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Cf. OLIVEIRA, 1999.
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Mais detalhes ver: Thomaz Junior, 2007b e 2008a.
características da estrutura produtiva da região, e, por fim, será abordado, as novas relações
estabelecidas na região, impulsionadas pela introdução da monocultura da soja na década de
1970 e das novas tecnologias no modo de produzir no campo.
O PROCESSO DE COLONIZAÇÃO DA REGIÃO DA GRANDE DOURADOS
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Nesse sentido, entende-se que os lugares possuem especificidades históricas e
geográficas que os identificam e caracterizam e, mesmo sendo particulares, encontram-se
integrados a um movimento mais amplo, de expansão da dinâmica produtiva no campo.
No estado de Mato Grosso do Sul, a história agrícola está ligada ao processo de
colonização. A estruturação territorial agrária da região teve impulso com o Governo Vargas,
que intensificou a ocupação de terras devolutas no país, objetivando descentralizar o alto
índice demográfico dos centros urbanos, resguardando o território e, assegurando a
nacionalidade das fronteiras e seus recursos naturais.
A colonização rural foi enfoque de diretrizes governamentais, com incentivos à
produção agrícola, através da distribuição de terras gratuitas, visando o aumento da oferta do
setor alimentício. Almejava-se desenvolver regiões urbanas e industriais, tornando-se
necessário integrar o interior do país à economia nacional, através do lançamento da
campanha “Marcha para o Oeste”. Intentava-se povoar as imensas áreas “desertas” do
território nacional, e, sobretudo, temia-se que as áreas de fronteira fossem apoderadas por
outros países. Assim, o sul de Mato Grosso, por ser uma área de fronteira, com baixa
densidade demográfica, foi escolhido para sediar um dos projetos de colonização (SANTOS,
2000).
Na análise histórica-agrícola do município de Dourados, torna-se relevante
enfocar sua fomação sócio-territorial. Localizado no centro sul do estado de Mato Grosso do
Sul, o município de Dourados com área total de 408.640,63 ha, encontra-se a 121 km da linha
de fronteira do Brasil com o Paraguai e a 225 km da capital Campo Grande. Com uma
população de 181.869 habitantes, é o segundo município do estado em importância
econômica (IBGE, 2008).
As terras da região foram incialmente habitadas por índios Guarani e ex-
combatentes da Guerra do Paraguai (1864-1870). Com a chegada de imigrantes mineiros e
gaúchos no final do século XIX e início do século XX, passam a ser exploradas mediante
extração da erva-mate nativa e pecuária extensiva, situação que foi parcialmente alterada com
a criação da Colônia Agrícola.
Em 1940, o município de Dourados, contava com uma área de 19.688 km2,
englobando as áreas dos atuais municípios de Itaporã, Caarapó, Naviraí, Glória de Dourados,
Fátima do Sul, Jateí, Ivinhema, Deodápolis, Angélica e Douradina. O município pertencia ao
Territorio Federal de Ponta Porã3 e apresentava uma população de 14.985 habitantes, sendo
que destes, 852 estavam fixados na zona urbana, 969 no perímetro sub-urbano e 13.164
habitavam a zona rural. Na época, a economia do território era representada basicamente pela
exploraçao da erva-mate, do quebracho (Tatino) e pela criação bovina (GRESSLER &
SWENSSON, 1988).
Com a implementação dos programas de colonização, ocupação, integração e
desenvolvimento do Centro-Oeste, estabeleceream-se processos de ocupações na região,
tendo a Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (SUDECO)4, papel
importante nesse processo.
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O Decreto-lei nº 5.812, de 13 de setembro de 1943, criou o Território de Ponta Porã, abrangendo os municípios
de Dourados, Bela Vista, Ponta Porã, Porto Murtinho, Miranda, Maracaju e Nioaque. Ponta Porã foi escolhida
como capital do novo território. No dia 18 de setembro de 1946, em conseqüência do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias, foi extinto o Território Federal de Ponta Porã, estabelecendo a antiga divisão
territorial, administrativa e judiciária dos municípios, reincorporando-os ao estado de Mato Grosso (GRESSLER
& SWENSSON, 1988, p. 70).
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Criada pela Lei nº 5.365, de 1º de Dezembro de 1967, como forma de estimular o desenvolvimento regional do
Centro-Oeste brasileiro. A SUDECO foi o órgão de planejamento oficial para a região Centro-Oeste e
consolidou-se como foco de estudo para formulação de Políticas Públicas de desenvolvimento implementadas
pelo Governo (ABREU, 2001).
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Abreu (2001), ao analisar o planejamento regional da região assevera que, a
SUDECO foi de fundamental importância para o entendimento das transformações no espaço
de análise, já que, as políticas públicas visavam incrementar ações que dinamizavam o
desenvolvimento regional. Deste modo, o entendimento inicial para as transformações
produzidas no espaço sul mato-grossense encontra-se sob a tutela do planejamento e das
intervenções promovidas pela SUDECO, que tem na lógica do desenvolvimento e da
racionalidade suas políticas de intervenção e dinamização e, na preponderância do avanço do
capital e integração nacional.
Para Oliveira (1999), a criação das colônias agrícolas, pelo governo Vargas,
pautava-se na fixação do homem no campo através da implantação da pequena propriedade.
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De acordo com o Relatório do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), as atividades
fundiárias na região da Grande Dourados tiveram origem com a criação da Colônia Agrícola Nacional de
Dourados, em terra da União, no então Território Federal de Ponta Porã, com a reserva de uma área a ser
demarcada não inferior a 300.000 hectares, decreto este do então presidente Getúlio Vargas (PONCIANO, 2001,
p. 99).
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As preocupações das políticas de colonização estavam diretamente ligadas às necessidades de
expansão das relações capitalistas de produção. Segundo Ponciano:
[...] a pequena propriedade era utilizada como estratégia para propiciar o
retorno do homem desocupado da grande cidade ou de regiões com grande
densidade demográfica ao campo e às regiões como a de Goiás, a do Mato
Grosso e a da Amazônia. [...] o trabalhador teria a aquisição de sua terra
facilitada em função do baixo preço, pela ajuda financeira na obtenção de
recursos e utensílios para trabalhá-la. [...] A política de colonização do
Estado Novo, na região do sul de Mato Grosso, especificamente a região da
Grande Dourados, propiciou o início da exploração capitalista, de forma
sistemática, nessas terras, com a implantação da pequena propriedade
(PONCIANO, 2001, p.100).
Deste modo, delineavam-se estratégias de colonização, apoiando a pequena
propriedade, de modo que ela, lentamente, corroesse a velha ordem latifundiária, e, aos
poucos, instaurasse a nova realidade agrícola que o desenvolvimento industrial do país
exigiria (LENHARO, 1986).
Desencadeado pela “Marcha para o Oeste”, a CAND estabeleceu a demarcação de
trezentos mil hectares no território Federal de Ponta Porã. A colonização ocorreu em duas
etapas: na primeira foram distribuídos 2.232 lotes de 30 hectares e, na segunda etapa, 6.500
lotes rurais e 6.832 lotes urbanos.
O processo de divisão das terras da CAND consistia na doação de lotes aos
cidadãos brasileiros, maiores de 18 anos, reconhecidamente pobres e aptos a trabalhos
agrícolas, que se comprometessem a morar nos lotes rurais. Nesse contexto, os lotes não
poderiam ser vendidos, hipotecados, arrendados, permutados ou alienados de qualquer modo,
direta ou indiretamente, antes de decorridos dez anos da expedição do título definitivo
(GRESSLER; SWENSSON, 1988).
Nesse contexto, o governo para atrair trabalhadores para a CAND, desencadeou
uma intensa propaganda através da imprensa. Segundo Oliveira (1999) esse mecanismo
trouxe bons resultados, uma vez que migraram centenas de famílias dos vários estados do país
para a região, em busca da terra como meio de trabalho. Logo, o projeto colonizador, no sul
do então estado de Mato Grosso foi viabilizado, pois havia elementos (homens e mulheres)
dispostos a enfrentarem os desafios de migrarem para outras regiões do país, na tentativa de
melhorarem de vida, ou seja, havia uma força de trabalho disponível, barata e desqualificada.
Nesse processo de ocupação da colônia era exigida certa iniciativa dos colonos,
tendo em vista, que era necessário um espírito desbravador por parte dos colonos, já que tinha
que entrar na área e iniciar as roças através da abertura de picadas, estradas e demarcações
dos lotes, isentando o mesmo tempo o governo dos gastos para tal tarefa. E ainda, atendiam
aos objetivos dos governantes locais, e, por sua vez, os do governo federal de desbravamento
da área com a introdução de trabalhadores nos espaços “vazios”.
Para Abreu (2001), a CAND teve um caráter de povoamento com múltiplos
objetivos, entre eles: garantir a ocupação territorial, aumentando o contingente populacional
nas áreas de fronteira; desconcentrar áreas de possíveis conflitos sociais, como o nordeste
brasileiro; firmar a parte meridional mato-grossense como extensão do sudeste, como
mercado consumidor e produtor de matéria-prima.
Deste modo, a CAND provocou intensa migração para a região, disponibilizando
mão-de-obra barata, que por sua vez, valorizou a terra. Por sua vez, a ocupação dos lotes
levou a uma redistribuição das pequenas propriedades e à concentração das terras,
acompanhada da implementação do trabalho assalariado. Para Ponciano:
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As Colônias Agrícolas foram planejadas para terem cidades-indústria
potencialmente lançadas no vazio. A preocupação do Governo Federal era
criar um centro urbano que favorecesse o surgimento de uma cidade
próspera e, em torno dela, as pequenas propriedades rurais. Nessa
perspectiva, além da doação de pequenas propriedades, o governo oferecia
implementos agrícolas e os materiais para construção de residência
(PONCIANO, 2001, p. 98).
Tratava-se de transformar os “espaços vazios” como suporte de sustentação do
espaço urbano, favorecendo a indústria, mediante instauração da nova realidade agrícola que
o desenvolvimento industrial exigia, ampliando-se o mercado interno. A implantação da
pequena propriedade por meio da criação de colônias agrícolas almejava, sobretudo,
incorporar essas áreas, consideradas “espaços vazios”, ao processo produtivo em conjunto
com a indústria e agregar esses “espaços vazios” significava desenvolver economicamente
essas áreas (BATISTA, 1995).
A colonização mudou o cenário rural e urbano da região, na medida em que
proporcionou a vinda de um grande número de trabalhadores e de famílias extremamente
pobres. Todavia, a CAND funcionou como estratégia política de ocupação das terras na
região ou como o governo as considerava, “espaços vazios”, além de garantir a segurança na
área de fronteira.
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do avanço da fronteira agrícola7. Esse era um processo previsto, em 1971, na política de
planejamento do Governo Federal e nas “Ações para a Agricultura e Abastecimento”, tendo
servido para orientar a programação da SUDECO. Nos anos 1970/80, com o intuito de
incentivar e incrementar a fronteira agrícola do País, o município de Dourados passou a
compor, no estado de Mato Grosso do Sul, a região destinada a ser mais um “Celeiro
Agrícola”, conforme anunciavam os Planos Nacionais de Desenvolvimento – PNDs.
Deste modo, extensas áreas de campos limpos foram ocupadas com a pecuária
extensiva e arrendadas pelos granjeiros gaúchos, que, em virtude das facilidades promovidas
pelo Poder Público, dirigiram-se para a região, introduzindo agricultura mecanizada,
capitalizando a produção que fomentou novas formas de produção e novas relações de
trabalho no campo e nas cidades.
Nesse sentido, a SUDECO propôs a denominação de região da “Grande
Dourados”, que atualmente é um dos principais pólo econômico de atração do estado.
Composta por 13 municípios: Dourados, Caarapó, Jutí, Itaporã, Maracaju, Douradina, Rio
Brilhante, Nova Alvorada do Sul, Fátima do Sul, Vicentina, Jateí, Glória de Dourados e
Deodápolis. (Figura 02), já que havia grande interesse do governo no desenvolvimento
agrícola da região.
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A SUDECO utilizou o conceito fronteira agrícola para descrever o avanço do capital no Centro-Oeste. Nessa
linha, está ligada à incorporação de novas áreas para introdução da atividade agrícola para produção comercial
de alimentos.
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produtos agropecuários. O setor industrial passou a impor o desenvolvimento tecnológico da
agricultura, ao forçar a utilização de novas técnicas, pelo fato de que a produção/consumo de
uma tecnologia mais avançada ofereceria maiores possibilidades de acumulação de capital.
Como resultado dessas políticas, houve a desestruturação das pequenas
propriedades, desencadeando a venda de lotes e, conseqüentemente a migração dessas
famílias para as cidades. Essa desestruturação contribuiu para promover uma nova
configuração territorial na porção meridional da região. Desenvolveu-se uma estrutura
fundiária, baseada nas médias e grandes propriedades, para a instalação da agricultura
moderna, voltadas para prática do binômio soja/trigo para abastecer o mercado externo. Essa
estrutura fundiária evoluiu em um sentido concentrador e excludente, que tende a se fortalecer
com a nova estrutura produtiva que se instala com o crescente cultivo da cana-de-açúcar na
região atualmente, dificultando qualquer tipo de acesso à terra aos trabalhadores rurais.
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no campo, desencadeando um inter-relacionamento intenso entre a indústria
e a agricultura (OLIVEIRA, 1999, p. 77).
O processo de modernização ocorre com a substituição da agricultura extensiva
pela intensiva no uso de insumos industrializados e mão-de-obra assalariada, ao lado de
transformações tecnológicas que aumentaram a produtividade da terra e do trabalho (LEONE,
1988). Nesse sentido, há necessidade de grandes investimentos como destacam Guidolin &
Porto Júnior:
[...] a produção de grãos, nos moldes desenvolvidos requer a produção em
larga escala, com elevados investimentos em insumos modernos e máquinas
agrícolas. Este modelo de produção tende a concentrar as terras e reduzir a
demanda por trabalho, em especial, o pouco qualificado (GUIDOLIN &
PORTO JÚNIOR 2006, p. 19).
Com a dinâmica da estrutura de produção agrícola, ocorre um processo de
especialização da agricultura em escala nacional. A partir da década de 1960, o consumo da
soja teve um aumento elevado, principalmente em países europeus. Em conseqüência da
grande demanda houve uma elevação dos preços, que favoreceu o incentivo do cultivo
mecanizado dessa cultura. Foi por meio de inúmeros incentivos que a região do cerrado
começou a produzir em alta escala a monocultura da soja. Sobre essa nova estratégia do
Estado brasileiro, Brum (1988) assevera que:
A fase de grande expansão da soja coincidiu com o aprofundamento da
internacionalização da economia brasileira. A nossa economia se integra
mais ao capitalismo internacional. O país experimentou um período de
rápido crescimento econômico, fase esta conhecida como “milagre
brasileiro”, que se estendeu de 1968 a 1973/1974. A necessidade de importar
em grande escala máquinas, equipamentos e aparelhos modernos (bens de
capital) para a implantação de um parque industrial sofisticado,
predominantemente multinacional, levaram o governo brasileiro, seguindo a
estratégia e orientação dos países centrais, principalmente os Estados
Unidos, e das corporações transnacionais, a incentivar a agricultura
modernizada destinada à exportação. A soja foi a principal cultura a receber
estímulos oficiais e, em torno dela, se ampliou e consolidou definitivamente
o processo de modernização da agricultura na região e no país (BRUM,
1988, p. 78).
Nesse contexto de implantação do cultivo de soja e de incentivos para sua
modernização, ocasionaram para região do cerrado, inclusive para a área da antiga CAND,
grandes transformações territoriais. Para Medeiros (1998) a região assume importância
estratégia para o desenvolvimento de uma agricultura comercial moderna de alta
produtividade, notadamente a cultura da soja, exportando excedentes consideráveis para o
restante do país e para o exterior. Deste modo, se criou uma estrutura monocultora, induzindo
profundamente não só pequenos, como médios e grandes produtores a inserirem-se no cultivo
da mesma. Para Gliessman (2000), a monocultura é:
[...] uma excrescência natural de uma abordagem industrial da agricultura,
em que os insumos de mão-de-obra são minimizados e os insumos baseados
em tecnologia são maximizados com vistas a aumentar a eficiência
produtiva. As técnicas de monocultivo casam-se bem com outras práticas da
agricultura moderna: a monocultura tende a favorecer o cultivo intensivo do
solo, a aplicação de fertilizantes inorgânicos, a irrigação, o controle químico
de pragas e as variedades especializadas de plantas (GLIESSMAN, 2000, p.
35).
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Todavia, o processo de modernização associado à expansão da grande
propriedade mecanizada, e a prática cada vez mais crescente da monocultura, estabelecem
processos de transformações territoriais, de exclusão de trabalhadores e pequenos produtores.
Já que diminui a necessidade de mão-de-obra permanente, ao mesmo tempo em que os
trabalhadores bóias-frias vêem sua oferta de trabalho diminuir cada vez mais e acabam se
sujeitando a duros turnos no campo por diárias cada vez mais irrisórias (BALSAN, 2006).
Nesse sentido, Thomaz Junior destaca que:
A partir dos anos 80 que no Brasil se manifestaram os primeiros impulsos do
processo de reestruturação produtiva, mas é a partir do início da década
seguinte que atingiu nova amplitude e profundidade, momento em que as
inovações técnicas e organizacionais assumem um caráter mais sistêmico em
todo o circuito produtivo dos diversos setores econômicos, [...] à busca da
competitividade do capital e a adoção de novos padrões organizacionais e
tecnológicos compatíveis. Nesse percurso, quanto mais aumentam a
competitividade e a concorrência intercapitalista, mais desastrosas e cruéis
são as conseqüências para o trabalho, para a classe-que-vive-do-trabalho
(THOMAZ JR, 2002).
Nessa perspectiva, o autor ressalta a imposição de novas fissuras à fragmentação
do trabalho e a decorrente polissemização que espelha as múltiplas divisões que marcam a
classe trabalhadora e o movimento operário na atual conjuntura produtiva. Surge um extenso
conjunto de modificações no âmbito do trabalho, remetendo-se em profundas alterações no
espaço e no território (THOMAZ JR, 2002).
Com o avanço do modo industrial de produzir no campo no país, Oliveira (2003)
destaca que é necessário entender que a modernização da agricultura brasileira não deve ser
entendida apenas pelas crescentes utilizações de implementos e insumos agropecuários. No
entanto, ressalta que o desenvolvimento de novas técnicas foi acompanhado por
transformações nas relações sociais de produção e trabalho, onde as relações de trabalho no
campo se modificaram, intensificando cada vez mais a utilização de mão-de-obra assalariada.
Os pequenos produtores rurais foram expropriados, dando lugar a empresas capitalistas. A
industrialização da agricultura formou uma classe de proletariado no campo e restringiu as
possibilidades da pequena propriedade continuar a produzir independentemente.
A dinâmica dessa modo de produzir, gerou um processo de substituição do
trabalho “vivo” pelo trabalho “morto”, ou seja, a força de trabalho é substituída pela máquina,
que nesse sentido intensifica a divisão técnica do trabalho. Thomaz Jr. (2002) destaca que ao
passo que o capital provoca alterações na base técnica da produção, alterando as relações
sociais e de produção, cria novas condições de adequação da força de trabalho à esfera de
produção, agora sobre a referência da substituição do trabalho “vivo” pelo trabalho “morto”.
O autor enfatiza que as novas relações de trabalho estabelecidas com a nova estruturação do
modo de produzir no campo fez surgir novos tipos de trabalhadores, redefinindo a estrutura
do mercado de trabalho, ditada pela nova especialização e importância dos trabalhadores,
adequando-os as novas condições. Gonçalves Neto (1997) salienta que:
Ao lado das violentas transferências de populações para o setor urbano,
ocorre também uma reformulação na mão-de-obra restante no interior das
propriedades, com eliminação dos parceiros, agregados, etc., pela
disseminação do trabalho assalariado, sobretudo nas grandes propriedades,
que se modernizam. Restou às pequenas propriedades a possibilidade da
subordinação ao capital industrial, à marginalização, o esfacelamento ou a
venda e migração para os centros urbanos (GONÇALVES NETO, 1997, p.
109).
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Portanto, as alterações no modo de produzir e organizar a produção agrícola
provocaram uma nova organização do território sul mato-grossense, redefinindo às novas
condições de produção determinadas, em geral, pelos interesses do Estado e dos grupos
econômicos capitalistas. Para Silva (1982) o que se vê no campo brasileiro é:
Uma ‘modernização conservadora’ que privilegia apenas algumas culturas e
regiões assim como alguns tipos específicos de unidades produtivas (médias
e grandes propriedades). Nunca uma transformação dinâmica, auto
sustentada; pelo contrário, uma modernização induzida através de pesados
custos sociais e que só vinga pelo amparo do Estado (SILVA, 1982, p. 40).
Tais fatos ocorreram na região de Dourados. Atualmente, a área da antiga CAND
faz parte da denominada Grande Dourados. A implantação da CAND foi de suma importância
para o desenvolvimento da região e para integração com as demais regiões do país,
principalmente com a região Sudeste. Atualmente, a região é um importante pólo
agroindustrial do estado de Mato Grosso do Sul. Mas, ao mesmo tempo, esse processo
dinâmico da estrutura agrícola gerou um processo expropriatório, excludente e estabeleceu
novas relações sociais e de trabalho na região, gerando em sua dinâmica uma nova
configuração territorial da antiga área da CAND. Segundo Montenegro Gómez (2002), as
políticas agrárias, que anteriormente visavam amenizar os problemas referentes à questão
agrária, estão sendo substituídas por políticas de desenvolvimento rural, que propõem
estratégias e meios ainda mais excludentes, para a dinamização do meio rural, excluindo
camponeses e trabalhadores da terra.
Para Oliveira (1999) a política de colonização priorizou o desenvolvimento
econômico do país, sem considerar o assentamento econômico e social dos colonos. Já que, a
maioria contemplada com os lotes não realizou seu sonho de prosperar como agricultores,
tendo em vista, as dificuldades encontradas por quem nada tinha a não ser a força de trabalho
para colaborar com os projetos de colonização e de povoamento dos “espaços vazios”,
desencadeados pelo governo.
Em síntese, o que se observa hoje, é que os colonos remanescentes da CAND, que
ainda vivem na região são pequenos produtores que de alguma forma resistem ao avanço do
capital agrário ou que se inseriram na nova estrutura produtiva. Aqueles que venderam suas
terras vivem nas cidades da região, praticando uma economia informal ou trabalhando como
diaristas em fazendas, competindo muitas vezes com o progresso técnico que o desapropria de
sua única fonte de riqueza, a força de trabalho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Nesse sentido, pode-se constatar que as políticas foram estabelecidas não com
interesses sociais, mas sim econômicas, no sentido de que a integração desses “espaços
vazios” a economia nacional fortaleceria o desenvolvimento industrial, ao qual o Governo
tanto sonhava. Desta forma, esses atores sociais foram utilizados de forma a propiciar à região
princípios básicos para a expansão do capital, ao qual a SUDECO teve papel fundamental em
estabelecer através de ações esses princípios de desenvolvimento capitalista na região.
Representada pela CAND, a região foi base de profundas transformações
territoriais, sociais e econômicas, já que, sendo a SUDECO o órgão federal gestor do
planejamento da região, tinha suas políticas baseadas no desenvolvimento regional. Foram
estipuladas diversas políticas de desenvolvimento, mas que em sua maioria beneficiava
apenas uma minoria, gerando assim, o enfraquecimento das atividades familiares e em contra
partida, fortalecendo a concentração fundiária, redefinindo totalmente as relações da região,
que a partir da exclusão e expropriação de pequenos produtores, estes, são obrigados a migrar
para centros urbanos ou se tornarem assalariados e se subordinarem a nova configuração
fundiária que se forma na região.
As políticas vinham de encontro ao interesse de se estabelecer e fomentar a
estruturação e desenvolvimento das médias e grandes propriedades, tendo em vista, a
capitalização produtiva por meio da introdução tecnológica no campo, fortalecendo dessa
forma, o desenvolvimento capitalista na região de forma implementar uma produção agrícola
destinada ao mercado externo.
Com o fortalecimento da intervenção política por meio da SUDECO, a dinâmica
da estrutura produtiva agrícola se intensifica na região principalmente a partir da década de
1970, com a introdução do cultivo do binômio soja/trigo, juntamente com o desenvolvimento
de novas técnicas – incremento da tecnologia – que fortaleceram ainda mais as desigualdades
econômicas, já que expropriou de forma mais avassaladora o pequeno produtor e, em contra
partida favoreceu os grandes produtores.
Pressupõe-se que as dificuldades por parte dos pequenos produtores em se inserir
às novas estruturas produtivas, intitulada pelo crescente âmbito de competitividade,
gerenciadas pelos padrões de mercado, gera uma exclusão ainda maior. Já que, o padrão de
produção familiar, de técnicas produtivas menos refinadas, predominante no período de
desenvolvimento inicial da antiga colônia, vai cedendo lugar a um padrão produtivo em
grande escala, visando principalmente o mercado externo e com alto padrão técnico e
econômico, no qual grande maioria de pequenos produtores não tem condições de acesso.
Nesse sentido, as únicas alternativas para essas famílias são venderem seus lotes e migrarem
para as cidades ou tornarem mão-de-obra para grandes propriedades estabelecidas na região.
Contudo, se observa que as políticas implementadas na região, permitiram o
desenvolvimento do modo de produção capitalista, de forma que redefiniu as relações entre o
campo e a cidades e firmou novas relações econômicas e de trabalho, além de instaurar um
rearranjo produtivo na região. Nesse sentido, é de entendimento que a SUDECO incrementou
o desenvolvimento da região na visão lógica do capital, sendo hoje denominada de região da
Grande Dourados, um dos principais pólos econômicos do estado, cuja economia está
vinculada principalmente à agroindústria.
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