modernização associado à expansão da grande
propriedade mecanizada, e a prática cada vez mais crescente da monocultura, estabelecem
processos de transformações territoriais, de exclusão de trabalhadores e pequenos produtores.
Já que diminui a necessidade de mão-de-obra permanente, ao mesmo tempo em que os
trabalhadores bóias-frias vêem sua oferta de trabalho diminuir cada vez mais e acabam se
sujeitando a duros turnos no campo por diárias cada vez mais irrisórias (BALSAN, 2006).
Nesse sentido, Thomaz Junior destaca que:
A partir dos anos 80 que no Brasil se manifestaram os primeiros impulsos do
processo de reestruturação produtiva, mas é a partir do início da década
seguinte que atingiu nova amplitude e profundidade, momento em que as
inovações técnicas e organizacionais assumem um caráter mais sistêmico em
todo o circuito produtivo dos diversos setores econômicos, [...] à busca da
competitividade do capital e a adoção de novos padrões organizacionais e
tecnológicos compatíveis. Nesse percurso, quanto mais aumentam a
competitividade e a concorrência intercapitalista, mais desastrosas e cruéis
são as conseqüências para o trabalho, para a classe-que-vive-do-trabalho
(THOMAZ JR, 2002).
Nessa perspectiva, o autor ressalta a imposição de novas fissuras à fragmentação
do trabalho e a decorrente polissemização que espelha as múltiplas divisões que marcam a
classe trabalhadora e o movimento operário na atual conjuntura produtiva. Surge um extenso
conjunto de modificações no âmbito do trabalho, remetendo-se em profundas alterações no
espaço e no território (THOMAZ JR, 2002).
Com o avanço do modo industrial de produzir no campo no país, Oliveira (2003)
destaca que é necessário entender que a modernização da agricultura brasileira não deve ser
entendida apenas pelas crescentes utilizações de implementos e insumos agropecuários. No
entanto, ressalta que o desenvolvimento de novas técnicas foi acompanhado por
transformações nas relações sociais de produção e trabalho, onde as relações de trabalho no
campo se modificaram, intensificando cada vez mais a utilização de mão-de-obra assalariada.
Os pequenos produtores rurais foram expropriados, dando lugar a empresas capitalistas. A
industrialização da agricultura formou uma classe de proletariado no campo e restringiu as
possibilidades da pequena propriedade continuar a produzir independentemente.
A dinâmica dessa modo de produzir, gerou um processo de substituição do
trabalho “vivo” pelo trabalho “morto”, ou seja, a força de trabalho é substituída pela máquina,
que nesse sentido intensifica a divisão técnica do trabalho. Thomaz Jr. (2002) destaca que ao
passo que o capital provoca alterações na base técnica da produção, alterando as relações
sociais e de produção, cria novas condições de adequação da força de trabalho à esfera de
produção, agora sobre a referência da substituição do trabalho “vivo” pelo trabalho “morto”.
O autor enfatiza que as novas relações de trabalho estabelecidas com a nova estruturação do
modo de produzir no campo fez surgir novos tipos de trabalhadores, redefinindo a estrutura
do mercado de trabalho, ditada pela nova especialização e importância dos trabalhadores,
adequando-os as novas condições. Gonçalves Neto (1997) salienta que:
Ao lado das violentas transferências de populações para o setor urbano,
ocorre também uma reformulação na mão-de-obra restante no interior das
propriedades, com eliminação dos parceiros, agregados, etc., pela
disseminação do trabalho assalariado, sobretudo nas grandes propriedades,
que se modernizam. Restou às pequenas propriedades a possibilidade da
subordinação ao capital industrial, à marginalização, o esfacelamento ou a
venda e migração para os centros urbanos (GONÇALVES NETO, 1997, p.
109).

10
Portanto, as alterações no modo de produzir e organizar a produção agrícola
provocaram uma nova organização do território sul mato-grossense, redefinindo às novas
condições de produção determinadas, em geral, pelos interesses do Estado e dos grupos
econômicos capitalistas. Para Silva (1982) o que se vê no campo brasileiro é:
Uma ‘modernização conservadora’ que privilegia apenas algumas culturas e
regiões assim como alguns tipos específicos de unidades produtivas (médias
e grandes propriedades). Nunca uma transformação dinâmica, auto
sustentada; pelo contrário, uma modernização induzida através de pesados
custos sociais e que só vinga pelo amparo do Estado (SILVA, 1982, p. 40).
Tais fatos ocorreram na região de Dourados. Atualmente, a área da antiga CAND
faz parte da denominada Grande Dourados. A implantação da CAND foi de suma importância
para o desenvolvimento da região e para integração com as demais regiões do país,
principalmente com a região Sudeste. Atualmente, a região é um importante pólo
agroindustrial do estado de Mato Grosso do Sul. Mas, ao mesmo tempo, esse processo
dinâmico da estrutura agrícola gerou um processo expropriatório, excludente e estabeleceu
novas relações sociais e de trabalho na região, gerando em sua dinâmica uma nova
configuração territorial da antiga área da CAND. Segundo Montenegro Gómez (2002), as
políticas agrárias, que anteriormente visavam amenizar os problemas referentes à questão
agrária, estão sendo substituídas por políticas de desenvolvimento rural, que propõem
estratégias e meios ainda mais excludentes, para a dinamização do meio rural, excluindo
camponeses e trabalhadores da terra.
Para Oliveira (1999) a política de colonização priorizou o desenvolvimento
econômico do país, sem considerar o assentamento econômico e social dos colonos. Já que, a
maioria contemplada com os lotes não realizou seu sonho de prosperar como agricultores,
tendo em vista, as dificuldades encontradas por quem nada tinha a não ser a força de trabalho
para colaborar com os projetos de colonização e de povoamento dos “espaços vazios”,
desencadeados pelo governo.
Em síntese, o que se observa hoje, é que os colonos remanescentes da CAND, que
ainda vivem na região são pequenos produtores que de alguma forma resistem ao avanço do
capital agrário ou que se inseriram na nova estrutura produtiva. Aqueles que venderam suas
terras vivem nas cidades da região, praticando uma economia informal ou trabalhando como
diaristas em fazendas, competindo muitas vezes com o progresso técnico que o desapropria de
sua única fonte de riqueza, a força de trabalho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nas últimas décadas o Brasil vem passando por profundas transformações


estruturais em seus setores econômicos, ao qual a globalização da economia tem provocado
diversas mudanças no processo produtivo que está ligada a agricultura, principalmente em
virtude da introdução da ciência, da tecnologia e da informação, redefinindo sua estrutura
técnica, econômica e social.
A partir do início da década de 1930, a região centro-oeste, mais precisamente o
sul do então estado de Mato Grosso, passar a ser foco de políticas de ocupação e colonização
da região com intuito ao desenvolvimento nacional, de forma a integrá-la a economia
nacional como extensão da região sudeste, como mercado consumidor e de fornecedor de
matérias-primas. Mas torna-se evidente, que a preocupação principal das políticas de
colonização estipuladas pelo Governo Federal para as regiões consideradas “espaços vazios”,
estava ligada a nova ordem que se fortalecia no país, ou seja, à necessidade de expansão das
relações capitalistas de produção, ao qual o capital se torna elemento fundamental.

11
Nesse sentido, pode-se constatar que as políticas foram estabelecidas não com
interesses sociais, mas sim econômicas, no sentido de que a integração desses “espaços
vazios” a economia nacional fortaleceria o desenvolvimento industrial, ao qual o Governo
tanto sonhava. Desta forma, esses atores sociais foram utilizados de forma a propiciar à região
princípios básicos para a expansão do capital, ao qual a SUDECO teve papel fundamental em
estabelecer através de ações esses princípios de desenvolvimento capitalista na região.
Representada pela CAND, a região foi base de profundas transformações
territoriais, sociais e econômicas, já que, sendo a SUDECO o órgão federal gestor do
planejamento da região, tinha suas políticas baseadas no desenvolvimento regional. Foram
estipuladas diversas políticas de desenvolvimento, mas que em sua maioria beneficiava
apenas uma minoria, gerando assim, o enfraquecimento das atividades familiares e em contra
partida, fortalecendo a concentração fundiária, redefinindo totalmente as relações da região,
que a partir da exclusão e expropriação de pequenos produtores, estes, são obrigados a migrar
para centros urbanos ou se tornarem assalariados e se subordinarem a nova configuração
fundiária que se forma na região.
As políticas vinham de encontro ao interesse de se estabelecer e fomentar a
estruturação e desenvolvimento das médias e grandes propriedades, tendo em vista, a
capitalização produtiva por meio da introdução tecnológica no campo, fortalecendo dessa
forma, o desenvolvimento capitalista na região de forma implementar uma produção agrícola
destinada ao mercado externo.
Com o fortalecimento da intervenção política por meio da SUDECO, a dinâmica
da estrutura produtiva agrícola se intensifica na região principalmente a partir da década de
1970, com a introdução do cultivo do binômio soja/trigo, juntamente com o desenvolvimento
de novas técnicas – incremento da tecnologia – que fortaleceram ainda mais as desigualdades
econômicas, já que expropriou de forma mais avassaladora o pequeno produtor e, em contra
partida favoreceu os grandes produtores.
Pressupõe-se que as dificuldades por parte dos pequenos produtores em se inserir
às novas estruturas produtivas, intitulada pelo crescente âmbito de competitividade,
gerenciadas pelos padrões de mercado, gera uma exclusão ainda maior. Já que, o padrão de
produção familiar, de técnicas produtivas menos refinadas, predominante no período de
desenvolvimento inicial da antiga colônia, vai cedendo lugar a um padrão produtivo em
grande escala, visando principalmente o mercado externo e com alto padrão técnico e
econômico, no qual grande maioria de pequenos produtores não tem condições de acesso.
Nesse sentido, as únicas alternativas para essas famílias são venderem seus lotes e migrarem
para as cidades ou tornarem mão-de-obra para grandes propriedades estabelecidas na região.
Contudo, se observa que as políticas implementadas na região, permitiram o
desenvolvimento do modo de produção capitalista, de forma que redefiniu as relações entre o
campo e a cidades e firmou novas relações econômicas e de trabalho, além de instaurar um
rearranjo produtivo na região. Nesse sentido, é de entendimento que a SUDECO incrementou
o desenvolvimento da região na visão lógica do capital, sendo hoje denominada de região da
Grande Dourados, um dos principais pólos econômicos do estado, cuja economia está
vinculada principalmente à agroindústria.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, Silvana de. Planejamento governamental: a SUDECO no espaço mato-


grossense: contexto, propósitos e contradições. 2001. 351 páginas. Tese (Doutorado em
Geografia Humana). São Paulo: USP. FLCH/USP. 2001.

12
AZEVEDO, José Roberto Nunes de. Expansão do capital canavieiro no Mato Grosso do
Sul: configuração espacial e a relação capital x trabalho. 2008. Dissertação (Relatório de
Qualificação), Universidade Federal da Grande Dourados/UFGD, 2008.
BALSAN, Rosane. Impactos decorrentes da modernização da agricultura brasileira. In:
Campo e território: revista de geografia agrária. Rio Grande, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago.
2006.
BATISTA, Luiz Carlos. Processo de formação do espaço agrário do Estado de Mato
Grosso do Sul. Campo Grande/MS: PREG/UFMS, 1995.
BRUM, Argemiro Jacob. Modernização da agricultura: trigo e soja. Petrópolis: Vozes,
1988.
CORRÊA, Roberto Lobato. Territorialidade e corporação: um exemplo. In: Território,
globalização e fragmentação. 2º ed. São Paulo: Hucitec: ANPUR, 1996.
GLIESSMAN, Stephen R. Agroecologia: processos ecológicos em agricultura sustentável.
Porto Alegre: UFRGS, 2000.
GONÇALVES NETO, Wenceslau. Estado e Agricultura no Brasil. São Paulo: Hucitec,
1997.
GRESSLER, Lori Alice; SWENSSON, Lauro Joppert. Aspectos históricos do povoamento e
da colonização do Estado de Mato Grosso do Sul: destaque especial ao município de
Dourados. Estado: Gressler, 1988.
LENHARO, Alcir. Colonização e trabalho no Brasil: Amazônica, Nordeste e Centro-Oeste.
Campinas - SP: UNICAMP, 1986.
LEONE, Eugenia Troncoso. Modernização e distribuição na agricultura no estado da
Bahia em 1980. 1988. 152 páginas. Dissertação (Mestrado em Geografia). Piracicaba:
ESALQ/USP, 1988.
MEDEIROS, Silvana Almeida Figueira. Agricultura moderna e demandas ambientais: o caso
da sustentabilidade da soja nos cerrados. In: DUARTE, L.M. (Org). Tristes cerrados:
sociedade e biodiversidade. Brasília: Paralelo 15, 1998.
MIZUSAKI, Márcia Yukari. Monopolização do território e reestruturação produtiva na
avicultura em Mato Grosso do Sul. 2003. 432 páginas. Tese (doutorado em Geografia). São
Paulo: FFLCH/USP, 2003.
MONTENEGRO GÓMEZ, Jorge Ramón. Políticas públicas de desenvolvimento rural e o
projeto de reforma agrária do MST no Noroeste do Paraná: uma contribuição ao
entendimento do conflito capital x trabalho, da gestão territorial do Estado e do controle
social do capital. 2002. 230 páginas. Dissertação (Mestrado em Geografia) Centro de Ciências
Humanas, Letras e Artes, Universidade Estadual de Maringá, Maringá. 2002.
MOREIRA, Ruy. Formação do espaço agrário brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 1990.
_________. Pensar e ser em Geografia. São Paulo: Contexto, 2007.
OLIVEIRA, Ana Maria Soares de. Relação capital-trabalho na agroindústria
sucroalcooleira paulista e a intensificação do corte mecanizado: gestão do trabalho e
certificação ambiental. 2003. Dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho, Presidente Prudente, 2003.

13
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Modo Capitalista de Produção e Agricultura. São
Paulo: Ática, 1986.
_________. Agricultura brasileira: desenvolvimento e contradições. São Paulo:
mimeografado, 1992.
_________. A geografia agrária e as transformações territoriais recentes no campo brasileiro.
In: Carlos, A. F. A. (org.) Novos caminhos da Geografia. São Paulo. São Paulo: Contexto,
1999.
OLIVEIRA, Benícia Couto de. A política de colonização do Estado Novo em Mato Grosso
(1937- 1945). 1999. 243 páginas. Dissertação (Mestrado em História), FCL/UNESP, Assis.
1999.
PAULINO, Eliane Tomiasi; FABRINI, João Edmilson. Campesinato e territórios em
disputa. São Paulo: Expressão Popular: UNESP. Programa de Pós-Graduação em Geografia.
2008.
PONCIANO, Nilton Paulo. O processo civilizador do sul de mato grosso: a colônia
agrícola nacional de Dourados. Guarapuava: Anacleta. 2001. vol. 2, nº 1.
PRADO JÚNIOR, Caio. A questão agrária no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1979.
RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. In: Por uma geografia do poder. São
Paulo: Ática, 1993. Tradução de: Pour une geografhie du pouvoir. Paris: Litec, 1980.
Tradução por Maria Cecília França.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência
universal. Rio de Janeiro: Record, 2000.
SANTOS, Vicência Deusdete dos. A contribuição da Colônia Agrícola Nacional de
Dourados – CAND no processo de ocupação e desenvolvimento do Mato Grosso do Sul
meridional. 2000. (Especialização em Geografia), UFMS, Dourados, 2000.
SILVA, José Graziano da. A modernização dolorosa. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
THOMAZ JÚNIOR, Antônio. Por trás dos canaviais, os (nós) da cana (uma contribuição
ao entendimento da relação capital x trabalho e do movimento sindical dos
trabalhadores na agroindústria canavieira paulista). 2002. São Paulo:
Annablume/FAPESP, 2002.
________. Trabalho, Reforma Agrária e Soberania Alimentar: Elementos para Recolocar o
Debate da Luta de Classes no Brasil. Presidente Prudente: Pegada, V.7, N.2, 2006.
________. Trabalho e Territórios em Disputa (Algumas Considerações). In: PAULINO, E. T.
(Org.). Campesinato em Movimento. III Simpósio Internacional de Geografia Agrária -
IV Simpósio Nacional de Geografia Agrária. Londrina, 2007a.
________. Agronegócio Alcoolizado e Culturas em Expansão no Pontal do Paranapanema!
Legitimação das Terras Devolutas e Neutralização dos Movimentos Sociais. In:
SIMONETTI, M. C. L. (Org). III Fórum de Políticas Públicas, Ambiente e Populações.
Marília, 2007b. (no prelo).

14

Potrebbero piacerti anche