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perspectiva atlântica1
Rubens Mascarenhas Neto2
O presente artigo toma como ponto de partida sua primeira obra, Pele Negra
Máscaras Brancas, de 1952. Nela, como falaremos mais atentamente adiante, Fanon
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Artigo apresentado como trabalho final para a disciplina HH773 – Tópicos Especiais em História
– História Atlântica. Ministrada pela Prof.ª Dra. Lucilene Reginaldo e pelo PED Giovanni Grillo.
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Graduando em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas. Aluno inscrito no
Registro Acadêmico 115545. (rubensmascneto@hotmail.com)
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No original: “Mon ultime prière: O mon corps, fais de moi toujours um homme que interroge!”.
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Não pretendo esgotar ou impingir uma interpretação hegemônica, haja vista que não me são claros os
limites do conceito de deslocamento atlântico. No máximo, o presente artigo se configura como um
estudo, sem pretensões maiores.
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Tomamos como referência a análise de Linebaugh e Rediker (2008), em “Uma criada negra chamada
Francis”. O texto nos sugere alguns elementos importantes para analisar um contexto mais amplo, a partir
de uma trajetória de vida. Francis, uma “proletária atlântica”, nos termos dos autores, deslocara-se
geograficamente espalhando ensinamentos cristãos contestatórios durante a Revolução Inglesa. Sua
história pessoal mistura-se a de outras mulheres, que pregavam pela igualdade dos homens (de todas as
cores) no circuito comercial atlântico do nascente capitalismo feroz inglês.
Nascido em 1925 em Fort-de-France, na Martinica, um território ultramarino
francês de população majoritariamente negra, o jovem Fanon foi criado em uma família
mestiça na capital. Anos mais tarde partiu para a Europa para se alistar nas fileiras do
exército livre francês, combatendo também nas campanhas no Norte da África. Com o
concluído em 1951.
atenção de Jean Paul Sartre, cuja proeminência na França do pós-guerra, a partir de suas
muito provocativa afirma que “nossas belas almas são racistas” (SARTRE, J.P. 1961:
28).
Após sua graduação, Fanon trabalhou como psiquiatra em Paris até ser
colonial francesa, em plena guerra de libertação. Entre seus pacientes, Fanon encontrou
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Citaria uma parte que é bastante relevante para pensar a circulação e a recepção das ideias de Fanon;
Sartre escreve que “Este livro não possui nenhuma necessidade de prefácio. Ainda menos, posto que ele
não se dirige a nós. Eu fiz um, não obstante, para realizar a dialética: nós também, gentes da Europa, nos
descolonizemos: isso quer dizer que deve-se extirpar por uma operação sangrenta o colono que há em
cada um de nós. Deixai-nos, se nós tivermos a coragem, e vejamos o que advirá de nós.” (SARTRE, J.P.
1961: 31)
membros da resistência argelina e soldados franceses. Fanon pediu demissão do
Hospital e seguiu para Túnis, onde começou a se aproximar dos combatentes da FLN.
francês, não somente deu substrato a novas reflexões de Fanon, como o levou a se
engajar nas lutas de libertação nacional argelina, e de outros países africanos. Fanon
combateu até sua morte, em 1961, nos Estados Unidos em decorrência da leucemia
2008).
Após a rejeição de seu Ensaio pela desalienação do Negro, texto que seria
(GORDON, L. R, 2008: 21), Fanon defende, em Lyon no ano de 1951, uma nova tese,
Friedreich com delírio de possessão8. O ensaio inicial tornou-se Pele Negra Máscaras
Brancas que foi lançado em 1952 na França, com uma introdução bastante sugestiva e
Essas coisas, eu vou lhes dizer, não gritar. Porque há já muito tempo
desde que o grito saiu de minha vida.
E está bem distante...
Por que escrever esse trabalho? Ninguém me pediu.
Sobretudo aqueles a quem ele se dirige.
Então? Então, calmamente, calmamente eu respondo que há imbecis em
demasia sobre essa terra. E dito isso, tratarei de provar. (FANON, F.
1952:5)
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Seria interessante analisar, à luz das teorizações de Pierre Bourdieu sobre o campo científico, as regras e
os conflitos científicos (e políticos) que orbitavam um texto tão provocativo como o de Fanon. Por ora,
não podemos mais que sinalizar nesse artigo a possibilidade de uma reflexão mais atenta sobre esse
interessante aspecto.
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No original Troubles mentaux et syndromes psychiatriques dans Hérédo-Dégéneration-Spino-
Cérébelleuse. Un cas de Maladie de Friedreich avec délire de possession. (GORDON, L. R. 2008 :21)
A linguagem poética de Fanon no livro de 1952 é misturada a termos técnicos,
assimilacionista.
sua experiência vivida na Martinica, o autor via a constante substituição dos hábitos dos
de uma aura mística, que o distinguiria dos demais devido à possibilidade de acessar a
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Chamaria a atenção para um acontecimento importante; por iniciativa de Alioune Diop, fundador da
revista Presence Africaine, juntamente com Césaire e Senghor, organizou-se em 1956, na Sorbonne o
Primeiro Congresso de Escritores e Aristas Negros, que recebeu delegados de vários países e territórios
coloniais, dentre eles Louis Armstrong e Josephine Baker. W. E. B. Du Bois, convidado para presidir o
congresso fora impedido de ir, pois o governo americano não lhe concedera um passaporte, por
recomendação da CIA. Valendo-me da expressão de Peter Linebaugh, diria que várias “montanhas do
Atlântico estremeceram”, não somente devido ao apoio de intelectuais importantes naquele momento
como o Sartre, Albert Camus e Claude Lévi-Strauss, mas também pela penetração de leituras marxistas
nos territórios coloniais africanos e nas Antilhas. Yandé C. Diop, esposa de Alioune Diop, em entrevista
para o documentário Lumières Noires, conta que seu marido e vários outros intelectuais envolvidos na
organização do evento temiam que os EUA intervissem, uma vez que o evento fora taxado pela
Embaixada americana em Paris de “muito à esquerda”. Interessante também, o fato de o evento ter
ocorrido no Anfiteatro Descartes, que em 1948 fora palco da elaboração da Declaração Universal dos
Direitos do Homem.
crioulo [créole] (...) Eis aqui, portanto um desembarcado. Ele não
entende mais o patois, fala da Ópera, que ele não pode mais
acompanhar senão de longe, mas, sobretudo, adota uma atitude crítica a
despeito de seus compatriotas. (FANON, F. 1952:18)
barbárie.
Esse mesmo sistema que trabalha com “distâncias”, opera nas relações inter-
raciais. Nas relações entre a mulher negra e o homem branco, Fanon, utilizando em
Mayotte Capécia, mostra como o desejo por “salvar” sua descendência do “jugo” da
Mayotte gosta de um Branco, logo ela aceita tudo. É o senhor. Ela não
reclama nada, não exige nada, senão um pouco de brancura em sua
vida. E quando se coloca a questão de saber se ele é belo ou feio, a
amante dirá: “Tudo o que sei, é que ele tem os olhos azuis, os cabelos
loiros, a tez pálida, e que eu o amo”(...) Quando dizemos em nossa
introdução que a inferioridade fora historicamente sentida como
econômica10, nós não estávamos enganados. (FANON, F. 1952: 34)
sua própria anulação enquanto individuo, sem deixar, no entanto, de tomar a sua
negritude como inferior. Ao reduzir sua condição de negro como detalhe, se submeteria,
portanto, após sofrer uma série de violentos golpes simbólicos11, para usar aqui uma
expressão bourdieusiana, e se casaria com uma branca. Fanon levanta o caso de Jean
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Penso que um dos mais notáveis esforços de Fanon nesse texto é tentar retirar do domínio do
econômico aquilo que o transcende; desse modo, se esforça em mostrar que a inferioridade é imposta ao
negro por razões de ordem psicológica com fins de subjugá-lo fisicamente, mentalmente e também
economicamente.
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Cito o próprio Fanon pensando sobre o caso de Jean Veneuse: “Esse processo é bem conhecido pelos
estudantes de cor na França. Recusa-se de considerá-los como autênticos negros. O negro é um selvagem,
ao passo que o estudante é um evoluído. Você é [faz parte] “nós”, disse-lhe Coulanges, e se alguém crê
que você é negro o faz por erro, pois não tens nada senão a aparência. (FANON, F. 1952: 56)
Veneuse, um homem negro de Bordeaux que se apaixona por uma branca e resolve se
alistar nas forças armadas devido a sua decepção com a vida. Fanon o diagnostica com
valorização de si mesmo.
Jean Veneuse gostaria de ser um homem tal como os outros, mais ele
sabe que essa situação é falsa. É um questionador. Ele busca a
tranquilidade, a permissão nos olhos do Branco. Porque ele é “o Outro”.
– [Fanon citando G. Guex] “A não valorização afetiva leva o neurótico-
abandonado a um sentimento extremamente penoso e obsessivo de
exclusão, de não ter lugar, de ser excessivo para tudo, falando
afetivamente... Ser “o Outro”, é se sentir sempre em posição instável,
permanecer naquilo que se vive, prestes a ser repudiado e... fazendo
tudo o que deve para que a catástrofe antecipada se produza.” (FANON,
F. 1952: 61)
O autor não se limita a esses quatro tipos que descrevemos acima12. Sua reflexão
é mais aprofundada, uma vez que leva em conta o contexto de produção das obras
discutido. Procedo agora a refletir sobre a segunda parte de meu objeto, que é o próprio
Fanon.
desalienação do Negro, seria pela sua forma, que potencializa o conteúdo contestatório
tive a impressão de que Pele Negra Máscaras Brancas é um relato quase pessoal de sua
12
Tomaria como exemplo as outras descrições e análises da literatura, o exemplo de Bigger Thomas no
capítulo V, bem como as menções às análises de O. Mannoni (com quem dialoga criticamente durante a
obra) dos sonhos dos malgaches, no capítulo IV.
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O prefácio de Lewis R. Gordon à tradução brasileira de 2008 de Pele Negra Máscaras Brancas,
embasa em partes a minha proposição; o texto mostra, a partir do relato do irmão de Fanon, Joby, que ele
era, nas palavras do irmão e de seus amigos, “zangado por dentro e por fora”. (GORDON, L. R 2008: 13)
experiência. Concentrar-me-ei, portanto na discussão marcadamente existencialista e
relação ao outro. A sua crítica a Sartre, é que o autor desconsidera a correlação de forças
que permeia a relação entre o Branco e o Negro; o ser de que trata Fanon, é o ser-negro
négritude com citações de Senghor e Césaire. Chamaria atenção, no entanto, para sua
14
Emmanuel Mounier em sua Introduction aux existencialismes nos fornece uma leitura bastante clara e
objetiva da dialética do ser e o objeto. Como veremos mais adiante, Fanon criticará os postulados de
Sartre.
15
O uso que faz Fanon da dialética hegeliana, nos mostra Ortiz(1985), foi aproveitado pelos intelectuais
isebianos. Destacaria o trabalho de Roland Corbisier, “Formação e problema da cultura brasileira”, no
qual as reflexões muito similares às empreendidas por Fanon, acerca das relações raciais e coloniais, são
transmutadas para a questão da cultura e da intelectualidade nacional.
(...) a négritude aparece como tempo falho de uma progressão dialética:
a afirmação teórica e prática da supremacia do Branco é a tese; a
posição da négritude como valor antitético é o momento da
negatividade. Mas esse momento negativo não tem suficiência por si
mesmo e os Negros que o usam sabem fortemente: eles sabem que ele
visa preparar a síntese ou a realização do humano em uma sociedade
sem raças. Dessa forma, a Négritude existe para se destruir, ela é
passagem e não resultado, meio e não fim último. (SARTRE, J-P. apud
FANON, F. 1952: 108)
bastante sagaz
finais
reflexão a partir dos deslocamentos dos sujeitos até aqui apresentados. O deslocamento
a que me refiro não é exclusivamente físico ou filosófico; postularia que ambos não
ocorrem dissociados. Tomo como ponto de partida o par analisado pelo autor, o
O primeiro deles, nos mostra Fanon (p. 15) se reveste de uma espécie de aura
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Completaria com a seguinte citação: Portanto, de todo o meu ser, eu recuso essa amputação. Eu me
sinto uma alma tão vasta quanto o mundo, verdadeiramente profunda como o mais profundo dos rios,
meu peito tem uma potência de expansão infinita. Eu sou um dom e me aconselham a humildade dos
enfermos... Ontem, abrindo os olhos ao mundo, eu vi o céu de ponta a ponta se revirar. Eu gostaria de me
levantar, mas o silêncio eviscerado revoou em minha direção, com suas asas paralisantes. Irresponsável, a
cavalo entre o Nada e o Infinito eu me ponho a chorar. (FANON, F. 1952: 114)
passaria a se distinguir dos demais17. No exterior, esse mesmo sujeito negro, torna-se,
devir branco”.
dicção; segundo, a sua hexis corporal19 - o sujeito a que nos referimos esforça-se para
escapar ao arquétipo corrente do negro dócil e infantilizado20 que tem sempre à boca o
“oui Missié”; e por fim, o terceiro seria a proposição mais clara de Fanon, a própria cor
da pele.
navio, já não compreende mais o patois e só responde em francês, ele estranha o modo
de agir dos “nativos”, uma vez que não pode mais “acompanhar a Ópera, senão à
distância” (FANON, F. 1952: 18-19); e, sobretudo, Fanon parece sinalizar para o fato de
que ocorre uma perda momentânea de sua ligação com o território – rapidamente sanada
por um método terapêutico singular21. O que se torna visível nos dois processos, é que o
17
Diria Fanon “aquele-que jamais-saiu-de-seu-buraco”.
18
As categorias aqui cunhadas não possuem nenhum valor senão metodológico. É importante mencionar
que o próprio Fanon afirma que “ao partir a amputação de seu ser desaparece”. (p.18)
19
Diria Bourdieu, o seu habitus.
20
Cito o próprio Fanon: Sim, ao Negro espera-se que seja um bom negro; isto posto o resto vem por si só.
Fazê-lo dizer negrinho [pétit-nègre no original] é atrelá-lo a sua imagem, embebê-lo, aprisioná-lo, vítima
eterna de uma essência, de uma aparência da qual ele não é responsável. E naturalmente, do mesmo
modo que um Judeu que gasta dinheiro sem conta-lo é suspeito, o Negro que cita Montesquieu deve ser
vigiado. Que sejamos compreendidos: vigiado, na medida na qual com ele começa alguma coisa.
(FANON, F. 1952: 27)
21
Diz Fanon: A respeito disso o folclore nos fornece uma ilustração. Após alguns meses passados na
França, um interiorano retorna aos seus. Percebendo um instrumento de arar, ele pergunta a seu pai, um
velho camponês, a-quem-não-se-faria-tal-pergunta: “Como se chama esse aparelho?”. Para respondê-lo,
seu pai deixa cair sobre seus pés [do filho] e a amnésia desaparece. Terapia singular. (FANON, F. 1952:
18)
Fanon, psico-existencial. Arriscar-me-ia a completar e afirmar que essas alterações são
que a violência manifesta seja aparentemente diferente; diria que as relações França-
Martinica, são pautadas mais por processos de violência de ordem simbólica23, visíveis
de ascendência branca), válido lembrar que essa violência simbólica é sempre matizada
pela relação racial opressiva, mas seu caráter simbólico não exclui a possibilidade da
violência física. O negro antilhano estaria desse modo mais próximo da Europa. Nas
simbólica.
Senegal, torna-se possível vislumbrar o terreno onde floresce a négritude, por exemplo.
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As transformações pelas quais passaram as regiões subjugadas, Senegal e Martinica, são passíveis de
serem problematizadas. Fanon não descarta a história, do contrário, seu esforço é no sentido de
historicizar os processos de dominação a que foram submetidos os negros. Os fatos históricos, como as
distinções nos processos de colonização e sua distância temporal são considerados como fatores na
análise de Fanon.
23
Baseio-me nas reflexões de Pierre Bourdieu sobre a dominação masculina. (Cf. BOURDIEU, P. La
domination masculine, 1998).
24
As críticas de Achile Mbembe e Paul Gilroy (lido por Olívia Maria Gomes da Cunha) aos
essencialismos presentes no discurso da négritude são interessantes nesse sentido. (Cf. MBEMBE,
Achile. “As formas africanas de auto-inscrição”, 2001 e CUNHA, Olivia M. G. da. “Reflexões sobre
biopoder e pós-colonialismo: relendo Fanon e Foucault”, 2002)
potencial emancipatório, a nível existencial, da négritude (FANON,F. 1952: 98-114).
Sugeriria que, nos termos de uma circulação atlântica de bens, as poesias de Aimé
Césaire e Léopold Sédar Senghor, bem como seus discursos, são mercadorias
jugo colonial.
Capécia se sujeita à dominação de seu amante branco, seduzida pela beleza de seus
se branca. Jean Veneuse por sua vez, cai em um estado neurótico, por perceber que seu
amor por uma mulher branca só é possível com a anulação de seu ser enquanto negro, o
dinâmico desses indivíduos no continuum situado entre polos distintos que seriam: a
degeneração africana. Os dois extremos, são nesses casos possíveis de serem alcançados
um marido ou uma esposa franceses, que deslocariam essas subjetividades para o polo
da brancura.
Procedo por fim ao objeto de análise mais difícil, o próprio Fanon. Sua trajetória
de vida nos informa uma série de deslocamentos físicos, intelectuais e existenciais, que
podem também ser lidos em uma perspectiva atlântica. O documentário sobre sua vida25
revela que na sua infância, Fanon teria passado pelo processo de socialização
martinicano das classes altas mestiças, vivera, por exemplo, a interdição de ouvir
música em patois, uma vez que essa língua representaria um contato com o mundo de
seguida ingressara nos estudos de psiquiatria em Lyon, onde fora tolhido pelo corpo de
professores quando escreveu seu Ensaio pela desalienação do negro, escrita com
conflitos em Argel, fato que o levou a uma opção política pelo colonizado e pela luta de
libertação.
dão substrato às reflexões empreendidas na obra. Filosoficamente, poderia dizer que sua
existência é sempre colocada em relação a um outro mutável: sua mãe, os franceses nas
25
Intitulado Frantz Fanon: Black skin White masks, de 1996.
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Poderia compará-lo com a criada negra Francis, de que falam Linebaugh e Rediker (2008); ambos são
sujeitos atlânticos (ela “proletária” e ele “intelectual”) cujos deslocamentos podem ser tomados como
uma forma de difusão de suas ideias, cristãs ou anti-coloniais e anti-racistas.
Bibliografia
FANON, Frantz. Pele negra máscaras brancas. Rio de Janeiro: Ed. Fator. Coleção:
Outra Gente, vol. 1, 1983. Tradução de Maria Adriana Silva Caldas.
FANON, Frantz. Pele negra máscaras brancas. Salvador: Editora da UFBA. 2008.
Tradução de Renato da Silveira e Prefácio de Lewis R. Gordon.
ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. 5. ed. São Paulo, SP:
Brasiliense, 1985.
ORTIZ, Renato. “Frantz Fanon: Um itinerário político e intelectual”. In: Idéias, Ano 2,
nº1. Campinas: IFCH UNICAMP, 1995.
SARTRE, Jean Paul. “Préface à l’édition de 1961”. In: FANON, Frantz. Les Damnés de
La Terre Paris: Éditions La Découverte, 2002 [1961].
FRANTZ FANON: BLACK SKIN WHITE MASKS. Direção de Isaac Julien. Reino
Unido: Mark Nash for the Arts Council of England, 1996. DVD e 35mm
(52 min). Son. Color. Inglês e Francês.
LUMIÈRES NOIRES. Direção de Bob Swain. França: Entracte, 2006. DVD (52 min).
Son. Color. Inglês e Francês.