Sei sulla pagina 1di 4

Oo

(Para)Textos, Português, 9.º ano Outros textos

PT9CDP © Porto Editora


(Manual, p. 119)

SOCIEDADE

A ciência
também embarcou
Conhecimentos científicos catalães, italianos e alemães, a fim de fazer
avançar os conhecimentos náuticos dos nossos
aplicados à realidade de bordo
oficiais e marinheiros.
guiam a grande aventura As caravelas são um prodígio da nossa
tecnologia e a vanguarda das expedições. São

O
escrivão Pêro Vaz de Caminha conta navios velozes e relativamente pequenos. A
que, ao atracar em Vera Cruz, a esqua- caravela portuguesa-tipo tem de 20 a 30 me-
dra de Cabral foi visitada por dois ha- tros de cumprimento por seis a oito de lar-
bitantes da terra, mancebos e de bons corpos, que gura, 50 toneladas de capacidade e é tripulada
se faziam transportar em jangadas rústicas feitas por 40 ou 50 homens. Com vento a favor,
de troncos de madeira atados entre si. A cena re- chega a percorrer 250 quilómetros por dia.
presenta o encontro entre duas civilizações sepa- Utiliza as chamadas velas latinas, triangula-
radas por um enorme abismo de evolução cientí- res, erguidas em dois ou três mastros, que per-
fica e tecnológica. Enquanto as jangadas figuram mitem mudar de rumo rapidamente e, em zi-
entre as mais primitivas formas de navegação usa- guezague, velejar com vento contrário. A
das pelo ser humano, as naus e caravelas portu- grande vantagem das caravelas sobre os pesa-
guesas são o que de mais avançado a arte de nave- dos navios mercantes utilizados no Mediterrâ-
gar produziu até hoje. Os nossos navios levam a neo por genoveses e catalães é a versatilidade.
bordo instrumentos, cartas de navegação e conhe- Ideais para a navegação costeira, podem entrar
cimentos desenvolvidos pelos mais importantes em rios e estuários, manobrar em águas
sábios da Cristandade — matemáticos, astróno- baixas, contornar recifes e bancos
mos, cartógrafos, geógrafos, especialistas na cons- de areia. E também largar
trução de navios e na utilização da artilharia, pro- rapidamente, em
venientes de diversos países. caso de ataque
Portugal está na liderança dos descobri- imprevisto de
mentos porque é o primeiro, de entre os países nativos hostis.
contemporâneos, a transformar a investigação
tecnológica e científica em política de Estado.
Trata-se de uma aventura que começou há dois
séculos, com as primeiras e tímidas incursões ao
mundo desconhecido, e se completou com os
convites endereçados a especialistas castelhanos,
1
Oo
(Para)Textos, Português, 9.º ano Outros textos

PT9CDP © Porto Editora


As naus são barcos maiores e mais lentos. de Cabral na Terra de Vera Cruz, Portugal está na
A capitânia de Pedro Álvares Cabral é um existe desde a Antiguidade e foi re- liderança porque
é o primeiro de
navio de 250 toneladas e, ao partir, levava 190 cuperado pelos astrólogos medie-
entre os países
homens. São a ferramenta essencial do comér- vais para observar, em terra, o mo- contemporâneos
cio já estabelecido com a África e no nascente vimento e a posição dos astros no a transformar
intercâmbio com as Índias. Na longa viagem de firmamento. Mesmo a bússola, fun- investigação
tecnológica e
ida, transportam produtos para a troca, provi- damental nos descobrimentos, já é
científica em
sões, eventuais colonizadores, guarnições mili- usada no Mediterrâneo há muito política de
tares, armas ligeiras e canhões. Na volta, tra- tempo por genoveses, venezianos e Estado
zem as mercadorias cobiçadas pela Europa. As catalães.
suas velas redondas são menos versáteis do que São muitos os desafios científicos que os
as das caravelas, mas permitem uma impulsão descobrimentos impuseram a Portugal. O
muito maior com vento favorável. As carave- maior deles, evidentemente, é sair para o mar
las, ao contrário das naus, levam pouca carga. alto e voltar para casa com segurança. Até há
Nem é necessário. Nesta época de grandes des- pouco, a navegação restringia-se aos portos eu-
cobertas, a carga mais preciosa que elas podem ropeus e da área mediterrânica, todos cartogra-
transportar é a informação sobre as rotas marí- fados e bem conhecidos do mundo civilizado
timas e as terras recém-contactadas – um pro- desde a época dos romanos. Navegava-se mais
duto que não pesa nada, mas é vital para as por experiência do que por instrumentos. O
conquistas no além-mar. único tipo de carta náutica disponível até há
O grande mérito de Portugal não está na uns anos eram os mapas do Mediterrâneo dese-
descoberta de novidades científicas, mas na assi- nhados pelos italianos no século XII. Designa-
milação de conhecimentos, sejam estes recentes dos por portulanos, forneciam direções e dis-
ou antigos, e na sua aplicação com propósitos tâncias aproximadas entre os principais portos
bem definidos, como abrir rotas comerciais e europeus e africanos.
agregar terras produtivas onde não haja governo No começo, as navegações portuguesas
cristão às propriedades da Coroa. As técnicas que pelo Mar Oceano foram relativamente simples,
hoje permitem aos nossos navios cruzar o Mar apesar do desafio de enfrentar o desconhecido:
Oceano, dobrar o Cabo da Boa Esperança e che- bastava ir contornando a costa da Africa. Na-
gar à Índia são uma herança dos fenícios, dos vegava-se apenas durante o dia, usando como
egípcios, dos gregos e de várias ou- referência pontos geográficos,
tras civilizações antigas, guardada e
aperfeiçoada pelos mouros nos últi-
• como rios, golfos e montanhas.
Quando era necessário navegar
mos séculos. A vela latina, que As caravelas à noite, a referência era a Es-
equipa as nossas caravelas, foi tra- trela Polar, entre nós conhecida
zida pelos árabes do oceano Índico,
portuguesas por Tramontana. Quanto mais
depois de conquistarem o Egito. são um alta ela estivesse no céu, mais
O uso do compasso para anotar a longe da linha do equador esta-
direção e a trajetória do navio che-
prodígio ria o navio, na direção do Polo
gou ao Ocidente no começo do sé- da tecnologia e Norte. No começo, as medi-
culo XIII. A confeção de cartas ções eram feitas a olho nu.
náuticas foi aprendida há um sé-
a vanguarda Depois foram-se aperfeiçoando
culo pelos italianos, a partir de co- das expedições com o uso de um instrumento
nhecimentos árabes. O astrolábio,
um revolucionário instrumento de
• chamado quadrante. É um arco
graduado, de 45 graus – equi-
localização utilizado pela esquadra valente a um quarto da esfera
2
Oo
(Para)Textos, Português, 9.º ano Outros textos

PT9CDP © Porto Editora


terrestre –, equipado com uma agulha Mestre Jaime, cujo nome de origem era
e uma linha esticada por um peso de Jafuda Cresques, ficou conhecido
chumbo na ponta. Apontado como “O Judeu da Bússola”.
para a Tramontana, fornece a Cartógrafo e fabricante de ins-
latitude exata em que se en- trumentos náuticos, crê-se
contra o navio. que tenha sido o primeiro a
Quando os nossos ensinar aos portugueses
marinheiros passaram o uso da bússola, a agu-
a aventurar-se mais lha magnética que,
longe da costa, tudo protegida por uma cú-
se tornou mais difícil. pula de vidro e dis-
Para fugir das calma- posta sobre a rosa dos
rias do Mar Oceano, às ventos, aponta a dire-
vezes é preciso passar se- ção do Polo Norte e in-
manas sem avistar terra ou dica o rumo do navio.
qualquer outro ponto seguro A grande novidade nos navios A bússola e o quadrante
de referência. Além disso, nas é o astrolábio adaptado para uso são muito úteis às navega-
imediações da linha do equador náutico ções, mas a grande novidade
a Tramontana fica encoberta no a bordo dos nossos navios
horizonte. Sem ela, é impossível calcular a lati- neste começo de século é o astrolábio. Trata-
tude com ajuda do quadrante. Foi para superar ‑­se de um disco, metálico ou de madeira, de
esse tipo de obstáculo que os reis portugueses 360 graus em que estão representados todos
se empenharam em ir buscar sábios a outros os astros do Zodíaco. Desde a Antiguidade
países. que era usado em terra firme para calcular a
Os sábios estrangeiros têm vindo para posição e o movimento dos astros no céu. O
Portugal por duas razões. A primeira é o facto que os portugueses fizeram, com a ajuda dos
de a corte lhes oferecer postos de trabalho e um sábios estrangeiros, foi simplificá-lo e adaptá-
estatuto social de que não dispunham noutros -lo para uso no alto mar. O astrolábio permite
reinos. De cientistas nos seus países de origem, calcular a latitude pela passagem meridiana
esses astrónomos, matemáticos e cartógrafos do Sol, ou seja, ao meio-dia, quando o astro
passaram a trabalhar diretamente como conse- se encontra no seu ponto mais elevado. Para
lheiros dos monarcas portugueses e a compar- isso, é necessário enquadrar o raio solar em
tilhar com eles a vida na corte. O segundo mo- dois orifícios existentes no aparelho e, em se-
tivo é a relativa tolerância religiosa dos guida, fazer alguns cálculos matemáticos.
portugueses. Mais inflexíveis, os monarcas es- A vantagem tecnológica alcançada pelos
panhóis, precursores da ideia de expulsar ju- portugueses nasceu não propriamente do uso
deus e mouros que não aceitassem abraçar o do astrolábio, mas da simplificação desses cál-
cristianismo, beneficiaram Portugal indireta- culos. Até há pouco, exigia-se para isso certos
mente. Os conselheiros que D. João II reuniu conhecimentos de matemática e astronomia,
para desenvolver os conhecimentos náuticos um grande obstáculo para os nossos marinhei-
são, na maioria, judeus expulsos de Espanha ros, a maioria dos quais é rude e iletrada.
em 1492. Outro problema é que os manuais
Um dos primeiros a trabalhar em Portugal de astronomia e navegação esta- Os estaleiros
atraem gente de
foi um judeu convertido ao cristianismo tra- vam escritos em hebraico, árabe toda a Europa
zido da ilha de Maiorca para Sagres, em 1420, ou latim. A principal tarefa dos e mudam a
pelo infante D. Henrique, o Navegador. conselheiros de D. João II foi economia.
3
Oo
(Para)Textos, Português, 9.º ano Outros textos

PT9CDP © Porto Editora


reunir todo esse conhecimento, adaptá-lo para descobriu o caminho da Índia, há três anos.
a navegação e traduzi-lo para português, em Uma prova da utilidade do astrolábio está na
linguagem acessível. O resultado é um manual carta que Mestre João, o médico do rei e es-
chamado Regulamento do Astrolábio e do pecialista em navegação embarcado na frota
Quadrante para Determinar Cada Dia a Decli- de Cabral, escreveu a D. Manuel. Conta que,
nação, o Deslocamento do Sol e a Posição da a 27 de abril de 1500, segunda-feira, tomou
Estrela Polar. Dividido em cinco partes, con- a passagem meridiana do Sol em Vera Cruz e
tém instruções minuciosas sobre o modo de de- calculou a latitude em 17 graus. Diz ter che-
terminar a latitude, com 17 exemplos práticos gado a essa conclusão baseando-se nas «re-
em diferentes posições da esfera terrestre. Tam- gras do astrolábio, uma referência ao manual
bém ensina a registar na carta náutica o cami- de instruções. Na carta, queixa-se da dificul-
nho percorrido pelo navio. A última parte é um dade de usar o instrumento no alto mar, de-
calendário de 12 meses, sem indicação do ano, vido ao balanço do navio, mas encerra com
informando sobre a posição do Sol na abóbada um conselho: “No mar, o melhor é orien-
celeste em cada dia do ano. tarmo-nos pela altura do Sol, e não por uma
A viagem de Cabral, pelo que se tem no- estrela; e é melhor com astrolábio, e não com
tícia, foi a primeira a fazer uso sistemático quadrante ou outro instrumento”. E é assim
do astrolábio como instrumento de navega- que, na prática, se vão somando os conheci-
ção – embora Vasco da Gama já tivesse tes- mentos tecnológicos que guiam a aventura
tado o aparelho na precursora missão em que dos descobrimentos.

Abraão Zacuto é um sábio astrólogo espanhol de origem judaica que foi expulso do seu país pelos reis
católicos e se tornou conselheiro de D. João II e de D. Manuel

Astrólogo do Rei Natural de Salamanca, a cidade do


saber em Espanha, Zacuto teve de partir de-
Uma contribuição decisiva para a aven- pois da expulsão dos judeus pelos reis católi-
tura portuguesa nos mares foi dada, nos últi- cos, em 1492. Foi imediatamente convidado
mos anos, por um sábio judeu de origem es- para trabalhar em Portugal como conse-
panhola. Abraham-ben-Samuel Zacuto, lheiro de D. João II e, depois, de
chamado Abraão Zacuto, é o autor do Alma- D. Manuel. Deu instruções pessoais a Vasco
naque Perpétuo, uma obra de astrologia que, da Gama antes da partida da expedição que
adaptada para uso náutico, se tornou funda- descobriu o caminho para a Índia. Zacuto
mental nas viagens de descobrimento. Com pertence a uma linhagem de astrólogos que
316 páginas e 56 tabelas, o Almanaque de costumavam passar os dias e as noites a ob-
Zacuto fornece todas as informações necessá- servar o céu na tentativa de prever, no movi-
rias para a determinação da latitude, in- mento dos astros, o destino do ser humano.
cluindo as chamadas declinações, que são as Hoje, com o avanço da pesquisa científica, a
diferentes posições do Sol no Zodíaco em astrologia vai sendo relegada para o terreno
cada dia do ano. Redigido originalmente em das superstições, pelo menos entre os ilustra-
hebraico, o Almanaque foi traduzido para o dos. Sem ela, no entanto, a humanidade não
latim por outro estudioso judeu José Vizinho, teria acumulado tantos conhecimentos sobre
médico do Rei D. João II. Hoje, é um manual os astros, de vital importância para as nave-
prático de orientação para os nossos pilotos. gações portuguesas.

in Visão, n.º 371 – número princeps de 5 de agosto de 1501


4

Potrebbero piacerti anche