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Antonio de Oliveira Jr
antonioojr@pontal.ufu.br
Curso de Geografia, Universidade Federal de Uberlândia, Campus Pontal
Artigo recebido para revisão do evento em 22/04/2014, aceito para publicação em 11/05/2014 e recebido para
publicação em 01/06/2014
Resumo
Este trabalho busca discutir as universidades como vetores indutores de desenvolvimento
local/regional, propondo analisá-las, a partir da Teoria dos Polos de Crescimento, de François
Perroux. Desta forma, as universidades são polos de desenvolvimento com capacidade de gerarem
impulsos de crescimento para o lugar onde estão instaladas e para a região. Discute-se no trabalho a
Teoria dos Polos de Crescimento, a partir de sua complexidade teórica e demonstrando com alguns
estudos de caso.
Abstract
This paper discusses the universities vectors to induce local / regional development, suggesting
analyze them from the Theory of Growth Poles, François Perroux. Thus, universities are centers of
development capable of generating growth impulses to the place where they are installed and the
region. This paper discusses the theory of growth poles, starting from their theoretical complexity,
demonstrating with some case studies.
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as universidades, como instituições de ensino, regiões e os lugares tornem-se não apenas mais
pesquisa, extensão e promoção social, assumem competitivos, mas com alto nível de qualidade
importância estratégica no processo de de vida dado o elevado grau de
desenvolvimento. O conjunto de suas atividades desenvolvimento socioeconômico. Independente
passa a dar origem a uma força de atração de disto a implantação de universidades em cidades
consumidores e empresas, contribuindo para pequenas e médias causa um conjunto de
gerar um crescimento econômico-social efeitos, que possam vir a dinamizar ou não o
local/regional. crescimento de seus lugares.
Estudos diversos têm sido realizados A politica nacional de democratização
com o objetivo de entender os efeitos dinâmicos do ensino superior tem possibilitado não apenas
e multiplicadores e os impactos gerados pela uma democratização do acesso de milhares de
implantação de campi universitários no Brasil, estudantes ao ingresso ao ensino superior como
seja do ponto de vista da política educacional também, contribuído para impulsionar o
seja a partir de um olhar que indique a inserção crescimento e o desenvolvimento dos lugares.
ou relação destas instituições nos lugares e nas Isto pode indicar que nas próximas décadas
regiões e seus impactos positivos e negativos, algumas dessas cidades onde se instalaram
onde há um número menor, mas novas universidades e novos campi, podem vir a
consideravelmente significativo e foco deste se tornarem polos de produção econômica. No
estudo. entanto, é necessário e prudente que também
Num mundo cada vez mais competitivo seja observado os impactos negativos, sobretudo
no qual as economias exercem um papel para a população local, da atividade
fundamental junto às sociedades e aos estados, universitária, que já chega aos lugares
formar pessoas para melhor qualifica-las e excluindo, segregando e selecionando. Não
torna-las inseridas em um mercado global no podemos entendê-la como uma atividade
qual os lugares e as regiões assumem a função produtiva comum, que aloca apenas
de dirigirem o crescimento econômico, o motor trabalhadores especializados. A atividade
alavancado pelo ensino superior possuí o papel universitária é uma economia que não gera
de contribuir para a promoção do produtos diretamente, mas sim uma quantidade
desenvolvimento, não apenas econômico, mas considerável de valor embutido na qualidade do
social e cultural. recurso humano gerado por meio do
As estatísticas comprovam que o modelo conhecimento. Se este é um de seus efeitos
de desenvolvimento baseado no alcance de um positivos indiretos não podemos deixar de lado
nível de desempenho do ensino superior uma leitura e análise de seus efeitos diretos,
associado a altos investimentos em ciência e positivos e negativos.
tecnologia contribuem para que os países, as
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local. O problema passou a ser uma questão Somente a partir da segunda metade dos
nacional e preocupava diversos setores da anos 90 tem-se um novo momento de expansão
sociedade, pois sabia-se que estava em jogo era do ensino superior, com um crescimento de
o desenvolvimento do país. 32% do número de instituições entre 1995 e
O marco divisório do movimento pela 2000 e 53,1% de matrícula. Em 5 anos, de 2000
modernização do ensino superior no Brasil foi a a 2005, o crescimento é de 91,5%, com 2.260
criação da Universidade de Brasília (UnB), em IES e no período de 2000 a 2003, o número de
1961, tanto pelas suas finalidades como pela sua matrículas aumentou 42,3%, chegando a um
organização institucional. Sete anos depois, o total de 3.887.771 alunos matriculados.
governo militar implanta a Reforma Em 2007, o governo federal elabora o
Universitária de 1968. Promulgada pela Lei Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE),
5540, a reforma se mostrou autoritária, instituído pelo Decreto 6.096, de 24 de abril de
antidemocrática e centralizadora, embora com 2007, que criou o Programa de Apoio a Planos
alguns avanços como a extinção da cátedra, o de Reestruturação e Expansão das
estabelecimento de uma carreira universitária Universidades Federais (REUNI) com o
aberta e baseada no mérito acadêmico, a objetivo de elaborar medidas para
instituição do departamento como unidade democratização de acesso ao ensino superior
mínima de ensino e pesquisa, e a criação dos (MEC, 2010).
colegiados de curso. Amparadas pela legislação de 2007, a
Junto a reforma, a Lei de Diretrizes e atividade de expansão iniciada pelas
Bases de 1968, estabelece que as universidades universidades em 2003, encontra o seu marco
deveriam seguir o princípio indissociável do legal. Com isto as instituições de ensino
ensino, pesquisa e extensão, privilegiando um superior que aderiram a 1ª etapa do REUNI,
modelo único de instituição de ensino superior. finalizada em 2012, planejaram sua expansão
Esse modelo único ao mesmo tempo em que física, pedagógica e acadêmica em direção ao
engessou todo o sistema de ensino superior interior dos estados. De 2003 a 2010 foram mais
público, possibilitou uma expansão de 14 novas universidades federais e mais de 100
faculdades particulares. Já nos anos 80, o Brasil novos campi, sendo Minas Gerais, o estado
tinha 882 IES, sendo 65 universidades, 20 detentor do maior número de instituições desta
faculdades integradas e 797 estabelecimentos natureza, onze no total (MEC, 2010)
isolados, com um total de matrículas de No entanto, mesmo com o início de um
1.377.286, porém mais da metade em duplo processo de descentralização-
instituições de ensino superior não interiorização, a localização das universidades
universitárias. reflete o mapa das desigualdades sócio espaciais
do país. Na verdade, o que podemos observar é
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que este processo de expansão das instituições uma nova leitura da velha teoria dos polos de
de ensino superior segue a trajetória do capital, crescimento. O fato é que em muitos casos, a
do dinheiro no território, como bem nos instalação de universidades em cidades
lembrava Milton Santos. É a globalização que pequenas e médias acaba representando uma
ao mesmo tempo em que cria condições de retomada do desenvolvimento e crescimento
inserir os lugares em uma economia mundo, social, político e econômico dos municípios,
produz fragmentos isolados deste mundo, um influenciando no aumento da oferta de emprego
mundo no qual a única modalidade de dinheiro e renda, devido ao montante elevado de recursos
possível é o dinheiro-moeda (SANTOS, 1999, públicos destinados aos custos de implantação,
p. 10). São os lugares do não globalizados, dos que envolvem basicamente infra-estrutura.
não inseridos nas redes, daqueles que Desta forma podemos entender a
despojados das condições de trabalho não instalação de campi universitários como uma
conseguem ao menos produzir. São, tornam-se atividade polarizadora, que tem sua base teórica
pobres. Pobres de um sistema globalizado que constituída nos anos da década dos cinquenta,
insiste em ampliar cada vez mais a pobreza em na Teoria dos Polos de Crescimento, de
determinados lugares como se fosse o equilibro Perroux, importante para esta análise. Vamos
perfeito do capital. revê-la.
É claro então que esta ditadura do
dinheiro jamais se preocuparia em democratizar 3. A TEORIA DOS POLOS DE
CRESCIMENTO
o acesso ao ensino superior. Era preciso fazer
mais do que apenas criar novas universidades e
Para Perroux (1967), desenvolvimento é
instalar novos campi. A base física estava ali
desequilíbrio, e este processo no espaço pode
instalada em várias cidades de pequeno e médio
ser apreendido através de conceitos como os de
porte. Faltava apenas democratizar o ingresso e
polarização e inovação, considerados
a possibilidade de estudo para todos aqueles que
fundamentos dos processos de transformação
almejavam uma formação profissional mais
espacial. Perroux considera que na dimensão de
qualificada e que desse peso no mercado, ao
um território nacional, o crescimento não se dá
final de tudo. Assim, a adoção do ENEM por
no tempo nem no espaço conjuntamente,
várias universidades contribuiu para que não só
manifestando-se em diferentes níveis de
pessoas possam mudar suas vidas, mas também
intensidade, em pontos localizados sobre o
os lugares de viver e estudar possam ser
território. Estes pontos, Perroux denomina de
transformados.
Polos de Crescimento. E é por estes pontos, que
Se a leitura por nós conhecida nos diz
setas de propagação induzem os fluxos de
que a expansão das universidades foi pensada
crescimento para o restante do território.
para cidades polos, podemos estar diante de
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Sob um olhar a partir das empresas, grande agente de redução das disparidades
Perroux considera o significado de cada um regionais.
desses espaços. Para o desenvolvimento A caracterização da indústria motriz tem
posterior de sua teoria, contudo, o fundamental por base a assunção antecipada de algumas
é a localização das empresas no espaço características de ponta da grande indústria
econômico definido como campo de forças. moderna: o nível de concentração de capital, a
Como tal, este espaço separação dos fatores de produção, a
decomposição técnica de tarefas e a
é constituído por centros (polos ou sedes) de
emanação de forças centrífugas e recepção de mecanização. Isto faz com que, durante o
forças centrípetas. Cada centro, que é ao mesmo
tempo centro de atração e de repulsão, tem o seu período em que o diferencial estabelecido por
próprio campo, que é invadido pelo campo de essas características for significativo, elas
outros centros. Sob este aspecto, um qualquer
espaço vulgar é receptáculo de centros e pontos apresentem uma taxa de crescimento acima da
de passagem de forças. (PERROUX, 1967,
p.151) média do setor e da própria economia como um
todo.
A partir dessas considerações Perroux
Do exposto pode-se verificar que a teoria
critica a economia espacial tradicional que, por
dos polos de desenvolvimento, se deixarmos de
interpretar a economia diretamente no espaço
lado suas questões teóricas problemáticas e
banal, torna-se processo de localização. Sua
considerarmos o plano das formulações sobre o
análise vai no sentido explícito de compreender
espaço geográfico, tem na noção de polarização
as interrelações econômicas para além das
um dos cernes da concepção de ordenamento do
limitações físicas e políticas. Todavia, a
território. E este ordenamento formaliza-se
transposição que faz do plano dos espaços
como regionalização.
econômicos abstratos para o da banalização das
Os polos são vistos como geradores de
atividades produtivas é marcado por uma
regiões, elemento crucial quando da apropriação
constatação empírica:
da teoria como fundamento para o planejamento
O fato rudimentar mas consistente, é este: o territorial. Neste campo, aliás, a conceituação
crescimento não surge em toda parte ao mesmo
tempo; manifesta-se com intensidades variáveis,
original frutificou sem maior rigor. Difundiram-
em pontos ou polos de crescimento, propaga-se se amplamente conceitos como os de “região
segundo vias diferentes e com efeitos finais
variáveis, no conjunto da economia (PERROUX, homogênea”, “região plano” e “região
1967, p.164).
polarizada”, na forma de traduções “naturais”
Enfim, a consolidação de uma rede correspondentes, respectivamente aos espaços
urbano-industrial e de relações econômicas econômicos que expressam conjuntos
estaria segundo o autor, vinculada à implantação homogêneos, conteúdos de plano e campo de
de um polo. Deste modo, o polo é visto como o forças. Desse modo, os critérios teóricos dessa
“ciência regional” decorrente do campo de
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Multiplicador Instalação de
secundário Novas Indústrias
Interligadas
(linkages)
Atração de Capital e de
Empreendimentos para
atender a demanda local
Expansão do Setor
em expansão
Terciário
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pluralidade de funções em termos de formação são parceiras dos demais atores regionais. Essas
acadêmico-profissional. são as universidades da região.
Neste sentido, entendemos que as O que nos interessa no desenvolvimento
universidades exercem um papel fundamental deste estudo é identificar o grau de interação
na dinamização dos espaços regionais espacial das universidades em relação às
direcionando fluxos e proporcionando uma cidades e às regiões, assinalando aquelas que
maior articulação em escala territorial. São as estão e as que não estão nas suas regiões.
universidades, instituições portadoras de um Afirmamos no início deste projeto que as
elevado grau de organização e transformação universidades são multi-escalares. Elas podem
dos espaços, pois mobilizam recursos humanos se articular e interagir tanto com o lugar a qual
e financeiros, que dinamizam as economias estão implantada como com a região, o território
locais e regionais. nacional e o mundo. Mas também podem estar
No entanto, em muitos casos, as muito mais ligadas apenas a um deles.
universidades são instaladas em lugares onde A questão que se coloca é: qual a
elas apenas estão e não são da região. Aquelas contribuição das universidades para o
que apenas estão, podem ser consideradas como desenvolvimento local/regional e consequente-
verdadeiros enclaves territoriais. Nas palavras mente para uma maior articulação territorial?;
de Rolim e Serra (2010, p.2) Partimos da premissa que o desenvolvimento
A realização dessas tarefas não é fácil. regional está diretamente relacionado com o
Existem muitas barreiras para o engajamento nível de suporte educacional presente em um
das universidades ao processo de território e que as desigualdades regionais estão
desenvolvimento das regiões em que elas estão de acordo com os índices educacionais.
presentes. Algumas delas estão mais Importante assinalar que estamos buscando
preocupadas com as questões do conhecimento entender a possível existência de um território
universal, com temas de interesse nacional, articulado, mas não integrado, pelo fato de que
formando alunos para o mercado nacional. para termos a existência de um processo de
Essas são aquelas que apenas estão nas regiões. integração territorial é significativo a pré-
Por outro lado existem as universidades que existência de um conjunto de políticas e
além de tratar das questões universais e estratégias de planejamento setoriais integrados.
nacionais também estão preocupadas com as No caso de um território articulado, pressupõe-
questões especificas das suas regiões, se a existência de uma conjunto de medidas e
pesquisam os temas das atividades econômicas ações que fazem parte do escopo de uma única
das regiões, também forma alunos capacitados política setorial, no nosso caso, uma política de
para os mercados de trabalho das suas regiões e educação superior.
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FÁVERO, M. de L. A. A Universidade no
5. CONCLUSÃO Brasil: das origens à Reforma Universitária de
1968. Educar, Curitiba, n. 28, p. 17-36, 2006.
Editora UFPR. Disponível em < http://www.
Importante assinalar que o resgate de scielo.br/pdf/er/n28/a03n28> Acesso em 12 de
janeiro de 2014..
uma Teoria de Desenvolvimento Regional,
muito aplicada em políticas regionais é um risco GOEBEL, M. A.; MIURA, M. N. A
universidade como fator de desenvolvimento:
analítico muito grande. No entanto, torna-se
o caso do município de Toledo-PR.
também um desafio teórico, pois é primordial Universidade Estadual do Oeste do Paraná,
2004. Disponível em <http://e-revista.unio
que alguns ajustes teóricos-metodológicos
este.br/>. Acesso em 4 de outubro de 2012.
sejam realizados, face ao tempo de elaboração
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HOFF, D. N.; SAN MARTIN, A. S.; SOPEÑA, Laget, UFRJ, v.4, n.6 (jan/jun. 1999), p.5-20,
M. B. Universidades e desenvolvimento Rio de Janeiro: Garamond, 1999.
regional: impactos quantitativos da Unipampa
em Sant’Ana do Livramento.REDES, Santa SANTOS, M. Técnica, Espaço, Tempo:
Cruz do Sul, v. 16, n. 3, p. 157 – 183, set/dez Globalização e Meio Técnico-Científico
2011 Informacional. São Paulo: Ed. Hucitec, 1997.
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